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ENERGIA EÓLICA Prof. Selênio Rocha Silva Departamento de Engenharia Elétrica Universidade Federal de Minas Gerais SUMÁRIO 1. Potencial de Energia Eólica 1.1. O Vento 1.2. A Energia Eólica 2. Métodos de Medição dos Ventos e suas Características 2.1. Medidores de Velocidade de Vento 2.2. Erros de Medição de Vento 3. Turbinas Eólicas 3.1. Classificação de Turbinas Eólicas 3.2. Características de Turbinas Eólicas 3.3. Operação 4. Engenharia de Sistemas de Conversão de Energia Eólica 4.1. Acoplamento de Cargas e Estratégias de Controle 5. Arquitetura de Sistemas Eólicos a Velocidade Variável 6. Tecnologias de Turbinas Eólicas Conectadas na Rede Elétrica 7. Qualidade da Energia em Sistemas de Conversão de Energia Eólica Referências Bibliográficas 2 1. Potencial de Energia Eólica A energia eólica resulta da transformação de parte do efeito térmico solar em energia cinética da atmosfera. A diferença de radiação solar sobre regiões distintas do planeta provoca o deslocamento de camadas de ar, os ventos. O inventário da energia recuperável a partir dos ventos tem sido objeto de constantes equívocos e exageros. Para o levantamento deste potencial energético é necessário distinguir três níveis diferentes de energia: - A "energia cinética armazenada na atmosfera" resultante do efeito solar, cuja quantidade de energia renovável num período de apenas três dias, estimada em 7. 1020 J, equivalente a cinco vezes a energia total consumida anualmente no mundo; - A "energia cinética teoricamente recuperável" contida entre 5 e 100 m de altitude, representa 3 a 30 . 1020 J/ano, ou seja 2 a 20 vezes a energia total consumida anualmente no mundo; - A "energia cinética praticamente recuperável", avaliada em 3 a 30. 1017 J/ano ou seja 0.2 a 2% do consumo mundial em um ano. Apesar de representar uma pequena parcela do consumo mundial, a energia eólica praticamente recuperável representa importante potencial para regiões diversas e usos específicos. Além disso, a energia eólica é caracterizada pelo seu aspecto difuso e por sua aleatoriedade, indicando propriedades peculiares para seu emprego e possibilidades de fornecimento de grandes parcelas de energia. 1.1. O Vento A velocidade do vento varia com a localização geográfica e altitude (figuras 1 e 2), constatando-se alterações instantâneas, diárias, sazonais e anuais. Dentro de certos limites de comportamento atmosférico, considera-se que para altitudes menores que 100m, a variação da velocidade de vento com a altura do solo pode ser expressa pela fórmula empírica: ( ) α = 1 .1 h hVhV onde V1 é a velocidade de vento medida na altura h1 (em geral 10m) e α é um coeficiente dependente da natureza do terreno, como ilustrado na Tabela I. 1.1. TABELA I Tipo de terreno z0 (m) α Gelo ou lama plana 10-5 a 3.10-5 3 Mar calmo 2.10-4 a 3.10-4 Areia 2.10-4 a 10-3 0,10 Neve 10-3 a 6.10-3 Grama baixa 10-3 a 10-2 0,13 Estepe 10-2 a 4.10-2 Grama alta 4.10-2 a 10-1 0,19 Floresta 10-1 a 1 Subúrbio 1 a 2 0,32 Cidade 1 a 4 Para terrenos satisfazendo os requisitos de uniformidade de aspereza, a seguinte lei logarítmica, oriunda da fórmula de Prandtl, é válida com alto grau de aproximação, em condições adiabáticas: )ln( )ln( )( )( 0 0 z h z z hV zV = onde z0 é a chamado de “altura da aspereza” e cujos valores são indicados na Tabela I. Figura 1. Medidas instantâneas de velocidade de vento em alturas diferentes. Figura 2. Variação da velocidade de vento com a altura. O potencial eólico de um local é estimado a partir de curvas de duração de velocidade do vento. Segundo os padrões do World Meteorological Organization, as medições devem ser efetuadas na altura de 10 m do solo e preferencialmente em intervalos de 10 minutos. Esta última proposta é baseada na análise espectral da 4 velocidade de vento (Figura 3), para a qual as flutuações da velocidade de vento durante um mês ocorrem significativamente em freqüências correspondentes à períodos entre 10 h e 100 h e para períodos menores que 5 minutos. Sendo que esta segunda categoria denomina-se rajada. Não ocorrem significativas variações de vento para períodos entre 5 minutos e 10 h, onde o comportamento da turbina eólica pode ser considerado quase-estático. Figura 3. Densidade de potência espectral obtida no Brookhaven