Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
( 7 ) Administração das Contas a Receber e dos Estoques Renata Ferreira Os investimentos em capital de giro estão concentra- dos basicamente nas disponibilidades, duplicatas a receber e estoques. Os investimentos em duplicatas a receber depen- dem do comportamento das vendas e da formulação de uma política de crédito para as vendas a prazo. O crédito é fator facilitador das vendas, com ele a empresa pode vender muito mais do que se tivesse apenas a modalidade venda à vista. Porém, conceder crédito é um fator de risco, já que pode haver inadimplência e até perdas com alguns devedores, sem contar que vendas a prazo provocam despesas adicionais com análise de crédito e de cobrança. Daí, a importância de se aplicar técnicas adequadas para a gestão do crédito e das políticas e cobrança, visto que a cobrança é a principal função operacional de contas a receber. 214 G es tã o fin an ce ir a Os estoques também costumam absorver um mon- tante significativo no total dos investimentos das empre- sas industriais e comerciais. Os estoques provocam custos financeiros e despesas operacionais, o que faz com que as empresas tenham uma política de estoques com rápida rota- ção como forma de elevar a rentabilidade e contribuir para a manutenção da liquidez, daí a relação entre gestão da produ- ção e administração financeira. O objetivo desta unidade é apresentar os elementos que envolvem a gestão dos valores a receber e dos estoques, destacando os elementos da política de crédito, o processo de concessão de crédito, a política de cobrança, os tipos e os cus- tos dos estoques. Administração de Valores a Receber Na economia moderna, toda transação comercial envolve algum tipo de operação de crédito ou, no mínimo, a concessão de um período de carência para o pagamento. O departamento Contas a Receber tem como finalidade contro- lar os valores a receber provenientes das vendas a prazo, e deve ser organizado para: fornecer informações sobre o total dos valores a receber de clientes; estimar os valores a rece- ber que entrarão no caixa da empresa, por períodos de ven- cimento, conhecer o montante das contas já vencidas e os respectivos períodos de atraso, bem como tomar providên- cias para a cobrança e o recebimento dos valores em atra- sos; fornecer informações sobre os clientes que pagam em dia; fornecer informações para a elaboração do fluxo de caixa (ROSS et al, 2008). Cria-se uma conta a receber quando há concessão de cré- dito e a administração destes valores a receber é de responsabi- lidade do gestor financeiro, especialmente, porque a concessão de crédito deve ser suportada pela existência de recursos para A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 215 financiá-la, pois interfere no equilíbrio econômico-financeiro da empresa. Assim, quanto maior o volume de vendas a cré- dito maior será a necessidade de capital de giro para financiar este ativo e o custo desse financiamento deve ser agregado ao custo dos produtos. (LEMES JR. et al, 2010) Também é importante que haja integração com a área de Marketing, já que a política de crédito compreende diretri- zes e procedimentos de seleção de clientes, cobranças e des- contos, constituindo importante elemento para a consecução dos objetivos de venda atuando como instrumento de atração de ‘procura’ para o que a empresa oferece no mercado. Parece lógico, mas a postura do administrador é muito importante para o gerenciamento e o controle das Contas a Receber. Se o devedor estiver ciente de que o credor espera receber e que tomará ações efetivas caso isso não aconteça, mais provavelmente ele o pagará. Tratando as Contas a Receber com seriedade, os clientes farão o mesmo. Todavia, se o credor tratá-las sem a devida importância permitirá que os seus clientes sempre levem vantagem. Política de Crédito A política de crédito fixa os parâmetros da empresa em termos de vendas a prazo, ou seja, fornece os parâmetros que determinam se deve ser ou não concedido crédito a um cliente e, em caso afirmativo, qual o valor do limite de crédito a ser atribuído. Uma política de crédito define a forma pela qual a empresa vai conduzir as suas operações, se de uma forma conservadora ou agressiva. Por exemplo, se o objetivo da empresa é aumentar o volume de vendas, por exemplo, deverá ela adaptar uma política de crédito mais flexível, porém, esta postura trará um risco maior exigirá um moni- toramento mais preciso. Já se a empresa quiser reduzir o 216 G es tã o fin an ce ir a volume de duplicatas a receber e também de estoques, ela poderá trabalhar com uma política de crédito mais rígida, na qual ela assumirá um nível de risco menor, o que prova- velmente resultará em menores despesas com cobrança, mas também em um menor volume de vendas. Uma política de crédito envolve basicamente o estudo dos seguintes elementos: Política mais flexível Política mais rígida Menos duplicatas e estoque Mais vendas Mais riscos Menos riscos e vendas = = = = Política de crédito Padrões de crédito Prazo de concessão Desconto por antecipação Políticas de cobrança A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 217 Padrões de Crédito Os padrões de crédito estabelecem as condições míni- mas que o pretendente deve possuir para receber crédito da empresa. Segundo Lemes Jr. et al (2010), os padrões de crédito influenciam as seguintes variáveis: O estabelecimento desses padrões envolve geralmente o agrupamento dos clientes em diversas categorias de risco, as quais visam mensurar o custo das perdas associadas às vendas realizadas a um ou mais clientes de categorias semelhantes. Prazos de concessão de crédito O prazo de concessão de crédito é o período de tempo concedido ao cliente para efetuar o pagamento do compro- misso assumido. É um fator relevante tanto para quem plei- teia o crédito, visto que quanto maior o prazo obtido, menor o seu ciclo de caixa, quanto para quem concede o crédito, já que quanto maior o prazo concedido, maior o ciclo de caixa e maior a necessidade de aporte de recursos no Ativo Circulante. Geralmente, os prazos são definidos nas políticas de cré- dito, no entanto, como prazo é um componente negocial, pode ser analisado de acordo com as necessidades de cada cliente. O estabelecimento de prazos está relacionado com os costumes da sociedade, natureza do produto vendido, nível de atividade econômica, características do mercado comprador, concorrên- cia, condições negociais, capacidade da empresa em sustentar capital de giro adicional, entre outros. Gitmam (2010) coloca Vendas Condições mínimas muito exigentes dificultam a realização das vendas Valores a receber Padrões de crédito que facilitam a realização das vendas são indicativos de aumento na necessidade de recursos para financiamento de valores a receber. Risco Padrões de crédito menos exigentes aumentam os riscos de perdas pelo não recebimento. 