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Pesquisa Social Roseli Albuquerque É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Pesquisa Social, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apre- sentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis- ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail. Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple- mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital ApResentAção sUMÁRIo 1 pesQUIsA soCIAL ................................................................................................................................ 5 1.1 Conhecimento Científico ......................................................................................................................................... 5 1.2 Leitura Rápida .............................................................................................................................................................. 6 1.3 Pesquisas Científicas .......................................................................................................................................................7 1.4 Resumo do Capítulo .......................................................................................................................................................9 1.5 Atividades Propostas ......................................................................................................................................................9 2 A BAse ......................................................................................................................................................... 11 2.1 A Importância da Pesquisa .......................................................................................................................................11 2.2 Elementos de um Projeto de Pesquisa .............................................................................................................12 2.3 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................17 2.4 Atividade Proposta .......................................................................................................................................................17 3 A IMpoRtÂnCIA DA pesQUIsA no seRVIço soCIAL .............................................. 19 3.1 Cronologia da Pesquisa no Serviço Social .......................................................................................................20 3.2 Novos Desafios do Pesquisador em Serviço Social .........................................................................................20 3.3 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................21 3.4 Atividade Proposta .......................................................................................................................................................21 RespostAs CoMentADAs DAs AtIVIDADes pRopostAs ..................................... 23 ReFeRÊnCIAs ............................................................................................................................................. 25 Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 5 Quando comecei meu trabalho com pes- quisa no mestrado e doutorado, um livro chamou minha atenção para os dez mandamentos de uma boa pesquisa. Eles são rápidos e claros, mas a não observação de um deles pode constranger quem pretende realizar um estudo sério. Os mandamentos foram elaborados por Isra- el Belo de Azevedo (2004) no belo livro O prazer da produção científica: descubra como é fácil e agradá- vel elaborar trabalhos acadêmicos. São eles: 1. Não cobiçarás o tema do teu próximo, por- que a grama do jardim do teu vizinho não é mais verde. 2. Não pesquisarás o que está apenas na tua cabeça, a menos que o estudo seja preci- samente sobre ela. 3. Não investigarás tema sem fonte, porque a tua tarefa é fazer os dois se comunicarem. 4. Não te perderás em meio à falta ou ao ex- cesso de planejamento, a menos que a tua genialidade te permita prescindir dele. 5. Não desprezarás a rotina, porque ela pode te liberar para o exercício da criatividade. 6. Não menosprezarás as normas, a menos que pretendas transformá-las. 7. Não te julgarás incompetente, porque não o és, até prova em contrário; 8. Não escreverás uma obra-prima, a menos que já estejas maduro para produzi-la. 9. Não farás uma colcha de retalhos, porque é capaz de um trabalho verdadeiramente intelectual. 10. Não ignorarás os teus leitores, a menos que te aches mais importante do que eles. Agora, com as regras claras, vamos ao que interessa. 1 pesQUIsA soCIAL 1.1 Conhecimento Científico No Serviço Social, depois de anos de atuação, fica muito claro que conhecimento é a tomada de consciência sobre o mundo em que vive o ser humano com o objetivo de transformá-lo (para melhor, vale ressaltar!). Não vale a pena discutir aqui quem nasceu primeiro, a teoria ou a prática, mas sim reforçar que a teoria orienta a ação/práxis e a prática estrutura e atualiza a teoria. Se assim for, inspirado em Paulo Freire, é possível dizer que o co- nhecimento é a expressão viva da relação do sujei- to (homem, mulher, estudante, cientista, assistente social e outros) com o ambiente em que vive. É a busca incessante do sujeito que quer conhecer sua realidade para melhorar a sua prática e dar respos- tas inclusivas aos desafios enfrentados no dia a dia. O bom teórico não é tanto quem acumu- lou erudição teórica, leu muito e sabe ci- tar, mas principalmente quem tem visão crítica da produção científica, com vistas a produzir em si uma personalidade pró- pria, que anda com os próprios pés. É mau teórico quem não passa do discípulo, do colecionador de citações, do repetidor de teorias alheias. (DEMO, 1988, p. 24). O conhecimento científico é essencial para o trabalho de qualquer categoria profissional, mas, para quem trabalha com práticas sociais, ele é im- prescindível. O conhecimento científico é um tipo de conhecimento que o ser humano utiliza para compreender de verdade a realidade, o que o cer- Roseli Albuquerque Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 6 ca, enfim, o seu cotidiano. O conhecimento gerado na atividade do Assistente Social (conhecimento comum), obtido por meio de procedimentos me- tódicos, extrai da prática profissional explicações rigorosas sobre uma situação. O conhecimento científico, para não deixar dúvidas, parte dos fatos reais, é analítico (crítico), pode ser comunicável, ve- rificável, organizado e sistemático. Ele, para tanto, aplica teorias e metodologias na ânsia de explicar e, muitas vezes, aponta o que fazer em determina- das realidades. 