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Prof. Msc. João Guilherme Pereira Vicente Cinética Química Aplicada email: joao.vicente@facens.br Aula 6 – Cinética das Reações Não-Elementares Reação não elementar é aquela cuja estequiometria não coincide com sua cinética. Ex: N2(g) + 3 H2(g) 2 NH3(g), H = - 92 kJ/mol 𝑟𝑁𝐻3 = 𝑘1 𝑁2 𝐻2 ൗ3 2 𝑁𝐻3 2 − 𝑘2 𝑁𝐻3 𝐻2 ൗ3 2 Taxa Muitas reações químicas ocorrem em mais de uma etapa, e quando isto ocorre os expoentes das concentrações na lei de velocidade, em geral, não guardam qualquer relação com os coeficientes estequiométricos na equação química balanceada. Isto ocorre devido ao fato da equação química global não fornecer nenhuma informação com relação ao mecanismo da reação. Mecanismo da reação Cada etapa é uma reação elementar. Na soma algébrica das etapas, os compostos intermediários desaparecem na reação global. A velocidade da reação não elementar depende apenas da etapa lenta. Reação não elementar 𝐻2 + 2𝑁𝑂 ⇆ 𝑁2𝑂 ∗ +𝐻2𝑂 𝐻2 +𝑁2𝑂 ∗ ⇆ 𝑁2 +𝐻2𝑂 2𝐻2 + 2𝑁𝑂 ⇆ 𝑁2 + 2𝐻2𝑂 Reação não elementar 𝐻2 + 2𝑁𝑂 ⇆ 𝑁2𝑂 + 𝐻2𝑂 𝐻2 + 𝑁2𝑂 ⇆ 𝑁2 + 𝐻2𝑂 Etapa I - Lenta II - Rápida Global 2𝐻2 + 2𝑁𝑂 ⇆ 𝑁2 + 2𝐻2𝑂 𝑟𝐻2 = 𝑘1 𝐻2 𝑁𝑂 2 Por exemplo se a cinética da reação : 𝐴 + 𝐵 ⇆ 2𝐴𝐵 Para um reação elementar a equação da taxa seria: −𝑟𝐴 = 𝑑𝐶𝑎 𝑑𝑡 = 𝑘𝐶𝐴 1𝐶𝐵 1 Para um reação não elementar, poderíamos supor uma série de etapas elementares para explicar a cinética, tais como: 𝐴 ⇆ 2𝐴∗ 𝐴∗ + 𝐵 ⇆ AB + 𝐵∗ 𝐴∗ + 𝐵∗ ⇆ AB * Denota aos intermediários não observados. Para testar o esquema proposto é necessário ver se a expressão cinética experimental corresponde a teórica. Os tipos de intermediários que pode-se postular são sugeridos pela química dos materiais, podendo ser agrupados: Radicais Livres: Átomos livres ou fragmentos moleculares estáveis contendo um ou mais elétrons não emparelhados são chamados radicais livres. O elétron não emparelhado é indicado por um ponto a direita do átomo na representação estrutural da molécula. Alguns radicais livres são relativamente estáveis, como o trifenil-metil mas, como regra geral, são instáveis e extremamente reativos, como, por exemplo: CH3 ., C2H5 ., I., H.. Íons e Substâncias Polares: Átomos carregados eletricamente moléculas ou fragmentos moleculares, como são chamados íons e podem atuar como intermediários ativos nas reações. Na+ OH- NH4 + I- Moléculas: Por exemplo, uma reação em série, do tipo A → R → S , na qual o produto R é muito reativo, terá seu tempo de vida médio muito pequeno e sua concentração na mistura reacional será extremamente baixa. Nessas condições, R pode ser considerado como um intermediário ativo. Complexos de Transição: As numerosas colisões entre as moléculas