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Percurso-Sociologia-2020

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Apostila Didática 2020
SOCIOLOGIA
Capítulo 1 - Socioantropologia 
Capítulo 1 - Socioantropologia - Exercícios
312
356
380
332
369
389
Capítulo 2 - Ciência Políticas 
Capítulo 2 - Ciência Políticas- Exercícios 
Capítulo 3 - Ciências Sociais em Temas
Capítulo 3 Ciências Sociais em Temas - Exercícios
SOCIOLOGIA
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
312 Sociologia | Curso Enem 2019 
CAPÍTULO 1
Curso Enem 2019 | Sociologia
Ciências Sociais em Temas 
INTRODUÇÃO: EM BUSCA DA 
IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA
CAPÍTULO 1
Socioantropologia
Socioantropologia
APRESENTAÇÃO
Este material foi pensado e projetado para ser executado por 
você, estudante do Percurso, em parceria com seus colegas e 
amigos, sob a supervisão e as orientações do seu mestre, o 
professor. Seja muito bem-vindo (a)!
No decorrer de nossa trajetória, buscaremos integrar duas 
dimensões fundamentais: Por um lado, conhecer teorias so-
ciológicas, antropológicas e políticas. Por outro lado, aprender 
a fazer sociologia, antropologia e ciência política. Isso impli-
cará, ao menos, uma tríplice atenção e cultivo. Inicialmente, 
uma conversão de nosso olhar para as múltiplas dimensões 
da realidade social, antropológica e política, buscando captar 
singularidades, relações, confl itos, e diferentes processos de 
construções históricos. Implicará, igualmente, leitura atenta 
das teorias que caracterizam os autores mais expressivos das 
áreas de conhecimento que compõem as ciências sociais. Em 
terceiro lugar, implicará a aprendizagem de competências e 
habilidades relacionadas ao aprender a fazer análises socioló-
gicas, leitura e interpretação de textos
O conteúdo que veremos poderá não nos ser estranho. Ele 
provavelmente será muito familiar, uma vez que o vemos ou 
ouvimos diariamente em diferentes meios. Contudo, a forma 
de abordar essa realidade familiar deverá ser diferente da for-
ma corriqueira de como tratamos o assunto. Conforme Gil-
berto Velho, “O que sempre vemos e encontramos pode ser 
familiar mas não é necessariamente conhecido e o que não 
vemos e encontramos pode ser exótico mas, até certo pon-
to, conhecido” (VELHO;1987:126). Desse modo, deveremos 
aprender a “estranhar o familiar”, com uma atitude de distan-
ciamento crítico.
Essa nossa tarefa de sermos aprendizes de sociologia, de an-
tropologia e de ciência políticas em espaços sociais cada vez 
mais complexos e diversifi cados, pede de nós uma atitude 
capaz de desnaturalizar as questões, de reconhecer a dimen-
são histórica presente em tudo o que constitui as sociedades 
humanas. 
Dito isso, reitero o convite a fazermos uma aprendizagem ver-
dadeiramente signifi cativa, na qual possamos nos apropriar 
das muitas conquistas das ciências sociais, ao mesmo tempo 
em que nos capacitemos e habilitemos para podermos inter-
vir no universo social e político tendo em vista uma sociedade 
democrática, plural e inclusiva.
O autor.
1. A modernidade científi ca e o
positivismo
a) A sociologia na emergente sociedade industrial e ca-
pitalista
O que precisam [os indivíduos de hoje em dia] e o que 
sentem precisar é uma qualidade do espírito que lhes 
ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a 
fi m de perceber com lucidez o que está ocorrendo 
no mundo e o que pode estar ocorrendo dentro de-
les mesmos. É essa qualidade, afi rmo, que jornalistas 
e professores, artistas e públicos, cientistas e editores 
estão começando a esperar daquilo que poderemos 
chamar de imaginação sociológica [...]
O primeiro fruto dessa imaginação e a primeira lição 
da ciência social que a incorpora é a ideia de que o in-
divíduo só pode compreender a sua própria experiên-
cia e avaliar seu próprio destino localizando-se dentro 
de seu próprio período; só pode conhecer suas pos-
sibilidades na vida tornando-se cônscio das possibili-
dades de todas as pessoas, nas mesmas circunstancias 
em que ele. [...].
Para compreender as modifi cações de muitos ambien-
tes pessoais temos a necessidade de olhar além deles. 
E o número e a variedade dessas modifi cações estru-
turais aumentam à medida que as instituições dentro 
das quais vivemos se tornam mais gerais e mais com-
plicadamente ligadas entre si. Ter consciência da ideia 
da estrutura social e utilizá-la com sensibilidade é ser 
capaz de identifi car as ligações entre uma grande va-
riedade de ambientes de pequena escala. Ser capaz de 
usar isso é possuir a imaginação sociológica. 
(MILLS;1982: p. 9-17)
Num período de oitenta anos, ou seja, entre 1780 e 
1860, a Inglaterra havia mudado de forma marcante a 
sua fi sionomia. País com pequenas cidades, com uma 
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
313
CAPÍTULO 1Socioantropologia
Curso Enem 2019 | Sociologia 
c) O positivismo e os estágios da humanidade
No primeiro estagio da humanidade , o ser humano explica os 
fenômenos fazendo referência a vontades exteriores, sobre-
naturais, divindades. Comte denomina esse estado de teológi-
co ou fi ctício, encarnado historicamente no período medieval.
A passagem do primeiro estado, o teológico, para o segundo 
estágio, o metafísico ou abstrato representou uma verdadeira 
revolução, por trazer uma nova visão de mundo. No segundo 
estado, estado da metafísica, acontece um deslocamento dos 
deuses para as abstrações. Trata-se ainda de uma preocupa-
ção com o absoluto, só que agora localizado não mais em se-
res sobrenaturais, mas em ideias abstratas. Historicamente, a 
revolução francesa seria representação desse estagio.
Finalmente, o terceiro estágio, o estado físico, é aquele em 
que o ser humano abandona as pretensões metafísicas ou 
absolutas, concentrando-se nas evidencias empíricas, naqui-
lo que é relativo, e não absoluto. Há uma radical mudança da 
imaginação abstrata para a observação. Augusto Comte, na 
obra Discurso sobre o espírito positivo, caracteriza o positivis-
mo como a saber compromissado com a realidade, por meio 
de pesquisas verifi cáveis através da experiência. 
d) Nos caminhos da antropologia
Nos processos renascentistas e modernos de colonização, não 
é difícil imaginar a reação dos viajantes europeus ao se depa-
rarem com povos bem distintos, tanto física quanto cultural-
mente. A antropologia cultural nasce com esse olhar sobre as 
culturas não europeias. E como foram esses primeiros olhares? 
O que sabemos desses olhares? Veremos isso a seguir.
O Evolucionismo Cultural
A concepção evolucionista está no contexto da publicação da 
obra “A origem das espécies”, de Charles Darwin, em 1859. Um 
postulado histórico específi co do século XIX é o princípio do 
monogenismo, postulado pós-darwiniano que afi rma que 
toda a humanidade teria uma origem comum. Nesse caso, 
tendo os seres humanos a mesma ou comum origem, como se 
deveria compreender e explicar a diversidade que existe entre 
as diferentes tradições culturais? 
Essa é a grande questão com a qual os antropólogos evolu-
cionistas se defrontaram. E a resposta que constitui o modo 
singular de pensar dessa tradição afi rma que os povos evo-
luem numa mesma direção de modo uniforme e ascen-
dente, partindo do estágio selvagem, passando pelo estágio 
da barbárie, até chegar no estágio civilizacional. Haveria desse 
modo uma natureza homogênea da humanidade. Entre os 
antropólogos mais importantes desse período merecem des-
taque o americano Lewis Henri Morgan (1818-1881) e o Inglês 
Edward Burnett Tylor (1832-1917) e o escocês James George 
Frazer (1854-1941). 
Esse evolucionismo cultural serviu como a ideologia que moti-
vou os processos de colonização realizados pelo imperialismo 
europeu nos diferentes continentes. Nesse contexto, enten-
de-se a ideia de que haveria diferentes raças humanas. E não 
é difícil imaginar como esse conceito, situado historicamen-
te, pode ser usado para justifi car a exploração dos europeus 
sobre outros povos, outras etnias. Atualmente, o termo que 
se usa para essa atitude é etnocentrismo ou, especifi camente, 
eurocentrismo.
As revoluções Industrial e Francesa provocaram profundas 
transformações na sociedade moderna, especialmente rela-cionadas à industrialização e urbanização. A rapidez das mu-
danças fez com que a sociedade moderna se transformasse 
em um problema a ser investigado e explicado. A sociologia 
se forma nesse contexto com essa fi nalidade, tentando com-
preender as novas condições sociais do mundo em mudança. 
Portanto, pode-se afi rmar que a Sociologia é a forma de co-
nhecimento genuinamente moderna, expressando uma nova 
visão de mundo.
b) O positivismo e o otimismo técnico-científi co
Para Comte, o objeto e o objetivo da ciência deve ter relação 
com a pesquisa e o conhecimento das leis que regem os fe-
nômenos. E as leis são como que as relações necessárias que 
derivam da natureza de cada fenômeno. Uma vez tendo ciên-
cia dessas leis, o resultado disso será a possibilidade efetiva de 
prever o funcionamento futuro desses fenômenos. E com essa 
habilidade, o ser humano poderá ter uma vida melhor, poderá 
usar isso para o seu proveito, poderá agir sobre a natureza. 
Desse modo, para Comte, ciência possibilita conhecimento, 
conhecimento possibilita previsão, previsão possibilita ação.
Buscando conhecer as leis dos fenômenos sociais, a Sociologia 
coloca-se no caminho da observação dos fatos e neles busca 
as regularidades. Embora a sociologia, como ciência, busque 
o conhecimento, esse conhecimento não é fi m em si mesmo.
Em Comte, a sociologia volta-se também para fi ns práticos, de 
natureza intelectual, moral e política, para o aperfeiçoamento 
moral do ser humano. 
Desse modo, os sociólogos deveriam atuar como “sacerdotes”, 
capazes de aconselhar, de orientar. Por um lado, existiria o Es-
tado, com o poder temporal. Por outro lado, existiria o poder 
espiritual, que seria o poder da sociedade civil, na qual os so-
ciólogos deveriam estar e atuar com formadores ou reforma-
dores da opinião publica.
população rural dispersa, passou a comportar enor-
mes cidades, nas quais se concentravam suas nascen-
tes indústrias, que espalharam produtos para o mundo 
inteiro. Tais modifi cações não poderiam deixar de pro-
duzir novas realidades para os homens dessa época. 
