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2 Seja bem Vindo! Curso de AmbientalLicenciamento CursosOnlineSP.com.br Carga horári 60 a: hs Conteúdo: O meio ambiente e a sociedade ........................................................................... Pág. 8 Conceitos gerais .................................................................................................. Pág. 8 O licenciamento ambiental como ferramenta da sustentabilidade ....................... Pág. 15 As empresas e a preservação ambiental ............................................................. Pág. 19 Leitura Complementar .......................................................................................... Pág. 26 Legislação Ambiental ........................................................................................... Pág. 28 As normas de proteção ambiental no Brasil ......................................................... Pág. 28 A Lei 6.938/81 - Política Nacional do Meio Ambiente .......................................... Pág. 34 Lei 9.605/98 - Lei de Crimes Ambientais ou Lei da Natureza .............................. Pág. 43 Deliberações e resoluções Copam ...................................................................... Pág. 48 As Licenças Ambientais ....................................................................................... Pág. 50 O que é Licenciamento Ambiental ....................................................................... Pág. 50 Os diferentes tipos de licenças ambientais: licença prévia (LP), licença de instalação (LI), licença de operação (LO)............................................................. Pág. 51 Documentação técnica ......................................................................................... Pág. 53 A atuação do CERH: Objetivos e finalidades ....................................................... Pág. 56 As competências do IEF, FEAM e IGAM ............................................................. Pág. 59 SISNAMA, CONAMA, IBAMA e o licenciamento ambiental ................................. Pág. 64 A Resolução Nº 237/97 do CONAMA e a competência para licenciar ................. Pág. 66 Prazos e validade para o licenciamento ............................................................... Pág. 69 Aplicação do Licenciamento Ambiental ................................................................ Pág. 71 Empreendimentos e atividades sujeitas ao Licenciamento Ambiental ................. Pág. 71 Atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais ...... Pág. 73 Critérios para uso dos Recursos Ambientais ....................................................... Pág. 76 Educação Ambiental ............................................................................................ Pág. 78 8 1.1 – Conceitos gerais A importância do meio ambiente Desenvolvimento sustentável Impacto e degradação ambiental Por que é importante pensar no meio ambiente? Ouvimos falar praticamente todos os dias em meio ambiente. Por que é importante discutir isso? Por que esse assunto está tão em evidência nos dias atuais? O fato é que todos nós, como organismos vivos que somos, precisamos de condições mínimas para viver. Necessitamos de condições adequadas e saudáveis no nosso dia a dia, tais como ar puro, água potável em quantidade suficiente para saciar a sede e para nossa higiene pessoal. Precisamos de um ambiente saudável, limpo e com saneamento adequado. Todos nós gostamos de viver numa cidade limpa e arborizada, com segurança e equipamentos para o lazer. Ou seja, queremos viver com qualidade. Antigamente o mundo considerava que os recursos do meio ambiente eram ilimitados. O conceito era de que podíamos usar o que quiséssemos do nosso mundo e que os recursos eram permanentemente renovados. A ciência e os fatos se encarregaram de mostrar que não é assim. Inúmeras espécies foram extintas, florestas foram devastadas, a poluição está praticamente em todos os lugares. 9 Tínhamos uma noção de mundo baseada em dois polos, ou seja: Os bens podiam ser divididos em dois tipos: a) Bens públicos, de uso comum do povo (ruas, praças, estradas, rios e mares) b) Bens privados. (Propriedades individuais). Havia ideologias envolvidas nesse conceito de dualidade: O Poder representado pelo Estado (partidos de esquerda: socialismo, poder intervencionista do Estado controlando os meios de produção e a sociedade) e a Iniciativa Privada (partidos de “direita”: capitalismo: liberdade ilimitada para a iniciativa privada, limitação do Poder Estatal: o mercado regulando os preços: falta de intervenção estatal). Os bens públicos foram chamados de Primeiro Setor e os bens privados ficaram conhecidos com Segundo Setor. Porém, no decorrer do tempo, percebeu-se que além dos bens do Primeiro e Segundo setores (bens públicos e privados) havia outro, de maior importância, acima dos interesses públicos e particulares: o bem ambiental, primeiro bem, patrimônio social, garantia da própria existência e de uma vida saudável. O homem, percebendo que os recursos naturais não eram inesgotáveis como se pensava, identificou a importância do Meio Ambiente e o considerou um outro bem, o bem ambiental. Teria que haver um equilíbrio entre as necessidades humanas e a preservação da natureza e se não houvesse essa relação de equilíbrio toda a nossa existência estaria ameaçada, assim como nosso planeta: a destruição ambiental atingiria o nível global, com o fim da vida na Terra. A conscientização da necessidade desse equilíbrio teve como resultado o conceito de “responsabilidade social”, segundo o qual todos na sociedade somos responsáveis: Estado, iniciativa privada e coletividade. Isso causou uma mudança social que fez surgir o chamado Terceiro Setor, ou seja, associações e entidades civis, também conhecidas por ONGs (Organizações não Governamentais). No conceito de responsabilidade social está nossa obrigação em relação ao meio ambiente: devemos protegê-lo para garantir nossa sobrevivência e o futuro das próximas gerações. Quando falamos em meio ambiente vem à nossa mente o chamado meio ambiente natural: ar, água, solo, fauna e flora. O homem evoluiu, passando a viver em sociedade, construindo cidades, alterando o habitat natural e mesmo vivendo em meio à natureza; criamos recursos artificiais, tais como energia elétrica, gás, telefonia, etc. Passamos então a conviver com o ambiente artificial, onde há a interferência do homem, contrapondo-se ao primeiro, que é a natureza em si 10 mesma. Como exemplo, podemos citar a construção de uma casa numa fazenda. Por mais natural que seja a paisagem, temos nela algo que não faz parte da natureza, ou seja, a casa em si, seu interior, é um ambiente artificial, embora faça parte do ambiente natural. Durante sua evolução, o homem criou e desenvolveu valores importantes para sua identidade cultural: música, danças, artesanato, etc. Cada grupo de pessoas então passou a se diferenciar das demais pelos seus costumes, por sua cultura. Dessa forma foi criado o que chamamos de meio ambiente cultural e quando pensamos num determinado país, identificamos suas músicas, costumes, dança, comidas, artes, etc. Também em consequência da evolução do homem, finalmente, temos o conceito de meio ambiente do trabalho. Vamos pensar um pouco e entenderemos com facilidade que onde há esforço físico e/ou intelectual para gerar renda e sustento existe meio ambiente do trabalho, não importando de que formaele é constituído: se é trabalho autônomo, avulso, cooperado, registrado, entre outros. A Constituição Federal de nosso país determina em um de seus artigos o conceito de que todos têm direito a um meio ambiente adequado que possa ser de uso comum e que é dever do Poder Público e de todos, a sua manutenção de forma a garantir não só a sobrevivência das gerações atuais como também as futuras gerações. Na verdade, o chamado meio ambiente é patrimônio social de cada povo. Ele pertence a todos e todos têm o direito de usá-lo de forma responsável. Para isso é preciso que ele seja mantido e não destruído, não só para as pessoas que nele vivem hoje como para as que viverão no futuro. Nem mesmo o Estado pode usar o meio ambiente como quiser e muito menos destruí-lo sob qualquer argumento. O Estado é apenas o “gerente” desse patrimônio coletivo. Por esse motivo, por exemplo, uma praia não pode ser fechada e usada por um condomínio nem uma praça pode ser vendida. Nos dois exemplos a população estaria sendo impedida de usar bens ambientais que pertencem à coletividade. Desenvolvimento sustentável Uma vez que vimos a origem e conceitos dos bens ambientais, vamos agora examinar o chamado Desenvolvimento Sustentável. Não cabem mais nos dias de hoje os conceitos do capitalismo e socialismo predadores, onde o homem age de modo irresponsável, defendendo a todo custo o lucro (capitalismo selvagem) ou o poderio do 11 Estado a qualquer preço (socialismo totalitário), sem considerar a necessidade de manter um equilíbrio com o meio ambiente. Durante muito tempo o descontrole predador resultou na degradação da qualidade de vida para todas as camadas da população, com maior impacto nos