National Laboratory. As flutuações do vento constituem fenômeno estocástico que pode ser representado por métodos estatísticos. Em termos de análise estatística, o regime de vento em um determinado local é representado por funções de distribuição obtidas de medições efetuadas em um determinado período. Entre as funções mais utilizadas destacam-se a distribuição de velocidade média de vento (Figura 4 e 5) e a distribuição de freqüência de ocorrência da velocidade de vento (Figura 6). Enquanto a primeira representa o valor da velocidade média de vento em intervalos de tempo determinados (meses, dias, horas, etc.), a segunda identifica o número de ocorrências (quantas horas por mês, por exemplo) de um determinado valor de velocidade de vento. A distribuição de freqüência de ocorrência (Figura 6) tem sido satisfatoriamente modelada através da distribuição de Weibull, que pode ser expressa por sua função densidade de probabilidade (Figura 7): − = − KK C V C V C KVp exp..)( 1 onde p(V) = função densidade de probabilidade V= velocidade de vento K= fator de forma C= velocidade característica K e C são parâmetros dependentes do local Diversos trabalhos utilizam também uma distribuição mais simples, conhecida como distribuição de Rayleigh, que é um caso especial da distribuição de Weibull para fator de forma igual a 2. Apesar de muito utilizada a distribuição de 5 Rayleigh é limitada na representação de sítios eólicos, já que possui apenas um parâmetro de ajuste de dados. Distribuição Diária Média Mensal 0 2 4 6 8 10 12 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 Dias do Mês V (m /s ) Figura 4. Distribuição diária mensal média de velocidade de vento no Retiro das Pedras (out-dez/96) Distribuição Horária Média Mensal 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 Horas do Dia V (m /s ) Figura 5. Distribuição horária mensal média de velocidade de vento no Retiro das Pedras (out- dez/96) Distribuição de Frequência de Ocorrência 0 2 4 6 8 10 12 14 16 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 V (m/s) O co rr ên ci a Figura 6. Freqüência de ocorrência de uma determinada velocidade de vento no Retiro das Pedras (out-dez/96) 6 Função Densidade de Probabilidade de Weibull 0 0,04 0,08 0,12 0,16 0 5 10 15 20 V (m/s) p( V) Figura 7. Função de Weibull para Retiro das Pedras (C=6,07 & K=2,007) 1.2. A Energia Eólica A energia cinética do vento por unidade de volume, obtida em uma velocidade de vento V, vale: E Vc = 12 2ρ. onde ρ é a massa específica de ar ( ≅ 1,2 Kg/m3). A potência eólica disponível vale: P Ae = 12 3ρ. .V onde A é a área varrida pelo rotor eólico. É possível mostrar que apenas uma parte desta energia cinética é conversível, uma vez que o ar deve conservar uma velocidade que permita seu fluxo através do rotor de uma turbina eólica. A melhor conversão de energia é obtida quando a velocidade na esteirado rotor é igual a 1/3 da velocidade do vento incidente. A potência mecânica, teoricamente recuperável de uma instalação eólica, corresponde no máximo a 59.3% (limite de Betz) da potência disponível incidente, indicando normalmente eficiências de conversão bem menores. Duas grandezas básicas, identificadas aqui como "energia eólica disponível" e "energia eólica extraível", são utilizadas para caracterizar o potencial eólico de um determinado local. Vários autores utilizam a energia eólica disponível média por unidade de área para o levantamento de dados sobre o potencial eólico de vários locais. P A Ve = 12 3ρ onde a barra e os colchetes angulares representam valores médios. 7 O cálculo dos valores médios de energia eólica disponível demanda o conhecimento da distribuição de probabilidade de vento ou dos registros de dos valores de vento, assim estes valores médios podem ser expressos por: ∫ ∫∞ −== 0 0 1 ).(.).(. T dttVTdVVpVV [ ]3 0 313 0 33 3 .)().