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APOSTILA Dirt Civil

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TEORIA GERAL DO DIREITO PRIVADO
(Material de apoio de orientação de aula. É aconselhável a leitura da doutrina especializada. Esse material não supre a leitura básica)
Profª:Simone Flores
DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
1.QUADRO SINÓTICO:
2. INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO:
		Invalidade é a sanção imposta pela norma jurídica, aos atos e negócios jurídicos praticados em contrariedade à lei, privando-os de efeitos jurídicos. São duas as espécies de invalidades: nulidade (absoluta) e anulabilidade (nulidade relativa). A nulidade impede que o negócio jurídico gere qualquer efeito, é como se ele nunca tivesse existido; a anulabilidade permite que o ato jurídico gere efeitos, se não for requerida a sua anulação ou se ele for convalidado. 
2.1 Hipóteses de nulidade: ART. 166 E 167 CC. A lei que diz.
Art. 166, I: Art. 3º Cc;
Art. 166, II; já vimos;
III- motivo ilícito comum a ambas as partes;
IV e V- forma prescrita em lei. Ex: compra e venda sem escritura pública, testamento...
VI – EX: art. 1641, II CC
VII- EX: art. 1521CC.
2.2 – Simulação: Art. 167Cc: Consiste na declaração enganosa da verdade, visando a produzir efeitos jurídico diverso do ostensivamente indicado. Como o erro, traduz uma inverdade. Há um desacordo entre a vontade intencionada e a declarada, no sentido de criar um fato que não existe ou de ocultar um que realmente exista.
 		Características: É sempre ajustada com a outra parte, em geral, o que verdadeiramente caracteriza a simulação é que ambas as partes têm conhecimento da simulação, nenhuma delas é iludida, uma e outra têm conhecimento da burla, que é feita para ludibriar terceiro. Configura uma declaração bilateral de vontade- conluio entre as partes; as partes disfarçam sua real intenção; tem o objetivo de prejudicar terceiros. 
 		Exemplos: a) doação de um bem, por um homem casado à sua amante, realizada por meio de compra e venda simulada – art. 550 CC; b) doação de um bem a descendente, sem o consentimento dos demais filhos, em que há uma simulação de venda a um terceiro, e este, posteriormente, passa para o filho – art. 496 Cc; c) um marido que, na iminência de uma separação judicial, vende (simuladamente) os bens ou forja dívidas, para não ter que partilhar judicialmente com a esposa.
 		Art. 167§2º CC- preservação dos direitos de terceiros de boa-fé que não participaram ou não tinham conhecimento da simulação. Ex: de 3º de boa-fé com ato dissimulado.:” Caio quer que uma obra de arte de sua coleção chegue às mãos de seu filho, Rui, mas não quer que isso configure adiantamento da legítima. Por essa razão, sonda Pontes, negociador de arte que vive em outra cidade, anunciando a venda. Concomitantemente, Rui se apresenta a Pontes e se diz interessado em adquirir a peça, sem que Pontes saiba da relação entre Caio e Rui. Pontes adquire a obra de arte de Caio,por saber que já há alguém interessado em comprá-lo. Afinal é da essência da atividade do negociador de arte adquirir peças para revendê-las a seus clientes. Rui, então, adquire o bem de Pontes, com dinheiro que Caio lhe dá, sem que ninguém tome conhecimento do fato. Nesse caso, embora a simulação se configure (Caio e Rui agiram com a intenção de simular e com a finalidade de enganar), Pontes é terceiro de boa-fé. Seus direitos são protegidos, pois não agiu com intenção maliciosa. A compra e venda da peça, por conseguinte, subsistirá, mas a doação dissimulada de Caio a Rui configurará o adiantamento da legítima.
 		Ainda haverá simulação – art. Art. 167§1º Cc- 
Ex: homem que finge vender bem a terceiro, quando na verdade é para sua concubina;
Ex: contrato de compra e venda de um bem em que se diminui o valor real deste;
Ex: contrato com uma determinada data mas realizado em outra, anterior ou posterior.
