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CONTRATOS - DA EXTINCAO DO CONTRATO 2ª parte_20140326114952

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DA EXTINÇÃO DO CONTRATO						2ª parte
2.2. Causas supervenientes à formação do contrato
Pode ocorrer:
2.2.1. resolução, como conseqüência do seu inadimplemento voluntário, involuntário ou por onerosidade excessiva
2.2.2. resilição, pela vontade de um ou de ambos os contratantes
2.2.3. morte de um dos contratantes, se o contrato for personalíssimo
2.2.4. rescisão, modo específico de extinção de certos contratos
2.2.1. Resolução
- tem como causa a inexecução por um dos contratantes, em razão de situações supervenientes que impedem ou prejudicam a sua execução
Orlando Gomes: é “um remédio concedido à parte para romper o vínculo contratual mediante ação judicial”
* o inadimplemento pode ser voluntário ou não
2.2.1.1. Resolução por inexecução voluntária
- decorre de comportamento culposo de um dos contraentes, com prejuízo ao outro
- produz efeito ex tunc, extinguindo o que foi executado e obrigando a: restituições recíprocas, e ainda cabe cobrar perdas e danos e cláusula penal, se tiver – arts. 475 e 409 a 411 do CC
- se o contrato for de trato sucessivo, a resolução produz efeito ex nunc
- o devedor acionado pode alegar em sua defesa: que o contrato não é bilateral, que cumpriu o suficiente (faltou pequena parcela), que não cumpriu porque o credor não fez a sua parte, que houve cessão da posição contratual, que ocorreu assunção da dívida, prescrição, etc
*** a resolução do contrato por inadimplemento deve ser por causa razoável, será, grave, relevante e que prejudique de modo objetivamente considerável o credor
- não é qualquer falta de menor importância que vai levar à resolução
- se o credor, p. ex., sempre tolerou um certo atraso ou inexatidão ínfima no pagamento, não pode acionar o devedor
* aplicação dos princípios pelo juiz em cada caso
Exceção de contrato não cumprido
- Art. 476 do CC
- os contratos bilaterais ou sinalagmáticos geram obrigações para ambos os contratantes, envolvendo prestações recíprocas, atreladas umas às outras.
- em outras palavras, o artigo diz que qualquer dos contratantes pode, ao ser demandado pelo outro, utilizar-se de uma defesa chamada exceptio non adimpleti contratus ou exceção do contrato não cumprido, para recusar a sua prestação, fundamentando que o demandante não cumpriu a parte que lhe competia.
* aquele que não satisfaz a própria obrigação não pode exigir o implemento da do outro
- infere-se que as obrigações além de recíprocas, sejam simultâneas (se não for estipulado o momento da execução, entende-se que as prestações são simultâneas). 
- se ambos se mostrarem inadimplentes, impõe-se a resolução do contrato, com a restituição das partes à situação anterior.
* é requisito, para que se aplique a exceção, que a falta cometida pelo contraente, que está exigindo a prestação do outro antes de cumprir a sua, seja grave, bem como que haja equilíbrio e proporcionalidade entre as obrigações contrapostas.
- não pode prescindir da boa-fé e ano deve ser feita sem levar em conta a diversidade de obrigações 
* ela é usada como defesa indireta contra a pretensão ajuizada, pois não é voltado para resolver o vínculo obrigacional e isentar o réu do dever de cumprir a prestação, mas apenas para obter o reconhecimento de que lhe assiste o direito de recusar a prestação sua enquanto o autor não cumprir a contraprestação que deve.
- poderá ser condenado a cumprir assim que o credor cumprir a sua prestação
* é possível também a exceção do contrato parcialmente cumprido ou exceptio non adimpleti contractus – diferencia-se porque nesta um dos contratantes cumpriu apenas em parte, ou de forma defeituosa sua obrigação, quando se comprometeu a cumpri-la integral e corretamente
* decorrente do princípio da autonomia da vontade, admite-se a validade de cláusula que restrinja o direito de as partes se utilizarem do art. 476 CC
- não é muito comum, sendo encontrados em alguns contratos administrativos, para proteger a Administração, contratos de locação de imóveis residenciais, de compra e venda de móveis e de sublocações.
- nas relações de consumo deve ser evitada – CDC art. 51
*** o contratante pontual pode, ante o inadimplemento do outro.
Ou permanecer inerte e defender-se, caso acionado, com a exceção do contrato não cumprido
Ou pleitear a resolução do contrato, com perdas de danos, provando o prejuízo sofrido.
