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DP Classificação Doutrinária dos Crimes

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Direito Penal
Uma Breve ‘Classificação Doutrinária’ dos Crimes
Prof. Marupiara gomes
No presente estudo que versa sobre a “Uma Breve Classificação Doutrinária dos Crimes”, buscaremos uma singela orientação acerca do referido tema para fins de análise da Parte Especial do Código Penal Brasileiro, assim como da Legislação Penal Especial (extravagante), seguindo a opinião mais assente na maioria dos doutrinadores nacionais.
De logo, ressaltamos que a presente classificação por ser ‘doutrinária’, ou seja, aquela em que o crime é conceituado pelos estudiosos do Direito Penal frente às infrações penais, haverá sempre em alguns momentos dissensões entre os mesmos, o que buscamos afastar ao máximo, inclusive com uma multiplicidade de designações que por vezes representam a mesma figura em estudo.
Partindo das considerações iniciais acima, podemos fazer então uma sucinta classificação dos tipos penais, à partir, inclusive, dos objetos jurídicos. Neste primeiro momento, veremos uma classificação dos “Tipos Penais” mais usualmente existentes. Após, iniciaremos a Classificação Doutrinária propriamente dita.
Tipo Fundamental e Tipo Derivado.
Tipo Fundamental ou básico: é aquele que retrata de forma mais simples a conduta criminosa. São denominados “crimes simples” e, em regra, estão situados no caput (cabeça, parte central) dos dispositivos legais. Ex: homicídio “simples” – art. 121 – CPB: matar alguém.
Tipo Derivado: é aquele que se estrutura com base no tipo fundamental, mas a ele “somando” circunstâncias que aumentam ou diminuem a pena. Dividem-se em tipos “qualificados” (pois se agregam circunstâncias “qualificadoras”) ou simplesmente “circunstanciados” (que se agregam como causas de aumento de pena) e “privilegiados” (em que agregam causas de diminuição da pena), também chamados de exceptum . Ex: homicídio “privilegiado” (art. 121, § 1º) e homicídio “qualificado” (art. 121, § 2º).
 
Tipo Fechado e Tipo Aberto:
Tipo Fechado ou cerrado: é o que possui a descrição ‘minuciosa’ da conduta criminosa. Ex: furto (art. 155).
 Tipo Aberto: é o que não possui a descrição minuciosa da conduta criminosa, cabendo ao Poder Judiciário em sua análise do caso concreto, complementar a tipicidade mediante um “juízo de valor”. Ex: o crime de rixa (art. 137) pois somente diante da situação prática, do caso real acontecido, poderá se dizer que alguém participou da contenda pessoal ou nela ingressou para separar os contendores.
Obs.: os crimes Culposos (praticados por imprudência, negligência ou imperícia) são em regra previstos na forma de tipos penais abertos, pois necessitam da adequação do tipo às situações concretas ocorridas, sejam de forma “ativa” (Imprudência) ou Omissiva (Negligência). Temos uma exceção: o caso da receptação “culposa”, em que o art. 180, § 3º apresenta detalhadamente a descrição típica.
Tipo Simples e Tipo Misto:
Tipo Simples: é o que abriga em seu interior um (01) único núcleo (verbo), definindo assim uma única conduta típica, caracterizando crimes de ação única. Ex: roubo (art. 157), em que existe apenas um “verbo” ou ‘núcleo’ – “subtrair”.
Tipo Misto: é o que tem na sua descrição típica dois ou mais núcleos, representando os crimes de ação múltipla ou conteúdo variado. Subdividem-se em duas espécies:
 
Tipo Misto “Alternativo”: aqui a lei penal descreve duas ou mais condutas como hipótese de realização do mesmo crime, de maneira que a prática sucessiva dos diversos núcleos caracterizaria um (01) único delito. São os chamados crimes de ação múltipla, de condutas variadas ou fungíveis. Ex: a receptação ‘simples’ (art. 180, caput) pratica crime único, o agente que adquire carro roubado e, ciente dessa origem ilícita, depois o conduz para sua casa vindo a ocultá-lo.
