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terceira resenha

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Parte VII Recursos
Capítulo XXVII
SISTEMA RECURSAL DO PROCESSO CIVIL
§ 76. RECURSOS
Sumário: 716. Conceito. 717. Recursos e outros meios impugnativos utilizáveis contra decisões judiciais. 718. Classificação dos recursos. 719. Fundamento e natureza do direito ao recurso. 720. Atos sujeitos a recurso. 721. Recursos admissíveis. 722. Reclamação. 723. Correição parcial. 724. A técnica de julgamento dos recursos.
714. Conceito
Em linguagem jurídica a palavra recurso é usualmente empregada num sentido lato para denominar “todo meio empregado pela parte litigante a fim de defender o seu direito”, como, por exemplo, a ação, a contestação, a reconvenção, as tutelas provisórias.1 Nesse sentido diz-se que a parte deve recorrer às vias ordinárias, ou deve recorrer às tutelas de urgência e da evidência, ou deve recorrer à ação reivindicatória etc.
Mas, além do sentido lato, recurso em direito processual tem uma acepção técnica e restrita, podendo ser definido como o meio ou remédio impugnativo apto para provocar, dentro da relação processual ainda em curso, o reexame de decisão judicial, pela mesma autoridade judiciária, ou por outra hierarquicamente superior, visando a obter-lhe a reforma, invalidação, esclarecimento ou integração.2
Não se deve, porém, confundir o recurso com outros meios autônomos de impugnação da decisão judicial, como a ação rescisória e o mandado de segurança (vide, adiante, nº 647).
Caracteriza-se o recurso como o meio idôneo a ensejar o reexame da
decisão dentro do mesmo processo em que foi proferida, antes da formação da 3
coisa julgada.
715. Recursos e outros meios impugnativos utilizáveis contra decisões judiciais
Não é o recurso o único instrumento utilizável para atacar a decisão judicial. Além do recurso existem ações autônomas de impugnação. No sistema jurídico brasileiro, o que caracteriza o recurso é a sua inserção na própria relação jurídica processual onde o direito de ação está sendo exercido,4 enquanto as ações de impugnação, como a rescisória, o mandado de segurança, os embargos de terceiro etc., representam a instauração de uma nova relação jurídica processual.
Os remédios impugnativos do segundo tipo às vezes são manejados até mesmo depois da extinção do processo em que se proferiu a decisão atacada, ou seja, depois de consumada a coisa julgada, como se dá com a ação rescisória. Outras vezes, podem ser exercidos antes da coisa julgada, como no mandado de segurança contra ato judicial. Em qualquer dos casos, porém, não é possível identificá-los como simples incidente ou mera extensão do processo precedente. Sempre produzirão a instauração de processo distinto daquele em que se proferiu a decisão impugnada.5
Entre os recursos e as ações de impugnação, costuma-se reconhecer a existência de alguns sucedâneos recursais, que não se enquadrando na categoria de recursos nem na de ação autônoma, permitem, assim mesmo, alguma forma de impugnação a decisões judiciais. Exemplos dessa categoria processual seriam encontrados no pedido de reconsideração,6 no pedido de suspensão da segurança (Lei nº 12.016/2009, art. 15), na remessa necessária (NCPC, art. 496)7 e na correição parcial (regimentos internos dos tribunais).8
Diante do quadro jurídico brasileiro, destarte, o conceito de recurso formalizado por Barbosa Moreira é expressivo e merece acolhida, ou seja, recurso é “o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial que se impugna”.9
A hipótese mais frequente é a do recurso que busca a reforma da decisão impugnada, tentando obter em novo pronunciamento, do mesmo órgão judicial,
ou de um tribunal superior, uma solução concreta diversa daquela contida no julgado primitivo. Outras vezes, o intento do recorrente não é, de pronto, o novo julgamento da questão já decidida, mas apenas a sua invalidação, ou eliminação, para que outro, futuramente, seja proferido em condições de validade. Por fim, é possível que o propósito do recorrente não seja o de reformar, nem o de cassar, a decisão impugnada, mas apenas o de aperfeiçoá-la, mediante eliminação de
10
obscuridade, contradição e omissão.
716. Classificação dos recursos
Várias são as maneiras de classificar os recursos. Eis os principais critérios classificatórios:
I – Quanto ao fim colimado pelo recorrente
(a) de reforma, quando se busca uma modificação na solução contida no decisório impugnado, de maneira a alcançar, no julgamento recursal, um pronunciamento mais favorável ao recorrente;
(b) de invalidação, quando não se busca um novo julgamento, dentro do recurso, para a matéria decidida no ato impugnado, mas, sim, a sua cassação pura e simples, ensejando, posteriormente, volte a mesma matéria a ser julgada em novo decisório que não contenha os vícios que provocaram a anulação do primeiro julgamento. Ocorre esse tipo de recurso, geralmente, nas hipóteses de inobservância de requisitos de validade do julgamento, como a incompetência, o cerceamento de defesa, as decisões citra, extra e ultra petita, e, enfim, a ausência de qualquer pressuposto processual ou condição da ação;
(c) de esclarecimento ou integração: são os embargos de declaração, onde o objetivo recursal específico não é o rejulgamento da matéria decidida nem tampouco a invalidação do ato impugnado, mas, sim e tão somente, o seu aperfeiçoamento, o que se alcança eliminando a falta de clareza ou a contradição nele verificada, ou suprindo-lhe alguma omissão no tratamento das questões suscitadas no processo. Eventualmente, ter-se-á de introduzir alguma inovação no decisório embargado. Isto, porém, haverá de ser feito nos estritos limites da meta de eliminar a dúvida, a contradição ou suprir a omissão, e nunca com a dimensão de um amplo reexame e rejulgamento daquilo que já restara solucionado no ato judicial anterior.
II – Quanto ao juízo que se encarrega do julgamento
(a) devolutivos ou reiterativos, quando a questão julgada por um órgão judicial é devolvida ao conhecimento de outro órgão. É o que se passa com o recurso ordinário, o especial, o extraordinário, a apelação;
(b) não devolutivos ou iterativos, quando a impugnação é julgada pelo mesmo órgão que proferiu a decisão recorrida, tal como se passa nos embargos de declaração;
(c) mistos, quando tanto permitem o reexame pelo órgão superior como pelo próprio prolator do ato decisório impugnado, como é o caso do agravo.11
A classificação dos recursos em devolutivo e não devolutivo prende-se a uma concepção antiga da ação de devolver, que a identificava com o ato de “transferir a outrem” um direito.12 Daí falar-se em recurso de efeito devolutivo ou não devolutivo, no sentido de transferir, ou não, de um órgão judicial para outro, a função de reexaminar a decisão judicial.
Mas devolver sempre teve, também, o sentido de “restituir”13 ou “entregar de volta”.14 Uma vez que os processos são dominados, em sua marcha, pelo princípio da preclusão, as decisões judiciais, uma vez pronunciadas, têm como efeito extinguir o poder de reexaminar a questão decidida. A regra vem expressa no art. 505 do NCPC,15 em que se lê que, em princípio, “nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas, relativas à mesma lide”, salvo em alguns casos expressos na lei. E um desses casos é justamente o recurso, cuja interposição adequada e tempestiva afasta a possibilidade de preclusão, reabrindo ou restituindo o poder de examinar, mais uma vez, a matéria já decidida, reexame esse que poderá ser feito pelo próprio juiz autor da decisão questionada ou por outro órgão hierarquicamente superior.
No sentido técnico, portanto, é lícito afirmar que todo recurso sempre possui efeito devolutivo, pois qualquer que seja ele, afasta ou impede a preclusão, ensejando nova oportunidade de julgamento, no todo ou em parte, da questão decidida no ato judicial impugnado.
Nessa perspectiva, é melhor classificar os recursos, quanto ao órgão a quem compete julgá-los, em (i) recursos reiterativos e (ii) recursos iterativos,em lugar de falar em devolutivos e não devolutivos. Isso porque, do ponto de vista técnico, a devolutividade é característica comum a todo e qualquer recurso admitido em direito processual.
III – Quanto à extensão do reexame de um órgão sobre a matéria decidida por outro
(a) total, quando o recurso ataca a decisão como um todo, requerendo sua reforma integral;
(b) parcial, quando o inconformismo do recorrente é restrito a uma ou algumas questões dentre todas solucionadas no decisório recorrido. Nessa hipótese, não terá poder, o órgão recorrido, para introduzir qualquer alteração na parte não impugnada. Tantum devolutum quantum appelatum. É que a parte não atacada da sentença transita em julgado, desde logo, se versar sobre o mérito da causa, ou incorre em preclusão, se se tratar de questões processuais.
Nos recursos reiterativos, o julgamento do tribunal ad quem substitui a
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decisão recorrida, no que tiver sido objeto de recurso (NCPC, art. 1.008). Para
todos os efeitos, o único julgamento existente será o do recurso. Se, por exemplo, se tiver de realizar a execução forçada ou se se intentar a ação rescisória, o ato básico será o acórdão que julgou o recurso e não a sentença recorrida. Isto, porém, pressupõe que tenha ocorrido julgamento de mérito, que tenha confirmado ou reformado a decisão recorrida. Se o caso for de anulação ou de pura cassação, não se pode cogitar de substituição, porque, ao próprio juízo de origem competirá proferir nova sentença para substituir a primitiva, que o Tribunal invalidar.
IV – Quanto aos motivos da impugnação
(a) há recursos de fundamentação livre, que são aqueles cuja admissibilidade não se prende a matérias preordenadas pela lei; e
(b) há recursos de fundamentação vinculada, que são aqueles só admissíveis quando se invoca tema enquadrado na previsão legal de cabimento do remédio recursal.