Ou exigir o cumprimento contratual, quando possível a execução específica (CPC, arts. 461 e parágrafos, e 639 a 641)
*** Garantia de Execução da Obrigação a Prazo
- art. 477 do CC prevê uma garantia de execução da obrigação a prazo
- procura-se acautelar os interesses do que deve pagar em primeiro lugar, protegendo-o contra as alterações da situação patrimonial do outro contratante.
2.2.1.2. Resolução por inexecução involuntária
- decorrentes de fatos não imputáveis às partes, como ação de terceiros ou de acontecimentos inevitáveis, alheios à vontade dos contratantes (caso fortuito ou força maior), que impossibilitam o cumprimento da obrigação.
- caracteriza-se pela impossibilidade superveniente de cumprimento do contrato 
a) há de ser objetiva – não concernir à própria pessoa do devedor
b) deve ser total – pois se a inexecução for parcial e de pequena proporção, o credor pode ter interesse em que, mesmo assim, o contrato seja cumprido.
c) há de ser definitiva – em geral, a impossibilidade temporária acarreta a suspensão do contrato; somente significa resolução se a impossibilidade persistir por tanto tempo que o cumprimento deixa de interessar ao credor.
* mera dificuldade, ainda que financeira, não se confunde com impossibilidade de cumprimento da avença, exceto se caracterizar onerosidade excessiva.
- no caso de inexecução involuntária, o inadimplente não fica responsável pelo pagamento de perdas e danos, salvo se se obrigou ou estiver em mora (CC arts. 393 e 399)
- a resolução opera de pleno direito – cabe à intervenção judicial, para proferir sentença de natureza declaratória e obrigar o contratante a restituir o que tenha recebido (restituir as partes ao status “quo”).
- quando decorrente de caso fortuito ou força maior, é retroativo, só não responde por perdas e danos. 
*** Resolução por onerosidade excessiva
a) a cláusula “rebus sic stantibus” (as coisa conforme elas estão) e a teoria da imprevisão.
- embora o princípio pacta sunt servanda ou da intangibilidade do contrato seja fundamental a qualquer organização social, os negócios jurídicos podem sofrer as conseqüências de modificações posteriores das circunstancias, com quebra insuportável da equivalência. 
– tal constatação ou origem ao princípio da revisão do contrato ou da onerosidade excessiva, que se opõe àquele, pois permite ao contratante recorrerem ao judiciário, para obterem alteração da convenção e condições mais humanas em determinadas situações.
*** entre nós, a teoria foi adaptada e difundida com o nome de teoria da imprevisão: pois além da ocorrência de um fato extraordinário, para justificar a alteração contratual, passou a ser exigido que fosse também imprevisível.
* podem ser usadas por ambas as partes.
- a ação de resolução por inadimplemento contratual parte do pressuposto que o credor já perdeu o interesse pelo adimplemento, enquanto na onerosidade excessiva esse interesse ainda pode existir, tanto que permitida a simples modificação do contrato.
 
- a circunstância de fato que fundamenta o pedido de extinção é, aqui, estranhas as partes, enquanto no incumprimento decorre de fato atribuível ao devedor.
- nas hipóteses de caso fortuito ou força maior, o contrato será necessariamente extinto, em razão da absoluta impossibilidade de cumprimento das obrigações contraídas.
- em geral, esse princípio não se aplica aos contratos aleatórios, porque envolvem um risco inerente a ele, salvo se o imprevisível decorrer de fatores estranhos ao risco próprio do contrato.
- No CC/02 houve a consolidação da aplicação da teoria da imprevisão,e trás situações específicas, elencadas nos arts. 478, 479 e 480.
* em resumo, deve-se entender que, quando a situação não pode ser superada com a revisão das cláusulas, admite-se a extinção do contrato em razão do fato superveniente.
- isso por que: a) ou o contrato já não tem interesse para o credor, e deve ser extinto em seu favor, ou o contrato impõe ao devedor um dano exagerado, deixando de atender à sua função social; b) o princípio da igualdade, constitucionalmente assegurado, não permite que o tratamento dispensado preferencialmente ao credor que vai receber um pagamento seja diverso do reservado ao devedor de prestação excessivamente onerosa; c) o princípio da boa-fé exige que a equivalência das prestações se mantenha também no momento da execução, inexistente na hipótese de manifesta desproporção de valor entre elas.
