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UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE – UNIVILLE DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA - COMPLEXO CULTURAL ANTÁRCTICA YASMIN NASCIMENTO GIESE PROFESSORA VANESSA NAOMI YUASSA COLELLA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Joinville – SC 2016 YASMIN NASCIMENTO GIESE PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA - COMPLEXO CULTURAL ANTÁRCTICA. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Região de Joinville – Univille – como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob orientação da professora Vanessa Naomi Yuassa Colella. Joinville – SC 2016 FOLHA DE APROVAÇÃO A aluna Yasmin Nascimento Giese, regularmente matriculada na 5º série do curso de Arquitetura e Urbanismo, apresentou e defendeu o Trabalho de Conclusão de Curso PROPOSTA DE REQUALIFICAÇÃO URBANA - COMPLEXO ANTÁRCTICA e obteve da Banca Examinadora a média final ___________________________(nota por extenso), tendo sido considerada aprovada. Joinville, 05 de DEZEMBRO de 2016 Banca Examinadora: Professora Vanessa Naomi Yuassa Colella Orientadora (UNIVILLE) Professora Paula Regina Grunberg UNIVILLE Professora Márcia de Oliveira Melo UNIVILLE Professora Jane Mery Richter Voigt Orientadora de Classe (UNIVILLE) RESUMO A antiga Cia Sulina de Bebidas Antárctica, situada na cidade de Joinville, obteve destaque em toda região pela qualidade do seu produto. Reapareceu com a proposta de espaço cultural, obtendo destaque durante algum tempo, porém, hoje, o espaço perdeu qualidade por conta do seu processo de degradação. Visto que foi reconhecido como bem cultural para cidade é importante retomar a identidade cultural que esse espaço possui, com seu entorno. O presente trabalho tem como objetivo requalificar o espaço industrial cervejeiro elaborando um estudo preliminar de um complexo cultural, integrando o Parque das Águas e a área verde localizada no fundo do lote, possibilitando uma área de lazer para a população. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Sobreposição do traçado atual do centro da cidade sobre o mapa da Colônia Dona Francisca em 1860................................................................................p.10 FIGURA 2 – Companhia Sulina de Bebidas Antárctica em meados da década 1920 .....................................................................................p. 13 FIGURA 3 – Companhia Sulina de Bebidas Antárctica em meados da década de 1940 ........................................................................................................p. 13 FIGURA 4 – Companhia Sulina de Bebidas Antárctica em meados da década de 1960 ......................................................................................p. 15 FIGURA 5 – Companhia Sulina de Bebidas Antárctica em 2015. ....................................................................................................................p. 15 FIGURA 6 – Fábrica de armas brancas, detalhe externo (restaurado três anos após o tombamento, porém o restauro foi apenas pontual. Em 2005, foram obtidas maiores amplitudes. Hoje, o complexo faz parte da Floresta Nacional de Ipanema ....................................................................................................................p. 17 FIGURA 7 – Localização de Joinville .........................................................................p. 19 FIGURA 8 – Principais acessos de Joinville. ..............................................................p. 19 FIGURA 9 – Índice de Infraestrutura Urbana Instalada. .............................................p. 20 FIGURA 10 – Espaços culturais em Joinville. ............................................................p. 20 FIGURA 11 – Zoneamento segundo a lei vigente. ....................................................p. 21 FIGURA 12 – Mapa de uso e ocupação do solo.........................................................p. 21 FIGURA 13 – Mapa da hierarquia viária .....................................................................p. 22 FIGURA 14 – Mapa de cheio e vazio. ........................................................................p. 22 FIGURA 15 – Áreas verdes. .......................................................................................p. 23 FIGURA 16 – Mapa de gabarito (segundo a lei vigente) ............................................p. 23 FIGURA 17– Mapa de gabarito (segundo a LOT). .......................................................p. 24 FIGURA 18 – Mapa de condicionantes físico-ambientais. .........................................p. 24 FIGURA 19 – Mapa de Bens Tombados. ...................................................................p. 25 FIGURA 20 – Mapa de análise das visuais. ...............................................................p. 25 FIGURA 21 – Circulação interna do Complexo Antárctica, eixo principal...................p. 26 FIGURA 22 – Visual do eixo ligando até a rua XV de Novembro...............................p. 26 FIGURA 23 – Visual do importante elemento do espaço – chaminé …....................p. 26 FIGURA 24 – Visual dos galpões utilizados pela AJOTE e anexos do MAJ. Percebe-se a modificação na estrutura do telhado, que era com lanternim em meados dos anos.60......................................................................................................................p. 26 FIGURA 25 – Visual de outro elemento importante. Em primeiro plano, a edificação com característica moderna e também da chaminé aos fundos...........................................p.26 FIGURA 26 – Visual do segundo eixo ligando até a rua XV de Novembro......................................................................................................................p. 26 FIGURA 27 – Visual feito a partir do Complexo Antárctica para o Parque das Águas...................................................................................................p. 27 FIGURA 28– Visual da fachada dos setores utilizados pela AJOTE e anexos 1 e 2..................................................................................................................................p. 27 FIGURA 29 - Visual do complexo obstruído pela casa de bombas...........................p. 27 FIGURA 30 - Visual da fachada. Complexo não apresenta comunicação direta com a rua...............................................................................................................................p. 27 FIGURA 31 - Complexo não possui comunicação direta com o pedestre e nem com a rua .............................................................................................................................p. 27 FIGURA 32 – Vista da Praça dos Suíços...................................................................p. 27 FIGURA 33 - Visual do Parque das Águas. ................................................................p.28 FIGURA 34 - Visual do equipamento urbano existente. .......................................................p.28 FIGURA 35- Visual do complexo, não contendo comunicação com o Parque das Águas e viceeversa ….......................................................................................................................p.28 FIGURA 36 - Visual do local que servia de espelho d'água. ................................................p.28 FIGURA 37 - Visual local onde a água passava, formando um caminho com o espelho d'água....................................................................................................................................p.28 FIGURA 38 – Visual do playground e da extensão do caminho da água..............................p.28FIGURA 39 - Visual do equipamento urbano existente.........................................................p.28 FIGURA 40 - Imagem da área de intervenção......................................................................p.30 FIGURA 41 - Fábrica, onde hoje funciona o Sesc Pompéia,abandonada em 1972......................................................................................................................................p.32 FIGURA 42- Implantação Sesc Pompeia ….........................................................................p.33 FIGURA 43– Bloco principal, nº 13,14,15 na Implantação …...............................................p.34 FIGURA 44- Deck solário.....................................................................................................p.34 FIGURA 45 - Maquete Sesc Pompeia...................................................................................p.35 FIGURA 46- Elementos verticais, Sesc Pompeia..................................................................p.35 FIGURA 47- Proposta de revitalização na antiga Cervejaria antárctica................................p.36 FIGURA 48 – Implantação Instituro Schwanke ….................................................................p.36 FIGURA 49 – Planta baixa, primeiro pavimento....................................................................p.37 FIGURA 50 – Planta baixa, quarto pavimento.......................................................................p.38 FIGURA 51: Luiz Henrique Schwanke...................................................................................p.38 FIGURA 52 – Obra exposta na Bienal