1.2 Leitura Rápida Saiba maisSaiba mais Ciência – conjunto de teorias que tentam explicar a realidade. teoria – conjunto de leis que tentam explicar a realidade. Quando há um determinadonúmero de teorias sobre determinado assunto (sociologia, psicologia, química), diz-se que é uma ciência sobre tal assunto. Minayo (1993) explica que teorias cumprem as seguintes funções: a) colaboram para esclarecer melhor o objeto de investigação; b) ajudam a levantar as questões, o problema, as perguntas e/ou hipóteses com mais propriedade; c) permitem maior clareza na organização dos dados; e d) também iluminam a análise dos dados organizados, embora não possam direcionar totalmente essa atividade, sob pena de anulação da originalidade da pergunta inicial. Metodologia – é o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. A metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e está sempre referida a elas. É uma preocupação instrumental. Trata das formas de se fazer ciência. Cuida dos procedimentos, das ferramentas, dos caminhos. É um conjunto de técnicas. A metodologia deve ser clara, coerente, bem elaborada e deve contribuir para a resolução dos impasses que a pesquisa pode trazer. Método Científico – é a ordem que se segue na investigação da verdade, o estudo feito por uma ciência ou para alcançar um fim determinado. Num dos livros mais importantes sobre a fome no Brasil, Josué de Castro (1984) explica que começou uma grande batalha contra a fome tendo como fonte de inspiração a tragédia humana nos mangues pernambucanos. [...] não foi na Sorbonne, nem em qual- quer outra universidade sábia, que travei conhecimento com o fenômeno da fome. O fenômeno se revelou espontaneamente aos meus olhos nos mangues do Capiba- ribe, nos bairros miseráveis do Recife [...]. Esta é que foi minha Sorbonne: a lama dos mangues [...], fervilhando de caranguejos [...], pensando e sentindo como carangue- jos. (CASTRO, 1984, p. 18) A prática social, aliada ao conhecimento cien- tífico, destaca que o ver, o sentir, o ouvir, o tocar, o saborear desenvolvidos pela educação são funda- mentais para o desenvolvimento de medidas que ajudem a mudar as difíceis condições sociais. Fritjof Capra (1990, p. 29) argumenta que “o conhecimento racional deriva da experiência que possuímos no trato como objetos e fatos do nosso ambiente cotidiano. Ele pertence ao reino do inte- lecto, cuja função é discriminar, dividir, comparar, medir e categorizar.” O ato de pesquisar tem em sua essência a bus- ca de novos conhecimentos. Pesquisar é adquirir conhecimentos necessários para obtenção de so- lução para problemas teóricos ou práticos. Sendo assim, a pesquisa científica é o produto de uma in- vestigação baseada em procedimentos científicos, Pesquisa Social Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 7 tais como: delimitar e observar o objeto (ou fenô- meno) de estudo deixando de lado preconceitos e observações pessoais do pesquisador. Temos que levar em consideração que interferências pessoais podem levar a conclusões erradas para o estudo. 1.3 Pesquisas Científicas As pesquisas científicas podem ser divididas em: Pesquisa teórica (ou pesquisa pura ou básica) – quando o objetivo é desv- endar conceitos, discussões polêmicas e teóricas; Pesquisa aplicada (ou pesquisa práti- ca) – quando o pesquisador é movido pela necessidade de conhecer, para a aplicação imediata de seus resultados. Contribui para fins práticos. Levando-se em consideração os procedi- mentos adotados para o estudo do objeto, pode- mos também sugerir as seguintes divisões: Tipos de pesquisa segundo os objetivos Exploratória; Descritiva; Experimental; Explicativa. Tipos de pesquisa segundo os procedimentos de coleta Experimento; Levantamento; Estudo de caso; Bibliográfica; Documental; Participativa. Tipos de pesquisa segundo as fontes de informação Campo; Laboratório; Bibliográfica; Documental. Tipos de pesquisa segundo a natureza dos dados Quantitativa. Qualitativa. Tipos de pesquisa segundo os objetivos Dividir os tipos de pesquisa segundo os ob- jetivos significa apontar suas metas, finalidades e resultados esperados. Vejamos a seguir, quais são elas: Exploratória (ou pesquisa de base) – tem como objetivo oferecer uma visão panorâmica sobre um objeto ou fenô- meno que é pouco estudado. Ela ajuda a esclarecer ideias e dar suporte a estudos posteriores mais aprofundados; Pesquisa descritiva – descreve as carac- terísticas do objeto de estudo. É um tipo de pesquisa importante porque atual- iza as características de grupos sociais e níveis de atendimento educacional, hos- Roseli Albuquerque Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 8 pitalar, econômico etc. Cria condições de descobrir a pertinência ou não de políti- cas públicas; Pesquisa experimental (ou de verifi- cação) – parte-se de uma experiência na qual são mantidas sob controle uma ou mais variáveis (causas). Há necessidade de definir um plano para a realização do experimento e exige-se uma ob- servação sistemática dos resultados para estabelecer correlações entre os efeitos e suas causas; Pesquisa explicativa – identifica indi- cadores que contribuem para a ocorrên- cia e o desenvolvimento de fenômenos. O que se quer é buscar as razões pelas quais determinados acontecimentos ou fenômenos ocorrem. Tipos de pesquisa segundo os procedimentos de coleta Dividir os tipos