A formação de uma sociedade que se industrializava 
e urbanizava em ritmo crescente implicava a reorde-
nação da sociedade rural, a destruição da servidão, o 
desmantelamento da família patricial etc. A transfor-
mação da atividade artesanal em manufatureira e, por 
último, em atividade fabril, desencadeou uma maciça 
emigração do campo para a cidade, assim como en-
gajou mulheres e crianças em jornadas de trabalho de 
pelo menos doze horas, sem férias e feriados, ganhan-
do um salário de subsistência. Em alguns setores da 
indústria inglesa, mais da metade dos trabalhadores 
era constituída por mulheres e crianças, que ganha-
vam salários inferiores dos homens. A desaparição dos 
pequenos proprietários rurais, dos artesãos indepen-
dentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho 
etc. tiveram um efeito traumático sobre milhões de 
seres humanos ao modifi car radicalmente suas formas 
habituais de vida. Estas transformações, que possuíam 
um sabor de cataclisma, faziam-se mais visíveis nas 
cidades industriais, local para onde convergiam todas 
estas modifi cações e explodiam suas consequências.
(MARTINS; 1994: p. 12)
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
314 Sociologia | Curso Enem 2019 
CAPÍTULO 1
Curso Enem 2019 | Sociologia
Socioantropologia
ridade em suas singularidades foi preciso superar o “olhar de 
fora e de longe” e instaurar a etnografia definida como o olhar 
“de perto e de dentro” (MAGNANI; 2002:11).
*ALTERIDADE provém do vocábulo latino alteritas, 
que significa “outro”. Desse modo, alteridade significa
o encontro entre “outros”, o plano das relações inter-
subjetivas, heterogêneas, entre individuos diferentes
que se reconhecem e se respeitam como outros.
Nessa habilidade de colocar-se na ótica do outro e buscar ver 
o mundo com os olhos dos “nativos”, em um encontro auten-
tico com as expressões culturais do outro, podem acontecer
alterações nas próprias expressões culturais dos indivíduos ou 
grupos que entram em relação.
A abordagem antropológica provoca, assim, uma ver-
dadeira revolução epistemológica, que começa por 
uma revolução do olhar. Ela implica um descentra-
mento radical, uma ruptura com a ideia de que exis-
te um "centro do mundo" e, correlativamente, uma 
ampliação do saber e uma ampliação de si mesmo. 
(LAPLANTINE;2000:p. 22)
Cultura: Um conceito polissêmico 
Etimologicamente, a palavra cultura deriva do verbo latino co-
lere, que significa cultivar, criar, cuidar. Desse modo, da forma 
de cultivar e de cuidar nascem certos hábitos, comportamen-
tos, produtos, objetos e técnicas. Nesse sentido, cultura é tudo 
o que foi cultivado e criado pelo fazer humano, tanto em sua
dimensão material, de objeto criado, quanto em sua dimen-
são psíquica ou espiritual, das ideias, dos valores, das crenças.
2. Karl Marx e a sociologia do
capitalismo
a) O materialismo histórico e dialético
Os homens fazem sua própria história, mas não a fa-
zem como querem, não a fazem sob circunstancias de 
sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam 
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. 
(MARX; 1974: p.335)
O pensamento filosófico e sociológico de Karl Marx Karl Marx 
(1818-1883) a concepção filosófica segundo a qual o modo de 
pensar do ser humano está condicionado pelo seu contexto 
material, por suas relações sociais, pelos meios de produção e 
reprodução de sua existência, conforme consagrada e repeti-
da expressão de Marx: “Não é a consciência dos homens que 
determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que 
determina a sua consciência” ( MARX; 1997: 254).
Contra uma perspectiva liberal centrada no indivíduo e seus 
direitos individuais, Marx parte do pressuposto de que o ser 
humano é um ser social e político. E isso não de maneira abs-
trata, mas bem concreta, como um ser que tem sua vida con-
dicionada historicamente pelo meio onde vive, pelas condi-
ções que afetam a sua realidade de vida e os modos como vai 
O Culturalismo americano de Franz Boas
Para o antropólogo Franz Boas (1858-1942), cada cultura tem 
sua história singular. E não se deveria proceder a comparações 
à luz de um pretenso sentido único, ascendente, evolutivo, 
uma vez que a história seria múltipla e variada. Contrapondo 
a cultura à natureza biológica, Franz Boas critica um dos valo-
res liberais mais fortes, o valor da igualdade, por reconhecer 
na forma como essa ideia estava sendo pensada um caráter 
etnocêntrico, que não permitia reconhecer as diferentes his-
tórias, as diferentes sociedades. Isso representou uma grande 
revolução nos começos da antropologia, uma vez que a con-
dição humana não deve ser olhada sob o ângulo da biolo-
gia, mas sob a perspectiva da cultura.
O funcionalismo inglês de Malinowski
O antropólogo polonês Bronislaw Malinowski (1884-1942) é 
considerado um dos fundadores da Antropologia Social. Sua 
reflexão antropológica supera a visão evolucionista e, com seu 
o novo método antropológico, conhecido como etnografia*, 
trouxe uma decisiva contribuição para os caminhos que a an-
tropologia iria percorrer a partir de então.
Boas e Malinowski identificam o antropólogo como um pro-
fissional da “pesquisa de campo”. Cabe ao antropólogo ir ao 
campo e ele mesmo deverá fazer as pesquisas e estudar os 
modos particulares de vida de cada grupo cultural. Por essa 
razão, podemos afirmar que esses dois antropólogos são con-
siderados os fundadores da etnografia. 
*ETNOGRAFIA: Observação participante .
Segundo Malinowski, para que haja uma verdadeira 
aproximação à compreensão de uma cultura, em sua 
singularidade, é preciso que o pesquisador ou o antro-
pólogo faça etnografia, ou seja, que seu método con-
sista em uma pesquisa de profundidade, tornando-se 
membro da comunidade cuja vida e relações serão 
estudadas e analisadas. Trata-se de uma “observação 
participante”, que capta ações e palavras no ato, no 
momento em que acontecem.
Para compreender uma cultura singular, o antropólo-
go mergulha emsuas tradições, passando a conviver 
com a comunidade local. Desse modo poderá evitar 
a formulação de juízos abstratos e preconceituosos. 
Esse método de compreensão e de interpretação dos 
traços de uma cultura, de sua língua, de seus costu-
mes, de seus valores e de suas práticas, por meio de 
diferentes técnicas e instrumentos é conhecido como 
etnografia. 
Com essas reflexões torna-se compreensível o quanto 
a antropologia é bem definida como ciência da alte-
ridade* ou da diversidade cultural. Para se conseguir 
ver e reconhecer a alteridade em suas singularidades 
foi preciso superar o “olhar de fora e de longe” e ins-
taurar a etnografia definida como o olhar “de perto e 
de dentro” 
(MAGNANI; 2002:11).
Com essas reflexões torna-se compreensível o quanto a an-
tropologia é bem definida como ciência da alteridade* ou da 
diversidade cultural. Para se conseguir ver e reconhecer a alte-
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
315Curso Enem 2019 | Sociologia
CAPÍTULO 1Socioantropologia
produzir e reproduzir a sua sobrevivência e a sua existência, 
em termos materiais e imateriais, econômicos e espirituais, di-
mensões que caminham juntas, de modo inseparável.
b) A divisão social em Classes sociais.
Para Marx, a divisão social no sistema capitalista deve ser com-
preendida como sendo estruturada a partir de classes antagô-
nicas. Existe a classe dos proprietários dos meios de produção 
e existe a classes dos não proprietários, dos trabalhadores. 
Nessa divisão em classes, a classe dominante é a dos proprie-
tários que cria estratégias para perpetuar essa situação.
c) O trabalho humano alienado.
Segundo Marx, a automação do processo produtivo implica 
não só a alienação do trabalhador e a alienação do produto 
do seu trabalho, mas produz uma vida estranha, de opressão 
não natural.
Estes trabalhadores, que precisam vender a si próprios 
aos poucos, são uma mercadoria como qualquer outro 
artigo do comércio, e são, por consequência, expostos 
a todas as vicissitudes da competição, a todas as flu-
tuações do mercado. Em virtude do uso excessivo de 
maquinarias e da divisão do trabalho, o trabalho dos 
proletários perdeu todo o seu caráter individual e, em 
consequência, todo o estímulo para o trabalhador. Ele 
se torna um apêndice da máquina e dele só é exigi-
da a habilidade mais simples, mais monótona e mais 
facilmente adquirida. Por isso, o custo da produção 
de um trabalhador é restrito, quase completamente, 
aos meios de subsistência que ele requer para a sua 
manutenção e para a propagação de sua raça. (MARX e 
ENGELS; 1998: p. 20).
Para o operário, o trabalho, no sistema capitalista, transforma-
se em mortificação do ser do trabalhador, uma atividade es-
tranha, que não realiza a personalidade do trabalhador
d) A ideologia como instrumento de classe
O instrumento que a classe dominante cria para a manuten-
ção do status quo, para a perpetuação da situação de explo-
ração, é a ideologia, capaz de fazer a classe dominada pensar 
que a situação na qual se encontra seja natural. Desse modo, 
a ideologia é instrumento da burguesia para dominar a 
consciência do oprimido, invertendo o sentido das coisas, 
mascarando a realidade e impedindo a percepção da ação 
opressora de uma classe sobre a outra. Portanto, a dimen-
são ideológica consiste em manipular a consciência a partir 
de cima, de cima para baixo, dos interesses da burguesia que 
são universalizados, impostos a todos. Com isso, a consciência 
do trabalhador fica refém de uma mentalidade estranha à ver-
dadeira realidade. É nesse estranhamento, no qual o operário 
não mais se pertence, que consiste em a alienação.
e) A Natureza classista do Estado
Marx (1818-1883) analisa o Estado em perspectiva oposta a de 
Hobbes. Em Hobbes, o Estado aparece como a solução criada 
pela sociedade, pois dará fim ao reino da violência que resulta 
da impulsividade agressiva do ser humano, lobo do homem. 
