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0 CENTRO UNIVERSITÁRIO JORGE AMADO BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO BRUNO HIDEO ISHIKAWA CARVALHO ANTEPROJETO DO CENTRO CULTURAL MULTIUSO: VOZES DO BARRO Salvador 2021 1 BRUNO HIDEO ISHIKAWA CARVALHO ANTEPROJETO DO CENTRO CULTURAL MULTIUSO: VOZES DO BARRO Caderno Conceitual – Fase final do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Jorge Amado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Piero Carapia Lima Baptista Salvador 2021 2 RESUMO Este presente caderno conceitual propõe a elaboração de um projeto arquitetônico de um Centro Cultural Multiuso, em um terreno localizado em Maragogipinho, distrito da cidade de Aratuípe, onde existe um Centro Cerâmico que possui um caráter histórico e cultural, não havendo, no entanto, nenhuma edificação com tema completamente similar. O principal fundamento é a proposta de requalificação da área do Centro Cerâmico de Maragogipinho e a construção do Centro Cultural Multiuso. A ideia do projeto parte da harmonia do Centro Cerâmico com o novo equipamento a ser inserido no local, assim aplicando o conceito de dois momentos históricos em dois blocos conectados. Por consequência deve impactar positivamente na vila, acarretando não apenas em mais um lugar de lazer, e sim um lugar que propicie o aumento do turismo e economia da região sem perder o principal foco, o apoio ao artesão, manter a tradição do oficio de oleiro e fortalecer a identidade cultural da comunidade. Palavras-chave: Tradição. Cultura. Turismo. Centro Cultural. Identidade Cultural. 3 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Mapa de posicionamento das olarias..................................................................................................................................11 Figura 2 – Oleiro produzindo peças de barro.......................................................................................................................................12 Figura 3 – Vista para o Rio Jaguaripe..................................................................................................................................................15 Figura 4 – Implantação do Kulturhaus ................................................................................................................................................17 Figura 5 – Comparação antes e depois...............................................................................................................................................18 Figura 6 – Detalhes cromáticos e construtivos ...................................................................................................................................19 Figura 7 – Detalhe Elevador....................................................................................................................................................................20 Figura 8 – Planta baixa simplificada térreo .........................................................................................................................................22 Figura 9 – Planta baixa simplificada do primeiro pavimento ...............................................................................................................23 Figura 10 – Mapa de implantação do Centro Cultural da UFRGS ......................................................................................................25 Figura 11 – Simetria da edificação .....................................................................................................................................................26 Figura 12 – Detalhe do pórtico e das colunas......................................................................................................................................27 Figura 13 – Destaque da área de circulação perdida ................................................................................................................................... 28 Figura 14 – Mapa de implantação do Palacete das Artes .............................................................................................................................30 Figura 15 – Materiais utilizados no bloco anexo..................................................................................................................................32 Figura 16 – Incorporação dos elementos ao palacete.........................................................................................................................33 Figura 17 – Planta de setorização.......................................................................................................................................................35 4 Figura 18 – Detalhe da construção em tijolo........................................................................................................................................36 Figura 19 – Volumetria inicial do projeto..............................................................................................................................................42 Figura 20 – Volumetria primeiro bloco.................................................................................................................................................43 Figura 21 – Volumetria segundo bloco.................................................................................................................................................44 Figura 22 – Trajetória solar..................................................................................................................................................................50 Figura 23 – Perfil topografico do terreno..............................................................................................................................................51 Figura 24 – Perfil topografico do terrno ...............................................................................................................................................52 Figura 25 - Análise da hierarquia viária ...............................................................................................................................................54 Figura 26 – Gabarito vertical da região ...............................................................................................................................................55 Figura 26 – Permeabilidade do entorno ..............................................................................................................................................57 Figura 27 – Equipamentos em raio de até 1, 2 e 3km ........................................................................................................................61 5 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Programa de necessidades................................................................................................................................................41 Quadro 2 – Classificação do terreno.....................................................................................................................................................51 6 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Pirâmide etária do município de Aratuípe...........................................................................................................................10 Gráfico 2 – Temperaturas máximas, mínimas e umidade média durante o ano...................................................................................43 