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Novas Tendencias do Direito Penal cartilha juridica

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C327
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V.388D
CARTILH URÍDICA
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DIREI .9ENAL
JUI FERNANDO D C A TOURINHO NETO
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N.8
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PODER JUDICIÁRIO
PRESIDÊNCIA: Juiz LEITE SOARES TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA V REGIÃO
VICE-PRESIDÊNCIA: Juiz NELSON GOMES DA SILVA
FERNANDO GONÇALVES
PLAUTO RIBEIRO
TOURINHO NETO
CATÃO ALVES
ELIANA CALMON
ALDIR PASSARINHO JUNIOR
EUSTÁQUIO SILVEIRA
OSMAR TOGNOLO
ALOÍSIO PALMEIRA LIMA
ASSUSETE MAGALHÃES
JIRAIR ARAM MEGUERIAN
JOÃO VIEIRA FAGUNDES
CARLOS FERNANDO MATHIAS
OLINDO MENEZES
MÁRIO CÉSAR RIBEIRO
DIRETOR-GERAL: Dr. FELIPE DOS SANTOS JACINTO
Juiz
Juiz
Juiz
Juiz
Juiza
Juiz
Juiz
Juiz
Juiz
Juíza
Juiz
Juiz
Juiz
Juiz
Juiz
NOVAS TENDÊNCIAS DO
DIREITO PENAL
JUIZ FERNANDO DA COSTA TOURINHO NETO
JUNH 0196
BRASILIA-DF
SUMÁRIO
1. Introdução, 5
2 Quais as novas tendências do Direito Penal?, 10
2.1 A descriminalização, 10
2.2 O princípio da intervenção mínima do Estado, 11
2.3 O princípio da insignificância, 14
2.4 Fixação da pena abaixo do mínimo legal, 15
2.5 O custo do delito, 15
2.6 A pena de prisão, 17
____ 2.7 A pena de multa, 18
3. Conclusão, 18
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r ttJ 03033
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‘í~JJ~’çào
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Palestra proferida no 1 Simpósio Nordestino de
Direito Penal e Processual Penal, na Cidade de
Maceió, Magoas, em 10 de maio de 1996.
1. Introdução
A cnminalidade aumenta e aperfeiçoa-se em proporções geométricas e
na razão direta do crescimento da miséria, da enonnidade de menores abando
nados, da multiplicação dos sem-terra, dos sem-teto e do inchaço das perife
nas das cidades
O número de pessoas que se encontram abaixo da linha de pobreza
na mais completa miséria — é grande. Em 1994, na edição de 16 de julho,
a Folha de São Paulo (Caderno 1, p. 12) noticiava que fàvelados de Olinda
comiam “pedaços de carne humana recolhidos no lixo hospitalar”. Uma cata-
dom de lixo entrevistada admitiu ter comido um seio humano e disse: “Não ti
nha o que comer e comi isso mesmo”. Parece filme de tenor, e, no entanto, é
uma realidade.
Famílias morando debaixo das pontes, dos viadutos, numa promiscui
dade assustadora.
É cedo que a miséria, como lembra Manoel Pedro Pimentel, não á cau
sa do delito, mas sim seu fator. “O fàtor econômico” — afirmou ele — “por si
só, não pode ser responsabilizado pelo aumento do número de crimes contra o
patnmônio, entre nós Mas á, indubitavelmente, um poderoso lïtor ligado ao
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1’ REGIÃO
CARTILHA JURIDICA
crescimento de tais crimes, uma vez que estatisticamente, a pobreza é fa
tor de crime contra o patrimônio” (RT 596/289).
Com o passar do tempo, vivendo uma vida subumana, esse homem se
embrutece, perde a sensibilidade. Essa falta de sensibilidade toma conta dos
demais E, pasme-se, o Governo, a só pensar no poder pelo poder, está indife
rente a tudo isso. Nenhuma preocupação tem com a justiça social. Frio, cheio
de discursos que não levam a nada, trata dos fatos sociais como se fosse um
químico ou fisico. É tanta insensibilidade, tanto mal, que o mal fica banaliza
do. É a banalização do mal, como denominou Hannah Arendt (apud Lemo
Luiz Streck, iii Poder e ética na sociedade brasileira, de Frederico Abrahão
de Oliveira, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1995, p. 1 — prefácio).
