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Tectônica Global

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TECTÔNICA GLOBAL 
A posição atual das massas continentais em relação ao globo terrestre é o reflexo do 
trinômio Tectônica de Placas + Espalhamento do Fundo Oceânico + Deriva Continental. 
Nos primeiros 500 milhões de anos de sua origem (4.560 a 4.000 milhões de anos) a 
superfície da Terra era muito pouco rígida. A individualização da crosta que constitui os 
continentes ocorreu a aproximadamente 4.000 milhões de anos. Desde então as massas 
continentais vem mudando de posição e de forma, sofrendo processos de orogenias, 
rifteamentos e granitização. 
A maioria dos autores acredita que a tectônica de placas venha atuando desde o início do 
Proterozóico (2.500 milhões de anos). Algumas evidências sugerem que esse processo deve ter 
ocorrido já no Arqueano (a partir de 3.800 milhões de anos) só que de uma maneira diferente da 
atual, já que o fluxo térmico global era muito mais alto. 
Geometricamente, essas massas continentais à deriva, tendem a se aglutinar de tempos 
em tempos (segundo Bley, et al, 1995 seriam ciclos de 500 a 600 milhões de anos) formando 
supercontinentes, que, com a continuidade dos processos tectônicos, se quebram em vários 
pedaços, recomeçando o ciclo. 
Segundo Park, 1997 durante o Arqueano havia em torno de 20 áreas cratônicas já se 
estabelecendo, como por exemplo, o Escudo Báltico (atual Europa), partes da América do Norte e 
da China e, no Brasil, o Cráton Amazônico e o Cráton do São Francisco, que apresentam idades 
que vão até 3.400 milhões de anos. 
Rogers, 1996 sugere que o primeiro grande continente tenha sido formado a 
aproximadamente 3.000 milhões de anos. Esse continente se chamava Ur (o nome vem do 
alemão Ur, original, e também da cidade de Ur, uma das mais antigas do mundo), e era 
constituído de cinco crátons e seus extensos depósitos de sedimentos, todos muito próximos: 
Kaapvaal, na África, Dharwar, Bhandara e Singhbhum, na Índia e Pilbara, na Australia, e mais 
três pequenas áreas estáveis na Antártica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Configuração sugerida por Rogers, 1996 para o supercontinente Ur. 
Modificado de Rogers, op. cit. 
No final do Arqueano (2.500 milhões de anos) várias áreas cratônicas já tinham se 
estabilizado, e alguns autores sugerem que a maior parte dessas áreas cratônicas estaria 
aglutinada em um supercontinente chamado Kenorano (Mason, 1995 e outros) sendo que os 
dados ainda não são totalmente conclusivos. 
Segundo Brito Neves et al. 1995 a dinâmica interna da Terra desfavorece o 
estabelecimento de continentes gigantes, e os mesmos têm vida muito curta (em torno de 100 
milhões de anos), uma vez que enquanto algumas áreas ainda estão sendo coladas, outras já 
estão começando a se romper. Assim sendo, o supercontinente Kenorano rapidamente se 
fragmentou em diversos blocos continentais menores. 
O Paleoroterozóico (2.500 à 1.600 milhões de anos) é marcado pela construção de 
plataformas continentais em torno dos núcleos arqueanos estáveis associadas à magmatismo. 
De 2.300 a 1.800 milhões de anos (Períodos Riaciano e Orosiriano) evidências geológicas, 
geofísicas e geocronológicas sugerem processos de aglutinação de massas continentais, 
granitização e colagens orogênicas (Bley et al, 1996 e outros).Esses processos de colagem de 
terrenos deixaram registros em diversos locais do mundo e recebem várias denominações: 
Eburneano, Barramundi, Aravalli, Penoqueano, Hudsoniano, Rinkiano, Svecofeniano, etc. No 
Brasil essa sucessão de colagens é chamada de Evento Transamazônico no Cráton Amazônico 
apenas. Como resultado dessas colagens temos a formação dos continentes Ártica (partes da 
América do Norte + Groenlândia + Sibéria) e Atlântica (partes da América do Sul e África). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Configuração proposta por Rogers, 1996 para os continentes Atlântica, Ártica e Ur, A disposição correspode à 
posição que esses continentes ocuparam no Supercontinente Pangea (~300 Ma). 
Modificado de Rogers, op. cit. 
Após esse período em que os continentes só cresciam, no período Estateriano (1.800 à 
1.600 milhões de anos) teve início uma fase de extensão (tafrogênese), que viria a resultar na 
quebra desses grandes continentes em vários blocos menores. 
Ao longo do Mesoproterozóico (1.600 à 1.000 milhões de anos) uma nova sucessão de 
colisões entre placas e orogêneses denominada Colagem Grenville foi responsável pela fusão de 
praticamente todas as áreas continentais (Atlântica, Ur, Báltica e Antártica) em um gigantesco 
continente chamado Rodínia (McMenamin & McMenamin, 1990 à partir da palavra russa: Rodina 
= terra mãe, e Hoffman, 1991), com uma área de 120 x 106 km2. 
Segundo Rogers (1996) entre 900 e 700 milhões de anos o supercontinente Rodínia 
aparentemente iniciou sua fase de quebras, e se fragmentou ao longo de dois grandes riftes, 
gerando três blocos principais: Gondwana Leste, Laurentia e Gondwana Oeste. 
 