2.4 – CONVERSÃO SUBSTANCIAL DO NEGÓCIO JURÍDICO NULO:
 		Art. 170 CC- decorre do princípio da conservação. Ex: a lei exige para a compra e venda de um imóvel a utilização da escritura pública. Se for feito o negócio por instrumento particular, será nula a compra e venda por inobservância à forma, mas nada impede que seja convertido naquele que talvez as partes quisessem ter praticado,ou seja, o compromisso de compra e venda. Ex: é a duplicata que não obedece aos requisitos legais e que equivale à confissão de dívida. Ex: pacto antenupcial – escritura pública – inst. particular – contrato de convivência.
2.5- HIPÓTESES DE ANULABILIDADE: a lei que diz.
ART. 171 cc ,I : art. 4ªCc- Assistência.
 II- DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS.
Obs:1) o CC estabelece prazo decadencial de 4 anos para a anulação do negócio jurídico realizado de maneira viciosa, - art. 178 Cc
		Em outras hipóteses às quais a lei não prevê prazo para a anulação, este será de 2 anos a contar da data de conclusão do ato.
Obs; 2) art. 180 CC- menor: o negócio jurídico praticado pelo relativamente incapaz é anulável, mas, se houver malícia de sua parte, não se poderá impugnar sua validade. Trata-se de regra que decorre da incompatibilidade ética entre agir de um modo e depois buscar se valer exatamente deste agir – é a proibição ao chamado venire contra factum proprium.
2.6- PRINCIPAIS DIFERNÇAS ENTRE O ATO NULO E ANULÁVEL:
 a) Quanto ao interesse tutelado pela norma violada: na nulidade, a norma violada, quando da celebração do negócio buscava preservar o interesse público da coletividade; na anulabilidade, o que se buscava proteger pela norma ofendida era o interesse privado, individual, particular do prejudicado;
b) Quanto à legitimidade para a alegação e quanto à possibilidade de reconhecimento de ofício pelo juiz – exatamente em razão do tipo de interesse violado, a nulidade pode ser alegada por qualquer interessado, pelo M.P. quando houver intervenção sua, e pode ser reconhecida de ofício pelo juiz quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e a encontrar provada – art. 168,§ único Cc ; a anulabilidade só pode ser alegada pelos interessados e não pode ser conhecida de ofício e, além disso só aproveita aos que a alegarem....art. 177, p. final Cc
c) Quanto à possibilidade de confirmação: o negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação – art. 169, 1 parte Cc; o negócio anulável pode ser confirmado pelas partes,salvo direito de terceiros –a RT, 172 CC. Aliás a confirmação pode ser expressa – art. 173 ou tácita –a RT. 174 CC. Então, o ato nulo não é suscetível de convalidação nem pelo decurso do tempo (nem se as partes quiserem, pode o juiz supri-lo). EX: Pontes, simulou a doação de sua casa a Rui, dando ao ato a aparência de uma compra e venda. Muito tempo depois, quando Rui vende a referida casa a Clóvis, o negócio acaba sendo objeto de ação judicial, por uma razão qualquer. Examinando detidamente os autos e os docs. Juntados pelas partes, o juiz verifica a ocorrência da simulação, e declara a nulidade daquele ato anterior. É seu dever e não poderia deixar de fazê-lo, nem a requerimento das partes. O ato não produz efeito. Não se trata de um defeito leve, ensejador de anulabilidade,porque interessa as partes, as quais podem convalidá-lo. Cuida-se de defeito grave, que interessa à ordem jurídica, a que não tolera. 
Obs: Existem duas situações em que o ato nulo convalesce no Direito:
1ª) art. 1859 Cc- testamento – 5 anos.Mesmo eivado de vício de nulidade.