pobres (todos sentem os efeitos da poluição, mas uma vez que os pobres vivem em áreas mais poluídas; as enchentes, por exemplo, atingem todas as cidades, mas é pior nas regiões ocupadas por populações mais carentes, etc.). O homem chegou à conclusão que, se preservar e recuperar o meio ambiente, poderá se beneficiar dele e utilizar de forma satisfatória os recursos naturais, sem que esses se esgotem. E isso tem impacto direto na qualidade de vida. O artigo 225 da Constituição Federal determina que cabe à coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Todos nós temos o dever de preservar o meio ambiente também para as futuras gerações. Como exemplo, podemos citar a fábula da “galinha dos ovos de ouro”. Se o dono da galinha tivesse cuidado bem dela teria diariamente, por um bom tempo, alguns ovos de ouro, mas sua cobiça fez com que ele a matasse para pegar todos os ovos que pudesse de uma só vez. A preservação da natureza é rentável sob o ponto de vista econômico, pois além de garantir a nossa sobrevivência, se a mantivermos, ela produzirá frutos para o homem e a sociedade. Será uma fonte de vida e recursos econômicos, ou seja, o desenvolvimento precisa ser durável e contínuo, ao invés de predador.. A isso chamamos Desenvolvimento Sustentável, que deve ter por objetivo a manutenção dos recursos naturais em benefício da sociedade. Para isso acontecer devemos preservar o meio ambiente e toda a sua diversidade. Muitos de nós não aceitaríamos abrir mão do nosso conforto pessoal, e de nossos eletrodomésticos, aparelhos eletroeletrônicos, energia elétrica, água encanada, vestuário, móveis, meios de transporte, etc. para preservar a natureza. Mas, se pararmos para pensar, veremos que todas essas conquistas comprometem, de alguma maneira, em maior ou menor escala, nossos recursos naturais. Observando qualquer produto ou aparelho que utilizamos podemos perceber o longo caminho percorrido pela matéria-prima desde as suas fontes naturais até a chegada do produto final às nossas mãos. Muito pouca 12 gente defenderia a natureza a ponto de escolher viver com os equipamentos e recursos de séculos atrás. Por esse motivo e principalmente para garantir nossa sobrevivência, a atividade industrial e comercial nas cidades tem que minimizar ao máximo o impacto sobre nossos recursos ambientais, ou seja, temos que ter controle sobre a emissão de gases poluentes, destinação dos resíduos sólidos, etc. Podemos perceber que, segundo esses princípios, há a crescente necessidade e, por consequência, a preocupação do setor produtivo em adotar uma postura empresarial que se adapte a uma forma responsável de atuação para evitar ou pelo menos diminuir ao máximo os danos ambientais. Um exemplo disso está na cultura de ataque ao desperdício, com seus três princípios básicos que são: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Para tudo na vida existe um preço. Nesse caso não é diferente. O progresso, da forma como vem ocorrendo, tem colocado em risco o ambiente ou, em outras palavras, vem destruindo o planeta Terra e as suas reservas naturais. Especialistas no assunto afirmam que é mais fácil o mundo acabar devido à destruição que estamos provocando do que por uma guerra nuclear ou por uma invasão extraterrestre (ou outra catástrofe qualquer). Você acha que isso tudo é um exagero? Então vamos trocar algumas ideias. Adotamos hoje um modelo de crescimento econômico que criou enormes desequilíbrios. Se, por um lado, nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, por outro lado, a miséria, a degradação ambiental e a poluição são um problema que só tem aumentado. Diante disso surgiu a ideia do Desenvolvimento Sustentável (DS), buscando equilibrar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e, ainda, erradicar a pobreza no mundo. Diversas pessoas que trabalham nessa área dizem que a humanidade de hoje detém conhecimento suficiente para que seu desenvolvimento ocorra de uma forma sustentável, mas é preciso garantir as necessidades do presente sem impedir que as gerações do futuro encontrem os meios necessários para suprir suas próprias necessidades. Você está confuso com todos esses conceitos? Então calma, vamos por partes. Essa frase toda pode ser resumida em poucas e simples palavras: O desenvolvimento tem que acontecer equilibradamente, alinhando-se às limitações ecológicas do planeta, ou seja, podemos nos desenvolver sem destruir o ambiente, para que as gerações futuras tenham a chance de existir e viver bem, de acordo com as suas necessidades (melhoria da qualidade de vida e das condições de sobrevivência). 13 Será que dá para fazer isso? Será que é possível conciliar tanto progresso e tecnologia com um ambiente saudável? É certo que isso é possível e é exatamente o que propõem as pessoas que defendem o Desenvolvimento Sustentável (DS), que pode ser definido como: "Equilíbrio entre tecnologia e ambiente, sem deixar de considerar os diversos grupos sociais de cada país e também dos diferentes países na busca do equilíbrio e justiça social". Para alcançarmos o DS, a proteção do ambiente tem que ser entendida como parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente. É aqui que entra uma questão sobre a qual talvez você nunca tenha pensado: qual a diferença entre crescimento e desenvolvimento? Vamos lá então. O Crescimento não conduz automaticamente à igualdade nem à justiça social, pois não considera nenhum outro aspecto da qualidade de vida a não ser acumular patrimônio e riqueza, que ficam concentrados nas mãos de uma minoria de pessoas. O Desenvolvimento, por outro lado, volta sua preocupação para a geração de riquezas, mas também tem o objetivo de distribuí-las de uma forma mais justa para que seja possível melhorar a qualidade de vida de toda a população, levando em conta a qualidade ambiental do planeta Terra. O DS tem seis aspectos prioritáriosque devem ser entendidos como metas: A satisfação das necessidades básicas da população (educação, alimentação, saúde, lazer, etc.); A solidariedade para com as gerações futuras (preservar o ambiente de modo que elas tenham chance de viver); A participação da população envolvida (todos devem se conscientizar da necessidade de conservar o ambiente e fazer cada um a parte que lhe cabe para tal); A preservação dos recursos naturais (água, oxigênio, etc.); A elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança social e respeito a outras culturas (erradicação da miséria, do preconceito e do massacre de populações oprimidas, como, por exemplo, os índios); A efetivação dos programas educativos. 14 Mundialmente e mesmo no Brasil há diversas ações sendo tomadas na tentativa de se chegar ao DS, e duas são fundamentais. A primeira é a Educação. Educar as pessoas para a preservação é a maneira mais direta e funcional de se atingir pelo menos uma de suas metas: a participação da população. Isso é vital. A outra é a Legislação. A Lei 9.605/1998, Lei dos Crimes Ambientais, inovou o meio jurídico do nosso país com a preocupação voltada ao nosso desenvolvimento sustentável, caracterizando como crimes ambientais ações que implicam na destruição da flora, fauna, assim como a poluição. Vamos agora aprofundar um pouco a visão sobre o impacto que o crescimento humano causa sobre o meio ambiente. Para que você possa compreender melhor, vamos definir que Impacto Ambiental é toda e qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente. Essas alterações precisam ser quantificadas, uma vez que são variáveis, podendo ser positivas ou negativas, grandes ou pequenas. Toda ação sobre o ambiente causa algum impacto e produz a chamada Degradação Ambiental, que é o processo de degradação do meio ambiente, com danos à fauna e à flora natural. A degradação é resultado da ação da poluição produzida pelo homem, embora, no decorrer da evolução de um ecossistema possa ocorrer degradação ambiental por causas naturais. Ex: tsunamis, vulcões, terremotos, etc. Vejamos agora alguns exemplos de atividades humanas com impacto ambiental: Construção de rodovias, aeroportos, ferrovias, portos, terminais; Instalação de gasodutos, oleodutos, minerodutos, emissários de esgotos; Obras para fins de saneamento, drenagem e irrigação, transposição de bacias, canais de navegação, barragens hidrelétricas; Extração de combustível fóssil como petróleo, xisto, carvão, gás natural;. Extração de minério; Projetos turísticos e urbanísticos, aterros sanitários; Instalação de usinas de geração de eletricidade; 15 1.2 – O licenciamento ambiental como ferramenta da sustentabilidade. Já vimos que a sustentabilidade é o maior desafio para a humanidade em nosso século. Na Conferência Mundial sobre Meio Ambiente (Rio-92) quase 200 países, ao assinarem a “Agenda 21”, firmaram um compromisso de busca coletiva por um mundo sustentável do ponto de vista ecológico e socioeconômico. Ao assumir esse compromisso, ainda que muito poucas ações concretas tenham ocorrido, os países que assinaram a “Agenda 21” se comprometeram com o Desenvolvimento Sustentável. Podemos entender o Desenvolvimento Sustentável como a forma de desenvolvimento que “atende às necessidades das presentes gerações sem prejudicar