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Direitos Humanos


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Fundamentos das Políticas Públicas em Direitos Humanos
Thais Lima da Hora Santos - Avaliação 2
No texto “Direitos humanos e globalização econômica: notas para uma discussão”, José Eduardo Faria faz uma reflexão sobre a maneira pela qual o fenômeno da globalização econômica e a crescente transnacionalização de mercados e capitais está afetando o terreno da política e promovendo uma transformação nos meios de regulação sociais, que cada vez mais estão sendo substituídos pela lógica de mercado.
De acordo com o autor, tal fenômeno transnacional além de gerar novas formas de poder autônomas, descentralizadas e desterritorializadas, está provocando um crescente esvaziamento de poder dos instrumentos de controle dos atores nacionais, bem como debilitando o caráter essencial da soberania. Outro aspecto explicitado enormemente por este fenômeno, é a limitação estrutural do ordenamento jurídico, que em sua forma tradicional baseada em princípios impessoais, gerais e abstratos dentro de uma lógica formal hierarquizada, já não é suficiente para lidar e resolver os problemas criados pela transnacionlização, que se apresentam de maneira complexa e plurais, tanto econômica quanto culturalmente.
Com a limitação do ordenamento jurídico aliada a pluralidade de situações criadas pelo transnacionalismo, criou-se uma necessidade de admitir-se novas formas de “justiças profissionais” para enfrentar as dificuldades impostas pela política de mercado. Desta maneira, conciliações, arbitragens e sentenças ad hoc tem se tornado cada vez mais comuns e necessárias, sobrepondo-se as técnicas tradicionais próprias do sistema jurídico de um estado-nação.
Em dado momento do texto, o autor suscita a discussão acerca da maneira pela qual os Direitos Humanos são afetados por todas essas mudanças que permeam o campo do ordenamento jurídico. Ora, se os direitos humanos nasceram como forma de limitar a atuação do estado e minimizar a interferência do poder público na esfera individual, agora que o poder dos estados nações estão descentralizados e esvaziados, como serão garantidos os direitos fundamentais individuais inerentes ao ser humano?
Para José Eduardo Faria, do ponto de vista juridicista, estamos entrando em uma época regressiva, em que os direitos humanos e a democracia estão em retrocesso. Do ponto de vista jurídico, os direitos humanos existem, mas não são postos em prática e não existem meios dotados de autoridade para fazê-lo. De acordo com o autor, as “decisões dotadas de enforcement não são as relativas aos direitos humanos, mas as destinadas a neutralizar os efeitos desagregadores da globalização na vida social”. Dentre os efeitos do fenômeno da transnacionalização, talvez o mais perverso seja a intensificação das desigualdades sociais e econômicas através do processo capitalista de acumulação de capital e riqueza, em que uma porcetagem pequena da população é detentora da maior parte dos bens, ampliando a distância entre ricos e pobres, criando em todos os grandes centros urbanos ao redor do mundo guetos completamente marginalizados econômica e socialmente da sociedade. Esse efeito marginalizador da política de mercado obriga as instituiçoes jurídicas estatais a focar suas ações na preservação e restabelecimento da ordem, segurança e disciplina, assumindo funções punitivo-repressivas e afastando-se cada vez mais das suas funções primordiais de “proteger os direitos civis e políticos e de conferir eficácia aos direitos sociais e econômicos”.
De encontro a esta análise de José Eduardo Faria está a ideia apresentada por Marilena Chaui em “Direitos Humanos e Educação – Congresso sobre Direitos Humanos”, em que ela afirma categoricamente que a sociedade brasileira vive um momento de falência da democracia representativa, uma vez que a situação atual do país sócio-econômica e jurídicamente se afasta da definição de democracia. Nossa sociedade é “violenta, autoritária, vertical, hierárquica e está polarizada entre a carência e o privilégio” com enormes obstáculos e resistência a garantia dos direitos civis, econômicos, sociais e culturais.
Em uma sociedade marcada por uma profunda desigualdade sócio-econômica, em que favelas crescem lado a lado a bairros de luxo, onde os brancos são privilegiados e os negros discriminados, chamados de preguiçosos e considerados suspeitos por carregarem na sua cor o peso da sua história, as relações “tomam a forma da dependência, da tutela, da concessão e do favor”, estratificando a sociedade e colocando uma classe em posição superior a outra, de forma que os direitos de uns é considerado como mera concessão por parte do estado, e não como direito inerente a sua condição de ser humano. 
Desta forma, nossas leis não agem no sentido de garantir os direitos fundamentais, e sim no de garantir a manutenção do privilégio, contribuindo para aumentar cada vez mais o abismo entre privilégio e carência que caracterizam nossa sociedade. A lei torna-se então um instrumento de repressão e perpetuação de um modelo político desagregador, cujo objetivo primeiro de servir e proteger é substituído por punir e amedrontar.
Neste sentido, as classes sociais mais desfavorecidas, marginalizadas e reprimidas de manera violenta pelo Estado, além de terem seus direitos mais básicos negados, também são impedidos de reclamá-los, pois são excluídos da condição de cidadãos. 
Uma das formas de amenizar e reduzir os impactos do fenômeno da tansnacionalização na esfera intraestatal explicitados pelos autores José Eduardo Faria e Marilene Chaui, é tema de uma das diretrizes apontadas pelo Plano Nacional de Direitos Humanos III, instituído pelo Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro de 2009, e atualizado pelo Decreto nº 7.177, de 12 de maio de 2010. A diretriz de número 1 concebe a efetivação dos direitos humanos como uma política de Estado essenciail à consolidação da democracia no Brasil. Para atingir tal objetivo, é necessário haver uma interação democrática entre Estado e Sociedade Civil, refletindo o pressuposto de que o compromisso é compartilhado e a participação social na construção e no monitoramento de políticas públicas são essenciais para que a consolidação dos direitos humanos seja substantiva e conte com forte legitimidade democrática. Nesse contexto, o PNDH-3 propõe a integração e ao aprimoramento dos fóruns de participação existentes, bem como a criação de novos espaços e mecanismos institucionais de interação e acompanhamento. Em tempos em que a transnacionalizaçao age de maneira tão devastadora e desagregadora sobre as instituições jurídicas, é necessário que tornem-se efetivos os instrumentos de participação popular democráticos e que as esferas de poder atuem de maneira coletiva e coordenada no sentido de promover os interesses da sociedade, não só com o intuito de promover os direitos fundamentais como também de evitar o esvaziamento de poder do estado nação.