Para Marx, o Estado seria um conjunto de meios de coerção, 
criado por uma classe para dominar a outra. Sob a ótica de 
Marx, na contramão de Hobbes e do idealismo de Hegel, e 
influenciado por Feuerbach, o Estado não resultaria de um 
acordo entre os indivíduos de uma sociedade, mas do poder 
organizado da classe dominante..
f) Infraestrutura e superestrutura.
Esses são dois conceitos centrais no pensamento de Karl Marx. 
Na contramão do idealismo, a teoria materialista de Marx afir-
ma que no centro de toda a vida social está a estrutura eco-
nômica, a infraestrutura que forma a unidade central e que 
tudo conecta. Por isso nada pode ser pensado fora da estru-
tura econômica, a base material de tudo, a matéria-prima, 
os meios de produção e a relações de produção. Assim, por 
exemplo, a linguagem é um fenômeno social, a religião é um 
fenômeno social, as leis, os valores, tudo deve ser visto como 
decorrência dessa base material, da produção material da 
existência humana. É dessa necessidade humana de produzir 
e reproduzir a vida que se forma a consciência. 
A consciência não se forma do nada. Ela pressupõe uma base 
concreta, constituída pelas relações humanas concretas. E 
essa consciência situada no concreto se exterioriza ou se ex-
pressa por meio da linguagem. A superestrutura, na visão 
de Marx, seria um produto, uma criação da classe dominante 
para consolidar a dominação que ela exerce sobre a classe dos 
trabalhadores ou operários. Assim, a super-estrutura seria a 
estrutura jurídica, política e ideológica (Estado, Leis, Religião, 
Meios de comunicação, etc.), que não pode ser explicada por 
si mesma ou em si mesma, ela é uma criação a serviço de algo. 
Em Marx, são criações burguesas a sérvio dos interesses de 
sua classe.
g) A mais-valia
Desse processo de exploração e alienação, segundo Marx, 
nascem margens cada mais amplas de lucro, mola mestra do 
capitalismo. A força de trabalho seria mera mercadoria, mas 
uma mercadoria capaz de criar valor, e o valor criado terá di-
reta relação com o tempo dispendido e com as tecnologias 
investidas no serviço da mercadoria. Com efeito, todo o in-
vestimento capitalista está em função do lucro. Dessa forma, 
a organização do trabalho é feita com o objetivo de adquirir 
sempre maior mais-valia
A mais valia refere-se ao excedente ou à diferença en-
tre o que o patrão gasta com o operário e o que ele 
ganha com o produto desse trabalho. Pode-se falar em 
“um trabalho não pago, disfarçado pela forma de sa-
lário, do qual se extrai a mais-valia” (DUSSEL; 2000: p. 327).
 
Com o investimento em novas tecnologias, e com as exigên-
cias de um mundo cada vez mais acelerado em todos os âmbi-
tos da vida capitalista, a tendência desse excedente ou desse 
lucro é ser crescentemente maior, uma vez que não haveria 
significativas contrapartidas para o trabalhador. E o mais sério 
ou profundo seria a progressiva substituição do trabalhador 
por máquinas que realizariam esse trabalho com mais efici-
ência e rapidez.
h) As crises cíclicas do capitalismo
Para Marx e Engels, em termos econômicos, o capitalismo 
consiste num tripé: produzir mercadoria, circular mercadoria 
e consumir mercadoria. É disso que resulta o acúmulo privado 
de riqueza e é dessa lógica que decorrem as permanentes ou 
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
316 Sociologia | Curso Enem 2019 
CAPÍTULO 1
Curso Enem 2019 | Sociologia
Socioantropologia
cíclicas crises do sistema capitalista. Para esses autores, o capi-
talismo tem um incontrolável impulso que vira uma epidemia, 
a epidemia da superprodução.
 
As condições da sociedade burguesa são estreitas de-
mais para abranger toda a riqueza que criou. E como 
faz a burguesia para vencer essas crises? Por um lado, 
reforça a destruição da massa de forças produtivas; por 
outro lado, tenta conquistar novos mercados e busca 
uma exploração mais completa dos antigos. Ou seja, 
pavimentando o caminho para crises mais extensas 
e mais destrutivas e diminuindo os meios pelos quais 
previnem-se crises. (Marx e Engels;1998: p.19)
i) Revolução do proletariado
Considerando a histórica realidade de opressãoe dominação 
por parte da classe dominante, a libertação do trabalhador vi-
ria somente na negação das múltiplas negações que lhe são 
impostas. E como se faria essa afirmação da dignidade do tra-
balhador? Marx se refere a uma revolução do proletariado, por 
meio da qual a propriedade de si mesmo e de sua produção 
deverá voltar aos trabalhadores. Isso implicaria a destruição 
da realidade da propriedade privada, que se encontra condi-
cionada por uma realidade histórica de classe dominante
.
Quando os indivíduos que foram transformados em vítimas 
pelo sistema se unirem em comunidade, somente então, afir-
ma Marx, poderá acontecer a superação da imposição capita-
lista. Marx sinaliza para a condição de superação histórica das 
alienações: a atuação da comunidade.
 E sem a opressão de classe, as relações humanas passariam a 
ser mais autônomas e livres, e os objetos produzidos não se-
riam mais concebidos como propriedade privada, mas como 
propriedade coletiva, resultante de um trabalho cooperativo. 
A partir de Marx, podemos sintetizar o modo de produção so-
cialista como o modelo econômico estruturado sobre a pro-
priedade social ou coletiva dos meios de produção. Por meio 
do socialismo*, o comunismo poderia ser instaurado e com 
ele teríamos o fim do Estado classista que existe no capitalis-
mo.
: O SOCIALISMO é um sistema econômico e político, 
um modelo de organização social, que nasce como 
um novo ideal, em reação às péssimas condições de 
vida dos trabalhadores no século XIX. Esse modelo se 
contrapõe ao liberalismo e ao capitalismo, fundados 
na propriedade privada dos meios de produção.
Entre os ideais de luta do socialismo temos a extin-
ção da propriedade privada dos meios de produção, 
a tomada do poder por parte dos operários, por meio 
da revolução do proletariado, o controle do Estado no 
sentido de assegurar a igualdade social, a destruição 
do sistema de classes e uma divisão de renda iguali-
tária, revolucionando o modo de produção que não 
mais estaria voltado para o lucro, mas para o bem co-
mum, por meio da cooperação. 
Segundo Marx, após a implantação desse novo mode-
lo social, o comunismo poderia ser instalado. 
3. Sociologia de Émile Durkheim
Émile Durkheim ( 1858-1917), ao lado de Comte, Marx e We-
ber, é um dos pais da sociologia.
a) O método de trabalho: Os fenômenos sociais como “coi-
sas”
As ciências sociais emergentes na era industrial necessitam de 
um método para fazer aparecer aquilo que é não evidente, 
para explicitar as relações implícitas. Dessa forma, há um rigor 
presente no método que o afasta do olhar mecânico e irrefle-
tido do senso comum. Por isso, o primeiro passo do método 
de trabalho do cientista social é a atitude do olhar que toma 
distancia para ver com novos olhos a realidade, buscando 
perceber as tendências que estão se formando na vida so-
cial. Dessa forma, transcendendo a intuição sensível, a atitu-
de do cientista social vem marcada por profunda habilidade 
analítica.
É preciso considerar os fenomenos sociais em si 
mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os 
concebem; é preciso estudá-los de fora, como coisas 
exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresen-
tam a nós. [...] Essa regra aplica-se portanto à realidade 
social inteira, sem que haja motivos para qualquer ex-
ceção. (DURKHEIM; 2007:p. 28-29)
Influenciado pelo pensamento positivista de Augusto Comp-
te, Durkheim insiste em analisar os fatos sociais como coisas 
objetivas, externas, anteriores ao indivíduo. Desse modo, po-
de-se encontrar uma ênfase na ideia de que as subjetividades 
não deveriam interferir no procedimento científico.
b) O objeto da sociologia: O fato social
FATO SOCIAL é toda a maneira de fazer, fixada ou não, 
suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção 
exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral 
na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo 
tempo, possui uma existência própria, independente 
de suas manifestações individuais. (DURKHEIM; 2007: p.13)
A partir desse fragmento, vemos que o conceito de fato so-
cial se refere à realidade social como independente e anterior 
ao sujeito que a vivencia. Assim, em primeiro lugar, os fatos 
sociais são marcados pela exterioridade e pela objetividade; 
ou seja, existem e atuam sobre os indivíduos independente-
mente de sua vontade ou de sua livre e consciente adesão. 
Assim, cada indivíduo ao nascer em uma sociedade é recebido 
e educado numa tradição já existente. Em decorrência disso, 
uma segunda dimensão se impõe: a coercitividade; o fato 
social traz sua identidade vinculada à coerção social. Em ou-
tros termos, as normas, as regras, os costumes sociais exercem 
força e pressão prévias sobre o indivíduo. Uma terceira carac-
terística do fato social é a generalidade, ele se impõe a todos 
os indivíduos daquele grupo social. Vinculada à noção de ge-
neralidade, Durkheim aborda a noção de consciência coletiva. 
Entendida como conjunto de crenças e sentimentos comuns 
à média dos membros de uma comunidade, a consciência co-
letiva forma a moral vigente na sociedade, em conformidade 
com a qual atitudes serão interpretadas como morais ou imo-
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
317Curso Enem 2019 | Sociologia
CAPÍTULO 1Socioantropologia
Suicídio altruísta
Em relação ao tipo altruísta de suicídio, que pode ser classi-
ficado como heroico ou religioso, um traço comum nesses 
casos é o excessivo vínculo ao grupo, predominando nele a 
paixão, a entrega vital. 
Se uma individuação excessiva leva ao suicídio, uma 
individuação insuficiente produz os mesmos efeitos. 
Quando é desligado da sociedade, o homem se mata 
facilmente, e também se mata quando é integrado 
rais, louváveis ou reprováveis. Em suma, sociologicamente, na 
perspectiva de Durkheim, estamos falando da prioridade do 
todo sobre as partes. Assim, o conjunto social não se reduz 
à soma dos elementos. Ao contrário, os indivíduos sentem a 
pressão do meio e suas ações são socialmente condicionadas.
c) O Suicídio como fato social normal e patológico
Suicídio é todo ato de morte provocado direta ou indi-
retamente por um ato positivo ou negativo realizado 
pela própria vítima e que ela sabia que devia provocar 
esse resultado. (DURKHEIM; 2000: p. 14)
Mesmo quando a solidão se associa ao desespero, levando o 
indivíduo ao suicídio, é a sociedade que está na raiz dessa de-
cisão, é a sociedade que move a consciência desse indivíduo e 
o conduz a esse ato solitário.