o atendimento das necessidades das gerações futuras”, mas isso deve ser ao mesmo tempo ecologicamente equilibrado, economicamente viável e socialmente justo. Muitos de nós pensamos que esse objetivo é muito bonito, mas inatingível, já que para acontecer é necessária uma mudança de comportamentos em toda a sociedade, pois está diretamente associado aos nossos usos e costumes, a como trabalhamos, produzimos, vivemos nossas vidas, e também tem a ver com o modo como os países e instituições posicionam-se politicamente. Hoje, no entanto, a sociedade em geral começa a fazer pressões via consumidores e organizações não governamentais por um Desenvolvimento Sustentável. Essas pressões são feitas sobre governos, instituições e segmentos de produção. Como resultado, têm surgido modelos de desenvolvimento e sistemas de gestão que buscam equilibrar o desenvolvimento econômico e social com a preservação ao meio ambiente. Esses três componentes formam o Triângulo da Sustentabilidade, conforme segue: 16 Econômico Planeta Ambiental Social Falando agora do sistema de licenciamento ambiental brasileiro, podemos perceber que ele é fundamental para a consolidação do Desenvolvimento Sustentável em nosso país que, por sua vez, contribui para o Desenvolvimento Sustentável do planeta. Todos nós sabemos que o tema meio ambiente tem cada vez mais destaque na mídia, principalmente via propostas políticas e ideológicas. Diversos candidatos, nas eleições presidenciais de 2010, destacaram sua preocupação com a questão ambiental, até porque esse assunto tem sempre uma grande repercussão na sociedade em níveis nacional e internacional. Há muito a fazer, principalmente quanto aos obstáculos colocados ao Desenvolvimento Sustentável, tais como indefinições quanto à competência das diversas entidades públicas e visões distorcidas relativas à interpretações da Constituição com relação à sustentabilidade e equilíbrio ambiental. Isso nos leva à conclusão de que o sistema de licenciamento ambiental precisa ser revisto e aperfeiçoado para que seja mais transparente, ágil e eficaz. Como primeira atitude para a implementação eficaz do licenciamento ambiental no Estado brasileiro, é preciso definir o conceito de licenciamento ambiental como base para o Desenvolvimento Econômico e Social e como ferramenta para tornar possíveis os investimentos em nosso país. Se adotarmos uma nova atitude com base nesse conceito, e falamos aqui em atitude envolvendo o ponto de vista cultural e ideológico, poderíamos consolidar os fundamentos legais da Ordem Econômica e Social. Dessa forma, a Administração Pública e o Setor Produtivo passariam a investir recursos humanos e materiais no sistema de licenciamento ambiental, que assim deixaria de ser considerado um obstáculo aos investimentos. 17 Além da mudança de atitude como a que citamos, é importante incorporar às nossas políticas públicas a Avaliação Ambiental com foco estratégico, de forma a evitar que o licenciamento de grandes projetos e programas de infraestrutura seja conduzido sem os devidos critérios pela Administração Pública, ocasionando perda de tempo e investimentos. Outro grande obstáculo à própria manutenção do licenciamento ambiental brasileiro é a demora dos órgãos licenciadores na análise dos pedidos de licença. Não que esses órgãos não tenham capacidade para isso, mas enfrentam problemas com os poucos recursos humanos capacitados de que dispõem e os insuficientes recursos financeiros. É isso que resulta em atrasos na análise dos pedidos, que se avolumam dia após dia. Para resolver esse problema, uma saída seria criar um quadro de consultores independentes legalizados. Os empreendedores interessados poderiam pedir a esses consultores um exame prévio de seus projetos de forma a identificar falhas e recomendar as soluções técnicas adequadas para evitar ou minimizar possíveis impactos ambientais negativos. Esses consultores independentes legalizados e pagos pelos interessados, poderiam analisar os estudosde impacto ambiental a serem apresentados ao órgão público encarregado do licenciamento, aliviando, assim, a burocracia estatal, sem ocorrer perda de eficiência ou demora no processo de autorização. Isso não substituiria a análise pública do licenciamento, mas facilitaria muito a análise de técnicos governamentais. Esses técnicos teriam sempre a autoridade para homologar e incorporar aos seus pareceres as conclusões dos consultores particulares. Seriam poupados do grande volume de trabalho braçal de levantar dados e fazer sua análise. Haveria considerável redução de custos para o estado, uma vez que seriam evitados gastos com pessoal destinado a essas atividades-meio, despesas com vistorias e inspeções de campo. Outro “gargalo” está na insuficiente e confusa regulamentação dos trabalhos de licenciamento, especialmente no que se refere às diversas competências e critérios, tanto em nível federal quanto setorial dos integrantes do SISNAMA. Esse problema poderia ser reduzido com o aperfeiçoamento da Resolução CONAMA n° 237/97 pelo Executivo Federal, ao mesmo tempo em que se faria a revisão e consolidação da Legislação ambiental pelo Congresso Nacional. A Resolução CONAMA 237/97 instituiu regras que deveriam constar em qualquer norma legal da Administração Pública, tais como os prazos de 18 vigência das licenças prévias, de instalação e operação, o prazo para revisão e renovação e os prazos de análise das solicitações de projetos e de cumprimento dos ajustes recomendados. Mas, desde sua entrada em vigor, a Resolução 237/97 tem sofrido questionamentos quanto à sua constitucionalidade, sendo esse o motivo pelo qual precisa ser revista o mais cedo possível. O que ocorreu nos últimos tempos foi o desmembramento dos órgãos do SISNAMA e a falta de padronização de procedimentos, o que, sem dúvida, ocasionou muitos danos. Para solucionar essa situação é necessário criar um Grupo ou Comissão de Trabalho com apoio governamental, que faça o reexame de todo esse modelo e proponha um modelo mais ágil e eficaz. Esse grupo de trabalho poderia ser formado por juristas, representantes de segmentos da indústria, técnicos e procuradores ligados aos órgãos estaduais, ao IBAMA e ao próprio Ministério do Meio Ambiente. Caberia a esse grupo propor e detalhar as normas gerais importantes, em especial, normas voltadas a definir limites de impacto para empreendimentos estratégicos e de interesse nacional, que sejam licenciados pelo organismo federal e outros que devam ser licenciados pelos estados e municípios. Por outro lado, se a situação ainda é confusa, foi um grande avanço para a causa da preservação ambiental e do desenvolvimento sustentável o fato da Constituição de 1988 e das leis decorrentes terem definido que a defesa do meio ambiente caberia ao Ministério Público, possibilitando sua ação como instrumento da ação civil pública. Por isso, é urgente implantar ações entre o Ministério Público e a Administração Pública, buscando melhor eficiência para garantir o interesse público, a Ordem Econômica e Social, a defesa ambiental e os princípios assegurados aos cidadãos. Os pontos críticos que geram conflitos envolvendo Ministério Público e Administração devem-se à comunicação inadequada, muita burocracia na troca de informações, diferentes ideologias e, frequentemente, desconhecimento de como realmente funciona o licenciamento. O licenciamento não significa cumprir uma rotina burocrática, cheia de formulários e papéis. É um instrumento de mediação de conflitos, um meio para que se mantenha o constante diálogo entre instituições setoriais, sociedade civil e órgãos públicos. Por isso, não tem cabimento considerar o licenciamento motivo de discórdia entre entidades. 19 É fundamental para a sociedade e para o país o incremento da comunicação entre os diversos órgãos responsáveis pela preservação do meio ambiente e pela inclusão de formas de solucionar conflitos ambientais usando recursos como a mediação e arbitragem para não ter que recorrer ao judiciário, com toda a lentidão que isso acarreta. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, que reúne os 60 principais grupos econômicos do país, em artigo publicado na imprensa (Jornal O Estado de São Paulo) destaca que “ao mesmo tempo em que o país se conscientiza da necessidade de fazer face à situação de seus 50 milhões de miseráveis e cria programas como o Fome Zero, o emperramento dos sistemas de licenciamento induz à fome.” Para se ter uma ideia do problema, em alguns estados a burocracia para se obter uma licença ambiental é tanta que isso pode levar anos. Isso faz com que em muitos casos as pessoas interessadas em empreender desistam ou mudem seu interesse para outros locais ou até procurem outro país. É claro que isso causa limitação dos empregos e renda, sem as quais nenhum programa de combate à miséria tem sustentação. É necessário, portanto, tornar o processo de licenciamento mais ágil e eficaz, promovendo o envolvimento de todas as partes. Sem isso, o país perde muito de sua sustentabilidade. 