(. ∫∫ −∞ == T dttVTdVVpVV A raiz cúbica da média cúbica da velocidade de vento corresponde à velocidade de maior conteúdo energético, importante no dimensionamento de uma usina eólica. A razão entre a média do cubo da velocidade de vento e o cubo da média da velocidade de vento é chamada de "fator de padrão energético", que varia entre os valores 1.5 e 3. Embora a energia eólica disponível não possa ser obtida do valor da velocidade de vento média, já que o fator padrão energético não é constante, há suficiente correspondência entre altos valores de velocidade média e altas potências médias, possibilitando uma avaliação qualitativa. Diversos estudos sobre locais de alto potencial eólico indicaram que: - Altos potenciais eólicos ocorrem normalmente em regiões costeiras ou próximas de grandes lagos e em ilhas; - Altos potenciais eólicos ocorrem em regiões planas; - Altos potenciais podem ser observados mesmos em regiões acidentadas, quando a geomorfologia local favorece canais de circulação para os ventos. A quantidade de potência que pode ser extraída de um regime de vento depende da quantidade de energia disponível e de características operativas do equipamento de conversão da energia eólica. A potência de saída de um sistema de conversão de energia eólica vale: P C At p= 12 3. . . .ρ V onde Cp é chamado de coeficiente de potência, que representa a eficiência aerodinâmica da turbina eólica e depende da velocidade de vento e da velocidade rotacional do rotor eólico. Algumas estimativas da energia eólica extraível podem ser obtidas utilizando-se o valor médio do coeficiente de potência ou a característica Cp(V) de um rotor eólico característico, através da função de distribuição de probabilidade, da seguinte forma: ∫ ∞ ρ= 0 3 p2 1t dV).V(p.V).V(C.A.P Outra expressão da energia extraível é o "fator de capacidade", que pode ser calculado pela razão entre a potência extraível e a potência nominal de um sistema eólico característico. 8 a) 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7 3 V p(V) b) 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7 3 V Cp c) 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 0 0,3 0,6 0,9 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7 3 V p(P) Energia Disponível Energia Max. Extraível Energia Extraível Figura 8. a) Probabilidade de velocidade de vento; b) Coeficiente de potência; c) Probabilidade de potência eólica. A figura 8 apresenta: a) uma curva da função de probabilidade típica de um determinado local; b) uma característica Cp(V) de um rotor típico e c) a função de probabilidade de potência disponível, máxima extraível e extraível típica. Um número de fatores meteorológicos afeta o projeto e o desempenho de sistemas de conversão de energia eólica, entre eles se destacam: - A velocidade de vento média e sua variação sazonal e diária; - A distribuição de probabilidade da velocidade de vento e de ventos extremos; - A variação da velocidade de vento com a altura; 9 - As rajadas de vento e sua variação em amplitude e direção; - A distribuição de probabilidade da direção de vento e a probabilidade de grandes variações na direção; - As variações diárias e sazonais da densidade do ar e com a altura. 2. Métodos de Medição dos Ventos e suas Características O vento é caracterizado por duas grandezas variáveis em relação ao tempo, a velocidade e a direção. As variações destas grandezas obedecem a fenômenos de naturezas diversas: as variações instantâneas (rajadas ou turbulências) e as variações diárias e sazonais. A convenção mais usada para a representação da velocidade de vento é tratá-la como um vetor de componente horizontal bidimensional, com direção a partir da direção norte (0o para Norte), mais uma componente vertical (positiva para cima). As flutuações de velocidade de vento são tratadas como vetores tridimensionais, com componentes cartesianas: u' na direção da velocidade de vento média, v' na direção perpendicular à velocidade de vento média, e w' na direção vertical (ver Figura 9). As definições do que pode ser considerada uma flutuação ou rajada de vento depende do tempo utilizado para o cálculo do valor médio da velocidade de vento. O tempo de duração de uma rajada não deve ser superior a 20% do tempo considerado para cálculo da média, por exemplo, para o World Meteorological Organization (WMO), cujo tempo padrão para cálculo da média é de 10 minutos, não considera rajadas as variações de velocidade de vento que durem mais de 2 minutos. Velocidade de Vento θ Rajada Figura 9. Diagrama de definição de uma rajada de vento. 