de pesquisas segundo os pro- cedimentos de coleta requer entender os procedi- mentos metodológicos utilizados na pesquisa. Pesquisa de campo – busca informação diretamente com a população pesquisa- da. O pesquisador vai ao local onde o fenômeno ocorre e reúne um conjunto de informações e documentos sobre ele. Esse procedimento é muito utilizado em pesquisas de caráter exploratório ou de- scritivo; Estudo de caso – privilegia um caso em particular que é suficiente para a com- preensão de um determinado fenôme- no. Em geral, por estudar uma experiên- cia específica, ajuda a resolver problemas e colabora na tomada de decisões para sua resolução; Pesquisa participativa – propõe a efe- tiva participação da população no pro- cesso de pesquisa, que é considerado um processo formativo. O pesquisador vai embora, mas as ferramentas da pesquisa são assimiladas e ficam com a população. Certos pesquisadores chegam a morar no local da pesquisa para conhecer bem de perto o lugar e as pessoas envolvidas. Tipos de pesquisa segundo as fontes de informação Pesquisa descritiva – aqui, a descrição do objeto de estudo é feita por meio da observação, do levantamento de dados e da pesquisa bibliográfica e documental; Pesquisa de campo – o pesquisador as- sume o papel de observador. Seu trabal- ho é feito no local (campo) estudado; Pesquisa experimental – parte-se de uma experiência na qual são manti- das sob controle uma ou mais variáveis (causas). Há necessidade de definir um plano para a realização do experimento; Pesquisa-ação – é um tipo de pesquisa social com base empírica que é planeja- da com interesse na busca de resolução para problemas coletivos e na qual o pes- quisador e a população envolvida fazem a pesquisa de modo participativo. As conclusões da pesquisa levam ao desen- volvimento de ações coletivas; Pesquisa documental – o pesquisador resgata fontes de informação que ainda não foram analisadas por outros pes- quisadores, por isso são tratadas como fontes primárias. Documento é uma in- formação que pode ser organizada de maneira sistemática e comunicada de diferentes formas, tais como: oral, escrita, visual, gestual, por diálogos, exposições, aulas e reportagens escritas, faladas ou registradas em material durável – papel, madeira, tecido, pedra; Pesquisa bibliográfica – coloca o pes- quisador em contato com o que já foi produzido sobre o tema queele deseja pesquisar. Para tanto, fazer pesquisa bib- Pesquisa Social Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 liográfica é identificar e analisar os dados publicados em livros, artigos de revistas e outros. No geral, são textos secundári- os, uma vez que um pesquisador já fez as análises necessárias. Veja: eu leio um texto de alguém que entrevistou Edgard Morin. Esse texto gerado sobre o autor é de segunda mão. Um autor trouxe o pen- samento de Morin até o público. Outra coisa é o pesquisador entrevistar Edgard Morin. Nesse caso, ele terá um material de primeira mão, exclusivo. Tipos de pesquisa segundo a natureza dos dados Dividir os tipos de pesquisa segundo a na- tureza dos dados é dividi-los em quantitativos ou qualitativos. Quantitativos – ao partir basicamente da estatística, a pesquisa quantitativa promove estudos buscando causas, te- stando hipóteses por meio da leitura dos números; Qualitativos – interpreta os fenômenos considerando seu significado para os participantes de determinado aconteci- mento ou evento. 1.4 Resumo do Capítulo Neste capítulo, é muito importante ressaltar as definições que trabalhamos. O que é conhecimento científico e o que é metodologia são alguns apontamentos essenciais para o entendimento conceitual da universidade e, sobretudo, da pesquisa acadêmica. Vale ressaltar que não há universidade sem pesquisa e não há pesquisa sem conhecimento e método, por isso é tão importante na formação do Assistente Social a compreensão da pesquisa. 1.5 Atividades Propostas 1. O que é conhecimento científico? 2. O que é Pesquisa de Campo e Estudo de Caso? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 Pense rápido: o que é mais importante para você, a nota que vai receber ou os conhecimentos que você vai ter depois que fizer uma pesquisa? Seja qual for a sua resposta, quero dizer que a pes- quisa trará ao autor informações preciosas sobre o assunto pesquisado. As ferramentas utilizadas na pesquisa, bem como seus resultados serão deter- minantes em outros estudos, científicos ou não, que o estudante fará. Se, como é provável, você está lendo este livro porque um professor pediu-lhe que desenvolva seu próprio projeto, pode ser que pense em desenvolvê-lo só para se exercitar. Não é um mau motivo. Mas seu projeto também lhe dará a oportunidade de participar das mais antigas e respeita- das discussões da humanidade, condu- zidas por Aristóteles, Marie Curie, Booker T. Washington, Albert Einstein, Margaret Mead, o grande estudioso islâmico Aver- róis, o filósofo indiano Radhakrishnam, Santo Agostinho, os estudiosos do Tal- mude, todos aqueles, enfim, que, contri- buindo com o conhecimento humano, li- vraram-nos da ignorância e do erro. Eles e inúmeros outros estiveram um dia no pon- to em que você está agora. Nosso mundo, hoje, é diferente por causa das pesquisas deles. Não é exagero afirmar que, se bem feita, a sua mudará o mundo de amanhã. (BOOTH et al., 2000). Se o convite acima não convenceu você, o au- tor, por outros caminhos, quer conduzi-lo pelas tri- lhas da elaboração de um projeto de pesquisa. Este deve ser entendido como um produto – pois é um documento escrito – e também como um processo – pois é um instrumento dinâmico. Alguns autores (BARROS; LEHFELD, 1990) vão dizer que um bom projeto deve responder às seguintes questões: 2 A BAse 2.1 A Importância da Pesquisa o que pesquisar? Definição do problema, hipóteses, base teórica e conceitual. por que pesquisar? Justificativa da escolha do problema. para que pesquisar? Propósitos do estudo, seus objetivos. Como pesquisar? Metodologia. Quando pesquisar? Cronograma de