de São Paulo.............................................................p.38 FIGURA 53- Zoneamento.......................................................................................................p.39 FIGURA 54 – Classificação a ser utilizada …........................................................................p.40 FIGURA 55: Esquema de planta com dimensionamento mínimo entre encostos. Item A …............................................................................................................................................p.40 FIGURA 56: Esquema de planta com dimensionamento mínimo entre séries de cadeira. Item A …............................................................................................................................................p.40 FIGURA 57: Tipos e números de escada ….........................................................................p. 41 FIGURA 58:Ângulo visual dos espaços para P.C.R. Vista Lateral …....................................p.42 FIGURA 59:Ângulo visual dos espaços para P.C.R. Planta Baixa …....................................p.43 FIGURA 60: Vista Lateral exemplo terminal de consulta acessível.......................................p.43 FIGURA 61: Vista Lateral da largura entre estantes ….........................................................p.43 FIGURA 63 – Níveis de tombamento das edificações …......................................................p.45 FIGURA 64- Definição de áreas absorvidas no Projeto........................................................p.47 FIGURA 65: Distribuição de usos …....................................................................................p.47 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 – Histórico das empresas fundadas em Joinville (1856-1945). QUADRO 2 – Lista das cervejarias de Santa Catarina QUADRO 3 – Diagnóstico QUADRO 4 – Programa de Necessidades SESC QUADRO 5 – Programa de necessidades MAC QUADRO 6 – Programa de Necessidades LISTA DE SIGLAS AAPLAJ - Associação de Artistas Plásticos de Joinville. AJOTE - Associação Joinvilense de Teatro. AMBEV - Companhia de Bebidas das Américas. CONURB - Companhia de Desenvolvimento e Urbanização de Joinville. DEFENDER - Defesa Civil do Patrimônio Histórico. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. IPPUJ – Instituto de Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de Joinville. LOT - Lei de Ordenamento Territorial OGU – Orçamento Geral da União PBU - Plano Básico Urbanístico. PDDI – Plano Diretor do Distrito Industrial. RCU – Reabilitação de Centros Urbanos SANTUR - Secretaria de Turismo do Estado de Santa Catarina. SIMGEO - Sistema de Informações Municipais Georreferenciadas. SEPROT - Secretaria de Proteção Civil de Joinville TICCIH - The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................................7 1. PROBLEMÁTICA..................................................................................................................7 2. JUSTIFICATIVA.....................................................................................................................7 3. OBJETIVOS...........................................................................................................................8 3.1 Geral ........................................................................................................................8 3.2 Objetivos específicos.............................................................................................8 4. ASPECTOS HISTÓRICOS...............................................................................................8 4.1 Área central e seu processo de degradação........................................................8 4.2 Histórico do crescimento urbano da cidade de Joinville e os ciclos econômicos ...............................................................................9 4.3 Histórico das indústrias cervejeiras de Joinville e do estado de Santa Catarina....................................................................11 4.4 Cervejarias catarinenses atuais......................................................................... 11 4.5 A Companhia Sulina de Bebidas Antárctica.......................................................11 4.5.1 O uso atual da Companhia Sulina de Bebidas Antárctica..................14 4.5.2 Tombamento da Companhia Sulina de Bebidas Antárctica................14 5. METODOLOGIA.................................................................................................................15 5.1 Conceituação teórica............................................................................................15 5.2 Análises..................................................................................................................15 5.1.1 Requalificação urbana............................................................................16 5.1.2 Memória....................................................................................................16 5.1.3 Patrimônio cultural..................................................................................17 5.1.4 Sustentabilidade......................................................................................18 5.2.1 Análise macro..........................................................................................19 5.2.2 Análise micro...........................................................................................21 6. DIRETRIZES..............................................................................................................29 7.Análises de Correlatos..............................................................................................28 7.1 SESC POMPEIA.......................................................................................................28 7.1.1 Relação antigo e novo................................................................................30 7.1.2 Análise dos Correlatos..............................................................................317.2 Proposta do Museu de Arte Contemporânea.......................................................32 7.2.1 Sobre o artista Schwanke..........................................................................34 7.2.2 Análise dos Correlatos..............................................................................35 8. Legislação..................................................................................................................35 8.1 Legislação Municipal.................................................................................35 8.2 Legislação Bombeiro Militar de Santa Catarina........................................36 8.3 NBR9050........................................................................................................38 9. Aspectos relativos ao desenvolvimento do projeto.............................................40 9.1 Usos atuais..................................................................................................41 9.2 Aspectos Patrimônio Histórico..................................................................41 9.3 Sustentabilidade – aspectos Socioeconômicos e Ambientais................41 10. Proposta De intervenção – Memorial Descritivo.................................................42 10.1 Público alvo................................................................................................43 10.2 Partido arquitetônico.................................................................................43 10.3 Disposição Espacial …..............................................................................43 10.4 Programa de necessidades.......................................................................44 10.5 Sistema estrutural e materiais empregados............................................45 11.CONCLUSÃO.............................................................................................................45 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...................................................................................46 APENDICES..................................................................................................................49 APÊNDICE A – Mapa De Levantamento Histórico E Conservação Dos Edificios..49 APÊNDICE B - uadro De Levantamento Histórico E Conservação Dos Edificios..49 INTRODUÇÃO Diante de um contexto de reabilitação urbana, através da requalificação de um espaço industrial e do resgate de sua história e identidade cultural, com base nos preceitos de sustentabilidade - social, econômico e ambiental - este trabalho tem como objetivo elaborar um estudo preliminar de um complexo cultural. O objetivo é retomar a identidade cultural da população de Joinville e região relacionada à cerveja, compondo assim a função inicial do local de intervenção - a cultura da cerveja - e a atual - a arte, associando ao aspecto econômico, que levará o espaço tanto a ter comercialização de obras de arte, quanto à degustação e venda de cervejas produzidas pela cidade de Joinville e região. 