1.3 – As empresas e a preservação ambiental. Para que possamos entender a posição das empresas quanto à questão ambiental é interessante discutirmos como essa relação tem evoluído ao longo do tempo, até chegarmos aos dias atuais. Há, na verdade, a questão de como se atender às necessidades de uma população mundial em constante crescimento e de como isso impacta sobre o meio ambiente. Hoje, sabemos que há um limite para a degradação ambiental. Esse limite, uma vez ultrapassado, certamente ameaça a própria sobrevivência da sociedade e da espécie humana. Temos, portanto, um conflito a resolver. O conflito entre o objetivo das empresas e o ponto de vista da preservação é antigo. Todos nós sabemos que hoje o mundo enfrenta limitações de recursos e sofre com a deterioração do meio ambiente e, mais do que isso, com a ação de toda a mídia mundial criando muita pressão para a urgência de uma agenda política e empresarial voltada para o resgate do meio ambiente. Fazer com que o tema preservação do meio ambiente faça parte do processo de produção, ou seja, incluir na esfera econômica a questão ambiental, pode significar uma tentativa de dar mais força aos interesses 20 tanto das organizações quanto da sobrevivência do homem, fazendo com que a questão ambiental passe a fazer parte dos processos de decisão das atividades econômicas. Isso é feito de forma a apresentar um claro alinhamento das estratégias de desenvolvimento sustentado com a estratégia das organizações quanto à sua própria sobrevivência e a preservação dos lucros. Discutir o quanto é difícil conciliar preservação ambiental e os objetivos de desenvolvimento não é algo recente. Na verdade, teve início no século XV, período das grandes conquistas e colonizações mundiais. Temos como exemplo a criação de parques nacionais nos Estados Unidos e a proibição de caça a diversas espécies animais em pleno Século XIX. No entanto, o nascimento da discussão ambiental no plano mundial tornou-se mais evidente à medida que graves acidentes ecológicos, principalmente a partir de 1940, ganhavam crescente destaque mundial, causando grandes repercussões na sociedade e levando ao surgimento de um maior número de pessoas preocupadas e envolvidas na luta pela preservação ambiental. Dentre essas pessoas podemos incluir estudiosos, especialistas, estudantes, empresários, políticos, entidades de classe, cada qual articulado segundo a sua percepção e interesse pela causa ambiental. O modelo de desenvolvimento econômico atual, baseadona exploração dos recursos naturais, que caracterizou a forma de atuação industrial do século XX vem cumprindo a sua função de realização das necessidades e das expectativas de consumo da sociedade. As empresas em grande parte do mundo e independente do sistema político e social no qual se inserem, de forma geral e em diferentes graus poluem e exploram o meio ambiente sem a devida reposição, incentivando o desperdício de energia e de materiais em nome do mercado. Isso já aponta sinais de graves desequilíbrios advindos dessa expansão industrial. Ao se constatar a possibilidade real da degradação desse complexo vital, o ecossistema chamado Terra torna-se fundamental para as organizações incorporarem a questão da preservação ambiental em suas políticas. Desse modo o discurso de grandes corporações internacionais é feito de forma coerente entre discurso e prática: Querem preservar o meio ambiente como forma de potencializar os interesses tanto do capital quanto da sobrevivência do homem. Pois, sem o homem, as empresas se extinguem. 21 A questão ambiental. Considerar o meio ambiente como parte integrante da sociedade é uma ideia que começa a surgir partir da década de 50. Nessa época, apenas cinco anos depois do fim da II Guerra Mundial, havia forte discussão sobre crescimento econômico e já se falava de sua relação com o meio ambiente e com estratégias de desenvolvimento. Essa discussão abriu espaço para que se desse atenção à questão referente à ética na escolha das estratégias alternativas para esse desenvolvimento, que é baseado em um sistema de valores da sociedade e na responsabilidade. O foco da conscientização ambiental nos fins da década de 60, além do choque do petróleo, no início dos anos 70, foi determinante para a consideração de questões relacionadas aos recursos naturais, à energia e ao ambiente em geral nos campos econômico, social e político – o que pode ser chamado simplesmente de questão ambiental. A questão ambiental pode ser abordada sob três pontos de vista que irão ligar o problema ambiental ao crescimento econômico: o ponto de vista do desenvolvimento, a abordagem neoclássica e a economia ecológica. As novas abordagens podem responder, ou ao menos tentar explicar, o próprio desenvolvimento histórico capitalista e a relação entre o homem e o meio ambiente, que como sabemos, não é simples. Cada uma das abordagens dos três pontos de vista ambientais apresenta motivos diferentes que ligam a questão ambiental ao crescimento econômico e que estão associadas a diferentes momentos históricos. Vamos a eles então: a) O ponto de vista do desenvolvimento: na década de 60 e início dos anos 70, começaram os questionamentos relacionando crescimento econômico e meio ambiente; b) a abordagem neoclássica: ganha espaço nos anos 70 e 80, coincidindo com as reivindicações da sociedade e das classes ambientalistas pelo pagamento de indenizações pelos efeitos sobre o meio ambiente de danos causados pelas empresas, surgindo, então, a questão de se dar valor ao ambiente, ou seja, quantificar a relação custo/benefício. c) a economia ecológica: surge no final da década de 80 e no início da de 90, tocando em valores fundamentais para a existência do homem, visando 22 seu crescimento, ampliando o conceito de que ele faz parte da natureza e da relação das diversas ciências com o meio ambiente. Segundo esses três pontos de vista, ao longo do tempo podemos perceber que a questão ambiental vem sendo tratada em direta relação com os problemas apresentados em cada período histórico. E nos dias atuais? O tema meio ambiente evolui ao longo do tempo, como já vimos. Podemos dizer que a questão de preservação do meio ambiente é hoje realmente assunto de preocupação global, com desdobramentos políticos internacionais. Dessa forma, a crise de energia, aquecimento global, fome, produção e distribuição de alimentos, na verdade não são questões separadas. Estão todas interligadas. São temas que têm claras ligações com política, estratégia internacional, etc. Um exemplo disso é o interesse internacional pela Amazônia, sendo que muitos países hoje a consideram patrimônio global. Um grupo de indústrias chamado Clube de Roma reconheceu essa interligação de crises e criou o nome “Problemática Global” para se referir aos complicados problemas globais e às ligações sempre em mudança existentes entre eles: É importante entender que não são apenas problemas ligados a diferentes aspectos, mas eles estão sempre mudando “à medida que os cenários onde ocorrem também estão mudando”. Fica claro que uma série de problemas, não apenas vinculados à questão ambiental, engloba o mundo todo. Com relação à problemática ambiental, a dinâmica econômico- industrial, visando garantir o progresso econômico, baseava-se na exploração dos recursos naturais e na poluição do meio ambiente. Até tempos recentes, para se garantir o progresso econômico e industrial compatível com os índices de crescimento da população, pensava- se que a saída era a exploração indiscriminada dos recursos do meio ambiente. Achava-se que, se não fosse assim, a própria sobrevivência humana poderia estar comprometida. Sabemos que, de diversas formas a indústria e seus produtos têm impactos sobre a base de recursos naturais através da exploração e extração de matérias-primas, sua transformação em produtos, consumo de energia, formação de resíduos, uso e eliminação dos produtos pelos consumidores. Esses impactos podem ser positivos, melhorando a qualidade de um recurso ou ampliando seus usos; ou podem ser negativos, devido à poluição causada pelo processo e pelo produto, ou ainda ao esgotamento ou deterioração do meio ambiente. 