218 G es tã o fin an ce ir a que “os prazos regulares de crédito de uma empresa devem assemelhar-se aos do setor, mas os prazos concedidos a um cliente específico devem refletir o risco do cliente”. O prazo para pagamento influi também na determina- ção do preço à vista. Há casos em que a empresa não esta- belece diferença entre o preço à vista ou a prazo, induzindo o comprador a adquirir o produto a prazo, pois não recebe recompensa pela compra à vista. Vale lembrar que compras com cartão de crédito são consideradas vendas a prazo,mas no Brasil, a legislação exige que sejam praticados preços iguais para a modalidade à vista e no cartão de crédito. Descontos por antecipação de pagamento Inadimplência é o não cumprimento, no todo em parte, de uma obrigação, objeto de cláusula contratual, em determi- nado prazo, ficando o inadimplente, além de permanecer em débito, sujeito ao pagamento de juros de mora, multa contratual e outros encargos. Já a insolvência é a situação de uma pessoa ou uma empresa que, por falta de disponibili- dade financeira, não pode fazer face às suas dívidas. O Sebrae (www.sebrae.com.br) aponta que existem vários fatores que contribuem para a inadimplência. Tais como: Comprar além da capacidade (A maioria dos devedores assume compromissos de pagamentos mensais além da sua capacidade financeira e, nesses casos, recebe quem cobrar primeiro e insistir na negociação. Comprar não basta, é pre- ciso adquirir sempre cada vez mais para não correr o risco de ficar por fora! Este é o princípio que prevalece na mente de muitos consumistas, mesmo aqueles que não se consi- deram, porém exercem as práticas de compra não se dando conta do rombo mensal); Concessão de crédito sem crité- rios (As próprias empresas contribuem com a elevação da inadimplência, por não adotarem medidas e critérios na hora de vender a prazo); Falta de estabilidade econômica – O desemprego é uma das principais causas que leva a pessoa a não pagar seus débitos e em termos empresariais, a retração da economia e a instabilidade pode afetar as ven- das das empresas e, consequentemente, o fluxo de caixa. A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 219 Da mesma forma que o prazo de concessão de crédito, o desconto constituiu um instrumento de política de crédito da empresa. O desconto financeiro pode ser definido como um abatimento no preço de venda efetuado quando os paga- mentos das compras realizadas forem feitos à vista ou a pra- zos bem curtos. Normalmente, a inclusão de um desconto tem por objetivo acelerar os recebimentos sem exercer pressão sobre os clientes, já que funciona como um incentivo para os clien- tes pagarem mais depressa. Ao acelerar os recebimentos, o desconto reduz o investimento em contas a receber e, conse- quentemente, o prazo médio de cobrança, tende a reduzir o risco e as perdas, e também reduz o lucro por unidade ven- dida, mas pode atrair novos clientes interessados em adquirir o produto a um preço inferior. Cabe ao gestor financeiro ana- lisar os custos e os benefícios de uma política de descontos para a empresa para determinar se essa iniciativa é rentável. Políticas de Cobrança A Cobrança pode ser definida como sendo o ato de recebimento das contas a receber da empresa. A política de cobrança, por sua vez, representa os procedimentos adotados para receber os créditos concedidos aos clientes, na data do vencimento. Ou seja, a política de cobrança existe para que as vendas já efetuadas transformem-se em recebimentos. Esses procedimentos, cuja avaliação é realizada pela observação dos inadimplentes ou incobráveis, normalmente resultam das políticas de crédito adotadas pela empresa (GITMAN, 2010). Lemes Jr. et al (2010) colocam que “cobrar é tão impor- tante quanto vender, pois o ciclo operacional só se completa quando o valor da venda é recebido”. A eficiência da política de cobrança da empresa pode ser avaliada parcialmente, observando-se o nível dos 220 G es tã o fin an ce ir a inadimplentes ou incobráveis. Esse nível depende não só da política de cobrança, mas também da política em que se baseou a concessão de crédito. A adoção de medidas mais rígidas de cobrança pode refletir-se sobre a venda, mediante uma retração por parte dos consumidores e, políticas mais dilatadas tendem a gerar um aumento no custo de inadimplência e um agravamento das perdas inflacionárias. Modelo de análise e concessão de crédito: os 5 Cs A política de crédito de uma empresa envolve o levan- tamento de informações sobre o cliente. Em administração financeira estas informações referem-se às diretrizes tradi- cionais e subjetivas conhecidas como os Cs do crédito. Caráter O caráter refere-se ao comportamento do cliente no cumprimento das obrigações assumidas por ele. Ross et Caráter Condições Colateral Capacidade Capital A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 221 al (2008) afirmam que “a experiência do banco ou de uma empresa que esteja concedendo crédito, em termos de conhe- cimento de seu cliente, bem como informações obtidas junto a outros bancos e/ou fornecedores, se traduz em um eficiente instrumento de conhecimento da pontualidade do devedor no cumprimento de suas obrigações”. Assim, é importante considerar, em qualquer processo de crédito, os dados relativos ao passado de uma pessoa ou empresa, como subsídios à tomada de decisão, pois os hábi- tos de um devedor no passado podem revelar o seu caráter no momento presente. Por exemplo, a existência de títulos pro- testados pode ser evidência de que o cliente passou ou passa por dificuldades financeiras, fato que interfere na concessão do crédito. Capacidade A capacidade está relacionada à habilidade adminis- trativa e à competência empresarial dos dirigentes de uma empresa e potencial de produção ou de comercialização dessa empresa. Ross et al (2008) apontam que a “capacidade de uma pessoa apesar de revestir-se de uma certa subjetividade, tor- nando difícil medi-la, pode ser conhecida através de uma análise de seu currículo; ao passo que a capacidade física de uma empresa pode ser conhecida através de uma visita às suas instalações, conhecendo seus métodos de trabalho e o grau de tecnologia utilizado”. Lemes Jr. et al (2010) descre- vem que o item capacidade deve considerar se os ganhos ou o desempenho operacional e financeiro do cliente permitirão a geração de recursos para efetuar o pagamento do compro- misso pretendido. Para as empresas, a análise dos demons- trativos financeiros pode ajudar, visto que permite verificar a liquidez, rentabilidade e endividamento. 