2ª) Processo civil – ação rescisória – 2 anos – sanação geral das nulidades. O vício não poderá ser mais alegado.
e) Quanto à produção de efeitos e eficácia da sentença: a nulidade do negócio jurídico opera de pleno direito e, por isso, o negócio não produz nenhum efeito, outros pode ser verificados – direitos aos frutos – boa-fé. A sentença que reconhece a nulidade é declaratória e tem efeitos ex tunc, ou seja, retroativos. A anulabilidade não tem efeito antes de ser julgada por sentença. Logo, o negócio gera todos os efeitos próprios até seu reconhecimento – art. 177 1 p. A sentença que decreta a anulabilidade tem natureza desconstitutiva e por isso eficácia ex nunc, não retroativo, permanecendo válidos e eficazes os atos praticadosanteriormente a anulabilidade, conforme entendimento tradicional em nossa doutrina.
Corrente – Zeno Veloso,pex, art 182 Cc – não há diferença. Em ambos os casos serão retroativos os efeitos da sentença e serão apagados todos os efeitos gerados pelo negócio.
Obs: em matéria de matrimônio o regime é muito específico e tem suas peculiaridades.
		
Exercícios:
1ª) Compete ao Ministério Público, quando intervir num processo, alegar;
A anulabilidade de uma escritura de venda de imóvel, quando constatar que dela participou,s em a devida assistência, vendedor de 17 anos de idade, solteiro , estudante;
A anulabilidade de um negócio jurídico feito porque uma das partes teve o seu consentimento viciado por erro.
A anulabilidade de uma escritura de compra e venda de imóvel realizada em decorrência de o vendedor ter sido enganado por ato doloso do comprador;
A nulidade de uma escritura de compra e venda de um lote de terreno de um menor de 13 anos de idade, sem a devida representação legal;
O Ministério Público nunca deve intervir no processo, mesmo no caso de nulidade.
2ª) Assinale a alternativa correta nas questões abaixo, de acordo com a incapacidade relativa do agente e defeitos do negócio jurídico: 
Por serem nulidades absolutas, podem ser pronunciadas de ofício; 
Só os interessados podem-nas alegar;
Por serem nulidades absolutas, podem ser pronunciadas de ofício pelo juiz, mesmo sem provocação das partes;
Por serem nulidades relativas, podem ser pronunciadas pelo juiz de ofício;
Por serem nulidades absolutas, podem ser pronunciadas de ofício pelo juiz.
3ª) A doação feita a nascituro:
É válida, mas ineficaz;
É válida, transmitindo-se desde logo a propriedade do bem doado;
Fica sujeita a termo;
Fica sujeita a condição suspensiva;
Fica sujeita a condição resolutiva
4ª) Assinale a alternativa correta:
É da essência do ato, na aquisição de imóvel rural por pessoa física ou jurídica, a escritura, seja pública, seja particular;
É nulo o ato jurídico por vício decorrente de coação ou erro;
Os direitos personalíssimos são alienáveis e imprescritíveis;
Para a realização dos negócios jurídicos, em regra, não há forma especial, salvo quando a lei assim determinar;
São bens móveis os direitos reais sobre imóveis e as ações correspondentes.
5ª) Quando o objeto do negócio jurídico for impossível, diz que o ato é:
Nulo;
Anulável;
Ratificável;
Discricionário;
6ª) Os bens móveis destinados à alienação; e aqueles que não podem substituir-se por outro da mesma espécie, quantidade e qualidade, classificam-se, respectivamente, como:
Principais e indivisíveis;
Coletivos e acessórios;
Divisíveis e singulares;
Consumíveis e infungíveis;
Singulares e fungíveis.
DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
INTRODUÇÃO:
 		Conforme visto, ensejam a anulabilidade do ato jurídico a incapacidade relativa de um dos sujeitos – art. 171, I Cc ou qualquer dos defeitos do ato considerados leves – art. 171 –II Cc- ERRO, DOLO, COAÇÃO, ESTADO DE PERIGO, LESÃO E FRAUDE CONTRA CREDORES. (Simulação – nulidade).