Disso tudo resulta uma criminalidade violenta, cruel, crudelissima,
assustadora
A riqueza concentrada em mãos de poucas pessoas. Muitas querendo
enriquecer e outras, tomar-se mais ricas, não importando os meios Isso a ge
rar conflitos e novas condutas criminosas, fazendo surgir uma criminalidade
sofisticada, cruel, tão cruel quanto a outra, senão mais, porém não visível e
não sanguinolenta. É a criminalidade dos homens de colarinho branco
(white coilar crime), o delito dos cavalheiros (délil de chevalier).
Frederico Abrhaão de Oliveira isso observou, ao revelar que a classe
média:
(...) reza a cartilha da hipocrisia do poder, em nada se importan
do com a pobreza e a miséria. Vive das migalhas que caem da
mesa da classe alta, aspira chegar àquela a qualquer preço, seja
passando por sobre seus próprios valores, seja incorporando-se
ao poder através da corrupção (Ob cit. p. 73.)
O próprio Governo, ainda por cima, dando maus exemplos, com atitu
des nada dignificadoras Não se pode esquecer o que declarou inconfidente-
mente certo Ministro de Estado, em 1994: ‘Eu não tenho escrúpulos; o que é
bom a gente fàtura, o que é ruim, esconde.”
É o Governo enganando, iludindo o povo. É hipocrisia do poder.
O povo assustado, amedrontado, temeroso, num fogo cruzado, não
sabe para quem apelar
O que fazer? Como resolver esta questão, questão de segurança?
Volta, então, as vistas para o Governo, e não vê perspectivas. Pelo con
trário, dele também tem medo A violência policial — e, portanto, do Governo,
é, também, de estarrecer A Polícia bate, espanca, tortura. Nada resolve. É a
violência mstitucional do Estado. O cidadão, em conseqüência, tanto teme o
bandido como o policial.
Procura a Justiça, e encontra unia Justiça desaparelhada, arcaica, mo
rosa, formalística Depara-se com juizes não vocacionados, sem compromis
so com a jurisdição Juizes que, como disse Anatole France, “não sondam as
entranhas, nem lêem os corações, sua mais justa justiça é rude e superficial”
(apud Eduardo Novoa Monreal, Alternativas e transes do Direito Penal de
hoje in Revista de Direito Penal, RJ : Forense, v. 24, p. 55).
Afirmou Valéry Giscard D’Estaing (apud Ederson de MelIo, Violência
e liberdade, in Revista de Direito Penal, Ri: Forense, v. 25, p. 36) que:
consiste en l’elimination de la misére,
des pnvilêges et la lutte contre les
(...) la justice
la disparition
discriminations (...)
A descrença nos órgãos públicos é total. E essa descrença não é só do
6
CARTILHA JURÍDICA
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DAI’ REGIÃo
cidadão comum. Outro dia, os jornais noticiaram que o Presidente de um Tn
bunal Superior foi sequestrado, e não procurou a Polícia, sob a justificativa
de que não poderia identificar os bandidos e, assim, não adiantava bater às
portas da Delegacia.
A midia induz o povo a acreditar que a questão da violência se resolve
aumentando as penas e mandando o criminoso para a cadeia Incute a idéia de
que a paz se consegue aumentando o número de figuras delituosas, ou seja,
criminalizando mais condutas. O legislador e o Governo perdidos, inoperan
tes, acolhem essa idéia, mesmo sabendo que não é a solução Com isso tentam
aplacar a ira do cidadão.
Todos sabem, no entanto, que só a justiça social distribuição justa da
renda, comida na mesa de todos e todos tendo teto para morar, o homem do
campo com terra para cultivar, todos tendo trabalho pode prevenir a
criminalidade.
É preciso, pois, que se invista mais no social do que nos bancos, nas
instituições financeiras
Em depoimento a Glenny, chamou Arnold Toynbee a atenção para o
fato de que (in O preço doflíturo, trad. de Anna Maria Russo, Edições Me
lhoramentos, p. 39):
a raça humana está muito mais adiantada na teconologia,
isto é em lidar com a natureza não humana, do que em lidar
consigo mesma
Do povo vem a música (apud Antônio Augusto Mariante Furtado,
em artigo intitulado Direito Penal, oxímoros, paródias e mitologias, in Doutri
na, Ri Instituto de Direito, v 1, p. 427).