Tipo Misto “Cumulativo”: aqui a prática de mais de uma conduta leva ao concurso material (acúmulo de crimes com somatório de penas) de crimes, respondendo o agente por todos os delitos praticados, tal como se dá no art. 244 – abandono material.
A Classificação “Doutrinária”
Crimes comuns, próprios e de ‘mão própria’. Essa divisão se baseia na ‘qualidade’ do ‘sujeito ativo’.
Crimes comuns ou gerais: 
São aqueles que podem ser praticados por “qualquer pessoa”. O tipo penal não exige, em relação ao sujeito ativo, nenhuma condição especial. Ex: homicídio (art. 121 e segs.), furto (art.155), crimes contra honra (art. 138 e segs.) etc. Fala-se também em crimes bicomuns, compreendidos como aqueles que podem ser cometidos por qualquer pessoa e contra qualquer pessoa, isto é, não se reclama nenhuma situação especial, seja em relação sujeito quanto ao sujeito passivo. Ex: lesão corporal (art. 129 e segs.) ou estelionato (art. 171 e segs.).
Crimes próprios ou especiais: 
São aqueles em que o tipo penal exige uma situação fática ou jurídica diferenciada por parte do sujeito ativo. Ex: peculato (art. 312 e segs.) pois só ser praticado com a participação ou por intermédio de um funcionário público e a receptação ‘qualificada’ em decorrência do exercício de atividade comercial ou industrial, (art. 180, § 1º) pois somente pode ser praticado por quem é comerciante ou industrial no exercício de tal atividade.
Observe-se que os crimes próprios dividem ainda em puros e impuros. No primeiro caso, a ausência da condição imposta pelo tipo penal leva à “atipicidade” do fato. Ex: prevaricação (art. 319), pois, excluída a elementar “funcionário público”, não subsiste crime algum; enquanto no segundo caso, a exclusão da especial posição do sujeito ativo acarreta na “desclassificação” para outro delito, subsistindo como se fosse outro crime. Ex: peculato ‘doloso’, pois afastando-se a elementar “funcionário público”, o fato passará a constituir crime de furto ou apropriação indébita (art. 168), conforme o caso.
Atente-se ainda que, nos casos que envolvem o funcionário público, fala-se ainda em crimes próprios com estrutura inversa, pois é uma classificação muito próxima a estes crimes praticados por funcionários públicos contra a administração pública em geral (também ditos crimes funcionais), pois exigem ainda uma ‘qualificação subjetiva’ pois dependerá do fato de que o sujeito ativo esteja exercitando sua atividade no momento da prática do fato (esteja no ‘exercício’ da mesma atividade).
Entenda-se então o seguinte...
Crimes funcionais ou delicta in officio: são aqueles cujo tipo penal exige seja o autor ‘funcionário público’. Também dividem-se em próprios e impróprios: os primeiros são aqueles em que a condição de funcionário público, no tocante ao sujeito ativo, é “indispensável” à tipicidade do fato. A ausência desta condição conduz à atipicidade absoluta, tal como ocorre na corrupção passiva e na prevaricação (arts. 317 e 319, respectivamente); os últimos são aqueles que ausente a qualidade funcional, opera-se uma desclassificação para outro delito. Ex: no peculato-furto (art. 312, §1º) se desaparecer a condição de funcionário público no tocante ao autor, ainda assim subsistirá o crime comum de furto (art. 155). 
Existem ainda os crimes bipróprios, ou seja, delitos que exigem uma particular condição (fática ou jurídica) no tocante, tanto ao sujeito ativo e ao sujeito passivo. Ex: infanticídio (art. 123), que somente pode ser praticado pela mãe contra o próprio filho nascente ou recém-nascido. 
Obs.: atente-se que o crime de estupro, na redação anterior do CPB, era um crime bipróprio, pois somente podia ser praticado por “homem contra mulher”; entretanto, após a entrada em vigor da Lei 12.015/2009 – Novos Crimes contra a Dignidade Sexual , passou a ser delito “comum”, pois qualquer pessoa (homem ou mulher) pode figurar como seu sujeito ativo ou passivo.
