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trabalho direito civil

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Exceção do contrato não cumprido
Art.476: Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.
Art.477: Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se á prestação que lhe incube, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-lá.
Conceito:
Consiste a “exceção de contrato não cumprido” em um meio de defesa, pela qual a aprte demandada pela execução de um contrato pode arguir que deixou de cumpri-lo pelo fato da outra ainda também não ter satisfeito a prestação correspondente. Pode ser aplicadas nos chamados contratos bilaterais, sinalagmáticos ou de prestações correlatas, em que se tem uma produção simultânea de prestações para todos os contratantes, pela dependência recíproca das obrigações.
Trata-se, portanto, de uma exceção substancial, paralisando a pretensão do autor de exigir a prestação pactuada, ante a alegação do réu de não haver percebido a contraprestação devida. Não se discute, a priori, o conteúdo do contrato, nem se nega a existência da obrigação ou se pretende extingui-la, sendo uma contestação apenas do ponto de vista da exigibilidade.
Elementos caracterizadores:
Destrinchemos quais são os elementos necessários para sua caracterização:
Existência de um contrato bilateral: A exceptio non adimpleti contractus, em sentido próprio, somente pode ser invocada em contratos onde há uma dependência recíproca das obrigações, em que uma é a causa de ser da outra, não sendo aplicável, a priori, para outras relações jurídicas.
Demanda de uma das partes pelo cumprimento pactuado: Somente há sentido na invocação de uma exceção substancial ( defesa em sentido material) se há uma provocação, exigindo-se o cumprimento, pois, na inércia das partes, não há que falar em defesa.
Prévio descumprimento da prestação pela parte demandante: é justamente o prévio descumprimento pela parte demandante que autoriza o excipiente a se valer da exceptio non adimpleti contractus, uma vez que, tendo havido cumprimento da prestação, na forma como pactuada, a demanda pelo seu cumprimento constitui o regular exercício de um direito potestativo. Ressalte-se que se o descumprimento foi de terceiro, e não da parte contratante, não há como invocar a exceção.
Lesão
Art.157: Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
Conceito
Conceitua-se lesão como sendo o prejuízo resultante da desproporção existente entre as prestações de um determinado negócio jurídico, em face do abuso da inexperiência, necessidade econômica ou leviandade de um dos declarantes.
Seu campo de atuação é a dos contratos onerosos, normalmente contratos de compra e venda. Caio Mario da Silva Pereira versa que é o prejuízo que a pessoa sofre ao concluir um ato negocial resultante da proporção existente entre as prestações das duas partes. A lesão pode ocorrer mesmo nos contratos em que as partes são livres para negociar as cláusulas. Decorre que, por motivos diversos, uma das partes é colocada numa situação de inferioridade. Isso faz com que esse agente perca a noção do justo e do real, conduzindo sua vontade a praticar atos que em uma situação economicamente “normal” não o faria.
Nos dias atuais, para que a lesão seja caracterizada é necessário que preencha dois requisitos: o elemento objetivo, que consiste na manifesta desproporção entre as prestações, culminando em uma das partes obter um lucro exagerado; e o elemento subjetivo, que é caracterizado pela inexperiência ou premente necessidade do lesado. É o dolo de aproveitamento em que o agente, aproveitando-se da situação de inferioridade que a vitima encontra-se, aufere lucro desproporcional e exagerado. Para tal não é necessário que a vítima seja induzida pelo agente, nem que este tenha a intenção de prejudicar. Preenchidos esses dois elementos o ato é anulável.
A premente necessidade, conforme asseveram Gagliano e Pamplona Filho, tem fundamento econômico e reflexo contratual. Trata-se de uma necessidade contratual em que se caracteriza uma situação extrema, que impões ao necessitado a celebração do negócio prejudicial. Pode ser tanto de ordem material quanto espiritual, desde que se trate de coisas importantes para a sobrevivência digna da pessoa.
De outra sorte, a inexperiência não significa necessariamente a falta de instrução ou falta de cultura geral. A inexperiência, aqui, é entendida como falta de habilidade para o trato nos negócios. Nesse caso a inexperiência é aproveitada pelo contratante mais forte, que detém um maior conhecimento do negócio. O lesado, mesmo notando a desproporção da obrigação e, em razão da pouca experiência de vida, a celebra “irracionalmente”, desconhecendo as consequências prejudiciais que tal contrato trará.
Nada impede que uma pessoa culta seja lesada. Se este desconhecer as circunstâncias de determinados contratos que exigem conhecimento técnico ou de usos e costumes locais, certamente será de algum modo lesado. Um bom exemplo é o do médico, que tem um grande conhecimento específico em sua área, mas se, pela primeira vez, vai adquirir um imóvel, pode lhe faltar informações sobre documentos necessários para a contratação, o registro que transmite a propriedade, ou pode ser pessoa desligada de assuntos econômicos e desconhecer o real valor do bem ou as regras de financiamento, e ser lesado.