		Prazos prescricionais – art. 178 Cc
2- ERRO: ideia falsa da realidade que leva o sujeito a manifestar sua vontade em sentido diverso daquele em que manifestaria se conhecesse a verdadeira realidade. É um engano espontâneo: o sujeito é levado a praticar o ato por acreditar em algo que acaba por não ser a verdade. É a noção inexata, não verdadeira, sobre alguma coisa, objeto ou pessoa, que influencie a formação da vontade. É a falsa noção sobre algo. O código civil equiparou, quanto aos efeitos, o erro à ignorância. Contudo, enquanto o erro é a falsa noção da realidade, a ignorância é o total desconhecimento desta. Além, adota como critério a pessoa de diligência normal, ou seja, aquela de normal inteligência.
 		O erro só anula o ato se influir na vontade do declarante, se este emite sua vontade de modo diverso do que manifestaria se tivesse conhecimento exato ou completo. Ou seja: só o erro essencial torna o ato anulável. Essencial é o erro substancial, de razão plausível, relevante, aquele em que qualquer pessoa de razoável inteligência incorreria. Erro substancial– elementos essenciais.
		O erro acidental, qual não invalida o ato jurídico, consubstancia-se na indicação errada da pessoa ou coisa, desde que , pelo contexto ou pelas circunstâncias, seja possível indicar quem ou o que se queria indicar – art. 142 CC. Ex: um contrato celebrado por Maria Silva Santos, cuja qualificação tem um único defeito: inverteu os sobrenomes, designando-a de Maria Santos Silva. Ora, esse erro nenhum grande mal trará ao contrato. Ante a qualificação de resto correta, não haverá dúvida de que a contratante é Maria Silva Santos. Ex: ano do carro- 2014- comprou por 2013/1014.
		Há erro essencial quando:
Erro que interessa à natureza do negócio: o agente pensa estar realizando um ato, mas pratica outro. Algumas figuras contratuais têm traços semelhantes, razão pela qual é possível esse tipo de confusão. Ex: o sujeito doa um bem, pensando que o está vendendo; empréstimo/doação... Error in negotio: neste tipo de falsa representação intelectual diz respeito à natureza do negocio jurídico celebrado. Pensa o agente que o imóvel lhe está sendo entregue a titulo de comodato e na realidade se trata de contrato de locação.
Atingir o objeto principal do negócio: o objeto não é o pretendido pelo agente. Ex: vende o bem “A’ quando pensa estar vendendo o bem “B”; pensa estar adquirindo um quadro de um pintor famoso, quando na verdade, é de outro pintor; pensa estar adquirindo um terreno a 50 metros do mar, quando ele está situado noutro lugar, bem mais distante. )  Error in corpore: o dissenso entre a vontade real e a declarada refere-se à identidade do objeto do negócio, como no caso de que se declara que quer comprar o animal que está diante de si, mas acaba levando outro, trocado
Incidir sobre as qualidades essenciais do objeto: pensa o agente em adquirir um bem com determinadas qualidades, mas este não as possui. Ex: compra uma pulseira de bijuteria pensando ser de ouro; compra uma máquina usada como se fosse nova; compra um relógio de aço pensando ser de prata; Error in substantia: o agente identifica corretamente a natureza do vinculo estabelecido, bem como o objeto em função do qual se opera o negócio, todavia, desconhece algumas qualidade ou características essenciais, por exemplo: alguém adquire um aparelho televisor na crença de ser LCD, verificando se tratar de TV apenas de Plasma.