Gráfico 3 – Direção do vento e velocidade média dos ventos...............................................................................................................447 SUMÁRIO 1. CONCEPÇÃO PROJETUAL ............................................................................................................................................................9 1.1 MOTIVAÇÕES.................................................................................................................................................................................9 1.2 CONCEITO ARQUITETÔNICO......................................................................................................................................................13 1.3 PARTIDO ARQUITETÔNICO ........................................................................................................................................................14 1.4 ANÁLISE DE SIMILARES .............................................................................................................................................................16 1.4.1 Kulturhaus (Casa da Cultura) .................................................................................................................................................16 1.4.1.1 Implantação.............................................................................................................................................................................15 1.4.1.2 Volumetria................................................................................................................................................................................18 1.4.1.3 Setorização..............................................................................................................................................................................23 1.4.2 Centro Cultural da UFRGS .......................................................................................................................................................24 1.4.2.1 Implantação..............................................................................................................................................................................24 1.4.2.2 Volumetria................................................................................................................................................................................25 1.4.2.3 Setorização..............................................................................................................................................................................28 1.4.3 Museu Rodin Bahia ..................................................................................................................................................................29 8 1.4.3.1 Implantação.............................................................................................................................................................................29 1.4.3.2 Volumetria................................................................................................................................................................................32 1.4.3.3 Setorização..............................................................................................................................................................................34 1.5 IDEIAS GUIAS.............................................................................................................................................................................. 35 2. ESPECIFIDADES PROJETUAIS .................................................................................................................................................. 39 2.1 MEMORIAL JUSTIFICATIVO DO PROJETO............................................................................................................................... 39 2.2 ESTUDO VOLUMÉTRICO............................................................................................................................................................ 41 2.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES.............................................................................................................................................. 45 2.4 ANALISE DO TERRENO.............................................................................................................................................................. 47 2.4.1 Análise bioclimática ................................................................................................................................................................ 47 2.4.2 Análise da morfologia do terreno .......................................................................................................................................... 51 2.4.3 Análise da hierarquia viária .................................................................................................................................................... 53 2.4.4 Análise tipológica dos prédios do entorno imediato ........................................................................................................... 55 2.4.5 Análise da permeabilidade do solo no entorno imediato..................................................................................................... 56 2.4.6 Análise da legislação vigente .................................................................................................................................................58 2.4.7 Raio de influência de outros equipamentos com o mesmo tema e temas impactantes................................................... 59 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................................................61 9 1. CONCEPÇÃO PROJETUAL 1.1 MOTIVAÇÕES Perpetuar tradições familiares, culturais e artísticas de uma região nos dias atuais tem sido um grande desafio, ainda mais quando se trata de um pequeno distrito com menos de 3 mil habitantes, como é o caso de Maragogipinho. Localizado na cidade de Aratuípe, e contando com aproximadamente 150 olarias onde são produzidas mais de 5 mil peças de cerâmica mensalmente segundo dados da AAMOM (Associação de Auxílio Mútuo dos Oleiros de Maragogipinho), o distrito é constantemente notado por seu artesanato, evidenciado por participações na Feira Nacional de Artesanato e premiações importantes nesse ramo. Foi um dos 10 classificados ao Prêmio Unesco de Artesanato para a América Latina e Caribe 2004 (ALBA, 2019), onde recebeu a menção honrosa de “Maior Centro Cerâmico da América Latina” e uma das 6 unidades artesanais baianas a conquistar o prêmio TOP 100 de Artesanato (SEBRAE BA, 2016). Toda essa riqueza artística e cultural, no entanto, vem sendo ameaçada devido ao envelhecimento dos moradores, e segundo Elenildes Santos, que é presidente da AAMOM, há também o desinteresse dos jovens da cidade em dar continuidade à tradição representada pelo ofício de oleiro, como são chamados os artistas produtores de peças cerâmicas. Esta cultura vem sendo passada de geração para geração a mais de trezentos anos, porém a falta de reconhecimento vem desestimulando esses jovens que cada vez mais vão deixando a cidade em busca do que consideram uma “vida melhor”. Observando a pirâmide etária do município entre os anos de 2000 a 2010 (Gráfico 1) é possível ver o decréscimo da população entre 0 e 19 anos, além da variação inexpressiva da população entre 20 e 24 anos e o aumento a partir dessa faixa etária. 