1. PROBLEMÁTICA A cidade de Joinville tem população estimada em 562.151 habitantes, segundo dados do IBGE (2015). O desenvolvimento do núcleo inicial da cidade ocorreu devido a estratégias do governo imperial em introduzir a chamada imigração espontânea, e com o comércio da erva-mate, por meio de comerciantes oriundos da cidade de Morretes (PR). Em 1873, a conclusão da estrada Dona Francisca propiciou a instalação de engenhos, bem como novos núcleos e novos mercados, facilitando assim a comunicação com o estado do Paraná. Outra questão importante é a sua proximidade com São Francisco do Sul. Segundo FICKER (2008), a madeira cortada era levada, por meio de barcos, para São Francisco do Sul e, então, exportada para o estado do Rio de Janeiro. As primeiras indústrias de Joinville foram fundadas no início do século XX, às margens do Rio Cachoeira , área central do município, devido à facilidade de escoação de sua produção para São Francisco do Sul. Conforme o Plano Básico Urbanístico – PBU/1965, já havia o diagnóstico da necessidade do remanejamento das indústrias para fora da área central. O processo de crescimento da cidade de Joinville ocorreu devido à industrialização, acarretando na realocação dessas áreas industriais para as áreas periféricas, devido aos problemas urbanos de incompatibilidade de uso do solo. (ruído, trânsito, poluição e outros). A conclusão da construção da BR-101 (1973), considerado um eixo importante de interligação entre o Sul e Norte do Brasil, fez com que a ideia de realocação das indústrias aparecesse novamente, acarretando na criação de uma zona industrial ao longo da BR-101, com a Lei 675/75. O alerta dos planejadores urbanísticos para ocupar os terrenos localizados ao longo da BR-101 fez com que houvesse alta valorização dos terrenos, dificultando a ocupação industrial nessa região inicialmente. Baseado nessas questões, o Plano Diretor do Sistema de Transportes Urbano (PLADSTU/72) recomendou a instalação da zona industrial na região Norte da cidade, que obtinha condicionantes físicos melhores e havia uma tendência de novos loteamentos nessa direção, além da ocupação espontânea de uso industrial para a região. Esse deslocamento aconteceu também pela busca de locais mais adequados e mais baratos, sendo necessária a realização de legislações municipais que contemplassem essa nova demanda, como o PDDI – Plano Diretor do Distrito Industrial (1975) e a lei 1410/75, regulamentando a implantação da Zona Industrial Norte. (HOENICKE 2007) O desenvolvimento industrial atraiu a população rural para a cidade, acarretando em um notório déficit de infraestrutura e serviços públicos, como escassa pavimentação, falta de rede de esgoto, além da quantidade insuficiente de equipamentos de recreação decorrente do crescimento desordenado. Ao longo do tempo, esse núcleo inicial, símbolo de pujança econômica, iniciou um processo de decadência devido à realocação das indústrias para a zona Norte ou para outras cidades, transformando-se em áreas hoje abandonadas ou subutilizadas, causando degradação do tecido urbano e servindo de refúgio para mendigos à marginalidade dos tempos atuais. São apenas relembradas por sentimento de perda diante da demolição ou do estado de abandono desses antigos prédios. 2 JUSTIFICATIVA As áreas degradadas dos antigos espaços industriais, geralmente, apresentam generosas construções que podem ser reabilitadas para o uso de novas atividades econômicas, já que muitos desses espaços industriais remetem a importantes laços de identidade cultural local, seja pela classe trabalhadora ou pela população. Berger (2006, apud JARDIM, 2012 p. 72), ao discorrer sobre o processo de industrialização, constata que o processo de deslocamento das indústrias para o subúrbio representa um ganho para a cidade. Esse benefício está atrelado à utilização desses espaços para outros usos devido à presença da infraestrutura urbana nas áreas centrais. O objeto de pesquisa é a antiga Cia Sulina de Bebidas Antárctica, localizada em área estratégica de Joinville, na rua XV de Novembro, uma das principais vias de acesso da cidade e próxima à área central. A área é dotada de infraestrutura urbana, como pavimentação, água, luz, transporte público e esgoto. Devido a sua posição estratégica urbana é alvo de especulação imobiliária e apresenta alto valor agregado no uso do solo. Além disso, estão presentes nessas áreas edificações de interesse patrimonial. A cultura da produção da cerveja artesanal é cultivada até os dias atuais, sendo que a produção artesanal vai de encontro ao processo de industrialização instalado na cidadede Joinville. Berens (2011, apud JARDIM, 2012 p. 70) coloca que, apesar desses espaços industriais terem se tornado obsoletos, no aspecto de sua função original, estes ambientes são, de fato, possuidores de elementos impregnados de significado e não se pode ignorar o papel de testemunhas de outras épocas que eles exercem. Foi em Joinville onde nasceu a primeira cervejaria do estado, em 1852, e até os dias atuais essa cultura é perpetuada através da produção de cerveja artesanal e da realização da Festa da Cerveja de Joinville (BIERVILLE), que foi realizada em 2015 no Complexo Expoville. 3. OBJETIVOS O presente trabalho trata da proposta de requalificação de um espaço industrial que tem como objetivo geral, transformar o espaço da Companhia Sulina de Bebidas Antártica em um Complexo cultural atrelando seus usos atuais a novos. Associando o estudo ao contexto exposto, seus objetivos específicos são: a) Coletar os dados históricos da Antiga Companhia Sulina de Bebidas Antárctica e a influência da Cervejaria Artesanal em Joinville e região. b) Levantar dados referentes ao: 1) contexto econômico e histórico do crescimento industrial em Joinville. 2) O processo de desindustrialização e degradação de áreas centrais no Brasil e no municipio. c) Compreender o conceito do processo de requalificação urbana no Brasil, e questões relativas ao patrimônio cultural e industrial relacionando-os ao conceito de memória. d) Estudar o conceito de sustentabilidade no planejamento urbano, tornando-o a matriz dos conceitos utilizados e apresentados acima, tal conceito traz o caráter : ambiental, social e econômico e cultural. e) Realizar estudo macro, micro e local através da elaboração de mapas, buscando analisar o local de forma ampla, obtendo informações para realização do quadro das diretrizes urbanísticas. f) Estudar a legislação vigentes. g) Realizar análise dos correlatos, para então fazer o quadro comparativo dando suporte para o programa de necessidades. h) Realizar a proposta do Complexo Antárctica, integrando espaços e usos. 4. Aspectos Históricos 4.1 Área central e seu processo de degradação A cidade se inicia com uma concentração urbana, a partir do qual se formam novos espaços. De acordo com Villaça (2001), todas as aglomerações socioespaciais humanas desenvolvem um centro principal. “Não existe realidade urbana sem um centro; comercial, simbólico, de informações, de decisão, etc” (LEFEBVRE, 1972, apud VILLAÇA, 2001, p. 237). No entanto, para Castells; O centro é o espaço que permite, além das características de sua ocupação, uma coordenação das atividades urbanas, uma identificação simbólica e ordenada destas atividades e, daí a criação das condições necessárias à comunicação. (CASTELLS 2000, p. 311) Apesar de conter grande simbolismo, o centro passa por esse processo de degradação. Del Rio (1990) comenta sobre o esvaziamento dos centros urbanos, afirmando que: […] não era causado pelas características físico-ambientais das áreas, mas, de um lado, pelas próprias políticas regionais vigentes e de outro, pelos novos modos de vida e paradigmas buscados pela classe média, insuflados pela sociedade de consumo. […] como consequência, as áreas centrais se deterioraram física, econômica e socialmente; os grupos mais abastados se instalariam em suas novas casas de subúrbio, o comércio e as atividades culturais perseguiriam seu mercado, mudando para os subúrbios, os imóveis das áreas centrais passariam a apresentar alto índice de deterioro e abandono, os grupos menos favorecidos herdariam estas condições e os cortiços e guetos se formariam (DEL RIO 1990, p. 20). De acordo com Vargas e Castilho (2006, p.3), os conceitos de deterioração e degradação estão, geralmente, associados à perda de função, comprometimento da estrutura física ou decréscimo no valor de comercialização do mercado. O capital imobiliário corresponde à parcela de interesses em busca de novos produtos, áreas de melhores acessos, além da imagem indicando atualidade, fazendo com que o centro tradicional perca importância (GADENS, 2010). Segundo Campos e Pereira (2007, p.3 apud GADENS, 2010); A aparente incongruência de uma cidade que abdica de seu centro, desperdiçando o investimento historicamente concentrado na região, só pode ser explicada pela presença de um modelo de crescimento ao mesmo tempo intensivo e autofágico, motivado pelo processo imobiliário e alimentado sistematicamente por políticas públicas. Portanto, a partir do momento em que a configuração urbana do centro não se encontra adequada às necessidades da expansão capitalista, ocorre o processo de descentralização em busca de áreas que atendam essa necessidade, criando-se os subcentros (GOMES, 2006, p. 4 apud GADENS, 2010). Outro fator foi a dinamização dos meios de locomoção, tendo uma maior dispersão da população. Em Joinville, isto ocorreu segundo Santana (1998, p. 66); […] em meados da década de 80, tendo também o aparecimento da