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MpMagEst Direito Civil Obrigações José Simão Data: 21/02/2013 Aula 01 MpMasEst – 2013 Anotador(a): Carlos Eduardo de Oliveira Rocha Complexo Educacional Damásio de Jesus RESUMO SUMÁRIO 1. Teoria geral das obrigações 2. Obrigação imperfeita 1. TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES 1.1. Conceito tradicional: a obrigação é o vínculo jurídico pelo qual o devedor compromete-se a realizar em favor do credor uma prestação de dar, fazer ou não fazer (Washington de Barros). É um conceito estático que não reflete a história da relação obrigacional. 1.2. Conceito atual ou dinâmico (Prof. Clovis do Couto e Silva – “Obrigação como Processo”). A obrigação como processo é um conjunto de atividades necessárias à satisfação do credor. São fases interdependentes norteadas pela boa-fé objetiva que conduzem ao adimplemento “o adimplemento atrai, polariza”. 1.3. Elementos das obrigações; a) Elemento subjetivo (sujeito) (i) Sujeito ativo – credor (ii) Sujeito passivo – devedor Obs.: nos contratos bilaterais em que há prestação e contraprestação, as partes atuam reciprocamente como credores e devedores ex.: locação e compra e venda. b) Elemento objetivo (objeto) O objeto da obrigação é a prestação, que será de dar, fazer ou não fazer (objeto próximo ou imediato). O outro objeto da obrigação é o bem da vida e portanto existe em número ilimitado (objeto remoto ou ilimitado). Exemplo: Objeto Objeto Imediato mediato João deve dar o carro João deve fazer o muro João deve não fazer a obra c) Imaterial (virtual ou espiritual) É o vínculo jurídico, ou seja, o elemento de ligação entre as partes. Esse vínculo se diz jurídico porque, sendo disciplinado pela lei, vem acompanhado de sanção. Se o devedor deixou de efetuar 2 de 4 o pagamento, a lei autoriza que o credor, por meio da execução patrimonial do inadimplente, obtenha a satisfação de seu crédito. A teoria do vínculo que prevalece no direito brasileiro é a teoria dualista, desenvolvida por Brinz na Alemanha, no século XIX. Por esta teoria, o vinculo obrigacional é composto por dois elementos: (i) Dívida / Schuld / debitum – é o cumprimento espontâneo da prestação pelo devedor. Ex.: o vendedor tem que entregar o bem vendido (ii) Responsabilidade / Haftung / obrigatio – é a prerrogativa conferida ao credor de tomar bens do devedor na hipótese de inadimplemento. A responsabilidade no Brasil é patrimonial por força dos artigos 391 e 392 cc. “Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor.” “Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.” Contudo pela literalidade do artigo 391, todos os bens responderiam pelas dívidas. A Luz do princípio do mínimo existencial (Luiz Edson Faccin) o sistema preserva um patrimônio mínimo, que garanta uma vida digna à pessoa, atendendo ao preceito constitucional. Ex. impenhorabilidade do bem de família e impenhorabilidade dos salários. Também fere a ideia de patrimônio mínimo a doação universal, ou seja, em que o doador doa todos os seus bens sem reserva pela sua subsistência. A prisão civil decorrente de dívida existe excepcionalmente no sistema brasileiro Art. 5º, LXVII, CF. “LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;” Prisão do devedor de alimentos: Devedor de obrigação alimentar que sem qualquer motivo deixa de cumpri-la. Obs.: 1. Pela súmula 309 do STJ, só se prende o devedor pelo atraso das três prestações vencidas antes do ajuizamento da execução (alimento atuais). Quanto as demais pretéritas, não cabe a prisão e a execução se dá por penhora (art. 732 CPC). Pois os alimentos são considerados pretéritos. 3 de 4 “Súmula 309. O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores à citação e as que vencerem no curso do processo.” 2. A constituição sacrifica o valor liberdade em favor do valor vida servindo a prisão civil como forma de coerção do devedor. 3. O direito de pedir alimentos entre pais e filhos não prescreve. Fixada a prestação pelo art. 206, §2º, a prescrição é de dois anos contados do vencimento. Contudo, por força do art. 197,II, a prescrição não corre enquanto durar o poder familiar. Ou seja, a prescrição de dois anos só se inicia com a maioridade aos 18 anos ou com a emancipação. Art. 206. Precreve: § 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem. Art. 197. Não corre a prescrição: II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; Prisão do depositário infiel: é infiel o depositário que traindo a confiança do depositante, se nega em restituir a coisa depositada. A prisão é imaginada como sanção por quebra da confiança. O Brasil assinou e ratificou o pacto de São José da Costa Rica, que é tratado de direitos humanos e só permite a prisão do devedor de alimentos. A ratificação ocorreu em 1991. Em interpretação da época, o STF entendeu que o tratado como norma hierarquicamente inferior a CF não alterou seu texto e, portanto continuou admitir amplamente a prisão do depositário infiel (relatoria do Min. Moreira Alves). O STF mudou sua orientação nas decisões dos RE 349.703 2 e RE 466.343 (Sumula vinculante 25 – dezembro de 2009). Prevaleceu o entendimento do ministro Gilmar Mendes pelo qual o tratado não entrou no sistema como emenda constitucional, mas tem o caráter supralegal que o coloca entre a constituição e todas as normas infraconstitucionais. Seu efeito é retirar a eficácia de toda e qualquer hipótese de prisão contida na legislação. Com isto o supremo editou a súmula 25 que é vinculante e determina ser ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito. O STJ editou a súmula 419 pela qual descabe a prisão civil do depositário judicial infiel (março de 2010) Conclusão: Com esta orientação, o STF indica que o valor liberdade é maior que o valor patrimônio. 2. OBRIGAÇÃO IMPERFEITA Há dívida, mas não há responsabilidade – denominada obrigação natural. Ex.: a) dívida prescrita; 4 de 4 b) mútuo feito a menor; c) dívida de jogo e aposta; Há três tipos de jogos ou apostas: (i) jogo licito ou regulamentado (jóquei): gera obrigação civil e portanto exigível (ii) jogo lícito mas não regulamentado: gera obrigação natural (iii) jogo ilícito (jogo do bicho, cassino etc): gera obrigação nula Obs.: se a dívida de jogo é contraída em país no qual o jogo é admitido, gera obrigação exigível, que pode ser cobrada no Brasil STF carta rogatória 9897/02 – STJ Agravo regimental 3198/EUA Próxima aula: consequência da obrigação natural
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