Durkheim estava seguro de que o suicídio dependia de uma 
realidade social e não da vontade dos indivíduos, uma vez que 
era perfeitamente observável e verificável a sua regularidade, 
que acontecia sempre em conformidade com as mesmas ou 
similares condições históricas. É fato verificável: em condições 
normais, as taxas de suicídio nos países se mantêm constantes 
de um ano para outro.
Considerando que as circunstâncias sociais determinam as 
taxas de suicídio, Durkheim acredita que seja possível esta-
belecer uma tipologia de suicídio. Nessa pesquisa, ele define 
quatro tipos de suicídio: suicídio egoísta, altruísta e anômico 
e fatalista
Suicídio egoísta.
Em relação ao suicídio egoísta, há maior tendência ao suicídio 
quando o pensamento do indivíduo está basicamente volta-
do sobre si mesmo¸ sem a presença e a força integradora do 
grupo social. É o afastamento do grupo. Essa forma de suicídio 
se manifesta por um estado de apatia e pela ausência de vín-
culo com a vida, decorrente do enfraquecimento do vínculo 
social.
Esse tipo de suicídio, portanto, bem merece o nome 
que lhe demos. O egoísmo não é apenas um fator au-
xiliar dele; é sua caua geradora. Se nesse caso, o víncu-
lo que liga o homem à vida se solta, é porque o próprio 
vínculo que o liga à sociedade se frouxou. Quanto aos 
incidentes da vida privada, que parecem inspirar ime-
diatamente o suicídio e que passam por ser suas con-
dições determinantes, na realidade são apenas causas 
ocasionais. Se o indivíduo cede ao menor choque das 
circunstâncias, é porque o estado em que a socieda-de se encontra fez dele uma vítima sob medida para o 
suicídio. (DURKHEIM; 2000: p. 266-267)
nela demasiado fortemente. [...]. Em todos esses casos, 
com efeito, vemos o indivíduo aspirar a se despojar de 
seu ser pessoal para mergulhar nessa outra coisa, que 
ele vê como sua verdadeira essência. Pouco importa o 
que lhe dê, é nela, e apenas nela, que ele acredita exis-
tir, e é para existir que ele se inclina tão energicamente 
a se confundir com ela. Portanto, é porque o indivíduo 
se considera como não tendo existência própria. A im-
pessoalidade, aqui, é levada a seu máximo; é o altruís-
mo em estado agudo. (DURKHEIM; 2000: p. 269.280)
O exemplo clássico dessa modalidade de suicídio é o que foi 
praticado, durante a segunda guerra mundial pelos Kamika-
zes, pilotos japoneses que voluntariamente se lançaram con-
tra os navios inimigos. E você certamente se lembra do aten-
tado terrorista de 11 de setembro de 2011, em Nova York, no 
ataque ocorrido contra as famosas Torres Gêmeas do World 
Trade Center, por dois aviões comerciais.
Nesse caso, não se trata evidentemente de suicídio 
por excesso de individualismo, mas, ao contrário, pelo 
completo desaparecimento do indivíduo no grupo. 
O indivíduo se mata devido aos imperativos sociais, 
sem pensar sequer em fazer valer seu direito à vida. 
Do mesmo modo, o comandante de um navio que 
não quer sobreviver à perda da sua nave se suicida por 
altruísmo; sacrifica-se a um imperativo social interiori-
zado, obedecendo ao que o grupo lhe ordena, a ponto 
de sufocar o próprio instinto de conservação. (ARON; 
2008: p. 484)
Suicídio anômico
Um terceiro tipo de suicídio, que é justamente o que mais in-
teressava a Durkheim, é o denominado anômico. A palavra 
anômico tem sua origem no vocábulo grego nomos, que sig-
nifica norma. Dessa forma, a palavra anomia refere-se à falta 
de normas ou de referências. Assim, suicídio anômico tem re-
lação com a debilidade dos laços que vinculam o indivíduo 
ao grupo na sociedade moderna. Percebe-se uma correlação 
entre a frequência do suicídio e a instabilidade da vida social, 
econômica e cultural. Em tempos de crise ou de prosperidade 
econômica, situações que indicam “perturbações da ordem 
coletiva”, os índices de suicídio são mais elevados.
Se, portanto, as crises industriais ou financieiras au-
mentam os suicídios, não é por empobrecerem, uma 
vez que crises de prosperidade têm o mesmo resulta-
do; é por serem crises, ou seja, perturbações da ordem 
coletiva. Toda ruptura de equilíbrio, mesmo que resul-
te em maior abastança e aumento da vitalidade geral, 
impele à morte voluntária. Todas as vezes que se pro-
duzem graves rearranjos no corpo social, sejam eles 
devidos a um súbito movimento de crescimento ou 
a um cataclismo inesperado, o homem se mata mais 
facimente. Como isso é possivel? [...] 
Qualquer ser vivo só pode ser feliz ou até só pode viver 
se suas necessidades têm uma relação suficiente com 
seus meios.[...]. Seja qual for o prazer que o homem 
tenha em agir, em se mover, em fazer esforços, é preci-
so que ele sinta que seus esforços não são vãos e que 
andando ele avança. Ora, não avançamos quando não 
andamos na direçao de nenhum objetivo.
(DURKHEIM; 2000: p.311-314)
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
318 Sociologia | Curso Enem 2019 
CAPÍTULO 1
Curso Enem 2019 | Sociologia
Socioantropologia
Suicídio fatalista
Sendo historicamente mais raro, o caso do suicídio fatalista é 
aquele que é realizado em situações de extrema pressão , de 
excessiva regulamentação social, em que o indivíduo se per-
cebe como em situação de quase ausência de liberdade. Essa 
é a razão pela qual Durkheim afirma ser raro esse tipo de suicí-
dio na modernidade. Esta tem sido uma das explicações para 
os muitos suicídios que aconteceram entre escravos que não 
suportavam a opressão social.
Assim se confrontarmos as tipificações de suicídios, construí-
das por Durkheim, veremos que ele os coloca em relação aos 
critérios de alta ou baixa regulamentação social e alta ou bai-
xa integração social. Assim, poderíamos esquematizar dessa 
forma
FORMAS DE SOLIDARIEDADE: MECÂNICA E ORGÂNICA
Durkheim se refere a duas formas de solidariedade. Inicial-
mente, considerando as primeiras formas de sociedade, em 
contexto pré-capitalista, nas quais o processo de identificação 
dos indivíduos operava-se especialmente por meio da tradi-
ção familiar e religiosa. Nesses modelos de sociedade, a forma 
de solidariedade reinante era a “mecânica”, uma forma de 
solidariedade por semelhança, na qual a consciência coleti-
va estava marcadamente presente. Nessas sociedades, por 
exemplo, um filho costuma aprender de seu pai a profissão 
e o substitui. É uma forma de solidariedade mecânica, sem a 
dimensão da escolha explicita, consciente ou reflexiva.
Nessas sociedades, predominam na consciência do indivíduo 
os sentimentos e as crenças comuns a todos, que orientam a 
vida social. É possível perceber a força dessa consciência co-
letiva por ocasião de algum crime. Quanto mais intensa for a 
consciência coletiva maior será a indignação e a revolta contra 
o crime, que é uma a violação do imperativo social que co-
manda as vidas particulares
Nas sociedades de matriz capitalista, fundamentadas na divi-
são social do trabalho, a forma de solidariedade passa a ser 
“orgânica”, pois existe maior e mais complexa interdependên-
cia, devido ao processo de acentuada especialização das di-
versas atividades e devido à crescente diferenciação existente 
entre os indivíduos. Apesar de haver maior interdependência 
entre as diversas atividades, o individualismo moderno enfra-
quece a consciência coletiva. Isso é perceptível, por exemplo, 
na pouca mobilização social coletiva contra o crime. No reino 
da solidariedade orgânica, as reações coletivas contra a vio-
lação daquilo que é considerado como proibido decrescem 
acentuadamente.
e) A Religião como Instituição social.
“A religião existe, é um sistema de fatos dados; numa palavra, ela 
é uma realidade”.
(DURKHEIM; 1978: p. 232)
Para Durkheim, importa analisar a religião sob a perspecti-
va de uma instituição social. Nessa lógica de pesquisa, ele 
acredita que a sociologia ganhará muito em sua busca de 
compreensão e explicação da relação que existe entre com-
portamentos individuais e vida social. Os rituais que existem 
nas religiões criam entre os indivíduos vínculos e alimentam 
sentimentos que corroboram uma consciência coletiva. 
Um dos principais estudos de Durkheim encontra-se em As 
formas elementares da vida religiosa, obra publicada em 
1912. Nela, afirma que a religião é um “sistema de crenças 
e de práticas”, que não necessariamente está vinculado a 
um Deus transcendente.
“A simples consideração das formas religiosas que 
nos são familiares fez acreditar durante muito tem-
po que a noção de deus era uma característica de 
tudo o que é religioso. Ora, a religião que estudare-
mos mais adiante é, em grande parte, estranha a toda 
ideia de divindade. (DURKHEIM; 1978: p. 209).
Para Durkheim, na religião a sociedade toma consciência de 
si mesma, uma vez que é expressão da consciência coletiva.
BAIXA INTEGRAÇÃO SOCIAL SUICIDIO ANÔMICO
ALTA (EXCESSIVA) 
INTEGRAÇÃO
SUICIDIO ALTRUÍSTA
BAIXA REGULAMENTAÇÃO SUICIDO ANOMICO
ALTA (EXCESSIVA) 
REGULAMENTAÇÃO
SUICIDIO FATALISTA
Embora o suicídio seja um fato social normal, o aumento da 
taxa de suicídio na sociedade moderna é fato social patoló-
gico. E o principal sintoma patológico da sociedade moderna 
é a insuficiente integração do indivíduo na coletividade. Um 
dos traços da vida moderna é a permanente novidade, a supe-
ração dos valores tradicionais e a ausência de valores sociais 
substitutivos daqueles que foram superados. Em decorrência, 
sentimentos modernos comuns são a frustração e o desgosto 
com a vida, relacionados com o hiato que existe entre a expec-
tativa pessoal e o que a sociedade oferece. 
d) A divisão social e as formas de consciência e solidarie-
dade 
Ao considerarmos o fenômeno da divisão social do trabalho,depois das análises de Karl Marx, talvez a nossa maior tentação 
seja fazer uma leitura econômica. Contudo, para Durkheim, 
a divisão social da sociedade produz em efeito moral muito 
mais significativo do que o efeito econômico. Por essa razão 
ele se concentra nessa dimensão moral. Para Durkheim, será 
graças à divisão do trabalho que a própria vida social se torna 
possível, uma vez que ela cria entre os indivíduos o sentimen-
to da solidariedade, da percepção de que estão vinculados, de 
que um depende do outro. 