* os requisitos para a dissolução do contrato por onerosidade excessiva são:
a) a vigência de um contrato comutativo de execução diferida ou de trato sucessivo;
b) ocorrência de fato extraordinária e imprevisível;
c) considerável alteração da situação de fato que existia por ocasião da celebração;
d) nexo causal entre o evento superveniente e a conseqüente excessiva onerosidade
*** não há medida padrão para concluir que uma obrigação se tornou excessivamente onerosa, cabe ao juiz, no exercício de seu prudente arbítrio, avaliar casuisticamente, de acordo com aspectos específicos do caso concreto, se a onerosidade surgida posteriormente no contrato submetido a exame pode considerar-se excessiva
*** não há previsão para que a onerosidade excessiva se configure; o importante é haja grave desequilíbrio contratual, o que pode acontecer em qualquer fase da vigência do contrato
*** a onerosidade excessiva pode ser argüida como defesa, ou reconvenção, na ação de cobrança ou de exigência de cumprimento de obrigação, ou na de resolução
*** o contratante em mora não poderá invocá-la, em defesa (CC, art. 399)
 
2.2.2. Resilição
- ela não deriva de inadimplemento contratual, mas unicamente da manifestação de vontade, que pode ser bilateral ou unilateral.
* Resilir, do latim resilire, significa etimologicamente, “voltar atrás”.
*** a resilição bilateral denomina-se distrato – que é o acordo de vontades que tem por fim extinguir um contrato anteriormente celebrado
*** a resilição unilateral – pode ocorrer somente em determinados contratos, pois a regra é a impossibilidade de um contraente romper o vínculo contratual por sua exclusiva vontade.
a) Distrato
- art. 472 do CC
- qualquer contrato pode cessar pelo distrato; ambos têm o mesmo mecanismo, a mesma vontade humana, mas na direção oposta.
- é necessário, todavia, que os efeitos não estejam exauridos, uma vez que o cumprimento é a via normal de extinção – contrato extinto não precisa ser dissolvido.
- se já produziu algum efeito, o acordo para extingui-lo não é distrato, mas outro contrato que modifica a relação.
- tem efeito ex nunc
b) Resilição unilateral: denuncia revogação e resgate
Orlando Gomes: a faculdade de resilição unilateral é suscetível de ser exercida: a) nos contratos por tempo indeterminado; b) nos contratos de execução continuada ou periódica; c) nos contratos em geral, cuja execução não tenha começado; d) nos contratos benéficos; e) nos contratos de atividade.
* é o meio próprio para dissolver os contratos por tempo indeterminado
* se não fosse assegurado o poder de resilir, seria impossível ao contratante liberar-se do vínculo se o outro não concordasse.
* a resilição independe de pronunciamento judicial e produz efeitos ex nunc, não retroagindo.
* deve ser notificada à outra parte, produzindo efeitos a partir do momento em que chega a seu conhecimento – é declaração receptícia de vontade.
* em princípio, não precisam ser justificadas – CC 473. 
1. Denúncia
- pode ocorrer somente nas obrigações duradouras (cessão de uso, arrendamento, locação), contra a sua renovação ou continuação, independentemente do não cumprimento da outra parte, nos casos permitidos na lei (denúncia na Lei de Locação de Imóveis Urbanos, Lei 8.245/91) ou no contrato.
+ realização de prestações periódicas: pagamento dos alugueis e no fornecimento de gás, de alimentação, de energia, de mercadorias, etc., por prazo indeterminado.
2. Revogação ou renúncia
- se dá nos contratos de mandato, conforme a iniciativa seja respectivamente do mandante ou do mandatário.
- efetivamente, os contratos estipulados no pressuposto da confiança recíproca entre as partes podem resilir-se ad nutum, pelas formas mencionadas.
3. Resgate 
- CC/16, art. 693, na enfiteuse, como modo de liberação unilateral do ônus real.
2.2.3. Morte de um dos contratantes
- só acarreta a dissolução dos contratos personalíssimos, que não poderão ser executados pela morte daquele em consideração do qual foi ajustado.
- subsistem as prestações cumpridas, pois seu efeito opera-se ex nunc.
- nesses casos, a resilição é automática.
2.2.4. Rescisão
- entre nós, o termo rescisão é usado como sinônimo de resolução e de resilição.
- em boa técnica, deve ser empregado nas hipóteses de dissolução de determinados contratos, como aqueles em que ocorreu lesão (CC, art. 157) ou que foram celebrados em estado de perigo (CC 156).

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