execução. Com que recursos? Orçamento. pesquisado por quem? Equipe de trabalho, pesquisadores, coordenadores, orientadores. Roseli Albuquerque Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 12 Elementos de um projeto de pesquisa são itens fundamentais para a apresentação de um projeto de pesquisa. São os itens a seguir: Tema; Apresentação do problema ou definição dos problemas; Justificativa; Objetivos da pesquisa; Definição de hipótese(s); Referenciais teóricos; Metodologia da pesquisa (estudo de caso); Cronograma; Referências. A escolha do tema Os temas podem surgir da observação do co- tidiano, da vida profissional, de programas de pes- quisa, de contatos com estudiosos ou debates, de inquietações de leitura, de literatura da área e ou- tros. É necessário delimitar o que se deseja estudar. Um dos pontos mais difíceis para acertar um pro- jeto é quanto à delimitação do tema. Quanto mais delimitado ele estiver, maiores são as chances de ele ser bem sucedido. Não queira analisar a fome no Brasil, mas a fome em uma favela, no bairro tal, da cidade X. Delimitar é isso: dispor o tema de uma forma possível, dentro do seu tempo e recursos, de estudar. Tenha consciência de que o que se espera da pesquisa é um grande número de informações que ajudem a encontrar respostas para o tema que você está propondo e assim indicar uma possível solução para o problema. É interessante mostrar também a viabilidade de um projeto. Isso pode ser indicado pensando sobre: a viabilidade técnica (clareza sobre a meto- dologia a ser usada na pesquisa), viabilidade políti- ca (contribuições que o estudo pode trazer para a resolução de problemas locais) e visibilidade lógica (formulação de quadro teórico-conceitual da pes- quisa). Apresentação do problema ou definição dos problemas Neste item, é necessário que se demonstre o que se quer saber. Muitos autores preferem dizer que uma investigação científica começa com uma questão que permite ao pesquisador seguir em busca de respostas. Alguns vão ensinar que a orga- nização frasal da proposta deve seguir a seguinte estrutura: 2.2 Elementos de um Projeto de Pesquisa Tópico: estou estudando ______________________________________________. Pergunta: por que quero descobrir quem/como/por que ______________________. Fundamento lógico (motivo): a fim de entender como/ por que/ o que _______________________. Preste atenção como ficaria o item: Fazendo isso, suas ideias estarão claras e seu tema bem definido. Tópico: estou estudando como as mães alimentam as crianças de 6 meses a 2 anos, na favela Heliópolis. Pergunta: porque quero descobrir as origens da desnutrição nesse público. Fundamento lógico (motivo): a fim de ajudar as mães a protegerem seus filhos com alimentação de baixo custo e boa qualidade. Pesquisa Social Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 Justificativa Aqui cabe um atalho. Tente responder neste item por que você pretende realizar a pesquisa, ex- plique os motivos que indicam sua viabilidade e dê referências de que seu trabalho é original e impor- tante para a sociedade. Objetivos da Pesquisa Os objetivos que se espera alcançar e que nortearão uma pesquisa podem ser divididos em dois grupos: objetivo(s) geral(is) e objetivos espe- cíficos. Os objetivos gerais definem o que se deseja alcançar com a realização da pesquisa. Eles são am- plos e indicam a principal questão resolvida com a pesquisa. Os objetivos específicos estão relacionados ao objetivo principal e definem aspectos que, es- clarecidos, contribuirão para o pesquisador alcan- çar suas metas. Por exemplo: Objetivo geral: Estudar como as mães moradoras da favela Heliópolis alimen- tam as crianças de 6 meses a 2 anos; Objetivos específicos: - Levantar o número de crianças na faixa etária da pesquisa na favela; - Selecionar o número de mães que serão entrevistadas; - Dividir a amostra de crianças nas fai- xas etárias estudadas; - Acompanhar o dia a dia da alimenta- ção das famílias selecionadas. Veja que os objetivosespecíficos auxiliam na obtenção de dados e informações que levarão à compreensão do objetivo principal. Definição de hipótese(s) O significado da palavra ‘hipótese’ é “o que está suposto”. Levando em consideração a expli- cação, compreende-se que a hipótese em uma pesquisa é propor uma resposta antecipada às questões levantadas pelo pesquisador. Ao propor um tema, ele também supõe uma resposta para o fechamento do trabalho. A resposta antecipada pode ser invalidada ao final do trabalho, mas em geral é confirmada, porque essa tentativa de ante- cipar a resposta aos problemas da pesquisa não é feita ao acaso ou sem critérios. Ela deve ser pauta- da em evidências. Veja o exemplo: Seu projeto é o seguinte: Estou es- tudando como as mães alimentam as crianças de 6 meses a 2 anos, na favela Heliópolis, porque quero descobrir as origens da desnutrição nesse público a fim de ajudar as mães a protegerem seus filhos com alimentação de baixo custo e boa qualidade. Sua hipótese pode ser: A causa da des- nutrição entre as crianças de 6 a 2 anos, na favela Heliópolis, é a crença das mães de que o leite materno sustenta de ma- neira integral seus filhos depois dos 6 meses de vida. O leite materno contém naturalmente todos os nutrientes que a criança necessita até os seis meses de idade, por isso é um grande aliado na prevenção da desnutrição. Contudo, após o 6º mês, a necessidade das crianças ultrapassa a produção de leite, ou seja, a quantidade de leite que a mãe produz não diminui, porém não é mais suficiente nutricionalmente para a criança, que pre- cisa de outros alimentos, o que não sig- nifica abandono da fonte materna, que pode prosseguir até os dois primeiros anos de vida da criança, se esta estiver com peso e altura dentro do padrão es- perado. A introdução tardia dos alimen- tos pode causar deficiências nutricionais, provocando a desnutrição. A hipótese é uma explicação do autor ao pro- blema que ele formulou, mas não é uma simples Roseli Albuquerque Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 