23 Com a Globalização, a preocupação com o meio ambiente tornou-se mundial. É nesse cenário que surge a ideia de sustentabilidade. O pensamento do desenvolvimento sustentável tem como base a ideia de equilibrar as necessidades econômicas com necessidades não apenas do meio ambiente, mas questões sociais também, que devem envolver governos, sociedade, empresas e ONGs. Com isso espera-se fazer com que o desenvolvimento tecnológico e da produção não acabe com os recursos naturais, nem destrua o meio ambiente, impedindo a existência da sociedade e de gerações futuras. A história da economia aponta que, a partir dos anos 50, teve início o avanço tecnológico e, os anos 80 e 90, se caracterizaram por grande expansão de consumo de bens duráveis. Hoje, sentimos as consequências ambientais causada por essa aceleração. Da década de 70 em diante a privacidade das organizações para fazer o que queriam começou a mudar. O mundo externo passou a intrometer-se de forma indireta, mas também com mais força, nos laboratórios e salas de conferências. Descobriu-se que a tecnologia baseada na ciência, tendo o seu poder multiplicado pela explosão econômica global, estava a ponto de causar mudanças irreversíveis no planeta Terra como meio ambiente para a vida. No início da década de 90, a existência de grandes “buracos de ozônio” na atmosfera chegava ao conhecimento de leigos e a única questão era saber com que rapidez ia prosseguir o esgotamento da camada de ozônio, bem como quando ultrapassaria a capacidade do planeta de se recuperar. O aumento crescente da temperatura do planeta em consequência de gases produzidos pelo homem tornou-se uma preocupação de políticos e cientistas já na década de 80. Como já vimos, a preocupação com o meio ambiente, apoiada pelo conceito de sustentabilidade procura garantir o progresso material e bem- estar social, preservando os recursos naturais que são patrimônios naturaisda humanidade para as futuras gerações. Isso implica em fazer com que os recursos não sejam esgotados pela produção, impondo limites com relação ao crescimento. Deve ser adotada uma forma de gerenciamento que considere que existem limites físicos naturais a serem respeitados. Se ultrapassarmos esses limites tendo por meta apenas o lucro e o ganho, fatalmente haverá a destruição da natureza de forma irreversível e, por consequência, a destruição da humanidade. Entretanto, visando resguardar seus interesses econômicos, as organizações criam formas de preservar o meio ambiente e acabam por trazer benefícios à sociedade, bem como evitam possíveis questionamentos 24 que possam surgir quanto aos impactos ao meio ambiente resultantes da aceleração da atividade industrial nos últimos anos. O fato de a questão ambiental introduzir-se nos debates políticos e econômicos resultou no surgimento do conceito do desenvolvimento sustentável, vinculado à “utilização racional” dos recursos naturais, passando a ser incorporado definitivamente no discurso econômico do meio corporativo, como forma de socializar a responsabilidade pela destruição dos ecossistemas naturais. Considerando isso, resta o problema de saber identificar quando existe um verdadeiro interesse das indústrias pela conservação do meio ambiente, ou quando existe uma tentativa de neutralizar o problema, usando a ecologia apenas como marketing. Sabemos que, para sobreviver, as empresas estão em permanente processo de competitividade e a concorrência para ganhar mercado as estimula a adotar tecnologias mais limpas, fazer o controle do desperdício, a reciclagem de materiais, obter certificações ambientais como a série ISO 14000, tudo isso divulgado amplamente no mercado. A finalidade dessas estratégias do chamado “marketing verde” é gerar uma boa imagem no mercado, ampliando espaço para que os seus produtos e serviços sejam bem aceitos. Empresas dos setores químicos, de petróleo e farmacêutico, nos quais os acidentes ecológicos são mais frequentes, foram as primeiras a incorporar o meio ambiente nos seus programas institucionais. Outro interesse ligado ao meio ambiente por parte das empresas transnacionais refere-se ao controle dos bancos genéticos (germoplasmas) encontrados nas florestas tropicais e em diversas outras formações vegetais nos países do terceiro mundo. Esses bancos genéticos são matérias-primas fundamentais para a indústria farmacêutica para o século XXI, em que a tecnologia, seja na informática, na eletrônica, na robótica ou na biologia, será o alicerce das inovações. As organizações que atuam na área farmacêutica, por exemplo, buscando alinhar a conservação do meio ambiente com a maior valorização do seu capital, montam parcerias com organizações não governamentais, fundações de pesquisa e proteção ambiental, associações, programas de preservação de parques ecológicos, florestas, etc., transferindo recursos financeiros que promovam os objetivos dessas entidades, mas que divulguem a imagem das empresas como grandes patrocinadoras e mentoras dessas atividades. 25 Por esse motivo, há grande preocupação por parte de países que detêm reservas florestais, como é o caso do Brasil, com a chamada Pirataria Verde, ou seja, com organizações não governamentais que atuam em nosso território e que podem ter interesses não revelados nos recursos naturais. A questão é se o discurso das empresas e a prática são coerentes. Faz parte da estratégia das empresas incluir um espaço para as suas atividades ecológicas (reflorestamento, ajuda a entidades de preservação) e seus relatórios anuais (Annual Report), que são enviados para os acionistas e para os meios de comunicação em geral. Isso para garantir um meio eficiente de relações públicas, sempre focando sua competitividade. Percebemos então, que as ações das empresas em promover, pelos seus discursos, a conservação do meio ambiente têm por interesse apresentarem-se ao consumidor como instituições legalmente, socialmente e ecologicamente corretas. No entanto, apesar do envolvimento das empresas em relação ao meio ambiente, ficam ainda algumas perguntas que merecem maior atenção. São elas: Como separar o discurso da prática da empresa em relação à preocupação ambiental? Qual o tamanho do espaço entre a riqueza do discurso e a ação? Para que possamos separar o “joio do trigo” e identificar eventuais distorções entre o discurso e a prática, ou seja, se há de fato o interesse por parte da empresa em preservar o meio ambiente de forma sustentável ou se o discurso é uma estratégica apenas para garantir interesses econômicos, o caminho é o “estudo de caso” de cada empresa e a divulgação também via meios de comunicação e cobrança sobre eventuais distorções. Essa prática vem sendo adotada por ONGs e outras organizações realmente comprometidas com a questão ambiental. Isso faz com que as empresas, ao se interessarem pelas questões ambientais e se sentirem fiscalizadas passem a incorporar a preservação e uso responsável do meio ambiente em seus planejamentos, em seus objetivos e até mesmo em suas filosofias corporativas, o que significa adotar uma postura ecologicamente responsável. Promover pela educação e conscientização uma mudança social e política que venha tratar como prioridade a preservação do meio ambiente, ainda pode parecer uma utopia para muitos. Há muita resistência por parte de governos e de grandes corporações, mas a cada dia cresce a pressão da sociedade por mudanças, pois é a própria sociedade que sofre as consequências da piora da qualidade de vida. 26 1.4 – Leitura Complementar Camada De Ozônio: A Guerra Continua (Artigo submetido à FOLHA DE S.PAULO, em 2 de fevereiro de 2000) A destruição da Camada de Ozônio é um dos mais severos problemas ambientais da nossa era, e durante algum tempo foi muito citada na imprensa. Sua destruição ainda que parcial, diminui a resistência natural que oferece à passagem dos raios solares nocivos à saúde de homens, animais e plantas. As consequências mais citadas seriam o câncer de pele, problemas oculares, diminuição da capacidade imunológica, etc. O problema surgiu nos anos 30, quando algumas substâncias foram produzidas artificialmente em laboratório, principalmente para as aplicações em refrigeração. Descobriu-se mais tarde que estas atacam a camada de ozônio, com a tendência de reduzí-la globalmente, e com um efeito devastador que acontece localmente na Antártica, conhecido como o buraco de ozônio da Antártica, aumentando assim a penetração dos raios ultravioleta indesejáveis. Nos anos 80 iniciou-se uma verdadeira guerra para preservação da camada de ozônio, e uma de suas maiores vitórias foi a assinatura do Protocolo de Montreal, há mais de 10 anos. Por este tratado, assinado em 1987 por vários países, todas as substâncias conhecidas por CFC (clorofluorcarbonetos), responsáveis pela destruição do ozônio, não seriam mais produzidas em massa. O trabalho mundial que se realiza para salvar a camada de ozônio continua. Trata-se de uma verdadeira guerra, onde se ganha batalha por batalha (e às vezes se perde uma, como por exemplo, a não assinatura do Protocolo por alguns países). Recentemente, mais uma vez, representantes de 129 governos se reuniram para discutir aspectos ligados à questão da proteção da camada de ozônio. A reunião de Pequim aconteceu de 29 de novembro a 3 de dezembro de 1999. Seu objetivo foi mais uma vez verificar os progressos que estão sendo feitos no sentido de eliminar as substâncias que destroem a camada de ozônio. Ficou mais uma vez constatado que apesar de alguns avanços importantes, nem todos os países tem conseguido satisfazeras metas traçadas em reuniões anteriores. Por isto foi decidido que serão gastos nos anos de 2000 a 2002, a quantia de US $ 475,7 milhões para ajudar as indústrias de países em desenvolvimento a se adaptar a estes objetivos. O grande problema é que muitas das pequenas indústrias que produziam e ainda produzem substâncias "proibidas" não tem tido capacidade financeira de se adaptar aos ditames do Protocolo de Montreal, que prevê o congelamento da emissão dos CFCs, a partir de 1 de julho de 2000, nos níveis registrados entre 1995 e 1997. A eliminação total está prevista para 2010, e o nível de 50% está previsto, numa etapa intermediária, para 2005. A maior vitória nesta guerra foi conquistada em 1987, quando a maioria dos países desenvolvidos parou de fabricar os CFCs. Para não prejudicar os países em desenvolvimento, foi lhes concedido ainda um tempo adicional para se adaptar às novas exigências. Assim é que, 84% da emissão de CFCs já foi eliminada, uma conquista extraordinária. A guerra, porém, ainda não está ganha. 