Crimes de mão própria, de atuação pessoal ou conduta infungível: 
São aqueles que somente podem ser praticados pela pessoa expressamente indicada no tipo penal. Ex: falso testemunho (art. 342), por isso que em tais crimes não se admite coautoria, mas somente participação, eis que a lei não permite delegar a execução do crime a terceira pessoa.
No caso do falso testemunho (art. 342), v.g., o advogado do réu pode induzir, instigar ou auxiliar a testemunha a faltar com a verdade, mas jamais poderá, em juízo, substituí-lo e mentir em seu lugar.
Obs.: Há uma exceção a esta regra, à partir da reforma legal do tipo penal previsto no art. 342 (Lei n. 10.268/2001) consistente no ‘acréscimo’ do crime de falsa perícia, previsto no mesmo artigo, praticado em concurso por dois ou mais peritos, contadores, tradutores ou intérpretes. Assim trata-se de um crime de mão própria cometido em coautoria.
Crimes materiais, formais e de mera conduta.
Esta divisão diz respeito à relação entre a conduta e o resultado naturalístico, compreendido como modificação do mundo exterior (modificação da realidade), provocada pela conduta do agente.
Crimes materiais ou causais: 
São aqueles em que o tipo penal aloja em seu interior uma conduta e um resultado naturalístico (real, concreto), sendo a ocorrência deste último necessária para a consumação. Ex: homicídio (art. 121 e segs.) onde a conduta é matar alguém, e resultado naturalístico por isso ocorre com o falecimento da vítima (resultado efetivo modificador da realidade), operando-se com ele a consumação do crime.
Crimes formais, de consumação antecipada, de resultado antecipado ou cortado:
São aqueles nos quais o tipo penal contém em seu interior uma conduta e um resultado naturalístico, mas este último é “desnecessário” para a sua consumação (embora esteja ‘previsto’...). Em síntese, malgrado possa se produzir o resultado naturalístico, o crime estará consumado com mera “prática” da conduta. 
Ex: no crime de extorsão mediante sequestro (art. 159), basta a “privação” da liberdade da vítima com o objetivo de “obter futura vantagem patrimonial indevida” como condição ou preço do resgate. Então, mesmo que tal vantagem (embora prevista em lei no tipo penal) não seja obtida pelo agente, o crime estará consumado com a realização da conduta. 
Veja-se outros exemplos: Na injúria (art. 140), a pessoa contra quem foi dirigida a ofensa pode considerar-se de logo menosprezada, não se exigindo, contudo, que isso seja passível de comprovação (principalmente pelo dano íntimo), pois basta que as palavras proferidas tenham potencialidade para violar a honra subjetiva da vítima, isto é, o sentimento de dignidade e o decoro que a pessoa tem em respeito a si própria, seu amor próprio ou consideração social. Já no crime de ameaça (art. 147), a vítima pode até sentir-se amedrontada com a promessa de mal injusto e grave, mas isso não é necessário para a consumação deste crime. 
Situações jurídicas como tais já foram, inclusive, mais elucidadas, como se dá no crime de extorsão (art. 158), nos exatos moldes da Súmula 96 – STJ: “o crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”.
Crimes de mera conduta ou de simples atividade:
São aqueles em que o tipo penal se limita a “descrever” a conduta, ou seja, “não contém nenhum resultado naturalístico”, razão pela qual ele jamais necessitará ser verificado, como no caso do crime de ato obsceno (art. 233). Na definição de Manoel Pedro Pimentel: “Crime de mera conduta é aquele em que a ação ou a omissão bastam para constituir o elemento material (objetivo) da figura típica penal”. 
Obs.: Por isso que em algumas situações, é comum confundir-se os crimes “formais” com os de “mera conduta”, tornando-se quase desnecessária tal diferença! Paulo José da Costa Jr. alerta que tal distinção é mais confusa do que esclarecedora, buscando sintetizar os conceitos de crime formal e mera conduta em um mesmo entendimento: “A lesão ao bem jurídico se dá com a mera conduta do agente, não se exigindo para sua consumação a verificação de nenhum dano porventura previsto no tipo. A impaciência do legislador fê-lo antecipar o momento consumativo do crime, dispensando a verificação do resultado, contentando-se apenas com a prática da conduta descrita no tipo penal. Ex: perigo de contágio venéreo (art. 130)”. 
