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Aula 08: Justiça da Infância e da Juventude e Proteção Judicial dos Interesses Individuais, Difusos e Coletivos 
Introdução
As próprias crianças e os adolescentes, utilizando-se de sua condição de sujeitos de direitos, têm, atualmente, mais consciência desses direitos, o que os faz buscar, junto à família, à sociedade e ao Estado, o cumprimento dos mesmos. Isso é um aspecto bastante positivo trazido em razão de o legislador ter tido a preocupação de traçar as linhas mestras para garantir às crianças e aos adolescentes o acesso à justiça.
Assim, especificou-se toda a parte processual do direito da Infância e da Juventude: normas referentes à capacidade, à gratuidade de justiça, ao segredo de justiça, à competência, às ações e aos seus procedimentos, aos recursos e às partes que atuam nos processos (juiz, Mistério Público, advogado).
Portanto, você está convidado a reconhecer essa justiça especializada, bem como os mecanismos de defesa de direitos.
Objetivos
Compreender o funcionamento da Justiça da Infância e da Juventude e as regras que permitem o acesso a esta justiça, e os órgãos que dela fazem parte bem como as suas funções;
Analisar o sistema recursal peculiar da Justiça da Infância e da Juventude bem como suas regras e a competência tanto em razão do lugar quanto em razão da sua matéria;
Distinguir os direitos individuais, difusos e coletivos e os mecanismos de proteção dos mesmos no âmbito da Justiça da Infância e da Juventude.
Breve histórico
O 1º Juizado de Menores do Brasil e da América Latina foi criado em 20 de dezembro de 1923, no Rio de Janeiro, localizado onde atualmente funciona o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). O primeiro Juiz de Menores, como chamado na época, foi empossado em 02 de fevereiro de 1924, sendo o Dr. José Cândido de Albuquerque Mello Mattos. Daí o primeiro Código de Menores ter sido conhecido e chamado de “Código Mello Mattos”.
Com a criação do ECA, cada Estado e o Distrito Federal puderam criar varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude.
Cabe ressaltar que as Varas da Infância e da Juventude não integram a denominada Justiça Especializada, e sim são uma especialização da justiça comum, sendo do Poder Judiciário Estadual a atribuição de criação e instalação destes órgãos, conforme determina o art. 146 do ECA.
Do acesso à Justiça da Infância e da Juventude
A toda criança ou adolescente, sem distinção, é garantido o acesso à Justiça da Infância e da Juventude. E esse acesso deve ser interpretado de forma ampla, ou seja, não somente à figura do juiz, mas a todos aqueles que fazem parte desta justiça, como a Defensoria Pública e o Ministério Público.
Assim, o legislador definiu regras de acesso a esta justiça especializada, como forma de facilitar e incentivar a utilização da mesma, sem deixar de garantir a proteção aos preceitos do ECA.
As regras do Estatuto da Criança e do Adolescente, por ser este uma lei especial, prevalecem sobre as leis tidas como gerais. A partir dessa premissa, dispôs o legislador, no art. 152, que as normas gerais processuais previstas nas legislações pertinentes se apliquem subsidiariamente às regras do ECA.
Alguns exemplos dessas regras são:
Garantia de assistência judiciária gratuita aos que dela necessitarem, através de defensor público ou advogado nomeado.
Isenção de custas e emolumentos para as ações judiciais e da sua competência bem como para os recursos.
As crianças e os adolescentes devem ser devidamente representados ou assistidos por seus pais ou responsáveis ou curadores nomeados, nos processos judiciais.
Garantia de sigilo de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional: segundo o disposto no parágrafo único do art. 143, a violação dessa regra configura a prática da infração administrativa prevista no art. 247 do ECA.
E deve ser ressaltado que não estão amparadas pela regra do mesmo art. 143, as vítimas do ato infracional, mesmo que sejam crianças ou adolescentes, já que a regra é específica para o autor do ato infracional.
Composição da Justiça da Infância e Juventude
A Justiça da Infância e Juventude é composta pelo juiz, pela equipe interprofissional ou pelo corpo técnico formado por assistentes sociais, psicólogos etc., que desenvolvem trabalhos conjuntos, tais como elaboração de laudos, aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros.
O Ministério Público passou a ter papel mais amplo com a Constituição Federal de 1988, passando a ter atuação mais voltada para a solução de problemas sociais. No artigo 201, do ECA, o legislador trouxe de forma exemplificativa as atribuições do Ministério Público.
O papel do advogado ou defensor também é essencial. O artigo 207, do ECA, estabelece que nenhum adolescente ao qual se atribua a prática de ato infracional será processado sem a presença do seu defensor.
Competência em razão do lugar
Art. 147 (ECA)
• Este artigo, trata da competência em razão do lugar ou territorial. Ela define o local da propositura das ações. Vale ressaltar que ela é diversa da regra da competência territorial geral, prevista pelo CPC. Ela se aplica nas hipóteses dos arts. 98 e 148, III, VII e § único, do ECA.
• Ele também possui dois incisos, sendo a regra o inciso I, e a exceção, o inciso II. Desta forma, a competência do juízo será fixada pelo domicílio dos pais ou responsáveis, desde que a criança ou o adolescente esteja na companhia dos genitores ou acolhido em entidade. E, não havendo pais ou responsável, ou estando eles em local incerto e não sabido, o foro competente será o do local onde se encontra a criança ou o adolescente. Isto porque o legislador aderiu à regra do juízo imediato do CPC, ou seja, aquele mais próximo de onde se encontra a criança ou o adolescente, para uma prestação jurisdicional mais rápida e eficaz.
Em caso de genitores com domicílios diferentes, deve-se escolher o que melhor atenda aos interesses da criança ou do adolescente.
No caso do julgamento da ação socioeducativa, o critério adotado é o do local da prática do ato infracional e não o local do resultado. Esse critério visa facilitar a colheita de provas, em face da proximidade, fazendo com que o processo tenha o curso mais célere.
Já para o processo de execução das medidas socioeducativas, o juízo competente será o mesmo que julgou a ação. O § 2º, do art. 147, traz exceção a esta regra quando os pais ou os responsáveis residem em comarca diversa do local onde ocorreu o ato infracional. Nesse caso, a lei determina que poderá haver delegação da execução da medida.
No que tange à competência para processar infração cometida através de transmissão simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma comarca (§ 3º do art. 147), será competente a autoridade judiciária do local da sede estadual da emissora ou rede, tendo a sentença eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras do respectivo estado. 
Competência em razão da matéria
O art. 148, do ECA, trata da competência em razão da matéria abrangida pela Justiça da Infância e da Juventude, ou seja, define as situações que exigem a atuação desta justiça.
O rol do artigo 148 não contempla a competência para julgar crimes contra criança ou adolescente. No entanto, o SO rol do artigo 148 não contempla a competência para julgar crimes contra criança ou adolescente. No entanto, o STF entendeu que é possível tal hipótese, em caso de crimes sexuais praticados contra criança ou adolescente. 
Os incisos I a VII do artigo são aplicáveis a crianças e adolescentes em qualquer situação: regular ou não. É a competência exclusiva, já que só a Justiça da Infância e da Juventude pode atuar nestes casos.
Já o § único, trata de casos de crianças e adolescentes incursas nas hipóteses do art. 98 do ECA. Logo, não se tratando destas hipóteses, a competência não será da Justiça da Infância e Juventude. É a competência concorrente.
SAIBA MAIS
Em caso de ato infracional praticado contra bem da União, a competênciaé da Justiça da Infância e da Juventude. Para restituição de coisa apreendida, é do juízo criminal, já que o ECA só prevê o procedimento administrativo.
É da competência do juiz da Infância e Juventude disciplinar ou autorizar a entrada ou participação de crianças e adolescentes em locais de diversão pública, espetáculos/eventos, atendendo aos princípios do ECA, através de portaria ou alvará.