Os recursos em geral se prestam ao questionamento de qualquer matéria jurídica, seja de mérito ou de preliminar processual. Há, porém, os que, como os embargos de declaração, o recurso extraordinário e o especial, somente são admissíveis quando a respectiva fundamentação for enquadrável nos permissivos da lei, ou seja:
(a) Para recorrer por meio dos embargos de declaração, a parte somente pode alegar a ocorrência de obscuridade, lacuna, contradição no conteúdo do ato judicial impugnado ou erro material (NCPC, art. 1.022);17
(b) Para manejar o recurso extraordinário, a parte haverá de apontar um dos defeitos de natureza constitucional arrolados no art. 102, III, da CF;
(c) O recurso especial só será admitido quando fundado num dos questionamentos, relacionados à lei federal, autorizados pelo art. 105, III, da CF.
V – Quanto à marcha do processo rumo à execução da decisão impugnada
(a) suspensivos: os que impedem o início da execução provisória ou definitiva;
(b) não suspensivos: os que, mesmo na pendência do recurso, permitem seja processada a execução provisória, e, às vezes, até a execução definitiva, da
 (
.
)18sentença ou decisão interlocutória impugnada
No sistema do Código os recursos em geral não impedem o prosseguimento
 (
.
)19do feito e, por isso, autorizam a execução provisória (art. 995) Entretanto, a apelação, em regra, suspende os efeitos da sentença impugnada, não ensejando execução provisória, a não ser nos casos excepcionais arrolados em lei (art.
 (
.
)201.012, § 1º)
No caso de apelação contra a sentença que extingue sem resolução do mérito os embargos do devedor ou os julga improcedentes, o recurso não tem
 (
.
)21efeito suspensivo (art. 1.012, § 1º, III)		O Código anterior considerava
provisória a execução iniciada em caráter definitivo, na pendência do recurso contra a rejeição dos embargos do devedor (CPC/1973, art. 587, com redação da Lei nº 11.382/2006), afastando-se de antiga e reiterada jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que, na espécie, mantinha o caráter com que a execução
 (
.
)22havia se principiado O novo Código conserva a mesma orientação, ao prever que a apelação não tem efeito suspensivo quando a sentença extinguir os embargos à execução, com ou sem resolução de mérito, caso em que se permite ao exequente “promover o pedido de cumprimento provisório depois de publicada a sentença” (grifamos) (art. 1.012, § 2º).23 Vale dizer: o novo Código continua adotando a tese de que a execução definitiva de título extrajudicial transmuda-se em provisória enquanto não encerrados, por decisão trânsita em julgado, os embargos do devedor.
717. Fundamento e natureza do direito ao recurso
“Psicologicamente – lembra Gabriel Rezende Filho – o recurso corresponde
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a uma irresistível tendência humana”. Na verdade, é intuitiva a inconformação
de qualquer pessoa diante do primeiro juízo ou parecer que lhe é dado. Naturalmente, busca-se uma segunda ou terceira opinião, sempre que a primeira não seja favorável ao ponto de vista do consulente, não importa o terreno do conhecimento em que a indagação ocorra (filosófico, literário, artístico, sociológico, político, pedagógico, médico, religioso e qualquer outro que inquiete o espírito humano). Não poderia ser diferente no que diz respeito às divergências de ordem jurídica, plano em que os conflitos são constantes e de soluções sempre problemáticas.
Isso posto, numa síntese feliz, o mesmo processualista resume a origem dos recursos processuais em duas razões: “a) a reação natural do homem, que não se sujeita a um único julgamento; b) a possibilidade de erro ou máfé do
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julgador”. No plano sociológico, essas razões são as que basicamente explicam
a presença dos recursos nos sistemas processuais de todo o mundo civilizado, muitos deles erigindo-os à categoria de um dos direitos e garantias fundamentais, ou seja, um dos direitos do homem.
Discute-se a propósito da natureza jurídica do recurso, chegando alguns a qualificá-lo de uma ação distinta e autônoma em relação àquela em que se vinha
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exercitando o processo.
A corrente dominante, no entanto, prefere conceituar o poder de recorrer “como simples aspecto, elemento ou modalidade do próprio direito de ação
27
exercido no processo”. Em outros termos, corresponde a um incidente, ou
desdobramento do processo, em que o direito de ação é praticado.
Apresenta-se, também, o recurso como ônus processual, porquanto a parte não está obrigada a recorrer do julgamento que a prejudica. Mas, “se o vencido não o interpuser, consolidam-se e se tornam definitivos os efeitos da
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sucumbência”.
718. Atos sujeitos a recurso
No processo são praticados os chamados atos processuais, ora pelas partes, ora por serventuários da Justiça, ora por peritos, ora por terceiros e ora pelo juiz. Apenas dos atos do juiz é que cabem os recursos. E, ainda, não de todos, mas de alguns atos do juiz.
De acordo com o art. 203,29 os pronunciamentos do juiz consistirão em “sentenças”, “decisões interlocutórias” e “despachos”. Todos eles figuram na categoria dos atos de autoridade, mas nem todos ensejam a interposição de recurso.
As sentenças e decisões são sempre recorríveis, qualquer que seja o valor da
30
causa (arts. 1.009 e 1.015). Dos despachos, i.e., dos atos judiciais que apenas
impulsionam a marcha processual, sem prejudicar ou favorecer qualquer das
31-32
partes, não cabe recurso algum (art. 1.001).
Aboliram-se, no âmbito da codificação anterior à de 73, as chamadas “causas de alçada”, em que o recurso (embargos infringentes) só se destinava à revisão do julgado pelo próprio juiz que o proferiu. Ficou consagrada no Código de 1973 a possibilidade do duplo grau de jurisdição voluntário em qualquer causa, o que foi mantido pelo novo CPC. Preserva-se, porém, o regime de causas de alçada fora do Código de Processo Civil, em procedimentos especiais como o da execução fiscal (Lei nº 6.830/1980) e o das ações trabalhistas (Lei nº 5.584/1970,
33
alterada pela Lei nº 7.402/1985).
721. Recursos admissíveis
I – No primeiro grau de jurisdição (juízo de primeira instância), o NCPC admite os seguintes recursos34
(a) apelação (arts. 994, I e 1.009);
35
(b) agravo de instrumento (arts. 994, II, e 1.015);
36
(c) embargos de declaração (arts. 994, IV, e 1.022).
Verifica-se que não houve alteração em relação ao Código de 1973.
II – Quanto aos acórdãos dos tribunais, admite o novo Código os seguintes recursos
(a) embargos de declaração (arts. 994, IV, e 1.022);
(b) recurso ordinário, para o Superior Tribunal de Justiça e para o Supremo Tribunal Federal (arts. 994, V, e 1.027);37
(c) recurso especial (arts. 994, VI, e 1.029);38
(d) recurso extraordinário (arts. 994, VII, e 1.029);39-40
(e) embargos de divergência no Supremo Tribunal Federal e no Superior 41
Tribunal de Justiça (arts. 994, IX, e 1.043).
A alteração em relação ao Código de 1973 consistiu em supressão dos embargos infringentes (CPC/1973, arts. 496, III, e 530). Embora o recurso tenha sido eliminado, o aprimoramento das decisões colegiadas tomadas por escassa maioria de votos passou a ser alcançável por meio de simples prosseguimento do julgamento da apelação, com a inclusão de outros julgadores convocados, a fim de conseguir maioria mais ampla no resultado final do acórdão (NCPC, art. 942).
III – Para as decisões de segundo grau, diferentes de acórdão, o atual Código prevê os seguintes recursos
 (
;
)42(a) agravo interno (arts. 994, III, e 1.021)
(b) agravo em recurso especial ou extraordinário (arts. 994, VIII, e
 (
.
)431.042)
Verifica-se que a nova codificação admitiu o agravo interno contra qualquer decisão proferida pelo relator, enquanto o Código de 1973 o admitia apenas nos seguintes casos: (i) despacho do relator que indefere de plano os embargos infringentes (art. 532); (ii) indeferimento de recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do STF ou de Tribunal Superior (art. 557); (iii) não conhecimento do agravo contra inadmissão de recurso especial ou extraordinário, por ser manifestamente inadmissível ou que não tenha atacado especificamente os fundamentos da decisão agravada (art. 544, § 4º, I); e (iv) conhecimento do agravo de inadmissão de recurso especial ou extraordinário para negar-lhe provimento, para negar-lhe seguimento ou para dar provimento ao recurso. Esse casuísmo foi totalmente superado pelo novo Código.
722. Reclamação
Fora do sistema recursal, mas com possibilidade de produzir efeitos análogos aos do recurso, a Constituição instituiu, no âmbito da competência originária do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, a figura da reclamação, cujo procedimento veio a ser originariamente disciplinado pela Lei nº 8.038, de 28.05.199044 e agora pelos arts. 988 a 993 do NCPC. Atualmente, a admissão desse remédio impugnativo se dá com amplitude muito maior, pois se
presta a tutelar a autoridade e competência de todos os tribunais e não mais apenas das Cortes superiores (ver, retro, item nº 713).
723. Correição parcial
Por mais completo que seja o sistema recursal do Código, hipóteses haverá em que a parte se sentirá na iminência de sofrer prejuízo, sem que haja um remédio específico para sanar o dano que o juiz causou a seus interesses em litígio.
Por isso, engendrou a praxe forense, encampada por algumas leis locais de organização judiciária e regimentos internos de tribunais, a correição parcial ou reclamação, como providência assemelhada ao recurso, sempre que o ato do juiz for irrecorrível e puder causar dano irreparável para a parte. Sua natureza é mais disciplinar que processual, embora possa ter reflexos sobre a normalização da
 (
.
)45m archa tumultuada do processo
“Trata-se” – como adverte Rogério Lauria Tucci – “de medida sui generis, não contemplada na legislação processual civil codificada ou extravagante, cuja finalidade precípua é a de coibir a inversão tumultuária da ordem processual, em
 (
.