reagentes resultam numa ampla distribuição de energia entre as moléculas. Isso pode resultar em ligações tensionadas, formas moleculares instáveis, que podem se decompor em outros produtos ou, por meio de colisões posteriores, regenerar moléculas no estado normal. Tais formas instáveis são chamadas de complexos de transição. Os esquemas reacionais postulados, envolvendo esses quatro tipos de intermediários, pode ser: Reações individuais : o intermediário é formado na primeira reação, desaparecendo em seguida para formar o produto. Reagentes → Intermediários* Intermediários* → Produtos Reações em cadeia : o intermediário é formado na primeira reação, chamada de etapa de iniciação da cadeia. Ele então combina-se com o reagente para formar o produto e mais um intermediário na etapa de propagação da cadeia. Ocasionalmente o intermediário é destruído na etapa de término da cadeia. Reagentes → Intermediários* Intermediários* + Reagentes → Intermediários* + Produto Intermediários* → Produto Inicio Propagação Término Radicais Livres, mecanismo de reação em cadeia: 𝐻2 + 𝐵𝑟2 → 2𝐻𝐵𝑟 equação da taxa: 𝑟𝐻𝐵𝑟 = 𝑘1 𝑁2 𝐵𝑟 ൗ1 2 𝑘2 + 𝐻𝐵𝑟 / 𝐵𝑟2 Br2 ⇆ 2Br . Br. + H2 ⇆ HBr + H . H. + Br2 → HBr + Br . Inicio Propagação Final Envolve os intermediários Br . e H . . Intermediários moleculares, sem formação de cadeia: equação da taxa: 𝑟𝑅 = 𝑘 𝐴 𝐸0 𝑀 + 𝐴 A + enzima ⇆ (A. enzima)* (A . enzima)* → R + enzima Ocorre com o intermediário (A . enzima)* 𝐴 𝑅enzima M = cte experimental Em tais reações, a concentração do intermediário pode se tornar apreciável, necessitando neste caso uma análise especial, proposta inicialmente por Michaelis e Menten (1913). Complexo de transição, sem formação de cadeia: A decomposição espontânea do azometano. 𝐶𝐻3 2𝑁2 → 𝐶2𝐻6 +𝑁2 𝑜𝑢 𝐴 → 𝑅 + 𝑆 Apresenta, sob várias condições, cinética de primeira ordem, segunda ou intermediária. Este tipo de comportamento pode ser explicado através da hipótese da existência de uma forma energizada e instável do reagente A*. A + A → A* + A A* + A →A + A A* → R + S Formação da molécula energizada Retorno à forma estável pela colisão Decomposição espontânea em produtos Lindemann (1922) foi o primeiro a sugerir este tipo de intermediário Testando Modelos Cinéticos Dois problemas dificultam a pesquisa do mecanismo correto de uma reação. 1º - A reação pode apresentar mais de um mecanismo, com radical livre e intermediário iônico, cujas velocidades relativas se modificam com as condições da reação. 