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Aula 03 Legislação Especial p/ PRF - Policial - 2014/2015 Professor: Paulo Guimarães Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 48 AULA 03: Definição dos crimes de tortura (Lei n° 9.455/1997); O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, nos casos de abuso de autoridade (Lei n° 4.898/1965); Abuso de autoridade (Lei n° 4.898/65). Observação importante: este curso é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Grupos de rateio e pirataria são clandestinos, violam a lei e prejudicam os professores que elaboram o cursos. Valorize o trabalho de nossa equipe adquirindo os cursos honestamente através do site Estratégia Concursos ;-) SUMÁRIO PÁGINA 1. Definição dos crimes de tortura (Lei n° 9.455/1997). 2 2. O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, nos casos de abuso de autoridade (Lei n° 4.898/1965). 10 3. Resumo do concurseiro 23 4. Questões comentadas 30 5. Lista das questões apresentadas 43 Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 48 Olá, amigo concurseiro! Nosso curso está andando rapidamente e imagino que você está ganhando cada vez mais confiança na preparação, não é mesmo? - Quero desde já chamar sua atenção para a necessidade de estruturar uma boa estratégia de revisão. Claro que isso será mais importante nos dias que antecederem a sua prova, mas desde já é bom pensar nisso, ok? Força! Bons estudos! 1. LEI NO 9.455/1997 A Lei dos Crimes de Tortura é pequena, mas muito importante. A Constituição Federal traz como princípio o repúdio à tortura e às penas degradantes, desumanas e cruéis. Vejamos os dispositivos constitucionais sobre o assunto. Art. 5°, III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; [...] XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. A tortura, portanto, é um crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. ATENÇÃO! O crime de tortura não é imprescritível! Essa característica é aplicável apenas aos crimes de racismo e às ações de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o estado democrático. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 48 Já houve decisão do STF no sentido de negar também a aplicação do indulto a condenado por crime de tortura. A Constituição determina que o crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia, mas não é imprescritível. O STF também já decidiu que o condenado por crime de tortura também não pode ser beneficiado com indulto. A definição de tortura deve ser buscada na Convenção Internacional contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos e Degradantes, aprovada pelas Nações Unidas em 1984 e ratificada e promulgada pelo Brasil em 1991. O termo tortura designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza, quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionários público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Podemos ver, portanto, que a tortura não resume à imposição de dor física, mas também está relacionada ao sofrimento mental e Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 48 emocional. Essa agonia mental muitas vezes é chamada de tortura limpa, pois não deixa marcas perceptíveis facilmente. Antes da Lei n° 9.455/1997 não havia qualquer definição legal acerca do crime de tortura. O termo era mencionado em algumas leis, mas de forma genérica e esparsa, de modo que a Doutrina nunca aceitou que houvesse a tipificação do crime de tortura antes da referida lei. A Lei da Tortura é muito criticada pela imprecisão na tipificação do crimes de tortura. A lei foi votada às pressas e sem muita discussão no Poder Legislativo, sob o impacto emocional no que aconteceu na Favela Naval, em Diadema. Passaremos agora à análise do texto legal. Art. 1º Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa; II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - reclusão, de dois a oito anos. A tortura, em qualquer de suas modalidades, é crime material, pois só ha consumação com o próprio resultado: o sofrimento da vítima. Pela mesma razão, podemos dizer que é possível a tentativa e a desistência voluntária. Além disso, não se admite o arrependimento eficaz e nem o arrependimento posterior. O crime de tortura é de ação penal pública incondicionada. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 48 CRIME DE TORTURA CARACTERÍSTICAS COMUNS A TODAS AS MODALIDADES É um crime material É possível a tentativa e a desistência voluntária Não se admite arrependimento eficaz e nem arrependimento posterior Ação penal pública incondicionada Pelo texto do art. 1°, podemos concluir que há diferentes modalidades de tortura, a depender da intenção do agente criminoso. Vejamos quais são essas modalidades, de acordo com a própria lei e a Doutrina. MODALIDADES DE TORTURA TORTURA-PROVA ou TORTURA PERSECUTÓRIA Infligida com a finalidade de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira SHVVRD��LQFLVR�,��DOtQHD�³D´�� TORTURA PARA A PRÁTICA DE CRIME ou TORTURA-CRIME Infligida para provocar ação ou omissão de natureza criminosa. TORTURA DISCRIMINATÓRIA ou TORTURA-RACISMO Infligida em razão de discriminação racial ou religiosa TORTURA-CASTIGO Infligida como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Marquei de cor diferente a TORTURA-CASTIGO para que vocêmemorize uma característica diferente. O inciso II do art. 1° tipifica a conduta daquele que inflige sofrimento a pessoa que esteja sob sua guarda, poder ou autoridade, com finalidade de castigar. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 48 Podemos concluir, portanto que a TORTURA-CASTIGO é um crime próprio, pois somente pode ser praticado por quem tenha o dever de guarda ou exerça poder ou autoridade sobre a vítima. Ao mesmo tempo exige-se também uma condição especial do sujeito passivo, que precisa estar sob a autoridade do torturador. O exemplo de TORTURA-CASTIGO mais comum é o do agente penitenciário que tortura presos, ou do pai que tortura os próprios filhos. As demais modalidades de tortura são crimes comuns, pois não se exige nenhuma qualidade especial do agente ou da vítima. § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal. Esta é a TORTURA DA PRESO OU DE PESSOA SUJEITA A MEDIDA DE SEGURANÇA. A tipificação específica de crime cometido contra essas pessoas reforça o que determina a Lei do Abuso de $XWRULGDGH�H�D�SUySULD�&RQVWLWXLomR�)HGHUDO��TXH�DVVHJXUD�³DRV�SUHVRV�R� UHVSHLWR�j�LQWHJULGDGH�ItVLFD�H�PRUDO´� Perceba que esta conduta é a única que não exige dolo específico do agente. Basta que a pessoa presa ou sujeita a medida de segurança seja submetida a sofrimento, não sendo exigida nenhuma finalidade especial por parte do torturador. § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. Esta é a OMISSÃO PERANTE A TORTURA. Já sabemos que, de acordo com o próprio Código Penal, a omissão só é penalmente UHOHYDQWH�³TXDQGR�R�RPLWHQWH�GHYLD�H�SRGLD�DJLU�SDUD�HYLWDU�R�UHVXOWDGR´� Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 48 A Doutrina critica duramente este dispositivo, pois ele apenas criminaliza a omissão daquele que tinha o dever de agir para evitar a tortura, e não inclui aquele que, apesar de não ter o dever, tinha a possibilidade de impedir o ato de tortura e não o fez. Apenas responde por OMISSÃO PERANTE A TORTURA aquele que tinha o dever de agir para evitar o ato de tortura e não o faz. § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos. Estas são as hipóteses de TORTURA QUALIFICADA. Apenas chamo sua atenção para as qualificadoras, que são o resultado lesão corporal grave