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EA D 2 Audição e Surdez 1. OBJETIVOS • Analisar o processo normal da audição. • Demonstar o que é a deficiência auditiva/surdez e refletir sobre ela. • Reconhecer as formas de tratamento e de prevenção da deficiência auditiva. 2. CONTEÚDOS • Audição normal. • Deficiência auditiva/surdez. • Formas de tratamento e de prevenção da deficiência auditiva. 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: © Língua Brasileira de Sinais54 1) Para que você tenha um bom desenvolvimento no estu- do deste Caderno de Referência de Conteúdo e compre- enda os conceitos abordados, é fundamental interagir com seu tutor e colegas na Sala de Aula Virtual, sanando suas dúvidas e levantando novos questionamentos acer- ca dessa temática. 2) Lembre-se de anotar ou grifar o que considerar mais im- portante nas leituras. Isso facilitará seus estudos para a avaliação final. 3) Não deixe de realizar a leitura complementar apresenta- da ao final desta unidade, ela irá ajudá-lo a compreender uma questão muito importante que aflige a comunidade surda que é o implante coclear. 4) No final desta unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas. Responda todas as questões e, em caso de dúvidas, entre em contato com o seu tutor e com os seus colegas na Sala de Aula Virtual para solucioná-las. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Dando continuidade aos estudos realizados na Unidade 1, na qual você conheceu a história da educação dos surdos no Brasil e as abordagens educacionais (oralismo, comunicação total e bi- linguismo) que orientaram a educação desses alunos ao longo da história, vamos, nesta unidade, estudar os aspectos relacionados à audição normal e aos problemas do aparelho auditivo, enfocando as implicações que uma perda de audição pode acarretar para ao processo educacional. Os conteúdos que abordaremos ajudarão você a compre- ender a configuração do aparelho auditivo e seu funcionamen- to normal. Trabalharemos, também, a definição e a classificação das perdas auditivas, suas causas mais frequentes, os métodos de prevenção, bem como o processo de diagnóstico e reabilitação, incluindo uma discussão sobre a indicação e a adaptação de próte- ses auditivas e de implante coclear. Bons estudos! Claretiano - Centro Universitário 55© U2 - Audição e Surdez 5. AUDIÇÃO A audição é o meio pelo qual o indivíduo entra em contato com o mundo sonoro e com as estruturas da língua oral, possibi- litando, dentre outras coisas, o desenvolvimento da linguagem. A língua oral é o principal meio de comunicação entre os seres hu- manos, e a audição participa efetivamente no processo de apren- dizagem desde os conceitos mais básicos, até a aprendizagem da leitura e da escrita. Adicionalmente, a audição influencia decisiva- mente nas relações interpessoais, que permitirão um adequado desenvolvimento pessoal e emocional (SILVA, KAUCHAKJE e GE- SUELI, 2003). Basicamente, a audição desempenha as funções de: 1) Localização e identificação: capacidade de reconhecer- mos de onde vem um som e qual é a fonte sonora que o está produzindo. 2) Alerta: capacidade de nos atentarmos para todos os es- tímulos sonoros que nos rodeiam, como, por exemplo, a buzina de um carro vindo em nossa direção. 3) Socialização: capacidade de nos relacionarmos, pois é principalmente pela audição que entramos em contato com as outras pessoas. 4) Intelectual: grande parte das informações nos é trans- mitida por meio do código oral. 5) Comunicação: a fala é o meio de comunicação mais utili- zado pelo homem, e é por meio da audição que a lingua- gem e a fala se desenvolvem. Para compreendermos o processo normal da audição, é ne- cessário conhecer a anatomia do ouvido humano. O nosso ouvido é formado pela orelha externa, média e interna. Vejamos, agora, um pouco mais sobre cada uma delas. Conforme mostra o esquema da Figura 1, a orelha externa é constituída pelo pavilhão auricular, conduto auditivo externo e membrana timpânica. Essas estruturas são responsáveis pela cap- tação e condução do estímulo sonoro. Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce © Língua Brasileira de Sinais56 orelha externa canal auditivo externo hélix concha tragus anti-tragus cartilagem Figura 1 Orelha externa. A orelha média (Figura 2) assemelha-se a uma caixa preen- chida por ar. Nela, encontramos os três menores ossos do nosso corpo: martelo, bigorna e estribo. A orelha média é responsável pela transformação da energia sonora em energia mecânica, bem como pela proteção da orelha interna de sons muito intensos, por meio da contração do músculo estapédio. janela oval tuba auditiva cavidade da orelha média membrana do timpano estribo martelo bigorna Figura 2 Orelha média. Como exemplo, imagine que você fique exposto a um lugar onde há sons intensos, como uma casa noturna, um show de rock ou uma rua onde homens trabalham com britadeiras. É devido à ação do mús- culo estapédio que, ao sair de um desses locais, você tem a sensação Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Claretiano - Centro Universitário 57© U2 - Audição e Surdez de ouvido tapado e de não estar ouvindo adequadamente. Após alguns minutos, esse músculo vai relaxando e sua audição volta ao normal. A orelha interna (Figura 3) compreende a cóclea e os canais semicirculares. Nos canais semicirculares, encontram-se as estru- turas responsáveis pelo equilíbrio. A cóclea é formada por um ór- gão, chamado órgão de Corti, que transforma a energia mecânica, proveniente da orelha média, em impulso nervoso. canais nervo vestibular nervo coclear janela oval cóclea Figura 3 Orelha interna. Na orelha interna, são realizadas as diferenciações sonoras, ou seja, o reconhecimento de um som grave e de um som agudo. Os impulsos nervosos provenientes das células ciliadas são trans- mitidos para o cérebro, onde irá acontecer a interpretação dos sons, ou seja, os sons passarão a ter significado para o indivíduo. Quando uma pessoa apresenta uma dificuldade de interpretação dos sons detectados, dizemos que ela possui uma Desordem do Processamento Auditivo Central. Até aqui, estudamos as partes que compõem o sistema au- ditivo. Vejamos, agora, de uma forma resumida, como se processa a fisiologia da audição. A onda sonora captada pelo pavilhão auricular e conduzi- da pelo conduto auditivo externo faz a membrana timpânica e o Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce © Língua Brasileira de Sinais58 sistema ossicular (martelo, bigorna e estribo) vibrarem. O estribo provoca a movimentação da membrana da janela oval, estrutura que liga a orelha média à orelha interna. Esse movimento provoca o deslocamento nos líquidos que se encontram dentro da cóclea, estimulando o órgão de Corti. Ocorre, então, a transmissão do im- pulso nervoso para o nervo auditivo e deste, passando por diversas estruturas, para o córtex cerebral, para ser interpretado. Quando um indivíduo apresenta uma dificuldade na percepção dos sons, dizemos que ele apresenta uma deficiência auditiva ou surdez. 6. DEFICIÊNCIA AUDITIVA/SURDEZ A surdez é caracterizada como um problema sensorial não evi- dente, que acarreta dificuldades na detecção e na percepção dos sons. Na primeira infância, a presença de qualquer alteração no sis- tema auditivo pode comprometer o desenvolvimento da criança em vários aspectos, como o cognitivo, o linguístico e o social. No Brasil, cerca de 15 milhões de pessoas apresentam algum tipo de perdaauditiva. O Censo de 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que 3,3% da população responderam ter algum problema auditivo e, aproxima- damente, 1% declarou ser incapaz de ouvir. Disponível em: <www. surdo.org.br>. Acesso em: 12 abr. 2010. Os fatores etiológicos, isto é, aqueles que podem causar a perda da audição, podem ocorrer no período pré-natal, perina- tal ou pós-natal. A deficiência auditiva pode ser classificada em congênita, quando o problema que provocou a perda de audição ocorreu antes do nascimento, ou adquirida, quando o problema ocorreu durante ou após o nascimento. Os fatores pré-natais – aqueles que acometeram o sistema auditivo durante a