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Resenha bourdieu Dominação masculina

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Aluna: Patricia M. Montini 
Obs: Esse texto está no meu blog, http://enquantoensaio.blogspot.com.br/
A Dominação Masculina (Pierre Bourdieu)
	Bourdieu aponta como motivação para sua obra um fenômeno que sempre o intrigou, o de não haver um maior número de transgressões ou subversões, sendo a ordem do mundo grosso modo respeitada e facilmente perpetuada, juntamente com seus privilégios, injustiças e relações de dominação; dentre estas, a masculina, para ele, exemplo por excelência desta submissão paradoxal.
	A dominação masculina foi definida por Bourdieu como uma violência simbólica, invisível às suas próprias vítimas e essencialmente exercida pelas vias simbólicas da comunicação e do conhecimento; sendo as principais instâncias de elaboração e imposição de seus princípios - exercidos inclusive no universo privado - a Escola e o Estado, campos de ação que, para o autor, deveriam ser o foco principal das lutas feministas. 
De acordo com Bourdieu, a questão principal seria a de revelar os processos responsáveis pela transformação da história em natureza, do arbitrário cultural em natural; devolvendo, assim, à diferença entre o masculino e feminino seu caráter puramente arbitrário e contingente. As aparências biológicas, conjugadas aos efeitos reais nos corpos e mentes, do “longo trabalho coletivo de socialização do biológico e de biologização do social” (p. 4), seriam capazes de inverter efeitos e causas, naturalizando, assim, essa construção social. Dessa forma, segundo o autor, durante a socialização homens e mulheres incorporam - como esquemas inconscientes de percepção e apreciação - as estruturas históricas da ordem masculina; arriscando-se, portanto, ao procurar compreender o fenômeno (inclusive quando pesquisadores), a utilizar modos de pensamento que também são produtos dessa mesma dominação. 
Para evitar esse círculo vicioso, quebrar a familiaridade enganosa da nossa tradição e alcançar a necessária “objetivação do sujeito da objetivação científica” (p.6), Bourdieu optou por uma estratégia prática: a análise etnográfica das estruturas objetivas e formas cognitivas de uma sociedade histórica específica e androcêntrica, os Berberes da Cabília; segundo ele, uma sociedade ao mesmo tempo exótica e familiar, cujas tradições seriam paradigmáticas para as demais sociedades mediterrâneas. A análise etnográfica foi tratada por ele como instrumento para um “trabalho de socioanálise do inconsciente androcêntrico, capaz de operar a objetivação das categorias deste inconsciente” (p. 6); facilitando a exploração das “categorias do entendimento” ou “formas de classificação” (Durkheim) com as quais construímos o mundo, e realizando, portanto, uma “arqueologia objetiva” (p. 4) de nosso próprio inconsciente [não se trata, aqui, do inconsciente freudiano, mas de um inconsciente ligado a um trabalho de construção histórica].
Segundo Bourdieu, a escolha da Cabília se justificaria pelo fato de que a tradição cultural que ali se manteve, constitui “uma realização paradigmática da tradição mediterrânea” (p. 7), toda a área cultural européia inclusive partilhando dessa tradição. Para o autor, os camponeses das montanhas da Cabília salvaguardaram - protegidas pela relativamente inalterada coerência prática de suas condutas e discursos - estruturas que representam uma forma paradigmática da cosmologia androcêntrica, comuns a todas as sociedades mediterrâneas. Tais estruturas teriam sobrevivido até hoje em nossas próprias estruturas cognitivas e sociais - embora de maneira parcial, como se estivessem fragmentadas -, produzindo efeitos nas relações sociais e institucionais do mundo contemporâneo.