ou gravíssima, ou morte. A lesão corporal leve não é qualificadora do crime de tortura. A lesão corporal leve não é qualificadora do crime de tortura. A TORTURA QUALIFICADA somente ocorre quando houver como resultado lesão corporal grave ou gravíssima ou, ainda, o resultado morte. Para esclarecer as questões acerca da natureza da lesão corporal, é interessante que você relembre o teor do art. 129 do Código Penal, que trata do tema. As hipóteses de lesão corporal grave estão Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 48 previstas no §1°, enquanto o §2° traz os casos de lesão corporal gravíssima. CP, Art. 129. [...] § 1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: [...] § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Agora voltaremos à Lei n° 9.455/1997 para analisar as causas de aumento de pena para o crime de tortura. § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: I - se o crime é cometido por agente público; II ± se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; III - se o crime é cometido mediante sequestro. O conceito de agente público deve ser tomado de forma ampla, nos termos do Código Penal, que estabelece que, para efeito penais, deve ser considerado funcionário p~EOLFR� ³DTXHOH� TXH�� HPERUD� Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 48 transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função S~EOLFD´� Você já sabe que, nos casos em que a condição de agente público é elementar do crime, não pode se aplicada esta agravante. Não faria sentido, por exemplo, aplicar agravante à TORTURA-CASTIGO infligida por agente penitenciário contra presos, pois, se o agente não fosse funcionário público, não poderia haver o crime. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, são consideradas crianças as pessoas que tenham menos de 12 anos, enquanto adolescentes são aqueles que têm mais de 12 e menos de 18. Por fim, a agravante relacionada ao sequestro é aplicável quando a vítima é sequestrada e, durante o sequestro, o agente comete crime de tortura. Caso o agente cerceie a liberdade da vítima com a finalidade única de infligir a tortura, não há que se falar em sequestro. § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. Este é um efeito extrapenal administrativo da condenação. Caso o agente do crime de tortura seja funcionário público, perderá seu cargo, função ou emprego e ficará interditado para seu exercício pelo período equivalente ao dobro da pena. O STF e o STJ já decidiram que esse efeito decore automaticamente da condenação. § 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. Para responder as questões de prova com precisão, é importante conhecer, ao menos em parte, o conteúdo da Lei n° 8.072/1990, que trata dos crimes hediondos e equiparados, entre eles a tortura. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 48 A mencionada lei estabelecia o cumprimento das penas relativas aos crimes hediondos e equiparados em regime integralmente fechado. Quando a Lei de Tortura foi promulgada, considerou-se que houve derrogação parcial do dispositivo da Lei dos Crimes Hediondos. Em 2007 a Lei dos Crimes Hediondos foi alterada, e hoje todos os crimes hediondos e equiparados devem ter suas penas cumpridas inicialmente em regime fechado, mas é possível a progressão de regime. Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira. Em algumas situações, a Lei de Tortura pode ser aplicada mesmo fora do territórionacional: - Quando a vítima do crime for brasileira; - Quando o agente se encontre em local em que a lei brasileira seja, em geral, aplicável. Encerramos aqui nosso estudo dos crimes de tortura. 2. LEI NO 4.898/1965 2.1. Introdução e aspectos gerais Quando pensamos em abuso de autoridade, vem à nossa mente logo a imagem de um policial excedendo seus poderes. Entretanto, qualquer servidor público que tenha entre suas atribuições a determinação de conduta pode cometer abuso de autoridade. Vejamos a definição de autoridade trazida pela Lei nº 4.898/1965. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 48 Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração. A definição trazida pela lei é bastante ampla, lembrando bastante o conceito de funcionário público para fins penais, não é mesmo? Já houve questões anteriores que cobraram o conhecimento dessa definição, então preste atenção. Pode ser considerado autoridade o servidor público, o membro do Poder Legislativo (Senador, Deputado, Vereador), o magistrado, o membro do Ministério Público (Promotor de Justiça, Procurador da República), bem como o militar das Forças Armadas, o Policial, o Bombeiro, etc. Para fins de apuração do abuso de autoridade, considera-se autoridade quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração. O crime de abuso de autoridade é, via de regra, um atentado contra as liberdades e garantias do cidadão. A própria Constituição confere a qualquer pessoa, na qualidade de garantia individual, o direito de petição contra o abuso de poder (art. 5°, XXXIV). Vamos agora estudar de forma mais profunda esse direito, utilizando as definições e institutos trazidos pela Lei n° 4.898/1965, conhecida como Lei do Abuso de Autoridade. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 48 Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei. Perceba que o objeto da lei não é apenas a responsabilidade penal do servidor público que cometer abuso, mas também a responsabilidade civil e a administrativa. A Lei n° 4.898/1965 trata do direito de representação e da responsabilidade administrativa, civil e penal das autoridades que cometerem abusos. Art. 2º O direito de representação será exercido por meio de petição: a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à autoridade civil ou militar culpada, a respectiva sanção; b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar processo-crime contra a autoridade culpada. Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se as houver. Já vimos que o direito de representação contra o abuso de autoridade pode ser exercido por qualquer pessoa. Além disso, não é necessária a assistência de advogado. Perceba que a petição deve ser dirigida a duas autoridades diferentes: uma é a autoridade superior àquela que cometeu o abuso, e que tenha competência para apurar o ilícito e aplicar a sanção. Outra é o Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 48 Ministério Público, que detém competência constitucional para apurar crimes e promover a ação penal contra os culpados. Apesar de o dispositivo dar a entender que a persecução penal do abuso de autoridade deve dar-se por meio de ação penal pública condicionada à representação, a Lei n° 5.249/1967 deixa claro que o abuso de autoridade é crime de ação penal pública incondicionada e, portanto, não é necessário que haja a representação para que o Ministério Público aja. Os elementos formais que devem estar presentes na representação são os seguintes: - Exposição do fato; - Qualificação do acusado; - Rol de testemunhas (no máximo 3). 2.2. Crimes em espécie Os crimes de abuso de autoridade em geral obedecem a um formato específico: o atentado aos direitos fundamentais. São, portanto, crimes de perigo. Estudaremos agora as condutas previstas no art. 3º, e logo após as condutas do art. 4º. ABUSO DE AUTORIDADE ± CONDUTAS TÍPICAS Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: À liberdade de locomoção A liberdade é um direito fundamental tutelado por diversos dispositivos constitucionais, e pressupõe também princípio do nosso Direito Processual Penal: o indivíduo apenas pode ser preso quando praticar flagrante delito, mediante ordem judicial ou em hipóteses de prisão administrativa aplicáveis apenas aos militares. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 48 À inviolabilidade do domicílio $�&RQVWLWXLomR�TXDOLILFD�D�FDVD�FRPR�³DVLOR� LQYLROiYHO�GR�LQGLYtGXR´�H�SURtEH�D�HQWUDGD�VHP�R� consentimento do morador, salvo em quatro hipóteses: - Flagrante delito; - Desastre; - Para prestar socorro; - Durante o dia, por determinação judicial. A Jurisprudência já tem assentido que o conceito de casa deve ser encarado de forma ampla, incluindo o local não aberto ao público onde é exercida atividade profissional. Ao sigilo da correspondência $�&RQVWLWXLomR�HVWDEHOHFH�TXH�³p�LQYLROiYHO�R� sigilo da correspondência e das comunicações WHOHJUiILFDV´� A Jurisprudência já relativizou essa garantia, aceitando, por exemplo, que a correspondência destinada ao preso seja conhecida pelo dirigente do estabelecimento prisional. À liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício do culto religioso A liberdade de consciência e de crença também é considerada inviolável pela Constituição. Essa noção também já foi relativizada pela Jurisprudência: hoje já é pacífico que as manifestações religiosas não podem ofender outros direitos fundamentais, a exemplo do direito à vida, à liberdade, à integridade física, etc. À liberdade de associação A Constituição assegura o direito de associação, independentemente de autorização estatal. A exceção fica por conta da proibição constitucional às associações de caráter paramilitar e com fins ilícitos. Aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto O voto é um direito fundamental de todo cidadão brasileiro. Atos atentatórios à sistemática das eleições também são tipificados como crimes de responsabilidade. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 48 Ao direito de reunião A Constituição assegura o direitode reunião, desde que as pessoas reúnam-se de forma pacífica e sem armas, e não frustrem uma reunião anteriormente convocada para o mesmo local. Apenas para fins de organização do Poder Público, é necessário comunicar previamente a ocorrência de reunião. À incolumidade física do indivíduo Não só a violência física, mas também a violência psicológica pode caracterizar o abuso de autoridade. Aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional A liberdade de profissão também é assegurada pela Constituição, desde que sejam atendidas as qualificações profissionais estabelecidas em lei. Para exercer a advocacia, por exemplo, é requisito legal ser bacharel em Direito e estar inscrito nos quadros da OAB. ABUSO DE AUTORIDADE ± CONDUTAS TÍPICAS Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: Ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder Mais uma vez o bem jurídico tutelado aqui é a liberdade. As formalidades legais mencionadas estão relacionadas, via de regra, à exigência de ordem judicial, exceto no que tange à prisão em flagrante delito e à prisão administrativa militar. Submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei Vexame é uma humilhação, uma vergonha infligida a uma pessoa. Esse abuso é aquele cometido pelo agente público que detém autoridade (poder de guarda) sobre outra pessoa. Deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa A Constituição determina que a prisão de qualquer pessoa deve ser comunicada imediatamente à autoridade judicial competente e à família do preso. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 48 Deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada Obviamente esta conduta somente pode ser praticada por magistrado, e também ofende um dispositivo constitucional, que determina que a ³SULVmR�LOHJDO�VHUi�LPHGLDWDPHQWH�UHOD[DGD�SHOD� DXWRULGDGH�MXGLFLiULD´� Levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei A regra do Direito Processual Penal brasileiro é a liberdade provisória. Em alguns casos, porém, a lei determina que a autoridade deve arbitrar uma fiança, e nesse caso se ela for paga não há razão para negar a liberdade. Cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor Esta conduta é praticada pela autoridade que cobra valores indevidos dos presos. Normalmente essas cobranças estão relacionadas j�FRQFHVVmR�GH�FHUWRV�SULYLOpJLRV��RX�j�³YLVWD� JURVVD´�IHLWD�D�LOtFLWRV�SUDWLFDGRV�GHQWUR�GD� prisão. Recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa O ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal Este tipo é muito amplo, e diz respeito a atos de autoridade praticados de forma ofensiva à honra e ao patrimônio da pessoa. É o caso, por exemplo, do agente de trânsito que, em vez de apenas aplicar a multa devida, profere xingamentos contra o motorista que pratica irregularidade. Prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou A prisão temporária pode durar no máximo 5 dias (exceto nos crimes hediondos), ao fim dos Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 48 de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade quais, se não foi decretada a prisão preventiva, o próprio delegado deve providenciar o alvará de soltura. Também comete crime de abuso o juiz que não emite ordem para que seja solto o preso que cumpriu sua pena, bem como o dirigente do estabelecimento prisional que não cumpre a ordem. Para concluirmos nosso estudo das condutas relacionadas ao abuso de autoridade, chamo sua atenção para o conteúdo da Súmula Vinculante nº 11, do STF, editada em meio a uma grande controvérsia gerada pela anulação de um julgamento em razão do uso de o réu estar algemado durante a sessão. SÚMULA VINCULANTE Nº 11 do STF Uso de Algemas - Restrições - Responsabilidades do Agente e do Estado - Nulidades Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. 2.3. Sanções A Lei do Abuso de Autoridade traz a possibilidade da aplicação de sanções administrativas, civis e penais. Estudaremos agora as sanções aplicáveis em cada uma das esferas. Para compreendermos as sanções administrativas, precisamos ter atenção a alguns aspectos relacionados ao Direito Administrativo, e também precisamos lembrar, em nossa análise, que a lei que estamos Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 48 estudando é de 1965 e, portanto, pode ser necessário um esforço interpretativo direcionado à atualização dos institutos por ela mencionados. ABUSO DE AUTORIDADE ± SANÇÕES ADMINISTRATIVAS Advertência Apenas verbal. Repreensão Por escrito. Suspensão do cargo, função ou posto por prazo de 5 a 180, com perda de vencimentos e vantagens O agente deixa de exercer o cargo por um período determinado, sem percepção de remuneração. Destituição de função Devemos entender que se trata da destituição de função de confiança ou de cargo em comissão. É uma penalidade equivalente à demissão. Demissão É a penalidade mais gravosa prevista na Lei nº 8.112/1990, e consiste na perda de vínculo do servidor com a Administração Pública. Demissão, a bem do serviço público Esta modalidade de demissão era prevista no antigo estatuto dos servidores civis federais. Atualmente, ainda existe na Lei nº 8.429/1992, para a hipótese de demissão em razão de não entrega ou entrega fraudulenta de declaração de bens para posse e na Lei nº 8.026/1990, a qual definiu dois ilícitos funcionais contra a Fazenda Nacional e para eles previu tal pena de demissão. Quando a autoridade administrativa competente para aplicar a sanção receber a representação, deve determinar a instauração de inquérito para apurar o fato. Esse inquérito deve obedecer às