10 Gráfico 1 – Pirâmide etária do município de Aratuípe Fonte: IBGE CENSO, 2010 11 Tal falta de reconhecimento afeta ainda mais os artesãos que permanecem em ruas diversas da Rua Antônio Almeida (Figura 1) que representa o circuito principal da passagem de turistas pela cidade, onde ocorre o primeiro contato dos visitantes com as olarias e suas respectivas lojas. Por causa do seu desenvolvimentoorgânico, a área onde fica concentrada a maior parte das olarias visitáveis é constituída por becos e vielas que estão completamente fora dos padrões de acessibilidade, apresentando calçamento irregular e danificado e sem saneamento básico adequado, desestimulando o turista a circular pela área, fazendo-o se limitar à rua principal. Tal situação causa variados impactos econômicos dentro da própria microrregião, cujos oleiros que se encontram mais afastados do circuito principal acabam ficando às margens, ofuscados e obrigados a vender sua produção para outras olarias e lojas estabelecidas na Rua Antônio Almeida, visando garantir o sustento de sua família. Figura 1 – Mapa de Posicionamento das Olarias Fonte: Acervo Pessoal, 2020 12 Com base nas informações supracitadas, podemos identificar alguns possíveis problemas que afetam a população. Conseguimos ver uma provável falta de identidade da comunidade e organização, cujos jovens não se sentem representados ou ligados à cultura do artesanato da cidade, sendo assim, quando veem a possibilidade, optam por sair da cidade em busca de outras oportunidades. Deste modo existe o não reconhecimento dos próprios oleiros de que cada uma das olarias pode ser um ponto turístico, possuindo uma história e especialidades únicas, como por exemplo, a existência de olarias cuja especialidade é a produção de santos, já outras são bonecas namoradeiras, artigos de cozinha, decoração, entre outros tipos de artesanato. Figura 2 – Oleiro produzindo peças de barro Fonte: Acervo pessoal, 2021 A falta de investimento do poder público para tornar a cidade atraente e convidativa ao turista, como manutenção de estradas, calçamento adequado, saneamento básico para as olarias, equipe de marketing e propaganda efetiva para atrair mais visitantes 13 seria de grande importância para o desenvolvimento local, a partir de um planejamento organizacional para disposições das olarias permitindo caminhar livremente e trazer a sensação de segurança dentro de todo o perímetro. Uma das propostas com o objetivo de solucionar os problemas previamente aqui apresentados é a construção de um Centro Cultural no coração da cidade, onde seriam disponibilizados workshops, palestras, eventos, exposições e congressos, para atrair mais visitantes, além de estimular os jovens a participar dessas manifestações culturais através de incentivos sem ser apenas de caráter familiar. O Centro Cultural também serviria de base de apoio para os oleiros, como armazém de peças que são destinadas ao comércio interestadual, de sede da AAMOM, e além de prestar serviços para a comunidade, tal qual a implantação de uma biblioteca, trazendo assim mais visibilidade para o distrito ao tornar-se um ponto de referência para população. Os problemas estruturais do Centro Cerâmico exigem uma requalificação urbana onde seria feito o trabalho de saneamento básico, projeto de acessibilidade, mapeamento e estrutura de sinalização que interaja com o espaço para todas as olarias se tornarem acessíveis sem deixar de preservar suas individualidades. 1.2 CONCEITO ARQUITETÔNICO A implantação do Centro Cultural Multiuso em Maragogipinho segue o conceito de requalificar o Centro Cerâmico quanto à intervenção destinada a proporcionar desempenho adequado com a construção de um novo equipamento que possibilitará novas funções enquanto melhora o espaço, com o objetivo de tornar a área atrativa e dinâmica, explorando seu potencial para o uso da comunidade de forma mais efetiva, transformando-o em um elemento de ligação física e social. A ideia é qualificar a área através de um reordenamento dos espaços do Centro Cerâmico preservando as áreas de olarias, seguindo a linha contemporânea de projetos, sustentada na conscientização ecológica incluindo aplicação de princípios de sustentabilidade, valorização da identidade cultural, histórica e cultural do local, destacando suas belezas naturais através de soluções funcionais, transformando em uma área multifuncional de tal forma que seja um bem público para a comunidade local, 14 incentivando a inserção dos jovens a participar ativamente da tradição do artesanato, além de oferecer suporte aos oleiros e ser um ambiente de socialização, projetando um espaço urbano que crie oportunidades para caminhar espaço suficiente e sem obstáculos, boas superfícies, acessibilidade para todos e fachadas interessantes, que ofereçam o que ver. Como sugere Jan Gehl no seu livro “Cidades para Pessoas” (2010) ao enumerar os doze critérios para avaliar a qualidade de uma cidade quando considerada ao nível da rua. Abrangendo aspectos pós-modernos como a diversidade na construção de cidades para as pessoas e a multifuncionalidade, também são incluídos a questão da acessibilidade, e também na inserção de um projeto com sistema de estrutura de sinalização que interaja com o espaço para que haja um melhor diálogo do Centro Cerâmico com seus usuários. A concepção projetual do espaço também tem por finalidade a conexão entre o Centro Cerâmico e o Centro Cultural, através da incorporação de elementos arquitetônicos à nova construção, similares ao entorno e respeitando o padrão construtivo da cidade. Dentre as intenções projetuais está a busca pela cidade ao nível dos olhos através dos critérios de qualidade com a garantia de espaços que ofereçam conforto, atraia as pessoas paras as atividades propostas, aproveitamento os aspectos positivos do clima e terreno, e oferecendo segurança ao usuário, como também uma boa arquitetura e design trabalhados em conjunto. 1.3 PARTIDO ARQUITETÔNICO O conceito do projeto é atingido ao construir o Centro Cultural Multiuso no coração da cidade e se tornar parte da área onde se concentra o Centro Cerâmico como uma unidade só. Essa integração parte do princípio do uso de materiais e técnicas similares aos das construções já existentes, para isso utiliza-se materiais como o tijolo cerâmico, madeira, e telha colonial cerâmica, que são abundantes, eficientes e de baixo custo na região. Outros materiais a ser adotados no projeto são os industriais como aço e vidro, transmitindo transparência, leveza e integração com o meio externo. 15 Na utilização desses materiais busca-se conceber uma estética orgânica de diálogo com o meio, com o uso de cores em tons terrosos encontrados no barro in natura de forma pontual para criar contrastes de maneira harmônica e uma estética contemporânea buscando a funcionalidade, conforto térmico e design orgânico, idealizando um lugar lúdico. Utilizando o conceito de contemporaneidade como a sustentabilidade, a preservação e a valorização das belezas naturais do entorno do terreno é um dos focos do projeto, aproveitando a maior parte da vegetação existente no entorno e também a criação de um deck na cobertura de um dos blocos projetados com vista para o rio Jaguaripe é um destaque para o edificação, aproveitando o desnível natural do terreno, permitindo a criação e valorização dos espaços públicos e soluções urbanas, dando ao ambiente um atrativo para sentar e caminhar aproveitando as vantagens que o lugar oferece (GEHL, 2010) é também uma das principais propostas. Figura 3 – Vista para o Rio Jaguaripe Fonte: Acervo Pessoal (2021) 16 Ainda seguindo a mesma premissa, a tipologia arquitetônica predominante na região é a arquitetura colonial, sendo assim, o Centro Cultural Multiuso também adotará técnicas construtivas similares como colunas que possibilitam a sustentação do telhado, criando uma varanda na frente da edificação, janelas de madeira em estilo veneziano, e em grandes quantidades para melhor iluminação e ventilação dos ambientes, acrescidos do telhado que será feito em telhas de característica colonial cerâmica com diversas quedas de água, dando volume à construção. 