)46virtude de erro, abuso ou omissão do juiz”
Assim, contra os despachos, não permite o Código nenhum recurso (art. 1.001). Mas, às vezes, um simples despacho pode tumultuar completamente a marcha processual, lesando irreparavelmente os interesses do litigante. Nesses casos, e, em geral, nas omissões do juiz, contra as quais não se pode cogitar de agravo, haverá de ter lugar a correição parcial para eliminar os errores in
 (
.
)47procedendo
São, pois, pressupostos da correição parcial, ou reclamação:
(a) existência de um ato ou despacho, que contenha erro ou abuso, capaz de tumultuar a marcha normal do processo;
(b) o dano, ou a possibilidade de dano irreparável, para a parte;
 (
(c)
)48
inexistência de recurso para sanar o error in procedendo.
As leis de organização judiciária têm atribuído ora ao Conselho Superior da Magistratura, ora aos próprios Tribunais Superiores, a competência para conhecer e julgar as correições parciais ou reclamações. Seu procedimento, outrossim, tem sido o mesmo do agravo de instrumento.
Em Minas Gerais, a regulamentação da correição parcial está contida no art. 24, IX, do Regimento Interno do Conselho da Magistratura (Resolução nº 420/2003), que assim dispõe: “Compete ao Conselho da Magistratura (...) proceder, sem prejuízo do andamento do feito e a requerimento dos interessados ou do Ministério Público, a correições parciais em autos, para emenda de erros ou abusos, quando não haja recurso ordinário, observando-se a forma do processo de agravo de instrumento”.
No âmbito da Justiça Federal, segundo a Lei nº 5.010, de 30.05.1966, a correição parcial está inserida na competência do Conselho da Justiça Federal (art. 6º, I), havendo previsão de poderes do relator para, liminarmente, suspender o ato ou despacho impugnado por até trinta dias, “quando de sua execução possa decorrer dano irreparável” (art. 9º).
724. A técnica de julgamento dos recursos
O recurso tem um objeto, que é o pedido de reforma ou de integração da decisão impugnada. Sua apreciação, pelo órgão revisor, todavia, depende de pressupostos e condicionamentos definidos na lei processual. Cabem ao órgão a que se endereçou o recurso duas ordens de deliberação: o juízo de admissibilidade e o juízo de mérito.
No juízo de admissibilidade resolvem-se as preliminares relativas ao cabimento, ou não, do recurso interposto. Verifica-se se o recorrente tem legitimidade para recorrer, se o recurso é previsto em lei e se é adequado ao ato atacado, e, finalmente, se foi manejado em tempo hábil, sob forma correta e com atendimento dos respectivos encargos econômicos. Se a verificação chegar a um resultado positivo, o órgão revisor “conhecerá do recurso”. Caso contrário, dele “não conhecerá”, ou seja, o recurso será rejeitado, sem exame do pedido de novo julgamento da questão que fora solucionada pelo decisório recorrido. Dá-se a morte do procedimento recursal no estágio das preliminares.
As preliminares, na espécie, apresentam questões prejudiciais ao julgamento de mérito, já que este só acontecerá se o recurso for conhecido no juízo de admissibilidade. Superado, com êxito, esse primeiro estágio da apreciação, o julgamento de mérito consistirá em dar ou negar provimento ao recurso. Se se confirma o decisório impugnado, nega-se provimento ao recurso. Se se altera o julgamento originário, dá-se provimento ao recurso.
Sendo dois julgamentos distintos e inconfundíveis, todos os participantes da turma julgadora votarão tanto no juízo de admissibilidade como no juízo de
mérito do recurso (NCPC, art. 939).49 Não se exime de votar no mérito nem mesmo aquele que, na fase preliminar, votou vencido contra o cabimento do recurso. A norma do art. 939 é expressa no tocante a essa exigência, e Barbosa Moreira considera que a não completude dos votos na fase de mérito compromete a higidez do julgamento.50 A jurisprudência, por sua vez, considera julgamento omisso o que se encerra sem colher, no mérito, o voto do vencido na preliminar de cabimento do recurso, podendo a falha ser corrigida por meio de embargos de declaração.51
O mérito do recurso, outrossim, não se confunde com o mérito da causadeterminado pelo pedido do autor formulado na petição inicial e que envolve sempre uma questão de direito material. No recurso, também, há sempre um pedido – o de novo julgamento, para reformar, anular ou aperfeiçoar a decisão impugnada. Esse pedido – mérito do recurso – pode ou não referir-se a uma questão de direito material. Às vezes a pretensão de invalidação da sentença, formulada pelo recorrente, envolverá questão puramente processual. Seu julgamento, porém, não será de preliminar, mas de mérito, mérito não da causa e sim do recurso. Preliminares do recurso são apenas as questões que antecedem a apreciação do pedido contido no próprio recurso, são as que se localizam no juízo de admissibilidade.
O julgamento de mérito, no juízo recursal, pode ser, ainda, de acolhida total ou parcial da impugnação. Vale dizer: o órgão revisor pode manter ou reformar toda a decisão recorrida, ou pode limitar-se a modificá-la em parte.
Salvo em caso de não conhecimento do recurso, o acórdão que o julga substitui o decisório impugnado, nos limites da impugnação (art. 1.008).52 Ao substituí-lo, acarreta praticamente sua cassação, até mesmo quando o confirma (ou mantém), pois o novo julgamento ocupa no processo, para todos os efeitos, o lugar da sentença ou acórdão que tiver sido objeto do recurso.53
§ 77. PRINCÍPIOS GERAIS DOS RECURSOS
Sumário: 725. Princípios fundamentais dos recursos civis. 726. Enumeração dos princípios fundamentais observados pela sistematização legal dos recursos civis. 727. Princípio do duplo grau de jurisdição. 728. Princípio da taxatividade. 729. Princípio da singularidade. 730. Princípio da fungibilidade.731. Princípio da dialeticidade. 732. Princípio da voluntariedade. 733. Princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias. 734. Princípio da complementariedade: inaplicabilidade aos recursos civis. 735. Princípio da vedação da reformatio in pejus. 736. A possível piora da situação do recorrente na hipótese do § 3º do art. 1.013 do NCPC. 737. Princípio da consumação.
725. Princípios fundamentais dos recursos civis
Prestigiosa doutrina costuma, em matéria de princípios do direito processual civil, dividi-los em dois grupos: a dos princípios informativos e a dos princípios fundamentais.54
Os informativos dispensam demonstração por se apresentarem “quase que como axiomas” a prescindirem de maiores indagações, já que se baseiam em critérios estritamente lógicos e técnicos, sem ostentar, praticamente, nenhum conteúdo ideológico.55 Compreendem os princípios: (i) lógico, (ii) jurídico, (iii) político e (iv) econômico.56 A todos eles sujeitam-se os recursos, aplicando-se- lhes, portanto, a teoria e a técnica expostas nos itens nº 29 e ss. do vol. I.
Já os princípios fundamentais – explica o Professor Nery Júnior – “são aqueles sobre os quais o sistema jurídico pode fazer opção, considerando aspectos políticos e ideológicos. Por essa razão, admitem que em contrário se oponham outros, de conteúdo diverso, dependendo do alvedrio do sistema que os está adotando”.57
Para Alexy, regras e princípios são igualmente normas para o direito. A diferença está em que as regras são “normas que só podem ser cumpridas ou
não” por conterem “determinações no âmbito do fático e juridicamente possível”. Sendo válidas, o que nelas se determina há de ser realizado de maneira absoluta. Os princípios, por sua vez, são “normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes”. Daí falar-se que são mandados de otimização. Diferentemente das regras, os princípios podem ser cumpridos em graus diferentes, dependendo do
contexto (fático e jurídico) em que se aplicam.58 Na mesma linha de
pensamento, Dworkin proclama que o direito não se reduz a regras estritas, mas se compõe também de princípios hauridos deste modo de ser próprio da comunidade política, e que se encontram de maneira especial na Constituição. De tal maneira, prevalece “a promessa de que o direito será escolhido, desenvolvido e interpretado de um modo global, fundado em princípios, estabelecendo uma ideia de integridade do sistema dentro de uma ‘comunidade de princípios’”.59
Outra particularidade dos princípios fundamentais está na sua elasticidade e consequente possibilidade de sofrer mutações conceituais e eficaciais com o passar do tempo e dos lugares de sua aplicação, podendo até mesmo lograr consequências práticas e teóricas “diferentes daquelas imaginadas e queridas por seus idealizadores e, máxime, pela lei que os adotou”.60
Cumpre, ainda, fazer uma distinção entre princípio constitucional e princípio geral. O primeiro, quando traduzido em norma pela Constituição, não pode ser afrontado por lei ordinária, limita, portanto, a liberdade do legislador. Já o princípio geral comum, cuja presença no ordenamento jurídico é deduzida sistematicamente pela doutrina e jurisprudência, esse não veda ao legislador afastá-lo, em determinadas circunstâncias, por questão de ordem política, ou de conveniência prática. A ofensa, portanto, a um princípio constitucional acarreta a nulidade da lei que a tenha praticado; já o afastamento do princípio geral, por decisão política do legislador, em caso excepcional, não macula a obra legislativa.
Por exemplo, a legalidade das formas processuais é um princípio geral que permite, diante de qualquer norma procedimental, a instituição de regras que justifiquem sua inobservância, fazendo prevalecer a funcionalidade do processo, em lugar da obrigatoriedade do respeito ao rito definido em lei.
Da mesma forma que os princípios informativos, os fundamentais do direito processual civil incidem, necessariamente, sobre os recursos e sua aplicação (ver, sobre o tema, §§ 4º e 5º do vol. I deste curso).