27 A Índia e a China são hoje ainda os maiores produtores e consumidores de CFCs. A redução da camada de ozônio pode ser medida através do tamanho do buraco de ozônio da Antártica. Trata-se de uma região onde os efeitos destruidores dos CFCs são aumentados, pelas condições climáticas do Polo Sul. Assim é que estamos numa época em que o tamanho do buraco é o maior já registrado. Apesar da vitória alcançada em 87, os problemas ainda não estão totalmente resolvidos para a camada de ozônio, e o motivo é que não existe ainda um substituto ideal para repor o CFC. Hoje utiliza-se maciçamente substâncias conhecidas por HCFC, isto é, um CFC melhorado ecologicamente, mas que ainda tem em sua molécula um átomo de cloro, que mais cedo ou mais tarde, vai também atacar a camada de ozônio. Em outras palavras, a situação está teoricamente melhor, mas ainda não está resolvida. A guerra não está ganha ainda. Não se pode esquecer que a camada de ozônio reage muito lentamente aos estímulos externos. O exemplo citado acima ilustra bem o que se afirma. A partir de 87 foi quase eliminada a emissão de novas quantidades de CFC para a atmosfera, mas hoje ainda temos um buraco de ozônio na Antártica que está próximo ao seu tamanho máximo. Os cientistas dizem para explicar isto que a camada tem constante de tempo muito longa. A constante de tempo da camada de ozônio é muito grande, isto é, ela só vai reagir a um estímulo após dezenas de anos. A prova é que, há mais de 13 anos após a principal vitória na eliminação da emissão de CFCs, o buraco na camada de ozônio ainda continua próximo ao seu máximo. Em 1998 o tamanho do buraco de ozônio da Antártica foi o maior já registrado, com 27 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, mais de 3 vezes o tamanho do Brasil. Parece que estamos ainda muito longe de um resultado realmente positivo no sentido da recuperação da camada de ozônio, não só na Antártica, mas também em todo o mundo. O Brasil tem participado deste trabalho de avaliação contínua da camada de ozônio não só sobre o Brasil, mas também na Antártica, onde manteve em 1999 uma equipe na base Comandante Ferraz, para medir a camada de ozônio usando balões de pesquisa. Por tudo isto, continua o monitoramento da camada de ozônio em todo o mundo, a partir da superfície terrestre, de satélites, de aeronaves, usando as técnicas mais diversas. Não podemos esquecer que a guerra ainda levará muitos anos, até que finalmente, poderemos de fato não mais nos preocupar com radiação ultravioleta danosa aos seres vivos, quando a camada de ozônio estiver recuperada. 28 2.1 – As normas de proteção ambiental no Brasil. Vimos na Unidade 1 que as crescentes pressões da sociedade e o avanço da consciência ambientalista, que ganham mais força em função dos impactos ecológicos, com consequências econômicas e sociais face à implantação dos mais diferentes tipos de empreendimentos geraram, em alguns países, ações para a adoção de práticas adequadas de gerenciamento ambiental. Com a Conferência Mundial de Meio Ambiente, realizada no período de 5 a 16 de junho de 1972, em Estocolmo, as ações de desenvolvimento no Brasil foram, aos poucos, incorporando uma visão ambientalista que resultou na implantação de uma legislação que reflete políticas e princípios, estabelecendo as linhas básicas do licenciamento ambiental. A legislação ambiental no Brasil, tomou por base o princípio do poluidor-pagador do direito francês, que é uma obrigação legal prévia à instalação de qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou degradadora do meio ambiente. Ao adotar esse princípio, foi possível ligar com foco no curto, médio e longo prazos as preocupações ambientais com as estratégias de desenvolvimento social e econômico. 29 Como primeiro passo para um processo de aprimoramento e regulamentação do licenciamento, em 1986 o CONAMA estabeleceu diretrizes gerais para apresentação do Estudo de Impacto Ambiental - EIA - e para o Relatório de Impacto Ambiental – RIMA -, nos processos de licenciamento ambiental, definindo ainda critérios para sua aplicação (Resolução CONAMA n° 001/ 86). O EIA não é o único estudo ambiental considerado no processo de licenciamento, mas é importante para as decisões voltadas à implementação de projetos. Esse estudo deve ser apresentado na fase de planejamento, pesquisa e levantamentos da atividade e tem por objetivo verificar se a localização do empreendimento é viável do ponto de vista ambiental. Buscando aperfeiçoar o Sistema de Licenciamento Ambiental, o CONAMA aprovou em 22 de dezembro de 1997 a Resolução no 237. Esta Resolução, definida no CONAMA por um grupo de trabalho composto por representantes de todos os setores envolvidos no licenciamento ambiental, tem como objetivo básico a regulamentação das competências do licenciamento ambiental, o estabelecimento de procedimentos nas suas fases, dos prazos de análise e manifestação do licenciador e o prazo de validade para cada licença. Com o fim da última crise econômica, nosso país retomou o desenvolvimento. Houve em consequência o crescimento da importância do licenciamento, uma vez que aumentaram muito os pedidos para implantação de empresas e serviços. Havia a necessidade de enquadrar os novos empreendimentos em modelos de gestão ambiental, sem o que não é possível receber as licenças necessárias à sua localização, instalação e operação. O Governo Federal tem dado muita importância à política de desenvolvimento, principalmente da infraestrutura. Há uma demanda muito grande de obras para capacitar o país a suportar seu desenvolvimento futuro. Dessa forma, são inúmeros os projetos envolvendo hidrelétricas, hidrovias, gasodutos, portos, aeroportos, obras de saneamento, etc. E todas elas deverão cumprir a legislação atual. No que se refere ao setor energético, observa-se um incremento acentuado de usinas hidrelétricas e termelétricas, com o objetivo de suprir a demanda de energia no país. Ressalta-se, também, o incremento na interligação dos sistemas elétricos Norte/Nordeste e Sul/Sudeste/Centro Oeste, em substituição à implementação de obras de geração de energia. Também nos últimos anos nosso país tem se constituído no alvo preferencial para que empresas invistam e ampliem suas atividades. Muitas empresas querem participar do crescimento econômico, o que tem ocasionado um aumento significativo de atividades relacionadas ao licenciamento ambiental. 30 Destaca-se que o governo, através de seus Ministérios, vem desenvolvendo projetos que requerem licenciamento, como no caso do Ministério dos Transportes, com os Corredores de Transportes Multimodais (Hidrovias– Ferrovias - Rodovias) e, também, o Ministério do Planejamento e Orçamento - MPO, com a Transposição de Águas do Rio São Francisco para o Semi-Árido Nordestino e obras de saneamento em todo país. A legislação ambiental brasileira é considerada uma das mais completas do mundo. Temos hoje 17 leis ambientais. O problema é quanto ao cumprimento adequado dessas leis, mas, apesar de não serem cumpridas de maneira adequada, elas são importantes, pois podem garantir a preservação do patrimônio ambiental do nosso país. Vejamos quais são essas leis: 1 - Lei da Ação Civil Pública - número 7.347 de 24/07/1985. Lei de interesses difusos, trata da ação civil pública de responsabilidades por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor e ao patrimônio artístico, turístico ou paisagístico. 2 - Lei dos Agrotóxicos - número 7.802 de 10/07/1989. A lei regulamenta desde a pesquisa e fabricação dos agrotóxicos até sua comercialização, aplicação, controle, fiscalização e também o destino das embalagens. Exigências impostas: - obrigatoriedade do receituário agronômico para venda de agrotóxicos ao consumidor. - registro de produtos nos Ministérios da Agricultura e da Saúde. - registro no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA - o descumprimento desta lei pode acarretar multas e reclusão. 3 - Lei da Área de Proteção Ambiental - número 6.902 de 27/04/1981. Lei que criou as "Estações Ecológicas", áreas representativas de ecossistemas brasileiros, sendo que 90% delas devem permanecer 31 intocadas e 10 % podem sofrer alterações para fins científicos. Foram criadas também as "Áreas de Proteção Ambiental" ou APAS, áreas que podem conter propriedades privadas e onde o poder público limita as atividades econômicas para fins de proteção ambiental. 4 - Lei das Atividades Nucleares - número 6.453 de 17/10/1977. Dispõe sobre a responsabilidade civil por danos nucleares e a responsabilidade criminal por atos relacionados com as atividades nucleares. Determina que, se houver um acidente nuclear, a instituição autorizada a operar a instalação tem a responsabilidade civil pelo dano, independente da existência de culpa. Em caso de acidente nuclear não relacionado a qualquer operador, os danos serão assumidos pela União. Esta lei classifica como crime produzir, processar, fornecer, usar, importar ou exportar material sem autorização legal, extrair e comercializar ilegalmente minério nuclear, transmitir informações sigilosas neste setor, ou deixar de seguir normas de segurança relativas à instalação nuclear. 