Como pode uma reunião de indivíduos constituir uma socie-
dade? Como nasce o consenso? Émile Durkheim constrói uma 
reflexão sobre as possibilidades e os fundamentos de uma 
vida em sociedade. Nessa reflexão, ele afirma que sociedade 
não é uma simples justaposição de indivíduos. A sociedade 
cria a moral. E a moral social cria o indivíduo social. E é por 
meio da moralidade que a própria sociedade de sustenta. 
Assim, em Durkheim, a força motriz que gera e transforma 
a vida social é a solidariedade, produzida pela divisão social 
do trabalho. Durkheim reconhece duas formas de consciên-
cia, duas formas de solidariedade. Em uma delas predomina 
a consciência coletiva; na outra, predomina a personalidade 
individual. Vejamos a reflexão que o sociólogo desenvolve
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
319Curso Enem 2019 | Sociologia
CAPÍTULO 1Socioantropologia
A religião é, decididamente, o sistema de símbolos 
pelos quais a sociedade toma consciência de si mes-
ma; é a maneira de pensar própria do ser coletivo. Eis, 
portanto, um amplo conjunto de estados mentais que 
não se teriam produzido se as consciências particu-
lares não se tivessem unido, os quais resultam dessa 
união e se sobrepuzeram aos que derivam das nature-
zas individuais. (DURKHEIM; 2000: p.402)
Para Durkheim, a base humana que motiva essa busca coleti-
va é de natureza emotiva. Os seres humanos têm necessidade 
da vivencia comunitária, e a buscam por questões afetivas. É o 
afeto que o conduz. A religião pode ser vista como expressão 
da autocriação humana. É muito interessante percebermos 
que ao submeter-se à religião, que é imagem e produto social, 
os indivíduos encontram-se condicionados à própria socieda-
de. Sendo uma instituição social, a religião reflete a sociedade 
em todos os seus aspectos, positivos e negativos.
A religião é uma coisa eminentemente social. As repre-
sentações religiosas são representações coletivas que 
exprimem realidades coletivas; os ritos são maneiras 
de agir que nascem no seio dos grupos reunidos e que 
são destinados a suscitar, a manter ou a refazer certos 
estados mentais desses grupos. DURKHEIM; 1978: p. 212)
Não existem religiões falsas 
Mas, debaixo do símbolo, é preciso saber atingir a rea-
lidade que ele figura e que lhe dá sua significação ver-
dadeira. Os ritos mais bárbaros ou os mais extravagan-
tes, os mitos mais estranhos traduzem alguma neces-
sidade humana, algum aspecto da vida, seja individual 
ou social. As razões que o fiel concede a si mesmo para 
justificá-los podem ser __, e muitas vezes, de fato, são 
__ errôneas; mas as razões verdadeiras não deixam de 
existir e é tarefa da ciência descobri-las [...]
É um postulado essencial da sociologia que uma ins-
tituição humana não pode repousar sobre o erro e a 
mentira, caso contrário não pode durar”.[...].No fundo, 
portanto, não há religiões falsas. Todas são verdadei-
ras a seu modo: todas correspondem, ainda que de 
maneiras diferentes, a condições dadas da existência. 
(DURKHEIM; 1978a: 206.
Os fenômenos religiosos distribuem-se muito natural-
mente em duas categorias fundamentais: as crenças e 
os ritos. As primeiras são estados da opinião, consis-
tem em representações; os segundos são modos de 
ação determinados, e entre as duas classes de fatos 
existe toda a diferença que separa o pensamento do 
movimento [...]. DURKHEIM; 1978a: p.40 
O sagrado e o profano
 
A divisão do mundo em dois domínios, compreenden-
do um tudo o que é sagrado, o outro tudo o que é pro-
fano, tal é o traço distintivo do pensamento religioso; 
as crenças, os mitos, os gnomos, as lendas são repre-
sentações que exprimem a natureza das coisas sagra-
das, as virtudes e o poderes que lhe são atribuídos, 
a sua história, as suas relações umas com as outras e 
com as coisas profanas. Contudo, por coisas sagradas, 
não devemos entender simplesmente esses seres pes-
soais chamados deuses ou espíritos; um rochedo, uma 
árvore, uma fonte, uma pedra, um pedaço de madeira, 
uma casa e, numa palavra, qua qualquer coisas, po-
dem ser sagradas. Um rito pode ter o mesmo caráter e 
nem sequer existe rito que em certo grau não o tenha. 
Há termos, palavras, fórmulas, que não podem ser pro-
nunciadas senão pela boca de personagens consagra-
dos; há gestos, movimentos que nem por toda a gente 
podem ser executados. (DURKHEIM; 1978a:40 )
Religião motivação e ação
Para Durkheim, a verdadeira função da religião não está no 
campo das ideias, mas no campo da motivação e da ação.
A verdadeira função da religião não é fazer-nos pensar, 
enriquecer nossos conhecimentos, acrescentar às re-
presentações que devemos à ciência representações 
de uma outra origem e de um outro caráter, mas a de 
fazer-nos agir, auxiliar-nos a viver. O fiel que se comu-
nicou com seu deus, não é apenas um homem que vê 
novas verdades que o descrente ignora; ele é um ho-
mem que pode mais. Ele sente em si mais força, seja 
para suportar as dificuldades da existência, seja para 
vencê-las. Ele está como que elevado acima das misé-
rias humanas porque está elevado acima de sua condi-
ção de homem; acredita-se salvo do mal, sob qualquer 
forma, aliás que ele conceba o mal. O primeiro artigo 
de toda fé é a crença na salvação pela fé. Ora não se 
vê como uma simples ideia poderia ter essa eficácia 
(DURKHEIM; 1978a:222 )
Desse modo, a religião é mais do que pensamento e ideia. É 
atitude de sair do profano e buscar o sagrado na esfera do sa-
grado. Nessa dinâmica compreende-se a importância do cul-
to, como mediação eficaz, que cria e recria periodicamente a 
fé e exalta a vida moral.
Para que a sociedade possa tomar consciência de si 
e manter, no grau de intensidade necessário, o senti-
mento que ela tem de si mesma, é preciso que se re-
úna e se concentre. Ora, esta concentração determina 
uma exaltação da vida moral, que se traduz por um 
conjunto de concepções ideais onde se exprime a vida 
nova que assim despertou. (DURKHEIM; 1978a:226)
4. A SOCIOLOGIA 
COMPREENSIVA DE MAX WEBER
a) A ação social: objeto e método da sociologia
Para Weber, a sociologia deve ser compreensiva, uma vez que 
seu objeto de estudo é a ação humana. Weber parte do pres-
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
320 Sociologia | Curso Enem 2019 
CAPÍTULO 1
Curso Enem 2019 | Sociologia
Socioantropologia
preocupada com a escolha dos melhores meios para atingir o 
objetivo desejado. Portanto, a ética da responsabilidade não é 
fim em si mesma, mas está voltada para fora de si, para os efei-
tos desejados. Por outro lado, a ética da convicção age com 
base na convicção em si, sendo uma ação movida por uma 
ideia prévia, anterior a qualquer contexto.
Entre a ética da responsabilidade e a ética da convicção não 
encontramos uma necessária contradição; ao contrário, en-
contramos complementaridade. Evidentemente, há muita 
diferente entre a ótica de um chefe de Estado e a ótica de um 
cidadão comum. O primeiro, seguramente, estará mais vincu-
lado à dimensão pública; por isso, mais focado na responsabi-
lidade, na preocupação pelos efeitos da ação e mais concen-
trado na escolha dos meios mais eficazes. Em contrapartida, 
o cidadão comum, provavelmente, tenderá a agir mais em 
conformidade com a ética da convicção
Por um lado, encontramos a dimensão pura e abstrata de uma 
ética separada do contexto; por outro lado, a ética encarna-
da na realidade histórica e política dos homens. Assim, se um 
indivíduo adere cegamente à ética da pura convicção, ele po-
derá, inclusive, alimentar atitudes fundamentalistas, fanáticase intolerantes. É no campo político que esses antagonismos 
costumam se manifestar. 
c) Estado, poder e dominação, na ótica de Max Weber
No campo das ações sociais e políticas, Weber trabalha com 
os conceitos de poder e de dominação. Quanto à concepção 
weberiana de poder e de domínio, encontramos em Raymond 
Aron uma excelente síntese
 
O poder (Macht) é definido simplesmente como a 
probabilidade de um ator impor sua vontade a outro, 
mesmo contra a resistência deste. Situa-se, portanto, 
dentro de uma relação social, e indica a situação de 
desigualdade que faz com que um dos atores possa 
impor sua vontade ao outro. Estes atores podem ser 
grupos __ por exemplo, Estados __ ou indivíduos. A do-
minação (Herrschaft) é a situação em que há um se-
nhor (Herr); pode ser definida pela probabilidade que 
tem o senhor de contar com a obediência dos que, em 
teoria, devem obedecê-lo. A diferença entre poder e 
dominação está em que, no primeiro caso, o coman-
do não é necessariamente legítimo, nem a obediência 
forçosamente um dever; no segundo, a obediência 
se fundamente no reconhecimento, por aqueles que 
obedecem, das ordens que lhe são dadas. As moti-
vações da obediência permitirão, portanto, construir 
uma tipologia da dominação.
ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. 7ª ed. 
Trad. Sergio Bath. São Paulo: Martins Fontes, 2008. p. 806-807.
d) Vocação política: paixão, responsabilidade e senso de 
proporção.
suposto de que o ser humano é movido pelo sentido que atri-
bui às coisas e às relações; ou seja, toda ação humana recebe 
um sentido que orienta o ser humano em suas práticas coti-
dianas. Por ação social, Weber entende toda ação motivada do 
indivíduo, influenciada socialmente. Trata-se de uma ação que 
acontece inserida em um contexto sociocultural, que recebe 
um sentido ou uma motivação subjetiva, tendo como referên-
cia a ação do outro.