Recair sobre as qualidades essenciais ou identidade da pessoa- atinge a identidade física ou moral do agente. Ex: pensa que está se casando com uma pessoa, mas esta é outra; doação de um bem a uma pessoa que pensa que salvou sua vida, mas não o fez; quando reconhece um filho, pensando que é seu, mas não o é. Error in persona: Esta espécie diz respeito à identiddade da pessoa com que o agente pratica o negócio jurídico ou alguma de suas qualidades, por exemplo, A sociedade XY Eletrônica LTDA contrata José latrina pensando se tratar do famoso José latinhas.
3- DOLO: é o emprego de um artifício ou expediente astucioso para induzir alguém à prática de um ato que o prejudica e aproveita o autor do dolo ou a terceiro. Trata-se do erro intencionalmente provocado na vítima pelo autor do dolo, que , de outra maneira, não teria praticado o ato. 
 		O erro deriva de um equívoco da própria vítima, sem que a outra parte tenha concorrido para isso, ao passo que o dolo é intencionalmente provocado, sendo passível de anulação. É, enfim, toda espécie de artifício empregado par enganar alguém. 
Obs: a diferença entre o dolo e o erro é que, neste, a ideia falsa é do próprio agente e, naquele, a ideia falsa é resultante da malícia alheia. Num e noutro caso,a vítima é iludida, mas no erro ela se engana sozinha; já no dolo ela se equivoca, porque induzida pela outra parte. O erro do decorre do engano da própria vítima; o dolo decorre de atuação alheia provocada na vítima.
		O dolo também contém alguns elementos essenciais: a) intenção de induzir o outrosujeito a praticar o ato e com isso prejudicá-lo; gravidade dos artifícios empregados; ter sido a artimanha o motivo determinante da declaração de vontade; ter procedido de um dos sujeitos do ato, ou de terceiro, com o conhecimento dele.
4- COAÇÃO: é a violência psicológica ou física que força o agente a emitir uma declaração de vontade que não emitiria se não temesse sofrer um dano. A coação é a pressão física ou moral exercida sobre a pessoa para obrigá-la a efetivar um negócio jurídico. A física é o constrangimento corporal que retira toda a capacidade do querer, implicando ausência total de consentimento, acarretando a inexistência do ato. Ex: se alguém segurar a mão da vítima, apontando-lhe uma arma, para que esta assine um documento, a coação será física. Se alguém assina um contrato sob efeito de hipnose há absoluta ausência de vontade.
5- Estado de Perigo
5.1) Conceito: Configura o estado de perigo quando alguém premido ela forte necessidade de livrar-se de grave dano à pessoa, realiza negócio jurídico com outrem, sabedor dessa necessidade, em condições excessivamente onerosas. O agente pratica o negócio fortemente influenciado pelas circunstâncias que lhe são adversas. Embora a figura em exame não se confunde com o vício de coação, o declarante expressa a sua vontade sob efeito de forte pressão psicológica. No entanto, no estado de perigo, diferentemente do que ocorre com a coação, o beneficiário não empregou violência psicológica ou ameaça para que o declarante assumisse a obrigação excessivamente onerosa. O perigo de não se salvar-se, não causado pelo favorecido, embora de seu conhecimento, é que determinou a celebração do negócio jurídico prejudicado.
5.2) Requisitos: à vista do disposto do art. 156, do CC, são elementos ou requisitos essenciais à caracterização deste vício do consentimento.
a) Perigo de dano grave e atual: o defeito em questão pressupõe o estado de perigo que se revela quando o agente, membro de sua família ou pessoa de sua ligação, necessita de salvar-se de grave dano, que pode ser atual ou iminente (ex: Ocorre quando alguém para se livrar de forte dor de dente e por falta de opção aceita as condições excessivamente onerosa do cirurgião dentista ou, então, uma pessoa almejando salvar seu filho de doença que necessita de cirurgia urgente promete um milhão de reais ao médico e este aceita sabendo da situação emocional em se encontra o pai).
