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Filosofia und 1 tp 3

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Unidade 1: Tópico 3
O discurso do senso comum, do bom senso e a contraposição à atitude filosófica
Nesse tópico, buscaremos analisar algo que já foi, nos tópicos anteriores, marcado, a saber, de que modo a Filosofia não se confunde com o senso comum.
O senso comum
Observe a charge a seguir:
Fonte: http://benettblog.zip.net/
O que você subentende dessa imagem? De imediato, salta-nos a ideia de que o senso comum é, como se comentou anteriormente, algo absolutamente confortável. A imagem do mostro em que as pessoas estão em sua boca, transmite a sensação de que, de alguma forma, todos os indivíduos estão dentro dele, sob seu jugo, isto é, operam, relacionam-se a partir dele – o senso comum.
Não se deve, por sua vez, julgar o senso comum com preconceitos, pois o que foi afirmado acima é uma constatação sancionada por muitos pensadores, de diferentes áreas de atuação. O filósofo brasileiro Rubem Alves (1933-2014), por exemplo, ao comentar sobre a ciência em sua obra Filosofia da ciência – introdução ao jogo e a suas regras, escreve que:
O que é o senso comum? Prefiro não definir. Talvez simplesmente dizer que senso comum é aquilo que não é ciência, e isso inclui todas as receitas para o dia-a-dia, bem como os ideais e esperanças que constituem a capa do livro de receitas.
E a ciência? Não é uma forma de conhecimento diferente do senso comum. Não é um novo órgão. Apenas uma especialização de certos órgãos e um controle disciplinar de seu uso.
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência – introdução ao jogo e a suas regras. São Paulo: Loyola, 2009, p. 14.
Fonte: http://bit.ly/1HfozAS
O pensador brasileiro nos instiga a refletir que se o senso comum é como um conjunto de receitas é por que se aceita que nossas crenças e ideias sejam norteadas por outros em nosso cotidiano. Porém, este é construído a partir de vários referenciais que estão constantemente informando aos homens o que fazer e como fazer, o que pensar e como pensar. É o mesmo que constatar que os indivíduos estão rodeados de ideologias que orientam a vida em sociedade, os costumes, os valores, etc. Segundo a já mencionada Marilena Chauí (1941-), ao comentar sobre ideologia a define assim:
A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras e preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes, a partir das divisões na esfera da produção. Pelo contrário, a função da ideologia é a de apagar as diferenças, como as de classes, e de fornecer aos m2embros da sociedade o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a Nação, ou o Estado.
CHAUÍ, M. O que é Ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1980, p. 13.
Fonte: http://bit.ly/1HccNo6
Seguindo as pistas oferecidas por Alves e Chauí, pode-se afirmar que o senso comum é uma forma prescritiva que orienta a conduta dos homens. A prescrição, isto é, a ordem, o preceito ou imposição (pois estes são os significados imediatos para o termo prescrição) é proveniente dos meios de comunicação de massa*, como a mídia, os jornais, ou, de outra maneira, pela religião que se professa, onde se recebem, em linhas gerais, orientações nas quais geralmente não pensamos, já que se acredita previamente naquilo que é falado. O senso comum opera a partir do mesmo mecanismo; atua tendo em vistas a padronização dos indivíduos, para que estes pensem, falem e, principalmente, aceitem sem reclamar, de forma acrítica, as informações que lhes são transmitidas.
Não obstante, atente-se ao segundo trecho que o professor Rubem Alves escreveu no fragmento citado; diz que, diferente do senso comum, a ciência foi aquela que passou, ao longo dos séculos, a ser o modelo de postura frente à realidade. Escreveu que, retomando a referida citação, a ciência “(...) Não é uma forma de conhecimento diferente do senso comum. Não é um novo órgão. Apenas uma especialização de certos órgãos e um controle disciplinar de seu uso”.
O que Rubem Alves desejava que pensássemos com esse trecho? Apenas que a ciência trabalha também com elementos do senso comum. Estes são apenas mais refinados, uma vez que passam – como já se comentou no Tópico 2 dessa unidade, ao explanar sobre Galileu Galilei – pela observação, pela experiência (ou empiria) e pela calculabilidade matemática.
Nas revoluções científicas do século XVII, em especial, retomou-se a matemática (já que o uso da matemática para fazer ciência já era praxe na antiguidade) como a mais importante técnica para se produzir ciência, uma vez que era a partir dela – e hoje não é tão diferente assim – possível comprovar de forma clara e demonstrar cientificamente o que se desejava. O próprio Galileu deu inúmeras provas disso quando, por exemplo, comprovou o heliocentrismo, já indicado pelo monge e astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), bem como pelo padre e astrônomo italiano Giordano Bruno (1548-1600), queimado vivo pela Inquisição.
Ainda comentando o fragmento de Rubem Alves, salienta-se que uma indústria/empresa funciona, seja qual for o seu ramo empresarial/mercadológico, sempre a partir da matemática ou de suas variantes, como a estatística. Por isso que, segundo nosso pensador, a ciência “não é um novo órgão”, quer dizer, não é nada de novo, senão a tentativa de comprovar ou de reprimir o que o senso comum buscou sustentar.