Configuração provável da distribuição dos blocos continentais após a quebra do Supercontinente Rodínia. 
Modificada de Rogers, 1996. 
O Bloco Laurentia é constituído de partes da América do Norte e Europa, Groenlândia e 
Sibéria. O bloco Gondwana Leste, compreendendo parte da África e Antártica (Cráton Kalahari- 
Grunehogna), Madagascar, Índia e Austrália permaneceu praticamente coeso até o Mesozóico. 
Já o bloco Gondwana Oeste foi precocemente dividido em diversas áreas cratônicas: Amazônia, 
África Leste, Rio de la Plata, e vários blocos menores: Pampia, Central de Goiás, Juiz de Fora, 
Luis Alves, entre outros (Unrug, 1996). 
Nos espaços entre esses blocos se desenvolveram riftes, aulacógenos e braços e/ou 
pequenos oceanos (Bley, 1999). Nesse contexto, uma feição que merece destaque no nosso 
continente é o desenvolvimento do Oceano Adamastor (Hartdany et al., 1985) entre o sudeste da 
América do Sul e o Sudoeste da África, representado pelos sedimentos da Faixa Dom Feliciano e 
parte da Faixa Ribeira. Já a separação entre Laurentia e Gondwana Leste a 720 milhões de anos 
(Powell et al., 1993) deu origem ao Oceano Pacífico atual. 
Durante o Neoproterozóico (1.000 a 545 milhões de anos), os blocos constituintes de 
Gondwana Leste e Oeste se movimentaram ao redor do globo e vieram estabelecer o 
megacontinente Gondwana ( = terra dos Gonds, antigo povo da Índia), durante um estágio de 
colagens chamado Evento Pan-Africano/ Brasiliano. Esse evento se iniciou a 750-730 milhões de 
anos e teve suas últimas manifestações a 490 -480 milhões de anos, durante o Período 
Ordoviciano. 
Como representantes dessas colagens no Brasil temos as faixas móveis Brasília (colisão 
entre o Cráton Amazônico e o Cráton do São Francisco - Pimentel & Fuck, 1992) e Ribeira (na 
sua porção central representando uma colisão entre a Microplaca Serra do Mar e o terreno Juiz 
de Fora com o Cráton do São Francisco - Heilbron et al., 1998), dentre outras. 
 
 
 
Mapa esquemático do continente Gondwana. 
Modificado de Trompette, 1994. 
No início da Era Paleozóica nos deparamos com mais um processo de reorganização das 
massas continentais, com um padrão complexo de movimento que inclui até rotação de 
continentes. Tem inicio, então, uma nova fase extensional, fragmentando Laurentia, Báltica, 
Sibéria e Gondwana e gerando o Oceano Iapetus (entre Laurentia e Gondwana). 
No interior dos continentes, os processos extensionais também atuaram, gerando 
subsidência de várias regiões e permitindo o desenvolvimento de extensas bacias deposicionais, 
que no nosso continente podem ser exemplificadas pelas bacias do Parnaíba, Amazonas e 
Paraná. 
Com o decorrer da Era Paleozóica, a acresção de pequenos blocos litosféricos e colisões 
como a Orogenia Appalachiana (colisão entre Laurentia e Gondwana) e a Orogenia Uraliana 
(colisão do bloco da Sibéria com Laurentia) resultaram em um grande continente chamado 
Pangea(do grego pan = toda + gea = terra). Esse continente tinha uma disposição alongada, se 
extendendo do polo norte ao polo sul. O restante da superfície da Terra era coberto por um 
grande oceano chamado Panthalassa (do grego pan = todo + thalassa = oceano), com exceção 
de um pequeno mar à leste de Pangea, chamado Tethys (que hoje é representado pelo Mar 
Mediterrâneo). 
O mesmo processo fusão/fissão, que possibilitou a união do Pangea, trata agora de rompe-
lo e separa-lo em blocos novamente. A separação desses blocos durou aproximadamente 100 
milhões de anos, se estendendo pelos períodos Jurássico e Cretáceo. 
A primeira grande "quebra" separou Pangea em 2 blocos: Laurásia (América do Norte+Europa 
+Ásia) e Gondwana (América do Sul, África, Antártica, Austrália e Índia). 
Esses dois grandes continentes foram se subdividindo em blocos menores, e no final do 
Jurássico havia quatro grandes blocos: Laurásia, Índia, América do Sul + África e Austrália + 
Antártica. 
 
 
 
Posição dos blocos continentais no supercontinente Pangea. 
Modificado de Rogers, 1996. 
Conforme os blocos continentais recém-partidos reiniciavam o processo de deriva 
continental, recomeçavam as colisões. No final do Período Cretáceo tem início as orogenias 
Alpina, na Europa (colisão entre África e Europa), Laramide, na América do Norte ( colisão entre a 
placa do Pacífico e a América do Norte) e Mirano, na América do Sul (colisão entre a placa de 
Nazca e a América do Sul. 
Com relação aos estudos desses megaprocessos de formação e quebra de continentes no 
bloco que hoje constitui a América do Sul, é necessária uma menção especial aos artigos de 
Benjamin Bley de Brito Neves e colaboradores, inúmeras vezes citado no presente trabalho. Esse 
autor vem trabalhando de forma sistemática há pelo menos 10 anos nesse assunto, e sua 
pesquisa gerou diversos artigos, dentre eles: Brito Neves, 1990, 1992, 1993, 1998, 1999; Brito 
Neves & Cordani, 1991, Brito Neves & Sato, 1998 e Brito Neves et al., 1995, 1996, 1998. 
 
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