Nem luxo, nem lixo, mas saúde social, muita, para que se goze
até o fim, pois nossa única certeza continua sendo a perplexida
de da morte. Temos o dever ético de deixar melhor, para as ge
rações vindouras, o mundo que encontramos ao nascer.
O Direito Penal não pode, por si só, conter a onda avassaladora de cri
mes Não é a prisão que vai fazer diminuir o número de criminosos Não é o
recrudescimento das sanções penais que vai amedrontar a quem não tem nada
a perder, não tem teto, não tem comida, não tem emprego, não tem dinheiro.
Se a prisão a esses não metemedo, medo também não mete aos crimi
nosos de colannho branco, pois crentes estão de que as normas penais, a polí
cia e a justiça não os atingem
É preciso desmistaficar a idéia de que o Direito Penal é a solução para a
contenção da onda de criminalidade, que invade, domina e sufoca a
sociedade
É preciso conscientizar a população de que nem toda conduta que cau
sa dano ao cidadão deve ser cnminalizada
Observou Nobcrto Spolansky que (in O delito de posse de entorpecen
tes e as ações privadas dos homens, Cadernos de Advocacia, Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabns Editora, v. 1, n. 5, p 102):
Existe uma visão ingênua e mágica segundo a qual com o Direi
to Penal se pode resolver todo tipo de problemas; desde a prote
ção da vida até a solução da inflação. Esta é a visão ingênua e
mágica do Direito Penal e do poder do Estado e pressupõe a
idéia de que toda a eficácia está sempre assegurada quando o
Estado atua
- 1” HeaiaO - oIum,w~
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1’ REGIÃO CARTILHA JURÍDICA
É preciso que se afuste a idéia de que a conseqüência do crime é a pri
são, a cadeia
Tem-se, portanto, de repensar o Direito Penal, de modo que realmente
sirva à sociedade.
Com a enormidade de condutas banais criminalizadas, a Polícia e a
Justiça ficam emperradas, nada solucionando. E imagine-se que não estamos
contando com a cifra negra, isto é, as infrações que sequer chegam ao conhe
cimento da Polícia. A apuração dos crimes mais graves fica, consequentemen
te, prejudicada.
2. Quais as novas tendências do Direito Penal?
2.1 A descriminalização
A descriminalização de detenninadas condutas, a fim de possibilitar
maior efetividade e exeqüibilidade à lei penal.
Muitas condutas ilícitas que se encontram descritas no Código Penal
deveriam perder a qualidade de ilícito penal, como o aborto provocado pela
gestante ou com seu consentimento, os maus tratos, a alteração de limites, o
dano, a fraude mediante cheque sem fundos, a mediação para servir à lascívia
de outrem, entre adultos, o fàvorecimento à prostituição entre adultos, na for
ma de indução e atração, a casa de prostituição, o escrito ou objeto obsceno,
a bigamia, o adultério, o abandono intelectual, o curandeirismo, a advocacia
administrativa e o descaminho. Hoje já se pensa em despenalizar os pequenos
furtos de mercadorias expostas nos supermercados, entendendo-se que tais
despesas já estariam embutidas nos preços das mercadorias.
Muitas dessas infrações, inclusive, o povo já as descriminalizou, pois
não as vê como desvio de normalidade.
A natureza do Direito Penal é, portanto, subsidiária Subsidiária no
sentido de que “somente se podem punir as lesões de bens jurídicos e as cmi
travenções contra fins de assistência social, se tal for indispensável para uma
vida em comum ordenada. Onde bastem os meios do direito civil ou do di
reito público, o direito penal deve retirar-se”. (Claus Roxin, in Problemas
Fundamentais de Direito Penal, Lisboa: Ed. Vega, p. 28.)
Subsidiário, isto é, tem caráter de auxílio, de ajuda Anna poderosa a
ser usada em última instância
O Marquês de Beccaria, há quase trezentos anos, dizia (Dos delitos e
das penas, SP: Atena Editora, 4~ ed., p. 194):
Se se proibem aos cidadãos uma porção de atos indiferentes,
não tendo tais atos nada de nocivo, não se previnem os crimes
ao contrário, faz-se que suijam novos, porque se mudam arbi
trariamente as idéias ordmánas de vício e virtude, que todavia
se proclamam eternas e imutáveis
Certos ilícitos deveriam ter solução extrapenal, como o descaminho e a
fraude no pagamento por meio de cheque. Passariam a ser ilícitos tributários,
admuustrativos ou civis.