normas Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 48 próprias de cada esfera federativa, devendo a sanção ser anotadanos assentamentos funcionais. Vejamos agora o que a Lei do Abuso de Autoridade determina a respeito das sanções civis aplicáveis. Art. 6º, § 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no pagamento de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros. Hoje o valor determinado pela lei para a indenização civil obviamente não é mais aplicável. Na realidade, o estabelecimento de valores absolutos por meio de lei merece duras críticas, pois a Jurisprudência é pacífica no sentido de que em casos como esses não deve ser aplicada correção monetária. Para aplicar uma sanção civil hoje, o ofendido deve recorrer ao Poder Judiciário, que determinará o valor a ser pago a título de indenização, seguindo o regramento comum, constante do Código de Processo Civil. ABUSO DE AUTORIDADE ± SANÇÕES PENAIS Essas penas podem ser aplicadas alternada ou cumulativamente Multa de cem a cinco mil cruzeiros Mais uma vez a lei trata de valores, que não são aplicáveis hoje. Hoje tem sido aplicada a regra de cálculo de multas do Código Penal, utilizando-se os dias-multa para determinar o montante. Detenção por 10 dias a 6 meses Não há pena de reclusão prevista na lei. Perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até 3 anos Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, Esta é uma pena específica, aplicável somente quando o abuso de autoridade for Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 48 civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de um a cinco anos. cometido por policial civil ou militar. 2.4. Processo penal Como regra geral, os crimes de abuso de autoridade são considerados de menor potencial ofensivo, sendo processados perante os Juizados Especiais Criminais, por meio do procedimento sumaríssimo, criado pela Lei nº 9.099/1995. Para os casos em que o procedimento sumaríssimo não é aplicável, a própria Lei do Abuso de Autoridade traz procedimento próprio. Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de inquérito policial ou justificação por denúncia do Ministério Público, instruída com a representação da vítima do abuso. Art. 13. Apresentada ao Ministério Público a representação da vítima, aquele, no prazo de quarenta e oito horas, denunciará o réu, desde que o fato narrado constitua abuso de autoridade, e requererá ao Juiz a sua citação, e, bem assim, a designação de audiência de instrução e julgamento. § 1º A denúncia do Ministério Público será apresentada em duas vias. Lembre-se de que a ação penal é pública incondicionada, não sendo necessário que haja inquérito policial e nem representação da vítima. Caso haja representação da vítima, a denúncia deve ser apresentada no prazo de 48h. Essa regra demonstra a urgência conferida pela lei à apuração dos crimes de abuso de autoridade. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 48 Perante a inércia do Ministério Público, a própria lei permite a apresentação da ação penal privada subsidiária da pública. O Ministério Público poderá, porém, aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, além de intervir em todos os termos do processo, interpor recursos e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal. Art. 14. Se a ato ou fato constitutivo do abuso de autoridade houver deixado vestígios o ofendido ou o acusado poderá: a) promover a comprovação da existência de tais vestígios, por meio de duas testemunhas qualificadas; b) requerer ao Juiz, até setenta e duas horas antes da audiência de instrução e julgamento, a designação de um perito para fazer as verificações necessárias. Caso haja vestígios do crime de abuso de autoridade, não é necessário que haja perícia, sendo suficiente a oitiva de duas testemunhas. Não há óbice, porém, à realização de perícia mediante requerimento formulado pelo ofendido ou pelo acusado. Art. 17. Recebidos os autos, o Juiz, dentro do prazo de quarenta e oito horas, proferirá despacho, recebendo ou rejeitando a denúncia. § 1º No despacho em que receber a denúncia, o Juiz designará, desde logo, dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, que deverá ser realizada, improrrogavelmente, dentro de cinco dias. § 2º A citação do réu para se ver processar, até julgamento final e para comparecer à audiência de instrução e julgamento, será feita por mandado sucinto que, será acompanhado da segunda via da representação e da denúncia. Perceba mais uma vez os prazos enxutos da lei. São apenas 48h para que o magistrado decida pelo aceitação ou rejeição da Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 48 denúncia. Caso haja a aceitação, no despacho já deve constar a data e hora da audiência, que deve ser realizada em no máximo 5 dias. Caso o membro do Ministério Público requeira o arquivamento do feito ao invés de oferecer a denúncia e o Juiz considerar as razões improcedentes, deverá enviar a representação ao Procurador-Geral, para que este ofereça a denúncia ou insista no arquivamento. Por fim, temos as regras da lei quanto à realização da audiência, nomeação de defensor, etc. Art. 22. Aberta a audiência o Juiz fará a qualificação e o interrogatório do réu, se estiver presente. Parágrafo único. Não comparecendo o réu nem seu advogado, o Juiz nomeará imediatamente defensor para funcionar na audiência e nos ulteriores termos do processo. Art. 23. Depois de ouvidas as testemunhas e o perito, o Juiz dará a palavra sucessivamente, ao Ministério Público ou ao advogado que houver subscrito a queixa e ao advogado ou defensor do réu, pelo prazo de quinze minutos para cada um, prorrogável por mais dez (10), a critério do Juiz. Art. 24. Encerrado o debate, o Juiz proferirá imediatamente a sentença. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 48 3. RESUMO DO CONCURSEIRO LEI Nº 9.455/1997 A Constituição determina que o crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia, mas não é imprescritível. O STF também já decidiu que o condenado por crime de tortura também não pode ser beneficiado com indulto. CRIME DE TORTURA CARACTERÍSTICAS COMUNS A TODAS AS MODALIDADES É um crime material É possível a tentativa e a desistência voluntária Não se admite arrependimento eficaz e nem arrependimento posterior Ação penal pública incondicionada MODALIDADES DE TORTURA TORTURA-PROVA ou TORTURA PERSECUTÓRIA Infligida com a finalidade de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira SHVVRD��LQFLVR�,��DOtQHD�³D´�� TORTURA PARA A PRÁTICA DE CRIME ou TORTURA-CRIME Infligida para provocar ação ou omissão de natureza criminosa. TORTURA DISCRIMINATÓRIA ouTORTURA-RACISMO Infligida em razão de discriminação racial ou religiosa TORTURA-CASTIGO Infligida como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Apenas responde por OMISSÃO PERANTE A TORTURA aquele que tinha o dever de agir para evitar o ato de tortura e não o faz. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 48 A lesão corporal leve não é qualificadora do crime de tortura. A TORTURA QUALIFICADA somente ocorre quando houver como resultado lesão corporal grave ou gravíssima ou, ainda, o resultado morte. LEI Nº 4.898/1965 Para fins de apuração do abuso de autoridade, considera-se autoridade quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração. A Lei n° 4.898/1965 trata do direito de representação e da responsabilidade administrativa, civil e penal das autoridades que cometerem abusos. ABUSO DE AUTORIDADE ± CONDUTAS TÍPICAS Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: À liberdade de locomoção A liberdade é um direito fundamental tutelado por diversos dispositivos constitucionais, e pressupõe também princípio do nosso Direito Processual Penal: o indivíduo apenas pode ser preso quando praticar flagrante delito, mediante ordem judicial ou em hipóteses de prisão administrativa aplicáveis apenas aos militares. À inviolabilidade do domicílio $�&RQVWLWXLomR�TXDOLILFD�D�FDVD�FRPR�³DVLOR� LQYLROiYHO�GR�LQGLYtGXR´�H�SURtEH�D�HQWUDGD�VHP�R� consentimento do morador, salvo em quatro hipóteses: - Flagrante delito; - Desastre; - Para prestar socorro; - Durante o dia, por determinação judicial. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 48 A Jurisprudência já tem assentido que o conceito de casa deve ser encarado de forma ampla, incluindo o local não aberto ao público onde é exercida atividade profissional. Ao sigilo da correspondência $�&RQVWLWXLomR�HVWDEHOHFH�TXH�³p�LQYLROiYHO�R� sigilo da correspondência e das comunicações WHOHJUiILFDV´� A Jurisprudência já relativizou essa garantia, aceitando, por exemplo, que a correspondência destinada ao preso seja conhecida pelo dirigente do estabelecimento prisional. À liberdade de consciência e de crença e ao livre exercício do culto religioso A liberdade de consciência e de crença também é considerada inviolável pela Constituição. Essa noção também já foi relativizada pela Jurisprudência: hoje já é pacífico que as manifestações religiosas não podem ofender outros direitos fundamentais, a exemplo do direito à vida, à liberdade, à integridade física, etc. À liberdade de associação A Constituição assegura o direito de associação, independentemente de autorização estatal. A exceção fica por conta da proibição constitucional às associações de caráter paramilitar e com fins ilícitos. Aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto O voto é um direito fundamental de todo cidadão brasileiro. Atos atentatórios à sistemática das eleições também são tipificados como crimes de responsabilidade. Ao direito de reunião A Constituição assegura o direito de reunião, desde que as pessoas reúnam-se de forma pacífica e sem armas, e não frustrem uma reunião anteriormente convocada para o mesmo local. Apenas para fins de organização do Poder Público, é necessário comunicar previamente a ocorrência de reunião. À incolumidade física do indivíduo Não só a violência física, mas também a violência psicológica pode caracterizar o abuso de Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 48 autoridade. Aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional A liberdade de profissão também é assegurada pela Constituição, desde que sejam atendidas as qualificações profissionais estabelecidas em lei. Para exercer a advocacia, por exemplo, é requisito legal ser bacharel em Direito e estar inscrito nos quadros da OAB. ABUSO DE AUTORIDADE ± CONDUTAS TÍPICAS Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: Ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder Mais uma vez o bem jurídico tutelado aqui é a liberdade. As formalidades legais mencionadas estão relacionadas, via de regra, à exigência de ordem judicial, exceto no que tange à prisão em flagrante delito e à prisão administrativa militar. Submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei Vexame é uma humilhação, uma vergonha infligida a uma pessoa. Esse abuso é aquele cometido pelo agente público que detém autoridade (poder de guarda) sobre outra pessoa. Deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa A Constituição determina que a prisão de qualquer pessoa deve ser comunicada imediatamente à autoridade judicial competente e à família do preso. Deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada Obviamente esta conduta somente pode ser praticada por magistrado, e também ofende um dispositivo constitucional, que determina que a ³SULVmR�LOHJDO�VHUi�LPHGLDWDPHQWH�UHOD[DGD�SHOD� DXWRULGDGH�MXGLFLiULD´� Levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei A regra do Direito Processual Penal brasileiro é a liberdade provisória. Em alguns casos, porém, a lei determina que a autoridade deve arbitrar uma fiança, e nesse caso se ela for paga não há razão para negar a liberdade. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 48 Cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor Esta conduta é praticada pela autoridade que cobra valores indevidos dos presos. Normalmente essas cobranças estão relacionadas j�FRQFHVVmR�GH�FHUWRV�SULYLOpJLRV��RX�j�³YLVWD� JURVVD´�IHLWD�D�LOtFLWRV�SUDWLFDGRV�GHQWUR�GD� prisão. Recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa O ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal Este tipo é muito amplo, e diz respeito a atos de autoridade praticados de forma ofensiva à honra e ao patrimônio da pessoa. É o caso, por exemplo, do agente de trânsito que, em vez de apenas aplicar a multa devida, profere xingamentos contra o motorista que pratica irregularidade. Prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdadeA prisão temporária pode durar no máximo 5 dias (exceto nos crimes hediondos), ao fim dos quais, se não foi decretada a prisão preventiva, o próprio delegado deve providenciar o alvará de soltura. Também comete crime de abuso o juiz que não emite ordem para que seja solto o preso que cumpriu sua pena, bem como o dirigente do estabelecimento prisional que não cumpre a ordem. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 48 SÚMULA VINCULANTE Nº 11 do STF Uso de Algemas - Restrições - Responsabilidades do Agente e do Estado - Nulidades Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. ABUSO DE AUTORIDADE ± SANÇÕES ADMINISTRATIVAS Advertência Apenas verbal. Repreensão Por escrito. Suspensão do cargo, função ou posto por prazo de 5 a 180, com perda de vencimentos e vantagens O agente deixa de exercer o cargo por um período determinado, sem percepção de remuneração. Destituição de função Devemos entender que se trata da destituição de função de confiança ou de cargo em comissão. É uma penalidade equivalente à demissão. Demissão É a penalidade mais gravosa prevista na Lei nº 8.112/1990, e consiste na perda de vínculo do servidor com a Administração Pública. Demissão, a bem do serviço público Esta modalidade de demissão era prevista no antigo estatuto dos servidores civis federais. Atualmente, ainda existe na Lei nº 8.429/1992, para a hipótese de demissão em razão de não entrega ou entrega fraudulenta de declaração de bens para posse e na Lei nº 8.026/1990, a qual definiu dois ilícitos funcionais contra a Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 48 Fazenda Nacional e para eles previu tal pena de demissão. ABUSO DE AUTORIDADE ± SANÇÕES PENAIS Essas penas podem ser aplicadas alternada ou cumulativamente Multa de cem a cinco mil cruzeiros Mais uma vez a lei trata de valores, que não são aplicáveis hoje. Hoje tem sido aplicada a regra de cálculo de multas do Código Penal, utilizando-se os dias-multa para determinar o montante. Detenção por 10 dias a 6 meses Não há pena de reclusão prevista na lei. Perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até 3 anos Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de um a cinco anos. Esta é uma pena específica, aplicável somente quando o abuso de autoridade for cometido por policial civil ou militar. A seguir estão questões de concursos anteriores que tratam dos assuntos que estudamos hoje. Ao final, incluí a lista das questões sem os comentários. Estou disponível no fórum e no e-mail, ok? - Grande abraço! Paulo Guimarães pauloguimaraes@estrategiaconcursos.com.br www.facebook.com/pauloguimaraesfilho Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 48 4. QUESTÕES COMENTADAS 1. DEPEN ± Agente Penitenciário ± 2013 ± Cespe. Joaquim, agente penitenciário federal, foi condenado, definitivamente, a uma pena de três anos de reclusão, por crime disposto na Lei n.