14 suposição. Ela deve ser consistente e afinada com as pesquisas feitas antes pelo pesquisador. Uma hi- pótese deve unir atualidade das pesquisas na área e apontar repostas à realidade estudada. Referenciais teóricos O referencial teórico de uma pesquisa é a li- nha filosófica, religiosa, política, ideológica assumi- da pelo autor do trabalho. Ele está ligado a grupos de pensadores que defendem suas formas de in- terpretar a realidade e, mais do que isso, indicam com seus trabalhos qual a fonte geradora do co- nhecimento humano. De forma geral, as escolas do conhecimento têm consigo uma forma de explicar como o conhe- cimento é gerado. É comum encontrar nos estudos científicos os seguintes quadros de referência de base sociológica e filosófica: empirismo (positi- vismo), estruturalismo e dialética. O empirismo O empirismo (do grego empeiria = experi- ência) prega que a única fonte de nossos conhe- cimentos é a experiência recebida pelos nossos sentidos (visão, ouvido, tato, olfato, paladar); sen- do assim, todo objeto material, fora de nós, tem propriedades sensíveis que podem ser conhe- cidas pelos nossos sentidos, tais como: cor, som, temperatura, cheiro, gosto, quantidade e tantos outros. Os adeptos dessa escola acreditam que o conhecimento empírico, sensível, obtido por meio dos órgãos dos nossos sentidos, é suficiente para explicar a realidade. Outro dado importante é que o empirismo acredita que o homem nasce sem conhecimentos, chegando a dizer que, quando o ser humano nas- ce, ele é uma folha de papel em branco na qual se- rão impressas as marcas da experiência vivida. Isso significa dizer que todos os conhecimentos huma- nos são tirados da experiência, que é vista como a origem de nossos conhecimentos. Quanto à razão e ao pensamento crítico, o empirismo prega que eles não são capazes de criar nada de novo. A importância da razão é unir e or- denar os diferentes dados colhidos por meio das experiências sensíveis (BAZARIAN, 1988). A realida- de social existe fora da mente e da percepção do pesquisador. Não há diferenciação entre o mundo social e mundo material, porque os dois estão fora da mente humana e precisam ser experimentados para serem apreendidos (BARROS; LEHFELD, 1990). O estruturalismo Seu principal pensador é Lévi-Strauss, que acreditava que a realidade é estruturada sob uma base invariável e o papel da ciência é desvendar es- sas estruturas. Segundo Demo (1988, p. 107), para dar conta do seu trabalho, o pesquisador deveria seguir três passos para a compreensão dessas es- truturas invariáveis. Em primeiro lugar, seria neces- sário fazer um “esforço de decomposição analítica, não de síntese”, uma vez que, para compreender uma realidade ou uma coisa, seria necessário des- montá-la em suas partes. Em segundo lugar, “a de- composição analítica mostra que a complexidade do fenômeno é uma percepção superficial; na sua profundeza todo fenômeno é simples, porque a possível variação complexa gira em torno de es- truturas invariantes.” Em terceiro lugar, “explicar é escavar a subjacência, porquanto a superfície varia [...] fundo não varia.” Em quarto lugar, destaca-se que “o fenômeno é simplificável em modelos es- truturais, revelando a ordem interna subjacente, ao contrário da visão de superfície.” Exemplos: [...] o fenômeno musical apresenta uma superfície extremamente variada e uma história exuberante de variações no fun- do, porém, tudo não passa da combinató- ria variável de doze elementos invariantes, os doze semitons. Mesmo que não fossem doze, acredita-se que há um código restri- to, imutável, estrutural, por baixo do fenô- meno da música. Explicar apenas a evolu- ção histórica, seria superficial. Com efeito, somente o explicaríamos, se encontrásse- mos a estrutura subjacente. (DEMO, 1988, p. 107). A Física procedeu da mesma forma. Ama- dureceu como ciência, quando encontrou Pesquisa Social Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 15 o código dos elementos atômicos, em número restrito e finito, dentro da ordem estabelecida e dada. E mais, não faria sen- tido imaginar uma história dos elementos atômicos, porque se trata de uma combi- natória variável de componentes invarian- tes. (DEMO, 1988, p. 107). Lévi-Strauss aplicou tal expectativa a um fenômeno muito complexo, que são os mitos indígenas. Aparentemente, nem se- quer se imagina que tenham nexo, por ve- zes, tal a bagunça de termos e retomadas internas. Não obstante isto, tentou mos- trar que todos os mitos, do mundo inteiro, apresentariam temas únicos, estruturas simbólicas sempre repetidas, formas idên- ticas. (DEMO, 1988, p. 107-108). As ideias de Lévi-Strauss não levam em con- sideração o aspecto do fluxo histórico para a expli- cação dos fatos e fenômenos sociais; ele buscou a objetividade e exatidão da ciência, considerando que consciência é um inimigo secreto das ciências do homem. A dialética A discussão sobre a dialética, que chegou a influenciar Karl Marx e F. Engels, veio da filosofia de Hegel. Para ele, tudo se desenvolve a partir de uma tese (ideia, teoria), uma antítese (em oposição à tese) e uma síntese (deve superar a tese e a antíte- se). O autor vai dizer que a dialética só se expressa no campo das ideias, não servindo para as análises sociais. Marx trabalha com as ideias de Hegel e as supera quando mostra que as forças dialéticas atu- am na História, provocando a tomada de consciên- cia sobre a realidade (BARROS; LEHFELD, 1990). O pressuposto fundamental da dialética é que “toda formação humana é suficientemente contraditória para ser historicamente superável.” (DEMO, 1988, p. 106). A dialética destaca a questão da contradição ou conflito. O destaque dado à con- tradiçãoindica que ela pode ser superficial ou en- raizada historicamente. E o termo historicamente superável deixa claro que, por mais profundas que sejam as contradições, elas são explicáveis histori- camente. Discutindo os elementos fundamentais da dialética (tese, antítese e síntese), percebe-se que a antítese guarda