222 G es tã o fin an ce ir a Capital O capital se refere à situação econômico-financeira da empresa, no qual diz respeito aos bens e recursos possuídos pela mesma para saldar seus débitos. Preocupa-se com o com- prometimento do patrimônio líquido com valores exigíveis da empresa o os respectivos índices de lucratividade. Portanto, o “C” de capital é medido através da análise dos índices finan- ceiros (rentabilidade, atividade, endividamento e liquidez), tendo, evidentemente, um significado muito mais amplo que aquele que é dado à conta de capital na contabilidade. Colateral O colateral refere-se à capacidade do cliente em ofere- cer garantias que se constituem em uma segurança adicional que, na sua falta, pode inviabilizar uma concessão de crédito. Condições Avalia o grau de exposição aos possíveis efeitos de ocorrências externas sobre a capacidade do cliente para pagar suas dívidas como, por exemplo, influências de variação no nível de atividade econômica, agressividade da concorrência, entre outros. Processo de Concessão de Crédito O processo de concessão de crédito passa por três fases: Cadastro • Ficha cadastral • Documentação • Confirmação das informações • Atualização cadastral A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 223 Crédito • Análise das informações • Classificação do crédito • Limite de crédito • Garantias Cobrança • Procedimentos decobrança • Mecanismos de cobrança • Monitoramento Cadastro O processo de concessão de crédito inicia-se com o pre- enchimento da ficha cadastral, que deve possuir dados com- pletos e atualizados do cliente, seja ele pessoa física ou jurídica. A ficha cadastral deve estar estruturada e conter infor- mações essenciais, de tal forma que permita uma decisão rápida e segura sobre a concessão do crédito. O nível de pro- fundidade das informações a serem utilizadas está relacio- nado com o limite de crédito pretendido, ou seja, quanto maior o limite de crédito pretendido, maior será a exigência e aprofundamento das informações. Não existe um modelo único de ficha cadastral, cada empresa a sua ficha específica, entretanto, algumas informa- ções são fundamentais. Dica O SEBRAE fornece algumas dicas sobre a elaboração de uma ficha cadastral: “Evite montar uma Ficha Cadastral muito longa e complicada, que contenha dados que você não vai utilizar na análise do crédito e que tome muito tempo seu e do cliente para preenchê-la”. Mais informações em www.sebrae.com.br 224 G es tã o fin an ce ir a Todos os dados registrados na ficha cadastral devem ser conferidos com base nos documentos apresentados pelo cliente. As informações e/ou documentos mais utilizados e fornecidos pelos clientes são: Pessoas Jurídicas: • Documentação legal da pessoa jurídica como esta- tuto, ou contrato social, acionistas majoritários, pro- prietários, vínculos com outras empresas, eleição de pessoas autorizadas a assinar pela pessoa jurídica, poderes de quem assina, documentação legal de bens, documentação que confirme o registro da empresa (CNPJ, Inscrição Estadual etc.). • Demonstrações Financeiras dos últimos períodos (geralmente três anos). De preferência com parecer de auditor independente, visando à elaboração de análise financeira e, com ela, a definição do limite de crédito. • Referências comerciais e financeiras como a indi- cação dos principais clientes e fornecedores, além de referências bancárias. Pessoas Físicas: • Documentos pessoais como RG, CPF, Carteira de Trabalho, comprovante de residência, comprovante de renda, comprovante de propriedade de bens e se estão onerados ou não. • Referências comerciais e bancárias. A partir das informações fornecidas, os analistas de crédito da empresa devem verificar sua veracidade, ou seja, inicia-se o processo de Confirmação das informações. Essa etapa é importante, pois o tomador de crédito sempre tende A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 225 a demonstrar uma situação melhor do que a real, por isso a checagem das informações tem que ser rigorosa. Esta che- cagem é feita geralmente através de consultas como (LEMES JR., 2010): • Cadastro próprio, no caso de não ser cliente novo; • Para clientes novos e antigos, estão disponíveis e são utilizadas agências ou empresas especializadas em confirmar informações de pessoas físicas e jurídicas, e também informar sobre seu comportamento finan- ceiro. Entre as agências mais conhecidas, destacam-se: – Serviço de Proteção ao Crédito – SPC – das Associações Comerciais. – SCI/Equifax (Segurança ao Crédito das Informações) – www.sci.com.br. – SERASA – www.serasa.com. – Dun & Bradstreet – www.dnb.com. – Câmaras de Dirigentes Lojistas (CDL). – Bancos com os quais a empresa opera. – Outras fontes de informações apresentadas pelo cliente. As restrições cadastrais devem ser bem analisadas, determinando sua relevância dentro do processo de conces- são de crédito (análise caso a caso) e confrontadas com as informações positivas do cliente. É importante observar se as restrições são recentes, valores, se há tendência de cres- cimento etc. Muitas vezes a empresa erra ao não aprovar o crédito para o cliente, cujo cadastro possui dados positivos e pouquíssimas restrições. Em razão de mudanças que ocorrem ao longo do tempo na situação financeira e no patrimônio das pessoas e empre- sas, não basta fazer o cadastro do cliente uma única vez. 226 G es tã o fin an ce ir a É necessário realizar atualizações periódicas, para man- ter, aumentar ou reduzir o crédito do cliente. Recomenda-se atualizar o cadastro dos clientes uma vez por ano ou em eventual revisão do limite de crédito. Além disso, a empresa deve manter o cadastro ou o histórico de seus clientes para facilitar seu relacionamento e, ao mesmo tempo, reduzir per- das com vendas a prazo. Crédito A partir da confirmação das informações sobre o cliente, a empresa dispõe dos elementos necessários para ela- borar a análise das informações, que preferencialmente será realizada com o auxílio de programas de processamento de dados específicos para essa função. Lemes Jr. et al (2010) colo- cam que a abrangência desta análise deve destacar indica- tivos que facilitarão a decisão sobre a concessão do crédito pretendido. Esta análise deve ser feita de forma ágil (o cliente deseja ser atendido com rapidez), eficiente (daí o uso de téc- nicas ou indicadores importantes), de modo a não constran- ger o cliente. Algumas informações importantes que podem ser colhidas a respeito dos clientes e suas respectivas análises são (LEMES JR. et al, 2010 e RENDE, 2007): Pessoas físicas: • Nível de renda: mostra a capacidade de pagamento; • Outras rendas: mostra a possibilidade de ampliação da capacidade de pagamento; • Bens e imóveis: situação patrimonial; • Nível de comprometimento dos ganhos do cliente quando adicionado o crédito pretendido (exposição ao risco); A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 227 • Tempo de serviço: mostra estabilidade profissional; • Referências comerciais e financeiras: conceito no mercado; • Consultas cadastrais: restrições cadastrais; e • Possibilidade de garantidor da operação (fiador) caso o pretendente ao crédito não se enquadre nos níveis de exposição ao risco de crédito estabelecido. Pessoas Jurídicas: • Comparação entre o período médio de pagamento e o prazo médio de cobrança do cliente, que deve indicar a sincronização entre os fluxos de entrada e de saída de caixa; • Análise temporal e setorial dos índices financei- ros da empresa, visando conhecer a evolução favorável (ou desfavorável) dos indicadores de endividamento, liquidez, rentabilidade, entre outros. Também é possí- vel conhecer a posição da empresa perante seu setor de atividade; • O volume e frequência dos negócios para se conhe- cer o nível de atividade da empresa; • Organização, experiência no ramo. Algumas infor- mações não são obtidas formalmente, mas por meio de contatos estabelecidos com a empresa, seus gerentes, pessoal da área de compras, até mesmo as instalações físicas são um bom indicador sobre a qualidade e orga- nização da empresa como um todo; e • Análise dos dados conseguidos com as agências especializadas. 