1.4 ANÁLISE DE SIMILARES 1.4.1 Kulturhaus (Casa da Cultura), Dietfurt,Alemanha • Localização: Dietfurt, Alemanha • Área: 290m² • Ano: 2016 1.4.1.1 Implantação Dietfurt é uma pequena cidade da Alemanha situada em uma região predominantemente habitacional. O similar a ser analisado é a Kulturhaus, um centro cultural de 290m², reformado em 2016 pelo escritório de arquitetura KÜHNLEIN Architektur. Analisando o entorno correspondente é possível identificar uma grande quantidade de unidades residenciais e algumas comerciais, a exemplos de restaurantes, bares, lojas e hotéis (Figura 4). Mesmo com uma população de cerca de 6 mil pessoas a cidade tem uma variedade interessante de equipamentos como o Centro cultural, museu, igrejas, monastérios e um parque com uma extensa área verde. Por ser uma localidade pequena, ela não possui sistema de transporte público, sendo assim os meios de acesso à Casa da Cultura se resumem à veículos particulares e a pé. 17 Figura 4 – Implantação do Kulturhaus Fonte: GoogleMapStyle, modificado pelo autor (2020) 18 1.4.1.2 Volumetria A edificação é uma construção do ano de 1715 que após décadas de abandono foi completamente redesenhada para abrigar o Centro Cultural, que anteriormente funcionava como um açougue. A maior parte da construção original foi preservada e os novos elementos adicionados são facilmente distinguíveis (figura 5). Figura 5 – Comparação Antes e Depois Fotografia: Erich Spahn, modificado pelo autor (2020) 19 A edificação é composta por um volume geométrico simples e sólida com as paredes externas bastante espessas, para preservar o contexto histórico e original, sua cor predominante cinza também remete a este fato. Em relação aos materiais utilizados, é possível notar a utilização do estuque como revestimento de toda edificação, mais uma vez reforçando o aspecto original, mas com a adição de elementos decorativos na fachada (Figura 6). Figura 6 – Detalhes cromáticos e construtivos Fotografia: Erich Spahn, modificado pelo autor (2020) 20 Ainda sobre os materiais e elementos adicionados pós-reforma, foi acrescido um elevador para permitir a circulação vertical acessível e uma escada externa feita de metal (Figura 7). Figura 7 – Detalhe Elevador Fotografia: Erich Spahn, modificado pelo autor (2020) 21 1.4.1.3 Setorização A setorização da edificação é simples e com espaços abertos recebendo bastante luz natural por conta da quantidade de aberturas na edificação, as áreas também são bem amplas com poucas divisórias. Dividido em dois pavimentos onde o térreo contêm os sanitários, recepção e biblioteca e o segundo andar um grande salão multiuso, copa, cozinha e uma sala de reunião A posição onde foi instalado o elevador para o segundo andar é um pouco inacessível, pois os usuários que necessitam utilizar o mesmo têm que percorrer por vários cômodos da edificação para utiliza-lo ou acessar pela parte externa. Pessoas com deficiência provavelmente sentiriam um certo incômodo para conseguir acessar o segundo andar. Outro ponto questionável é a presença dos sanitários estar logo na entrada da edificação. (Figura 8) 22 Figura 8 – Planta baixa simplificada térreo Fonte: Escritório de arquitetura Kühnlein Architektur, modificado pelo autor (2020) 23 O programa de necessidades do Centro Cultural é simplificado sem muitos elementos e grandes proporções devido ao seu tamanho limitado de 290m² e também pela necessidade que exige uma cidade de cerca de 6 mil habitantes (Figura 9). Figura 9 – Planta baixa simplificada, primeiro pavimento Fonte: Escritório de arquitetura Kühnlein Architektur (2016) 24 1.4.2 Centro Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul • Localização: R. Eng. Luiz Englert, 333 - Farroupilha, Porto Alegre - RS • Área: 3.089m² • Ano: 2018 1.4.2.1 Implantação O Centro Cultural da UFRGS fica na cidade de Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul, mais especificamente na região conhecida como Centro Histórico. Após reformas concluídas em 2018, a edificação passou a apresentar três pavimentos que totalizam 3.089m². Analisando o entorno do local, conseguiu-se identificar uma grande variedade de construções, tais como comércios, museu, teatro, instituições de ensino, hospitais e hotéis. A edificação se encontra em um ponto bastante privilegiado com diversos equipamentos, como os já citados, que podem servir de apoio para melhor vivência do local, contando também com uma grande quantidade de pontos de ônibus, avenidas e o Parque Farroupilha, que atrai uma grande quantidade de pessoas. O acesso principal é feito pela Rua Engenheiro Luiz Englert que possui pontos de ônibus ao longo de sua extensão, próximos ao centro cultural. Por influência do Parque Farroupilha e proximidade ao rio Jacuí, a região é bastante arborizada e com clima agradável, cuja temperatura média durante o ano é de 22 ºC e com ventos predominantes vindos do Sudeste (Figura 10). 25 Figura 10 – Mapa de implantação do Centro Cultural da UFRGS Fonte: GoogleMapStyle, modificado pelo autor (2020) 1.4.2.2 Volumetria A edificação onde anteriormente funcionava o Instituto de Química da UFRGS, foi reformada para abrigar o Centro Cultural. As características originais da construção foram preservadas e houve mudanças para atender itens de segurança, conforto térmico, controle de umidade e acessibilidade. Possuindo um estilo clássico voltado à arquitetura grega, evidenciado por sua simetria e monumentalidade, a edificação contém padrões simétricos, podendo-se identificar elementos exatamente iguais no lado direito quanto no esquerdo (Figura 11). Sua 26 monumentalidade é evidenciada por esquadrias de grandes proporções, pé direito alto e a presença de um pórtico e colunas (figura 12). As janelas de grandes proporções e em grandes quantidades permitem a iluminação natural eficiente e ainda com vista privilegiada para o Parque Farroupilha. Figura 11 – Simetria da edificação Fonte: Google Imagens, modificado pelo autor (2020) 27 Figura 12 – Detalhe do pórtico e das colunas Fonte: Google Imagens, modificado pelo autor (2020) 28 1.4.2.3 Setorização Assim como sua volumetria, a setorização da edificação é bastante simétrica e segue um padrão, por conta dessa simetria notam-se ambientes retangulares que acabam gerando muitas áreas de circulação, mais exatamente 302,68m², representando cerca de 10% da área construída. (Figura 13) Figura 13 – Destaque da área de circulação perdida Fonte: SUINFRA, Setor de patrimônio histórico – RS – Modificado pelo autor (2020) 29 1.4.3 Palacete das Artes, Salvador, Bahia • Localização: R. da Graça, 284 - Graça, Salvador - BA • Área: 3.055m² • Ano: 2002 1.4.3.1 Implantação O Palacete das Artes, também conhecido como Museu Rodin Bahia, é um projeto de 2002 que foi executado pelo escritório de arquitetura Brasil Arquitetura, cuja construção dispõe de 3055m² divididos em dois edifícios, sendo um deles o palacete e outro, um anexo. A construção está localizada no bairro da Graça, uma zona predominantemente residencial. Analisando seu entorno identifica-se uma grande quantidade de condomínios de alto padrão e uma variedade extensa de comércios de pequeno e médio porte. A região também conta com alguns pontos de ônibus, sendo confortável o acesso ao museu por esse meio de transporte. Seu principal acesso é pela Rua da Graça, que é um pouco estreita quando comparada à sua importância de transição de um ponto para outro do bairro. A região ainda é bastante arborizada dada a outras regiões da cidade, com a média de temperatura anual de 26 ºC. (Figura 14)30 Figura 14 – Mapa de implantação do Palacete das Artes Fonte: GoogleMapStyle, modificado pelo autor (2020) Por ser situado em uma área predominantemente residencial o museu tem condições favoráveis para atrair moradores da região e visitantes de outros bairros e lugares. 