a contradição entre os elementos. Ela guarda em si a ideia de que há conflitos que ge- rarão a superação adiante. Nesse esforço, a antítese e a tese serão superadas em uma síntese. Metodologia da pesquisa (estudo de caso) O estudo de caso pode ser compreendido como uma pesquisa que foca em uma única ou em algumas organizações sociais. Esse estudo deverá sempre ser bem delimitado com clareza do que se pretende investigar, dentro de um contexto da vida real. O caso pode ser familiar a outras temá- ticas, mas sempre será diferente considerando ser de interesse de um determinado pesquisador. O estudo de caso pode ser considerado um método que privilegia um estudo singular, sua técnica está ligada a levantamentos descritivos, é aberto, flexível e tem como foco a realidade de for- ma complexa e contextualizada (LUDKE; ANDRÉ, 1986). O estudo de caso tem algumas característi- cas, sendo elas: descobrir, interpretar um contexto, retratar a realidade de forma completa e profunda, utilizar várias fontes de informação, revelar expe- riências do próprio pesquisador e ter uma forma mais acessível com estilo informal, por meio de narrativas, podendo conter ilustrações, citações ou exemplos. Para recorrer a esse método, devemos se- guir alguns passos importantes, sendo necessá- rio ter o conhecimento prévio do que se preten- de estudar/pesquisar. O quadro teórico escolhido pelo pesquisador irá ajudá-lo a estruturar seu pro- jeto de pesquisa. Sendo assim, o pesquisador esta- rá buscando respostas às indagações feitas em seu projeto. No estudo de caso, as informações poderão ser colhidas sob diversas perspectivas, devendo destacar todos os envolvidos diretamente com o caso escolhido, ou seja, se a pesquisa pretende es- tudar a realidade de uma família que vive em uma casa com 18 pessoas, o pesquisador deve observar toda a rede familiar e deve acompanhar essa reali- Roseli Albuquerque Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 16 dade dia a dia; isso gerará uma grande variedade de informações, que poderão ser cruzadas, abrindo diversos caminhos de sustentação ou negação da hipótese. O estudo de caso deve ser utilizado quando o autor pretende estudar temas recentes em que a observação direta (no próprio local da pesquisa) seja possível e haja condições de produção de uma série de entrevistas com os envolvidos no tema. Essas fontes de evidências são um diferencial nas pesquisas baseadas em estudo de caso. O estudo de caso é composto por três fases: a exploratória, a coleta de dados e a interpreta- ção sistemática do caso. A descrição das três fa- ses, em determinados momentos, pode se tornar difícil, porque as diferenças que as separam podem confundir o pesquisador. Mas não é possível levar a cabo a pesquisa sem os três momentos. A confusão pode acontecer por causa da proximidade do autor com o caso estudado, mas isso faz parte desse tipo de estudo. (LUDKE; ANDRÉ, 1986). A fase exploratória tem como objetivo com- preender uma determinada realidade para que posteriormente o pesquisador tenha claro o que irá desenvolver no seu estudo. É importante destacar que o estudo de caso permite ao pesquisador uma aproximação do objeto de estudo de tal forma que ele não precise partir de uma visão predetermina- da da realidade que o envolve. Ele pode aproveitar a fase exploratória para ver de perto as caracterís- ticas das atividades e ações que merecem a sua atenção e definir de forma precisa o que analisar. Depois de realizada a fase exploratória e identificado o que se pretende estudar, o pesquisa- dor irá realizar a coleta de informações. Para isso, utilizará instrumentos mais ou menos estrutura- dos ou outras técnicas para aprofundar a temática escolhida. Esse momento requer atenção do pes- quisador e determinação; é momento de recolher junto às fontes de informações que serão utilizadas (documentos, registros em arquivos, entrevistas e outros) o material necessário para análise. Depois da execução das duas primeiras fases, agora com mais clareza, o pesquisador terá como desafio analisar e interpretar o que viu e docu- mentou no trabalho de campo. De forma geral, ele pode fazer uma análise comparativa, ligando a experiência estudada ao que acontecia em outros momentos delineados. Pode fazer uma descrição dos dados colhidos, gerando possíveis recomen- dações sobre ações futuras para a melhoria de situ- ações indesejadas. Seja como for, é importante que ele devolva o resultado da pesquisa para os verda- deiros interessados no assunto: os pesquisados. As- sim, eles terão condição de, baseados em critérios científicos, buscar outras formas de utilização do trabalho que, muitas vezes, nem o autor esperava. Cronograma O cronograma na pesquisa ajuda a delimitar o tempo que você utilizará para a elaboração da pesquisa, ou seja, nas etapas necessárias para sua realização. Para isso, apresentamos um modelo de cronograma para execução de sua pesquisa. Atividades Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Revisão bibliográfica Entrega do projeto - Primeira fase de entrevistas - Transcrição − segunda fase de entrevistas Análise de entrevistas Análise de documentos Redação, Revisão e entrega do relatório final Pesquisa Social Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 17 Referências As referências dizem respeito a toda fonte de pesquisa utilizada para a elaboração de seu projeto de pesquisa. Um exemplo claro de referências você encontrará no final desta apostila, ou seja, todo o material utilizado para elaboração desta pesqui- sa consta nas referências. Elas devem seguir o pa- drão da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). 2.3 Resumo do Capítulo Acabamos de ver como se estrutura um projeto de pesquisa. Não há distinção na estrutura entre projetos de pesquisa para TCC, mestrado e doutorado. A diferença está no aprofundamento do referen- cial teórico e na delimitação do tema. Assim, ao fazer seu projeto, pense na leitura que acabamos de fazer e reflita a importância do projeto de pesquisa para a vida acadêmica. 