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TRABALHO O QUE É CIÊNCIA

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GLAUCO LUIZ 
 
201702046125 
 
 
 
O QUE É CIÊNCIA 
John Sommerville 
 
Caro Senhor 
 
Tomo a liberdade de me dirigir a si rogando-lhe que seja o juiz numa disputa entre 
mim e uma pessoa minha conhecida que já não posso considerar um amigo. A 
questão em discussão é a seguinte: É a minha criação, a guardachuvalogia, uma 
ciência? Permita-me que explique a situação. De há dezoito anos para cá que, 
conjuntamente com alguns fieis discípulos, venho recolhendo informações 
relacionadas com um objeto até agora negligenciado pelos cientistas — o guarda-
chuva. O resultado da minha investigação, até à presente data, encontra-se reunido 
em nove volumes que vos envio separadamente. Deixe-me, antecipando a sua 
leitura, descrever brevemente a natureza dos conteúdos aí apresentados e o método 
que empreguei na sua compilação. Comecei pelas ilhas. Passando de quarteirão em 
quarteirão, de casa em casa, de família em família, de indivíduo em indivíduo, 
descobri: 1) o número de guarda-chuvas existentes, 2) o seu tamanho, 3) o seu 
peso, 4) a sua cor. Tendo coberto uma ilha, passei às restantes. Depois de muitos 
anos, passei à cidade de Lisboa e, finalmente, completei toda a cidade. Estava 
então pronto a continuar o trabalho passando para o resto do país e, posteriormente, 
para o resto do mundo. 
 
Foi neste ponto que me aproximei do meu amigo de outrora. Sou um homem 
modesto, mas senti que tinha o direito de ser reconhecido como o criador de uma 
nova ciência. Ele, por outro lado, afirmou que a guardachuvalogia não era de todo 
uma ciência. Primeiro, disse ele, é uma tolice estudar guarda-chuvas. Este 
argumento é mau, uma vez que a ciência se ocupa de todo e qualquer objeto, por 
muito humilde e abjeto que seja, até mesmo da «perna de trás de uma pulga». 
Sendo assim, por que não guarda-chuvas? Depois, ele afirmou que a 
guardachuvalogia não poderia ser reconhecida como uma ciência porque não trazia 
qualquer benefício ou utilidade para a sociedade. Mas não será a verdade a coisa 
mais preciosa na vida? E não estão os meus nove volumes repletos de verdades 
acerca do meu objeto de estudo? Cada palavra é verdadeira. Cada frase contém um 
facto firme e frio. Quando ele me perguntou qual era a finalidade da 
guardachuvalogia, senti-me orgulhoso em dizer «Procurar e descobrir a verdade é 
finalidade suficiente para mim». Sou um cientista puro; não tenho motivos ulteriores. 
 
Daqui se segue que a verdade seja suficiente para me sentir satisfeito. A seguir 
afirmou que as minhas verdades estavam datadas e que qualquer uma das minhas 
descobertas poderia deixar de ser verdadeira amanhã. Mas isto, disse eu, não é um 
argumento contra a guardachuvalogia, é sim um argumento para a manter 
atualizada, que é precisamente o que pretendo fazer. Façamos levantamentos 
mensais, semanais, ou mesmo diários, de modo a que o nosso conhecimento se 
mantenha atualizado. A sua objecção seguinte foi afirmar que a guardachuvalogia 
não continha hipóteses e que não tinha desenvolvido leis ou teorias. Isto é um 
grande erro. Utilizei inúmeras hipóteses no decurso das minhas investigações. Antes 
de entrar num novo quarteirão e numa nova secção da cidade coloquei hipóteses 
relacionadas com o número e com as características dos guarda-chuvas que aí 
seriam observados, hipóteses essas que foram, de acordo com o correto 
procedimento científico, ou verificadas ou anuladas pelas minhas subsequentes 
observações. (De fato, é interessante notar que posso comprovar e documentar 
cada uma das minhas respostas a estas objecções com numerosas citações de 
trabalhos fundamentais, de revistas importantes, de discursos públicos feitos por 
cientistas eminentes, etc.) No que respeita a teorias e leis, o meu trabalho é 
abundante. Mencionarei, a título de exemplo, apenas algumas. Existe a Lei da 
Variação da Cor Relativa à Posse pelo Género. (Os guarda-chuvas que são posse 
das mulheres tendem a ter uma grande variedade de cores, ao passo que aqueles 
que são posse dos homens são quase sempre pretos.) Apresentei, para esta lei, 
uma exata formulação estatística. (Veja-se vol. 6, apêndice 1, quadro 3, p. 582). 
Existem as Leis dos Possuidores Individuais de uma Pluralidade de Guarda-chuvas 
e as Leis da Pluralidade dos Possuidores de Guarda-chuvas Individuais, leis 
curiosamente inter-relacionadas. A inter-relação, na primeira lei, assume a forma de 
uma quase direta ratio (taxa) com o rendimento anual, e a segunda, uma quase 
relação inversa com o rendimento anual. (Para uma formulação exata das 
circunstâncias modificadoras veja-se vol. 8, p. 350). Há também a Lei da Tendência 
para Adquirir Guarda-chuvas em Tempo Chuvoso. Para esta lei forneci verificação 
experimental no capítulo 3 do volume 3. Realizei, igualmente, numerosas outras 
experiências relacionadas com a minha generalização. 
Por conseguinte, creio que a minha criação é, em todos os aspectos, uma ciência 
genuína, e apelo para a vossa comprovação da minha opinião. 
 