228 G es tã o fin an ce ir a A próxima etapa, chamada de classificação do crédito, é um procedimento que, por meio de pontuação, determina o potencial financeiro de um solicitante de crédito, a partir da média ponderada dos pontos relativos a algumas característi- cas financeiras e creditícias de cada cliente. A empresa deter- mina os itens relevantes para analisar a situação do cliente e estabelece a pontuação referente aos itens, aos quais atribui pesos considerando sua importância relativa. Definida a estrutura da tabela de classificação de cré- dito, a empresa estabelece limites mínimos de classificação ou faixas de classificação com condições específicas paracada faixa de crédito, nas quais estabelecerá exigências negociais e de garantias para a concessão de crédito. Esse processo é cha- mado de Credit scoring (escores de crédito). A seguir temos um exemplo de Tabela de Classificação de Crédito para pessoas físicas: Características peso fixado (a) Pontos atribuí- dos (b) Pontuação pontuada (c=axb) Fonte de renda 0,25 80 20 Residência própria 0,10 100 10 Comprometimento do ganho 0,15 70 10,5 Tempo de residência 0,10 70 7 Tempo de emprego 0,10 60 6 Tempo de cliente 0,15 80 12 Informações creditíciais 0,15 90 13,5 Total 1,00 79 Pontuação Montante de crédito a ser concedido 100 Limite máximo De 75 a 99 75% do limite máximo De 50 a 74 50% do limite máximo De 25 a 49 25% do limite máximo Menos de 25 Não concede crédito A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 229 No exemplo, o cliente atingiu pontuação de 79, situa- ção enquadrada como conceder 75% do limite máximo, o que indica que deve ser concedido um limite de crédito e prazos mínimos para início das transações. O cliente deve ser moni- torado para revisão de seus padrões. A informação ao cliente sobre o crédito deve ser for- mal. Na impossibilidade de concessão do crédito nas condi- ções normais, deve ser aberta a possibilidade de reforço de garantias (como a utilização de avalistas, por exemplo). Após a classificação do crédito, é importante estabe- lecer o limite de crédito. O limite de crédito corresponde ao valor máximo que a empresa está disposta a financiar e a cor- rer risco com o cliente. Qualquer solicitação de compra que ultrapasse esse limite deverá ser recusada ou examinada por instância superior da empresa. Segundo Rende (2007) para calcular o valor do limite de crédito do cliente, pode ser usada uma das alternativas a seguir: • Limite de crédito múltiplo da renda comprovada do cliente. • Limite de crédito baseado na média histórica de compra do cliente. • Limite de crédito calculado com base em percentual da renda do cliente e no prazo máximo de financia- mento da empresa (para tanto é preciso determinar o valor máximo das prestações que o cliente pode assu- mir, com base no percentual máximo de comprometi- mento de sua renda com o pagamento das prestações - 30%, por exemplo - e o número máximo de presta- ções do plano de financiamento. O limite de crédito é obtido multiplicando-se o valor máximo da prestação pelo número de prestações possíveis). 230 G es tã o fin an ce ir a Garantias O mecanismo utilizado para reduzir o risco nas ven- das a crédito é a exigência de garantias. Segundo Lemes Jr. et al (2010), as garantias representam o comprometimento de outras pessoas, físicas e jurídicas, pela dívida assumida ou a definição de bens, que podem ser móveis ou imóveis, que responderão pela dívida caso o devedor não consiga pagá-la. A obtenção de garantias tem como objetivo aumentar a segurança da venda a prazo, porém não configura, por si só, a certeza do recebimento. Portanto, o crédito não deve ser con- cedido com base apenas na garantia oferecida, e sim na capa- cidade do cliente em liquidar o débito na data estabelecida. Dispensa de garantias se aplica quando não existirem dúvidas de que o cliente pagará as parcelas do crediário no vencimento. Para se chegar a essa conclusão, devem-se consi- derar os seguintes aspectos, entre outros: • Experiência de crédito com a empresa • Capacidade de pagamento • Situação patrimonial • Tradição do cliente no mercado Caso seja indicada a exigência de garantias para a venda a prazo, o passo seguinte será definir o tipo de garantia a ser solicitada. As garantias estão classificadas em garantias pessoais, também chamadas de fidejussórias, e as denomina- das garantias reais. Garantias Pessoais • Aval é a garantia pessoal do pagamento de um título de crédito. É uma obrigação assumida por alguém a fim de garantir o pagamento de uma compra realizada por outro. Por ser uma garantia exclusiva de transa- ção comercial, o aval somente pode ser dado em títulos A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 231 de crédito, não sendo válido em contratos. Vencido o título, o credor pode cobrar tanto do devedor como do avalista. Este responde apenas pelo valor expresso no título, não podendo ser cobrado dele os encargos financeiros por atraso no pagamento. O garantidor responde pelo aval com todos os seus bens, exceto os denominados bens de família. O avalista que pagar o título adquire o direito de cobrá-lo do devedor ou dos demais avalistas, podendo utilizar medidas judiciais para fazer valer o seu direito de ressarcimento, por ter arcado sozinho com a quitação da dívida. • Fiança é a outra forma de garantia pessoal comu- mente utilizada, só que se aplica em dívidas formali- zadas em contrato. O fiador, que pode ser pessoa física ou jurídica, presta garantia de cumprimento da obri- gação assumida pelo comprador caso ele não o faça. O fiador responde pela dívida principal e pelos encargos financeiros pelo atraso. Para que essa garantia seja efe- tiva, o fiador precisa ter bens disponíveis, que possam garantir a dívida. Garantias Reais • A alienação fiduciária é o tipo de garantia feita por meio de instrumento público ou particular arquivado no Registro de Títulos e