Crimes instantâneos, permanentes, de efeitos permanentes e a prazo.
A classificação se refere ao momento em que o crime se consuma.
Crimes instantâneos ou de estado:
São aqueles cuja consumação se verifica em um momento determinado, sem “continuidade ou prolongamento” no tempo. Ex: furto (art. 155), homicídio (art. 121 e segs.).
Crimes permanentes:
São aqueles cuja consumação se “prolonga” no tempo, por vontade do agente. O ordenamento jurídico é agredido reiteradamente, razão pela qual a prisão em flagrante é cabível a qualquer momento, enquanto perdurar a situação de ilicitude. 
Ademais, os crimes permanentes se subdividem em:
Necessariamente permanentes: são aqueles que para a consumação é imprescindível à manutenção da situação contrária ao Direito por tempo juridicamente relevante. Ex: sequestro (art.148);
Eventualmente permanentes: em regra são crimes instantâneos, mas, no caso concreto, a situação de ilicitude pode ser “prorrogada” no tempo pela vontade do agente. Ex: furto de ‘energia elétrica’ (art. 155, §3º). 
Obs.: Aliás como já houvera decidido o STJ, em interpretação elucidativa perante à Lei 11.343/2006 – Lei Antidrogas: “O delito de tráfico de entorpecentes consuma-se com a prática de qualquer uma das dezoito (18) ações identificadas no núcleo do tipo, todas de natureza permanente que, quando preexistentes à atuação policial, legitimam a prisão em flagrante, sem que se possa falar em flagrante forjado ou preparado”. Mesmo tratamento legal deve-se dar ao crime de redução à condição análoga de escravo (art.149).
Crimes instantâneos de efeitos permanentes:
São aqueles cujos efeitos subsistem após a consumação, independente da vontade do agente, tal como no crime de bigamia (art.235).
Crimes a prazo:
São aqueles cuja consumação exige a fluência de determinado período. É o caso da lesão corporal de natureza grave em decorrência da incapacidade para ocupações habituais “por mais de 30 dias” (art. 129, § 1º, I); do sequestro em que a privação da liberdade dura “mais de 15 dias” (art. 148, § 1º, III) e apropriação de coisa achada (art. 169, II).
Crimes unissubjetivos, plurissubjetivos e eventualmente coletivos.
Tais crimes dizem respeito ao “número de agentes” envolvidos com a conduta criminosa.
Crimes unissubjetivos, unilaterais, monossubjetivos ou de concurso “eventual”:
São praticados por um (01) único agente, mas admitem, entretanto, a atuação de outros, em concurso de pessoas. A maioria dos crimes previstos em nossa legislação penal, são passíveis desta classificação!
Crimes plurissubjetivos, plurilaterais ou de concurso “necessário”:
São aqueles em que o tipo penal “exige” a pluralidade de (mais de um) agentes, com específica “previsão” no texto legal que podem ser coautores ou partícipes, imputáveis ou não, conhecidos ou desconhecidos, e inclusive pessoas em relação às quais já foi extinta a punibilidade. 
Subdividem-se em:
Crimes bilaterais ou de encontro: o tipo penal “exige” dois (02) agentes cujas condutas tendem a se encontrar. É o caso da bigamia (art.235).
Crimes coletivos ou de convergência: o tipo penal reclama a existência de três ou mais agentes.
À título de exemplos, podem ser:
De condutas contrapostas: os agentes devem atuar uns contra os outros. Ex: rixa (art.137);
De condutas paralelas: os agentes se auxiliam, mutuamente, com o objetivo de produzirem o mesmo resultado. Ex: associação criminosa (art. 288).
  Obs.: não se deve confundir os crimes plurissubjetivos com os de “participação necessária”, pois estes podem ser praticados por uma (01) única pessoa, nada obstante o tipo penal reclame a participação necessária de outra pessoa, que atua como “sujeito passivo” e, por esse motivo, não é punido. Ex: rufianismo (art.230).
Crimes de subjetividade passiva única e de dupla subjetividade passiva.
Esta classificação se relaciona com o número de vítimas.