º 9.455/1997. Nos termos da referida lei, Joaquim ficará impedido de exercer a referida função pelo prazo de seis anos. COMENTÁRIOS: A condenação por crime de tortura acarreta a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada, nos termos do art. 1o, §5o da Lei no 9.455/1997. GABARITO: C 2. DEPEN ± Agente Penitenciário ± 2013 ± Cespe. Um agente penitenciário federal determinou que José, preso sob sua custódia, permanecesse de pé por dez horas ininterruptas, sem que pudesse beber água ou alimentar-se, como forma de castigo, já que José havia cometido, comprovadamente, grave falta disciplinar. Nessa situação, esse agente cometeu crime de tortura, ainda que não tenha utilizado de violência ou grave ameaça contra José. COMENTÁRIOS: Para responder corretamente a questão você precisa conhecer o conteúdo do §1o do art. 1o GD�/HL�GH�7RUWXUD��³Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto HP�OHL�RX�QmR�UHVXOWDQWH�GH�PHGLGD�OHJDO´� GABARITO: C Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 48 3. PRF ± Agente ± 2013 ± Cespe. Para que um cidadão seja processado e julgado por crime de tortura, é prescindível que esse crime deixe vestígios de ordem física. COMENTÁRIOS: $� SDODYUD� ³SUHVFLQGtYHO´� VLJQLILFD� ³GLVSHQViYHO´�� $� assertiva, portanto, está dizendo que não é necessário que o crime de tortura deixe vestígios de ordem física. Nada impede que a prova do crime seja produzida de outras maneiras. GABARITO: C 4. PC-BA ± Delegado de Polícia ± 2013 ± Cespe. Determinado policial militar efetuou a prisão em flagrante de Luciano e o conduziu à delegacia de polícia. Lá, com o objetivo de fazer Luciano confessar a prática dos atos que ensejaram sua prisão, o policial responsável por seu interrogatório cobriu sua cabeça com um saco plástico e amarrou-o no seu pescoço, asfixiando-o. Como Luciano não confessou, o policial deixou- o trancado na sala de interrogatório durante várias horas, pendurado de cabeça para baixo, no escuro, período em que lhe dizia que, se ele não confessasse, seria morto. O delegado de polícia, ciente do que ocorria na sala de interrogatório, manteve-se inerte. Em depoimento posterior, Luciano afirmou que a conduta do policial lhe provocara intenso sofrimento físico e mental. Considerando a situação hipotética acima e o disposto na Lei Federal n.º 9.455/1997, julgue os itens subsequentes. Para a comprovação da materialidade da conduta do policial, é imprescindível a realização de exame de corpo de delito que confirme as agressões sofridas por Luciano. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 48 COMENTÁRIOS: A Lei da Tortura não menciona em nenhum de seus dispositivos a necessidade de exame de corpo de delito para que se comprove que houve o crime. No exemplo dado na questão houve inclusive tortura de natureza mental/emocional. GABARITO: E 5. MPU ± Técnico ± 2010 ± Cespe. O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.COMENTÁRIOS: Esta é a letra da Constituição Federal, em seu art. 5º, XLIII. O STF já decidiu que o indulto também não é aplicável no caso de crime de tortura. Lembre-se também de que o crime de tortura não é imprescritível! GABARITO: C 6. MPU ± Técnico ± 2010 ± Cespe. É considerado crime de tortura submeter alguém, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar-lhe castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. COMENTÁRIOS: Esta é a Tortura-Castigo. Lembre-se de que esta modalidade é crime próprio, pois somente pode ser praticado por quem tenha o dever de guarda ou exerça poder ou autoridade sobre a vítima. Ao mesmo tempo exige-se também uma condição especial do sujeito passivo, que precisa estar sob a autoridade do torturador. GABARITO: C Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 33 de 48 7. TJ-RO ± Analista Judiciário ± 2012 ± Cespe (adaptada). A perda da função pública e a interdição de seu exercício pelo dobro do prazo da condenação decorrente da prática de crime de tortura previsto em lei especial são de imposição facultativa do julgador, tratando-se de efeito genérico da condenação. COMENTÁRIOS: A perda da função pública e a interdição de seu exercício são imediatas e obrigatórias, nos termos do §5° do art. 1° da Lei n° 9.455/1997. GABARITO: E 8. TJ-AC ± Técnico Judiciário ± 2012 ± Cespe. Suponha que João, penalmente capaz, movido por sadismo, submeta Sebastião, com emprego de violência, a contínuo e intenso sofrimento físico, provocando- lhe lesão corporal de natureza gravíssima. Nessa situação, João deverá responder pelo crime de tortura e, se condenado, deverá cumprir a pena em regime inicial fechado. COMENTÁRIOS: O crime de tortura exige um elemento subjetivo HVSHFtILFR�� ³REWHU informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoD´��³SURYRFDU�DomR�RX�RPLVVmR�GH�QDWXUH]D�FULPLQRVD´��³SRU� PRWLYR� GH� GLVFULPLQDomR� UDFLDO� RX� UHOLJLRVD´�� 2� DJHQWH� TXH� LQIOLJH� sofrimento em outra pessoa por sadismo não comete crime de tortura, mas sim de lesão corporal ou, a depender do caso, de homicídio tentado. GABARITO: E Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 34 de 48 9. DPF ± Agende da Polícia Federal ± 2012 ± Cespe. O policial condenado por induzir, por meio de tortura praticada nas dependências do distrito policial, um acusado de tráfico de drogas a confessar a prática do crime perderá automaticamente o seu cargo, sendo desnecessário, nessa situação, que o juiz sentenciante motive a perda do cargo. COMENTÁRIOS: A perda do cargo, emprego ou função pública é efeito extrapenal administrativo da condenação, e não precisa ser declarado pelo juiz. GABARITO: C 10. DPU ± Defensor Público ± 2007 ± Cespe. Não se estende ao crime de tortura a admissibilidade de progressão no regime de execução da pena aplicada aos demais crimes hediondos. COMENTÁRIOS: Para responder as questões de prova com precisão, é importante conhecer, ao menos em parte, o conteúdo da Lei n° 8.072/1990, que trata dos crimes hediondos e equiparados, entre eles a tortura. Essa lei estabelecia o cumprimento das penas relativas aos crimes hediondos e equiparados em regime integralmente fechado. Quando a Lei de Tortura foi promulgada, considerou-se que houve derrogação parcial do dispositivo da Lei dos Crimes Hediondos. Em 2007 a Lei dos Crimes Hediondos foi alterada, e hoje todos os crimes hediondos e equiparados devem ter suas penas cumpridas inicialmente em regime fechado, mas é possível a progressão de regime. GABARITO: E Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 35 de 48 11. PC-RN ± Escrivão de Polícia Civil ± 2009 ± Cespe (adaptada). Um delegado da polícia civil que perceba que um dos custodiados do distrito onde é chefe está sendo fisicamente torturado pelos colegas de cela, permanecendo indiferente ao fato, não será responsabilizado criminalmente, pois os delitos previstos na Lei n.º 9.455/1997 não podem ser praticados por omissão. COMENTÁRIOS: O crime de tortura conta com uma modalidade omissiva, prevista no §2° do art. 1°. Entretanto, apenas é criminalizada a omissão daquele que tinha o dever de agir para evitar ou apurar a ocorrência de atos de tortura. § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. GABARITO: E 12. PC-RN ± Escrivão de Polícia Civil ± 2009 ± Cespe (adaptada). Se um membro da Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Norte, integrante da Comissão Nacional de Direitos Humanos, for passar uma temporada de trabalho no Haiti ² país que não pune o crime de tortura ² e lá for vítima de tortura, não haverá como aplicar a Lei n.