formação de pequenos centros comerciais nos bairros concentrando algumas filiais de lojas de departamento que, anteriormente, só existiam no centro da cidade. Isso revela uma modificação nos padrões de deslocamento e consumo da cidade. Santana (1998) afirma que “o crescimento da cidade de Joinville, em termos espaciais, está diretamente vinculado à expansão da base econômica – industrial”. Com o aumento populacional, a cidade se expandiu rapidamente e desordenadamente, acarretando no esvaziamento das áreas centrais, principalmente pela perda de números de habitantes, pois a população de maior renda migrou para outras regiões, preferindo moradia em condomínios fechados. Por outro lado, a quantidade de mão de obra crescente e o alto custo das moradias nas regiões centrais – onde havia infraestrutura adequada – é que fez crescer as regiões periféricas. Reforçando este resultado, Villaça (1998, p. 277) descreve que “o processo popularmente chamado de decadência ou deterioração do centro consiste no seu abandono por parte das camadas de alta renda e sua tomada pelas camadas populares” . Esse processo de degradação pode ser visto em várias cidades, de diferentes formas. Um exemplo disto é São Luís. O Bairro do Desterro localiza-se numa circunscrição geográfica bem acima do nível do mar que foi desenhada acompanhando o desenvolvimento urbano de São Luís. O bairro é composto de ruas estreitas e, por vários séculos, abrigou um porto com funções comerciais. A partir de meados do século 20, com a expansão da cidade para a periferia, paralelo ao fim do porto, o bairro passou a vivenciar um processo de isolamento, sendo estigmatizado como reduto da marginalidade. (RCU, 2006, p. 59) 4.2 Histórico do crescimento urbano da cidade de Joinville e os ciclos econômicos A cidade de Joinville teve como gênese o dote de casamento do Príncipe de Joinville com a filha de Dom Pedro, Francisca Carolina, iniciando a colonização no ano de 1851, com a chegada dos imigrantes europeus até a denominada Colônia Dona Francisca. As embarcações atracavam às margens do Ribeirão Matias, iniciando a abertura das primeiras vias: rua do Porto (atual Nove de Março) e Caminho do Meio (atual XV de Novembro). Segundo Ficker (2008, p. 82), além das dificuldades financeiras, a maior de todas seria desbravar as terras lodosas da pequena colônia e também a diferença de nacionalidade e a dificuldade linguística. Os colonos foram separados em três grupos (ver figura 1): Os suíços na direção Oeste, seguindo o traço da Picada Jurapé (Schweizer- Pikade ou rua do Meio– hoje, rua XV de Novembro) a partir da rua Dr. João Colin. Os noruegueses na direção Norte (Nordtrasse – hoje, rua Dr. João Colin). Os alemães na direção Sul-Oeste, acompanhando no início do Ribeirão Matias (Deutsche pikade ou Matthias-strasse – hoje, Visconde de Taunay). Figura. 1 – Sobreposição do traçado atual do centro da cidade sobre o mapa da Colônia Dona Francisca em 1860. Fonte: base do Arquivo Histórico de Joinville, apud LOPES, 2011, p. 85 Através do traçado das vias é possível verificar as diferentes proporções dos loteamentos e, consequentemente, a dimensão das quadras. A área do centro apresenta lotes e quadras menores, sendo utilizadas para o uso comercial, de serviços e pequenas manufaturas. Já nas áreas mais distantes do centro, a característica predominante era de lotes rurais para a agricultura e para a criação de animais. Podemos observar na Figura 1 o início da construção da Estrada Dona Francisca e o desenvolvimento do núcleo inicial através da abertura das vias, como a rua da Olaria (atual rua do Príncipe), onde surgiu o primeiro empreendimento da Colônia, uma pequena olaria – motivo pelo qual a rua ganhou este nome. Também podem ser vistas as ruas Abdon Batista e Ministro Calógeras, a Av. Cel. Procópio Gomes e o início da estrada Santa Catarina (atual Av. Getúlio Vargas e rua Santa Catarina). A localização do núcleo inicial se deu pelo fácil acesso ao rio Cachoeira, que ligava a cidade ao Porto de São Francisco e, em um primeiro momento, foi o único meio utilizado para exportar materiais, principalmente a madeira. Com acesso carroçável pela Dona Francisca, fazia-se a ligação com o Planalto Norte, facilitando assim o comércio da erva- mate. Paralelamente, ocorreu o processo de industrialização, que pode ser resumido nas palavras de Santana (1998): O processo de industrialização de Joinville indica que ele está fortemente calcado na iniciativa dos empresários com ascendências germânicas vinculadas, direta ou indiretamente com a atividade comercial de importação e exportação ou, ainda, com a representação comercial. Já os empresários de ascendência luso-brasileira, que dominaram a atividade ervateira, dirigiram seus ganhos para a atividade imobiliária, para o aprimoramento cultural dos mesmos e dos seus familiares, transformando-os em estudos no Rio de Janeiro ou na Europa e em atividades filantrópicas, como a construção do Lar Abdon Batista (SANTANA, 1998 p. 35). S.Thiago afirma (1988, p. 30; apud LOPES, 2011, p. 88); […] o comércio joinvilense teve grande impulso, em função dos benefícios trazidos pela construção da Estrada Dona Francisca. Ligando Joinville às grandes reservas de ervais do planalto, proporcionou o desenvolvimento, nesta cidade, de uma atividade altamente rendosa: a comercialização e posteriormente a industrialização da erva-mate. Retomando o processo de urbanização, a partir de 1860, o ciclo da erva-mate, que era comercializado no mercado externo, fez com que regiões alagadiças – a região do atual Mercado Municipal – fossem ocupadas. Porém, mesmo com recursos proporcionados pela erva-mate e madeira, a ocupação era concentrada, como podemos verificar na Figura 1. O desenvolvimento do comércio e o beneficiamento da erva-mate e da madeira possibilitou a substituição da importação pela industrialização local, como tecido, cerveja, caldeiras, navios, além de outros equipamentos industriais. Em 1906, segundo Lopes, (2011, p. 88) “o ramal ferroviário, além de potencializar a produção ervateira também contribuiu no desenvolvimento da atividade madeireira. As toras eram trazidas do Planalto Norte, serradas em Joinville e exportadas”. As serrarias e os engenhos enviavam os seus produtos ao mercado brasileiro (Rio de Janeiro) e exterior (Uruguai, Argentina e Chile) até a Primeira Guerra Mundial (ROCHA, 1997). Com a Primeira Guerra Mundial, impulsionou-se a industrialização voltada para o setor têxtil e metalmecânico, que surgiram para atender as demandas internas. Desta forma, inicia- se a substituição da importação de peças e maquinários advindos da Alemanha e Suíça. Já na década de 30, no Brasil, cresceu a fundação de indústrias metalmecânicas, oriundas da crise de 1929, que fechou o mercado internacional, abrindo portas à indústria brasileira, ressaltando novamente o crescimento de pequenos empreendimentos em indústrias reconhecidas, como no caso da Metalúrgica Wetzel. O processo de industrialização de Joinville pode ser visto através do Quadro 1. Quadro 1 – Histórico das empresas fundadas em Joinville 1856-1945 1856 Companhia Wetzel Industrial (velas e sabão) 1865 Curtume de G. Richlin (artigos de couro) 1881 Dohler S.A. Indústria e Comércio de tecidos 1906 Ferraria de Frederico Birkholz (futura Tupy) 1907 Cia Fabril Lepper (tecidos de algodão) 1910 Moinho Joinville 1910 Centauro S.A. Meias e Malhas 1913 Indústria Colin S.A. 1914 Cervejaria Thiede (futura Cia Sulina de Bebidas Antártica) 1932 Metalúrgica Wetzel 1938 Indústria e Fundição Tupy 1943 White Martins 1943 Buschle & Lepper S.A. Com. E Ind. 1945 Laboratório Catarinense 1946 Carrocerias Nielson (ônibus) Fonte: Santana (1982, apud Rocha,1997). 4.3 Histórico das indústrias cervejeiras de Joinville e do estado de Santa Catarina A primeira cervejaria do estado foi joinvilense, fundada em 1852. Os imigrantes da família Schmalz, que saíram da Suíça em busca de trabalho, foram quem instalou a primeira cervejaria catarinense. A família Schmalz, ao chegar à cidade de Joinville, adquiriu um lote na Deutsche Pikade, (atual rua Visconde de Taunay). A moradia ficava ao lado do ribeirão Mathias.Foi ali que começaram a produzir as primeiras cervejas catarinenses. Porém, como não havia cevada e o clima era impróprio para o cultivo dela, as primeiras cervejas foram produzidas com milho. (BEER PLACE, web). Em um segundo momento, surgiu a Cervejaria Kuehne, em Joinville, iniciando as suas atividades em 1858. Em 1914, a Cervejaria Thiede, também começou a produzir cerveja e funcionou com esse nome até meados de 1942, quando, por motivos financeiros, transformou-se em Cervejaria Catharinense, que logo se tornou a maior do estado. Por fim, em 1948, a Antárctica adquiriu a Catharinense e dominou o mercado de cerveja nos anos 70 e 80, até encerrar as atividades cervejeiras em 2001, com a venda do imóvel para o município de Joinville. (BEER PLACE, web). 