Dessa forma, a Sociologia é concebida como “uma ciência que 
pretende compreender interpretativamente a ação social e 
assim explicá-la causalmente em seu curso e em seus efeitos”.
(WEBER; 1998:3). Assim, o objeto da sociologia seria captar e 
compreender a conexão de sentidos das ações humanas. Por 
ação entende-se qualquer conduta, já ação social seria uma 
“ação que, quanto a seu sentido visado pelo agente ou os 
agentes, refere-se ao comportamento de outros, orientando-
se por este em seu curso” (WEBER; 1998:3).
Na sociologia compreensiva de Weber, existem quatro tipos 
ideais de motivações dos comportamentos humanos: ação 
social realizada por tradição, por afeto, por valor, por uma 
finalidade. Inicialmente, inseridos na cultura, os seres hu-
manos costumam agir pela força da tradição, do hábito ou 
do costume social. Nessa dimensão, estamos diante de uma 
conduta muitas vezes irrefletida, pouco ou nada racional. Isso 
dificulta a própria compreensão dessa conduta humana.
Em segundo lugar, a atividade humana é também passível 
de ser movida pelo afeto, pela dimensão emotiva, impulsiva. 
Nesse horizonte, inserem-se muitas de nossas ações cotidia-
nas, também as ações movidas pelas paixões do ódio ou da 
vingança.
Outra forma de ação humana é aquela atividade racional mo-
vida pelo valor. Nesse terreno, encontramo-nos na ética da 
convicção, pois o sujeito é movido por uma causa, seja ela reli-
giosa, politica, artística ou científica. Aqui, o olhar traz uma co-
erência interna, portador de convicções, não necessariamente 
conectado a uma consciência das decorrências de suas ações. 
A forma racional de atividade, guiada pela finalidade, insere-
se no horizonte da ética da responsabilidade, na qual o olhar 
considera as consequências possíveis da ação. Aqui se estabe-
lece a relação entre fins e meios. Busca-se os melhores meios 
para chegar à meta estabelecida. Nessa escolha dos fins, cos-
tuma também estar presente a ação guiada por valor. Nes-
se caso, o indivíduo estabelece prioridades e, assim, atribui 
maior valor a um meio específico em detrimento de outros. 
b) Ética da Responsabilidade e ética da convicção
Para Max Weber, em toda ação social deve-se ficar atento a 
dois aspectos fundamentais: por um lado, às influências do 
meio sociocultural e, por outro lado, as motivações individu-
ais. Considerando as motivações individuais das ações sociais, 
Weber reconhece duas espécies de motivações, que darão ori-
gem a duas formas fundamentais de ética, denominadas ética 
da responsabilidade e da convicção. 
Nessa abordagem, de um lado, está a referência a Maquia-
vel e, de outro, a Kant. Por um lado, a ação praticada sob a 
ótica ou ética da responsabilidade considera os efeitos ou 
consequências possíveis da ação. É o reino da política. Nes-
sa dinâmica, o olhar se volta para a eficácia da ação, para os 
efeitos desejados. Por isso, a ética da responsabilidade está 
Todo homem, que se entrega à política, aspira ao po-
der ___ seja porque o considere como instrumento a 
serviço da consecução de outros fins, ideais ou egoís-
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
321Curso Enem 2019 | Sociologia 
CAPÍTULO 1Socioantropologia
Se, portanto, o amor a uma causa deve ser sentimento pre-
ponderante na vida do indivíduo que exerce função pública, a 
vaidade é, então, a grande inimiga política, uma vez que essa 
leva o individuo a centrar-se em si mesmo, esquecendo os 
projetos sociais e políticos. Assim, a vaidade conduz à medio-
cridade política.
Em verdade e em última análise, existem apenas duas 
espécies de pecado mortal em política: não defender 
causa alguma e não ter sentimento de responsabilida-
de. [...]. De uma parte, a recusa de se colocar a serviço 
de uma causa o conduz a buscar a aparência e o brilho 
do poder, em vez do poder real; de outra parte, a au-
sência do senso de responsabilidade o leva a só gozar 
do poder pelo poder, sem deixar-se animar por qual-
quer propósito positivo. [...]. Política dessa ordem não 
passa jamais de produto de um espírito embotado, so-
beranamente artifi cial e medíocre, incapaz de apreen-
der qualquer signifi cação da atividade humana. Nada, 
aliás, está mais afastado da consciência do trágico, de 
que se penetra toda ação, e, em especial, toda ação 
política do que essa mentalidade. (WEBER: 2000, p.107-108)
tas, seja porque deseje o poder “pelo poder”, para go-
zar do sentimento de prestígio que ele confere. (WEBER; 
2000: p. 56)
e) Tipos e Fundamentos da legitimidade
Entre os fundamentos que conferem legitimidade, Max Weber 
indica a crença na tradição, o carisma pessoal e a legalidade. 
Ou seja, existe uma tradição de longo tempo, que criou a mo-
ral da comunidade. Essa moral permite falar em identidade de 
um povo ou comunidade. E de acordo com esse povo, o seu 
representante, para chegar à eleição e ao exercício legitimo de 
seu poder, deve apresentar um carisma político que receba da 
comunidade sua efetiva e afetiva adesão.
Para Max Weber, quem se dedica à vida pública, assumindo 
a carreira política deve ter determinados traços de persona-
lidade que esse estilo de vida requer. Quais são os riscos, os 
desafi os e as alegrias inerentes a essa vida? O que se espera de 
quem se dedica a essa vida? 
A carreira política concede, antes de tudo, o sentimen-
to de poder. A consciência de infl uir sobre outros seres 
humanos, o sentimento de participar do poder e, so-
bretudo, a consciência de fi gurar entre os que detêm 
nas mãos um elemento importante da história que se 
constrói podem elevar o político profi ssional, mesmo 
o que só ocupa modesta posição, acima da banalidade 
da vida cotidiana. 
Pode-se dizer que há três qualidades determinantes 
do homem político: paixão, sentimento de responsa-
bilidade e senso de proporção. Paixão no sentido de 
“propósito a realizar”, isto é, devoção apaixonada a 
uma causa [...]. Com efeito, a paixão apenas, por sin-
cera que seja, não basta. Quando se põe a serviço de 
uma causa, sem que o correspondente sentimento 
de responsabilidade se torne a estrela polar determi-
nante da atividade, ela não transforma um homem 
em chefe político. Faz-senecessário, enfi m, o senso de 
proporção, que é a qualidade psicológica fundamen-
tal do homem político. Quer isso dizer que ele deve 
possuir a faculdade de permitir que os fatos ajam so-
bre si no recolhimento e na calma interior do espírito, 
sabendo, por consequência, manter à distância os ho-
mens e as coisas. A “ausência de distância”, como tal, é 
um dos pecados capitais do homem político. [...] O que 
se chama “força” de uma personalidade política indica, 
antes de tudo, que ela possui essa qualidade. ( WEBER; 
2000:105-106)
Existem, em princípio, três razões internas que jus-
tifi cam a dominação, existindo, consequentemente, 
três fundamentos da legitimidade. Antes de tudo, a 
autoridade do “passado eterno”, isto é, dos costumes 
santifi cados pela validez imemorial e pelo hábito, en-
raizado nos homens, de respeitá-los. Tal é o “poder tra-
dicional”, que o patriarca ou senhor das terras, outrora, 
exercia. 
Existe, em segundo lugar, a autoridade que se funda 
em dons pessoais e extraordinários de um indivíduo 
(carisma) ___ devoção e confi ança estritamente pes-
soais depositadas em alguém que se singulariza por 
qualidades prodigiosas, por heroísmo ou por outras 
qualidades exemplares que dele fazem o chefe. [...]. 
Existe, por fi m, a autoridade que se impõe em razão da 
“legalidade”, em razão da crença na validez de um es-
tatuto legal e de uma “competência” positiva, fundada 
em regras racionalmente estabelecidas ou, em outros 
termos, autoridade fundada na obediência, que reco-
nhece obrigações conformes ao estatuto estabeleci-
do. Tal é o poder, como o exerce o “servidor do Estado” 
em nossos dias e como o exercem todos os detentores 
do poder que dele se aproximam sob esse aspecto. 
(WEBER; 2000:57-58)
f) O Estado, a burocracia e o uso legítimo da força
Sociologicamente, o Estado não se deixa defi nir a não 
ser pelo específi co meio que lhe é peculiar, tal como é 
peculiar, a todo outro agrupamento político, ou seja, 
o uso da coação física. [...]. Em todos os tempos, os 
agrupamentos políticos mais diversos ___ a começar 
pela família ___ recorreram à violência física, tendo-a 
como instrumento normal de poder. Em nossa época, 
entretanto, devemos conceber o Estado contemporâ-
neo como uma comunidade humana que, dentro dos 
limites de determinado território ___ a noção de terri-
tório corresponde a um dos elementos essenciais do 
Estado ___ reivindica o monopólio do uso legítimo da 
violência física. [...]. O Estado se transforma, portanto, 
na única fonte do “direito” à violência. (WEBER; 2000:56).
O ESTADO pode ser concebido sob duas perspectivas 
diferentes: juridicamente e politicamente.
Sob o ponto de vista jurídico, para que haja Estado, 
é preciso haver território, povo, governo e soberania. 
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
322 Sociologia | Curso Enem 2019 
CAPÍTULO 1
Curso Enem 2019 | Sociologia 
Socioantropologia
pole, onde se verifi ca não só a mais elevada divisão econômi-
ca do trabalho, como também o acentuado divórcio entre a 
cultura subjetiva e objetiva. E nesse divórcio o mais grave de 
tudo é que a luta humana não é por humanização, evolução 
e aperfeiçoamento da subjetividade, mas por sobrevivência, 
como na natureza, só que agora em uma disputa na qual o 
produto será concedido, à duras penas, por outros homens.
b) A divisão do trabalho e a tragédia da cultura 
Simmel se refere à modernidade como tragédia cultural. A tra-
gicidade desse fenômeno consiste especialmente no fato de 
os objetos culturais, que são produtos do espírito humano e 
que formam a cultura objetiva, caminham para a autonomiza-
ção de tal nível que deixam de ser objetos ou meios e passam 
a se tornar fi ns, alienando a si seus próprios criadores. 