Muitos são os exemplos de lesão na doutrina. Um deles é o de uma pessoa ir a uma loja de informática para adquirir um computador. É apresentado um computador, que embora esteja anunciado corretamente, já é considerado ultrapassado para os padrões atuais. Aproveitando-se da inexperiência do comprador o computador é vendido a um preço exorbitante.
Entretanto, a lesão se dá por acarretar um desequilíbrio contratual na formação do negócio, em seu nascimento. É essa característica que faz a lesão diferir quase que completamente da onerosidade excessiva, pois esta caracteriza-se pelo surgimento de uma situação superveniente à celebração do contrato, ou seja, a situação surge posteriormente ao negócio. Desta feita, nesse último caso, é errôneo alegar lesão, pois esse assunto é tratado pela Teoria da Imprevisão ou pela cláusula rebus sic stantibus.
Normalmente, em casos onde há o vício de vontade, o contrato é passível de ser anulado e normalmente é anulado, salvo se não for o caso do Art. 157, §2º do CCB. Porém, hoje, a jurisprudência tem aceitado a revisão contratual em casos de lesão, em revés à anulação da obrigação, embora a lesão se caracterize por ser contemporânea ao momento da celebração do negócio jurídico comutativo - conforme supracitado - enquanto que a revisão contratual pressupõe onerosidade excessiva percebida no momento da execução do contrato. Para isso é necessário uma avaliação do caso concreto.
Ilustrando um caso de revisão contratual adotando o instituto da lesão tem-se no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul um acórdão que ilustra bem tal explicação. Um agricultor, semi-alfabetizado, firmou um contrato de novação da dívida com a revendedora e distribuidora de fertilizantes. Essa novação se deu devido à premente necessidade do agricultor que necessitava prorrogar a dívida para poder plantar a próxima safra. O agricultor também alegou, agora invocando a cláusula rebus sic stantibus, que em seu município houve uma rigorosa seca que impossibilitou os agricultores de semear as culturas de grãos como milhos, soja e feijão.
Os desembargadores não viram a nulidade da execução da obrigação, contudo houve um excesso no valor apurado e na confissão da dívida vencida, ou seja, na constituição do valor de dívida, considerado o débito originário. Nas palavras do relator: “Que o apelante deve, dúvidas não há, pois é confesso a respeito. O que cabeapreciar é quanto é que ele deve, pois alegou haver excesso de execução”. Todavia, quanto à estiagem, o Tribunal não lhe deu razão e não se exime da obrigação de pagar pelos insumos adquiridos.
Quanto à lesão o Tribunal aceitou a alegação do Art. 157 do CCB, pois mesmo não podendo alegar inexperiência do apelante, as circunstâncias o levaram a alegada necessidade. A atividade rural necessitava de continuidade e sem os insumos não poderia manter a atividade da agricultura.
Por fim o Tribunal viu estar presente o excesso de execução, o que se introduz pela incidência de multa sobre o valor originário das duplicatas não pagas que, segundo Kretzmanm: ”... vejo ilegal e descabido no caso concreto”.
Nesse caso concreto o contrato, ou melhor, a multa sobre a obrigação devida, foi revisão não levando em conta a Teoria da Imprevisão e sim a lesão, pelo fato de o agricultor ter aceitado pagar um percentual de juros bem acima de estipulado pela lei, devido à necessidade de continuar com o seu sustento.
Conforme supracitado, a lesão é um vício de consentimento que dá prerrogativas a pleitear a resolução contratual, porém, pode-se dizer que a decisão da jurisprudência em manter o contrato, revisando-o, é salutar. Obviamente, faz-se mister avaliar o caso concreto para que, ao optar pela revisão, não esteja incorrendo em outra injustiça. Então, para que seja possível decretar a anulação ou a revisão de um contrato, a desproporção do preço deve ser comprovada por perícia técnica e também como se constituiu o fato concreto - caso haja ou não suplemento suficientes.
Cláusula Resolutiva Tácita
As partes podem prever, no próprio conteúdo do contrato, que, caso haja descumprimento, o mesmo será considerado extinto.
Quando, contudo, as partes nem se quer cogitaram acerca do inadimplemento contratual, fala-se, de maneira distinta, na preexistência de uma clausula resolutória tácita, pois, em todo contrato bilateral, por força da interdependência das obrigações, o descumprimento culposo por uma das partes deve constituir justa causa para a resolução do contrato, uma vez que, se um é causa do outro, deixando-se de cumprir o primeiro, perderia o sentido o cumprimento do segund.
Tal instituto está previsto expressamente no novo Código Civil brasileiro, especificamente no seu art. 474:
“Art.474: A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial”. A cláusula tácita existe em todos os contratos bilaterais. Não precisa ser escrita. Mas, se não houver nada expresso, terei que ajuizar. No caso expresso não; se a outra parte insistir, caberá ir a juízo também.
A parte lesada por inadimplemento da outra pode pedir a resolução do contrato, o desfazimento. Graças à cláusula resolutiva, posso desfazer o contrato caso a parte não cumpra o acordado. Também posso exigir o cumprimento da obrigação, ainda com pena de perdas e danos. É uma exceção ao pacta sunt servanda.

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