Bourdieu ressalta que, em contextos como o da sociedade Cabila, nos quais as diferenças sexuais se mantém submersas no “conjunto das oposições que organizam todo o cosmos, os atributos e atos sexuais se vêem sobrecarregados de determinações antropológicas e cosmológicas” (p. 7), desta forma ocultando sua significação mais profunda. Para o autor, essa relação social de dominação dificilmente emerge na consciência dos envolvidos, como parte de sua própria constituição e também de um sistema de relações de sentido aparentemente independentes de qualquer relação de força:
Arbitrária em estado isolado, a divisão das coisas e das atividades (...) segundo a oposição entre o masculino e o feminino recebe sua necessidade objetiva e subjetiva de sua inserção em um sistema de oposições homólogas, alto/baixo, em cima/embaixo, na frente/atrás (...). Esses esquemas de pensamento, de aplicação universal, registram como que diferenças de natureza, inscritas na objetividade, das variações e dos traços distintivos (...) que eles contribuem para fazer existir, ao mesmo tempo que as “naturalizam” (...); de modo que as previsões que elas engendram são incessantemente confirmadas pelo curso do mundo (p. 8).
Segundo Bourdieu, essa concordância entre as estruturas objetivas e cognitivas, entre a “conformação do ser e as formas do conhecer, entre o curso do mundo e as expectativas” (p. 8), é capaz de fazer com que a divisão entre os sexos aparente ser algo natural e inevitável; objetivamente presente nas coisas, no mundo social, e também incorporada nos corpos e habitus dos agentes. 
Para o autor, é comum aos dominantes a tendência a apresentar como universal sua maneira particular de ser; sendo uma evidência da força da dominação masculina o fato de que esta dispensa qualquer justificação. A ordem social ratifica essa dominação de maneira concreta - inclusive quanto à estruturação do espaço e do tempo - por meio da divisão social do trabalho, cujas características são bastante distintas para os dois sexos. Assim, “as disposições (habitus) são inseparáveis das estruturas (...) que as produzem e reproduzem, tanto nos homens como nas mulheres” (p. 27) e a “violência simbólica se institui por intermédio da adesão que o dominado não pode deixar de conceder ao dominante” (p. 23). Na sociedade Cabila
o princípio da inferioridade e da exclusão da mulher, que o sistema mítico-ritual ratifica e amplia, a ponto de fazer dele o princípio de divisão de todo o universo, não é mais que a dissimetria fundamental, a do sujeito e do objeto, do agente e do instrumento, instaurada entre o homem e a mulher no terreno das trocas simbólicas, das relações de produção e reprodução do capital simbólico (p. 27).
Relativamente à gênese do habitus feminino e às condições de sua realização em nossa sociedade, Bourdieu afirma que tudo concorre “para fazer da experiência feminina do corpo o limite da experiência universal do corpo-para-o-outro, incessantemente exposto à objetivação operada pelo olhar e pelo discurso dos outros” (p. 39). O olhar sendo caracterizado pelo autor não como uma maneira universal de objetivação, mas como um poder simbólico, “cuja eficácia depende da posição relativa daquele que percebe e daquele que é percebido, e do grau em que os esquemas de percepção e apreciação postos em ação são conhecidos e reconhecidos por aquele a quem se aplicam” (p. 40).
	Segundo Bourdieu, a dominação masculina também impõe pressões aos próprios dominantes; porém com desdobramentos distintos, tendo em vista que, de alguma maneira, os homens sempre podem se beneficiar com isto, “por serem, como diz Marx, ‘dominados por sua dominação’” (p. 42).
	Apesar das mencionadas dificuldades para uma tomada de consciência por parte de ambos os sexos, no que diz respeito aos processos da dominação masculina, Bourdieu ressalta o fato de que na atualidade esta já “não se impõe mais com a evidência de algo que é indiscutível” (p. 53); atribuindo as mudanças ao trabalho crítico do movimento feminista, o qual conseguiu, em algumas áreas do espaço social, romper o reforço generalizado. Para o autor,
só uma ação política que leve realmente em conta todos os efeitos de dominação que se exercem através da cumplicidade objetiva entre as estruturas incorporadas (...) e as estruturas de grandes instituições onde se realizam e se produzem não só a ordem masculina mas tambémtoda a ordem social (...) poderá, a longo prazo, (...) contribuir para o desaparecimento progressivo da dominação masculina (p. 69).
Referência
BOURDIEU, Pierre (1998). A Dominação Masculina.Tradução: Maria Helena Kuhner. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2ª edição, 2002.
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