Crimes de subjetividade passiva única:
São aqueles em que consta no tipo penal uma única (01) vítima. Ex: Lesão Corporal (art.129).
Crimes
de dupla subjetividade passiva:
São aqueles em que o tipo penal prevê a existência de duas ou mais vítimas, tal como se dá no aborto sem consentimento da gestante, em que se ofendem a gestante e o feto (art. 125) e na violação de correspondência, na qual são vítimas o remetente e o destinatário (art. 151).
Crimes de dano e de perigo.
Essa classificação se refere ao grau de intensidade do resultado almejado pelo agente como consequência da prática da conduta.
Crimes de dano ou de lesão:
 São aqueles cuja consumação somente se produz com a efetiva lesão do bem jurídico. Ex: dano (art. 163), assim como, homicídio (art.121) e lesão corporal (art.129) dentre muitos outros previstos em nossa legislação.
Crimes de perigo:
São aqueles que se consumam com a mera exposição do bem jurídico penalmente protegido a uma “situação de perigo”, ou seja, basta a “probabilidade de dano”. Subdividem-se em:
 Crimes de perigo abstrato, presumido ou de simples desobediência: consumam-se com a “prática” da conduta, no instante de sua ocorrência, automaticamente. Por isso, não se exige a comprovação da produção da “situação” de perigo/risco. Ao contrário, há “presunção absoluta” (iuris et de iure) de que determinadas condutas acarretam perigo a bens jurídicos. É o caso do tráfico de drogas (Lei 11.343/2006, art. 33, caput).
Crimes de perigo concreto: consumam-se com a efetiva comprovação, no caso concreto, da ocorrência da situação de perigo “real/efetivo”. Ex: perigo para a vida ou a saúde de outrem (art. 132).
Podem ser ainda:
Crimes de perigo individual: atingem uma pessoa ou um número determinado de pessoas, tal como no perigo de contágio de moléstia grave (art. 131).
Crimes de perigo comum ou coletivo: atingem um número indeterminado de pessoas, como no caso da explosão criminosa (art. 251).
Crimes de perigo atual, imediato: o perigo está ocorrendo, como no abandono de incapaz (art. 133).
Crimes de perigo iminente, futuro ou mediato: a situação de perigo está prestes a ocorrer, embora ainda se projetando no futuro, como no porte ilegal de arma de fogo de uso permitido ou restrito (lei 10.826/2003, arts. 14 e 16).
Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes.
 Dizem respeito ao número de “atos executórios” que integram a conduta criminosa.
  Crimes unissubsistentes:
 São aqueles cuja conduta se revela mediante um (01) único ato de execução capaz de por si só produzir a consumação, tal como nos crimes contra a honra (calúnia, difamação ou injúria) praticados com o emprego de meio oral. E mais: não admitem a tentativa, pois a conduta não pode ser fracionada, pois uma vez realizada, acarreta automaticamente sua consumação.
Crimes plurissubsistentes: 
 São aqueles cuja conduta se exterioriza por meio de dois ou mais atos, os quais devem somar-se para produzir a consumação. É o caso do crime de homicídio praticado através de diversos golpes de arma branca (faca, punhal etc.). Aqui é possível a tentativa, justamente em virtude da ‘pluralidade’ de atos executórios.
 Pela dinâmica ‘descritiva’ da maioria dos crimes com previsão em nosso Código Penal, é bastante comum a existência de tais condutas criminais, engendradas e praticadas pelos sujeitos ativos.
Crimes comissivos, omissivos e de conduta mista.
A divisão se relaciona à “forma” pela qual é praticada a conduta criminosa.
Crimes comissivos ou de ação:
 São os praticados mediante uma conduta positiva, um ‘fazer’, tal como se dá no roubo (art. 157). A rigor, o agente faz o que “não deve” (fecit quod non debetur). À rigor, também nesta categoria se enquadra a maioria dos crimes.
No entanto temos as exceções:
Crimes omissivos ou de omissão:
São cometidos por meio de uma conduta negativa, de um ‘não fazer’ ou ‘inação’. Subdividem-se em:
 Crimes omissivos próprios ou puros: a omissão está contida (descrita) no próprio tipo penal, ou seja, a descrição do comportamento criminoso prevê a realização do delito por meio de uma conduta negativa estando por isso prevista no fato legalmente narrado. 