2.2 O principio da intervenção mínima do Estado
A tendência do Direito Penal é, pois, observar o principio da interven
ção minima do Estado, reduzindo a legislação penal, que é excessivamente
abrangente. Princípio de ordem política.
O resultado disso é penuitir que os crimes mais graves sejam apurados,
evitando-se a sensação de impunidade Lembremo-nos do que preconizava
Beccaria(ob cit p 111)
A perspectiva de um castigo moderado, mas inevitável, causará
h
3
1
1
10 11
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA P REGIÃO
CAR11LHA JURIDICA
sempre uma impressão mais fone do que o vago temor de um
suplício terrível, em relação ao qual se apresenta alguma
esperança da impumdade
Afinal não se justifica, como ensina Maurach (apud Nilo Batista, Intro
dução critica ao direito penal brasileiro, Renavan, 1996, 38 ed., p 87)
(. ) aplicar um recurso mais grave quando se obtém o mesmo
resultado através de um mais suave: seria tão absurdo e repro
vável criminalizar infrações contratuais civis quanto cominar ao
homicídio tão-só o pagamento das despesas fimeránas
Do alto do seu magistério, doutrina Nelson Hungria (Comen
tários ao Código Penal, Ri Forense, 1958, vol. VII, p. 178):
Somente quando a sanção civil se apresenta ineficaz para a rein
tegração da ordem jurídica é que surge a necessidade da energi
ca sanção penal O legislador não obedece a outra orientação
As sanções penais são o último recurso para conjurar a antmo
mia entre a vontade individual e a vontade normativa do Estado.
Se um fato ilícito, hostil a um interesse individual ou coletivo,
pode ser convenientemente reprimido com as sanções civis, não
há motivo para a reação penal
E adverte:
O Estado só deve recorrer à pena quando a conservação da or
dem jurídica não se possa obter com outros meios de reação,
isto é, com os meios próprios do Direito Civil (ou & outros
ramos que não o penal).
As condutas, ainda que anormais, que pouco afetam, ou quase nada
afetam, o bem jurídico não podem ser incriminadas.
Daí afirmar Eugênio Raúl Zaifároni (Em busca das penas perdidos:
da legitimidade do sistema penal. Trai Vânia Pedrosa e Almir Lopes da
Conceição, Ri: Renavan, 1991, p 28):
a proliferação de tipificações com limites difusos, com ele
mentos valorativos moralistas, com referência de ânimo, com
omissões ou ocultamentos do verbo típico etc., são outras for
mas de debilitar ou cancelar a legalidade penal.
Com clareza, afirma José Henrique Pierangelli (Direito alternativo e
aplicação da lei penal, in Revista do Ministério Público do Rio Gran
de do Sul, p 222)
Estabelecendo que o direito penal só deve ocupar-se da proteção
de bens jurídicos de significação social, afasta a tipicidade de
condutas de pouco ou nenhum relevo social. A final, em maté
ria penal, é de seguir-se o chamado princípio da intervenção mi-
nima
O legislador, frisa Claus Roxin, “não possui competência para, em ab
soluto, castigar pela sua imoralidade condutas não lesivas de bens jurí
dicos” (Problemas Fundamentais de Direito Penal, Lisboa: Ei Vega, p.
29.)
É o princípio da fragmentariedade. Só os bens fundamentais,
12 13
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA i’ REGIÃO
CARTILHA JURIDICA
imprescindíveis à vida da sociedade, devem ser tutelados penalmente. “O pro
blema do crime, como o do direito, há — como explica Roberto Lyra Filho
de ser encarado dentro do processo global sócio-político”. (in Carta aberta a
um jovem criminólogo: teoria, práxis e táticas atuais, Revista de Direito Pe
na!, Ri Forense, 1980, n. 28, p. 14)
Não se quer, pois, uma reação simbólica, mas atuante
2.3 O princípio da insignificância
Atualmente, tal princípio é aplicado com maior largueza De acordo
com esse princípio, excluem-se do tipo os fàtos de miiuma perturbação social
A adequação social leva à impunidade dos comportamentos normalmente ad-
miúdos pela sociedade, amda que formaimente realizem a letra de algum tipo
penal.