Veja as situações nos incisos do art. 149:
I
A entrada e permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável, em:
a) estádio, ginásio e campo desportivo;
b) bailes ou promoções dançantes;
c) boate ou congêneres;
d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
Nas situações previstas, a contrario sensu, se as crianças e os adolescentes estiverem acompanhados dos pais, poderão frequentar tais locais.
II
A participação de criança e adolescente em:
espetáculos públicos e seus ensaios;
certames de beleza.
... Mesmo acompanhados, necessitam de autorização.
Vale ressaltar que o legislador deve estabelecer os parâmetros que visam nortear o magistrado no momento da elaboração das portarias ou do exame do pedido de alvará.
Art. 199 (ECA)
Como o ECA não vinculou a validade dessas portarias à submissão de reexame a nenhum órgão, permitiu que a sua revisão fosse feita através de recurso de apelação (art. 199 do ECA).
Dos Recursos
As regras relativas aos recursos a serem utilizados nos processos que tenham por objeto matéria regulamentada pelo ECA estão contidas nos arts. 198 e 199. O legislador estatutário elegeu o sistema recursal previsto no CPC, sem levar em conta a matéria que está sendo objeto de impugnação, se civil ou penal.
Porém os recursos, na Justiça da Infância e da Juventude, possuem certas peculiaridades:
Os recursos não possuem preparo: isto reduz custos e incentiva o acesso à justiça, proporcionando maior efetividade ao direito.
O prazo para interposição e resposta dos recursos é sempre de 10 dias, para o Ministério Público e para a defesa, com exceção dos embargos de declaração, que é de 48h: isto proporciona mais celeridade aos processos. Leia mais:
Artigo 198
A redação do caput do artigo 198 foi alterada pela Lei 12594/12, que passou a mencionar expressamente as medidas socioeducativas, além de alteração do inciso II, para estabelecer que o prazo dos recursos seria aplicável ao Ministério Público e à defesa, excluindo a exceção do agravo, tendo em vista que a antiga redação, ao estabelecer o prazo de 10 dias, excepcionava além dos embargos de declaração, o recurso de agravo.
Os recursos serão processados com prioridade absoluta, devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e com parecer urgente do Ministério Público. Além disso, têm preferência no julgamento e dispensam revisor: também gera mais celeridade aos processos.
O recurso de apelação só será recebido no duplo efeito (devolutivo e suspensivo) se tratar-se de adoção internacional ou se houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação ao adotando: a regra, pelo CPC, é atribuir o duplo efeito à apelação, mas, neste caso, a fim de dar celeridade aos processos, só haverá o duplo efeito nestas situações.
O juiz da Infância e da Juventude pode exercer o juízo de retratação, ao receber o agravo ou a apelação, reformando assim sua decisão, sem remeter os autos à instância superior.
Proteção judicial dos interesses individuais, difusos e coletivos
Os interesses individuais, difusos e coletivos correspondem à terceira geração de direitos fundamentais. Assim, na defesa dos direitos previstos no ECA, cabem todas as espécies de ações: Ação Civil Pública, Ação Popular, Mandado de Segurança, Obrigação de Fazer e de Não Fazer, Ação Mandamental etc., aplicando-se as regras do CPC.
E, para essas ações, não há também custas/despesas processuais nem emolumentos, como forma de incentivo à busca pela justiça.
Para atender a essa nova modalidade de direitos, fez-se necessário que o ordenamento jurídico criasse novos instrumentos para a sua proteção. E ao tratar de ações para garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes, o legislador agrupou-as em ações individuais e coletivas
Art. 208:
Regem-se pelas disposições desta lei as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular:
I - do ensino obrigatório;
II - de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência;
III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a cinco anos de idade;
IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
V - de programas suplementares de oferta de material didático-escolar, transporte e assistência à saúde do educando do ensino fundamental;
VI - de serviço de assistência social visando à proteção à família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem;
VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
VIII - de escolarização e profissionalização dos adolescentes privados de liberdade.
IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício do direito à convivência familiar por crianças e adolescentes.
X - de programas de atendimento para a execução das medidas socioeducativas e aplicação de medidas de proteção.
§ 1º As hipóteses previstas neste artigo não excluem da proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegidos pela Constituição e pela lei.
§ 2° A investigação do desaparecimento de crianças ou adolescentes será realizada imediatamente após notificação aos órgãos competentes, que deverão comunicar o fato aos portos, aos aeroportos, à Polícia Rodoviária e às companhias de transporte interestaduais e internacionais, fornecendo-lhes todos os dados necessários à identificação do desaparecido.
Com a inclusão do Inciso X pela Lei 12.594/12, passa a ser possível a tutela, por exemplo, por meio de ação civil pública relacionada ao não oferecimento ou à oferta irregular de programas de atendimento para a execução das medidas socioeducativas e aplicação de medidas de proteção.
Fazendo um paralelo, podemos perceber que o Código de Defesa do Consumidor também menciona interesses como sinônimo de direitos.
E, para essas ações, não há também custas/despesas processuais nem emolumentos, como forma de incentivo à busca pela justiça.
A Lei 8.078/1990, Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 81, traz a seguinte disposição:
A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único – a defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para os efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.
II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.
De acordo com a Constituição Federal:
Art. 127;
O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
O artigo 208 do Estatuto elencou algumas situações de não oferecimento ou de oferta irregular de alguns direitos da criança e do adolescente. Pela leitura do parágrafo único, percebemos que o rol é meramente exemplificativo. De maneiraampla, o referido artigo possibilita o ajuizamento de ações de responsabilidade para atacarem quaisquer condutas (por ação ou omissão) que ofendam interesses individuais, difusos ou coletivos.
O caput do artigo 212, do Estatuto, dispõe que, para a defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes, são admissíveis todas as espécies de ações pertinentes: Ação civil pública, Habeas Corpus, Mandado de Segurança e Ação Popular.
De acordo com o ECA, para as ações cíveis fundadas em interesses coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público;
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e os territórios;
III - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam, entre seus fins institucionais, a defesa dos interesses e direitos protegidos por esta lei, dispensada a autorização da assembleia, se houver prévia autorização estatutária.
Embora não haja previsão expressa no ECA, a Defensoria Pública também é parte legítima para ajuizamento da Ação Civil Pública.
Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União e dos estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei.
Em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado poderá assumir a titularidade ativa.
Cabe destacar ainda que, de acordo com o STJ, O MP detém legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em favor de criança e de adolescente, nas seguintes hipóteses, não cumulativas:
Suspensão ou destituição do poder familiar.
Situação de violação ou de ameaça de violação a direitos fundamentais do infante
Inexistência de atuação regular da DP.
Atividades
Questão 1: Ana, com 17 anos de idade, cometeu ato infracional análogo ao crime de homicídio. Como o procedimento apenas teve início depois dela completar 18 anos, Ana acabou sendo submetida a julgamento pelo Tribunal do Júri. Analise o caso em comento.
Ana não poderia ter sido submetida ao júri, mas sim a julgamento pela Justiça da Infância e Juventude (Artigo 148, I do ECA), isso porque aplica-se a teoria da atividade, sendo considerado o momento da conduta. O julgamento do ato infracional é de competência absoluta da Justiça da Infância e Juventude.
Questão 2: Em relação ao acesso à justiça na defesa dos interesses individuais, coletivos e difusos, à atuação do juiz da infância e da juventude, ao MP e suas atribuições e à ACP, assinale a opção correta, consoante às normas do ECA e ao entendimento do STJ.
O juiz deve nomear a DP para atuar como curadora especial da criança ou do adolescente nas ações ajuizadas pelo MP, nos processos em que o infante não seja parte, como nas ações de destituição de poder familiar.