5 - Lei de Crimes Ambientais - número 9.605 de 12/02/1998. Reordena a legislação ambiental brasileira no que se refere às infrações e punições. A pessoa jurídica, autora ou coautora da infração ambiental pode ser penalizada, chegando à liquidação da empresa se ela tiver sido criada ou usada para facilitar ou ocultar um crime ambiental. A punição pode ser extinta caso se comprove a recuperação do dano ambiental. As multas variam de R$ 50,00 a R$ 50 milhões de reais. Para saber mais: www.ibama.gov.br. 6 – Lei da Engenharia Genética – número 8.974 de 05/01/1995. Esta lei estabelece normas para aplicação da engenharia genética, desde o cultivo, manipulação e transporte de organismos modificados (OGM), até sua comercialização, consumo e liberação no meio ambiente. A autorização e fiscalização do funcionamento das atividades na área e da entrada de qualquer produto geneticamente modificado no país são de responsabilidade dos Ministérios do Meio Ambiente, da Saúde e da Agricultura. Toda entidade que usar técnicas de engenharia genética é obrigada a criar sua Comissão Interna de Biossegurança, que deverá, entre outras 32 obrigações, informar aos trabalhadores e à comunidade sobre questões relacionadas à saúde e segurança nessa atividade. 7 – Lei da Exploração Mineral – numero 7.805 de 18/07/1989. Essa lei regulamenta as atividades garimpeiras. Para essas atividades é obrigatória a licença ambiental prévia, que deve ser concedida pelo órgão ambiental competente. Os trabalhos de pesquisa ou lavra que causarem danos ao meio ambiente são passíveis de suspensão, sendo o titular da autorização de exploração dos minérios responsável pelos danos ambientais. A atividade garimpeira executada sem permissão ou licenciamento é crime. Para saber mais: www.dnpm.gov.br. 8 – Lei da Fauna Silvestre – número 5.197 de 03/01/1967. A lei classifica como crime o uso, perseguição, captura de animais silvestres, caça profissional, comércio de espécies da fauna silvestre e produtos derivados de sua caça, além de proibir a introdução de espécie exótica (importada) e a caça amadorística sem autorização do IBAMA. Criminaliza também a exportação de peles e couros de anfíbios e répteis em bruto. 9 – Lei das Florestas – número 4.771 de 15/09/1965. Determina a proteção de florestas nativas e define como áreas de preservação permanente (onde a conservação da vegetação é obrigatória) uma faixa de 30 a 500 metros nas margens dos rios, de lagos e de reservatórios, além de topos de morro, encostas com declividade superior a 45 graus e locais acima de 1.800 metros de altitude. Também exige que propriedades rurais da região Sudeste do país preservem 20% da cobertura arbórea, devendo tal reserva ser averbada em cartório de registro de imóveis. 10 – Lei do Gerenciamento Costeiro – número 7.661 de 16/05/1988. Define as diretrizes para criar o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, ou seja, define o que é zona costeira como espaço geográfico da ? 33 interação do ar, do mar e da terra, incluindo os recursos naturais e abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre. Permite aos estados e municípios costeiros instituírem seus próprios planos de gerenciamento costeiro, desde que prevaleçam as normas mais restritivas. Esse gerenciamento costeiro deve obedecer às normas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). 11 – Lei da criação do IBAMA – número 7.735 de 22/02/1989. Criou o IBAMA, incorporando a Secretaria Especial do Meio Ambiente e as agências federais na área de pesca, desenvolvimento florestal e borracha. Ao IBAMA compete executar a política nacional do meio ambiente, atuando para conservar, fiscalizar, controlar e fomentar o uso racional dos recursos naturais. 12 – Lei do Parcelamento do Solo Urbano – número 6.766 de 19/12/1979. Estabelece as regras para loteamentos urbanos, proibidos em áreas de preservação ecológicas, naquelas onde a poluição representa perigo à saúde e em terrenos alagadiços. 13 – Lei Patrimônio Cultural - Decreto-lei número 25 de 30/11/1937. Lei que organiza a Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, incluindo como patrimônio nacional os bens de valor etnográfico, arqueológico, os monumentos naturais, além dos sítios e paisagens de valor notável pela natureza ou a partir de uma intervenção humana. A partir do tombamento de um destes bens, ficam proibidas sua demolição, destruição ou mutilação sem prévia autorização do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, SPHAN. 14 – Lei da Política Agrícola - número 8.171 de 17/01/1991. Coloca a proteção do meio ambiente entre seus objetivos e como um de seus instrumentos. Define que o poder público deve disciplinar e fiscalizar o uso racional do solo, da água, da fauna e da flora; realizar zoneamentos agroecológicos para ordenar a ocupação de diversas atividades produtivas, desenvolver 34 programas deeducação ambiental, fomentar a produção de mudas de espécies nativas, entre outros. 15 – Lei de Recursos Hídricos – número 9.433 de 08/01/1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Define a água como recurso natural limitado, dotado de valor econômico, que pode ter usos múltiplos (consumo humano, produção de energia, transporte, lançamento de esgotos). A lei prevê também a criação do Sistema Nacional de Informação sobre Recursos Hídricos para a coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão. 16 – Lei do Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição – número 6.803 de 02/07/1980. Atribui aos estados e municípios o poder de estabelecer limites e padrões ambientais para a instalação e licenciamento das indústrias, exigindo o Estudo de Impacto Ambiental. 17 – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – número 6.938 de 17/01/1981. É a lei ambiental mais importante e define que o poluidor é obrigado a indenizar por danos ambientais que causar, independentemente da culpa. O Ministério Público pode propor ações de responsabilidade civil por danos ao meio ambiente, impondo ao poluidor a obrigação de recuperar e/ou indenizar prejuízos causados. Essa lei criou a obrigatoriedade dos estudos e respectivos relatórios de Impacto Ambiental (EIA-RIMA). 2.2 – A Lei 6.938/81 - Política Nacional do Meio Ambiente. Considerando a importância da Lei 6.938/81, uma vez que trata da Política Nacional de Meio Ambiente, vamos dar a ela enfoque preferencial neste curso. 35 Nosso país passou a ter Política Nacional do Meio Ambiente com a lei nº 6.938/81 que pode ser considerada um marco legal para todas as políticas públicas de meio ambiente a serem desenvolvidas pelos órgãos estaduais. Antes dessa lei cada Estado ou Município tinha autonomia para definir suas políticas em relação ao meio ambiente, mas na prática, poucos demonstravam interesse na preservação ambiental. A partir da implantação dessa lei começou a ocorrer uma integração e um alinhamento dessas políticas, tendo como metas os objetivos e as diretrizes estabelecidas na referida lei pela União. Um aspecto importante disso foi a criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente, um sistema de coordenação de políticas públicas de meio ambiente envolvendo os três níveis da federação, que tem como objetivo consolidar a Política Nacional do Meio Ambiente. Política Nacional do Meio Ambiente. A Lei nº 6.938/81 é a mais relevante norma ambiental depois da Constituição Federal de 1988, na qual foi mantida. Traçou toda a sistemática das políticas públicas brasileiras para o meio ambiente. Essa lei definiu conceitos básicos como os de meio ambiente, de degradação e de poluição e determinou objetivos, diretrizes e instrumentos, além de definir responsabilidades. Também definiu que a política ambiental é a organização da gestão por parte do governo quanto aos recursos ambientais. Determina também critérios econômicos para incentivar ações produtivas que respeitem adequadamente o meio ambiente, bem como as penalidades para o não cumprimento das normas definidas. Objetivo da Política Nacional do Meio Ambiente O principal objetivo da Política Nacional do Meio Ambiente é fazer com que o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado seja de fato respeitado. Esse é um princípio contido no caput do art. 225 da Constituição Federal. Por meio ambiente ecologicamente equilibrado se entende a qualidade ambiental favorável a manter a vida das gerações atuais e futuras. 