31 1.4.3.2 Volumetria Como o projeto é composto por duas edificações, cada uma delas traz uma proposta diferente. A edificação principal é um palacete com características da arquitetura neoclássica, podendo identificar diversos adornos, falta de ordem e simetria, além de irregularidade espacial e volumétrica em toda a construção, evidenciando o estilo arquitetônico presente. Por outro lado, seu anexo tem uma forma completamente diferente, com características contemporâneas, mais simples e retangular, utilizando-se de materiais como vidro, aço, concreto e madeira em sua composição (Figura 15). São duas edificações de tempos diferentes, e, portanto, composições diferentes, dividindo espaço entre um belo jardim que os integram. Após a reforma, em sua fachada traseira do palacete foi adicionado um volume com função de circulação vertical, além de otimizar o fluxo de pessoas a torre confere unidade visual ao conjunto por apresentar as mesmas características arquitetônicas do bloco anexo (Figura 16). 32 Figura 15 – Materiais utilizados no bloco anexo Fonte: Google Imagens, modificado pelo autor (2020) 33 Figura 16 – Incorporação dos elementos ao palacete Fonte: Google Imagens, modificado pelo autor (2020) 34 1.4.3.3 Setorização O programa de necessidades do projeto é bem completo e atende para o que é proposto, possuindo o palacete, em seu primeiro pavimento, as áreas de acolhimento e de atividades educativas. A circulação entre os ambientes é otimizada e linear, com grandes salas que estão ligadas pela grande quantidade de portas que conectam um cômodo a outro. Já o anexo possui um mezanino com circulação em formato ‘U’ que também pode ser utilizado como espaço museográfico. Praticamente só tem um ambiente acessível ao público que conta com uma grande galeria de exposição com o pé direito duplo e com bastante iluminação natural graças as grandes esquadrias de vidro e domos localizados na cobertura que podem ser regulados de forma mecânica adequando-se ao tipo de acervo exposto. Existem dois acessos ao palacete, tais quais o de serviço localizado ao lado direito da fachada direto para o subsolo do bloco anexo e o de visitantes pelo lado esquerdo, e em ambos os casos o palacete é destaque no caminho projetado até o novo volume (Figura 17). 35 Figura 17 – Planta de setorização Fonte: Archydaily, modificado pelo autor (2020) 36 1.5 SIMILARES ESPECIFICOS 1.5.1 Universidade LaSalle A utilização de materiais rústicos e artesanais que podem ser produzidos na própria comunidade, como tijolos usados na construção dos prédios da Universidade LaSalle em Oaxaca. (Figura 18) Figura 18 - Detalhe da construção em tijolo Fonte: Arquitetos Artesanos (2014) A argila é um material encontrado em abundancia no local, somado ao conhecimento técnico e criatividade dos oleiros pode-se chegar a um resultado similar ao projeto executado no México. 37 1.6 IDEIAS GUIAS O objetivo do Centro Cultural Vozes do Barro terá como principais referências os projetos vistos nas análises de similares, não somente parâmetros físicos construtivos e matérias, como também conceitos utilizados para dar uma melhor harmonia projetual. Todos os similares analisados seguem em algum aspecto uma linha histórica e contemporânea, que é a principal característica a ser adotada. O intuito é criar uma edificação que consiga dialogar com o entorno, se fundindo com o que já existe para passar a sensação de que essa nova construção sempre esteve ali. 1.6.1 Kulturhaus (Casa da Cultura) em Dietfurt, Alemanha A principal característica do Kurlturhaus a tentar ser incorporada é a harmonia entre o uso dos materiais rústicos como a madeira e modernos como o concreto, vidro e aço. Onde preservou-se a estrutura de uma edificação secular e incorporaram esses elementos com naturalidade. O uso do estuque como material de revestimento externo com a textura simulando o concreto e elementos como a escada e esquadrias em aço é definitivamente algo que pretende ser aplicado a este projeto em estudo, da mesma forma eficiente que eles fizeram. A ideia é conjuntamente trazer uma volumetria mais simples somada a uma edificação mais retangular e sem muitos adornos. 38 1.6.2 Centro Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) O aspecto a ser agregado do Centro Cultural da UFRGS é a sua setorização, mesmo está devendo ser criticada em alguns pontos já previamente esmiuçados, possuindo um caráter funcional, e ao trazer esse aspecto para o projeto, objetiva-se aproveitar as críticas feitas e não cometer os mesmos erros. O uso de muitas aberturas com grandes dimensões também é um ponto a ser incorporado desse projeto para aproveitar ao máximo sua iluminação natural e clima que uma região com bastante mata nativa e um rio pode proporcionar à edificação. 1.6.3 Museu Rodin Bahia (Palacete das Artes) Por ser o único similar presencialmente visualizado na construção deste estudo até o momento, este projeto é o que carrega mais referências a serem adotadas. Começando pela sua integração com o bairro e local inserido, o Palacete consegue se misturar com as edificações ao redor. A utilização de duas edificações, uma no estilo mais histórico clássico e outra contemporâneo, conectados entre si, são conceitos retirados desse projeto, e vale ressaltar que construir essa transição de forma otimizada será um grande desafio. Por fim há a relação entre essas duas construções e o que tem dentro do terreno, interagindo conjuntamente ao entorno externo do mesmo, visto que o jardim conta com uma área de convivência bastante agradável e arborizada, sendo um elemento que se pretende manter neste projeto. 