Os atos infracionais, passíveis de medidas protetivas ou socioeducativas, são aqueles cujas condutas típicas estão expressamente previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O MP detém legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em favor de criança e de adolescente, nas seguintes hipóteses, não cumulativas: suspensão ou destituição do poder familiar; situação de violação ou de ameaça de violação a direitos fundamentais do infante; inexistência de atuação regular da DP.
O juízo do local onde tenha ocorrido ou possa ocorrer a ação ou omissão lesiva é absolutamente competente para processar e julgar as ações coletivas propostas em defesa dos interesses do público infanto-juvenil, mesmo na hipótese de a União figurar como ré.
Após o trânsito em julgado da sentença proferida em ACP ajuizada, na defesa dos interesses da criança e do adolescente contra o poder público, o juiz determinará o envio de peças do processo à autoridade competente, para a apuração da responsabilidade civil e administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão lesiva.
Questão 3: Conforme o disposto no artigo 149, inciso I e alíneas, do ECA, compete à autoridade judiciária disciplinar, por meio de portaria, ou autorizar, mediante alvará, a entrada e a permanência de criança ou adolescente, desacompanhado dos pais ou responsável, em:
boate ou congêneres.
casa que explore comercialmente diversões eletrônicas.
bailes ou promoções dançantes.
I, II e III.
II e III, apenas.
I e II, apenas.
III, apenas.
II, apenas.
Questão 4: O Estatuto da Criança e do Adolescente possui em seu bojo um capítulo destinado a regulamentar a proteção judicial dos interesses individuais, difusos e coletivos. A respeito dessa regulamentação, é correto afirmar:
) Admitir-se-á o litisconsórcio necessário entre o Ministério Público da União e dos Estados, na defesa dos interesses e direitos das crianças e adolescentes.
Em caso de desistência ou abandono da ação proposta por associação legitimada, o Ministério Público, ou outro legitimado, deverá assumir a titularidade ativa.
Em ações de obrigação de fazer ou não fazer, caso haja imposição de multa diária ao réu, esta poderá ser exigida mesmo que haja apelação sob análise no Tribunal.
Os valores das multas impostas ao réu, em ações de obrigação de fazer ou não fazer, serão revertidos ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo estado.
O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte.
Aula 9 - O Ato Infracional e a sua apuração
Introdução
Vimos na Aula 7 que, ao praticar um ato infracional, o adolescente está sujeito à aplicação de uma medida socioeducativa. Já a criança que pratica um ato infracional, está sujeita apenas à aplicação das medidas de proteção. (art. 105, ECA)
O conceito de ato infracional encontra-se previsto no art. 103 do ECA.
Na verdade, o ato infracional não é crime nem contravenção, mas sim um ato análogo a estes. Isto porque os menores de 18 anos de idade são inimputáveis segundo a CRFB, o Código Penal e o próprio ECA, sendo a legislação especial que prevê medidas aplicáveis aos autores desses atos. E, devido à inimputabilidade desses menores, eles não preenchem o requisito de culpabilidade para que caiba a aplicação de uma pena. Assim, sua conduta é denominada tecnicamente “ato infracional”, abrangendo a expressão tanto as condutas previstas como crime quanto as previstas como contravenção pela legislação penal.
Objetivos
Reconhecer o ato infracional, entendendo quem o pratica.
Comparar o ato infracional com o conceito de crime, identificando suas consequências.
Compreender o procedimento da apuração do ato infracional e as etapas que o constituem.
Premissa
O artigo 103, do Estatuto, conceitua o ato infracional como a conduta descrita como crime ou contravenção penal. Para entendermos melhor o ato infracional e suas consequências, no ECA, temos que relembrar alguns conceitos do Direito Penal.
No Direito Penal, majoritariamente, o conceito analítico de crime é formado pelo fato típico, ilícito e culpável. Ou seja, o injusto penal (fato típico e ilícito) deve ser complementado pela culpabilidade para se afirmar que existe crime.
O menor de 18 anos não pratica crime justamente por não ter culpabilidade. A inimputabilidade, uma das excludentes da culpabilidade, é estabelecida em critério puramente biológico em relação ao menor de 18 anos. Consoante o artigo 27, do Código Penal, artigo 228, da Constituição Federal e artigo 104 do ECA: “os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.
SAIBA MAIS
As normas relativas à prática do ato infracional previstas no Estatuto dividem-se em normas de Direito Material e de Direito Processual. Não só definem o ato infracional, como também preveem o procedimento a ser adotado caso seja praticado.
Teoria da atividade
Dispõe o artigo 104, parágrafo único, do ECA que:
“Para os efeitos desta lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato.”
Não importa que o ato infracional seja descoberto quando o agente já conte com a maioridade, pois o que implica é a idade do adolescente à data do fato, mais especificamenteno momento em que a conduta é praticada. Não deve ser considerado o momento do resultado. Tanto quanto o Código Penal, o ECA também adotou para o momento do ato infracional a teoria da atividade.
Teremos que, necessariamente, analisar alguns aspectos:
Crime permanente: A conduta se protrai no tempo. Dessa maneira, é como se o crime estivesse sendo praticado a cada momento. Por exemplo, o agente, contando com 17 anos e 10 meses, sequestra uma pessoa. Se, ao completar 18 anos, ele ainda não tiver liberado a pessoa, a ele não serão aplicadas as normas do Estatuto, mas sim as do Código Penal, pois sequestro (artigo 148 do Código Penal) é crime permanente.
Momento da menoridade:
É necessário que se saiba exatamente o momento em que é completada a maioridade. A questão é controvertida.
Para alguns, o agente torna-se imputável no primeiro minuto da data de seu aniversário, independente da hora em que nasceu. Exemplo: se ele nasceu às 20 horas do dia 10 de agosto de 1985, de fato, completou 18 anos às 20 horas do dia 10 de agosto de 2003. No entanto, seguindo a norma do artigo 10, do Código Penal, que determina que, no cômputo dos prazos de Direito Penal seja incluído o dia do começo, ele será imputável a partir do primeiro minuto do dia 10 de agosto de 2003. Se ele pratica uma ação típica às 13 horas desse dia, por exemplo, ele responderá como adulto.
Dentre outros, esse é o entendimento de Júlio Fabrini Mirabete, Damásio de Jesus, Rogério Greco e Cristiane Dupret, adotado majoritariamente pela jurisprudência. Alguns doutrinadores sustentam que só haveria imputabilidade após o horário em que se completaria, realmente, 18 anos. Outros sustentam que a maioridade apenas se daria após o dia do aniversário.
Dessa maneira, se um indivíduo, contando com 17 anos e 5 meses, desejando matar, atira em uma pessoa que só vem a falecer 8 meses depois, ainda que o agente já seja maior, ele responderá nos termos do Estatuto. Ressalte-se que se o crime foi descoberto após ele ter completado 21 anos, nada mais poderia ser feito, tendo ocorrida a prescrição socioeducativa.
Prova da menoridade
Tal prova deve ser feita, em princípio, pela certidão de nascimento, em virtude do que dispõe o artigo 155 do Código de Processo Penal:
“No juízo penal, somente quanto ao estado das pessoas, serão observadas as restrições à prova, estabelecidas na lei civil”.
O Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 74, que dispõe:
“Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil”.
Ressalte-se que a jurisprudência tem aceitado prova idônea, desde que documental.
Critério para aplicação das medidas socioeducativas
Diferente dos crimes, o legislador não vinculou as medidas socioeducativas a um determinado ato infracional.
Sendo assim, caberá ao juiz, na análise do caso concreto, decidir a medida mais adequada, embora o Estatuto nos traga algumas orientações, tais como somente ser cabível a medida de obrigação de reparar o dano quando o ato gerar reflexos patrimoniais ou ainda, determinar que a medida de internação somente será cabível nos casos expressos no artigo 122.