Simmel usa a expressão “tragédia cultural” para referir-se a 
essa acentuada discrepância entre as conquistas materiais da 
sociedade e o estado pouco evoluído do próprio ser humano. 
Nessa grande tragédia cultural, os sujeitos que criam a cultura 
não mais se reconhecem e nem são reconhecidos na cultu-
ra que criam. Portanto, a sociedade moderna, marcada pelas 
crescentes metrópoles, iniciou um processo de automatiza-
ção da vida, que implicou a alienação do indivíduo.
A sobreposição da cultura objetiva sobre a cultura subjetiva 
tem sua origem na divisão do trabalho e da imposição da eco-
nomia monetária, uma vez que a especialização crescente da 
produção está fundamentada no princípio da calculabilidade 
precisa, mediada pelo dinheiro. Dessa forma, o que possibilita 
tanto a produção quanto o consumo é a economia monetá-
ria, da impessoalidade e generalidade do dinheiro que tudo 
nivela sob o princípio da quantifi cação, do calculabilidade, da 
previsibilidade, da ação e razão instrumental ou estratégica. 
Trata-se de uma sociedade governada pelo impessoalidade 
do dinheiro, sem consideração à pessoa.
c) Comportamento reserva e atitude blasé 
Se, por um lado, a vida moderna exalta a liberdade como li-
bertação das amarras e coloca no centro o indivíduo e suas 
buscas, por outro lado, o estilo de vida moderna deixa as rela-
ções sociais com vínculos mais débeis ou fracos, se compara-
dos com as relações sociais em sociedades mais tradicionais. A 
nova mediação fundamental entre as pessoas seria realizada 
pelo aspecto monetário, pelo dinheiro, que é algo impessoal 
e universal. E nessa dinâmica, segundo Simmel o que mais se 
intensifi ca é a vida nervosa, os estímulos, as múltiplas exci-
tações. Em razão disso, os indivíduos passam a adquirir um 
comportamento de reserva em relação aos outros, o que fun-
cionaria como uma forma de defesa de sua individualidade. 
Assim, o individualismo é apresentado como a marca do es-
pírito moderno.
Considerando os estilos e os ritmos da vida moderna, Simmel 
afi rma que os indivíduos são cotidianamente submetidos a 
um excesso de estímulos. Hiperestimulado, o indivíduo acaba 
fi cando sem forças de reação; nas palavras de Simmel: “inca-
paz de reagir a novos estímulos com as energias adequadas”. 
Com isso, nasceria uma impessoalidade que caracterizaria a 
vida do indivíduo metropolitano moderno, produzindo indi-
ferença. Para falar desse sentimento e atitude Simmel fala em 
atitude blasé, uma espécie de anestesia, de insensibilidade, de 
não reação, de não espanto, de distanciamento passivo. 
Assim, por exemplo, a nação cigana não constitui um 
Estado, por não ter um território; igualmente, não exis-
te o Estado da Palestina, pois não tem uma autonomia, 
embora haja povo e território. O povo é a população 
que tem vínculo jurídico com o Estado: certidão de 
nascimento, carteira de identidade, título de eleitor, 
etc. O governo corresponde aos indivíduos inseridos 
no poder executivo: prefeito, governador, presidente. 
Diferentemente do Estado, é importante lembrar que 
o governo, que é um componente do Estado, é tempo-
rário, como foram os governos FHC, Lula, Dilma, Temer.
Politicamente, como se defi ne o Estado? O conceito 
mais claro foi construído por Max Weber, para quem 
o Estado é a Instituição que detém o monopólio legí-
tima do uso da força física dentro de um determinado 
território.
No âmbito do Estado, que é o do domínio legal, a burocracia 
exerce um papel decisivo para a criação, o fortalecimento e a 
perpetuação do Estado Moderno.
A BUROCRACIA, em Max Weber, é uma forma de ad-
ministrar na qual cada funcionário, aprovado em con-
curso público sob critérios igualmente públicos e uni-
versais, exerce uma função específi ca e especializada, 
dentro de uma hierarquia reconhecida. Estabelecendo 
uma relação de superioridade, a burocracia é um me-
canismo de poder.
Em sua atuação a serviço do Estado, o funcionário tem 
uma série de proteções e garantias, que fazem com 
que muitos busquem esse serviço.
Essa estrutura burocrática acentua a impessoalidade 
nas repartições públicas, uma vez que o funcionário 
deve fazer com que sua especialidade funcione, com 
que sua função seja bem exercida, com que o regula-
mento seja bem cumprido, buscando atender e admi-
nistrar a igualdadereivindicada pelas pessoas.
5. A sociologia de G. Simmel: a 
vida na metrópole
a) A vida na metrópole moderna 
Nesse contexto moderno de migração para os centros urbanos 
e de formação das metrópoles, onde a vida acontece de modo 
mais agitado, a sociologia de Georg Simmel (1858-1918) está 
focada nas reações dos indivíduos a esse rápido processo de 
urbanização, no qual torna-se problemática a questão da au-
tonomia do sujeito diante das forças impessoais da cultura em 
rápida expansão. O indivíduo sente a pressão, a força coerciti-
va de uma sociedade que está fi cando cada mais mecanizada 
e provoca alterações profundas na vida privada e social dos 
indivíduos. Afi nal, para Simmel, a sociedade não é constituída 
pelos indivíduos, mas ela é a eles anterior, ela preexiste a eles 
e os condiciona, ao mesmo tempo que os socializa.
O locus por excelência dessa modernidade é a grande metró-
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
323Curso Enem 2019 | Sociologia
CAPÍTULO 1Socioantropologia
6. A natureza repressora da 
cultura, em Sigmund Freud
 
O mal-estar na civilização
Na parte V de sua obra O mal-estar na civilização, de 1930, 
Sigmund Freud (1856-1939) fala da natural agressividade que 
existe no ser humano. Sendo assim, a vida em sociedade não 
aparece como algo natural. Com efeito, a instituição da socie-
dade civil acarretará no ser humano um necessário mal-estar, 
devido à impulsividade e natural busca pelo prazer que terá 
de ser reprimida pela sociedade.
dade de liberdade sexual remanescente. Aqui, como 
já sabemos, a civilização está obedecendo às leis da 
necessidade econômica, visto que uma grande quan-
tidade da energia psíquica que ela utiliza para seus 
próprios fins tem de ser retirada da sexualidade 
FREUD S. Mal-estar na civilização. Obras psicológicas completas. Edição 
Standart brasileira. Rio de Janeiro: Imago editora, 1996; p. 109.
7. Processo civilizador em 
Norbert Elias.
a) O processo civilizador e o refinamento das ações e dos 
sentimentos
Em O processo Civilizador, Norbert Elias Norbert Elias (1897-
1990) analisa a formação dos valores sociais e os efeitos que 
o Estado moderno provoca sobre os costumes e a conduta 
moral dos indivíduos. O Olhar de Elias favorece a desnaturali-
zação dos valores e dos sentimentos morais. Os nossos sen-
timentos e valores seriam uma construção história, que tem 
contexto, e atenderiam a objetivos ou interesses de classe. 
Desse modo, no percurso histórico de construção da cultu-
ra, os valores sociais aprendidos e apreendidos ou assimi-
lados e internalizados passam a ser vistos como se fossem 
naturais, e incorporam a estrutura da personalidade do 
indivíduo. Por exemplo, o sentimento de vergonha, que mui-
tos julgam como natural, Elias evidencia como socialmente 
aprendido nas relações sociais.
Uma das mais significativas contribuições de Norbert Elias 
está justamente na crítica que faz à ideia de civilização que 
imperava, evidenciando que as maneiras “civilizadas” não são 
naturais, mas resultado de um lento e progressivo desenvol-
vimento histórico, no qual vai sendo processado um “refina-
mento” das ações e dos sentimentos dos indivíduos, por 
meio de coações e coerções sociais, transformando modos 
de pensar, de perceber, de sentir e de agir .
Metodologicamente, Elias se concentra em uma documen-
tação referente à instituição de regras e padrões de condu-
ta, manuais de boas maneiras que lentamente promovem o 
“refinamento” das ações e dos sentimentos dos indivíduos. 
Norbert Elias mostra como, historicamente, a centralização do 
poder nas monarquias absolutistas exigia maior controle 
das emoções e dos impulsos entre os indivíduos que se 
relacionavam nesse nível hierárquico a ponto de ser um 
elemento definidor da identidade, que distinguia a elite 
social. A partir do momento em que a burguesia passa a as-
sumir funções governamentais, a instituição família receberá 
como uma de suas principais funções a educação das crian-
ças, na direção do seu condicionamento para os padrões de 
comportamento socialmente aceitos.
Esse processo civilizador seria um processo de internaliza-
ção dos comportamentos considerados “civilizados”, cul-
minando no autocontrole das ações e emoções, produzindo 
uma mudança profunda na personalidade do sujeito. Para 
Elias, a condição de sobrevivência de uma sociedade está atre-
lada à canalização das pulsões e emoções do indivíduo na 
A existência da inclinação para a agressão, que po-
demos detectar em nós mesmos e supor com justiça 
que ela está presente nos outros, constitui o fator que 
perturba nossos relacionamentos com o nosso próxi-
mo e força a civilização a um tão elevado dispêndio 
de energia. Em consequência dessa mútua hostilidade 
primária dos seres humanos, a sociedade civilizada se 
vê permanentemente ameaçada de desintegração. 
[...]. Daí, portanto, o emprego de métodos destinados 
a incitar as pessoas a identificações e relacionamen-
tos amorosos inibidos em sua finalidade, daí a restri-
ção à vida sexual e daí, também, o mandamento ideal 
de amar ao próximo como a si mesmo, mandamento 
que é realmente justificado pelo fato de nada mais ir 
tão fortemente contra a natureza original do homem. 
A despeito de todos os esforços, esses empenhos da 
civilização até hoje não conseguiram muito. Espera-
-se impedir os excessos mais grosseiros da violência 
brutal por si mesma, supondo-se o direito de usar a 
violência contra os criminosos; no entanto, a lei não 
é capaz de deitar a mão sobre as manifestações mais 
cautelosas e refinadas da agressividade humana.
FREUD: Mal-estar na civilização. Obras psicológicas completas. 
Edição Standart brasileira. Rio de Janeiro: Imago editora, 1996. p. 
160-161
Uma das estratégias da cultura para reprimir a libido humana 
tem relação com o culto ao trabalho, conduzindo os indivídu-
os a trabalharem cada vez mais. Contudo, isso também acaba 
contribuindo para um profundo mal-estar no indivíduo nessa 
sociedade.