39 2. ESPECIFICIDADES PROJETUAIS 2.1 MEMORIAL JUSTIFICATIVO DO PROJETO O presente memorial tem por objetivo descrever a proposta de requalificação da área do Centro Cerâmico de Maragogipinho e a construção do Centro Cultural Multiuso. A ideia do projeto parte da harmonia do Centro Cerâmico com o novo equipamento a ser inserido no local, surgindo assim o conceito de aplicar dois momentos históricos em dois blocos conectados. O primeiro bloco terá o estilo colonial semelhante à edificações históricas da cidade como a prefeitura e alguns casarões antigos, onde representam a história e toda tradição que foi construída ao longo dos anos, esse bloco é marcado pela sua volumetria e aberturas que dão ritmo à fachada e permite a circulação do ar com a face principal privilegiada pelos ventos predominantes e sol nascente. O segundo bloco é voltado para a atualidade, inovação e as novas gerações, não apenas pela sua volumetria e métodos construtivos, mas, muito também pela sua funcionalidade e possibilidades que oferece a população de Maragogipinho. Sobre a funcionalidade e potencialidades do projeto, a interação com as olarias e moradores são primordiais, e são separadas em três núcleos, tais quais apoio ao artesão, desenvolvimento da comunidade e acolhimento ao turista. No primeiro bloco já citado funcionará a galeria de exposições das obras dos oleiros de Maragogipinho, que se dará de maneira em que o oleiro associado à AAMOM terá um lugar reservado para expor suas obras, e junto a esta terá uma ficha técnica, com o nome, um pouco de sua história e instruções de como chegar na olaria do artesão. Para executar essa ideia será necessário o mapeamento de todo CentroCerâmico identificando todas as olarias em um mapa lúdico e compreensível para qualquer um conseguir se localizar, e também será necessário sinalização e requalificação das vias em todo perímetro de onde estão concentradas as olarias. O segundo núcleo é focado no desenvolvimento educacional, profissional, cultural e artístico da cidade, oferecendo palestras, workshops e cursos, tanto de nativos para nativos, nativos para visitantes e também visitantes para nativos gerando assim um ciclo de troca de conhecimentos. Esse núcleo também é representado pela construção da biblioteca da cidade e memorial que contará a história da comunidade e 40 explicará como uma vila do interior da Bahia se tornou um dos maiores polos cerâmicos da América Latina. E por último o núcleo do turismo, em que, com a construção do Centro Cultural o turista que visitar o vilarejo de Maragogipinho terá uma série de pontos de interesse para explorar, no bloco de exposições, podendo encontrar exposições únicas e ainda adquirir as obras que lhe interessar, caminhar por todo centro cerâmico, conhecer as olarias e interagir com os artesões, que são sempre muito receptivos, descobrir a história da cidade no memorial, aprender a técnica de moldar o barro, apreciar a vista do manguezal e rio Jaguaripe entre outras atividades, assim tornando o vilarejo um ponto de interesse durante todo o ano. O terreno possui uma área de m² e fica localizado no coração da cidade, próximo as áreas onde existem a maior concentração de olarias da vila, que devido ao desnível natural e acesso por uma das principais ruas da cidade, o espaço está em um local privilegiado, sendo do ponto mais alto o acesso ao deck na cobertura de um dos blocos que é de fácil acesso e objeto de interesse tanto dos moradores quanto dos visitantes, e da parte mais baixa permite o acesso rápido à diversas olarias do Centro Cerâmico. Um item a ser reforçado é que a proposta de requalificação tem como base às necessidades do centro cerâmico, observadas nos estudos feitos da região, tais quais a falta de uma infraestrutura e suportes básicos como esgoto residencial e escoamento das águas pluviais, sendo extremamente prejudicial para comunidade e visitantes, além de outro fato que chama bastante atenção como a falta de acessibilidade, passeios irregulares frequentes e a inexistência de um caminho entre as olarias, sendo necessário também um reordenamento de algumas olarias para facilitar o fluxo de pessoas e organização do espaço. Já o clima tropical da região pode causar desconforto aos usuários, pois temperaturas elevadas e alta concentração de umidade do ar provoca a sensação de clima quente e abafado, e para minimizar tais problemas será utilizado o sistema de ventilação cruzada, posicionando a edificação de modo que receba na maior parte do tempo apenas o sol nascente, além da utilização do desnível natural do terreno para minimizar os impactos do sol poente na fachada posterior. 41 Por ser uma vila extremamente pequena afastada de grandes centros urbanos, dentro do distrito de Maragogipinho, o principal meio de locomoção é a pé ou bicicleta, automóveis só são utilizados para se deslocar para fora da vila ou chegar nela. O acesso viário dá-se através da BA-001. Através de estudos feitos no entorno da área de intervenção, não foi identificado equipamentos similares, gerando assim uma grande necessidade de valorização histórica e também uma valorização da beleza natural cuja vista para o manguezal pode oferecer. Portanto, o objetivo do desenvolvimento do projeto é suprir as necessidades da comunidade da vila de Maragogipinho ao passo que busca se tornar um melhor atrativo turístico para região aumentando o fluxo de turistas e pessoas interessadas na arte ali transmitida, sendo que a deficiência de equipamentos similares em cidades ao redor só alavanca ainda mais os benefícios que um projeto com esses objetivos e magnitude pode trazer. Vale ressaltar que sua forma tem o conceito de ser uma edificação atemporal, com dois tempos em uma edificação só, e a sua função é se basear no melhor aproveitamento dos espaços e implantação. Fazer aplicação de recursos arquitetônicos existentes para a melhor solução das vantagens e desvantagens climáticas criando assim um ambiente confortável, tendo como sua principal função, oferecer uma arquitetura que agregue a cada indivíduo informação, cultura, lazer e valorização histórica. 2.2 ESTUDO VOLUMÉTRICO A volumetria inicial do projeto teve como inspiração o Palacete das Artes, com a utilização de dois volumes conectados por uma área de convivência entre dois blocos (Figura 19), onde cada um tem seu significado e funcionalidade, porém ambos estão conectados pelo seu objetivo em comum que é valorização do distrito, de sua arte, conhecimento e cultura. 42 Figura 19 – Volumetria inicial do projeto Fonte: Elaborado pelo autor (2021) O primeiro bloco(Figura 20) que é mais voltado ao turista tem um aspecto mais histórico assemelhando-se à edificações existentes e também para não destoar das casas e olarias do entorno combinado com a criação de um deck em sua cobertura com uma área de circulação, descanso e um pequeno comércio onde poderá funcionar uma lanchonete ou sorveteria para apreciar a vista para algumas das centenas de olarias e o manguezal de Maragogipinho. Enquanto no seu interior o projeto contém um pé 43 direito duplo cercado por um mezanino, onde funcionará a galeria de exposição das peças produzidas na cidade, com a identificação de quem produz aquela peça e a localização da olaria dentro do Centro Cerâmico. Esse bloco é inspirado nas construções antigas da cidade, com várias aberturas dando um ritmo à fachada enquanto auxilia na circulação do ar dentro da edificação. Figura 20 – Volumetria primeiro bloco Fonte: Elaborado pelo autor (2021) 44 O segundo bloco(Figura 21) ficará responsável pelos equipamentos sociais propostos para comunidade como a sede da AAMON, salão memorial contando a história da cidade e ligação dela com o artesanato, biblioteca, as salas multiuso onde serão ministrados os cursos e auditório para reuniões e palestras. O segundo bloco tem uma volumetria e materiais utilizados em sua construção mais livres porém como já citado anteriormente o problema de incidência solar no local é bastante incômodo, mas é compensado pela brisa que vem do manguezal e do rio Jaguaripe, por isso esse bloco também é composto por muitas aberturas para manter o vento circulando e deixar o ambiente agradável. Figura 21 – Volumetria segundo bloco Fonte: Elaborado pelo autor (2021) 45 2.