As medidas socioeducativas somente poderão incidir se o ato infracional tiver sido praticado por adolescente, ou seja, pessoas entre 12 e 18 anos de idade incompletos. A criança até comete ato infracional, mas para ela apenas são incidentes as medidas de proteção.
Cabe destacar ser possível que alguém entre 18 e 21 anos receba uma medida socioeducativa, mas desde que o ato infracional tenha sido praticado antes dos 18 anos. É o que se depreende do artigo 2º, parágrafo único, do ECA e do artigo 121, parágrafo 5º. O limite máximo para aplicação de uma medida socioeducativa é de 21 anos de idade.
Prescrição da medida socioeducativa
Muito embora a doutrina, durante bastante tempo, tenha discutido a questão relacionada à prescrição do ato infracional — tendo se dividido em duas correntes — a questão foi sumulada pelo STJ, tornando-se amplamente majoritária. O instituto da prescrição, antevisto no Código Penal, refere-se, em regra, à pena privativa de liberdade.
Apesar de não ter a medida socioeducativa natureza de pena, sempre foi controvertida a aplicação da prescrição penal ao ato infracional. Atualmente, a questão já está pacificada pelo Superior Tribunal de Justiça, que editou a Súmula 338 em 09/05/2007: “A prescrição penal é aplicável nas medidas socioeducativas”.
Assim, a tabela prevista, no artigo 109, do Código Penal pode ser aplicada ao ato infracional da seguinte forma:
Na hipótese em que o magistrado menorista define prazo certo para a duração da medida socioeducativa, à luz do enunciado do artigo 110, caput, do Código Penal, será este o utilizado para o cálculo prescricional. Exemplo: imposta medida de prestação de serviços à comunidade pelo prazo máximo de 3 meses, em sentença transitada em julgado, a prescrição é de 1 ano e meio, a teor do disposto no artigo 109, inciso VI, c.c., art. 115 do Código Penal. Ou seja, a prescrição será sempre contada da metade, tendo em vista o disposto no art. 115 do Código Penal
Tratando-se de medida socioeducativa de internação, que é aplicada sem prazo de duração certo, o cálculo da prescrição, por analogia, deve ter em vista o limite de 3 anos previstos para a duração máxima da medida de internação, na forma do artigo 121, § 3º, do ECA. Sendo assim, aplicado o artigo 109, c.c, artigo 115, do Código Penal, a prescrição se opera em 4 anos.
Sendo o ato infracional praticado equiparado a delito que prevê como preceito secundário sanção inferior a 3 anos, o cálculo da prescrição deve ser aferido pela pena máxima em abstrato previsto ao delito praticado.
Se a legislação penal estabelece pena inferior ao prazo máximo estipulado para a aplicação da medida socioeducativa de internação (3 anos), não se pode admitir que se utilize tal parâmetro para o cálculo da prescrição, uma vez que levaria a situações de flagrante desproporcionalidade e injustiça, porquanto se daria tratamento mais rigoroso a um adolescente do que a um adulto em situações análogas.
SAIBA MAIS
Cabe destacar ainda que, além da aplicação da prescrição penal às medidas socioeducativas, pode-se também falar em prescrição socioeducativa, que se opera quando o autor do fato completa 21 anos de idade.
Dos direitos individuais e das garantias processuais do adolescente infrator
O legislador definiu, no ECA, tanto os direitos individuais quanto as garantias processuais do adolescente infrator. Esses direitos fundamentais (arts. 106 a 109, ECA) e estas garantias processuais (arts. 110 e 111, ECA) nada mais são que os direitos fundamentais e as garantias processuais do cidadão comum, acrescidos do status de prioridade absoluta e adequados à condição de pessoa em desenvolvimento do adolescente.
Assim, o legislador entendeu por bem ratificar que os direitos individuais e as garantias processuais, previstos para o criminoso adulto, também são aplicáveis aos adolescentes que praticam atos infracionais. Vamos destacar:
No artigo 106, previu o legislador a garantia de que nenhum adolescente possa ser apreendido senão em flagrante delito ou por ordem de autoridade judicial competente. Esta ressalva, em relação à autoridade competente, é importante por limitar a prerrogativa exclusivamente ao Juiz da Infância e da Juventude.
É assegurado ainda ao adolescente infrator, o direito de saber quem são os responsáveis pela sua apreensão, e determina o ECA que o mesmo seja informado acerca dos seus direitos, inclusive o de permanecer calado em sede policial.
A importância prática da obrigatoriedade quanto à identificação dos responsáveis pela apreensão consiste em coibir o abuso de autoridade. E ainda, o adolescente só pode ser conduzido à delegacia especializada (pena: art. 230, ECA).
No artigo 106, previu o legislador a garantia de que nenhum adolescente possa ser apreendido senão em flagrante delito ou por ordem de autoridade judicial competente. Esta ressalva, em relação à autoridade competente, é importantepor limitar a prerrogativa exclusivamente ao Juiz da Infância e da Juventude.
É assegurado ainda ao adolescente infrator, o direito de saber quem são os responsáveis pela sua apreensão, e determina o ECA que o mesmo seja informado acerca dos seus direitos, inclusive o de permanecer calado em sede policial.
A importância prática da obrigatoriedade quanto à identificação dos responsáveis pela apreensão consiste em coibir o abuso de autoridade. E ainda, o adolescente só pode ser conduzido à delegacia especializada (pena: art. 230, ECA).
O enunciado do artigo 110 inspirou-se no artigo 5, inc. LIV, da CFRB. Assim, o legislador prevê que nenhum adolescente poderá ser privado de sua liberdade, sem o devido processo legal.
Para cada conduta, um processo. Como corolário do devido processo legal, garantiu ao adolescente infrator, no artigo 111, do ECA, o direito de citação, igualdade na relação processual, defesa técnica por advogado, assistência judiciária gratuita, bem como o direito de ser ouvido pessoalmente e de solicitar a presença de seus pais em qualquer fase do processo.
No artigo 124, o legislador garantiu ainda, alguns direitos ao adolescente infrator já privado de sua liberdade pela medida socioeducativa de internação. Isto porque, mesmo sendo infrator, o adolescente é sujeito de direitos, necessitando de proteção. Dentre esses direitos, pode ser citado o de visitação com periodicidade semanal, o de avistar-se reservadamente com seu defensor e de peticionar diretamente à autoridade.
O ECA vedou a incomunicabilidade, mas trouxe a previsão de suspensão temporária de visitas, inclusive dos próprios pais, por decisão motivada do juiz.
Procedimento de apuração do ato infracional
Este procedimento se divide em 3 fases distintas. São elas:
Fase Especial:
Inicia-se com a apreensão em flagrante do adolescente, seguida de seu encaminhamento à delegacia de polícia especializada (se houver), a fim de ser lavrado ou o auto de apreensão em flagrante ou o boletim de ocorrência circunstanciado, conforme a natureza do ato infracional praticado (vide arts. 172 e 173 do ECA).
Ao chegar à delegacia, a autoridade competente deve comunicar imediatamente a apreensão ao juiz, aos pais ou responsável do adolescente ou à pessoa por ele indicada, sob pena de responder pelo crime do art. 231 do ECA. Hipóteses de cabimento:
a) Auto de apreensão em flagrante: Se o ato foi praticado com violência ou grave ameaça à pessoa.
b) Boletim de ocorrência: Se o ato não foi praticado com violência ou grave ameaça à pessoa.
No art. 173, além de prever o procedimento a ser adotado em sede policial, o legislador ainda apontou as providências a serem tomadas, a fim de se comprovar a autoria e a materialidade, bem como a garantia de direito contida no artigo 107 do ECA. Ainda nessa fase, previu a possibilidade de liberação ou não do infrator pela autoridade policial. (art. 174, ECA).