726. Enumeração dos princípios fundamentais observados pela sistematização legal dos recursos civis
Segundo doutrina predominante, aplicam-se, com especificidade, aos recursos do processo civil brasileiro, os seguintes princípios fundamentais:
(a) Princípio do duplo grau de jurisdição;
(b) Princípio da taxatividade;
(c) Princípio da singularidade;
(d) Princípio da fungibilidade;
(e) Princípio da dialeticidade;
(f) Princípio da voluntariedade;
(g) Princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias;
(h) Princípio da complementariedade;
(i) 
(j) 
Princípio da vedação da reformatio in pejus; Princípio da consumação.
Cada um deles será examinado, separadamente, nos tópicos que se seguem.
727. Princípio do duplo grau de jurisdição
Com a sujeição da matéria decidida, sucessivamente, a dois julgamentos procura-se prevenir o abuso de poder do juiz que tivesse a possibilidade de decidir sem sujeitar seu pronunciamento à revisão de qualquer outro órgão do Poder Judiciário. O princípio do duplo grau, assim, é um antídoto contra a tirania judicial.61
Não é que se tenha sempre como melhor e mais justo o julgamento de segundo grau. É que, em face da falibilidade do ser humano, não é razoável supor que o juiz seja imune de falhas no seu mister de julgar. Daí ser natural que se questione o ato judicial quanto à sua fundamentação, que, aliás, é uma condição sine qua non de sua validade (CF, art. 93, IX; NCPC, art. 11).
De outro lado, é também da natureza humana o inconformismo diante de qualquer decisão desfavorável, de sorte que o vencido é sempre inclinado a pretender um novo julgamento sobre a matéria já decidida. Ademais, se o moderno processo justo assegura aos litigantes participar ativa e efetivamente da formação do provimento judicial, submetendo ao crivo do contraditório não só as
partes, mas também o juiz, é óbvio que terá de haver um mecanismo processual que permita a crítica ou censura ao decisório que primeiro avaliou e decidiu o conflito. O julgamento da causa, portanto, não pode deixar de considerar as alegações relevantes das partes e, sob pena de nulidade, não lhe será lícito omitir na resposta adequada às arguições de fato e de direito levantadas regularmente por meio das referidasalegações. A consequência desse contraditório democrático é que o diálogo processual não pode encerrar-se no provimento do primeiro grau de jurisdição. Se assim fosse, as partes não teriam como assegurar sua efetiva participação na formação do ato decisório. O julgamento em instância única deixaria incólume a sentença afrontosa ao contraditório. Indispensável, portanto, se torna o acesso da parte prejudicada ao tribunal para demonstrar a ilegalidade do julgado abusivo pronunciado no primeiro grau de jurisdição.
A não ser assim, a opinião isolada e autoritária do juiz poderia prevalecer imune diante do diálogo construtor do provimento. A vontade da autoridade judicial acabaria por ter a força de ignorar o debate das partes, assumindo, sem remédio, a qualidade de fonte única da regra concreta imposta à solução do litígio.
Fala-se, nesta linha de argumentação, que “o princípio do duplo grau é, por assim dizer, garantia fundamental de boa justiça”.62
A ordem constitucional em vigor, de fato, não contém uma declaração expressa da obrigatoriedade do duplo grau. No entanto, da organização que a Carta Magna prevê para o Poder Judiciário consta a instituição obrigatória de juízos de primeiro grau e de tribunais de grau superior, cogitando de recursos ordinários e extraordinários entre uns e outros. É o suficiente para ter como implantado entre nós o princípio fundamental da dualidade de instâncias.
No entanto, a própria Constituição prevê processos de competência originária de tribunais, sem superpor-lhes uma instância revisora. E, mais ainda, prevê juizados especiais em que o recurso, acaso interposto, não sobe a um tribunal superior, mas é examinado por grupo de juízes de primeiro grau, integrados ao próprio juizado.
Isto quer dizer que o princípio do duplo grau está naturalmente implantado entre nós, mas não em termos absolutos, cabendo ao legislador ordinário dar-lhe os contornos práticos que se mostrarem convenientes.
Com efeito, o NCPC, ao tratar do tema, mais especificamente do chamado “duplo grau de jurisdição necessário”, dispôs, no art. 496, não haver a remessa
necessária de decisões proferidas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público, quando: (i) a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de valor pequeno (§ 3º); ou (ii) a sentença estiver fundada em súmula de tribunal superior; acórdão proferido pelo STF ou STJ, em julgamento de recursos repetitivos; entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou assunção de competência; e entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo do próprio ente público, consolidado em manifestação, parecer ou súmula administrativa. Mesmo, portanto, quando o Código impõe a observância do duplo grau, fora do âmbito recursal, muitas exceções são abertas à exigência legal.
Assim, as leis, como a de Execução Fiscal, que tornem não sujeitos à apelação (mas apenas a embargos para o próprio prolator) sentenças de até um determinado valor, não devem ser havidas inexoravelmente como inconstitucionais. O problema é de política legislativa, que pode ora ampliar ora reduzir o alcance prático do princípio geral do duplo grau de jurisdição. Nesse sentido, o STF já decidiu ser constitucional o art. 34 da Lei nº 6.830, de 22.09.1990, quando exclui o cabimento da apelação em execuções fiscais de pequeno valor.63
Na verdade, porém, o que a lei processual pode fazer é criar mecanismo recursal que não leve a sentença ao obrigatório reexame do tribunal de segunda instância. Essa reavaliação, em situações especiais, pode ser atribuída a entidade coletiva formada por juízes de primeiro grau, como acontece nos juizados especiais, ou até mesmo ao próprio juiz prolator da sentença, como se passa nos executivos fiscais de pequeno valor. O que não se tolera, num processo justo, é a negativa de oportunidade à parte vencida de obter um rejulgamento da causa cuja decisão lhe foi adversa. Nessa concepção de direito à dupla apreciação da causa, quando primitivamente decidida por juízo singular, nenhum processo pode ser privado do duplo grau de jurisdição.
Quanto às causas que a própria Constituição atribui a juízo único dos tribunais, o afastamento do julgamento por exclusiva vontade individual é obtido por meio da estrutura coletiva da entidade judicante. A decisão, na espécie, é fruto da concorrência de votos de diversos juízes, de modo que cada um revê o daquele ou daqueles que o precederam. De outra maneira, portanto, resta assegurada às partes o juízo múltiplo de suas pretensões, o que, afinal, cumpre função similar à do duplo grau de jurisdição entre o juiz de primeiro grau e o tribunal.
Assim, não é de acolher-se a tese de que a Constituição não agasalha o princípio do duplo grau de jurisdição, deixando ao alvedrio da legislação processual aplicá-lo ou não em determinados processos. Na verdade, não há uma garantia nominal na ordem constitucional a seu respeito. Há, porém, o princípio na Constituição que o utiliza na estruturação dos órgãos da Justiça em diversos graus de hierarquia, e na consagração expressa da garantia do contraditório, como demonstra a corrente doutrinária a que nos filiamos, ao lado de vozes abalizadas como as de Calmon de Passos e Nelson Nery Júnior, entre muitos outros.64
Os que recusam a obrigatoriedade da observância do duplo grau de jurisdição como imposição de ordem constitucional, acusam-no de dificultar o acesso à justiça, uma vez que o recurso seria “uma boa desculpa para o réu que não tem razão retardar o processo”,65 contribuindo, assim, para comprometer a efetividade da tutela jurisdicional, sem que haja uma certeza de que os julgados dos tribunais sejam melhores e mais justos do que os pronunciados pelos juízes de primeiro grau.
Antes de tudo, os recursos não estão à disposição apenas do réu, mas de ambas as partes, e não raro é o autor que dele se serve para corrigir o erro cometido pelo decisório primitivo, que, sem a faculdade do reexame recursal, deixaria o autor, vítima de denegação da tutela a que faz jus, totalmente privado do acesso à justiça.
O fato de ser possível a protelação do desfecho do processo por meio de recursos abusivos não é, por si só, um argumento para desprestigiar por inteiro o duplo grau de jurisdição. Para os abusos de direito, há sempre instrumentos coercitivos na ordem jurídica. No caso específico dos recursos, existem expedientes capazes de impedir o recurso de má-fé, ou, pelo menos, de anular suas consequências maléficas, de maneira satisfatória. Basta lembrar as multas pela litigância de má-fé, a ampliação da verba advocatícia pela sucumbência recursal, a tutela de urgência satisfativa, a supressão do efeito suspensivo, a ampliação do cabimento da execução provisória e tantos outros expedientes que inibem o uso procrastinatório dos recursos e mitigam a sua influência indesejável sobre a duração razoável do processo e a efetividade da tutela jurisdicional.
Entre a garantia do contraditório e da efetividade do processo, não há incompatibilidade. Cabe à técnica processual reconhecer que ambas são indispensáveis para se ter um autêntico e justo acesso à justiça, e, assim sendo, preconizar a observância harmônica de ambas, segundo os critérios da
razoabilidade e da proporcionalidade. O que não se pode fazer é centrar toda a dinâmica da prestação jurisdicional na busca da celeridade, sacrificando a essência do processo justo, que hoje se situa fundamentalmente no contraditório pleno e na cooperação e influência de todos os sujeitos do processo na formação do provimento judicial.
O duplo grau – como modernamente se concebe – decorre imediatamente da garantia do contraditório, que, além de seus aspectos tradicionais, compreende, sem dúvida, o direito de fiscalizar, controlar e criticar a decisão judicial. E esse objetivo do contraditório nunca será atingido sem o acesso ao duplo grau de jurisdição, e, por isso mesmo, sem o concurso instrumentaldos
66-67
recursos.