º 9.455/1997. COMENTÁRIOS: O art. 2° da Lei da Tortura determina que ela se aplica ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira. GABARITO: E Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 36 de 48 13. PC-ES ± Escrivão de Polícia ± 2011 ± Cespe. Excetuando-se o caso em que o agente se omite diante das condutas configuradoras dos crimes de tortura, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, iniciará o agente condenado pela prática do crime de tortura o cumprimento da pena em regime fechado. COMENTÁRIOS: Já deu para perceber quais são os assuntos preferidos do Cespe no que se refere à Lei de Tortura, não é mesmo? A assertiva está correta em função do teor do §7° do art. 1°. Lembre-se da exceção! GABARITO: C 14. PC-ES ± Escrivão de Polícia ± 2011 ± Cespe. No crime de tortura em que a pessoa presa ou sujeita a medida de segurança é submetida a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal, não é exigido, para seu aperfeiçoamento, especial fim de agir por parte do agente, bastando, portanto, para a configuração do crime, o dolo de praticar a conduta descrita no tipo objetivo. COMENTÁRIOS: A conduta do §1° do art. 1° é a única que não exige dolo específico por parte do agente do crime de tortura. § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal. GABARITO: C Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 37 de 48 15. PC-ES ± Delegado de Polícia ± 2011 ± Cespe. Considere a seguinte situação hipotética. Rui, que é policial militar, mediante violência e grave ameaça, infligiu intenso sofrimento físico e mental a um civil, utilizando para isso as instalaçõesdo quartel de sua corporação. A intenção do policial era obter a confissão da vítima em relação a um suposto caso extraconjugal havido com sua esposa. Nessa situação hipotética, a conduta de Rui, independentemente de sua condição de militar e de o fato ter ocorrido em área militar, caracteriza o crime de tortura na forma tipificada em lei específica. COMENTÁRIOS: Aqui estamos diante da Tortura-Prova ou Tortura Persecutória: a tortura foi infligida com a finalidade de obter informação, declaração ou confissão da vítima. GABARITO: C 16. MPE-RR ± Promotor de Justiça ± 2008 ± Cespe. Daniel, delegado de polícia, estava em sua sala, quando percebeu a chegada dos agentes de polícia Irineu e Osvaldo, acompanhados por uma pessoa que havia sido detida, sob a acusação de porte de arma e de entorpecentes. O delegado permaneceu em sua sala, elaborando um relatório, antes de lavrar o auto de prisão em flagrante. Durante esse período, ouviu ruídos de tapas, bem como de gritos, vindos da sala onde se encontravam os agentes e a pessoa detida, percebendo que os agentes determinavam ao detido que ele confessasse quem era o verdadeiro proprietário da droga. Quando foi lavrar a prisão em flagrante, o delegado notou que o detido apresentava equimoses avermelhadas no rosto, tendo declinado que havia guardado a droga para um conhecido traficante da região. O delegado, contudo, mesmo constatando as lesões, resolveu nada fazer em relação aos seus agentes, uma vez que os considerava excelentes Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 38 de 48 policiais. Nessa situação, o delegado praticou o crime de tortura, de forma que, sendo proferida sentença condenatória, ocorrerá, automaticamente, a perda do cargo. COMENTÁRIOS: Nesta hipótese foi praticada a tortura em sua modalidade omissiva. Lembre-se de que este crime apenas pode ser praticado por aquele que tinha o dever de evitar ou apurar o ato de tortura e não o fez. GABARITO: C 17. STJ ± Analista Judiciário ± 2008 ± Cespe. O condenado pela prática de crime de tortura, por expressa previsão legal, não poderá ser beneficiado por livramento condicional, se for reincidente específico em crimes dessa natureza. COMENTÁRIOS: Esta questão não diz respeito à Lei da Tortura, mas achei interessante coloca-la aqui. O livramento condicional não pode ser concedido nesse caso em função do art. 83 do Código Penal: Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que [...] V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza. GABARITO: C Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 39 de 48 18. DPF ± Delegado de Polícia Federal ± 2009 ± Cespe. A prática do crime de tortura torna-se atípica se ocorrer em razão de discriminação religiosa, pois, sendo laico o Estado, este não pode se imiscuir em assuntos religiosos dos cidadãos. COMENTÁRIOS: Esta modalidade é chamada de Tortura Discriminatória ou Tortura-Racismo, e é praticada em razão de discriminação religiosa ou racial. GABARITO: E 19. TJ-SE ± Juiz ± 2008 ± Cespe. Acerca da Lei de Abuso de Autoridade, Lei n.º 4.898/1965, assinale a opção correta. a) A lei em questão contém crimes próprios e impróprios e admite as modalidades dolosa e culposa. b) Considera-se autoridade quem exerce, de forma remunerada, cargo, emprego ou função pública ou particular, de natureza civil ou militar, ainda que transitoriamente. c) No caso de concurso de agentes, o particular que é coautor ou partícipe responde por outro crime, uma vez que a qualidade de autoridade é elementar do tipo dos crimes de abuso. d) Caso cumpra ordem manifestamente ilegal, o subordinado deverá responder pelo crime de abuso de autoridade. e) A competência para processar e julgar o crime de abuso de autoridade praticado por policial militar em serviço é da justiça militar estadual. COMENTÁRIOS: O erro da alternativa A está em afirmar que existem crimes culposos na Lei do Abuso de Autoridade. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 40 de 48 A alternativa B está incorreta porque afirma que autoridade é quem exerce a função pública de forma remunerada. Na realidade, esse exercício não precisa ser remunerado para que a figura da autoridade esteja configurada. A alternativa C está errada, pois a circunstância de o autor ser autoridade é elementar do crime e, portanto, pode ser transmitida ao coautor ou partícipe. A alternativa D está correta, mas na época gerou muita polêmica, pois a Lei do Abuso de Autoridade não trata diretamente da ordem manifestamente ilegal. De toda forma, a banca não alterou o gabarito. Quanto à alternativa E, o crime de abuso de autoridade não é delito militar e, portanto, é de competência da Justiça comum. Este posicionamento já foi corroborado pela Jurisprudência do STJ. GABARITO: D 20. PC-ES ± Escrivão de Polícia ± 2011 ± Cespe. Os crimes de abuso de autoridade serão analisados perante o Juizado Especial Criminal da circunscrição onde os delitos ocorreram, salvo nos casos em que tiverem sido praticados por policiais militares. COMENTÁRIOS: O STJ já confirmou que o crime de abuso de autoridade não tem natureza militar e, portanto, é de competência da Justiça comum. Como a maior pena prevista é a detenção pelo período de 6 meses, a competência para o processamento dos crimes é, como regra geral, dos Juizados Especiais Criminais. GABARITO: E Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 41 de 48 21. TRE-MA ± Analista Judiciário ± 2009 ± Cespe (adaptada). Constitui abuso de autoridade qualquer atentado ao sigilo de correspondência, ao livre exercício de culto religioso e à liberdade de associação. COMENTÁRIOS: $� H[SUHVVmR� ³TXDOTXHU� DWHQWDGR´� SRGH� QRV� GHL[DU� QD� dúvida, mas vamos relembrar o teor do art. 3° da Lei n° 4.898/1965: Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: a) à liberdade de locomoção; b) à inviolabilidade do domicílio; c) ao sigilo da correspondência; d) à liberdade de consciência e de crença; e) ao livre exercício do culto religioso; f) à liberdade de associação; g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto; h) ao direito de reunião; i) à incolumidade física do indivíduo; j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. GABARITO: C 22. TRE-MA ± Analista Judiciário ± 2009 ± Cespe (adaptada). Compete à justiça militar processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, quando praticado em serviço. COMENTÁRIOS: Já deu pra perceber que o Cespe gosta muito desse assunto, não é mesmo? Pois bem, lembre-se de que, de acordo coma Jurisprudência do STJ, o crime de abuso de autoridade não tem natureza militar, e, portanto, deve ser processado pela Justiça comum. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 42 de 48 GABARITO: E 23. DEPEN ± Agente Penitenciário ± 2013 ± Cespe. Marcelo, agente penitenciário federal, não ordenou o relaxamento da prisão de Bernardo, o qual se encontra preso sob sua custódia. Bernardo foi preso ilegalmente, fato esse que é de conhecimento de Marcelo. Nessa situação, é correto afirmar que Marcelo cometeu crime de abuso de autoridade. COMENTÁRIOS: Se você já estudou Processo Penal, esta questão ficou fácil, não é mesmo? Agente Penitenciário não relaxa prisão de ninguém. A conduta prevista no art. 4o��³G´�GD�/HL�Qo �����������p��VHJXLQWH��³GHL[DU� o juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja FRPXQLFDGD´� GABARITO: E Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 43 de 48 5. QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS 1. DEPEN ± Agente Penitenciário ± 2013 ± Cespe. Joaquim, agente penitenciário federal, foi condenado, definitivamente, a uma pena de três anos de reclusão, por crime disposto na Lei n.º 9.455/1997. Nos termos da referida lei, Joaquim ficará impedido de exercer a referida função pelo prazo de seis anos. 2. DEPEN ± Agente Penitenciário ± 2013 ± Cespe. Um agente penitenciário federal determinou que José, preso sob sua custódia, permanecesse de pé por dez horas ininterruptas, sem que pudesse beber água ou alimentar-se, como forma de castigo, já que José havia cometido, comprovadamente, grave falta disciplinar. Nessa situação, esse agente cometeu crime de tortura, ainda que não tenha utilizado de violência ou grave ameaça contra José. 3. PRF ± Agente ± 2013 ± Cespe. Para que um cidadão seja processado e julgado por crime de tortura, é prescindível que esse crime deixe vestígios de ordem física. 4. PC-BA ± Delegado de Polícia ± 2013 ± Cespe. Determinado policial militar efetuou a prisão em flagrante de Luciano e o conduziu à delegacia de polícia. Lá, com o objetivo de fazer Luciano confessar a prática dos atos que ensejaram sua prisão, o policial responsável por seu interrogatório cobriu sua cabeça com um saco plástico e amarrou-o no seu pescoço, asfixiando-o. Como Luciano não confessou, o policial deixou- o trancado na sala de interrogatório durante várias horas, pendurado de cabeça para baixo, no escuro, período em que lhe dizia que, se ele não confessasse, seria morto. O delegado de polícia, ciente do que ocorria na sala de interrogatório, manteve-se inerte. Em depoimento posterior, Luciano afirmou que a conduta do policial lhe provocara intenso sofrimento físico e mental. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 44 de 48 Considerando a situação hipotética acima e o disposto na Lei Federal n.º 9.455/1997, julgue os itens subsequentes. Para a comprovação da materialidade da conduta do policial, é imprescindível a realização de exame de corpo de delito que confirme as agressões sofridas por Luciano. 5. MPU ± Técnico ± 2010 ± Cespe. O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. 6. MPU ± Técnico ± 2010 ± Cespe. É considerado crime de tortura submeter alguém, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar-lhe castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. 7. TJ-RO ± Analista Judiciário ± 2012 ± Cespe (adaptada). A perda da função pública e a interdição de seu exercício pelo dobro do prazo da condenação decorrente da prática de crime de tortura previsto em lei especial são de imposição facultativa do julgador, tratando-se de efeito genérico da condenação. 8. TJ-AC ± Técnico Judiciário ± 2012 ± Cespe. Suponha que João, penalmente capaz, movido por sadismo, submeta Sebastião, com emprego de violência, a contínuo e intenso sofrimento físico, provocando- lhe lesão corporal de natureza gravíssima. Nessa situação, João deverá responder pelo crime de tortura e, se condenado, deverá cumprir a pena em regime inicial fechado. 9. DPF ± Agende da Polícia Federal ± 2012 ± Cespe. O policial condenado por induzir, por meio de tortura praticada nas dependências do distrito policial, um acusado de tráfico de drogas a confessar a prática do crime perderá automaticamente o seu cargo, sendo desnecessário, nessa situação, que o juiz sentenciante motive a perda do cargo. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 45 de 48 10. DPU ± Defensor Público ± 2007 ± Cespe. Não se estende ao crime de tortura a admissibilidade de progressão no regime de execução da pena aplicada aos demais crimes hediondos. 11. PC-RN ± Escrivão de Polícia Civil ± 2009 ± Cespe (adaptada). Um delegado da polícia civil que perceba que um dos custodiados do distrito onde é chefe está sendo fisicamente torturado pelos colegas de cela, permanecendo indiferente ao fato, não será responsabilizado criminalmente, pois os delitos previstos na Lei n.º 9.455/1997 não podem ser praticados por omissão. 12. PC-RN ± Escrivão de Polícia Civil ± 2009 ± Cespe (adaptada). Se um membro da Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Norte, integrante da Comissão Nacional de Direitos Humanos, for passar uma temporada de trabalho no Haiti ² país que não pune o crime de tortura ² e lá for vítima de tortura, não haverá como aplicar a Lei n.º 9.455/1997. 13. PC-ES ± Escrivão de Polícia ± 2011 ± Cespe. Excetuando-se o caso em que o agente se omite diante das condutas configuradoras dos crimes de tortura, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, iniciará o agente condenado pela prática do crime de tortura o cumprimento da pena em regime fechado. 14. PC-ES ± Escrivão de Polícia ± 2011 ± Cespe. No crime de tortura em que a pessoa presa ou sujeita a medida de segurança é submetida a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal, não é exigido, para seu aperfeiçoamento, especial fim de agir por parte do agente, bastando, portanto, para a configuração do crime, o dolo de praticar a conduta descrita no tipo objetivo. Legislação Especial para PRF Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 03 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 46 de 48 15. PC-ES ± Delegado de Polícia ± 2011 ± Cespe. Considere a seguinte situação hipotética. Rui, que é policial militar, mediante violência e grave ameaça, infligiu intenso sofrimento físico e mental a um civil, utilizando para isso as instalações do quartel de sua corporação. A intenção do policial era obter a confissão da vítima em relação a um suposto caso extraconjugal havido com sua esposa. Nessa situação hipotética, a conduta de Rui, independentemente de sua condição de militar e de o fato ter ocorrido em área militar, caracteriza o crime de tortura na forma tipificada em lei específica.
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