Para tanto, o delegado e as demais autoridades terão que se pautar pelas regras do art. 122 do ECA, que admite a internação quando o ato infracional for cometido mediante violência ou grave ameaça à pessoa.
Observação: Como o estatuto não definiu o significado de ato infracional de natureza grave, por conta dessa omissão, a doutrina majoritária adotou um critério com base na lei penal para defini-lo, entendendo por ato infracional de natureza grave como sendo o ato análogo ao crime apenado com pena de reclusão.
Ressalte-se que a internação admitida antes da sentença é a denominada internação provisória, pautada no art. 108, do ECA, baseada em indícios de autoria e materialidade e necessidade imperiosa da medida.
Seu prazo máximo será de 45 dias. Não cabe à autoridade policial determinar a internação provisória, mas tão somente ao Juiz da Infância e Juventude. A regra é a liberação condicionada aos pais, que prestam compromisso de apresentar o adolescente ao MP no mesmo dia ou no máximo no dia útil seguinte.
Excepcionalmente, o adolescente será internado de forma provisória. No art. 174, o legislador ainda prevê que não sendo o adolescente liberado e não podendo ser apresentado no prazo de 24 horas ao Promotor de Justiça, ele deverá ser encaminhado a uma entidade adequada ou, na falta desta entidade, deverá ser mantido em cela separada dos adultos. (art. 175, ECA).
No caso de suspeita de participação de adolescente, em prática de ato infracional, previu o legislador a possibilidade de investigação, que se dará com a instauração de inquérito policial, que culmina com a elaboração de um relatório, o qual deverá ser encaminhado ao Ministério Público. (arts. 176 e 177, ECA).
Assim, podemos concluir que:
a) Estando o adolescente em estado de flagrância: dependendo da natureza do ato infracional praticado, o delegado poderá lavrar um auto de apreensão em flagrante (art. 173, caput e incisos do ECA) ou um boletim circunstanciado (art. 173, § único do ECA).
b) Se não houver flagrante, mas havendo indícios de envolvimento do adolescente com prática de ato infracional, o delegado poderá investigar e lavrar um relatório. (art. 177, ECA) Finalmente, objetivando dar mais visibilidade no transporte do adolescente infrator, o legislador não permitiu que ele fosse transportado em compartimento fechado de viatura policial. (art. 178, ECA)
Partindo do mesmo princípio, não é possível algemar o adolescente infrator, a não ser se houver necessidade em razão da segurança/periculosidade.
Ou seja, como o ECA nada dispõe acerca do uso de algemas, o raciocínio é o mesmo da súmula vinculante 11 do STF: “Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”.
Fase Ministerial:
Ultimadas as diligências policiais, verificando-se não ser o caso de liberação imediata do adolescente, este deverá ser encaminhado pelo delegado ao MP, juntamente com a providência adotada na delegacia, no prazo de 24 horas.
Chegando os autos ao cartório da Vara da Infância e Juventude, este deverá exarar certidão acerca dos antecedentes do adolescente, dando início à segunda fase para apuração do ato infracional, cabendo ao Ministério Público, na forma do art. 179, do ECA, ouvir informalmente o adolescente sobre os fatos que lhe são imputados, bem como seus pais e as testemunhas, se for possível. 
Se o adolescente for liberado e não se apresentar espontaneamente, na data constante do termo de compromisso firmado na Delegacia (art. 174), o representante do Ministério Público deverá notificar seus pais para apresentá-lo, podendo inclusive requisitar força policial. (art. 179, § único, c/c, art. 201, VI, alínea “a”, ambos do ECA)
Após ouvir o adolescente infrator, o representante do Ministério Público poderá optar por três alternativas previstas pelo art. 180 do ECA:
promover o arquivamento dos autos (art. 181, ECA): Verificando o MP que o fato é inexistente ou não está provado, ou o fato não constitui ato infracional, ou não há comprovação acerca do envolvimento do adolescente, deverá promover o arquivamento dos autos, através de manifestação fundamentada, e nos moldes do art. 180, I, c/c, arts. 189 e 205, todos do ECA, e remetê-lo à homologação judicial. Caso o Juiz da Infância discorde do arquivamento, fará remessa dos autos ao Procurador Geral de Justiça, e este oferecerá representação, ou designará outro membro do Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar.
conceder remissão como forma de exclusão do processo (art. 126, 1ª parte, ECA): A remissão tem natureza de perdão e faz parte do elenco de providências que o MP poderá optar, com certa discricionariedade.
Neste caso, levando-se em consideração as circunstâncias e consequênciasda infração, a personalidade do infrator e sua maior ou menor participação no ato infracional (art. 126, ECA), o MP pode conceder a remissão ao adolescente infrator, impedindo que se instaure o procedimento de apuração do ato infracional. É interessante ressaltar que o legislador, em nenhum momento, se reportou diretamente à gravidade da infração.
Tal como o arquivamento, a concessão da remissão depende de manifestação fundamentada e de homologação judicial para produção de seus efeitos. É importante ressaltar que o ECA prevê duas espécies de remissão. São elas:
a) Remissão anterior ao procedimento judicial: É a que vimos anteriormente, prevista no caput, do art. 126, oferecida pelo membro do MP antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, e possui como consequência a exclusão do processo. Possui natureza administrativa, pois impede que se instaure o procedimento de apuração do ato infracional.
b) Remissão aplicada no curso do procedimento judicial: Prevista no art. 126, parágrafo único, do ECA, é aquela oferecida pela autoridade judiciária, e após início do procedimento judicial. A consequência desta remissão é a suspensão ou extinção do processo.
Nesta modalidade de remissão, é possível a cumulação da mesma com a aplicação de medida socioeducativa (exceto as de semiliberdade e internação, que prescindem de ampla defesa e contraditório). Já na primeira hipótese de remissão, esta cumulação é controvertida: quem entende que não pode cumular, acha que se estaria afrontando o princípio do devido processo legal e do contraditório, e também por não ser atribuição do MP e sim, do juiz, aplicar tais medidas. (Súmula 108 do STJ).
Quem entende que pode cumular, não vê violação a tais princípios, pois o MP faz o requerimento à autoridade judiciária, que então homologa a transação, e também entende que, quando o MP aplica a remissão, e impõe medida socioeducativa, está transacionando com o adolescente (oferece o não processar pela aceitação voluntária de medidas socioeducativas, excluídas as de semiliberdade e internação). Prevalece o primeiro entendimento.
A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou a comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, e a medida aplicada por força da remissão poderá ser revista judicialmente, a qualquer tempo, diante pedido expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério Público.
c) Ou representar (art. 182, ECA): A ação socioeducativa tem início com o recebimento da peça técnica denominada de “representação” pelo legislador estatutário.
São características dessa ação (representação):
1. Natureza pública incondicionada, independentemente do tipo do ato infracional praticado.
2. A legitimidade é exclusiva do Ministério Público, assim não há que se falar em ação socioeducativa de natureza privada.
3. A ação socioeducativa é regida pelo princípio da disponibilidade, tendo em vista que somente deve ser instaurada se não for caso de arquivamento ou de remissão.
4. Quanto ao aspecto formal, a representação poderá ser oferecida por escrito ou oralmente. Independentemente da forma escolhida, a representação deverá conter um breve resumo dos fatos, classificação do ato infracional, rol de testemunhas e o requerimento de internação provisória ou o pedido de liberação do adolescente, dependendo das condições apresentadas.
Por fim, deve-se também ressaltar que a representação será dirigida sempre ao juiz da Vara da Infância, mesmo que o ato infracional seja análogo a delito criminal da competência da Vara Federal, face aos princípios da prioridade absoluta e a competência exclusiva (art. 148, I, ECA).
Fase Judicial:
Para que seja possível a aplicação de medida socioeducativa, é necessária a promoção da ação socioeducativa, não podendo o juiz aplicar diretamente tal medida sem prévio procedimento judicial.