gestação – mais comuns são a hereditarieda- de, as síndromes genéticas e o histórico familiar. Entretanto, exis- tem algumas doenças adquiridas pela mãe durante a gestação, ou Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Claretiano - Centro Universitário 59© U2 - Audição e Surdez complicações ocorridas durante o período pré-natal, que não são de caráter hereditário, ou seja, que não passam de pai para filho por ocasião da concepção. Dentre elas, podemos destacar: 1) Rubéola: é a principal causa pré-natal de deficiência auditiva. Nas crianças com rubéola congênita, observa- -se um comprometimento auditivo em mais de 50% dos casos. Além da possibilidade de desenvolver problemas cardíacos, visuais e neurológicos. 2) Sífilis: é uma doença que, se não tratada, pode causar várias consequências ao bebê. É contraída pela mãe (Treponema pallidum) no momento da relação sexual. 3) Toxoplasmose: provocada por um parasita presente em animais domésticos, como gato, coelho ou cachorro. A grávida contamina o feto por meio da placenta, pro- vocando sérias complicações, principalmente nos três primeiros meses de gestação. O bebê pode nascer com deficiência auditiva, retardo mental ou visão subnormal. 4) Citomegalovírus: acredita-se que sua transmissão acon- teça por meio da saliva e da relação sexual. A contamina- ção do bebê pode acontecer ainda na gravidez ou duran- te a sua passagem por meio do canal do parto. Quando a doença é contraída nas fases iniciais da gestação, pode causar no feto desde uma infecção inaparente, sem con- sequências, até retardo mental, deficiência auditiva, comprometimento de visão e calcificações no cérebro que provocam crises convulsivas. 5) Herpes: é uma das doenças sexualmente transmissí- veis mais comuns e pode causar feridas em diferentes mucosas do corpo. A transmissão do vírus para o bebê acontece durante o nascimento, podendo causar sérias consequências ao bebê, levando-o, inclusive, à morte. 6) Alterações endócrinas: como, por exemplo, a diabetes. 7) Desnutrição materna: má alimentação da mãe durante a gravidez. 8) Ingestão de drogas e/ou medicamentos: alguns medica- mentos, quando ingeridos pela gestante, são responsá- veis pela lesão do ouvido do bebê, provocando a surdez. Antibióticos, principalmente os da família dos aminogli- Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce © Língua Brasileira de Sinais60 cosídeos, são os mais perigosos, além de alguns tipos de diuréticos e anti-hipertensivos. As medicações mais perigosas contêm, entre outros, os seguintes princípios ativos: estreptomicina, gentamicina, canamicina, siso- micina, amicacina, tobramicina. Além das medicações, há algumas substâncias que podem estar presentes nas fórmulas de produtos de uso doméstico que também são perigosas: monóxido de carbono, tabaco, mercúrio, álcool, arsênio e chumbo. 9) Fator Rh (incompatibilidade sanguínea): o sangue do bebê (Rh+), sendo diferente do sangue da mãe (Rh-), pode trazer problemas no futuro da saúde da criança. 10) Fatores perinatais: acometem o bebê durante o seu nascimento. Os mais comuns para a deficiência auditiva desta categoria são: a) Anóxia (falta de oxigenação). b) Prematuridade: quando o nascimento ocorre antes da 38ª semana de gestação. c) Complicações no parto: quando o resultado do tes- te de Apgar (ver Glossário) vai de 0-4 no 1º minuto ou de 0-6 no 5º minuto. A hipóxia é a diminuição da oferta de oxigênio para o feto durante o momento do nascimento. Dependendo de sua duração e in- tensidade, pode causar lesões graves no cérebro, nos ouvidos e em outras partes do organismo. d) Peso ao nascimento inferior a 1500 gramas, ou quando a criança nasce pequena para a idade ges- tacional. 11) Fatores pós-natais – aqueles que acorrem após o nas- cimento – mais comumente encontrados em casos de surdez são: a) Drogas ototóxicas: incluindo, mas não se limitando, os aminoglicosídeos quando utilizados em múltiplas doses ou em combinação com diuréticos. b) Ventilação mecânica por cinco dias ou mais. c) Infecções por vírus ou bactérias: meningite, saram- po, caxumba, otite média recorrente ou persistente por mais de três meses. Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Claretiano - Centro Universitário 61© U2 - Audição e Surdez d) Lesões traumáticas: traumatismos cranioencefálicos. e) Permanência na incubadora por mais de sete dias. f) Distúrbios metabólicos. g) Traumas acústicos. h) Perda auditiva induzida por ruído ocupacional. i) Neuroma do nervo acústico (tumor). j) Presbiacusia: envelhecimento natural da orelha, re- sultante do conjunto de alterações degenerativas de todo o aparelho auditivo. Caracteriza-se por perda bilateral da audição para sons agudos, acompanha- da, geralmente, por perda desproporcional da capa- cidade de reconhecer a fala. Essa perda é gradual e progressiva (ver Glossário). A deficiência auditiva pode, também, ser classificada de acordo com a localização da lesão, com o grau da perda de audição e com o momento em que ocorreu a perda auditiva. Vejamos cada uma dessas situações: De acordo com o local em que ocorreu a lesão do sistema auditivo, as perdas auditivas podem ser classificadas em: • Perda auditiva condutiva: determinada por alterações na orelha externa e/ou orelha média. Na maioria das vezes, é passível de tratamento medicamentoso e/ou cirúrgico. Como exemplos de perdas auditivas condutivas, podemos citar as otites, a otosclerose, a perfuração timpânica e até mesmo a rolha de cerume. Em geral, basta aumentar a intensidade do estímulo sonoro para que o indivíduo perceba o som. • Perda auditiva neurossensorial: acontece quando as cau- sas da perda auditiva estão localizadas na cóclea e/ou no nervo auditivo. Esse tipo de lesão é irreversível, causando diminuição da audição, dificuldade na discriminação au- ditiva, distorção da sensação sonora e recrutamento. • Perda auditiva mista: quando encontramos alterações tan- to na orelha interna quanto na orelha externa e/ou média. Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce © Língua Brasileira de Sinais62 A Figura 4 indica os componentes do sistema auditivo e a localização da lesão: Adultos • Exposição Excessiva ao Ruído • Presbiacusia - Envelhecimento • Hereditariedade • Distúrbios Vasculares e Circulatórios • Tumores e Outras Lesões Crianças Alterações do Ouvido Médio • Otite Média Causas Congênitas • Anomalias Crâniofaciais •Histórico Familiar de Perda Auditiva • Infecções Congênitas Outras • Trauma Craniano • Medicamentos Ototóxicos • Distúrbios Infecciosos na Infância (Caxumba, Sarampo) • Meningite Bacteriana Principais Causas da Perda Auditiva Figura 4 O ouvido humano. No que se refere ao grau, as perdas auditivas podem ser classificadas em: leve, moderada, severa e profunda, conforme as descrições a seguir: 1) Perda leve (de 26 dB a 40 dB): capacidade de perceber qualquer som, desde que em intensidade um pouco mais elevada. Sendo assim, uma criança com perda leve de audição é capaz de desenvolver e adquirir a linguagem oral espontaneamente. Assim, o problema é descoberto tardiamente; geralmente, o indivíduo não se adapta ao aparelho de amplificação, pois sua audição é muito pró- xima da considerada normal e seu problema, dependen- do da natureza, é irreversível. 2) Perda moderada (de 41 dB a 70 dB): nesse caso, a crian- ça pode demorar um pouco para desenvolver a fala e a linguagem; apresenta alterações articulatórias (troca de letras, principalmente do tipo pato/rato; réu/mel; cão/ não) por não perceber todos os sons com clareza; tem dificuldade em perceber a fala em ambientes ruidosos. Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Claretiano - Centro Universitário 63© U2 - Audição e Surdez Em uma conversação, pergunta muito o que acabou de ser dito, usando, por exemplo, as expressões "hein?" ou "como?"; ao telefone, não escuta com clareza. Ge- ralmente, crianças com perda moderada de audição são desatentas e apresentam dificuldade no aprendizado da leitura e da escrita. 