2º - Mais de um mecanismo pode ser enquadrado numa determinada observação cinética. A resolução de tais problemas é difícil e requer profundos conhecimentos químicos das substâncias envolvidas. Testando Modelos Cinéticos Nessas reações não elementares supõe-se a existência de dois tipos de intermediários: Tipo 1 : Um intermediário não visto e não medido, X, geralmente presente em concentração tão baixa que sua taxa de variação na reação pode ser desprezada. Chama-se isto de aproximação de estado estacionário. 𝑑 𝑋 𝑑𝑡 = 0𝑋 é 𝑚𝑢𝑖𝑡𝑜 𝑝𝑒𝑞𝑢𝑒𝑛𝑎 Testando Modelos Cinéticos Tipo 2 : Um catalisador homogêneo de concentração inicial C0 está presente sob duas formas: Como catalisador livre C. Combinado em um grau apreciável para formar o intermediário X. Ou que o intermediário está em equilíbrio com seus reagentes: 𝑑 𝑋 𝑑𝑡 = 0𝐶0 = 𝐶 + 𝑋 𝑟𝑒𝑎𝑔𝑒𝑛𝑡𝑒 𝐴 𝐶𝑎𝑡𝑎𝑙𝑖𝑠𝑎𝑑𝑜𝑟 𝐶 ⇆ 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑚𝑒𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑜 𝑋 2 1 𝐾 = 𝑘1 𝑘2 = 𝑋 𝐴 𝐶 Testando Modelos Cinéticos Primeiro Passo: Expressar a velocidade do componente i que se deseja determinar em função da velocidade do mesmo em cada etapa elementar do mecanismo que se tem, pois a velocidade global deste componente i será a soma das velocidades de transformação do citado componente em cada uma das reações elementares, ou seja: velocidade global = σ velocidades das etapas elementares Segundo Passo: Fazer a mesma sistemática acima para os intermediários ativos e, então, aplicar a aproximação do estado estacionário. Terceiro Passo: A partir da aplicação da aproximação do estado estacionário, expressar as concentrações dos intermediários ativos em função dos demais componentes da reação. Quarto Passo: Eliminar as concentrações dos intermediários ativos da equação de velocidade do componente i, a partir da substituição dos mesmos pelas equações encontradas no terceiro passo. Exemplo 01 – Um reagente chamado substrato, é convertido a produto pela ação de uma enzima, uma substância como proteína, de alto peso molecular ( PM > 10.000). As enzimas são altamente específicas, catalisando reações particulares ou um grupo de reações. Assim: 𝐴 𝑅enzima Muitas destas reações exibem o seguinte comportamento: 1. Uma taxa proporcional à concentraçãode enzima introduzida na mistura [E0]. 2. Em baixas concentrações de reagente, a taxa é proporcional à concentração do reagente [A]. 3. Em altas concentrações, a taxa se estabiliza e se torna independente da concentração do reagente. Proponha um mecanismo que considere este comportamento. Solução – Michaelis e Menten foram os primeiros a resolver este problema. Eles imaginaram que a reação ocorria da seguinte forma: 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑚𝑒𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑜 𝑋 → 𝑅 + 𝐸 3 𝑟𝑒𝑎𝑔𝑒𝑛𝑡𝑒 𝐴 𝑒𝑛𝑧𝑖𝑚𝑎 𝐸 ⇆ 