E Atenção: aqui não existe uma obrigação ‘específica’ de um ‘dever jurídico de agir’, pois caberia a todos atuarem conforme a lei, podendo por isso, o crime pode ser praticado por “qualquer pessoa” que se encontre na posição indicada pelo tipo penal. É um “dever genérico de solidariedade humana” e, portanto o omitente não responde pelo resultado naturalístico eventualmente produzido, mas “somente pela sua própria omissão” simples ou agravada. Ex: omissão de socorro (art. 135).
Tanto que em tais crimes são também classificados como “unissubsistentes”, isto é, a conduta é composta de um único ato e dessa forma, pois , ou o agente presta assistência direta ou indireta (pedir socorro da autoridade pública) e não haverá crime, ou deixa de prestá-la, e o crime estará consumado. Assim, também são crimes de mera conduta que por esta decorrência não admitem forma tentada.
Crimes omissivos impróprios, espúrios ou comissivos por omissão: aqui o tipo penal aloja em sua descrição uma ação, uma conduta positiva, mas a omissão do agente, que descumpre seu ‘dever específico de agir’ (art. 13, §2º), acarreta a produção do resultado naturalístico e sua consequente responsabilização penal. Portanto, atenção: as hipóteses de dever jurídico ‘específico’ de agir foram previstas no dispositivo legal acima citado como decorrentes: (a) um dever legal; (b) uma posição de garantidor; e (c) de uma obrigação ingerência. 
Ex: o crime de homicídio foi tipificado por uma conduta positiva – matar alguém. Pergunta-se: é possível praticar um homicídio por omissão? Depende: se presente o dever jurídico de agir, a resposta é “positiva”. Não se admite, contudo, se o agente não se encontrar em tal posição jurídica. Assim, uma mãe pode matar o próprio de tenra idade, seja ministrando-lhe veneno (conduta ativa), seja deixando de alimentá-lo dolosamente, ceifando-lhe a vida por inanição (conduta negativa). Neste último caso, que nos interessa o agente “fez não fazendo”, como quando a mãe mata seu filho “não” amamentando! 
Atenção: note-se que tais crimes também cabem na categoria de “próprios”, uma vez que somente podem ser cometidos por quem possui tal dever jurídico específico de agir. E mais: são ainda crimes materiais, pois o advento do resultado naturalístico é imprescindível à consumação do delito, admitindo, por isso, tentativa.
Crimes de forma livre e de forma vinculada.
Essa divisão se relaciona ao “modo” de execução admitido pelo crime:
Crimes de forma livre: são aqueles que admitem qualquer meio de execução. É o caso da ameaça (art. 147), que pode ser cometida com emprego de gestos, palavras, escritos ou meio simbólico.
Crimes de forma vinculada: são aqueles que apenas podem ser executados pelos meios indicados no tipo penal. É o caso do crime de perigo de contágio venéreo (art. 130) que somente admite a prática mediante relações sexuais ou atos libidinosos.
Crimes mono-ofensivos e pluriofensivos.
 Essa divisão é atinente ao número de bens jurídicos atingidos pela conduta criminosa, e guarda íntima relação com a estrutura do crime (crimes simples ou complexos). Assim são:
 Crimes mono-ofensivos: são aqueles que ofendem um único bem jurídico como no caso do furto (art. 155), que viola unicamente o patrimônio da vítima. Aqui o crime é dito ‘simples’ em sua estrutura, pois há um único tipo penal compondo o delito.
Crimes pluriofensivos: são aqueles que atingem dois ou mais bens jurídicos, tal como o latrocínio (art. 157, §3º - roubo seguido de morte) que afeta a vida e também o patrimônio da vítima. Já aqui, este crime é integrado por vários tipos penais, onde os crimes-membros perdem a sua individualidade, para constituírem um novo tipo penal (tertium genus), autônomo e independente.
  Crimes principais e acessórios.
 Esta classificação refere-se à existência autônoma ou não do crime.
Crimes principais: são os que possuem existência por si mesmo, ou seja, autônoma e independentemente da prática de um crime “anterior”. Ex: estupro (art.213).
