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Licitação 309 3a Prova ção do contrato, mas não é titular de direito subjetivo, como chegamos a ver. Por essa razão é que, revogada a licitação por motivos válidos, aferidos por critérios administra- tivos efetivos, não é devida qualquer indenização aos licitantes, nem particularmente ao vencedor.221 Reiteramos aqui o que dissemos no tópico anterior: o desfazimento do procedi- mento licitatório através de anulação ou de revogação rende ensejo à aplicação do art. 49, § 3º, do Estatuto, segundo o qual deve assegurar-se aos interessados o contraditó- rio e a ampla defesa, com o objetivo de lhes permitir a averiguação sobre a validade ou não do desfazimento. Por conseguinte, praticado o ato de revogação e mencionados os motivos que o inspiraram, devem os interessados ser devidamente comunicados para que se manifestem sobre o referido ato. Xv rEcurSoS admiNiSTraTivoS O Estatuto, no capítulo destinado ao direito de petição, dispõe sobre os recursos cabíveis no procedimento de licitação. Classifica-os em três tipos: o recurso hierárqui- co, a representação e o pedido de reconsideração (art. 109). Os recursos servem para impugnar atos relacionados a contratos administra- tivos (que já examinamos) e a licitações. No que se refere à licitação, cabe recurso hierárquico, no prazo de cinco dias úteis, a contar da intimação do ato ou da lavratura da ata, contra: 1. a habilitação ou inabilitação do licitante; 2. o julgamento das propostas; 3. a anulação ou a revogação da licitação; e 4. o indeferimento do pedido de inscrição em registro cadastral, sua alteração ou cancelamento. A representação é prevista, no mesmo prazo, como recurso contra decisão rela- cionada com o objeto da licitação, da qual não caiba recurso hierárquico (art. 109, II). O pedido de reconsideração é dirigido ao Ministro de Estado ou Secretário Es- tadual ou Municipal, no prazo de dez dias úteis, quando o administrado houver sido punido com a penalidade de declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração. Apenas os recursos contra a habilitação ou inabilitação e contra o julgamento das propostas têm efeito suspensivo; assim, só depois de decidido pode prosseguir o certame. O fato tem aplicação prática na rotina das licitações. É comum designar-se 221 Discordamos, pois, da opinião de HELY LOPES MEIRELLES (Direito administrativo brasileiro, cit., p. 276). Em abono do nosso entendimento, v. IVAN RIGOLIN (ob. cit., p. 260). Ressalve-se, para ficar bem claro, que a hipótese é diversa daquela em que a licitação já foi até homologada: aqui a Administração não tem desculpa. A revogação de que tratamos é exatamente aquela que, em razão dos fatores supervenientes, acabou por não gerar a homologação. 310 Manual de Direito Administrativo • Carvalho Filho 3a Prova 3a Prova um mesmo dia para o exame da habilitação e para o julgamento das propostas. Se na sessão única algum interessado oferecer recurso contra sua inabilitação, por exem- plo, não se pode julgar as propostas, e, nesse caso, nova sessão deverá ser designada para esse fim. Há, ainda, outra advertência pertinente: para que na sessão única se possa re- solver, ao mesmo tempo, a habilitação e o julgamento das propostas, sem que se possa depois alegar nulidade no processo, é necessário que a Comissão obtenha de todos os licitantes sua renúncia a eventuais recursos. A razão é simples: cada licitante tem o prazo de cinco dias úteis a partir da sessão para interpor o recurso. Com a renúncia, todavia, fica encerrada a fase da habilitação, podendo-se, então, julgar as propostas. Os demais recursos poderão ter efeito suspensivo, mas a indicação desse efeito é faculdade discricionária da Administração. Daí se conclui que, como regra, os demais recursos só têm efeito devolutivo, não suspendendo, por isso, o curso do procedi- mento.222 Como o recurso hierárquico deriva do poder hierárquico natural da Admi- nistração, deve ele ser destinado à autoridade superior à que praticou o ato recorrido, embora por intermédio desta. Pode ela, se for o caso, reconsiderar o ato impugnado; se tal ocorrer, dispensável se tornará a remessa do recurso à autoridade superior. A interposição do recurso precisa ser comunicada aos demais licitantes, porque estes têm o direito de impugná-lo no prazo de cinco dias úteis. A regra se justifica pelo fato de que têm eles interesse sobre o que vai ser decidido pela Administração. No caso de convite, reduz-se para dois dias úteis o prazo para recurso contra habilitação ou inabilitação e contra o julgamento das propostas (art. 109, § 6º). Esclareça-se, por último, que, transcorrido in albis o prazo recursal, a decisão ad- ministrativa se torna imutável no âmbito da Administração, operando-se o fenômeno da preclusão administrativa.223 Xvi iNFraçõES admiNiSTraTivaS, crimES E PENaS No procedimento licitatório, várias são as ilegalidades passíveis de ser cometi- das. Algumas delas espelham infrações administrativas, indicando a violação de nor- mas internas da Administração, ao passo que outras, de maior gravidade, configuram- -se como crimes, sujeitos às normas do Direito Penal. Em ambos os casos será inaceitável a impunidade. Uma vez cometida a infração administrativa ou praticado o delito, deve aplicar-se a respectiva sanção aos infratores. A diversidade de zonas em que se pode cometer infração permite a classificação das punições em sanções administrativas e sanções penais. Nesse aspecto, nunca é demais sub- linhar que a aplicação de uma não afasta a de outra, ou seja, pode o infrator ser punido com ambas as sanções cumulativamente. 222 Art. 109, § 2º, da lei. 223 HELY LOPES MEIRELLES, Licitação, p. 185. Esclarece o autor que a essa imutabilidade da decisão é que alguns denominam de coisa julgada administrativa, expressão imprópria para caracterizar o referido fato administrativo preclusivo.
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