2.4 Atividade Proposta 1. Quais são os elementos de um projeto de pesquisa? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 A pesquisa para o Serviço Social deve gerar um conhecimento que reconheça os usuários dos serviços públicos como sujeitos políticos que são, capazes, também, de conhecer, intervir em sua própria realidade com autonomia, desvencilhando-se das estratégias de assistencialismo, clientelismo e subalternidade, tão presentes nas ações governamentais e políticas públicas. As pesquisas têm como possibilidade latente a valorização do povo, da riqueza de suas histórias, de suas experiências coletivas, mobilizadoras de novas formas de sociabilidade. (BOURGUIGNON, 2007, p. 51) 3 A IMpoRtÂnCIA DA pesQUIsA no seRVIço soCIAL Pedro Demo (2000, p. 40) afirma que a ci- ência tem duas dimensões que devemos lembrar sempre. A primeira vertente ele chama de “ciência como método”, caracterizando-a como “raiz do co- nhecimento crítico”, “conhecimento metódico”. A segunda é a ciência como instrumento de inter- venção. Ele explica que esse tipo de ciência leva “ao questionamento cotidiano, à teoria para intervir, e à intervenção para teorizar, à inovação.” A segunda vertente interessa muito ao profissional do Serviço Social porque a intervenção é a “alma” do Serviço Social; em outras palavras, ela é intrínseca ao Ser- viço Social. A história do ServiçoSocial é marcada pela prática da intervenção social dentro de uma rea- lidade. Essa intervenção deve estar pautada em um projeto ético dos profissionais comprometidos com a transformação social e a construção do co- nhecimento coletivo, por meio da organização das populações usuárias de políticas públicas, que bus- cam diariamente seu reconhecimento como cida- dãos e a garantia dos seus direitos. Conhecer essa realidade requer cuidados, concentração, amadurecimento nos caminhos do conhecimento, identificar as contradições sociais e ajudar a construir caminhos para transformá-la em benefício de todos. É um grande desafio. Dentro da perspectiva de uma pesquisa qualitativa, que tem como instrumento do conhecimento o diálo- go, privilegiando o sujeito central da pesquisa, que será nosso usuário, conhecer a realidade é de suma importância quando pensamos em uma pesquisa de cunho transformador. Nessa busca de informação/transformação, a pesquisa no campo do Serviço Social tem sua sin- gularidade. Quando nos propomos a conhecer a realidade, buscar informações e adentrar nas ques- tões, que podemos considerar as mais variadas possíveis, encontramos o grande desafio do objeto de pesquisa do Serviço Social. A pesquisa no Serviço Social está inserida em um contexto socioeconômico e político e busca o conhecimento para compreender, explicar e co- nhecer determinada realidade. O ponto de partida é o reconhecimento de que estamos em uma so- ciedade capitalista, que prioriza o fortalecimento do livre mercado e a perpetuação da exploração do trabalho, e defende a redução de direitos e con- quistas sociais. Saber utilizar os instrumentos de pesquisa, que estamos estudando, e valorizar os procedimentos metodológico-científicos ajudam no planejamento das ações, ampliam o conheci- mento sobre a área em que se pretende atuar e tra- zem clareza sobre a prática de intervenção dentro dos diversos contextos de atuação. Defendemos que a pesquisa seja a principal ferramenta de apoio ao trabalho do Assistente So- cial. Sabemos que o maior número de pesquisas hoje é realizado pela universidade. Não consegui- mos, ainda, fazer da pesquisa algo que esteja to- talmente inserido na atividade de trabalho desse profissional. O elo entre a produção de pesquisa Roseli Albuquerque Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 20 feita por trabalhadores do Serviço Social e a univer- sidade é necessário para o fortalecimento de ações pautadas na realidade. Por outro lado, esse elo aju- dará na construção de uma pesquisa/intervenção como um caminho transformador das ações so- ciais dos que estão diretamente atuando na área. A pesquisa sendo realizada entre os profis- sionais do Serviço Social tem um valor imenso, se observamos que eles estão diretamente ligados às questões sociais mais emergentes como: saúde, moradia, educação, infância e juventude, violência, garantia de direitos, justiça, entre outros. O profis- sional que atua diretamente com essas questões terá como seu aliado o mapeamento dessa realida- de social, o encontro com o usuário, o atendimento individual, o atendimento coletivo, o encaminha- mento para os equipamentos sociais de sua co- munidade, a informação necessária para que esse usuário busque seus direitos, entre tantas outras ações/intervenções. 3.1 Cronologia da Pesquisa no Serviço Social Hoje, grande parte da produção de pesqui- sa no Serviço Social está vinculada à produção de dissertações de mestrado e teses de doutorado li- gadas à docência nos cursos de stricto sensu (mes- trado ou doutorado) ou a professores que estão li- gados a algum curso de Ensino Superior (SETUBAL, 2007). Convidamos você, aluno(a) de Serviço Social, que nesta aula está aprendendo os passos para ser um pesquisador, a fazer parte também dessas produções. Sabemos que a pesquisa tem grande importância na mudança do comportamento, no olhar da sociedade e, antes de qualquer coisa, na efetiva mudança dos instrumentos de intervenção do Serviço Social. Compreendemos que, mais do que atuar nas intervenções, temos que ter o desafio de conhecer que a prática profissional também passa pelo cam- po da pesquisa. Através da pesquisa, é possível co- nhecer novos horizontes, analisar as forças existen- tes dentro da área que estamos atuando. Você que estará atuando na área social, ou seja, que estará AtençãoAtenção Importante 1953 – Lei nº 1.889 de 13 de junho (primeiro currículo mínimo); 1962 – Parecer nº 286 de 19 de outubro (segundo currículo mínimo); 1970 – Parecer nº 242 de 13 de março (terceiro currículo mínimo); 1977 – As unidades de ensino superior e a Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social (hoje Abepss) começam a reformular o terceiro currículo mínimo, destacando a importância da pesquisa na formação do Assistente Social e aprovando outro parecer (412/82); 1982 – Parecer nº 412 do Conselho Federal da Educação; 1996 – Resolução nº 15 de março de 2002 reitera a matéria pesquisa como parte integrante da formação profissional. (SETUBAL, 2007, p. 67). 