Crimes acessórios, de fusão ou parasitários: são os que “dependem” da prática de um crime ‘anterior’, somente existindo a partir da prática destes. Ex: receptação (art. 180), que dependerá de um crime patrimonial como a apropriação indébita (art.168) e os crimes de favorecimento pessoal ou real (arts. 348 e 349).
Crimes transeuntes e não transeuntes.
 Essa divisão se relaciona à necessidade ou não de elaboração de exame de corpo de delito para atuar como prova da existência do crime.
 Crimes transeuntes ou de fato transitório: são aqueles que não deixam vestígios ‘materiais’, como no caso dos crimes praticados verbalmente (tais como em alguns variações do desacato – art. 331 e da honra – difamação – 139).
Crimes não transeuntes ou de fato permanente: são aqueles que deixam vestígios materiais, tais como homicídio (art. 121) ou lesões corporais (art. 129). Assim, nestes crimes, a falta de exame de corpo de delito leva à nulidade da ação penal, enquanto não se realiza a perícia (art. 158 c/c 564, III, “b” – CPP).
 
Crimes independentes e conexos.
 A classificação se importa com o vínculo existente entre dois ou mais crimes.
 Crimes independentes: são aqueles que não apresentam nenhuma ligação com outros crimes, existindo de per si, individualmente.
 Crimes conexos: sãos os que estão interligados entre si, um crime juntamente com outro. Essa conexão pode ser penal ou processual penal. É a “conexão material ou penal”, que nos interessa. Vejamos as modalidades:
Teleológica ou ideológica: o crime é praticado para assegurar a “execução” (objetivo) de outro delito. Ex: matar o segurança particular (homicídio – art. 121, § 2º, V) visando sequestrar (sequestro – 148 ou até extorsão mediante sequestro – art. 159) um empresário.
Consequencial ou causal: o crime é cometido para assegurar a ‘ocultação’, ‘impunidade’ ou ‘vantagem’ de outro delito. Ex: matar uma testemunha (homicídio – art. 121, § 2º, V) para manter impune um delito de furto (art. 155). Atenção: essa duas espécies de conexão têm previsão legal e funcionam como qualificadoras no crime de homicídio (art. 121, § 2º, V) e como agravantes genéricas nos demais crimes (art. 61, II, “b”).
Ocasional: o crime é praticado como consequência da situação ou ocasião, da oportunidade proporcionada pela prática de outro delito. Ex: um ladrão, após praticar o roubo (art. 157), decide estuprar (art. 213) a vítima que estava no interior da loja assaltada. O agente responde por ambos os crimes, em concurso material.
Ao fim de nosso tema, algumas classificações esparsas...
Crime continuado: é aquele que embora exista uma unidade normativa fictícia (adequação legal ao mesmo tipo penal), em verdade há uma pluralidade de condutas e de momentos consumativos. No entanto, para nossa legislação, em razão de uma razoável ficção jurídica, apresenta-se como um só, com base no fato de serem os crimes praticados da “mesma espécie” e pelas condições de “tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes”, deverem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro (art. 71). A rigor, gramaticalmente falando, o crime “continuado” é o crime “repetido”, assim como um crime “permanente” é um crime “continuado”. Ex: caixa de supermercado que ao fim de seu expediente de trabalho, repetidamente ‘furta’ do patrimônio de seu patrão, nas condições acima elencadas.
Crime habitual: é o que somente se consuma com a prática “reiterada e uniforme” de vários atos que revelam um “estilo de vida” do criminoso. Atenção: Aqui, cada ato isoladamente considerado, é atípico, pois se típico fosse, restaria configurado o crime ‘continuado’ acima visto. Ex: exercício ilegal da medicina (art. 282) e curandeirismo (art. 284). E mais: este crime pode ter a denominação de ‘crime profissional’ quando cometido com ‘finalidade lucrativa’. Ex: rufianismo (art. 230).
Crime remetido: é o que se verifica quando sua definição típica se reporta a outro crime, que passa a integrá-lo, como no ‘uso de documento falso’ – art. 304 que se refere aos crimes previstos nos arts. 297 a 302.

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