No puede casugarse lo que sociedade considera correcto (Santiago
Mir Puig, Jntroducción a la base de! Derecho Penal, Barcelona, Espanha
Bosch, Casa Editorial, 1976, p 154).
Estudando o Direito no Estado, observou Harold Laski (O direito
no Estado, trad. de J. Azevedo Gomes, Lisboa Editorial Inquéntos Lula,
p. 27):
De tudo isto, deduzoduas conseqüências: em primeiro lugar,
que a validez da lei não depende da fonte donde promana, mas
da aceitação que obtém, e, em segundo lugar, que o acertado se
na organizar o supremo corpo legislativo do Estado, quero dizer
do Estado, de tal modo que, de antemão, contasse com o máxi
mo de aceitação das suas atividades antes que estas come
çassem a desenvolver-se.
2.4 Fixação da pena abaixo do mínimo legal
Há também uma tendência de fixar-se a pena abaixo do mínimo, sem
que tenha havido causa de diminuição. Ao julgar a ACr n. 94.04.34 103-7/RS,
a 2 Turma do Tribunal Regional Federal da 4 Região, em sessão de 7 de
dezembro de 1995, assim decidiu Lemos no voto condutor do acórdão do
Juiz Jardim de Camargo:
1-lá corrente jurisprudencial que não admite que a pena, mesmo
à vista de atenuante, seja fixada abaixo do mínimo legal. Contu
do, dada a excepcionalidade do caso e a insignificância da con
duta criminosa, visto que se trata apenas de um animal, uma ca
pivara Considerando, também que essa espécie de animal mui
tas vezes não é caçada por lazer, mas sim para servir de alimen
to, tendo em vista a posição do ilustre Representante do Mús
téno Público, manifestada nesta Sessão, contrariamente à posi
ção do recorrente, nego provimento ao apelo
2.5 O custo do delito
A tendência, também, hoje, como f~z ver Raúl Cervin, é verificar-se o
custo do delito. Considera-se, assim, “o delito em formação de suas conse
qüências econômicas e sociais” (Os processos de descriminalização, trad. de
Eliana Granja, SP Ed RT, 2 ei, 1995, p. 52)
E salienta:
Esse novo enfoque podena revolucionar não apenas os critérios
para a prevenção e o controle do delito, mas também despertar a
consciência do público e do Governo no sentido de que a luta
contra o delito e os esforços para combatê-lo exigem um critério
15
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA i’ REGIÃO CARTILHA JURÍDICA
integrado às estratégias nacionais de desenvolvimento econômi
co e social.
Tem-se, pois, de analisar, de se verificar se vale a pena cnminalizar de
terminada conduta também sob o aspecto de seu custo, pois o preço para a
sociedade pode ser muito alto e de nada valer
Disse, ainda (p 65):
Por isso, em vez de proporcionar mais policia, tribunais e mais
pnsões, é preciso antes de mais nada que o sistema consolide os
elementos que dispõe e estabeleça um flmcionamento integrado
e garantidor. Chegados a esse ponto, não duvidamos que o custo
de estrutura institucional que lida com o delito e alto, muito alto
e irracional, pelo simples fato que o sistema real opera em senti
do totalmente contrário aos objetivos declarados
E chega à seguinte conclusão (p 67)
Manter criminalizadas condutas absurdas no momento atual un
plica gastos desnecessários que elevam os custos de delito e
convertem o sistema penal em um aparato sobrecarregado e
irracional.
É certo que não se pretende que o crime desapareça, porque como disse
Miguel Reale Júnior, “o crime só desaparecerá quando findar a liberda
de” (Novos rumos do sistema criminal, RJ: Forense, l983, p 128) Não é
essa a pretensão da sociedade. Seria uma utopia. Mas devemos caminhar,
como diz Amilton Bueno, em direção a essa utopia.