728. Princípio da taxatividade
 (
,
)O cabimento e a forma do recurso não dependem de arbítrio da parte. “É indispensável que a lei processual haja instituído o recurso que se interpõe como meio normal de impugnação das decisões gravosas. Pelo sistema atual do Código, os recursos existentes são os que estão consignados no art. 994 do 68NCPC não sendo possível, pois, cogitar de alguma impugnação, a título de recurso, que não se amolde a qualquer deles. Por outro lado, não basta que exista o recurso, para que ele seja admissível. Faz-se mister, igualmente, que ele seja o
 (
.
)69recurso adequado para a impugnação pretendida”
Embora se tenha o art. 994 como taxativo, o certo é que outras leis também cuidam de recursos, no âmbito de sua incidência especial, criando modalidades recursais diferentes daquelas codificadas. É, por exemplo, o caso do recurso inominado da Lei dos Juizados Especiais Civis (art. 41).
O princípio da taxatividade, é bom registrar, não repele o princípio da
fungibilidade entre os recursos enunciado pela lei em numerus clausus, em
 (
.
)70circunstâncias especiais, como mais adiante será demonstrado
729. Princípio da singularidade
Pelo princípio da singularidade, também chamado de princípio da unirrecorribilidade ou da unicidade, para cada ato judicial recorrível há um só recurso admitido pelo ordenamento jurídico.
O Código não diz, expressamente, ter adotado esse princípio. Mas disciplinou
a recorribilidade de tal maneira prática que o adotou implicitamente. Com efeito, pelo art. 203 do NCPC, os atos decisórios do juiz foram agrupados em duas espécies: a sentença, quando o julgador põe fim à fase cognitiva do procedimento comum ou extingue a execução, decidindo ou não o mérito da causa (§ 1º); e a decisão interlocutória, quando, no curso do processo, e, portanto, sem extingui-lo, resolve questão incidente (§ 2º). Para cada um destes atos previu
um recurso próprio ou específico: a apelação, para a sentença (art. 1.009),71 e o
agravo, para a decisão interlocutória (art. 1.015).72-73
Num sistema como o nosso, não se indaga, para classificar o ato judicial, sobre a natureza da questão decidida. O que importa para ter-se como configurada uma sentença ou uma decisão interlocutória é o “conteúdo finalístico” do ato74 (sobre o tema, ver itens nos 349 e 351 do vol. I).
É irrelevante que o juiz tenha apenas se limitado a questões preliminares. Se a decisão encerrou o processo, ou, pelo menos, pôs fim à fase cognitiva ou extinguiu a execução, o caso será de sentença. Se, ao contrário, o exame foi de matéria substancial como a ocorrência ou não de prescrição e decadência, que se dirimiu sem pôr termo ao processo, o caso será de decisão interlocutória.
Como para a sentença o único recurso previsto é a apelação, e para a decisão interlocutória, o agravo, não há fugir do princípio da unirrecorribilidade no processo civil brasileiro, pelo menos quanto aos julgamentos de primeiro grau de jurisdição.
Uma exceção aparente a esse princípio, todavia, encontra-se no art. 1.029 do CPC,75 que prevê a simultânea propositura do recurso especial e do extraordinário, para o Superior Tribunal de Justiça (questão federal) e para o Supremo Tribunal Federal (questão constitucional), tudo com referência a um só acórdão. Todavia, as questões atacadas em cada um dos recursos, serão distintas, não ocorrendo, portanto, dupla impugnação sobre a mesma matéria.
Fora daí não há que se cogitar de seccionamento da sentença em capítulos para analisá-la, quanto à recorribilidade, segundo o conteúdo de cada um deles. Pouco importa, à luz do art. 203, se o juiz, a um só tempo, resolveu questões preliminares e julgou o mérito; ou se, decidindo questões somente de natureza processual, encerrou o processo; ou se, decidindo questão de mérito, o fez em caráter incidental, sem extinguir o processo. Sempre será pelo conteúdo finalístico que o ato decisório se classificará como sentença ou decisão interlocutória. E, portanto, configurada a sentença, o recurso cabível somente
será a apelação (art. 1.009); e configurada a decisão interlocutória, o recurso cabível apenas será o agravo (art. 1.015).
Outra aparente exceção à unirrecorribilidade dá-se contra a decisão dúbia, contraditória ou lacunosa, porque além do recurso comum caberá também o de
76
embargos de declaração (art. 1.022, caput), cuja interposição interromperá o
prazo do primeiro (art. 1.026). Na realidade, porém, os dois recursos não são simultâneos, e, sim, sucessivos, tendo cada um deles objetivos diversos.
Em todas essas situações excepcionais a quebra do princípio da unirrecorribilidade provém da lei e não da vontade da parte, de sorte que, fora da permissão legal expressa, não é dado ao vencido interpor senão um recurso contra cada decisão, ou seja, o “recurso adequado”, aquele indicado pela lei
77
“para o reexame da decisão que se impugna”. Além disso, ainda quando a lei
permite a pluralidade de recursos contra uma só decisão, não o faz para autorizar a veiculação reiterada da mesma pretensão impugnativa em remédios paralelos. Cada recurso terá objetivo próprio e um não poderá, evidentemente, repetir a
78
matéria do outro.
730. Princípio da fungibilidade
O Código de 1973 não previa expressamente a fungibilidade dos recursos. Entretanto, essa circunstância não impedia a utilização do princípio, que era deduzido do sistema e aplicado por meio do princípio da instrumentalidade das formas ao sistema recursal.79
Certo é que, com a racionalização da classificação dos atos decisórios pelo art. 162 do CPC/1973, seguida de uma previsão de recursos que conecta com tal classificação (CPC/1973, arts. 513 e 522), muito se reduziu a possibilidade de dúvidas sérias em torno do cabimento de um ou outro recurso, ao longo da marcha processual. A experiência do foro, todavia, demonstrou que, às vezes por deficiência terminológica do próprio Código, e outras vezes por divergências doutrinárias ou jurisprudenciais, ainda ocorriam situações de dúvida na definição do recurso cabível, o que justificava a invocação do princípio da fungibilidade.
A jurisprudência, à época, admitia a fungibilidade quando ocorressem os seguintes requisitos: (i) dúvida objetiva acerca de qual o recurso manejável; (ii) inexistência de erro grosseiro na interposição de um recurso pelo outro; (iii) observância do prazo próprio do recurso adequado, sempre que este fosse menor do que o do recurso erroneamente interposto. Quanto a este último requisito,
Nelson Nery Júnior, defendia a tese de que se o erro fosse escusável, o princípio da fungibilidade validaria a impugnação segundo os requisitos do recurso interposto, sem atentar para os do recurso omitido.80 Sua tese, a nosso ver,
merecia, e ainda merece, acolhida, pois se há dúvida objetiva para justificar a fungibilidade, não pode a parte ser penalizada pelo emprego de um recurso pelo outro; e se escolheu um deles, é o prazo do escolhido que haverá de ser computado, já que válida foi a sua interposição. Embora fosse volumosa a jurisprudência no sentido de exigir-se, na fungibilidade, a observância do prazo do recurso próprio (não manejado), o STJ, em várias ocasiões, já prestigiou a tese de que, sendo escusável o erro da parte, deve prevalecer a eficácia do recurso impróprio ainda que “haja sido interposto após findo o prazo para o recurso próprio”.81
Disso decorre que, na realidade, um único requisito se devia exigir para incidência do princípio da fungibilidade em matéria de recurso: o da dúvida objetiva e fundada, como, aliás, se pode notar em acórdãos recentes do STJ.82 Esse regime, construído na experiência do Código anterior, mantém-se válido e aplicável dentro do sistema do novo CPC, ainda que este continue, como o velho, a não conter regra geral expressa sobre a fungibilidade recursal.
Porém, há de se ter em conta a expressa previsão na nova legislação sobre a fungibilidade, no tocante à interposição de recurso especiale extraordinário (NCPC, arts. 1.032 e 1.033).83 Isso porque permitiu que o relator, no STJ, entendendo que o recurso especial versa sobre questão constitucional, conceda prazo de quinze dias para que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral (requisito para o recurso extraordinário) e se manifeste sobre a questão constitucional. Da mesma forma, determinou que o relator, no STF, considerando como reflexa a ofensa à Constituição Federal afirmada no recurso extraordinário, o remeta ao STJ para julgamento como recurso especial. O novo Código previu, ainda, a fungibilidade entre os embargos de declaração e o agravo interno, uma vez que dispõe, no art. 1.024, § 3º, que o “órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo interno se entender ser este o recurso cabível”. Nesse caso, deverá intimar previamente o recorrente para, no prazo de cinco dias, complementar as razões recursais, para que se ajustem às exigências feitas para a interposição do agravo interno, E, posteriormente, cumprirá o contraditório, por meio da intimação do agravado para manifestar-se.
Com isto, restou claro para o NCPC, no campo dos recursos excepcionais,
ser irrelevante o equívoco da parte em usar o especial em lugar do extraordinário e vice e versa, pois sempre será possível a conversão do inadequado no adequado. Se tal é autorizado perante esses recursos, nada impedirá que a fungibilidade seja também observada em relação aos recursos ordinários.
Por último, deve-se lembrar que a adoção de um recurso pelo outro, quando preservados os requisitos de conteúdo daquele que seria o correto, e não constatada a má fé nem o erro grosseiro, resolve-se em erro de forma; e, para o sistema de nosso Código, não se anula, e sim, adapta-se à forma devida, o ato processual praticado sem sua estrita observância (NCPC, arts. 277 e 283,
84
parágrafo único).
731. Princípio da dialeticidade
Por dialética entende-se, numa síntese estreita, o sistema de pensar fundado no diálogo, no debate, de modo que a conclusão seja extraída do confronto entre argumentações empíricas, quase sempre contraditórias.