O Ministério Público é o legitimado exclusivo para a propositura da ação socioeducativa. Não pode o juiz, de ofício, dar início ao procedimento judicial. Ressalte-se que a ação socioeducativa é modalidade de ação pública incondicionada, não havendo necessidade de representação do ofendido.
O artigo 182, parágrafo 2º, dispõe que a representação independe de prova pré-constituída de autoria e materialidade.
Se o juiz recebe a representação, dá início ao procedimento judicial. Primeiramente, o juiz vai determinar a citação do adolescente, embora a lei fale em notificação. O procedimento trazido pelo Estatuto constitui verdadeira ação, sendo a citação o ato próprio de comunicação para determinado adolescente responder a ela. Ele vai aprazar uma audiência de apresentação mediante decisão interlocutória, decidindo ainda pela manutenção ou decretação de internação provisória. Essa audiência equivale a um interrogatório e é imprescindível ao desenvolvimento do procedimento.
O adolescente deve ser citado pessoalmente, jamais por edital ou com hora certa. Se não for localizado ou se, tendo sido citado, não comparece, o feito será sobrestado.
O juiz expede mandado de busca e apreensão do adolescente e fica aguardando. Quando o autor do fato completar 21 anos, o processo deverá ser arquivado, em virtude de prescrição socioeducativa.
Caso os pais não sejam localizados, determina o artigo 184 a nomeação de curador especial ao adolescente. Se esse não tiver advogado constituído, o juiz nomeia defensor para apresentação de defesa prévia em três dias, com rol de testemunhas (artigo 186) e apraza audiência em continuação (que é semelhante a uma audiência de instrução e julgamento). Nessa, serão ouvidas as testemunhas da representação e da defesa prévia, juntada ao relatório da equipe interprofissional, debates orais do Ministério Público e da defesa, pelo prazo de 20 minutos prorrogáveis por mais 10, culminando com a sentença.
Da decisão que concede remissão com aplicação de medida socioeducativa será cabível apelação, assim como da decisão que promove o arquivamento, a que absolve ou sanciona o adolescente.
O artigo 183 dispõe que, quando o adolescente se encontrar internado provisoriamente, o prazo para encerramento do procedimento é de 45 dias. Consoante o artigo 108, o prazo máximo para a internação provisória é de 45 dias, o que justifica a norma do artigo 183 do Estatuto.
Atividades
Questão 1: Juliana, com 8 anos de idade, foi apreendida por um policial, vendendo 200 gramas de maconha para uma colega de escola. O policial conduziu Juliana para a delegacia especializada, onde a mesma foi encaminhada pelo delegado ao Ministério Público.
Analise o caso em comento e mencione se agiu corretamente a autoridade policial.
Gabarito
A autoridade policial não agiu de forma acertada. Juliana é criança e, embora tenha cometido ato infracional, para ela apenas incidem medidas de proteção, não havendo procedimento de apuração. O policial deveria ter encaminhado Juliana ao Conselho Tutelar.
Questão 2: Considerando as normas da Lei Federal nº 8.069, de 13/07/1990, assinale a alternativa correta sobre como é considerada a conduta descrita como crime se praticada por criança ou adolescente.
Crime de menor potencial ofensivo
Contravenção penal
Ato infracional
Crime hediondo
Crime inimputável
Questão 3: O Estatuto da Criança e do Adolescente, ocupando-se da disciplina do tema da prática de ato infracional por adolescente, trouxe inúmeros dispositivos legais, dentre eles os responsáveis pela delimitação das medidas socioeducativas. No que diz respeito a essas medidas, o Estatuto determina que:
em atos infracionais com reflexos patrimoniais, a autoridade competente não poderá determinar que o adolescente restitua o objeto, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima, pois esse dever incumbe aos seus pais.
a prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por um período de 12 meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem comoem programas comunitários ou governamentais.
em se tratando de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa e, no descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta, poderá ser aplicada a medida de internação.
a liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de 3 meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.
Questão 4: Paulo, com 17 anos de idade, foi flagrado praticando ato infracional e o procedimento judicial de apuração foi iniciado. Considerando essa situação hipotética e o que dispõe o ECA, assinale a alternativa correta.
A concessão da remissão pelo Ministério Público importará na interrupção do processo já iniciado e no perdão total de Paulo.
A remissão implica no reconhecimento da responsabilidade de Paulo, mas exclui a possibilidade de aplicação de medida socioeducativa.
A remissão prevalece para efeito de antecedentes, devendo constar nos registros de Paulo junto à Justiça da Infância e da Juventude.
A remissão pode incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação.
A remissão poderá ser revista judicialmente, de ofício ou no prazo de cinco dias, mediante pedido do adolescente, do seu representante legal ou do Ministério Público.
Aula 10 - Infrações administrativas previstas pelo ECA, e o procedimento de apuração de infrações administrativas às normas de proteção à criança e ao adolescente
Introdução
Como vimos nas aulas anteriores, o descumprimento às normas previstas no ECA corresponde a um crime (com penas de reclusão e detenção) ou a uma infração administrativa (com penas de multa), também previstos pelo ECA, sem prejuízo da legislação penal, como forma de coibir estas violações.
O ECA prevê as infrações penais (crimes) a partir do seu artigo 228. Já as infrações administrativas estão previstas a partir do artigo 245.
Objetivos
Identificar os crimes previstos pelo ECA, bem como suas características.
Identificar as infrações administrativas previstas pelo ECA, bem como suas características.
Reconhecer o procedimento de apuração de infrações administrativas às normas de proteção à criança e ao adolescente.
Os crimes e as infrações administrativas
O ECA prevê infrações de duas espécies: penais e administrativas. Podemos perceber que a distinção se encontra na gravidade das condutas praticadas. As condutas descritas como crime são bem mais ofensivas ao bem jurídico tutelado e por isso são alvo do Direito Penal.
De acordo com o artigo 225, as previsões do ECA não afastam as previsões da legislação penal, o que significa que as crianças ou adolescentes podem ser sujeitos passivos de crimes previstos no Código Penal (como maus tratos, homicídio, crimes sexuais contra vulnerável etc.), assim como na lei especial (tortura, tráfico etc.).
Quanto ao artigo 226, é importante destacar que as normas gerais do Código Penal devem ser aplicadas apenas às infrações penais, e não às administrativas.
Por fim, a previsão do artigo 227 é desnecessária, pois a partir do momento em que a lei não traz outra modalidade de ação penal, incide a regra, sendo ela pública incondicionada, não havendo necessidade de tal disposição expressa.
SAIBA MAIS
A competência dos delitos contra a infância e a juventude é da Vara Criminal da respectiva Comarca e não, via de regra, da Justiça da Infância e Juventude, que não julga a prática de crimes. No entanto, já há entendimento do Supremo Tribunal Federal, permitindo que lei estadual disponha sobre a competência da Justiça da Infância e Juventude para julgar crimes sexuais cometidos contra criança e adolescente.
Os crimes do ECA estão previstos do artigo 228 ao artigo 244B.
Via de regra, são crimes dolosos. Apenas os dois primeiros (artigos 228 e 229) admitem modalidade culposa. São diversos os bens jurídicos tutelados ao longo dos artigos. Os dois primeiros preveem o descumprimento a alguns incisos do artigo 10 do ECA. Trata-se de crimes próprios, que somente podem ser praticados pelas pessoas elencadas ao longo dos artigos.
Os artigos seguintes tutelam a liberdade, principalmente do adolescente que cometeu ato infracional. Desta forma, apreender ilegalmente um menor ou ainda, deixar de comunicar a sua apreensão, ocasiona crime do artigo 230 ou 231 do ECA.
Já o artigo 232, crime próprio, prevê modalidade especial de constrangimento da criança ou do adolescente.