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES O projeto trata-se de implantar o centro cultural multiuso em uma área pré-existente, que atualmente funciona como centro cerâmico, com o objetivo de trazer mais notoriedade ao artesanato produzido pela vila, dar apoio às olarias ao entorno, buscar uma melhor organização e profissionalização dos artesãos, atender às necessidades culturais e recreativas da população residente, incentivar a perpetuar a tradição para os jovens da vila e atrair mais turistas para o local. O desenvolvimento deste programa de necessidades baseou-se no estudo dos projetos similares que possuem o mesmo tema ou semelhante a Kulthurhaus, o Centro cultural da UFRGS e o Palacete das Artes. O programa de necessidades da edificação buscará atender todas as pessoas interessadas em conteúdo cultural, profissional, educacional e recreativo, independente de idade, sexo e condições financeiras de moradores da cidade ou não. No mesmo, serão pensados três tipos de núcleos, sendo o primeiro voltado para apoio aos artesãos e comunidade, o segundo atendendo as necessidades educacionais e profissionais, e o terceiro focado no turismo. 46 Quadro 1 – Programa de necessidades QUADRO DE AMBIENTES Núcleo Nomedo Ambiente Quantidade Bloco Área Apoio ao artesão Auditório 1 2 186.64 m² Arquivo / Depósito 1 2 18 m² Escritório da AAMOM 1 2 35.1 m² Educação e Profissionalização Sala de Apoio / Depósito 1 2 33.22 m² Sala de Aula 1 2 2 66.44 m² Sala de Oficina Cerâmica 1 2 2 112.94 m² Biblioteca 1 2 359.14 m² Depósito / Reserva 1 2 18.38 m² Recepção 1 2 27.37 m² Sala dos Funcionários 1 2 21.77 m² Recreação e Turismo Quiosque 1 1 28.25 m² Sala de Apoio 1 1 51.07 m² Sala dos Funcionários 1 1 14.08 m² Salão de Exposição 2 1 681.14 m² Salão de Memorial 1 2 125.21 m² Outros Elevador 2 1 5.26 m² Elevador 2 2 4.50 m² Sanitário Feminino 1 1 7.61 m² Sanitário Feminino 2 2 15.24 m² Sanitário Masculino 1 1 7.13 m² 47 Sanitário Masculino 2 2 15.07 m² Sanitário PCD 1 1 3.72 m² Sanitário PCD 1 2 3.64 m² Varanda 1 2 36.48 m² Circulação 1 4.19 m² Circulação 2 266.74 m² Total 2,148.72 m² Fonte: Elaborado pelo autor (2021) Com base nas informações retiradas da Lei de Ordenamento de Uso e Ocupação do solo do município de Aratuípe, a construção total em metros quadrados pode ocupar 1,5 vezes a área do terreno (1.564,22 m²) cujo valor total é de 2346,33 m², podendo verticalizar até o valor do mesmo, considerando o gabarito máximo de 3 (três) pavimentos. 2.4 ANÁLISE DO TERRENO 2.4.1 Análise bioclimática A Vila de Maragogipinho é caracterizado pelo clima tropical, com temperaturas que ao longo do ano variam de 20ºC a 32ºC, sendo a temperatura média de 26,3ºC. Possuindo uma variação sazonal moderada na sensação de umidade, no qual o nível de conforto é abafado ou opressivo durante a maior parte do ano, assim provocando uma maior sensação de calor. Está analise permite entender que o clima quente e abafado é um problema na cidade (Gráfico 2). 48 Gráfico 2 – Temperaturas máximas, mínimas e umidade média durante o ano Fonte: Weatherspark, adaptado pelo autor (2020) A direção média dos ventos predominantes é leste durante todo o ano, e a velocidade horária média dos ventos na região não varia muito ao longo do ano permanecendo entre 8,9 e 10,3 km/h durante todo o período. A análise dos ventos também demonstra contribuição para o clima quente e abafado (Gráfico 3). 49 Gráfico 3 – Direção do vento e velocidade média dos ventos Fonte: Weatherspark, adaptado pelo autor (2020) Com base na análise bioclimática da região é possível ter uma noção macro das características climáticas do local onde o projeto será inserido. Analisando como a incidência solar e fluxos dos ventos interferem na edificação é factível ver que esta recebe ventos predominantes em toda sua extensão sul e leste, sendo que o gabarito das edificações no entorno não interfere no fluxo dos ventos que chegam até o local estudado. Observando a trajetória solar (Figura 22), nota-se que o mesmo tem bastante influência na fachada leste da edificação, que recebe sol diretamente pela manhã, e pela tarde a oeste. 50 Figura 22 – Trajetória Solar Fonte: 44arquitetura (2021) O projeto contará com soluções arquitetônicas como ventilação cruzada e de forma natural, e posicionamento da edificação com as fachadas leste e oeste seguindo a trajetória solar respectivamente, assim minimizando os efeitos da insolação no período da tarde. 51 2.4.2 Análise morfológica do terreno A área do projeto se encontra em um local com um desnível natural de aproximadamente 5 metros de altura que faz ligação direta com a rua Antônio Almeida e o restante do terreno é predominantemente plano. Figura 23 - Perfil topográfico do terreno Fonte: Google Earth (2021) 52 Figura 24 - Perfil topográfico do terreno Fonte: Google Earth (2021) Mesmo possuindo poucas curvas de nível, esse desnível de aproximadamente 5 (cinco) metros fez com que o projeto fosse pensado de maneira que aproveitasse de forma positiva, permitindo assim a utilização de rampas conectando a cobertura do bloco 1 criando um deck para contemplação da natureza e entorno. 53 2.4.3 Análise da hierarquia viária O terreno se encontra na rua Antônio Almeida e Rua do Porto onde o tráfego é, em sua grande maioria, de veículos e moradores da região e turistas. Por ser uma vila extremamente pequena não existe sistemas de transporte coletivo, sendo assim a as pessoas se locomovem pela cidade a pé ou de bicicleta. O tráfego se torna intenso no final de maio e início de abril quando ocorre a tradicional Feira dos Caxixis em Nazaré, cidade vizinha onde é exposta a produção das peças de cerâmicas, despertando a curiosidade dos turistas, que buscam conhecer de onde são produzidos tais artesanatos, e impulsionando-os como uma atração local. As principais vias de acesso são pela Av. Tiradentes, Rua André Viêira e Rua Zeferino Ramos (Figura 25). Através de visitas ao local é possível notar a falta de infraestrutura e saneamento básico nas vias principais, e o calçamento é feito de paralelepípedo em toda extensão da cidade, com exceção das áreas que a pavimentação é inexistente. Dentro da área de intervenção não é diferente de todo perímetro ao redor, visto que a falta de infraestrutura e saneamento básico restringe o escoamento de aguais pluviais a apenas o calçamento de paralelepípedo, ressaltando a ausência de guias, sarjetas e passeios dentro do padrão de acessibilidade. 54 Figura 25 - Análise da hierarquia viária Fonte: Googlemapstyle, adaptado pelo autor (2021) 55 2.4.4 Análise tipológica dos prédios do entorno imediato O entorno do terreno do projeto tem como característica predominante o uso misto do solo, assim podemos observar edificações de caráter comercial e residencial em sua grande maioria. É fato que o gabarito preponderante é o térreo. Porém em visita ao local conseguiu-se observar algumas edificações mais recentes e/ou em construção que apresentam um segundo pavimento. (Figura 26). Figura 26 - Gabarito vertical da região Fonte: Acervo pessoal (2021) 56 2.4.5 Análise da permeabilidade do solo no entorno imediato No entorno da cidade há uma grande presença de vegetação nativa derivada do bioma de Mata Atlântica e Manguezal, sendo possível identificar árvores e áreas permeáveis (Figura 27) em toda extensão da área de intervenção, cuja pavimentação de paralelepípedo da cidade e proximidade com o rio também são fatores contributivos para o escoamento da água e permeabilidade do solo, porém, a falta de drenagem adequada pode causar problemas ambientais graves como alagamentos ou deslizamentos de terra. Embora como já citado anteriormente, a rede de esgotamento público e coletivo é inexistente, na maioria das residências são utilizadas fossas sépticas individuais ou o lançamento direto de seus esgotos no rio. Serviços de infraestrutura como água, luz e iluminação pública são existentes. A coleta de lixo e limpeza das vias públicas são feitas pelo município de Aratuípe, tendo, no entanto, como sua disposição final um lixão. 