John Sommerville 
Tradução e adaptação de Luís Filipe Bettencourt 
Citado por David Boersema in "Mass Extinctions and the Teaching of Philosophy of 
Science" (Teaching Philosophy, vol. 19, n.º 3, September 1996, pp.263-264). 
Texto originalmente publicado em www.criticanarede.com. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ATIVIDADE 
 
No texto “O que é ciência”, de Sommerville, o “amigo do autor” apresenta quatro 
princípios que, segundo ele, são necessários para a constituição de uma ciência. 
 
 
1) Cite os argumentos utilizados pelo “amigo do autor” para desqualificar a 
guardachuvologia como ciência, por não respeitar cada um dos quatro 
princípios explicitados no parágrafo acima. 
 
 ‘Ele, por outro lado, afirmou que a guardachuvalogia não era de todo uma 
ciência. Primeiro, disse ele, é uma tolice estudar guarda-chuvas.’ 
 
 ‘Depois, ele afirmou que a guardachuvalogia não poderia ser reconhecida 
como uma ciência porque não trazia qualquer benefício ou utilidade para a 
sociedade.’ 
 
 ‘A seguir afirmou que as minhas verdades estavam datadas e que qualquer 
uma das minhas descobertas poderia deixar de ser verdadeira amanhã.’ 
 
 ‘A sua objecção seguinte foi afirmar que a guardachuvalogia não continha 
hipóteses e que não tinha desenvolvido leis ou teorias.’ 
 
2) Cite os argumentos utilizados pelo autor para comprovar que a 
guardachuvologia respeita ou supera os quatro princípios explicitados pelo 
“amigo do autor” e que por isso merece o status de uma ciência autêntica. 
 
 ‘Este argumento é mau, uma vez que a ciência se ocupa de todo e qualquer 
objeto, por muito humilde e abjeto que seja, até mesmo da «perna de trás de 
uma pulga». Sendo assim, por que não guarda-chuvas?’ 
 
 ‘Mas não será a verdade a coisa mais preciosa na vida? E não estão os meus 
nove volumes repletos de verdades acerca do meu objeto de estudo? Cada 
palavra é verdadeira. Cada frase contém um facto firme e frio.’ 
 
 ‘Mas isto, disse eu, não é um argumento contra a guardachuvalogia, é sim um 
argumento para a manter atualizada, que é precisamente o que pretendo 
fazer. Façamos levantamentos mensais, semanais, ou mesmo diários, de 
modo a que o nosso conhecimento se mantenha atualizado.’ 
 