O artigo 233 trazia a previsão do crime de tortura, mas foi revogado. Hoje em dia, tortura praticada contra criança ou adolescente é crime previsto na lei de tortura (Lei 9455/97) com causa de aumento de pena.
Os artigos 234 e 235 também tutelam a liberdade do adolescente que cometeu ato infracional, enquanto o artigo 236 visa tutelar o correto exercício de fiscalização exercido pelo Ministério Público ou pelo Conselho Tutelar.
Os artigos 237, 238 e 239 tutelam o direito à convivência familiar, prevendo condutas de subtração do menor de quem detém sua guarda legal com a finalidade de colocá-lo em lar substituto; de entrega indevida do menor a terceiro e de tráfico internacional de menores.
A partir do artigo 240, ao longo de diversos artigos, o ECA prevê os crimes de pornografia infantojuvenil. Os artigos buscam cercar e evitar todas as formas de exploração sexual de crianças e adolescentes.
Os artigos 242, 243 e 244 anteveem condutas que desobedecem à previsão do artigo 81 do ECA. Ou seja, o artigo 81 elenca produtos que não podem ser vendidos para crianças e adolescentes. O artigo 242 prevê a entrega de armas, explosivos ou munições. No entanto, prevalece o artigo 16 do Estatuto do Desarmamento (Lei 10826/03) para armas de fogo, explosivo ou munição. O ECA só deve ser aplicado em se tratando de armas brancas.
Quanto ao artigo 244 A do ECA, predominava o entendimento de que ele havia sido tacitamente revogado pelo crime do artigo 218 B do Código Penal. No entanto, em 2017, a lei 13.440 promoveu alteração em relação à pena, passando a prever além da pena de reclusão de quatro a dez anos e multa, a perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
Já o artigo 244 B prevê o crime de corrupção de menores. Aquele que, por exemplo, pratica crime junto com uma criança ou adolescente, responderá pelo crime cometido e ainda por corrupção de menores. Consoante o enunciado 500 do STJ, o crime do artigo 244 B é crime formal e independe da prova de efetiva corrupção do menor.
O artigo 243 passou por alteração em 2015, tendo entrado em vigor a Lei 13106 no dia 18 de março de 2015. Esta lei solucionou antiga controvérsia. O STJ entendia que a venda de bebida alcoólica a menor caracterizaria mera contravenção penal. Agora, a previsão está expressa no artigo 243 e caracteriza crime. A referida lei revogou a contravenção penal. No entanto, por se tratar de lei maléfica, somente deve ser aplicada a condutas praticadas a partir da sua vigência.
As infrações administrativas previstas pelo ECA são processadas e julgadas pela Justiça da Infância e da Juventude (art. 148, VI, ECA). As infrações são de natureza administrativa e a pena estabelecida é de multa (em salário mínimo). E, além da pena de multa, são estabelecidas penas acessórias para algumas infrações, todas de caráter administrativo, dependendo do ato praticado, como apreensão de publicação, suspensão de programa, fechamento de hotel etc.
O procedimento de apuração destas infrações está previsto nos arts. 194 a 197 do ECA.
SAIBA MAIS
Não se aplica às infrações administrativas a prescrição a que alude o art. 109, do Código Penal, mas sim, por analogia, as regras da prescrição de matéria civil. Aplica-se, contudo, o princípio da retroatividade da lei posterior mais benéfica, prevista no art.2º do Código Penal.
Infrações administrativas previstas no ECA
Vejamos abaixo:
Art. 245:
• Sujeito ativo: responsável pela comunicação de maus tratos (ex.: médico, professor etc.);
• Sujeito passivo: criança ou adolescente vítima de maus tratos;
• Tipo objetivo: deixar de comunicar à autoridade competente, suspeita ou constatação de maus tratos;
• Elemento subjetivo: é o dolo.
Art. 246:
• Sujeito ativo: funcionário da entidade em que está internado o menor;
• Sujeito passivo: criança ou adolescente privados dos direitos elencados no art. 124 do ECA;
• Tipo objetivo: impedir o menor de peticionar à autoridade, de conversar em separado com seu defensor, de receber visitas, de corresponder-se com familiares e amigos, e de receber escolarização e profissionalização;
• Elemento subjetivo: é o dolo.
Art. 247:
• Sujeito ativo: qualquer pessoa que faça a divulgação sem a devida autorização. No caso do §1º, qualquer pessoa que divulgue fotografia ou ilustração;
• Sujeito passivo: criança ou adolescente relacionado;
• Tipo objetivo: divulgar atos ou documentos pertinentes a ato infracional sem a devida autorização (ainda que exibir); 
• Elemento subjetivo: é o dolo.
• O parágrafo segundo teve parte de sua previsão declarada inconstitucional pela ADIN 869-2, em relação à suspensão da programação da emissora até por dois dias, bem como da publicação do periódico até por dois números.
O artigo 248 foi revogado pela Lei 13431 de 2017. Ele trazia a previsão de crime praticado por pessoa que fosse beneficiada com o serviço doméstico de menor.
Art. 249:
• Sujeito ativo: a pessoa que detenha o poder familiar, a tutela ou a guarda. No caso da segunda figura, é qualquer pessoa que descumpra determinação do Conselho Tutelar ou da autoridade judiciária;
• Sujeito passivo: a coletividade. Na segunda figura, o membro do Conselho Tutelar ou a autoridade judiciária. Abrange ainda, a criança ou o adolescente colocado em situação vulnerável pela omissão;
• Tipo objetivo: a primeira parte menciona o descumprimento às obrigações do poder familiar, elencadas no art. 22 do ECA, bem como no caso de descumprimento de tutor ou guardião. A segunda parte trata do descumprimento de ordem do Juiz ou do Conselheiro;
• Elemento subjetivo: é o dolo ou a culpa, esta na modalidade de negligência, imprudência ou imperícia.
Art. 250:
• Sujeito ativo: proprietário do estabelecimento ou o funcionário, comprovado que foi este que o autorizou;
• Sujeito passivo: a criança ou adolescente, em primeiro plano, e a coletividade, objetivando preservar a moralidade;
• Tipo objetivo: hospedar criança ou adolescente desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere;
• Elemento subjetivo: é o dolo ou a culpa, esta na modalidade de negligência, imprudência ou imperícia.
Art. 251:
• Sujeito ativo: pessoa que efetua o transporte;
• Sujeito passivo: a criança ou o adolescente transportado;
• Tipo objetivo: transportar criança ou adolescente desobedecendo às determinações dos arts. 83 a 85 do ECA;
• Elemento subjetivo: é o dolo.
Art. 252:
• Sujeito ativo: responsável pela diversão ou espetáculo público (proprietários ou gerentes de cinemas, casas de shows etc.);
• Sujeito passivo: a criança ou adolescente que assiste a diversão e a espetáculo, e genericamente, a coletividade;
• Tipo objetivo: deixar de afixar em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada sobre a natureza da diversão ou espetáculo, e a faixa etária especificada no certificado de classificação;
• Elemento subjetivo: é o dolo.
Art. 253:
• Sujeito ativo: proprietário ou responsável pela divulgação da peça teatral, filme ou espetáculo;
• Sujeito passivo: a coletividade atingida, abrangendo a criança ou adolescente;
• Tipo objetivo: anunciar peças teatrais, filmes, representações, ou espetáculos sem indicar os limites de idade para o comparecimento;
• Elemento subjetivo: é o dolo.