4.4 Cervejarias catarinenses atuais As cervejarias catarinenses cresceram e se expandiram para todo o estado, se aprimoraram, ganharam prêmios e se tornaram conhecidas, além de serem referência para o Brasil e o mundo. Segundo o site da Secretaria de Turismo do Estado de Santa Catarina (SANTUR), o Vale Europeu apresenta as cervejarias, conforme Quadro 2. Quadro 2 – Lista das cervejarias de Santa Catarina: FONTE: Secretaria de Turismo do Estado de Santa Catarina (SANTUR) Cidade Cervejaria Blumenau Cervejaria Bierland Cervejaria Eisenbahn Cervejaria Wunder Bier Brusque Cervejaria Zehn Bier Gaspar Cervejaria Das Bier Guabiruba Cervejaria Kiezen Ruw Indaial Indaial Forquilhinha Cervejaria Saint Bier Lauro Müller Cervejaria Lohn Bier Jaraguá do Sul Cervejaria Karsten Joinville Cervejaria Volksbier Cervejaria OPA Bier Zeit Cervejaria Caçador Cervejaria Patrona Videira Cervejaria Basement Chapecó Dalla Cervejaria Treze Tílias Cervejaria Bierbaum 4.5 A Companhia Sulina de Bebidas Antárctica A cervejaria surgiu do empreendimento desenvolvido por Alfred Thiede, nascido na Prússia. Ele se estabeleceu na colônia como cervejeiro na Mittelweg (atualmenterua XV de Novembro), local privilegiado por conta da fonte de água mineral, que foi usada por mais de 50 anos na produção de bebidas. Após a morte de Alfred, sua esposa ficou responsável pelo negócio. Por falta de descendentes, logo depois o sobrinho assumiu a cervejaria. O fato era que até 1925 a cervejaria existia sob o nome de Thiede, quando se transformou de cervejaria artesanal de alta fermentação para baixa fermentação11. Essa modificação alcançou maior produtividade, porém trouxe problemas financeiros que transformaram a “Thiede, Seyboth e Cia” em Cervejaria Catharinense. Na Figura 2, podemos observar o espaço já com nome na fachada, visto que essa modificação foi realizada com aporte de capital de nomes reconhecidos na cidade de Joinville, como Henrich Douat, Eugenio Fleishcer, entre outros, tornando-se assim a maior cervejaria do estado. Nesta época, a fábrica empregava 80 pessoas e produzia as cervejas Ouro, Pilsen, Catharinense, Sem Rival, Porter e Munchen, além da limonada, na área de refrigerantes (QUEIROZ,2008). 1Alta Fermentação: conhecidas também como Ale, as cervejas de alta fermentação são fermentadas em temperaturas mais altas, entre 15ºC e 24ºC, e sua fermentação é mais rápida, durando entre 4 e 6 dias. Processo mais antigo de produção de cerveja, elas são normalmente mais encorpadas, com sabores e aromas mais complexos e mais perceptíveis. Baixa Fermentação: chamadas de Lagers, ao contrários das Ales, a cerveja desse grupo é fermentada em baixas temperaturas, entre 6ºC e 12ºC, com tempo de fermentação maior. Processo de fermentação inventado no século 19, é um pouco mais leve com graduação alcoólica geralmente entre 4% e 5%. Figura 2 – Companhia Sulina de Bebidas Antárctica em meados década 1920 FONTE: Arquivo Histórico de Joinville. A Cervejaria é reinaugurada em 1942, conforme Figura 3 que mostra a ampliação da cervejaria. Assim, Werner Metz assume como diretor-presidente. Paralelamente, a Companhia Antárctica Paulista expande sua rede de empresas associadas até 1973, quando esta deixa de ser filial – Figura 4 mostra a marca ainda como filial - criando-se a Companhia Sulina de Bebidas Antárctica, com sede em Joinville, e incorporando as unidades de Ponta Grossa e de Curitiba. Em 1980, a companhia adquire o controle acionário da Cervejaria Serramalte, com fábricas no Rio Grande do Sul. (QUEIROZ, 2008). Figura. 3 – Companhia Sulina de Bebidas Antárctica em meados década de 1940 FONTE: Arquivo Histórico de Joinville. Em 1998, a Companhia Sulina de Bebidas Antárctica encerra suas atividades, passando seu patrimônio a Indústria de Bebidas Antárctica Polar. Em 1999, as centenárias Cervejaria Brahma e Companhia Antárctica se unem para criar a Companhia de Bebidas das Américas (AMBEV). Em março de 2001, transaciona-se a venda do imóvel para o município de Joinville, contendo construções diversas, instalações e maquinário. (QUEIROZ, 2008). Figura. 4 – Companhia Sulina de Bebidas Antárctica em meados década de 1960 FONTE: Arquivo Histórico de Joinville. 4.5.1 O uso atual da Companhia Sulina de Bebidas Antárctica: Em 2001, o local foi adquirido pelo Poder Público, através do plano de ocupação desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de Joinville (IPPUJ), em parceria com a Fundação Cultural de Joinville. Entretanto, esse plano não foi executado integralmente. Em 2002, a partir do Decreto 10.430, o imóvel, até então conhecido como Complexo Cultural Antárctica, passou a se chamar Cidadela Cultural Antárctica, tendo como administradora a Companhia de Desenvolvimento e Urbanização de Joinville (CONURB). A Cidadela Cultural Antárctica iniciou suas atividades com a instalação da Associação Artistas Plásticos de Joinville (AAPLAJ) - anexos 01 e 02 - do Museu de Arte de Joinville, da Associação Joinvilense de Teatro (AJOTE), de uma sala para exibição de filmes e documentários, do Instituto Luiz Henrique Schwanke e do Museu de Arte Contemporâneo. Além disso, contava com a Secretaria de Proteção Civil de Joinville (SEPROT), a Defesa Civil e o Departamento Antidrogas da Secretaria de Proteção Civil. Na Figura 5, vemos o estado físico atual (2016) da Cidadela Cultural Antártica. Figura. 5 – Companhia Sulina de Bebidas Antárctica em 2016. Fonte: Do autor 4.5.2 Tombamento da Companhia Sulina de Bebidas Antárctica Para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN (web), “o tombamento é o instrumento de reconhecimento e proteção do patrimônio cultural mais conhecido e pode ser feito pela administração federal, estadual e municipal”. A Companhia Sulina de Bebidas Antárctica foi tombada pela Prefeitura Municipal de Joinville, através do Decreto (17.016), publicado em 2 de setembro de 2010. Segundo esse documento são discriminados os itens tombados […] Pela importância histórica, a chaminé e a torre da antiga fábrica receberam nível de preservação integral e só podem ser restaurados, nunca alterados. Prédios e galpões ficaram com nível de preservação parcial e algumas construções estão liberadas até para demolição, se necessário. É o caso dos galpões onde funcionava a Escola de Panificação Suíça e que foram atingidos pelo deslizamento do barranco. (DEFENDER, 2010, web). 5.METODOLOGIA 5.1Conceituação teórica A metodologia inicia-se com tema proposto no trabalho de conclusão de curso que traz o conceito de requalificação urbana, que aborda o temas relativos ao patrimônio histórico e o processo de desindustrialização. Além do tema relativo ao patrimônio cultural e industrial, também conceitualizado. O conceito de memória nos explica o que torna esses espaços especiais para população. Sustentabilidade traz o fechamento dos conceitos utilizados e os pilares do trabalho, como os aspectos ambientais, sociais, econômico e cultural. 5.2 Análises Ocorrerá primeiramente com estudo, através de mapas, do município de Joinville. Este estudo trará respostas relativas a infraestrutura e espaços de cultura e a inserção do município no estado. Com isto será feito o recorte da área de Estudo que demostrará as fragilidades e potencialidades, através de mapas tendo como objetivo realizar o quadro das diretrizes urbanísticas para área de estudo. As diretrizes servirão para revitalização do contexto urbano como todo e não apenas do Local escolhido, Companhia de Bebidas Antárctica. Após será realizado o diagnóstico do local que darão subsídios para a implantação do projeto arquitetônico. 5.1.1 Requalificação urbana A Requalificação Urbana é uma área relativamente recente do Planejamento Urbano que está associada ao interesse crescente pelo patrimônio histórico e ao processo de desindustrialização das cidades. A requalificação urbana trata-se de um fenômeno presente em grande parte das metrópoles mundiais. O principal objetivo é transformar sítios históricos, frentes marítimas e fluviais, considerados degradados, em áreas de entretenimento e lazer (Peixoto, 2009). Essa intervenção tem como objetivo definir um novo uso para o patrimônio histórico edificado, propiciando a agregação do valor simbólico do local e as novas necessidades da população atual. O Ministério das Cidades, no ano de 2003, elaborou o Programa de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais, através do Manual de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais (2008 p.12). Nele, diz que o “repovoamento das áreas centrais e o aproveitamento do estoque imobiliário existente podem ser fatores importantes, tanto para reabilitar essa parte da cidade, como para controlar a expansão da mancha urbana”. Um dos principais objetivosdo programa é garantir o uso do centro, assim como a preservação do patrimônio cultural e ambiental, além de recuperar o estoque imobiliário subutilizado, principalmente ocupando-os para uso residencial e reduzindo investimentos de infraestrutura urbana, baseado no estatuto da cidade. A questão principal é a reabilitação associada ao patrimônio histórico que, em primeiro momento, se precede das cartas patrimoniais, com alcance restrito aos sítios históricos ou uma parcela deles. Com exceção das cidades históricas, no Programa Reabilitação de Centros Urbanos: […] Na maioria dos casos os sítios históricos são reduzidos a fragmentos de cidades expandidas, não conseguindo agregar atividades, políticas ou ações culturais consistentes que garantissem a sustentabilidade das ações de recuperação ao restauro eventual dos imóveis históricos. Preservar o patrimônio histórico é valorizar a memória de uma comunidade e fortalecer os laços de identidade entre as suas várias gerações. […] A manutenção da identidade dos centros históricos