57 Figura 27 – Permeabilidade do entorno Fonte: Acervo pessoal (2021) 58 2.4.6 Análise da legislação vigente O projeto de arquitetura deve estar devidamente adequado às exigências destinadas ao uso das legislações locais, como o Plano Diretor de Aratuípe (Lei Nº 542/2009 de 19/12/2009), além de regionais, como o Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico do Estado da Bahia, e nacionais, tal qual a ABNT NBR-9050 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos (2004). Uma de suas diretrizes consiste no uso e na ocupação do solo que divide o território municipal em Zonas. O terreno proposto está localizado numa área que faz parte da Zona de Uso Misto (ZUM) e seu uso é para fim comercial e serviços. Compreendemáreas de ocupação mista de apoio às zonas industriais e de serviços, bem como áreas com potencial para estimular a convivência de usos habitacionais e não habitacionais com intensidade média de ocupação, onde se mesclam usos residenciais, comerciais e de serviços. Os parâmetros de ocupação do solo são determinados de acordo com o Quadro 2 abaixo: Quadro 2 – Classificação do Terreno Fonte: Prefeitura municipal de Aratuípe (2009) 59 Tal qual representado no tópico “Programa de necessidades", o terreno de 2.766,43m² terá respectivamente o Coeficiente de aproveitamento (Ca) máximo de 4.149,65m², Índice de permeabilidade (IP) mínimo de 829,93m² e Índice de ocupação (IO) máxima de 1.936,50m². Ainda de acordo com o plano diretor da cidade de Aratuípe: Todo lote com área superior a 300m2 (trezentos metros quadrados) deve obedecer aos seguintes recuos: frontal de 2,5m (dois metros e meio); laterais (ambos os lados) de 1,5m (um metro e meio) e recuo de fundo de 2,5m (dois metros e meio). Todo lote com área acima de 300 m2 (trezentos metros quadrados) que possui testada menor ou igual a 10m (dez metros), poderá contar com recuo lateral em apenas um dos lados. Com os dados adquiridos e relacionando-os aos parâmetros urbanísticos com a área do terreno, pode-se concluir que o projeto do centro cultural atende aos critérios exigidos. 2.4.7 Raio de influência de outros equipamentos com o mesmo tema e temas impactantes A requalificação do Centro Cerâmico e construção do Centro Cultural Multiuso propõe trazer mais visibilidade aos artesanatos produzidos na vila de Maragogipinho, transformando o lugar não só em um ponto turístico com mais referência na região, mas como também de incentivo para que os moradores se sintam mais motivados a continuar com o oficio tradicional, além de apoio sociocultural à vila. A proposta é embasada na falta de equipamentos similares na região, na carência da comunidade de um local onde consiga ter acesso a informação, educação e profissionalização, sendo um ponto de apoio aos oleiros, objetivando na união e expansão da visibilidade do artesanato ali criado, atraindo, desta maneira, mais turistas para a vila. 60 O entorno do terreno como supramencionado, é predominantemente residencial, com exceção das olarias e alguns comércios de moradores, tendo os estudos com o raio de influência de 1, 2 e 3km de distância em relação a área de intervenção não identificado nenhum equipamento similar ao proposto (Figura 28). Figura 28 – Equipamentos em raio de até 1, 2 e 3km Fonte: Google Earth, adaptado pelo autor (2020) 61 REFERÊNCIAS: ALBA. Artesãos de maragogipinho expõem peças de cerâmica na alba. Disponível em: http://www.al.ba.gov.br/midia- center/noticias/33246. Acesso em 01 de maio de 2020. ARCHDAILY. House of Culture / KÜHNLEIN Architektur. Disponível em: https://www.archdaily.com/789923/house-of-culture- kuhnlein-architektur. Acesso em: 07 de abril de 2020. ARCHDAILY. Museu Rodin Bahia / Brasil Arquitetura. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/910445/museu-rodin- bahia-brasil-arquitetura. Acesso em: 07 de abril de 2020. ARCHDAILY. O Papel das ruas compartilhadas: Como recuperar a qualidade de vida no espaço público / Guillermo Tella e Jorge Amado. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/794322/o-papel-das-ruas-compartilhadas-como-recuperar-a- qualidade-de-vida-no-espaco-publico-guillermo-tella-e-jorge-amado. Acesso em 22 de junho de 2020. ARTESOL. AAMOM - Associação de Auxílio Mútuo dos Oleiros de Maragogipinho. Disponível em: https://www.artesol.org.br/aamom_associacao_de_auxilio_mutuo_dos_oleiros_de_maragogipinho. Acesso em 03 de maio de 2020. CENTRO CULTURAL DA UFRGS. Sobre o espaço. Disponível em: https://www.ufrgs.br/centrocultural/sobreoespaco/. Acesso em: 8 de maio. 62 G1. Maragogipinho se destaca como o maior centro produtor de cerâmica do Brasil. Disponível em: http://g1.globo.com/bahia/jornal-da-manha/videos/t/edicoes/v/maragogipinho-se-destaca-como-o-maior-centro-produtor-de- ceramica-do-brasil/7342989/. Acesso em 01 de maio de 2020. GOOGLEMAPSTYLE. Disponível em: https://mapstyle.withgoogle.com/. Acesso em 08 de maio de 2020. IBGE. IBGE cidades. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/aratuipe/panorama. Acesso em 02 de maio. KUEHNLEIN ARCHITEKTUR. Kulturhaus Dietfurt Klostergasse 5. <https://www.kuehnlein-architektur.de/projekte/kulturhaus- dietfurt-klostergasse-5/. Acesso em 8 de maio de 2020. PORTAL TRANSPARENCIA. Prefeitura municipal de Aratuípe. Disponível em: http://www.ba.portaldatransparencia.com.br/prefeitura/aratuipe/?pagina=abreDocumento&arquivo=3EEE05598A. Acesso em 05 de maio de 2020. PROJETEEE. Estratégias bioclimáticas. Disponível em: http://projeteee.mma.gov.br/estrategias-bioclimaticas/. Acesso em 11 de junho de 2020. SUINFRA. Prefeitura municipal do Rio Grande do Sul. Planta baixa simplificada. 2019. 63 WEATHERSPARK. Clima característico em Nazaré Brasil durante o ano. Disponível em: https://pt.weatherspark.com/y/30985/Clima-caracter%C3%ADstico-em-Nazar%C3%A9-Brasil-durante-o-ano. Acesso em 10 de junho de 2020. NEXO. 5 princípios para melhorar o designer urbano, segundo Jan Gehl. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/07/13/5-princ%C3%ADpios-para-melhorar-o-design-urbano-segundo-Jan- Gehl#:~:text=%C3%89%20o%20que%20acredita%20Jan,a%20ocupa%C3%A7%C3%A3o%20dos%20espa%C3%A7os%20p%C3 %BAblicos. Acesso em: 02 de julho de 2020. TERRITORIOS. A arquitetura Grega. Disponível em: http://www.territorios.org/teoria/H_C_grega.html. Acesso em: 30 de junho de 2020. GELH, Jan. Cidade para pessoas. 1ª edição. São Paulo: Perspectiva, 2013. 64 APÊNDICE B – Declaração de autenticidade Eu, Bruno Hideo Ishikawa Carvalho, matriculado no 9º período do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Jorge Amado – UNIJORGE – CAMPUS PARALELA, Salvador-Bahia, Matrícula nº: 161004979 CPF: 843.983.455-15 RG: 12.741.431-28 para efeito do que dispõe a Lei 9.610 de 19.02.1998 – Lei de Direitos Autorais – , por este documento DECLARO que o Trabalho de Conclusão de Curso (monografia) intitulado: Anteprojeto do Centro Cultural Multiuso: Vozes do Barro é de minha autoria e exclusiva responsabilidade e não contém apropriação indevida, parcial ou total, da obra intelectual de outro autor. Salvador, 30 de Abril de 2021. ______________________________________________ Assinatura
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