Sobre a repressão social, na parte IV de sua obra Mal-estar na 
civilização Freud assim se expressa:
 A tendência por parte da civilização em restringir a 
vida sexual não é menos clara do que sua outra ten-
dência em ampliar a unidade cultural. Sua primeira 
fase, totêmica, já traz com ela a proibição de uma es-
colha incestuosa de objeto, o que constitui, talvez, a 
mutilação mais drástica que a vida erótica do homem 
em qualquer época já experimentou. Os tabus, as leis 
e os costumes impõem novas restrições, que influen-
ciam tanto homens quanto mulheres. Nem todas as 
civilizações vão igualmente longe nisso, e a estrutura 
econômica da sociedade também influencia a quanti-
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
324 Sociologia | Curso Enem 2019 
CAPÍTULO 1
Curso Enem 2019 | Sociologia
Socioantropologia
direção de algo socialmente aceito e valorizado. É nesse 
contexto que nascem ou se formam as normas de conduta.
OBJETO DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA: O OUTRO
Mostramos como o controle efetuado através de ter-
ceiras pessoas é convertido, de vários aspectos, em 
autocontrole, que as atividades humanas mais ani-
malescas são progressivamente excluídas do palco da 
vida comum e investidas de sentimentos de vergonha, 
que a regulação de toda a vida instintiva e afetiva por 
um firme autocontrole se torna cada vez mais estável, 
uniforme e generalizada. Isso tudo certamente não re-
sulta de uma ideia central concebida há séculos por 
pessoas isoladas, e depois implantada em sucessivas 
gerações como a finalidade da ação e do estado de-
sejados, até se concretizar por inteiro nos “séculos de 
progresso”. Ainda assim, embora não fosse planejada 
e intencional, essa transformação não constitui uma 
mera sequência de mudanças caóticas e não estrutu-
radas. ( ELIAS; 1993: 193-194
 
Desse modo, o processo civilizador, muito mais do que um 
processo racional, se constituiria como um processo no qual 
aumenta o sentimento de vergonha sobre determinados 
comportamentos indesejados socialmente, gerandoprofun-
das alterações emocionais e mentais nos sujeitos culturais.
Na verdade, [a limitação dos instintos] é cultivada des-
de tenra idade no indivíduo, como autocontrole ha-
bitual, pela estrutura da vida social, pela pressão das 
instituições em geral, e por certos órgãos executivos 
da sociedade (acima de tudo, pela família) em particu-
lar. Por conseguinte, as injunções e proibições sociais 
tornam-se cada vez mais partes do ser, de um supere-
go estritamente regulado. (ELIAS; 1993: 186-187) 
Assim, a força coercitiva da cultura move os comportamentos 
sociais de seus membros. O próprio indivíduo passa a exercer 
um autocontrole para não frustrar as expectativas sociais e 
sentir-se incluído socialmente.
Nesse sentido, para Norbert Elias, o critério que define ou 
orienta o processo civilizador de uma cultura é a passagem 
da coerção externa para a autocoerção, estágio no qual, de 
forma antecipada, o indivíduo evita a necessidade da punição 
externa, necessidade através de um comportamento social-
mente esperado, sendo gentil, polido e generoso. Portanto, o 
processo civilizador acontece na medida em que os impulsos 
primários e agressivos do ser humano são controlados e cana-
lizados para a vida social.
8. A Antropologia de Lévi-Strauss.
a) O estruturalismo como método
O antropólogo Lévi-Strauss (1908-2009) é considerado funda-
dor da antropologia estrutural. Ele introduziu na Antropologia 
o método estruturalista, que consiste em descobrir os ele-
mentos mais profundos que existem numa cultura e que 
sustentam determinados costumes e valores. 
 “Enquanto as maneiras de ser ou de agir de certos ho-
mens forem problemas para outros homens, haverá 
lugar para uma reflexão sobre estas diferenças, que, de 
forma sempre renovada, continuará a ser o domínio da 
antropologia.” (LÉVI-STRAUSS; 1962: p.54)
Em sua obra, o pensamento selvagem, Lévi- Strauss ao falar 
do objeto e da metodologia do etnólogo ou do antropólogo 
afirma: 
(...) O que todo etnólogo tenta fazer com culturas dife-
rentes: colocar-se no lugar dos homens que aí vivem, 
compreender sua intenção em seu princípio e em seu 
ritmo, perceber uma época ou uma cultura como um 
conjunto significante. (LÉVI-STRAUSS,1989: p. 292)
No reconhecimento da singularidade das diferentes etnias, 
afirma:
Um povo primitivo não é um povo ultrapassado ou 
atrasado; num ou noutro domínio pode demonstrar 
um espírito de invenção e realização que deixa aquém 
os êxitos dos civilizados. (LÉVI-STRAUSS, 1967: P.122)
Além da visão distorcida e preconceituosa, costuma prevale-
cer, no senso comum, uma concepção essencialista de identi-
dade cultural. Quando se pergunta sobre o significado de ser 
índio costuma-se ouvir uma resposta padrão, universalizada, 
como se houvesse uma única identidade indígena, desvincu-
lada de seu movimento histórico.
Cada vez que somos levados a qualificar uma cultura 
humana de inerte ou estacionária, devemos, portanto, 
nos perguntar se este imobilismo aparente não resulta 
da ignorância que temos de seus interesses verdadei-
ros, conscientes ou inconscientes, e se, tendo critérios 
diferentes dos nossos, esta cultura não é, a nosso res-
peito, vítima da mesma ilusão. (LÉVI-STRAUSS,1976: P. 346) 
Portanto, a identidade cultural não é simplesmente sin-
gular e fixa, ou seja, não há um único jeito de ser índio, por 
exemplo, e nem permanece de uma única forma ao longo da 
história. A identidade é complexa e dinâmica. Sendo histórica, 
toda cultura é comunidade imaginada, pensada, inventada, 
em projeção e em realização. 
Em Lévi-Strauss, encontramos uma preocupação mais focada 
em olhar para a singularidade de cada povo na situação atual 
em que se encontra, um olhar sincrônico, e não tanto para a 
dimensão diacrônica, ou seja, um olhar mais voltado para a 
estrutura do que para o movimento histórico das transforma-
ções. Lévi-Strauss busca captar no momento, na situação real 
os elementos mais profundos de uma cultura e nelas perceber 
a presença de algo universal. E somente após haver compre-
endido como a cultura está estruturada e como ela opera seria 
possível refletir e compreender os processos de mudança.
TRODUÇÃO À FILOSOFIA
325Curso Enem 2019 | Sociologia
CAPÍTULO 1Socioantropologia
De acordo com Lévi-Strauss, ao olhar para as relações sociais, 
para os modos de vida, para os sistemas de representação, o 
antropólogo encontra a matéria-prima para construir os mo-
delos que evidenciam a estrutura social. O foco especial do 
seu olhar era chegar ao que fosse comum ao grupo, algo que 
fosse um universal humano. Diferentemente da metodologia 
emprega pela História, focada em expressões conscientes, a 
etnologia (Antropologia cultural e social) busca as relações 
inconscientes da vida social, aqueles elementos não conscien-
tes, profundos, os invariantes universais que funcionam como 
cimento ou elo da vida social. Ao optar pela estrutura, a antro-
pologia não estava recusando a história, mas concentrando-
se metodologicamente num aspecto. 
Levi- Strauss foi um antropólogo que dedicou sua vida ao es-
tudo do comportamento e do pensamento dos índios ameri-
canos. Para esse estudo, ele usou o método estruturalista, que 
consistia em captar os invariantes profundos da mente huma-
na, a “procura por harmonias inovadoras”. Para tanto, sempre 
partia da empeiria, da experiência, e nela percebeu que não 
há motivos para aceitar a noção de que a civilização ocidental 
é privilegiada.
Em seus inúmeros estudos, que aconteciam entre inúmeras 
viagens para muitas tribos indígenas, sempre reconhecia que 
a mente “selvagem” é igual à “civilizada”. Afirmava que as ca-
racterísticas humanas são as mesmas. Ele se dedicava espe-
cialmente a buscar a racionalidade nativa.
A passagem da natureza para a cultura é o ponto central de 
sua reflexão. Ele afirma que essa passagem se dá pela media-
ção da linguagem. O ser humano usa, por exemplo a língua, 
que tem sua própria racionalidade, que nós mesmos não co-
nhecemos. 
No estudo de natureza e cultura, afirmava que o ser huma-
no é uma espécie passageira, que um dia estará extinta. Em 
2005, quando completou 97 anos, ele recebeu, na Espanha, 
um premio internacional. Na ocasião, ele se pronunciou nes-
ses termos: "Fico emocionado porque estou na idade em que 
não se recebem nem se dão prêmios, pois sou muito velho 
para fazer parte de um corpo de jurados. Meu único desejo é 
um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem 
o ser humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre 
deveríamos ter presente".
b) A proibição do incesto e a formação da cultura
Em  As estruturas elementares do parentesco, Lévi-Strauss afir-
ma que existem na natureza humana ou no espírito humano 
determinados esquemas ou modelos universais de pensa-
mento. E nesses modelos se encontraria o fundamento da 
passagem da natureza à cultural, a partir da proibição do in-
cesto e a partir das instituições matrimoniais.
Para Lévi-Strauss, a proibição do incesto deve ser vista den-
tro de uma regra de reciprocidade positiva, na dinâmica da 
dádiva, que exige a troca das mulheres nos sistemas de alian-
ça matrimonial. Como avesso negativo dessa regra surgiu a 
proibição do incesto. Dessa forma, a troca aparece como o 
fundamento da vida social. Existe aqui um postulado de uma 
unidade estrutural do ser humano na diversidade das cultu-
ras, no interior das quais sempre se encontram modelos clas-
sificatórios duais.
No princípio da reciprocidade, existe uma transferência de va-
lor, consentida entre indivíduos, que faz com que uma nova 
qualidade seja acrescentada ao valor transferido. A proibição 
do incesto aparece assim como a verdadeira certidão do nas-
cimento da vida social, “a passagem do fato natural da consan-
guinidade para o fato cultural da aliança” (Lévi-Strauss, 1967: 
p.35). O que faz o incesto ser interdito socialmente é o fato de 
ele ser uma ameaça a uma ordem social estabelecida.
Lévi-Strauss se

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