vem também ao encontro da necessidade de integrá-los ao desenvolvimento da economia da cidade, sobretudo através do turismo, mantendo a memória e o acervo arquitetônico e assumindo o seu compromisso social com a cidade através da reversão do processo de esvaziamento dos grandes centros. (ROLNIK & BALBIM 2005, p. 51) 5.1.2 Memória Para o historiador Pierre Nora (1993), a busca por locais que sejam representativos da história e que possam ser referências para a identidade cria o que ele chama de lugares de memória – na busca contemporânea de manter laços com a história. Os estudos de Pierre Nora e, principalmente, seus lugares de memórias são fundamentais para pensar o processo que tem expandido tal sentido de lugar especial a muitos lugares. O autor trata como lugares de memória aqueles que devem dar conta de um passado que, selecionado, remete a ritos, símbolos, fatos e que, portanto, possibilitam a construção de laços sociais e temporais. Por meio da criação destes locais de preservação são mantidos espaços de ritos que zelam pela identidade de um grupo mediante símbolos, pelos quais, os participantes podem se reconhecer e se diferenciar. Milton Santos (1994 p. 36 apud ABREU, 1998, p. 82) afirmou que o lugar é a extensão do acontecer solidário, assim o lugar é “local” do coletivo. Portanto, a memória de um lugar, de uma cidade, é uma memória coletiva. A memória coletiva transcende o indivíduo. Halbwachs (1990) enfatiza o caráter familiar, grupal e social da memória. Assim os lugares, como os edifícios fabris, tornam-se lugares de memória, a partir das relações sociais que se formaram nesse espaço, que reunia uma quantidade considerável de pessoas, que estabeleceram relações sociais, sendo elas boas ou ruins. Assim como a memória urbana tem o ponto comum que é a cidade, o ponto comum dessas inúmeras memórias coletivas é a fábrica. Segundo Abreu (1998 p.86) “o fundamental é que nos conscientizemos que o resgate da memória das cidades não pode se limitar à recuperação das formas materiais herdadas. Há de se pensar também daquilo que não deixou marcas na paisagem”. A preservação, conservação, manutenção ou revitalização devem ser feitas com intuito de resgatar os antigos valores comunitários. “Da restituição das identidades culturais a um tratamento das memórias coletivas, as razões de modernizar a própria ideia de conservação constituem a lógica dessa reabilitação do sentido” (JEUDY, 1990, p .01). A memória serve como forma de conservação e divulgação da cultura. Conservar não quer mais dizer preservar, mas restituir, reabilitar ou reapropriar. (…) A cultura não se encontra mais na cabeça das pessoas, mas diante delas, composta de um número enorme de signos a serem descobertos e interpretados, ou ainda, revividos como expressão de uma tradição incontestável. (…) Essas memórias do social, que coroam a ideia de uma “morte do social” não correm o risco de anular a forma viva das trocas? (…) a extensão da função social do patrimônio prenuncia novas relações complexas entre memória e a morte. (…) Transforma o campo da memória em teatro do conhecimento objetivo. Reapropriação das identidades culturais e a reabilitação das memórias coletivas podem ser uma das transformações sociais da relação entre memória e morte” (JEUDY, 1990, p. 02) Essa relação de memória e identidade entende-se como nós nos relacionamos com o ambiente em que vivemos, bem como nossas relações sociais. Portanto, é importante ressaltar a importância do extramuros desses espaços fabris e há de se considerar que nem toda memória consegue ser registrada. Abreu (1998 p. 86) comenta que muitas se perderam no tempo, o que faz com que os vestígios do passado sejam fragmentos da memória coletiva e alguns fragmentos especiais podem estar ligados a estruturas de poder. Os parques fabris vão além dos muros e das edificações. Sem dúvida, a parte mais complexa está na dimensão do imaterial, está correlacionada ao cotidiano, ao natural, não deixando de ressaltar a importância do espaço físico, do espaço fabril, porque ele é uma forma de registro deste cotidiano daqueles que se dedicaram ao local. Bielschowsky (2009 p. 10) cita que: Se as próprias fábricas foram responsáveis pela implantação de um estilo de vida local, quanto ao reconhecimento e incentivo dos seus operários – que se dedicavam quase integralmente à vida na fábrica e passavam seus conhecimentos de geração em geração –, como esquecer essa população que, na realidade, moldou e lapidou essa realidade e construiu esse acervo urbano? É importante que a preservação, a conservação e a reabilitação sejam utilizados com novos usos, podendo resgatar a memória coletiva abandonada, além de lembrar da identidade local e reconhecer o aspecto social, não apenas de forma capenga e não ancorada no espaço que está inserida. 5.1.3 Patrimônio cultural Chauí (2006, p.107) cita que “a cultura é uma segunda natureza, que a educação e os costumes acresceram a primeira natureza, isto é, uma natureza adquirida, que melhora, aperfeiçoa e desenvolve a natureza inata de cada um”. Segundo Funari e Pelegrini (2006.p.11), “o conceito de patrimônio, surgido no âmbito privado do direito de propriedade, estava intimamente ligado aos pontos de vista e interesses aristocráticos”. O patrimônio era definido por dois conceitos, individual e coletivo, (FUNARI e PELEGRINI, 2006) o que nos remete a ideias, primeiramente relacionadas ao indivíduo, onde o patrimônio é entendido como bens materiais que transmitimos aos nossos herdeiros, mas com um grande significado emocional. A segunda ideia está relacionada ao coletivo “que é sempre algo mais distante, pois é definido e determinado por outras pessoas, mesmo quando essa coletividade nos é próxima” (FUNARI E PELEGRINI, 2006, p. 9). Conforme a sociedade foi se transformando, o conceito de patrimônio passou a incluir diversos significados, como visto no Brasil, pelo Decreto de 1937: […] que estabelece como patrimônio o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico IPHAN (web) E depois ampliando seu conceito pelo Artigo 216 da Constituição 1988: […] conceitua patrimônio cultural como sendo os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.IPHAN (web) O patrimônio industrial entra a partir desse processo de democratização dos bens culturais. Segundo Kühl (2009), iniciou-se na Inglaterra na década de 1950, porém, foi a partir dos anos 1960 que se difundiu uma maior atenção por conta da demolição de importantes testemunhos da arquitetura industrial. Kühl (2009) ressalta que “esses edifícios, ou inteiros complexos, estavam (e estão) sob constante ameaça pela sua obsolescência funcional, pelo crescimento das cidades e pela pressão especulativa”. No Brasil, deve-se citar que a primeira fábrica a ser tombada pelo IPHAN, em 1964, foi o conjunto formado pelos remanescentes da Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, no município de Iperó (conforme Figura. 6). Figura. 6 – Fábrica de armas brancas, detalhe externo (restaurado três anos após o tombamento, porém o restauro foi apenas pontual. Em 2005 foi quando se obteve maiores amplitudes. Hoje, o complexo faz parte da Floresta Nacional de Ipanema). Fonte: Osvaldo Cristo – Acervo Floresta Nacional de Ipanema. Entretanto, as comunicações nacionais e internacionais relativas ao patrimônio industrial vêm se multiplicando através de estudos de diversos autores sobre história da ciência, da técnica e contando com organizações dedicadas a esse fim. Exemplo disto é o The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH), criado em 1978 e que vem realizando importantes conferências, tendo elaborado uma carta sobre o tema (Nizhny tagil) em 2003. Hoje, o Brasil possui um comitê da instituição. A carta traz como definição de Patrimônio Industrial: O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de processamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infraestruturas (CARTA NIZHNY TAGIL,2003 p.3). Além de falar sobre os vestígios materiais e imateriais, das implantações e as paisagens construídas pelo processo industrial, a Carta do Patrimônio Industrial menciona ainda a Carta de Burra e a Carta de Veneza, que frisam a importância dessas estarem incluídas nas suas recomendações. A Carta de Nizhny Tagil, sobre o património industrial, também trata das adaptações realizadas e a importância da preservação do bem: iv. A adaptação de um sítio industrial a uma nova utilização como forma de se assegurar a sua conservação é, em geral, aceitável, salvo no caso de sítios com uma particular importância histórica. As novas utilizações devem respeitar o material específico e os esquemas originais de circulação e de produção, sendo tanto quanto possível compatíveis com a sua anterior utilização. É recomendável uma adaptação que evoque a sua antiga atividade. v. Adaptar e continuar a utilizar edifícios industriais evita o desperdício de energia e contribui para o desenvolvimento econômico sustentado. O patrimônio industrial pode desempenhar um papel importante na regeneração econômica de regiões deprimidas ou em declínio. A continuidade que esta reutilização implica pode proporcionar um equilíbrio psicológico às comunidades confrontadas com a perda súbita de uma fonte de trabalho de muitos anos. Kühl (2009) cita que: Por vezes a restauração pode comportar transformações significativas, mas é o procedimento de análise supracitado que vai determinar os parâmetros dentro dos quais é lícito fazê-las. Ademais, a avaliação visa também fazer com que os usos propostos sejam compatíveis com as características da edificação, e não que esta seja adulterada para receber um novo uso que não respeite suas particularidades. (KÜHL, 2009, p. 56). Além da preservação e sua restauração, é importante ressaltar que não se deve corromper as particularidades da edificação, pois segundo Kühl (2009, p. 217): Os bens culturais devem ser preservados e respeitados, para que possam transmitir seus valores históricos e estéticos, memoriais e simbólicos, para o futuro, garantindo assim que possam ser continuadamente atualizados e interpretados, tornando-se fontes inesgotáveis de dados e sensações, além de ser instrumentos de reflexão e adaptação à realidade, para esta e outras gerações. 