b) Obrigação excessivamente onerosa: o negócio jurídico há de ser firmado em condições acentuadamente desvantajosas para o agente e apenas justificáveis diante de sua preeminente necessidade. As condições hão de ter sido impostas pelo declarante e de forma abusiva, visando tirar proveito da situação do declarante. AS hipóteses serão outras se as condições impostas pelo declaratário não decorreram da necessidade urgente da parte onerosa. Sendo, assim, a obrigação assumida por aquele e que se encontra em estado de perigo é de dar ou de fazer e a obrigação do outro (contraprestação) será de fazer.
c) Perigo deve ter sido a causa do negócio: Se não houvesse o perigo o não teria sido realizado.
d) Que a parte contrária tenha ciência da situação de perigo e dela se aproveita: O dano possível pode ser físico e moral, ou seja, dizer respeito a integridade À física do agente, À sua honra e a sua liberdade.
5.3) Efeito: Anulação ou nulidade relativa com efeitos ex nunc.
Segundo o Enunciado nº.  148, do III Jornada de Direito Civil realizada no Superior Tribunal de Justiça afirma que o “Art. 156: Ao “estado de perigo” (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2º do art. 157”. Isto significa dizer que o negócio jurídico que foi celebrado em estado de perigo pode sofre a convalidação se houver suplemento suficiente ou se houver redução do proveito alcançado pela parte favorecida.
5.4) Distinção entre Estado de perigo e Coação: No estado de perigo, não ocorre o constrangimento para a prática de um negocio, tal como se dá na coação. Assim, a lesão diferencia-se do estado de perigo porque a causa que originou o negócio é de natureza patrimonial.
6) Lesão:
6.1) Conceito: É vício do negócio jurídico que se caracteriza pela obtenção de um lucro exagerado por se valer uma das partes da inexperiência ou necessidade econômica da outra. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob preeminente necessidade, ou inexperiência, se obriga à prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta, sendo que a avaliação dessa desproporção será feita segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado.
6.2) Requisitos: 
a) Requisito subjetivo: Deve haver uma deficiência, desequilíbrio psicológico de uma das partes proveniente de inexperiência para o negocio ou de sua premente necessidade econômica.
b) Requisito Objetivo: É a manifesta desproporção ente as prestações. Consiste em ofensa à comutatividade dos contratos, pois não há equivalência entre prestações, uma das partes irá experimentar um empobrecimento desproporcional (ex: venda de imóvel por quantia 50% inferior ao valor de mercado para poder quitar divida com instituição financeira. A desproporção entre as prestações deve ser verificada de acordo com os valores vigentes à época do negócio.
O vício é concomitante à formação do contrato, pois se for superveniente À celebração do contrato estaremos perante a teoria do hardship (teoria imprevisão) através da qual se procura manter o equilíbrio econômico e financeiro do negócio (art. 478, do CC).
Segundo o Enunciado nº. 150, do III Jornada de Direito Civil realizada no Superior Tribunal de Justiça afirma que o “Art. 157: A lesão de que trata o art. 157 do Código Civil não exige dolo de aproveitamento”.
6.3) Efeito: Diante das normas prevista no Código Civil se o negocio jurídico estiver viciado com a lesão será, em regra, anulável, ou seja, terá a sua nulidade relativa declarada com efeito ex nunc (art. 171, II). Porém o parágrafo 2º do art. 157 estabelece que “não se decretará a anulação do negócio, se foi oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar coma redução do proveito”.
Sendo, assim, nada impede que as partes venham ratificar o negocio anulável, como deixa claro o parágrafo 2º, art. 172, do CC. O legislador permite que o juiz não decrete a anulação se a parte lesante oferecer suplemento suficiente ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. Trata de solução que procura salvar o negócio jurídico, evitando o enriquecimento ilícito ou sem causa.
Segundo o Enunciado nº. 149, do III Jornada de Direito Civil realizada no Superior Tribunal de Justiça afirma que o “Art. 157: Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, do Código Civil de 2002.”