3) Perda severa (de 71 dB a 90 dB): a criança com este grau de perda auditiva apresenta atraso significativo no de- senvolvimento da fala, não consegue escutar a voz hu- mana sem uma prótese auditiva. Sendo assim, ela terá dificuldades em adquirir a fala e a linguagem esponta- neamente; poderá adquirir vocabulário do contexto fa- miliar; é indicado o uso do aparelho de amplificação e torna-se necessário o acompanhamento especializado. O indivíduo com uma perda severa de audição escuta sons intensos, como o latido do cachorro, avião, cami- nhão, serra elétrica, entre outros. 4) Perda profunda (acima de 91 dB): a criança com esse tipo de perda dificilmente desenvolverá a linguagem oral es- pontaneamente; somente responderá, auditivamente, a sons muito intensos, como, por exemplo, trovão, rojão, motor de carro e avião. Frequentemente, utiliza a leitura orofacial, isto é, procura entender a palavra falada por outra pessoa observando os movimentos dos lábios. Necessita fazer uso de aparelho e/ou implante coclear, bem como de acompanhamento especializado. De acor- do com a abordagem bilíngue, sua primeira língua deve ser a de sinais. De acordo com o período ou a época em que ocorreu a per- da da audição, a deficiência auditiva pode ser classificada em: • Deficiência auditiva pré-verbal: quando a criança perde a audição antes mesmo de ter desenvolvido a linguagem e a fala. • Deficiência auditiva pós-verbal: quando a criança perde a audição depois do período de desenvolvimento da fala e da linguagem. Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce © Língua Brasileira de Sinais64 7. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS DA AUDIÇÃO A avaliação, o diagnóstico e o atendimento da criança com perda auditiva devem ser realizados por uma equipe formada mul- tiprofissional, da qual devem fazer parte o médico otorrinolaringo- logista, o fonoaudiólogo, o pediatra e, em alguns casos, o psicólo- go e o assistente social. Vários exames podem ser realizados para diagnosticar a sur- dez, entre eles, podemos citar: 1) Audiometria do tronco cerebral (BERA). 2) Otoemissões acústicas. 3) Audiometria. 4) Avaliação auditiva comportamental. 5) Exame do processamento auditivo. Após o diagnóstico da perda de audição, a criança deveria ter garantido acesso aos auxílios terapêuticos e educacionais com profissionais especializados. De acordo com a abordagem bilíngue, os pais deveriam procurar a comunidade de surdos para conhecer melhor a cultura surda, as lutas e as conquistas dessa comunidade, bem como de seus familiares. Quanto ao tratamento, uma das alternativas diante da defi- ciência auditiva detectada é a indicação, pelo médico, do uso de prótese auditiva. Após a seleção, o fonoaudiólogo realiza a adap- tação dessa prótese na criança. Entretanto, os profissionais da área pontuam que vários fa- tores podem interferir no processo de reabilitação da pessoa com surdez, dentre eles a idade, a motivação para utilizar o aparelho de audição, o estilo de vida dessa pessoa, bem como seu estado de saúde geral (GESSER, 2009). Outra possibilidade de tratamento para a deficiência audi- tiva é a realização do implante coclear. No entanto, a indicação Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Claretiano - Centro Universitário 65© U2 - Audição e Surdez desse tratamento ainda é muito restrita e com custos elevados, e tem sido alvo de muitas polêmicas. O implante coclear trata-se de um método invasivo para a colocação de um dispositivo interno no osso mastoide do pacien- te. O sucesso desse procedimento dependerá de vários fatores, dentre eles: idade do paciente, tempo de surdez, condições do nervo auditivo, quantidade de eletrodos implantados, situação da cóclea, acompanhamento fonoaudiológico e médico para ativação e ajuste no dispositivo do implantado etc. Apesar de toda essa tecnologia, a prevenção e a detecção precoce da deficiência auditiva ainda são as melhores atitudes a se tomar. A seguir, apresentamos os níveis de prevenção da deficiên- cia auditiva, bem as principais ações que podem ser desenvolvidas em cada um desses níveis. Prevenção dos distúrbios da audição A atenção primária à saúde compreende o período pré-patogê- nese. Nesse período, podem ser adotados os seguintes procedimentos: 1) Aconselhamento genético. 