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑚𝑒𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑜 𝑋 1 2 E com as duas suposições: 𝑑 𝑋 𝑑𝑡 = 0𝐸0 = 𝐸 + 𝑋 Primeiro deve-se escrever as taxas para os componentes pertinentes da reação: 𝑑 𝑅 𝑑𝑡 = 𝑘3[𝑋] 𝑑 𝑋 𝑑𝑡 = 𝑘1[𝐴] 𝐸 − 𝑘2[𝑋] − 𝑘3[𝑋] = 0 Eliminando E das equações: 𝑘2[𝑋] + 𝑘3[𝑋] = 𝑘1 𝐴 . ( 𝐸0 − [𝑋]) 𝑘2[𝑋] + 𝑘3[𝑋] = 𝑘1 𝐴 𝐸0 − 𝑘1 𝐴 [𝑋] 𝑘1 𝐴 [𝑋] + 𝑘2[𝑋] + 𝑘3[𝑋] = 𝑘1 𝐴 𝐸0 [𝑋](𝑘1 𝐴 + 𝑘2 + 𝑘3) = 𝑘1 𝐴 𝐸0 [𝑋] = 𝑘1 𝐴 𝐸0 𝑘1 𝐴 + (𝑘2 + 𝑘3) Assim, substituindo na equação taxa do produto R: 𝑑 𝑅 𝑑𝑡 = 𝑘3[𝑋] [𝑋] = 𝑘1 𝐴 𝐸0 𝑘1 𝐴 + (𝑘2 + 𝑘3) 𝑑 𝑅 𝑑𝑡 = 𝑘3 𝑘1 𝐴 𝐸0 𝑘1 𝐴 + (𝑘2 + 𝑘3) 𝑑 𝑅 𝑑𝑡 = 𝑘3𝑘1 𝐴 𝐸0 𝑘1 𝐴 + (𝑘2 + 𝑘3) 𝑑 𝑅 𝑑𝑡 = 𝑘3 𝐴 𝐸0 𝑀 + 𝐴 𝑀 = 𝑘2+ 𝑘3 𝑘1 constante de Michaelis Comparando com o comportamento dado anteriormente, observa-se que está equação satisfaz os três fatos apontados: − 𝑑 𝐴 𝑑𝑡 = 𝑑 𝑅 𝑑𝑡 [E0] [A] quando [A] << [M] É independente de [A] quando [A]>> [M] ÷ 𝒌𝟏 0 25000 50000 75000 100000 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 r R [A] 𝑑 𝑅 𝑑𝑡 = 𝑘3 𝐴 𝐸0 𝑀 + 𝐴 k1 15 k2 20 k3 80 M 6.67 E0 1 Chutando valores A rR 1 10,435 2 18,462 3 24,828 4 30,000 5 34,286 5 34,286 7 40,976 8 43,636 9 45,957 10 48,000 100 75,000 500 78,947 2000 79,734 10000 79,947 50000 79,989 100000 79,995 800000 79,999 1000000 79,999 Exemplo 02 – O composto AB2 é formado a partir de uma estequiometria muito simples: AB + B →AB2 Entretanto esta não é uma reação elementar e em função disto foi realizado um minucioso estudo em laboratório, onde após uma série de experimentos observou-se os seguintes fatos: A – No início dos experimentos nada se pode afirmar a respeito da ordem da reação. B – No final dos experimentos, a reação parece ser de primeira ordem em relação ao reagente AB. C – A introdução do produto AB2 na alimentação não afeta a velocidade da reação. Para tentar explicar o comportamento cinético desta reação foram propostos dois mecanismos. Determine a equação de velocidade em função do produto AB2 para cada um dos dois mecanismos e verifique se as observações apuradas são válidas para algum deles. Justifique a sua resposta. Avaliando a consistência A) Errado. A reação é de n=2 B) OK C) OK Logo o mecanismo 1 não se ajusta 𝐴𝐵 + 𝐵 ⇆ 𝐴𝐵2 ∗ 𝐴𝐵2 ∗ → 𝐴𝐵2 Mecanismo I 𝐴𝐵 + 𝐵 → 𝐴𝐵2 ∗ 𝐴𝐵2 ∗ → 𝐴𝐵2 𝐴𝐵2 ∗ → 𝐴𝐵 + 𝐵 (k1) (k2) (k3) 𝑟𝐴𝐵2 = 𝑘3 𝐴𝐵2 ∗ 𝑟𝐴𝐵2∗ = 𝑘1 𝐴𝐵 𝐵 − 𝑘2 𝐴𝐵2 ∗ − 𝑘3 𝐴𝐵2 ∗ =0 𝐴𝐵2 ∗ = 𝑘1 𝐴𝐵 𝐵 𝑘2 + 𝑘3 𝑟𝐴𝐵2 = 𝑘1𝑘3 𝐴𝐵 𝐵 𝑘2 + 𝑘3 Avaliando a consistência A) OK B) No final, k2 + k3[B] ≈ k2 →OK C) OK Logo é o mecanismo 2. 𝐴𝐵 ⇆ 𝐴𝐵∗ 𝐴𝐵∗ + 𝐵 → 𝐴𝐵2 Mecanismo II 𝐴𝐵 → 𝐴𝐵∗ 𝐴𝐵∗ + B → 𝐴𝐵2 𝐴𝐵∗ → 𝐴𝐵 (k1) (k2) (k3) 𝑟𝐴𝐵2 = 𝑘3 𝐴𝐵 ∗ 𝐵 𝑟𝐴𝐵∗ = 𝑘1 𝐴𝐵 − 𝑘2 𝐴𝐵 ∗ − 𝑘3 𝐴𝐵 ∗ 𝐵 = 0 𝐴𝐵∗ = 𝑘1 𝐴𝐵 𝑘2 + 𝑘3[𝐵] 𝑟𝐴𝐵2 = 𝑘1𝑘3 𝐴𝐵 𝐵 𝑘2 + 𝑘3 𝐵
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