Segundo o Enunciado nº. 290, do IV Jornada de Direito Civil realizada no Superior Tribunal de Justiça afirma que o “Art. 157. A lesão acarretará a anulação do negócio jurídico quando verificada, na formação deste, a desproporção manifesta entre as prestações assumidas pelas partes, não se presumindo a premente necessidade ou a inexperiência do lesado”
Segundo o Enunciado nº. 291, do IV Jornada de Direito Civil realizada no Superior Tribunal de Justiça afirma que o “Art. 157. Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código Civil, pode o lesionado optar por não pleitear a anulação do negócio jurídico, deduzindo, desde logo, pretensão com vista à revisão judicial do negócio por meio da redução do proveito do lesionador ou do complemento do preço.”
Segundo o Enunciado nº. 292, do IV Jornada de Direito Civil realizada no Superior Tribunal de Justiça afirma que o “Art. 158. Para os efeitos do art. 158, § 2º, a anterioridade do crédito é determinada pela causa que lhe dá origem, independentemente de seu reconhecimento por decisão judicial.”
7) Fraude Contra credores: 
A fraude contra credores é um vício social.7.1) Conceito: É a prática de qualquer negócio jurídico pelo devedor insolvente ou na iminência de o ser, que importe em diminuição de seu patrimônio, coma finalidade de frustrar o direito de seus credores ou represente violação da igualdade dos credores quirografários.
7.2) Requisito: A existência de divida antes da prática do ato negocial, mesmo que ainda não vencidas.
a) Requisitos objetivos ou eventus damini: é o prejuízo que causa aos credores. Não é o simples fato de ser devedor, capaz de congelar o patrimônio do mesmo. O que a lei exige é que o devedor seja insolvente, ou seja, que seu passivo supere o seu ativo de modo que qualquer disposição patrimonial que venha fazer ponha em risco os créditos de seus credores.
b) Requisitos subjetivos, concilum fraudis ou scientia fraudes: é exigido que o adquirente esteja de má-fé ou que tenha ciência da intenção do devedor de prejudicar seus credores. Esse requisito subjetivo é dispensado dos negócios jurídicos gratuitos e de remição de dívidas, casos em que o terceiros mesmo de boa-fé pode perder o bem ou ficar sem validade a remição. Nos demais casos a má-fé será presumida quando a insolvência for notória como nos casos de certidões negativas positivas de inexecução de títulos protestados, ou quando houver motivos para que lê a conheça como em havendo relação de parentesco ou houver comprado bem a preço vil.
Assim, por exemplo, se novo credor (fornecedor), em conluio fraudulento com o devedor (consilium fraudis), emitir nota fiscal de, por exemplo, R$100 mil e, na verdade, entregar apenas o equivalente a R$30 mil. Obviamente que a diferença (R$70 mil) constituir-se-á desvio em prejuízo dos demais credores quirografários.
7.3) Hipóteses legais: Diversas são as hipóteses de configuração do vício ora mencionado, podendo apontar como denominador comum a proteção ao credor face de atos negociais do devedor comprometedores de seu patrimônio e capazes de inviabilizarem a satisfação do crédito.
a) atos de doação e remissão de dívidas. Tais atos são anuláveis desde que o benfeitor, ao praticá-los, já esteja ou fique em estado de insolvência. Este se caracteriza quando o passivo se torna superior ao ativo. Para a configuração do vicio não é necessário qualquer elemento subjetivo, uma vez que os atos de benemerência podem ter sido praticados pelo devedor até com desconhecimento dos riscos criados para os credores.
b) Disposições de bens em atos onerosos. Encontrando-se o devedor em estado de insolvência e sendo está notória ou susceptível de conhecimento por parte de quem com ele venha a praticar o negócio jurídico oneroso, este pode ser anulado por iniciativa de seus credores quirografários. Se a presença do vício nos atos gratuitos dispensa o elemento subjetivo, esse é necessário na modalidade de atos onerosos. O negócio jurídico será passível de anulação, tratando-se de atos onerosos, somente quando a insolvência do devedor for notória ou susceptível de ser conhecida pela outra parte. Realizado o ato negocial, o adquirente de bens do devedor insolvente, se ainda, não tiver pago o preço e a fim de desobrigar-se poderá depositar em juízo o valor correspondente ao negocio citando os credores (art. 160, do CC).