36 Também pode ser considerado como objetivo da Política Nacional do Meio Ambiente conciliar o desenvolvimento socioeconômico do país com a utilização racional dos recursos ambientais, de forma a que a exploração do meio ambiente não comprometa as condições favoráveis à vida. Podemos dizer, então, que o objetivo geral da Política Nacional do Meio Ambiente está dividido em preservar, melhorar e recuperar o meio ambiente. Entende-se que preservar é procurar manter o estado natural dos recursos, não permitindo a ação predatória do homem. Significa deixar intocados os recursos ambientais. Melhorar é fazer com que, por meio da intervenção humana, se consiga fazer com que a qualidade do meio ambiente seja sempre aprimorada através da gestão apropriada das espécies animais e vegetais e dos outros recursos ambientais. Recuperar é fazer com que uma área degradada por meio da intervenção humana volte a ter as características ambientais originais. Podemos dizer que esse é o objetivo mais difícil e, em alguns casos, até impossível de ser alcançado em função da gravidade dos danos causados. É importante destacar que é mais importante condenar o causador de um dano ambiental a recuperar o ambiente do que punir com prisão ou simples multa financeira. Os objetivos específicos estão disciplinados pela lei em questão de uma forma bastante ampla no art. 4º da Lei: Art. 4º – A Política Nacional do Meio Ambiente visará: I – à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II – à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; III – ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; IV – ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnológicas nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais; V – à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência publica sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico; 37 VI – à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propicio à vida; VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. Tanto o objetivo geral quanto os objetivos específicos conduzem à concepção de que a Política Nacional do Meio Ambiente, ao tentar harmonizar a defesa do meio ambiente com o desenvolvimento econômico e com a justiça social, tem como primeira finalidade maior a promoção do desenvolvimento sustentável e como última finalidade maior a efetivação do princípio da dignidade da pessoa humana. Princípios da Política Nacional do Meio Ambiente. É importante saber que os princípios da Política Nacional do Meio Ambiente não coincidem exatamente com os princípios do Direito Ambiental, embora tenham a mesma finalidade. Isso decorre da linguagem adotada, própria de um texto legal. Os mesmos conceitos são expressos de maneira diferente. Após estabelecer o objetivo geral da Política Nacional do Meio Ambiente, o artigo 2º da Lei nº 6.938/81 define o que chama de princípios norteadores das ações, como segue: I – Ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II – Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; III – Planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;IV – Proteção dos ecossistemas, com a preservação das áreas representativas; V – Controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI – Incentivo ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; VII – Acompanhamento do estado de qualidade ambiental; 38 VIII – Recuperação de áreas degradadas; IX – Proteção de áreas ameaçadas de degradação; X – Educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente Os mecanismos usados pela Administração Pública Ambiental são instrumentos legais com a finalidade de cumprir a Política Nacional do Meio Ambiente. Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente estão elencados na Lei nº 6.938/81 em seu Art.9º. Art. 9º – São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: I – o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II – o zoneamento ambiental; III – a avaliação de impactos ambientais; IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; V – os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI – a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; VII – o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII – o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental; IX – as penalidades disciplinares ou compensatórias não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental; 39 X – a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA; XI – a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes; XII – o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais. É importante saber que padrões de qualidade são normas definidas pela legislação ambiental e pelos órgãos administrativos de meio ambiente e se referem aos níveis permitidos de poluição do ar, da água, do solo e dos ruídos. Os padrões de qualidade ambiental definem os valores máximos de lançamento na natureza de poluentes permitidos. Veremos agora como é feito zoneamento dos locais e de sua definição quando às diversas atividades que podem neles ser desenvolvidas. Nas cidades brasileiras, a definição de zoneamento urbano ou ambiental é quase sempre feita por meio de um Plano Diretor ou de Códigos Urbanísticos Municipais, embora os Estados e o Governo Federal também tenham competência para estabelecer algum tipo de zoneamento. Entendemos por zoneamento uma delimitação de áreas em um determinado espaço. Com base nessa divisão são definidas as áreas previstas para os projetos de expansão econômica ou urbana. A avaliação de impacto ambiental é um instrumento que serve para defender o meio ambiente. A avaliação é formada por um conjunto de procedimentos técnicos e administrativos que procuram analisar os possíveis impactos ambientais causados pela instalação ou operação de uma atividade. Esses procedimentos servem para dar suporte à decisão de licenciar ou não determinado empreendimento. A finalidade é aumentar os impactos positivos para o meio ambiente e diminuir os impactos negativos. Como processo administrativo, o licenciamento ambiental não é um processo simples. Ele segue os procedimentos definidos pela área administrativa responsável pela gestão ambiental, seja no âmbito federal, estadual ou municipal. Existem alguns instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente que não estão relacionados pela Lei nº 6.938/81, mas são de grande importância, como é o caso do Fundo Nacional de Meio Ambiente criado pela Lei nº 7.797/89. 40 Esse fundo é importante, pois é um agente financiador de projetos ambientais. O funcionamento do licenciamento obedece a seguinte ordem quanto aos instrumentos existentes: As leis estaduais e municipais podem conter também indicações de instrumentos para a implementação da Política Nacional do Meio Ambiente, com as necessárias adaptações à realidade de cada entidade administrativa. Esses instrumentos estão divididos em três grupos: - O primeiro é o dos instrumentos de intervenção ambiental, que são os mecanismos condicionadores das condutas e atividades relacionadas ao meio ambiente (incisos I, II, III, IV e VI do art. 9º da citada Lei). - O segundo são as medidas tomadas pelo Poder Público, que são os instrumentos de controle ambiental. Sua finalidade é verificar se pessoas públicas ou particulares se adequaram às normas e padrões de qualidade ambiental e que podem ser anteriores, simultâneas ou posteriores à ação em questão (incisos VII, VIII, X e IV do art. 9º da lei citada). - O terceiro são as medidas legais e com finalidade repressiva aplicáveis à pessoa física ou jurídica (inciso IX da Lei citada). O Sistema Nacional do Meio Ambiente. O SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente é uma estrutura político-administrativa governamental aberta à participação de instituições não governamentais e forma a grande estrutura da gestão ambiental no Brasil. O SISNAMA pertence ao Poder Executivo da mesma maneira que os demais sistemas administrativos, como o Sistema Nacional de Educação, o Sistema Nacional de Segurança e o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor. O Sistema Nacional do Meio Ambiente é formado pelo conjunto de órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental. Na sua formação, percebemos que pode ter tomado como modelo o National Environmental Policy Act – (Ato da Política Nacional do Meio Ambiente), do governo dos Estados Unidos. 41 Lembremos que, quando nos referimos ao sistema estamos considerando um conjunto de partes que forma um todo. Nesse sentido, pensando num sistema, isso pode nos ajudar a: 1) identificar a relação entre as partes componentes. 2) a localização de um padrão que determina as ligações entre as partes. 3) Vendo o todo percebemos uma finalidade. Objetivo e Estrutura do Sistema Nacional do Meio Ambiente. O objetivo do SISNAMA é tornar realidade o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, conforme está previsto na Constituição Federal e nas normas nos diversos níveis governamentais do nosso país. Vamos ver agora qual o objetivo e qual a estrutura do Sistema Nacional de Meio Ambiente. Para você que está fazendo esse curso, isso pode parecer burocrático, afinal estamos falando de legislação ambiental, mas isso é muito importante no contexto do tema em estudo. Nossa finalidade é fazer com que você entenda esse contexto para que possa transitar por ele. Você já aprendeu que a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente estruturou o Sistema Nacional do Meio Ambiente, conforme seu Art.3º, e que ele é formado pelos seguintes órgãos: Art. 3º. O Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios
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