Documentos ou no Cartório de Registro de Imóveis, na qual o devedor detém posse e utilização dos bens móveis oferecidos em garantia, mas a propriedade é do credor. O devedor será o res- ponsável pela preservação e manutenção dos bens alie- nados e por danos sofridos pelos bens. Pela facilidade de execução, a alienação fiduciária é tida como uma das formas mais seguras de garantia, pois permite a ação de busca e apreensão do bem. 232 G es tã o fin an ce ir a • A hipoteca representa o tipo de garantia no qual, por instrumento público, são utilizados bens imó- veis, veículos, aeronaves e embarcações para garantir dívida contraída pelo devedor. É preciso considerar que os denominados bens de família não podem ser objetos de hipoteca porque estão protegidos por lei. • O penhor consiste no estabelecimento de quanti- dade suficiente de mercadorias, máquinas, equipa- mentos ou títulos de crédito oferecidos para garantir a divida. Se o que for penhorado ficar na propriedade de devedor, este deve ser designado como fiel deposi- tário do que for penhorado e ficará responsável pela sua guarda. Cobranças A terceira fase é a cobrança. A política de cobrança visa fazer com que os recebimentos ocorram nas datas de venci- mento e estejam prontamente à disposição da administra- ção de caixa da empresa. Essa política deve estabelecer desde mecanismos de como o débito será cobrado até os procedi- mentos nos casos de atrasos e inadimplência. Mesmo tomando todas as precauções, fazendo um cadastro completo dos clientes e adotando uma política de crédito adequada para as vendas a prazo, alguns clientes aca- bam atrasando o pagamento de suas prestações. Para comba- ter a inadimplência, tão logo ela ocorra, o principal remédio é agir com rapidez. Ou seja, iniciar prontamente o processo de cobrança, para receber os recursos financeiros em atraso, a fim de preservar a saúde financeira da empresa. Diferentes procedimentos de cobrança costumam ser empregados pelas empresas. Se uma conta não for paga na data de vencimento, com a passagem do tempo os esforços A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 233 de cobranças tornam-se maispessoais e rigorosos. Ross et al (2008) descrevem os procedimentos mais utilizados no caso de clientes em atraso: • Avisos de Cobrança: dias após o vencimento de uma duplicata, a empresa normalmente envia uma carta ou e-mail cortês, lembrando o cliente de sua obri- gação. Se a dívida permanecer em aberto por mais alguns dias, a empresa envia outra carta ou e-mail, agora com texto mais duro, informando que o título está sendo enviado para o departamento jurídico e/ou que o nome do cliente será incluído na lista de devedo- res das agências especializadas. • Telefonemas: se as cartas não surtirem efeito, pode- -se ligar para o cliente e insistir que o pagamento seja efetuado ou ainda propor uma negociação para o par- celamento da dívida. • Visitas pessoais: essa técnica é mais comum com relação ao crédito ao consumidor; entretanto, pode ser empregada por fornecedores industriais. Enviar um vendedor ou um cobrador ao cliente pode ser um pro- cedimento eficiente de cobrança. O pagamento ou a negociação da dívida pode ocorrer no ato da visita. • Agências de cobrança: uma empresa pode transfe- rir as duplicatas incobráveis a uma agência de cobrança para receber seus créditos. • Protesto judicial: é uma medida mais extrema, uma alternativa ao uso de uma agência de cobrança. As políticas de cobrança também podem definir as taxas de desconto por pagamento antecipado ou no ven- cimento da obrigação. As multas, taxas de juros, correção monetária, quando permitidas pela legislação, também são componentes importantes da política de cobrança. 234 G es tã o fin an ce ir a As consequências das políticas de cobrança traduzem resultados diretos nos valores aplicados em contas a receber, diminuindo-os ou aumentando-os de acordo com maior ou menor pressão de cobrança. Políticas eficazes tendem a redu- zir as perdas com devedores incobráveis, pois é sabido que maus pagadores estão mais expostos a cobradores mais exi- gentes (LEMES JR. et al, 2010). A eficiência da política de cobrança pode ser avaliada parcialmente, observando-se o nível de inadimplência ou dos débitos incobráveis. Cabe ressaltar que este nível não depende apenas da política de cobrança, mas da política em que se baseou a concessão do crédito. Os custos de cobrança devem ser analisados em ter- mos de custo-benefício. Algumas empresas vão até o final de uma ação para cobrar uma divida de valor pequeno com o objetivo de mostrar aos clientes sua postura rígida em relação à cobrança. A eficiência e o custo dos diversos procedimen- tos de cobrança são fatores a serem considerados na decisão sobre os mecanismos de cobrança. Lemes Jr. et al (2010) destacam os mecanismos mais usados: 1 | Via Bancária: é através da rede bancária que ocorre o maior volume de cobranças formais da economia. É preciso escolher o banco e negociar as tarifas e proce- dimentos para que os serviços prestados ocorram den- tro das expectativas da empresa, atingindo a eficiência e o baixo custo operacional. Dentro da cobrança bancá- ria algumas modalidades como: • Cobrança simples: o banco atua como simples pres- tador de serviços de cobrança. Recebe o borderô, que é um formulário onde constam todas as informações da empresa e dos títulos colocados em cobrança, e lança A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 235 o débito pelo serviço de cobrança. Recebido o paga- mento, o banco efetua o crédito na conta da empresa. A emissão dos boletos pode ser feita pelo banco ou pela empresa, até o vencimento o boleto pode ser pago em qualquer agência bancária ou pela internet, porém, após o vencimento o pagamento só pode ser feito nas agências do banco que emitiu o boleto. As ações de cobrança, caso o cliente não pague, ficam sob a respon- sabilidade da empresa emitente do título. • Caução de títulos: os procedimentos são os mes- mos da cobrança simples; a diferença é que os títulos e o produto da cobrança representam garantia para empréstimos obtidos pela empresa emitente junto à instituição bancária. • Desconto dos títulos: a empresa realiza operação de captação de recursos junto ao banco e vincula o rece- bimento dos títulos “descontados” para liquidação do empréstimo. Embora os títulos atuem como garantido- res da operação de captação de recursos, o banco não detém sua propriedade. No vencimento, caso o deve- dor não pague, o valor do título é debitado na conta da empresa emitente. Neste caso, o banco acaba, de forma indireta, ajudando a empresa na escolha dos títulos a serem descontados, pois só aceita e desconta os títulos que considera que oferecem um menor risco. 