5.1.4 Sustentabilidade Del Rio (2001) discorre sobre a necessidade de requalificação urbana de áreas portuárias abandonadas ou subutilizadas através do reuso do patrimônio instalado, dizendo que a requalificação do espaço e a mistura de usos representam um novo paradigma do desenvolvimento sustentável. Del Rio (2001) descreve ainda que o modelo de revitalização é dependente de um processo contínuo de planejamento estratégico e de ações integradas. Segundo Rogers (2001), os espaços públicos são os principais elementos urbanos de leitura da cidade. Eles contribuem efetivamente para a compreensão e percepção do usuário ou transeunte com relação ao espaço urbano. Os espaços públicos com significado propiciam o exercício do entendimento com relação ao outro e, portanto, o exercício da tolerância. A liberdade do espaço público é importante, da mesma forma que a liberdade de expressão. Além disso, mostra a importância dos espaços multifuncionais nas propostas de reconstituição do tecido urbano. Jan Gehl (2013, p. 17) discorre que o planejamento físico pode influenciar o padrão de uso em regiões e áreas urbanas específicas. Atraindo para permanência no espaço, são esses espaços que reúnem a diversidade de atividades e de pessoas da cidade, além de propiciar a convivência de partes distintas. Jan Gehl (2013, p. 18) evidencia pontos importantes como: Atividades necessárias são partes integrantes, que fazem parte do dia a dia. Atividades opcionais são divertidas e de lazer. A qualidade da cidade é uma condição para esse grupo. Atividades sociais incluem todo tipo de contato entre pessoas e ocorrem em qualquer lugar onde existam pessoas nos espaços da cidade. Schussel (2004, web, SAMPAIO, 2009) relaciona a sustentabilidade urbana como uma ligação que deve haver entre o ser humano, o meio ambiente natural e a preservação do patrimônio histórico e cultural. Dentro desta ótica de sustentabilidade urbana, vazios urbanos e áreas abandonadas ou subutilizadas devem ter o seu adensamento trabalhado para conter a expansão urbana. Segundo Rogers, (2001 p. 167): O conceito de cidade sustentável reconhece que a cidade precisa atender aos nossos objetivos sociais, ambientais, políticos e culturais, bem como aos objetivos econômicos e físicos. É um organismo dinâmico tão complexo quanto à própria sociedade e suficientemente ágil para reagir rapidamente às suas mudanças. Dentro dessa premissa de sustentabilidade colocada por ROGERS, 2006, o trabalho será pautado para obter uma proposta de intervenção urbana sustentável, trazendo os aspectos sociais, ambientais, culturais e econômicos. 5.2.1 Análise macro: O município de Joinville está localizado na região Sul do país, conforme pode ser observado na Figura 7. Polo da microrregião Nordeste do estado de Santa Catarina, Joinville é a maior cidade catarinense, sendo o 3º polo industrial da região Sul e com volume de receitas gerado aos cofres públicos inferior apenas às capitais Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR). Figura 7 – Localização de Joinville Fonte: IPPUJ 2015 A escolha do local para o Complexo Antárctica se deve à proximidade com a BR – 101, importante rodovia de escoamentoque leva, ao Norte, para Curitiba e São Paulo e, ao Sul, para Florianópolis e Porto Alegre (conforme Figura 7). Na Figura 8, o ponto 4 está localizando a BR 101, fazendo o entrelaçamento com a rua XV de Novembro. Outra questão importante é a escolha do tema relacionado à cultura, que deve estar localizada em via de fácil acesso .Também é importante a presença de infraestrutura, que se pode observar na Figura 9, onde mostra o Índice de Infraestrutura Urbana Instalada - que mede o grau de oferta dos serviços de abastecimento de água, energia elétrica, drenagem pluvial, rede coletora de esgoto e coleta de lixo - em uma escala que varia entre 0 e 5. Neste local, o índice é de 5, com plena oferta de todos esses equipamentos de infraestrutura. Figura 8 – Principais acessos de Joinville Fonte: IPPUJ 2015 Figura 9 – Índice de Infraestrutura Urbana Instalada Fonte: IPPUJ 2015 A análise do mapa das áreas culturais (Figura 10) na cidade de Joinville demonstra carência de espaços relacionados à cultura, além de conter poucos espaços de ensino de arte. É nesses locais, além do museu, em que é disseminada a cultura de uma forma mais democrática, visto que não há espaços fixos para atividades culturais na cidade. Figura 10 – Espaços Culturais em Joinville Fonte: IPPUJ, 2015. A análise realizada anteriormente teve como objetivo mostrar que a região possui infraestrutura suficiente para locação de complexo, principalmente pelo seu fácil acesso, além de evidenciar que o município de Joinville é carente de espaços culturais. Assim, evidenciados os itens citados acima, a seguir será realizada análise micro, que trata do entorno urbano do Complexo Antárctica. 5.2.2. Análise micro: Através da análise da área de estudo é possível realizar a delimitação do local de intervenção e verificar as potencialidades e fragilidades do local que ajudaram para a formulação de diretrizes. Através das condicionantes legais, que oferecem suporte para as condicionantes projetuais, o zoneamento ZCD5 (Figura 20), segundo Art. 19. da Lei 312/10, encontra-se inserido na Zona Corredor Diversificado (ZCD), sendo permitido: usos residenciais, comerciais e de serviços. Permitindo usos diversificados, não havendo restrições. Figura 11 – Zoneamento segundo a lei vigente. Legenda: Área de estudo Fonte: IPPUJ, 2012 A área verde (SE5C), conforme Figura 11, destina-se ao estabelecimento de índices urbanísticos especiais de uso e ocupação do solo para as áreas situadas acima da isoípsa de 40m (quarenta metros) nas elevações não enquadradas como morros; A análise dos mapas de uso e ocupação do solo (Figura 12), hierarquia viária (Figura 13) e mapa de cheio e vazios (Figura 14) apresentam como potencialidade a presença de vias principais e secundárias ao lote, em conjunto com a presença de diversificação de serviço. Nas vias locais, o uso predominante é residencial. A delimitação do local de intervenção será a soma da A01 (MAJ), A02 (Parque das Águas), A03 (Atual Cidadela Cultural) e 04 (vazio urbano). Figura 12 – Mapa de uso e ocupação do solo Fonte: autora do trabalho. Figura 13 – Mapa Viário Fonte: Sistema Integrado de Mobilidade (SIM) Através da análise do mapa viário (Figura 13) é possível verificar a importância das ruas XV de Novembro, Max Colin e Otto Boehm fazendo a interligação Oeste-Centro ou Centro– Oeste da cidade. No mapa de cheio e vazios (Figura 14) e no mapa de área verde (Figura 15) é possível verificar que a área apresenta como fragilidade a baixa densidade urbana no miolo das quadras. Existem três áreas verdes que apresentam restrição de uso e ocupação do solo. No entanto, fora as áreas discriminadas anteriormente, é necessário repensar a densidade dessa área devido a sua proximidade ao centro da cidade e a presença de infraestrutura urbana. Figura 14 – Mapa de Cheios e Vazios Fonte: autora do trabalho. Figura 15 – Áreas verdes Fonte: SimGeo, adaptado pela autora. Por último, através da análise do gabarito (Figura 16 e 17) é possível realizar a análise da legislação vigente (Lei 312/10) e a legislação proposta (Lei de Ordenamento Territorial - LOT). No mapa de gabarito, referente à legislação vigente, observa-se modificações de gabaritos máximos entre 2 a 6 pavimentos para 9 e 30 metros, principalmente nas vias principais e secundárias. Figura 16 – Mapa de gabarito, utilizando potencial máximo, segundo lei vigente. Fonte: IPPUJ, adaptado pela autora. Figura 17 – Mapa de gabarito, utlizando potencial máximo, segundo LOT. Fonte: IPPUJ, 2015, adaptado pela autora. Ao serem realizadas as análises do entorno é possível ter uma visão mais próxima das necessidades do local. Assim, foi realizado o apontamento de seus aspectos legais, dando suporte para a proposta de intervenção. Demostra a baixa densidade da região que é dotada de itens de infraestrutura urbana, necessitando apenas de modificações relacionadas à acessibilidade, visibilidade e permeabilidade. Sua paisagem urbana não sofrerá modificações grandes caso a LOT entre em vigor. Com base nessas análises é possível verificar as diretrizes urbanísticas e a análise servirá de base para a proposta do Complexo Antárctica. 