2) Medidas de imunização para combater a rubéola, a me- ningite e a caxumba, doenças relacionadas à deficiência auditiva; 3) Assistência à saúde da gestante e do neonato, contro- lando as infecções maternas, administrando de maneira criteriosa medicamentos, especialmente os ototóxicos, ou seja, aqueles que podem prejudicar a audição. 4) Medidas de redução das infecções da orelha média nos primeiros anos de vida; por exemplo, ao ser amamentada, a criança deve estar com a cabeça mais alta que o corpo, evitando, assim, que o leite, por meio da tuba auditiva, passe para a orelha média, provocando uma otite. A atenção secundária à saúde refere-se ao período de iden- tificação e de tratamento precoce dos distúrbios da audição. Algu- mas ações para prevenir a deficiência auditiva neste nível são: Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce © Língua Brasileira de Sinais66 • Estar atento ao desenvolvimento da audição, fala e lin- guagem da criança, não deixando para mais tarde uma consulta com o médico a fim de esclarecerem suspeitas quanto à normalidade de seu desenvolvimento. • Participar de programas de triagem auditiva em materni- dades, unidades básicas de saúde, creches e escolas. A atenção terciária à saúde está relacionada ao período des- tinado à redução do prejuízo provocado pelo distúrbio auditivo, e nesse momento a família deve procurar a reabilitação por meio da seleção e adaptação de próteses auditivas e terapia fonoaudio- lógica,ou buscar auxílio na comunidade surda para que a crian- ça surda possa, o mais cedo possível, adquirir a língua de sinais e constituir-se um sujeito surdo. 8. LEITURA COMPLEMENTAR Nesta unidade, ao estudarmos sobre as formas de trata- mento das perdas auditivas, mencionamos o Implante Coclear (IC) como uma alternativa de reabilitação. No entanto, a comunidade surda tem se mostrado contrária à realização desse procedimento, fundamentando sua negação com base na valorização da língua de sinais, no contato com a comunidade surda e no desenvolvimen- to de pesquisas científicas que evidenciaram as línguas de sinais como línguas naturais. Tais aspectos, segundo Lichtig et al. (ver Tópico E-Referên- cias), criaram um senso de coesão na comunidade surda, bem como uma cultura surda e a evidência de identidade próprias. Os autores afirmam que, em países como, por exemplo, os Estados Unidos, onde a comunidade surda é mais consolidada, há as ex- pressões "deaf power" ou "deaf world", que caracterizam a impor- tância da língua, cultura e identidade dos surdos. Vejamos a justificativa da comunidade surda em relação ao IC de acordo com Lichtig et al. (2003): Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Ronny Realce Claretiano - Centro Universitário 67© U2 - Audição e Surdez Justificativa ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A intolerância da comunidade surda com relação ao IC mostra-se contrária ao uso do IC em crianças surdas, especialmente naquelas com surdez pre-lingual, por acreditar que tal prática pode violar a integridade e os direitos humanos da criança e por limitar a opção da criança de ser ou não um usuário da Língua de Sinais ou do implante coclear (BDA, 1995). Ademais, o não uso de sinais pelas crianças surdas pode significar o genocídio da comunidade surda, uma vez que são as crianças as responsáveis pela sua sobrevivência (Bienvenu, 1994). ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A fim de ilustrar o posicionamento dos surdos perante o IC, Lichtig et al. (2003) descrevem uma pesquisa realizada com 17 sur- dos adultos da cidade de São Paulo. Os pesquisadores entrevis- taram os surdos individualmente com questionários previamente elaborados, obtendo os seguintes resultados: –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Todos os dezessete surdos entrevistados afirmaram ter alguma informação sobre o IC. A maioria (13 sujeitos) apresentou uma visão negativa com relação ao IC. Contudo, os sujeitos entrevistados pautaram-se em argumentos que denotavam um real des- conhecimento