Pelo princípio da dialeticidade exige-se, portanto, que todo recurso seja formulado por meio de petição na qual a parte, não apenas manifeste sua inconformidade com ato judicial impugnado, mas, também e necessariamente, indique os motivos de fato e de direito pelos quais requer o novo julgamento da questão nele cogitada, sujeitando-os ao debate com a parte contrária.
Na verdade, isto não é um princípio que se observa apenas no recurso. Todo o processo é dialético por força do contraditório que se instala, obrigatoriamente, com a propositura da ação e com a resposta do demandado, perdurando em toda a instrução probatória e em todos os incidentes suscitados durante o desenvolver da relação processual, inclusive, pois, na fase recursal.
Para que se cumpra o contraditório e ampla defesa assegurados constitucionalmente (CF, art. 5º, LV), as razões do recurso são elemento indispensável a que a parte recorrida possa respondê-lo e a que o tribunal ad quem possa apreciar-lhe o mérito. O julgamento do recurso nada mais é do que um cotejo lógico-argumentativo entre a motivação da decisão impugnada e a do recurso. Daí por que, não contendo este a fundamentação necessária, o tribunal não pode conhecê-lo.85
O novo Código se refere à necessidade da motivação do recurso em vários dispositivos (arts. 1.010, II e III;86 1.016, II e III;87 1.023;88 1.028;89 e 1.029, I e
90
III ) e doutrina e jurisprudência estão acordes em que se revela inepta a
91
interposição de recurso que não indique a respectiva fundamentação. Por isso,
abundantes são os precedentes jurisprudenciais no sentido de que não se pode
92
conhecer do recurso despido de fundamentação.
O mais relevante na dialeticidade é o papel da argumentação desenvolvida pelas partes e pelo juiz, já que, pelo princípio da cooperação (NCPC, art. 6º), a decisão judicial não pode deixar de levar em conta as alegações e fundamentos produzidos pelos litigantes. Se não os acolher, tem de contra-argumentar, explicitando as razões pelas quais formou seu convencimento de maneira diversa da pretendida por um ou por ambos os litigantes. O novo CPC confere a qualidade de norma fundamental do direito processual a que determina a necessidade de serem as decisões adequadamente fundamentadas, e a de que nenhuma das razões de decidir seja adotada sem prévia submissão ao debate com as partes (NCPC, arts. 9º e 10). Não admite, outrossim, qualquer fundamentação, mas para cumprir-se o contraditório efetivo, no qual se inclui também o juiz ou tribunal, caberá ao julgador responder, de maneira expressa e adequada, a todas as arguições e fundamentos relevantes formulados pelas partes
93
(art. 489, § 1º, I a VI).
732. Princípio da voluntariedade
O direito de recorrer participa do caráter dispositivo do próprio direito de ação. O Poder Judiciário não toma, na matéria, a iniciativa. Sem a provocação da parte, não há prestação jurisdicional (NCPC, art. 2º).94 Quer isto dizer que, sem a formulação do recurso pela parte, não é possível que o tribunal o aprecie. O juiz não tem o poder de, ex officio, recorrer pela parte, ainda que se trate de incapaz.95 Aliás, transcorrido o prazo estatuído para a interposição do recurso, ocorre a preclusão ou a coisa julgada, conforme o caso. Mas, de qualquer forma, a decisão em ambas as hipóteses escapa a novas discussões e reapreciações judiciais.96 Vale dizer: sem o recurso, não se devolve ao juiz ou ao tribunal a possibilidade de rejulgar as questões já decididas, dentro da sistemática própria dos recursos civis. Correta, portanto, a tese de que só às partes e aos terceiros prejudicados (e eventualmente o Ministério Público) é concedido pela lei o direito de recorrer.
Ainda em decorrência do mesmo princípio, não é dado ao tribunal
prosseguir no processamento do recurso se a parte dele desiste (art. 998).
Andou corretamente, portanto, o Código quando excluiu do campo dos recursos a remessa dos autos à instância superior para “reexame necessário”
97
(art. 496), já que a subida do processo, na espécie, não é provocada por
impugnação alguma à sentença, mas apenas para submeter-se a um juízo integrativo de ratificação ou de alteração pelo tribunal.
733. Princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias
Pelos princípios de economia processual, de celeridade e da oralidade, que dominam todo o processo moderno, não se tolera a interrupção da marcha processual para apreciação de recursos contra decisões de questões incidentais (i.e., decisões interlocutórias). É o que faz o Código brasileiro, que admite agravo contra algumas decisões interlocutórias (art. 1.015)98 e só excepcionalmente, diante de situação de risco grave e de difícil reparação, permite ao relator
 (
.
)99atribuir-lhe eficácia suspensiva (art. 1.019, I) Ou seja, as decisões são
recorríveis, mas os recursos não têm efeito suspensivo e os autos não saem do juízo da causa, não havendo prejuízo para o desenvolvimento normal do processo.
O Código de 1973 previa o agravo retido para essas situações, cujo procedimento previa a análise pelo tribunal, apenas se o juiz de primeiro grau não reconsiderasse sua decisão. O sistema do NCPC é um pouco diverso. Estabeleceu um rol das decisões interlocutórias sujeitas à impugnação por meio de agravo de instrumento que, em regra, não tem efeito suspensivo (NCPC, art. 1.015). Não há mais agravo retido para as decisões não contempladas no rol da lei. A matéria, se for o caso, será impugnada pela parte prejudicada por meio das razões ou contrarrazões da posterior apelação interposta contra a sentença superveniente (art. 1.009, § 1º). Dessa forma, o novo Código valoriza o princípio da irrecorribilidade das interlocutórias, mais do que o Código de 1973.
734. Princípio da complementariedade: inaplicabilidade aos recursos civis
No processo penal admite-se a interposição de recurso relegando a apresentação dosmotivos para fase ulterior (art. 578 c/c arts. 588 e 600). A isto se chama princípio da complementariedade, o qual, todavia, não vigora em nosso regime de processo civil.
Na sistemática do CPC, o recurso necessariamente terá de ser produzido em petição na qual figurem seus fundamentos de fato e de direito. “O protesto por oportuna apresentação de razões não é admissível nos recursos cíveis, segundo a
97 
sistemática processual vigente”.
No entanto, o STJ já teve oportunidade de abrandar o rigor do princípio, tolerando que o recorrente suprisse a falta de fundamentação, desde que, ainda,
98 
dentro do prazo de interposição do recurso.
735. Princípio da vedação da reformatio in pejus
Ensina Barbosa Moreira que ocorre a reformatio in pejus quando “o órgão ad quem, no julgamento de um recurso, profere decisão mais desfavorável ao recorrente sob o ponto de vista prático, do que aquela contra a qual se interpôs o recurso”.102
Nosso sistema processual repele tal prática, visto que, quando uma só parte recorre, entende-se que tudo que a beneficia no decisório e, consequentemente, prejudica a parte não recorrente, tenha transitado em julgado.103 O tribunal ad quem, portanto, somente poderá alterar a decisão impugnada dentro do que lhe pede o recurso. O recurso funciona, assim, como causa e limite de qualquer inovação que o tribunal entenda de fazer no decisório. Não se admite em outras palavras, que o julgamento recursal venha a piorar a situação do recorrente.
Note-se, porém, que há questões de ordem pública, como as condições da ação, os pressupostos processuais, a intangibilidade da coisa julgada, a decadência etc., que devem ser conhecidas de ofício, em qualquer fase do processo e em qualquer grau de jurisdição. Para essas questões, cujo exame independe de provocação da parte, é claro que não constitui embaraço para o tratamento da matéria a falta de provocação da parte, nem tampouco incide na vedação de reformatio in pejus a deliberação que redunde em prejuízo para o recorrente.
Entretanto, mesmo quando é o caso de conhecer e decidir questão de ordem pública, o que o juiz ou o tribunal têm o dever de ofício de resolver, com ou sem provocação da parte, não lhe será lícito fazê-lo, sem antes cumprir o contraditório, assegurado aos litigantes pela Constituição como direito fundamental (CF, art. 5º, LV). Por isso, deparando-se com o problema dessa natureza, cabe ao julgador abrir oportunidade para prévia manifestação das partes, para só depois pronunciar-se.
104
Assim, no art. 9º
do NCPC vem disposto que “não se proferirá decisão
105
contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida”. O art. 10, por
sua vez, aduz que “o juiz não pode decidir, em qualquer grau de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício”. Dessa maneira, o contraditório efetivo (assegurado pelo art. 7º) é visto, além de sua dimensão tradicional, como garantia de não surpresa, seja no tocante às questões novas, seja em relação aos fundamentos novos aplicados à solução das questões velhas.
No direito brasileiro, mesmo inexistindo norma expressa a respeito da proibição da reformatio in pejus, o princípio é considerado como inerente ao sistema, por meio da conjugação do princípio dispositivo, da necessidade de
106
sucumbência para poder recorrer e do efeito devolutivo do recurso. Com
efeito, o objeto do recurso não é senão o que pede o recorrente, pelo que ao tribunal não é dado senão acolher ou rejeitar sua postulação, e nunca ir além de sua pretensão para piorar-lhe a situação jurídica diante do que já fora assentado na decisão recorrida. Valer-se do recurso para agravar a situação do recorrente importa, em outros termos, decidir extra ou ultra petita, atuar jurisdicionalmente de ofício, e violar a coisa julgada ou a preclusão, no tocante àquilo que se tornou definitivo para a parte que não recorreu.