3.4. Análise local A análise local tem como objetivo realizar levantamento da área de intervenção, através da análise dos condicionantes ambientais e artificiais. Esses dados são importantes para dar subsídio para a setorização e implantação da proposta arquitetônica. Através da análise da Figura 18 (mapa de condicionantes físico-ambientais) é possível verificar que o terreno apresenta maior declividade no fundo do lote, com diferença de altura média de 40 metros. O vento predominante da cidade de Joinville é nordeste, no verão, e sudoeste, no inverno. Sendo assim, devido à topografia íngreme no fundo do lote, a ventilação será bloqueada pela presença do morro. O acesso ao fundo do lote é realizado pela rua Recreativa Antártica e a insolação da área se dá pela face Leste (rua Henrique Vogelsanger) e pela face Oeste (rua Recreativa Antártica). FIGURA 18 – Mapa de condicionantes físico-ambientais Fonte: autora do trabalho A análise da Figura 19 evidencia a grande quantidade de bens patrimoniais na região, principalmente nas vias principais. Na rua XV de Novembro, está localizado o antigo Hotel do Imigrante, o Cemitério do Imigrante, o Complexo Antártica e o Museu de Arte de Joinville. Figura 19 – Mapa de Bens Tombados Fonte: SimGeo, adaptado pela autora. Figura 20 – Mapa de análise de visuais Fonte: Google Earth, adaptado pela autora. A análise das visuais servirá para complementar o diagnóstico do local. As figuras 21, 22 e 24 mostram a comunicação externa dos edifícios. O local não possui acesso, conforme NBR9050. Na figura 23, temos a chaminé, importante elemento do espaço, hoje tombado integralmente. Bem como, na figura 25, temos a edificação com elementos da arquitetura moderna e, aos fundos, a chaminé. A proposta servirá com a premissa de valorização dos visuais do local, como forma de proporcionar um espaço de permanência e comunicação com seu entorno, através da retirada de elementos visuais e físicos, propiciando uma melhor comunicação. A figura 26 mostra o segundo acesso à fábrica pela via principal. A figura 27 mostra a não comunicação do complexo com o Parque das Águas, tornando o espaço introvertido. Já nas figuras 28 e 30 temos a falta de acessibilidade e a modificação da sua fachada inicial, conforme comparada com a figura 4. A figura 29 evidencia a importância do visual:a casa de bombas obstrui o visual da fábrica. Figura 21 – Circulação interna do Complexo Antárctica, eixo principal. Figura 22 Visual do eixo ligando até a rua XV de Novembro Fonte: a autora Fonte: a autora Figura 23 – Visual do importante elemento do espaço, a chaminé Figura 24 – Visual do galpão utilizados pela AJOTE e anexos do MAJ. Percebe-se a modificação na estrutura do telhado, que era com lanternim em meados dos anos 60. Fonte: a autora Fonte: a autora Figura 25 – Visual de outro elemento importante, em primeiro plano, a edificação com característica moderna e também a chaminé, aos fundos. Figura 26 – Visual do segundo eixo ligando até a rua XV de Novembro Fonte: a autora Fonte: a autora Figura 27 – Visual feito a partir do Complexo Antárctica para o Parque das Águas Figura 28 – Visual da fachada dos setores utilizados pela AJOTE e anexos 1 e 2 Fonte: a autora Fonte: a autora Figura 29 - Visual do complexo obstruído pela casa de bombas. Figura 30 - Visual da fachada: complexo não apresenta comunicação direta com a rua Fonte: a autora Fonte: a autora Figura 31 - Complexo não possui comunicação direta com o pedestre e nem com a rua. Figura 32 – Vista da Praça dos Suíços Fonte: a autora Fonte: a autora Figura 33 - Visual do Parque das Águas Figura 34 - Visual do equipamento urbano existente Fonte: a autora Fonte: a autora Figura 35 - Visual do complexo, não contendo comunicação com o Parque das Águas e vice e versa. Figura 36 - Visual do local que servia de espelho d'água Fonte: a autora Fonte: a autora Figura 37 - Visual do local onde passava a água, formando um caminho com o espelho d'água (observado na figura 36). Figura 38 - Visual do playground e da extensão do caminho da água. Fonte: a autora Fonte: a autora Figura 39 - Visual do equipamento urbano existente. Fonte: a autora Nas figuras 31 e 32, a comunicação do complexo com o pedestre é quase nula, pois além de conter o muro como obstáculo, o espaço interno não possui acessibilidade, conforme a NBR 9050. A região possui grande potencial, pois contempla espaços tombados, trazendo significados para o local. A comunicação com a Praça dos Suíços e o MAJ é beneficiada ape- nas pela faixa de pedestre. O parque adjunto ao Complexo Antárctica é desprovido de infra- estrutura adequada e acessibilidade, conforme mostram as figuras 33, 34 e 35. A falta de ma- nutenção acarretou no abandono do espaço, que servia como memória da água pura (figura 36 e 37) que levou o nome da Cervejaria Catarinense para Santa Catarina. As figuras 38 e 39 demostram a falta de interesse da população joinvilense em utilizar o espaço por conta da falta de manutenção e dos equipamentos públicos. Através da análise local é possível constatar a falta de manutenção do espaço, que é considerado um bem cultural, além do seu entorno, principalmente pelo Parque das Águas. É a partir da análise local que vemos as condicionantes físicas do terreno para o projeto arquitetônico, visando um melhor aproveitamento do conforto ambiental. A partir da próxima etapa é que serão utilizados esses dados da análise local, servindo de base projetual. 6. Diagnóstico Através da análise micro da área é possível realizar as diretrizes urbanísticas da área (Quadro 03) de intervenção, demostrado na figura 40. Salientando que, para a área verde, localizada no fundo do terreno, serão realizadas diretrizes urbanísticas, mesmo estando delimitada como área de intervenção. Figura 40- Imagem da área de intervenção Fonte: Google Earth, adaptado pela autora. Quadro 03- Diagnóstico Fonte: A autora Aspectos Conflitos Potencialidades Diretrizes Uso do solo Residencial Tendência de valorização do uso da terra, podendo gerar gentrificação do espaço em relação à população local Presença de vazios urbanos. Potencializar os vazios urbanos para uso residencial (habitações sociais) através de instrumentos urbanísticos: consórcio imobiliário e operações urbanas consorciadas. Comercial e serviço Baixo uso comercial Presença de serviço nas vias principais e secundárias Fortalecer o uso misto para promover atividade econômica através da diversificação dos usos, potencializado o serviço e criar incentivos para o uso comercial. Área verde (Fundos do lote) Tendencia a deslizamentos Possibilidade de continuidade do parque. Antiga área da recreativa da Antártica Revitalização da área através do parque ambiental, promovendo a população local de contemplação e lazer. Transporte Público O local apresenta linha troncal que passa na rua XV de Novembro, realizando acesso da população (sentido bairro ao centro) de forma intermediária. Presença de ciclofaixa Presença de intermodalidade entre a ciclovia e o TPU (Transporte Público Urbano), através de pontos de locação e bicicletários próximos ao terminal,além da melhora da faixa cicloviária. Privado Predominância de uso de veículos automotores particular, gerando alto fluxo e congestionamento. Melhorar a qualidade de TPU como alternativa de meio de locomoção. Mobilidade e acessibilidade urbana Macro Acessibilidade Falta de sinalização Facilidade de acesso pela BR-101 Melhorar a sinalização viária turística da cidade Micro Acessibilidade Falta de acessibilidade, tanto nas calçadas quanto no espaço interno Condições físicas para realização de infraestrutura para deslocamentos a pé ou de bicicleta Requalificar o espaço de calçada e ciclovia conforme NBR 90150/15 e Código do Contran Neste capítulo, serão apresentados as análises de correlatos, que abordam o tema de reabilitação de espaços, como o SESC Pompeia da arquiteta Lina Bo Bardi, que o espaço incorporou, principalmente a identidade do usuário, devolvendo ao lugar um espaço integrador e acolhedor. 7. Análise de Correlatos. 7.1 SESC POMPEIA FICHA TÉCNICA Local: Rua Clélia, 93 – Barra Funda, São Paulo - Área: 23.571 m2 Arquiteta: Lina Bo bardi Ano da Obra:1986 O SESC Pompéia é um centro de cultura e lazer, localizado na cidade de São Paulo. O centro reúne vários usos como teatros, quadras esportivas, piscina lanchonete, restaurantes, espaços de exposições, choperia entre vários outros espaços e serviços. Em 1930, foi construído a Fábrica de tambores de óleo por uma empresa alemã Mauser & Cia Ltda, a empresa já abrigou também, linha de montagem de geladeiras. Quando o SESC comprou o imóvel, a empresa já havia fechado, na figura 41, podemos verificar quando o espaço estava abandonado. Assim Lina Bo Bardi, ao iniciar a pesquisas para o projeto do novo espaço, Lina descobriu que a fábrica possuía estrutura moldada por François Hennebique, pioneiro do concreto armado. FIGURA 41 - Fábrica, onde hoje funciona o Sesc Pompéia,abandonada em 1972. Fonte: Estadão,2013. As intervenções realizadas no espaço existente será melhor compreendida a partir da implantação do SESC, conforme figura 42. Seu programa de necessidades é amplo, conforme quadro 04, podemos observar a diversificação de usos. FIGURA 42- Implantação Sesc Pompeia Fonte : LOEKMANWIDJAJA, ISSU Programa: 1. Conjunto esportivo com piscina, ginásio e quadras 2. Lanchonete, vestiários, sala de ginástica,
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