3.2 Novos Desafios do Pesquisador em Serviço Social Pesquisa Social Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 atuando na intervenção social, poderá contribuir a partir da leitura e interpretação da realidade em que estará inserido(a) e possibilitar diálogos entre as instâncias governamentais e os usuários, crian- do, assim, um elo entre direitos (usuários) e deveres (instâncias governamentais). Será através das pesquisas realizadas no âm- bito da intervenção social que conheceremos os problemas oriundos da ausência de diálogo entre os usuários e os executores de políticas locais; bus- caremos respostas para as necessidades e soluções que essa atuação poderá proporcionar-nos. Para ser um(a) bom(boa) pesquisador(a), você terá que utilizar sua sensibilidade em prol da comunidade em que estará atuando, ser criativo(a), curioso(a), ter clareza do que pretende pesquisar e conhecer bem o teórico que irá fundamentar sua opção na pesquisa; todos esses caminhos já dialogamos nes- ta apostila. Cabe a você, estudante de Serviço Social e fu- turamente um(a) Assistente Social/pesquisador(a), olhar o mundo em que atuará e ter a clareza de que a transformação também depende de você, e a pesquisa irá contribuir para a construção de uma prática profissional ética e transformadora. 3.3 Resumo do Capítulo A pesquisa em Serviço Social é tão importante quanto a própria prática profissional. É com a pes- quisa que desenvolvemos a reflexão teórica e elaboramos novas formas de enfrentamento da prática profissional. É essencial que todos os assistentes sociais estejam envolvidos em pesquisas pertinentes às suas áreas de atuação. 3.4 Atividade Proposta 1. Como podemos pensar a pesquisa em Serviço Social? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 CAPíTULO 1 1. O conhecimento científico é essencial para o trabalho de qualquer categoria profissional, mas para quem trabalha com práticas sociais, ele é imprescindível. O conhecimento científico é um tipo de conhecimento que o ser humano utiliza para compreender de verdade a realidade, o que o cerca, enfim, o seu cotidiano. O conhecimento gerado na atividade do Assistente Social (conhecimento comum), obtido por meio de procedimentos metódicos, extrai da prática pro- fissional explicações rigorosas sobre uma situação. O conhecimento científico, para não deixar dúvidas, parte dos fatos reais, é analítico (crítico), pode ser comunicável, verificável, organiza- do e sistemático. Ele, para tanto, aplica teorias e metodologias na ânsia de explicar e, muitas vezes, aponta o que fazer em determinadas realidades. 2. Pesquisa de campo: busca informação diretamente com a população pesquisada. O pesqui- sador vai ao local onde o fenômeno ocorre e reúne um conjuntode informações e documen- tos sobre ele. Esse procedimento é muito utilizado em pesquisas de caráter exploratório ou descritivo; Estudo de caso: privilegia um caso em particular que é suficiente para a compreensão de um determinado fenômeno. Em geral, por estudar uma experiência específica, ajuda a resolver problemas e colabora na tomada de decisões para sua resolução. CAPíTULO 2 1. Tema; apresentação do problema ou definição dos problemas; justificativa; objetivos da pes- quisa; definição de hipótese(s); referenciais teóricos; metodologia da pesquisa (estudo de caso); cronograma; e referências. CAPíTULO 3 1. A pesquisa no Serviço Social está inserida em um contexto socioeconômico e político e busca o conhecimento para compreender, explicar e conhecer determinada realidade. O ponto de partida é o reconhecimento de que estamos em uma sociedade capitalista, que prioriza o for- talecimento do livre mercado e a perpetuação da exploração do trabalho, e defende a redu- ção de direitos e conquistas sociais. Saber utilizar os instrumentos de pesquisa, que estamos estudando, e valorizar os procedimentos metodológico-científicos ajudam no planejamento das ações, ampliam o conhecimento sobre a área em que se pretende atuar e trazem clareza sobre a prática de intervenção dentro dos diversos contextos de atuação. RespostAs CoMentADAs DAs AtIVIDADes pRopostAs Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 AZEVEDO, I. B. O prazer da produção científica: descubra como é fácil e agradável elaborar trabalhos acadêmicos. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Hagnos, 2004. BARROS, A. J. P.; LEHFELD, N. A. S. Projeto de pesquisa: propostas metodológicas. Petrópolis: Vozes, 1990. BAZARIAN, J. O problema da verdade: teoria do conhecimento. São Paulo: Alfa-Omega, 1998. BOOTH, W. C. et al. A arte da pesquisa. São Paulo: Martins Fontes, 2000. BOURGUIGNO, J. A. A particularidade histórica da pesquisa no serviço social. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 10, n. esp., p. 46-54, 2007. CAPRA, F. O Tao da física. São Paulo: Cultrix, 1990. CASSAB, L. A. Tessitura investigativa: a pesquisa cientifica no campo humano-social. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 10, n. esp., p. 55-63, 2007. CASTRO, J. Fome, um tema proibido: os últimos escritos de Josué de Castro. Org. Anna Maria de Castro. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1984. DEMO. P. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas, 1988. ______. Pesquisa e construção do conhecimento: metodologia científica no caminho de Habermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000. (Biblioteca Tempo Universitário, 96). GONSALVES, E. P. Iniciação à pesquisa científica. Campinas: Alínea, 2004. LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MINAYO, M. C. S. 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