 ‘Isto é um grande erro. Utilizei inúmeras hipóteses no decurso das minhas 
investigações. Antes de entrar num novo quarteirão e numa nova secção da 
cidade coloquei hipóteses relacionadas com o número e com as 
características dos guarda-chuvas que aí seriam observados, hipóteses essas 
que foram, de acordo com o correto procedimento científico, ou verificadas ou 
anuladas pelas minhas subsequentes observações. (De fato, é interessante 
notar que posso comprovar e documentar cada uma das minhas respostas a 
estas objecções com numerosas citações de trabalhos fundamentais, de 
revistas importantes, de discursos públicos feitos por cientistaseminentes, 
etc.)’ 
3) Esses princípios são suficientes para definir a constituição de uma ciência 
autêntica? Escreva um pequeno texto, apresentando argumentos para 
sustentar seu ponto de vista. 
 
Na minha forma de pensar, concordo com os argumentos apresentados pelo “amigo 
do autor” de tal maneira que o objeto tratado no texto não seja definido como uma 
ciência. Pois para tal, concordando com o ponto de vista do “amigo do autor”, para 
ser uma ciência e se tratar da mesma, o objeto da pesquisa em questão, deve trazer 
benefício ou utilidade para a sociedade. Deve-se, ser algo que além de trazer 
benefícios para a sociedade como um todo, deve ser algo descoberto, algo novo, e 
de tal forma para se comprovar que seja um ciência deve-se ter hipóteses firmadas 
em leis e teorias já existentes como forma de comprovação da teoria que se queira 
tratar. Sendo assim, não concordo que o objeto tratado pelo autor do texto seja 
definido como uma ciência plena. Apesar que, por mais que o autor tenha feitos 
“trabalhos”, “pesquisas” em volta do seu objeto de estudos, não acho que suas 
“pesquisas”, “seu trabalho”, traga alguma forma de benefício, utilidade, para a 
sociedade. Já analisando de modo contrário, pegando os argumentos tratados pelo 
“autor”: ‘...que a ciência se ocupa de todo e qualquer objeto, por muito humilde e 
abjeto que seja, até mesmo da «perna de trás de uma pulga». Sendo assim, por que 
não guarda-chuvas?’’ concordo que o trabalho dele deveria ser retratado como uma 
ciência, pois ele realizou pesquisas em volta do objeto tratado para se chegar em 
um consenso sobre o mesmo. 
 
Concluindo meu ponto de vista, acho que sua pesquisa em volta do objeto 
tratado, deveria SIM ser tratada como uma Ciência; mas não o objeto em si, 
nem o resultado que ele chegou acerca daquele objeto, pois o mesmo não 
trará, nem traria, benefício algum para a sociedade como um todo. 
 
 
4) Escreva um pequeno parágrafo apresentando uma resposta para a seguinte 
pergunta: o que é ciência? 
 
Ciência é qualquer ramo do conhecimento, ou estudos, que lida com fatos ou 
verdades, ordenadamente organizados, de tal maneira que se possam comprovar 
teorias acerca de um determinado assunto, através de métodos científicos. 
 
5) Diante dos quatro argumentos do autor do texto, como ficaria as Ciências 
Humanas? Poderia ser considerada uma Ciência? Em quais argumentos sim 
ou não? 
 
As ciências humanas são conhecimentos criteriosamente organizados da produção 
criativa humana, ou seja, têm o ser humano como seu objeto de estudo ou o seu 
foco. Englobam, portanto, o pensamento e a produção de conhecimento sobre a 
condição humana a partir de discursos específicos. 
 
Sendo assim, as Ciências Humanas, pode sim ser considerado uma Ciência. Pois 
como afirma o autor no texto: ‘Este argumento é mau, uma vez que a ciência se 
ocupa de todo e qualquer objeto, por muito humilde e abjeto que seja, até mesmo da 
«perna de trás de uma pulga»...’. ‘Mas não será a verdade a coisa mais preciosa na 
vida?’ ‘Façamos levantamentos mensais, semanais, ou mesmo diários, de modo a 
que o nosso conhecimento se mantenha atualizado.’ 
 
Sendo assim, as Ciências Humanas deve sim ser considerada uma ciência, pois 
está sempre evoluindo acerca dos conhecimentos humanos e se atualizando acerca 
do homem como um todo. Para tal comprovação, podemos usar a Medicina como 
exemplo, que a cada dia procura se evoluir nos conhecimentos do corpo humano, 
das doenças, como forma de buscar métodos, recursos, para se aprender mais 
sobre o ser humano e trazer recursos que contribuam para salvar a vida humana.

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