2 | Via Carteira: é o mecanismo que tem os menores custos e maior flexibilidade, mas sua eficiência é discu- tível. Os títulos ficam depositados na área de cobrança da empresa e são acionados nas respectivas datas de vencimento, geralmente por cobradores da empresa. Muitas instituições do poder público somente efetuam pagamentos em carteira. 236 G es tã o fin an ce ir a Os controles devem ser muito rígidos, especial- mente no registro dos títulos emitidos e seus paga- mentos. Algumas atividades comerciais preferem o uso da cobrança em carteira, por emissão de carnês de cobrança; dessa forma procuram fazer com que os clientes retornem à loja para efetuar pagamentos, abrindo oportunidades para a realização de novas ven- das. É uma forma de trazer o cliente à empresa. Porém, a popularização dos cartões de crédito tende a dimi- nuir essa forma de concessão de crédito e cobrança. 3 | Via Representante: trata-se de uma modalidade via carteira, porém, a cobrança é realizada através de representantes ou empresas especializadas (por exem- plo, contact centers). A última questão a ser considerada por uma empresa em sua gestão de contas a receber é o monitoramento de cré- dito. Segundo Gitman (2010), trata-se de uma revisão contí- nua das contas a receber para verificar se os clientes estão pagando de acordo com os prazos de crédito estabelecidos. Se não estiverem saldando suas contas em dia, o monitoramento alertará a empresa para a existência do problema. Pagamentos lentos acarretam custos, porque ampliam o prazo médio de recebimento e, com isso, aumentam o investimento em con- tas a receber. As técnicas mais usadas para monitoramento das con- tas a receber são: Aging de valores a receber O aging é uma medida de estudo cronológico dos valo- res a receber (ou a pagar) mantidos por uma empresa. Essa é uma técnica usada para avaliar as políticas de crédito e cobrança, pois indica as proporções de saldos de duplicatas A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 237 a receber, relativamente a períodos específicos de tempo. Na media em que esta técnica destaca possíveis irregularidades, os analistas podem determinar as causas de problemas na política de crédito e/ou cobrança. A elaboração de um cronograma de vencimentos exige que as duplicatas sejam subdivididas em grupos, de acordo com a data de vencimento. Por exemplo: O exemplo mostra que 71,4% das duplicatas emitidas estão na condição a vencer, sendo que 57,1% vencerão no pró- ximo mês (até 30 dias) e 14,3% vencerão daqui a dois meses. Além disso, 26,6% das duplicatas emitidas estão vencidas, sendo que 12,9% estão vencidas há mais de 30 dias. Esses números assumem maior representatividade quando tratados por meio de séries temporais, refletindo a evolução das faixas de vencimentos da empresa e, de modo simplificado, a eficiência da cobrança, ao comparar as faixas de vencidos. Assaf Neto (2010) coloca que paramaior representativi- dade na análise do aging, os diversos valores a receber devem ser apurados em moeda representativa de mesmo poder de compra. Assim, as duplicatas a vencer devem ser deflaciona- das para a data atual da análise, a partir de uma taxa de infla- ção prevista para o período, corrigindo-se, por outro lado, para a mesma data, os valores a receber já vencidos. Descrição Valor % Título a vencer até 30 dias 200.000 57,1% Título a vencer de 30 a 60 dias 50.000 14,3% Total de duplicatas a vencer 250.000 71,4% Títulos vencido (até 30 dias de atraso) 55.000 15,7% Títulos vencido (de 31 a 60 dias de atraso) 45.000 12,9% Total de duplicatas vencidas 100.000 28,6% Total geral da carteira 350.000 100% 238 G es tã o fin an ce ir a Dias de Vendas a Receber (DVR) ou Período médio de cobrança O DVR é uma medida de controle que permite, pela relação entre os valores a receber e as vendas médias diá- rias, apurar o número médio de dias necessário para realizar financeiramente as vendas a prazo, ou seja: Por exemplo, se as vendas anuais de uma empresa atin- giram R$ 750.000 e as duplicatas a receber registradas pela contabilidade totalizaram R$ 120.000 no final do mesmo perí- odo, temos que: O resultado índica que, em média, 58 dias das vendas realizadas no último exercício ainda não foram recebidas, ou seja, encontram-se inseridas no contas a receber da empresa 58 dias das vendas anuais da empresa. Segundo Assaf Neto (2010), de forma idêntica ao estudo do aging, é importante que em contexto inflacionários os valo- res de cálculo do DVR estejam em moeda de mesmo poder de compra. Assim, os valores a receber deverão ser deflacio- nados (para as contas a vencer) ou corrigidos (para as contas vencidas) para o final do período, e as vendas devem também ser corrigidas para a mesma data. Ou, pelo menos, deve-se comparar o saldo a receber com as vendas corrigidas. O DVR também é usado como medida aproximada para o cálculo do investimento em contas a receber. Por exemplo, considerando os dados do exemplo anterior e se a empresa possui uma relação entre custos e despesas totais/ vendas totais igual a 90% (a margem de lucro neste caso é DVR ou prazo médio de cobrança = valores a receber no final de um período vendas médias diárias do período DVR = 120.000 = 0,16 ano x 360 = 57,60 ≅ 58 dias 750.000 A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 239 de 10%), o montante do investimento necessário em valores a receber, considerando que das vendas totais, 80% são a prazo: Investimento médio em valores a receber = vendas a prazo médias por dia x DVR Investimento médio em valores a receber = 1.666,67 x 58 dias Investimento médio em valores a receber = R$ 96.666,86 Vale ressaltar que alterações no DVR influenciam no investimento em contas a receber. Se o DVR cair, o investi- mento médio em valores a receber também sofre reduções, exercendo menor pressão sobre o fluxo de caixa da empresa. O DVR também permite calcular o giro dos valores a receber: Conceder crédito representa custos para a empresa. Esses custos relacionam-se ao maior volume de recursos aportados em valores a receber e a possibilidade de aumento nas perdas com devedores duvidosos (PDD). A expansão do crédito em valores e em prazo implica aumento de recursos aplicados em capital circulante da empresa. A empresa incorre em custos de oportunidade por não aplicar esses recursos em outro investimento de mesmo nível de risco. Para o cálculo do investimento médio em dupli- catas a receber podemos considerar o investimento médio em valores a receber e o custo de oportunidade. Assim: Vendas totais no período = 750.000 Vendas a prazo (80%) = 600.000 Vendas a prazo médias por dia = 600.000/360 = 1.666,67 DVR = 120.000 = 0,16 ano x 360 = 57,60 ≅ 58 dias 750.000 Giro dos valores a receber = Investimento médio x custo de oportunidade em valores a receber 240 G es tã o fin an ce ir a Vale reforçar que o custo de oportunidade é a taxa de juros que a empresa conseguiria obter em uma aplicação de mesmo nível de risco, utilizando o montante que está apli- cado no investimento médio em contas