sobre o assunto. Outros se mostraram preocupados com a perda da identidade da cultura surda e com a manutenção do uso da língua de sinais. No que se refere à realização do IC, novamente todos os 17 sujeitos se mostraram contrários à mesma, por razões que abrangeram desde o medo de morrer na cirurgia até o orgulho da condição da surdez. Exceto por 1 sujeito, todos os demais (16) apresentaram objeção à realização do IC em bebês. Quanto à implantação em crianças, verificou-se um panorama diferente, já que 5 sujeitos apresentaram argumentos favoráveis, desde que a criança pudesse ter a escolha de ser, ou não, submetida à cirurgia, após ter do- mínio e conhecimento da língua e da cultura surda. [...] De forma geral, um dos aspectos que se destaca é o desconhecimento preciso pe- los surdos, tanto em relação à cirurgia quanto em relação aos benefícios e limitações do IC. Tal desconhecimento não é relatado na literatura internacional. Contudo, nota- se que, assim como as comunidades surdas de países desenvolvidos, as comunida- des surdas paulistanas mostram-se preocupadas em preservar a língua, identidade e cultura surda e em criar seus filhos dentro de um modelo no qual o surdo é visto como integrante de uma minoria linguística e cultural e não como portador de uma condição patológica. ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Assim, os resultados obtidos com essa pesquisa demonstra- ram que, apesar de todos afirmarem o conhecimento sobre o IC, têm ainda dúvidas sobre a aplicação do procedimento em bebês, crianças e adultos. Ronny Realce © Língua Brasileira de Sinais68 9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Ao finalizar seus estudos sobre o processo de audição nor- mal e as implicações da deficiência auditiva, procure responder para si mesmo às seguintes questões: 1) Como se processa a fisiologia normal da audição? 2) Quais as principais causas das perdas auditivas? 3) Como as perdas auditivas podem ser classificadas? Defina cada uma dessas possibilidades. 4) Quais as formas de tratamento e de prevenção da surdez? 10. CONSIDERAÇÕES Nesta unidade, você estudou os problemas de audição e suas especificidades, inclusive a anatomia e a fisiologia do sistema auditivo em condições normais de audição. Vimos os conceitos de deficiência auditiva, suas causas, classificações e formas de pre- venção e reabilitação. A próxima unidade trata da importância da língua de sinais para o desenvolvimento cognitivo, linguístico e afetivo da criança surda. Você verá que a surdez pode afetar todo o sistema familiar, que, apesar das dificuldades enfrentadas, deve formar interlocu- tores em libras e envolver-se no processo educacional da criança surda. 11. E-REFERÊNCIAS Lista de figuras Figura 1 Orelha externa. Disponível em: <http://www.audimaxpp.com/perda_auditiva. htm>. Acesso em: 07 jan. 2011. Figura 2 Orelha média. Disponível em: <http://www.audimaxpp.com/perda_auditiva. htm>. Acesso em: 07 jan. 2011. Ronny Realce Claretiano - Centro Universitário 69© U2 - Audição e Surdez Figura 3 Orelha interna. Disponível em: <http://www.audimaxpp.com/perda_auditiva. htm>. Acesso em: 07 jan. 2011. Figura 4 O ouvido humano. Disponível em: <http://www.somvital.com.br/servicos.htm>. Acesso em: 07 jan. 2011. Site pesquisado LICHTIG, I.; MECCA, F. F. D. N.; BARBOSA, F.; GOMES, M. O implante coclear e a comunidade surda: desafio ou solução? In: II Seminário ATIID: Acessibilidade, TI e Inclusão Digital, São Paulo (SP), 23 e 24 set. 2003. Disponível em: <http://www.prodam.sp.gov.br/multimidia/ midia/cd_atiid/conteudo/ATIID2003/MR4/01/ImplanteCoclear-ComunidadeSurda.pdf>. Acesso em: 04 jan. 2011. 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GESSER, A. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009. RUSSO, I. C. P.; SANTOS, T. M. M. Audiologia infantil. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1994. SILVA, I. R.; KAUCHAKJE, S.; GESUELI, Z. M. Cidadania, surdez e linguagem. São Paulo: Plexus, 2003. Claretiano - Centro Universitário
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