736. A possível piora da situação do recorrente na hipótese do § 3º do art. 1.013 do NCPC
O § 3º do art. 1.013 do NCPC, a exemplo do que já ocorria no Código de 1973 (art. 515, § 3º), permite que o tribunal, ao julgar o recurso de apelação, decida desde logo o mérito da causa, sem aguardar o pronunciamento do juízo de 1º grau, quando: (i) reformar sentença que não tenha resolvido o mérito; (ii) decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; (iii) constatar a omissão no exame de um dos pedidos; e (iv) decretar a nulidade por falta de fundamentação. Técnica esta que se estendeu para o caso de o tribunal reformar a sentença que houver reconhecido a decadência ou a prescrição, quando for possível o exame das demais questões debatidas, sem retorno do processo ao juízo de primeiro grau (art. 1.013, § 4º) Veja-se que o novo Código ampliou a possibilidade de julgamento de mérito da causa pelo tribunal, bastando que esta esteja “em
condições de imediato julgamento”. É o que se costuma chamar de “causa madura”, entendida como tal aquela cujo objeto já foi suficientemente debatido na instância de origem, mesmo que nela não se tenha decidido o mérito.
A regra, quando inserida na lei anterior, referia-se apenas à cassação da sentença terminativa e gerou uma séria polêmica sobre se estaria ou não, a instância de segundo grau autorizada a tanto, mesmo sem pedido da parte recorrente ou recorrida.
A nosso ver, uma coisa é a competência atribuída ao Tribunal, outra é o objeto do recurso sobre o qual tem de julgar. Toda atividade jurisdicional está sempre subordinada a pressupostos e condições traçadas pela lei. Assim, ampliar o julgamento do recurso para questões não suscitadas e, por isso mesmo, não debatidas entre as partes na via recursal, resultaria em violação não apenas dos limites legais da jurisdição, mas sobretudo da garantia do contraditório. E o princípio do contraditório é consagrado pela ordem constitucional como direito fundamental, impondo-se à observância não só das partes como também do juiz. Mesmo nos casos em que o juiz pode apreciar, de ofício, certas questões, não lhe é dado fazê-lo sem antes submetê-las ao debate das partes (NCPC, art. 10). Dessa forma, o julgamento do mérito, a nosso ver, somente seria admitido quando pleiteado pelo recorrente, fosse em razão do princípio dispositivo, fosse da garantia do contraditório.
Nosso posicionamento reforça-se diante do prestígio que o NCPC dedica aos princípios constitucionais do processo, enunciados com ênfase no rol de suas normas fundamentais, onde merecem destaque o princípio dispositivo (art. 2º) e a garantia do contraditório efetivo (arts. 9º e 10), os quais vedam o julgamento sobre questões não propostas pela parte e as decisões sobre questões não previamente submetidas à audiência de ambas as partes, bem como as decisões com base em fundamento a respeito do qual não se lhes tenha dado oportunidade de se manifestar, ainda quando se trate de matéria sobre a qual se deva decidir de ofício.
Entretanto, o STJ, responsável pela uniformização da lei federal, resolveu a controvérsia, à época do CPC de 1973, entendendo que:
(a) “A aplicação prática do art. 515, § 3º [NCPC, art. 1.013, § 3º], independe de pedido expresso do apelante, basta que o tribunal considere a causa pronta para julgamento”;107
(b) “No julgamento do mérito subsequente à cassação da sentença terminativa, é permitido ao tribunal decretar a improcedência da
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demanda, sem que isso esbarre nas vedações à reformatio in pejus”.
Ao ampliar as hipóteses do CPC/1973, o novo Código prestigiou a tese da “causa madura”, como único fundamento explícito para que o tribunal, no julgamento da apelação, uma vez cassada a sentença, passe logo a enfrentar o mérito da causa, sem enunciar os requisitos procedimentais para que tal se dê. Penso que a jurisprudência do STJ, de certa maneira, foi acatada pela nova lei processual, o que, todavia, não afasta a possibilidade de sua releituraà luz da principiologia constitucional valorizada sensivelmente pelo CPC de 2015, e que, a
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nosso ver, nos autoriza a continuar defendendo o ponto de vista já exposto.
É bom lembrar que a aplicação indiscriminada da técnica de julgamento único de mérito pelo tribunal de segundo grau, em fase de apelação, já demonstrou o que temíamos ao tempo da modificação do CPC de 1973 pela Lei nº 10.352/2001, ou seja, a prática abusiva, por alguns juízes de primeiro grau, da extinção do processo por sentença terminativa, como expediente de liberar-se da resolução de lides mais complexas. A praxe, evidentemente, atrita com os princípios básicos da dualidade de instâncias e do juiz natural, sobrecarregando os tribunais com a análise complicada da matéria probatória que competia ser feita originariamente, e em melhores condições, pelo juiz da causa. Eis aí um exemplo que desestimula a aplicação liberal e indiscriminada do efeito expansivo previsto no art. 1.013, § 3º, do NCPC.
737. Princípio da consumação
O princípio da consumação contrapõe-se ao princípio da variabilidade do recurso dentro do prazo de sua interposição, ou seja, enquanto corre o prazo de impugnação, a parte pode desistir do recurso interposto para substituí-lo por outro. Essa faculdade era assegurada pelo art. 809 do CPC de 1939. Os Códigos de 1973 e de 2015 não a repetiram.
A melhor doutrina considera o princípio incompatível com o sistema da preclusão consumativa, que somente poderia ser afastado mediante regra excepcional expressa. Como o vigente Código não fez semelhante ressalva, prevalece a extinção da faculdade de interpor novo e diferente recurso como consequência da prática recursal precedente.110
Uma exceção à regra da preclusão consumativa ocorre na sucumbência recíproca, porque a lei permite à parte, que não recorreu no prazo normal, valer-
se do prazo de contrarrazões para manifestar recurso adesivo ao do adversário. (NCPC, art. 997, §§ 1º e 2º).111
O princípio geral, porém, continua sendo o de que a faculdade de interpor recurso se extingue (preclui) tanto pelo fato de não ter sido manifestado no prazo legal (preclusão extintiva) como pelo fato de já ter sido exercido de forma imprópria ou por via inadequada (preclusão consumativa).
A preclusão consumativa, que se funda no regime traçado pelo art. 507,112 do Código atual, decorre do fato de “já ter sido realizado um ato [pela parte], não importa se com mau ou bom êxito”.113 A consequência é não ser possível “tornar a realizá-lo”.114 É com base nessa regra, que se entende que se a parte escolheu errado o recurso interposto, a faculdade de recorrer já teria sido exercida e exaurida, por força da preclusão consumativa, donde a impossibilidade de desistir do recurso interposto, para substituí-lo por outro.
O princípio da unirrecorribilidade e da preclusão consumativa têm sido aplicado, com frequência, pelo STJ e pelo STF, principalmente quando, por insegurança quanto ao melhor meio de impugnar a decisão, a parte lança mão, sucessiva ou simultaneamente, de dois recursos.115
§ 78. DISPOSIÇÕES GERAIS RELATIVAS AOS RECURSOS CIVIS
Sumário: 738. Juízo de admissibilidade e juízo de mérito dos recursos. 739. Objeto do juízo de admissibilidade: requisitos intrínsecos e requisitos extrínsecos. 740. Cabimento: atos judiciais recorríveis. 741. Tempestividade do recurso. 742. Recurso interposto antes da publicação do julgado. 743. Recurso interposto antes do julgamento de embargos de declaração pendentes. 744. Casos especiais de interrupção do prazo de recurso. 745. Legitimação para recorrer. 746. Particularidades do recurso de terceiro. 747. Recurso de terceiro e coisa julgada. 748. Interesse de recorrer e extinção do processo por meio de decisão em favor do recorrente. 749. Legitimidade do Ministério Público para recorrer. 750. Singularidade do recurso. 751. Adequação e fungibilidade dos recursos. 752. Preparo. 753. Motivação e forma. 754. Renúncia e desistência em matéria de recursos. 755. Aceitação expressa ou tácita da sentença. 756. Recurso adesivo. 757. Julgamento singular e coletivo do recurso em segundo grau. 758. A recorribilidade necessária da decisão singular do relator.
738. Juízo de admissibilidade e juízo de mérito dos recursos
As pretensões deduzidas em juízo sujeitam-se sempre a um duplo exame pela autoridade judicial: (i) preliminarmente, apura-se se, em tese, é cabível processualmente aquilo que postula a parte; (ii) reconhecido tal cabimento, passa-se ao juízo de mérito, que consiste em enfrentar o conteúdo da postulação, para, de sua análise, concluir pela procedência ou não daquilo que a parte pretende obter do juízo. Portanto, sem que se reconheça a legitimidade processual da postulação (juízo de admissibilidade), a análise de seu conteúdo (objeto) não se dará (juízo de mérito). Daí falar-se que o juízo de admissibilidade tem prioridade lógica sobre o juízo de mérito,116 ou seja: “O juízo de admissibilidade é sempre preliminar ao juízo de mérito: a solução do primeiro determinará se o mérito será ou não examinado”.117
Interposto, portanto, um recurso, passará ele de início pelo juízo de
admissibilidade, que poderá ser positivo ou negativo, i.e., no primeiro caso, o recurso será admitido e viabilizado estará o exame de seu mérito; caso isto não se dê, o recurso terá seu andamento trancado, desde logo, pelo reconhecimento de seu descabimento, no caso concreto, tornando-se, assim, impossível a apreciação do pedido do recorrente.
O Código de 1973 previa a realização do juízo de admissibilidade em duas ocasiões: (i) primeiramente, o cabimento do recurso seria apreciado pelo próprio órgão judicial prolator do decisório impugnado (juízo a quo); e (ii) mais adiante seria renovado pelo tribunal ad quem, i.e., por aquele a quem o recurso fora endereçado. Quando isto se dava, o primeiro juízo de admissibilidade era provisório, pois prevaleceria apenas enquanto o tribunal ad quem não se manifestasse.