a receber. Administração de Estoques Dentro do ativo circulante, os estoques apresentam a menor liquidez, visto que são representados por matérias- -primas, componentes, insumos, produtos em elaboração e produtos acabados e se constituem nos bens comercializáveis pelas empresas comerciais e destinados à produção e venda pelas empresas industriais. Nas empresas industriais e comerciais, a gestão dos estoques é relevante visto que o volume a ser estocado é grande. Já nas empresas de serviços a relevância dos estoques é pequena, já que o foco está na prestação de serviços e não na comercialização dos produtos. A administração dos estoques deve procurar estabele- cer ações e procedimentos para saber: a) quanto comprar ou produzir; b) em que momento comprar ou produzir; e c) quais itens de estoque merecem maior atenção. Quem é o responsável pela gestão dos estoques em uma empresa? Os estoques não são administrados diretamente pelo administrador financeiro. Em geral, são de responsabili- dade das áreas administrativas (compras) e/ou industrial (produção e logística). Isso torna a gestão dos estoques mais complexa, já que podem surgir divergências funcionais na definição e execução das políticas de estocagem. Como a gestão de estoques não cabe diretamente à admi- nistração financeira, não trataremos das técnicas de compras A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 241 e sistemas de estoques (lote econômico de compra, ponto de pedido, sistema da curva ABC, cálculo dos estoques de segu- rança, sistema MRP – Materials Requirement Planning, sistema Just in time – JIT – entre outros). Esses são assuntos pertinentes à área da Administração da Produção e Logística. Tipos de Estoques Segundo Assaf Neto (2010), os estoques podem ser definidos como “os materiais, mercadorias ou produtos man- tidos fisicamente disponíveis pela empresa, na expectativa de ingressarem no ciclo de produção, de seguir seu curso produ- tivo normal, ou de serem comercializados”. Existem diferentes tipos de estoques, caracterizados pela sua condição ao nível de produção e comercialização. São eles: Matéria-prima São bens que, no seu todo ou parcialmente, farão parte do produto acabado. Estoques de matérias-primas insufi- cientes causam graves problemas na produção e comerciali- zação e afetam negativamente os resultados financeiros da empresa. Dentre os tipos de estoques, as matérias-primas são os de menor liquidez, pois precisam ser transformados em produtos acabados para serem vendidos e se tornarem caixa. Insumos São bens e produtos utilizados no processo produ- tivo, mas não fazem parte do produto final. Não possuem a mesma importância relativa das matérias-primas em termos de valor, mas também são imprescindíveis ao processo pro- dutivo. Têm a mesma classificação em termos de liquidez, ou seja, são também poucos líquidos. 242 G es tã o fin an ce ir a Produtos em processo Inclui todas as matérias-primas e demais custos relati- vos ao estágio de produção em que os produtos se encontram em determinada data (data do balanço). Efetivamente, não apresentam condições físicas de comercialização, pois neces- sitam ainda passar poralgumas etapas de produção. Quando prontos estes itens são transferidos, com toda a carga assu- mida de custos, para o estoque de produtos acabados. Produtos acabados São os produtos que estão prontos para a venda. É nos produtos acabados que se concentram grandes volumes de investimentos da empresa, especialmente as comerciais. É o mais líquido dos estoques, pois sua transformação em caixa depende da venda, do prazo e da cobrança. Materiais de consumo Inclui, entre outros, os itens destinados ao consumo industrial, materiais de consumo dos escritórios, material de limpeza, material de propaganda etc. O montante de estoques é influenciado, principal- mente, pelo comportamento e volume previstos da atividade da empresa (produção e vendas) e pelo nível de investimen- tos exigidos. Se possível, é interessante evitar quantidades excessivas de estoques, as quais, em função de imprimirem maior lentidão ao giro dos ativos, reduzem a rentabilidade da empresa. No entanto, em algumas situações, essa queda de rentabilidade pode ser mais compensada pela introdução de determinados benefícios. Por exemplo, as matérias-primas podem atingir preços atraentes quando adquiridas em gran- des quantidades, uma previsão de escassez de um material pode justificar uma antecipação de compra etc. A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 243 Em geral, as empresas costumam deixar estocado um volume maior que as suas necessidades normais, chamado de Estoque de Segurança, como forma de atender a certos impre- vistos, tais como aumentos inesperados na demanda, surgi- mento de problemas no processo produtivo etc. Assaf Neto (2010) coloca que, para cada tipo de esto- que, podem ser enumerados os seguintes fatores que influen- ciam o seu volume: Custo dos estoques As políticas de gestão de estoques devem estar foca- das na determinação do nível ideal de estoques de cada pro- duto ou grupo de produto. Segundo Lemes Jr. et al (2010), o nível ideal é “estabelecido em relação à flexibilidade operacio- nal proporcionada pela manutenção dos estoques”. Quanto maior for o volume de estoques maior será a flexibilidade da empresa e vice-versa. As vantagens dessa flexibilidade devem ser comparadas com os custos de manutenção dos estoques. Os custos vinculados aos estoques estão classificados em três diferentes categorias: custo de manter, custo de com- prar ou repor e custo de faltar estoque. Fatores que influenciam mais diretamente o investimento em estoque de: Produtos acabados Produtos em elaboração Matérias-primas e insumo Materiais de consumo Demanda Extensão do ciclo de produção Prazo de entrega Peculiaridades operacionais e administrativas Perecibilidade e obsolescência do produto Nível de desenvolvimento tecnológico da produção Intensidade de uso no processo produtivo Economia de escala Perecibilidade Custos de produção e armazenagem Problemas com importação 244 G es tã o fin an ce ir a Custo de manter O custo de manutenção dos estoques, também cha- mado de custo de carregar e “carrying costs”, engloba os custos variáveis associados às decisões de se manterem determi- nados itens estocados. São incluídos nestes custos todos os gastos incorridos pela empresa no armazenamento (manu- tenção) de seus produtos e mercadorias durante certo perí- odo de tempo. Como exemplo, podemos considerar os custos de armazenagem, despesas com seguros, custos de opor- tunidade (retorno de uma alternativa não aproveitada pela empresa para investir em estoque), eventuais perdas, deterio- ração e obsolescência, impostos e taxas etc. O custo de manutenção é calculado pelo prazo em que o item permanece estocado. Por definição, esses custos em termos unitários são fixos (constantes) em