2. 6 A pena de prisão
Disso tudo, também, se extrai que a prisão só deve ser admitida quando
este for o único recurso encontrado para obter a paz social. Com precisão,
afirmou René Anel Dotti (Sobre as penas alternativas, in Livro de Estudos
Jurídicos, Ri: Instituto de Estudos Jurídicos, 1995, vol. 10, p.73):
Não podemos nos manter, neste final do século e da aurora do
terceiro milênio, aferrados à perspectiva de que o Direito Penal
é uma disciplina centralizada na idéia da prisão e que a perda da
liberdade deve ser sinônimo da justiça penal. Existem outras
possibilidades de reação adequadas à prevenção e à retribuição
do delito, como a prestação de trabalhos em fàvor da comunida
de, as interdições temporárias de direitos, a limitação de fim de
semana, a multa, o sursis e o livramento condicional da
pena.
Ademais, não se pode esquecer que a prisão traumatiza, estigmatiza,
degrada o individuo E imaginar-se as prisões superlotadas, onde;se.f~yQdí~
zio para dormir, onde há falta total de higiene, onde o homossexualismo, for-4 kt2
çado impera, onde o preso se torna amante de outro para se ver livre das per
versões dos demais, para poder ser respeitado. ,,1l
Antônio García-Pablos y Molina esclarece que “é mais dificil ressocia
lizar a uma pessoa que sofreu uma pena do que outra que não teve essa expe
riência” (apud artigo de César Roberto Bitencourt, Crise da pena priva
tiva da liberdade, in Revista do Ministério Público do Rio Grande do Sul,
PortoAlegre, 1994,n. 3l,p. 200).
Atente-se que nem todos os que foram para a prisão perderam toda a
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA i’ REGIÃO CARTILHA JURÍDICA
dignidade e a moral. Ainda há, como observado por Sebastian Soler, “em um
verdadeiro condenado, enquanto está vivo, um pouco de bem” (apud Miguel
Reale, ob. cit p 61)
Há de haver, por conseguinte, uma proporcionalidade entre o crime e a
pena
2.7 A pena de multa
A pena de multa é outro importante “instrumento de política criminal,
como pena alternatIva ou substitutiva, por se transfonnar, após aplicada, em
dívida de valor”, como lembra Assis Toldo (Alguns aspectos da reforma do
Código Penal, in Livros de Estudos .Jur,d,cos, Ri: Instituto de Estudos Jurí
dicos, 1995, vol. 10, p 356)
Sugere, inclusive, o Ilustre penalista, que a prescrição da multa deva
ser qüinqüenal, como as dívidas ativas da Fazenda Pública.
É bom lembrar que a Lei n. 9.268, de j0 de abril de 1996, alterou o art
114, ao dispor expressamente que a prescrição da pena de multa ocorrerá no
mesmo prazo estabelecido para a prescrição da pena privativa de liberdade,
quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativa
mente aplicada. Dispôs, ainda, que, transitada em julgado a sentença conde
natóna, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhe as normas
da legislação relativa à divida ativa da Fazenda Pública
3. Conclusão
O Direito Penal não é panacéia para todos os males da sociedade. Es
sas novas tendências valorizam o Direito Penal, que só deve ser chamado
quando, realmente, a sua atuação for imprescindível, quando estiver em jogo
um bem de real significado para a sociedade e que só ele possa agir
eficazmente.
Nem tudo, pois, está perdido.
Afinal,
A tendência da natureza do homem para o bem é como a
tendência da água em fluir para baixo. Não há quem não
tenha essa tendência para o bem, como toda água tende a
fluir para baixo (Mêncio)
Este livro deve ser devolvido na Óit(ma data carimbada.
12 MAR 20W
16 MAR 201 O
23 ABR 201 -
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA
P REGIÃO
PODER JUDiCiÁRIO -
~‘~TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1’ REGIAO
FICHA DE BOLSOL
1. AUTOR
J
TDIJRINJW.HETOrFERNANDILDACUSTR
NOVAS TERD~NCIAS DII DIREITO PENAL
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3 DATA 4. REGISTRO 5. RUBRICA
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340
C 327
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V,, 38
Tribunal Regional Federal da 1 Região
Edificios Sede e Anexo 1
SAS - Quadra 02
Praça dos Tribunais Superiores
CEP: 70095-900 Brasília - DF
Edificio Adriana — Anexo II
SBS — Quadra 02— Lote 12 —Bloco F
CEP: 70070-100 Brasília - DI’
PABX: 314-5225 TELEX: 613522J612065 —FAX:322-1150
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