Por fim, o senso comum significa um tipo de conhecimento adquirido pelo homem a partir de experiências, vivências e observação do mundo. É uma forma de conhecimento não comprovado e, muitas vezes, de raiz popular, caracterizando-se por conhecimentos empíricos acumulados ao longo da vida e passados de geração em geração. Configura, portanto, um saber que não se baseia em métodos ou conclusões científicas, mas no modo comum e espontâneo de assimilar informações e conhecimentos úteis no cotidiano.
*COMUNICAÇÃO DE MASSA
Quando se comenta sobre a comunicação de massa, refere-se à comunicação social voltada ao grande público, especialmente marcada pelos aparelhos televisivos e de internet, que buscam uma maior difusão de ideais, especialmente, da classe dominante a fim de subjugar e introjetar seus interesses na “consciência coletiva” da massa, de modo a passar despercebido o que leva os indivíduos a adotar determinada postura.
O bom senso
Enquanto o senso comum tende à rigidez e a inflexibilidade, há outra forma que se pode pensar em “senso” ao descrever a maneira como, normalmente, se lida com as coisas em meio ao nosso cotidiano. O bom senso é uma forma de sabedoria e de razoabilidade que delimita certa capacidade de se adequar as regras e costumes de determinadas realidades, de modo a fazer bons julgamentos e escolhas. Suas características principais são maior flexibilidade e dinamismo que o senso comum, absorvendo com discernimento as influências mais diversas.
O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada qual pensa estar bem provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa, não costumam tê-lo mais do que têm.
		Rene Descartes
Cabe-nos, neste momento, relacionar o senso comum e o bom senso à Filosofia.
A investigação filosófica
A partir dos tópicos anteriores, procuramos enfatizar que, para o modo de interpretação típico à Filosofia, nada se mostra como evidente, já que as coisas e os fenômenos não se apresentarão para qualquer indivíduo como um dado espontâneo, banal, isto é, a Filosofia,de antemão, é a ruptura com o senso comum. É a partir desse ponto que a Filosofia se dispõe a indagar esses mesmos fenômenos e coisas, bem como as palavras que os homens concederam as mesmas; palavras que tomam parte em nossas conversações sem que nos preocupemos muito com a forma acrítica com que as empregamos.
Recorremos, mais uma vez, a professora Marilena Chauí, uma vez que esta formula a mesma observação de maneira mais elegante na passagem abaixo:
Imaginemos (...) alguém que tomasse uma decisão muito estranha e começasse a fazer perguntas inesperadas. Em vez de “que horas são?” ou “que dia é hoje?”, perguntasse: O que é o tempo? Em vez de dizer “está sonhando” ou “ficou maluca”, quisesse saber: O que é o sonho? A loucura? A razão? Se essa pessoa fosse substituindo sucessivamente suas perguntas, suas afirmações por outras: “Onde há fumaça, há fogo”, ou “não saia na chuva para não ficar resfriado”, por: O que é causa? O que é efeito?; “seja objetivo” ou “eles são muito subjetivos”, por: O que é a objetividade? O que é a subjetividade?; “Esta casa é mais bonita do que a outra”, por: O que é “mais”? O que é “menos”? O que é o belo? Em vez de gritar “mentiroso!”, questionasse: O que é a verdade? O que é falso? O que é o erro? O que é a mentira? Quando existe verdade e por quê? Quando existe ilusão e por quê? Se, em vez de falar na subjetividade dos namorados, inquirisse: O que é o amor? O que é o desejo? O que são os sentimentos? Se, em lugar de discorrer tranquilamente sobre “maior” ou “menor” ou “claro” e “escuro”, resolvesse investigar: O que é a quantidade? O que é a qualidade? E se, em vez de afirmar que gosta de alguém porque possui as mesmas ideias, os mesmos gestos, as mesmas preferências e os mesmos valores, preferisse analisar: O que é um valor? O que é um valor moral? O que é um valor artístico? O que é a moral? O que é a vontade? O que é a liberdade? Alguém que tomasse essa decisão, (...) teria passado a indagar o que são as crenças e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência. (...) Estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas crenças e nossos sentimentos. Esse alguém estaria começando a adotar o que chamamos de atitude filosófica.
O que é o tempo?
Fonte: http://bit.ly/1zXxTqg
Marcamos no tópico anterior que a Filosofia nasce do espanto, isto é, da admiração frente à realidade. Esta admiração surge sempre que o homem defronta-se àquilo que sempre esteve em contato, aquilo que sempre percebeu, porém que nunca antes tinha se atentado que tal coisa poderia se mostrar com outros sentidos. É o que nos chama a atenção a professora Marilena Chauí no texto acima, uma vez que o espanto ou admiração é o que nos possibilita sair do senso comum bem como nos permite fazer as perguntas como as que ela nos propõe no fragmento. Se assim procede a Filosofia, a partir desse espanto, isso significa afirmar também que o mundo não mais se apresentará como algo previamente pronto, determinado – isto é, como o monstro da charge no início desse tópico. É assim que, para a Filosofia, importa, mais particularmente, que renovemos “o espanto” sobre o sentido das práticas em que estamos engajados e que procuremos, novamente, imaginá-las e transformá-las à luz do pensamento.
O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas serem o que são.
		Aristóteles
Fonte: http://bit.ly/1PFtmuw

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