relação às unida- des estocadas. Exemplo: Considere uma empresa que utiliza 42.000 peças por ano na fabricação do seu principal produto de venda. Faz compras a cada dois meses (seis compras por ano) e cada peça custa R$ 15. Volume comprado por encomenda: Ue = 42.000/6 = 7.000 peças Estoque médio: Uem = 7.000/2 = 3.500 peças Valor do estoque médio: V = 3.500 x 15 = R$ 52.500 Se o custo financeiro de manter o estoque for de 18% ao ano, o encargo de financiamento será de: 52.500,00 x 0,18 = R$ 9.450 Se a empresa tem custos de armazenamento de R$ 1.000, custo de seguro de R$ 500 e custos com perdas por obsolescência de R$ 700, então o custo total para manter o estoque é de: A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 245 CM = custo financeiro + custo de armazenamento + custo de seguro + custo com perdas CM = 9.450,00 + 1.000 + 500 + 700 = R$ 11.650 Em termos percentuais: 11.650,00/52.500,00 = 0,221905 = 22,1905% Confirmando: CM = taxa x p x Uem = 0,221905 x 15 x 3500 = R$ 11.650 O custo de estocagem se aterá de acordo com o número de pedidos por ano, a quantidade pedida e a quantidade consumida. Custo de comprar O custo de compra representa todos os gastos resultan- tes da necessidade de adquirir materiais ou de autorizar uma ordem de produção, sendo excluído o valor de compra (ou de produção) efetivo do bem (ASSAF NETO, 2010). Esses custos são importantes, pois muitos deles ocor- rem sempre que houver nova compra ou reposição e isso deve influenciar a definição dos níveis de estoques. Segundo Lemes Jr. et al (2010), os principais custos de comprar ou repor estão relacionados com: • Pesquisa de preços. • Comunicações (correio, telefone, FAX, internet etc). • Emissão de ordens de compra. • Negociação com fornecedores de bens e serviços. • Recepção e conferência dos produtos comprados. • Devoluções ocasionais. Esse custo é, normalmente, representado por um valor fixo por pedido, não se alterando diante de variações na quan- tidade de estoques solicitada. Em consequência, em termos 246 G es tã o fin an ce ir a unitários. O custo de compra diminui conforme se eleva o volume físico de solicitação. O custo de compra é: CC = N x Cce Onde: CC = custo de comprar N = número de encomendas Cce = custo de comprar por encomenda Exemplo: Considerando o exemplo anterior, calcule o custo total do estoque sabendo que o custo fixo de comprar é de R$ 180. Temos que: N = número de encomendas = 6 por anos Cce = custo de comprar por encomenda = 180,00 Assim: CC = 6 x 180 = R$ 1.080 O custo total do estoque será a soma do custo de man- ter e do custo de comprar. Assim: Custo total = 11.650 + 1.080 Custo total = R$ 12.730 Custo de faltar A falta de estoques pode trazer consequências negati- vas sérias para empresa como: • Atraso na produção e entrega do produto ao cliente, quando todo o pedido do cliente não pode ser atendido. • Custo da compra eventual, fora da programação e com reduzido poder de negociação. • Custos de reemissão de faturamento, embalagem e despacho da mercadoria, quando parte do pedido é atendido e os produtos em falta seguem posteriormente. • Custo da venda perdida, quando o cliente vai com- prar com o concorrente. A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 247 • Custo do cliente perdido, quando o cliente vai com- prar com o concorrente e troca defornecedor. É HORA DE FIXAR: Considere uma empresa que vende um produto por R$ 10 a unidade. As vendas totais a prazo no último ano foram de 60 mil unidades. O custo variável por unidade é de R$ 6 e os custos fixos totalizam R$ 120.000. A empresa está conside-rando a possibilidade de flexibilizar seus padrões de crédito, esperando com isso, os seguintes resultados: o aumento de 5% nas unidades vendidas, o aumento de perdas com clien- tes de 1% das vendas (nível atual) para 2%, aumento no prazo médio de recebimento de 30 dias (seu nível atual) para 45 dias. O retorno exigido pela empresa em investimentos com o mesmo risco é de 15%. Calcule o efeito desta política para: • O lucro da empresa. • O investimento em contas a receber. • As perdas com clientes. RESOLUÇÃO: Efeito sobre o lucro: A contribuição total das vendas adicionais (3.000 uni- dades) ao lucro será de R$ 12.000, um incremento de 10%. Atual Nova política Vendas (Q x 10) 600.000 630.000 (-) CV (Q x 6) (360.000) (378.000) (=) Margem de contribuição 240.000 252.000 (-) Custo fixo (120.000) (120.000) (=) Lucro 120.000 132.000 248 G es tã o fin an ce ir a O investimento em contas a receber A nova proposta gera um aumento nos investimentos em contas a receber em 57,50%, passando de R$ 50.000 para R$ 78.750. Com isso, o custo total aumenta na mesma propor- ção, passando de R$ 7.500 para R$ 11.812,50. As perdas dos clientes O custo das perdas com clientes é obtido calculando a diferença entre os níveis de perdas antes e depois do relaxa- mento proposto nos padrões de crédito. Assim: Plano proposto (2% das vendas) = 630.000 x 0,02 = R$ 12.600,00 Plano atual (1% das vendas) = 600.000 x 0,01 = R$ 6.000,00 Custo das perdas marginais = R$ 6.600,00 O acréscimo líquido ao lucro total da empresa será de R$ 1.087,50 por ano. Como o resultado é positivo, a empresa pode adotar esta nova política de crédito. Atual Nova política A. Vendas a prazo 600.000 630.000 B. Vendas a prazo médias por dia (B = A/360) 1.666,67 1.750,00 C. DVR ou prazo médio de cobrança 30 dias 45 dias D. Investimento médio em valores a receber (D = BxC) 50.000,00 78.750,00 E. Custo do investimento em contas a receber (15%) 7.500,00 11.812,50 Ganho no lucro da empresa (132.000 - 120.000) 12.000,00 Custo das contas a receber (11.812,50 - 7.500) (4.312,50) Custo das perdas (6.600,00) Ganho líquido R$ 1.087,50 A dm in ist ra çã o da s C on ta s a Re ce be r e d os E st oq ue s 249 R ef eR ênci as ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BRAGA, R. Fundamentos e Técnicas de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 1995. GITMAN, L. Princípios de Administração Financeira. 12. ed. São Paulo: Addison Wesley Brasil, 2010. LEMES JR., A. B. et al. Administração Financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. 3. ed. Rio de Janeiro: Cam- pus, 2010. RENDE, R. et al. Como elaborar um plano de cadastro, crédi- to e cobrança. Belo Horizonte: SEBRAE/MG, 2007. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J., F. Administra- ção Financeira – corporate finance. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. ( 1 ) Introdução à Gestão Financeira e Fundamentos do Cálculo Financeiro ( 2 ) Cálculo Financeiro em Contexto Inflacionário ( 3 ) Análise das Demonstrações Financeiras ( 4 ) Ponto de Equilíbrio e Alavancagem ( 5 ) Planejamento Financeiro e Orçamento de Caixa ( 6 ) Administração do Capital de Giro e a Gestão das Disponibilidades ( 7 ) Administração das Contas a Receber e dos Estoques ( 8 ) Administração do Passivo Circulante
Compartilhar