O novo Código aboliu o juízo de admissibilidade provisório, já que tanto na apelação como no agravo de instrumento, o exame do cabimento do recurso foi atribuído ao tribunal ad quem. O § 3º do art. 1.010 do NCPC dispõe que após as contrarrazões à apelação e à apelação adesiva, se houver, os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, “independentemente de juízo de admissibilidade”. Já o art. 1.016 c/c o art. 932, III, estabelecem que o agravo de instrumento será dirigido diretamente ao tribunal, cabendo ao relator não conhecer de recurso inadmissível. Quanto aos recursos extraordinário e especial, o parágrafo único do art. 1.030 determina que os autos serão remetidos ao STJ ou STF independentemente de juízo de admissibilidade. Desta forma, a sistemática do NCPC é a de um só juízo de admissibilidade.
Na instância superior, portanto, o julgamento sobre a admissibilidade do recurso será sempre efetuado como preliminar indispensável ao exame de mérito. Trata-se, pois, de um juízo necessário e definitivo, em torno do cabimento, ou não, do recurso, cabendo a última palavra ao colegiado do tribunal competente para julgá-lo.
No tribunal ad quem, a lei permite que o juízo de admissibilidade seja feito, preliminarmente, por decisão singular do relator. Se for negativa essa decisão, caberá sempre agravo interno para o órgão colegiado, i.e., aquele encarregado do julgamento do recurso (art. 1.021, caput)118 (sobre o processamento do agravo interno, ver, adiante, o item nº 795).
739. Objeto do juízo de admissibilidade: requisitos intrínsecos e requisitos extrínsecos
Segundo a acatada lição de Barbosa Moreira, os requisitos avaliados no juízo de admissibilidade do recurso, dividem-se em dois grupos: (i) requisitos intrínsecos (ou subjetivos), que são os concernentes à própria existência do poder de recorrer, quais sejam: cabimento, legitimação, interesse e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer; (ii) requisitos extrínsecos (ou objetivos), que são os relativos ao modo de exercício do direito de recorrer: a recorribilidade da decisão ea adequação, a singularidade, o preparo e a tempestividade, a regularidade formal e a motivação do recurso.
Cada um desses requisitos será objeto de análise nos tópicos que se seguem.
740. Cabimento: atos judiciais recorríveis
No processo são praticados os chamados atos processuais, ora pelas partes, ora por serventuários da Justiça, ora por peritos, ora por terceiros e ora pelo juiz. Apenas dos atos do juiz é que cabem os recursos. E, ainda, não de todos, mas de alguns atos do juiz.
 (
,
)119De acordo com o art. 203 do NCPC os pronunciamentos do juiz, durante o curso do processo, são sentenças, decisões interlocutórias e despachos. Todos eles figuram na categoria dos atos chamados deliberatórios, mas nem todos ensejam a interposição de recurso. Apenas os realmente decisórios se mostram passíveis dessa modalidade impugnativa. As sentenças e decisões interlocutórias são sempre recorríveis, quaisquer que sejam a natureza da questão resolvida e o
 (
.
)120valor da causa (arts. 1.009 e 1.015) Dos despachos, i.e., daqueles pronunciamentos judiciais que apenas impulsionam a marcha processual, sem prejudicar ou favorecer interesse de qualquer das partes, não cabe recurso
 (
.
)121algum (art. 1.001) Nas instâncias superiores são recorríveis os acórdãos (art.
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204)
) (
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)122	123e as decisões singulares de relator (art. 1.021) Não são recorríveis os atos judiciais, mesmo que dotados de conteúdo decisório, quando tenham sido proferidos em última instância, ou seja, no nível em que já não mais haja previsão legal de recurso algum a manejar.
741. Tempestividade do recurso
Esgotado o prazo estipulado pela lei torna-se precluso o direito de recorrer. Trata-se de prazo peremptório, insuscetível, por isso, de dilação convencional pelas partes (NCPC, art. 223),124 embora se admita a renúncia à sua utilização,
quando o litígio verse sobre direitos disponíveis e se trave entre pessoas maiores e capazes (art. 999).125 Pode, todavia, haver suspensão ou interrupção do prazo de recurso nos casos expressamente previstos em lei (arts. 220 e 221)126 (obstáculos criados pela parte contrária, férias forenses etc.) e ainda nas hipóteses do art. 1.004127 (falecimento da parte ou de seu advogado).128
De acordo com o § 5º do art. 1.003,129 o prazo de quinze dias, a contar da intimação da decisão impugnada, é a regra geral observável para interposição de qualquer recurso. Excetuam-se apenas os embargos de declaração, cujo prazo é de cinco dias (art. 1.023).130 Assim, cada espécie de recurso tem um prazo próprio, que é idêntico e comum para ambas as partes. Por exceção, entretanto, concede-se à Fazenda Pública (art. 183),131 ao Ministério Público (art. 180),132 e à parte representada pela Defensoria Pública (art. 186)133 o prazo em dobro para recorrer e responder ao recurso.
Haverá também contagem em dobro do prazo, quando houver litisconsortes não representados pelo mesmo advogado ou escritório de advocacia (art. 229).134 Nessa última hipótese, a contagem em dobro do prazo para recorrer, cessará quando, havendo só dois réus, a defesa tiver sido oferecida apenas por um deles (NCPC, art. 229, § 1º).135 Também, a duplicidade de prazo não se aplica quando se tratar de processos em autos eletrônicos (art. 229, § 2º).
O prazo para interpor recurso começa a correr da data em que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão (art. 1.003).136 Se a decisão for proferida em audiência, as partes consideram-se intimadas na ocasião (art. 1.003, § 1º).137 Entretanto, se a audiência for realizada sob o método da estenotipia, não haverá como aplicar literalmente a regra do art. 1.003, § 1º, visto que, como já reconhecido pelo STJ, “as partes, ao saírem da audiência, não tiveram acesso aos termos da sentença, que somente passou a efetivamente existir após a transcrição e disponibilização nos autos”. Sendo reconhecido às partes o direito de impugnar a transcrição da audiência, somente após conclusão de tal formalidade é que poderia ter início a contagem do prazo recursal.138
Há, porém, algumas particularidades que o Código estabelece a respeito da
matéria, que abordaremos em seguida:
I – Prazo para o réu ainda não citado
Se a decisão for proferida antes mesmo da citação do réu, o prazo para a interposição do recurso contra ela cabível contar-se-á da juntada aos autos do documento comprobatório da intimação (art. 1.003, § 2º), observados os detalhes dos incisos I a VI do art. 231 (sobre o tema, ver item nº 368 do vol. I).
II – Prazo para o réu revel
Para o revel correrão todos os prazos, independentemente de intimação, a partir da publicação do ato decisório no órgão oficial (art. 346),139 inclusive os
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)140de recurso		A aplicação dessa regra cessa, contudo, se após a caracterização da revelia o réu tenha se feito representar no processo, cessando, assim, a
 (
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)141contum ácia		Em outras palavras, como não há intimação do revel, o prazo
para recurso, em relação a ele, correrá da publicação da sentença ou da decisão no órgão oficial. Inexistindo essa publicação, prevalecerá aquela feita pelo
 (
.
)142próprio escrivão, por termo, nos autos do processo
III – Recurso remetido pelo correio
O novo Código estabeleceu que o recurso remetido pelo correio será considerado interposto na data de postagem (art. 1.003, § 4º). A orientação adotada pelo STJ e STF à época do Código anterior era diversa, na medida em que a tempestividade do recurso se aferia pelo registro no protocolo da Secretaria
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(Súmula nº 216 do STJ).	Agora é irrelevante a data do protocolo, regendo-se o
cálculo pela postagem.
IV – Comprovação de feriado local
O novo Código previu, ainda, que a parte recorrente deve comprovar a ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso, para fins de atestar a sua tempestividade (art. 1.003, § 6º).144
A inovação operada pelo novo Código parece de pequena monta, mas, em verdade, tem grande significado quando se leva em conta a segurança dos litigantes no manejo de suas faculdades processuais, que fazem parte da garantia do devido processo legal e, mais especificamente, do moderno conceito de processo justo. É que o STF e o STJ, ao exigirem a prova do feriado local, eram bastante radicais. Sem lei que estipulasse a obrigação, a parte era
frequentemente surpreendida pelo não conhecimento do recurso (o mesmo que antes fora admitido como tempestivo pelo tribunal de origem) e nem sequer se tolerava que a justificativa do feriado se desse posteriormente à interposição do
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apelo e da subida dos autos ao STF ou STJ.
Ora, uma restrição como essa, de tão graves consequências para o contraditório e ampla defesa, não poderia ser instituída sem lei, sendo certo que os tribunais, mesmo os Superiores, não dispõem de poderes constitucionais para criar regras de processo e suprimir direitos que o Código regula de maneira diversa e mais consentânea com o princípio da legalidade e, sobretudo, com o princípio da instrumentalidade das formas processuais.
Agora, porém, passando a existir norma clara em torno da obrigatoriedade de o recorrente comprovar a ocorrência de feriado local durante a contagem do prazo relativo ao recurso manejado, não poderá deixar de cumpri-la. Tampouco, poderá se queixar de surpresa quando o STJ e o STF recusarem conhecer do apelo interposto sem a comprovação do art. 1.003, § 4º.
Todavia, é bom de ver que a orientação do processo democrático valoriza sempre a solução de mérito, procurando, na medida do possível, evitar a saída pelas anulações ou decisões terminativas, de cunho meramente formal. Nessa linha, o STJ e o STF já vinham abrandando o rigor com que de início se exigia do recorrente a prévia comprovação do feriado local, permitindo que a omissão pudesse ser sanada em agravo interno contra a inadmissão do recurso pelo
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relator. Não obstante preveja o NCPC que dita prova

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