Art. 254:
• Sujeito ativo: o responsável pela transmissão;
• Sujeito passivo: a coletividade atingida, abrangendo a criança ou adolescente;
• Tipo objetivo: transmitir, por meio de rádio ou TV, programação em horário inadequado ou sem as advertências da classificação etária;
• Elemento subjetivo: é o dolo
Art. 255:
• Sujeito ativo: o responsável pela exibição;
• Sujeito passivo: a coletividade atingida, e a criança ou adolescente que assiste;
• Tipo objetivo: exibir, por meio de filme (cinema ou TV), trailer (amostra sintética do produto), peça ou amostra à criança ou adolescente cujo órgão competente (censor) qualificou-o como inadequado;
• Elemento subjetivo: é o dolo.
Art. 256:
• Sujeito ativo: o proprietário, diretor, gerente ou funcionário responsável pela venda ou locação;
• Sujeito passivo: a criança ou adolescente que adquire ou aluga a fita inadequada;
• Tipo objetivo: vender ou locar fita proibida à criança ou adolescente;
• Elemento subjetivo: é o dolo.
Art. 257:
• Sujeito ativo: a pessoa responsável pela comercialização em embalagem lacrada ou opaca, e ainda, responsável pelas publicações infantojuvenis;
• Sujeito passivo: a criança ou adolescente vítima da exploração comercial e a coletividade;
• Tipo objetivo: em relação ao art. 78, ECA, consiste em comercializar revista e publicação contendo material impróprio ou inadequado à criança ou adolescente, sem embalagem lacrada e sem a advertência de seu conteúdo. Ou ainda, comercializar, a editora, revistas pornográficas com capas desprotegidas de embalagem opaca. E, em relação ao art. 79, ECA, publicar revista ou qualquer outro tipo de publicação vinculada à infância e à juventude com ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcóolicas, tabaco, armas e munições ou sem respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família;
• Elemento subjetivo: é o dolo.
Art. 258:
• Sujeito ativo: a pessoa responsável pelo estabelecimento ou o empresário proprietário;
• Sujeito passivo: a criança ou adolescente que tem acesso ao local de diversão ou espetáculo;
• Tipo objetivo: deixar o responsável ou empresário de observar o ordenamento jurídico acerca do acesso de menores a estes locais;
• Elemento subjetivo: é o dolo.
Art. 258-A:
• Sujeito ativo: as autoridades competentes pelos cadastros;
• Sujeito passivo: a criança ou adolescente passível de adoção;
• Tipo objetivo: deixar a autoridade competente de providenciar a instalação e operacionalização dos cadastros previstos no art. 50, e no § 11, do art. 101, do ECA, ou que deixar de efetuar o cadastramento de crianças e adolescentes em condições de serem adotadas, e de pessoas ou casais habilitados à adoção, e de crianças e adolescentes em regime de acolhimento institucional ou familiar;
• Elemento subjetivo: é o dolo.
Art. 258-B:
• Sujeito ativo: as autoridades competentes pelos cadastros;
• Sujeito passivo: a criança ou adolescente passível de adoção;
• Tipo objetivo: deixar a autoridade competente de providenciar a instalação e operacionalização dos cadastros previstos no art. 50, e no § 11, do art. 101, do ECA, ou que deixar de efetuar o cadastramento de crianças e adolescentes em condições de serem adotadas, e de pessoas ou casais habilitados à adoção, e de crianças e adolescentes em regime de acolhimento institucional ou familiar;
• Elemento subjetivo: é o dolo.
Art. 258-C:
A Lei 13.106 de 2015 incluiu o artigo 258-C no ECA.
Descumprir a proibição estabelecida no inciso II do art. 81:
• Pena: multa de R$3.000,00 (três mil reais) a R$10.000,00 (dez mil reais);
• Medida Administrativa: interdição do estabelecimento comercial até o recolhimento da multa aplicada.
Da apuração de infração administrativa às normas de proteção à criança e ao adolescente
O diploma menorista contemplou o procedimento para apuração das infrações administrativas nos artigos 194 a 197, da Lei n° 8.069/1990. Legitimados foram, ad causam, o Ministério Público, o Conselho Tutelar ou qualquer serventuárioefetivo ou voluntário credenciado pelo respectivo Juízo da Infância e Juventude, ex vi do artigo 194, caput, do ECA. Para a movimentação do Poder Judiciário in casu, os legitimados deverão interpor a denominada representação, ou instá-lo via do auto de infração lavrado por quem de direito (art. 194, §§1° e 2°, ECA).
Todos esses artigos tratam do procedimento com respeito à ampla defesa e ao contraditório, após o qual a autoridade judiciária poderá aplicar a sanção prevista para a infração administrativa. Não se confunda o procedimento em epígrafe com o procedimento observado para o julgamento dos crimes praticados contra crianças ou adolescentes, que se darão pela Vara Criminal. O procedimento previsto para as infrações administrativas ocorrerá perante a Justiça da Infância e Juventude.
O juízo da Infância e Juventude permitiu ao Conselho Tutelar, bem como aos serventuários efetivos ou voluntários credenciados, que representassem perante o juízo competente para o fim colimado em lei, não fazendo, a legislação, menção à obrigatoriedade de tal representação ser firmada por advogado habilitado.
No entanto, caso entenda o magistrado pela necessidade da representação, sob pena de ausência de pressuposto processual fatal, esse deve recebê-la como mera delação da infração administrativa, determinando ex officio a instauração do procedimento.
Atividades
Questão 1: Cláudia, com 16 anos de idade, convenceu sua prima Ana, com 22 anos de idade, a praticar estelionatos com ela. Cláudia já havia praticado esses atos diversas vezes, enquanto Ana nunca tinha se envolvido em qualquer prática delituosa. Descoberta a conduta praticada por ambas, Ana foi denunciada por estelionato e pelo crime de corrupção de menores, previsto no artigo 244 B do ECA. A defesa de Ana alegou que a mesma não corrompeu Cláudia e que não poderia, portanto, a ela ser imputado o crime de corrupção.
Considerando o atual entendimento sumulado do STJ, assiste razão à defesa?
Gabarito
Não, pois de acordo com o enunciado 500 do STJ, o crime de corrupção de menores, previsto no artigo 244 B, do ECA, é crime formal, que independe da efetiva corrupção do menor.
Questão 2: Em relação ao Estatuto da Criança e Adolescente (Lei nº 8.069/90), é correto afirmar que:
a) Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, é crime apenado com reclusão.
b) Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente, é crime apenado com reclusão.
c) Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada é crime apenado com reclusão.
d) Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro é crime apenado com detenção.
e) Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente é crime apenado com reclusão.
Questão 3: No que se refere aos crimes e às infrações administrativas previstos no ECA, assinale a opção correta.
a) De acordo com o STJ, o crime de corrupção de menores é de natureza formal, bastando a participação do menor de 18 anos de idade, na prática de infração penal, para que haja a subsunção da conduta do agente imputável ao correspondente tipo descrito no ECA.
b) O ECA prevê, na modalidade culposa, o crime de omissão na liberação de criança ou adolescente ilegalmente apreendido.
c) Praticará crime material o agente que embaraçar a ação de autoridade judiciária, de membro de conselho tutelar ou de representante do MP no exercício de função prevista no ECA.
d) O crime de descumprimento injustificado de prazo fixado no ECA em benefício de adolescente privado de liberdade é crime culposo e plurissubsistente.
e) O crime de submissão da criança ou do adolescente à vexame ou constrangimento, por ser unissubsistente, não admite a modalidade tentada.
Questão 4: Qual das opções a seguir é crime previsto no ECA?
a) Deixar o médico de comunicar à autoridade competente os casos de seu conhecimento que envolvam suspeita de maus-tratos contra criança ou adolescente.
b) Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada.
c) Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar ou decorrentes de tutela ou guarda.
d) Hospedar crianças ou adolescentes desacompanhados dos pais ou dos responsáveis, ou sem autorização escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere.
e) Exibir filmes, trailers, peças, amostras ou congêneres classificados pelo órgão competente como inadequados a crianças ou adolescentes admitidos no espetáculo.

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