Não se inclui entre os atos negociais passiveis de anulação os indispensáveis ao custeio do lar e à manutenção das atividades empresariais, conforme prevê o art. 164, do CC.
c) Pagamento antecipado de divida. Se algum credor quirografário receber o seu credito do devedor insolvente antes do vencimento será obrigado a reverter em proveito do acervo de bens a ser partilhado no concurso de credores (art. 162, do CC).
 d) Garantia Real. Constituição de garantia pelo devedor insolvente em favor de determinado credor (art. 163, do CC).
7.4) Ação Pauliana ou Revocatória: A ação anulatória de atos praticados em fraude contra credores é denominada revocatória, também chamada de ação pauliana. O prazo para ajuizamento da ação é de quatro anos e é decadencial., contado a partir da data de realização do negocio jurídico que se pretende anular.
Como nos ensina Gonçalves (2008, p.420-421), com fulcro no parágrafo único do art. 106, do CC., Só estão legitimados a ajuizá-la (legitimação ativa) os credores quirografários e que já o eram ao tempo da alienação fraudulenta. (...) Os credores com garantia real não podem ajuizá-la porque já existe um bem determinado, especialmente afetado à solução da dívida, salvo se a garantia se tornar insuficientes a garantia. Cumpre-nos lembrar que, no caso dos credores preferenciais, uma vez verificada a insuficiência do bem dado em garantia para a satisfação do crédito, podem demandar através da ação pauliana.
No que tange a legitimação passiva (art. 109 do CC.) é certo que a ação deve ser intentada não só contra o devedor como também contra aquele que com ele celebrou a estipulação fraudatária, bem como contra terceiros adquirentes que tenham agido de má fé. Ademais, pondera fazer sentido o litisconsórcio necessário passivo na ação pauliana para os que afirmam que a fraude contra credores torna anulável o ato: é que, com a anulação, o próprio ato se desfaz e as partes e bens se restituem ao estado anterior (art. 158 do CC.), o que realmente significa alteração jurídica do alienante e não só do adquirente.
Nesse mesmo sentido, Gonçalves (2008, p.423) nos informa que o litisconsórcio na ação pauliana é obrigatório. Impende salientar, a princípio, que são em número de três os requisitos para a propositura da ação pauliana: a) a anterioridade do crédito; b) o consilium fraudis (má fé) e c) o eventus damni (insolvência do devedor). Não obstante, sustentam alguns doutrinadores que a propositura da ação pauliana dispensa a intenção precisa e determinada de prejudicar (má-fé), bastando a consciência da insolvência para a caracterização da fraude.
No concernente a anterioridade do crédito, um dos requisitos da ação pauliana, "determina-se pela causa que lhe dá origem. Assim, para que um crédito seja considerado anterior ao ato fraudulento, deve surgir antes da realização deste, não se confundindo com a sentença que apenas o reconhece e o declara. Ademais, é inexigível, para a configuração da anterioridade do crédito, que a sentença condenatória transite em julgado, já que em casos de ato ilícito, tal direito surge no momento do ato considerado lesivo que origina a ação de indenização". (Apelação cível n. 96.004883-9, de Santo Amaro da Imperatriz. Relator: Des. Carlos Prudêncio. 02/09/97).
Contudo, o Enunciado nº. 151, do II Jornada de Direito Civil realizada no Superior Tribunal de Justiça afirma que o “Art. 158: O ajuizamento da ação pauliana pelo credor com garantia real (art. 158, § 1o) prescinde de prévio reconhecimento judicial da insuficiência da garantia.

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