2.1. Medidores de Velocidade de Vento Os sensores mais utilizados para medir a componente horizontal da velocidade de vento são: - anemômetro de copos mais leme de direção; - anemômetro tipo hélice mais leme de direção. Os anemômetros de copos e de hélice consistem de dois dispositivos: o rotor e o gerador do sinal. Num sistema bem projetado, a velocidade angular de rotação dos copos ou da hélice varia linearmente com a velocidade de vento ou com a componente de vento paralela ao eixo de rotação no caso do anemômetro de hélice. Em baixíssimas velocidades, contudo grandes desvios da linearidade ocorrem. 10 Figura 10. Anemômetro de copos e diretor de ventos A resposta transitória de um anemômetro de copos ou de hélice pode ser caracterizada por uma constante de distância, isto é, uma constante de tempo que varia inversamente com a velocidade de vento real. Isto provoca uma constante de tempo menor em altas velocidades de ventos e maior em baixos ventos, então o anemômetro acelera mais rápido que desacelera, conduzindo a uma sobreestimação da velocidade de vento média. A constante de distância de anemômetros não é menor que 1 m e para equipamentos de pesquisa variam entre 2 m e 5 m. Os anemômetros de copos são geralmente de 3 ou 4 copos, enquanto anemômetros de hélice de 4 pás apresentam melhor resposta que aqueles de 2 pás. Desde que seus rotores girem a velocidades angulares proporcionais à velocidade de vento, os anemômetros de copos ou de hélice podem acionar uma gama variada de geradores de sinal, entre eles, geradores c.a., geradores c.c., geradores de pulsos óticos ou magnéticos, etc. A resposta de diretores de vento sujeito a uma rápida variação de direção de vento é normalmente caracterizada por um "overshoot" e oscilação em torno de sua posição final. Dois parâmetros são utilizados para definir esta resposta: a freqüência natural de oscilação e o fator de amortecimento. O fatorde amortecimento entre 0.3 e 0.7 é aceitável para uma boa medição de direção de vento. Os geradores de sinal para diretores de vento são essencialmente transdutores de posição angular, podendo consistir de potenciômetros, capacitores variáveis, chaves rotativas, entre outros. Como acontece com os anemômetros, a escolha do gerador de sinal para diretores de vento depende do tipo do processador de dados e sistema de aquisição. 2.2. Erros de Medição de Vento Se Vm é a velocidade de vento média real em uma determinada direção horizontal média e Vx é o valor indicado de velocidade de vento no anemômetro, pode-se escrever que: ( )( )( )( dpwvuxm e1.e1.e1.e1.VV −−+−= ) onde eu, ev, ew e edp são os erros associados aos fatores primários de medição de velocidade de vento, e que consistem em: 11 - eu, este componente de erro é devido à constante de distância do anemômetro, que causam mais rápida aceleração que desaceleração; - ev, este componente de erro ocorre apenas nos anemômetros que necessitam se direcionar em relação ao vento incidente, estando associado ao atraso em atingir a direção adequada; - ew, esta associado ao efeito de variação do vento na direção vertical; - edp, é uma componente de erro associado ao processamento de dados, que pode não levar em conta para o cálculo da média, as variações da direção de vento. Para medição de ventos de superfície, a WMO especifica alguns procedimentos de instalação dos sensores. Uma padronização é a instalação de sensores a 10 m de altura acima do terreno aberto e nivelado. A posição do instrumento deve levar em consideração a existência obstruções no terreno. A presença de obstáculos provoca turbulências, rápidas variações de velocidade e direção do vento, que diminuem a saída de potência de um rotor eólico e provocam vibrações indesejáveis na máquina. A Figura 11 ilustra a região de turbulência causada pela presença de um edifício. Figura 11. Zona de turbulência perto de um pequeno edifício. Uma outra forma de avaliar os níveis de energia eólica numa determinada região pode ser procedida pela observação de impressões causadas no sistema ecológico local, principalmente na vegetação. 3. Turbinas Eólicas Uma turbina eólica é formada essencialmente por um conjunto de pás sob a ação do vento. As forças que são exercidas sobre estas pás fazem com que estas girem em torno de um eixo. A ação do vento sobre um corpo pode ser definida por duas componentes de forças: o arrasto e a sustentação. A força de arrasto é a componente na direção da velocidade de vento relativa, enquanto a força de sustentação é a componente perpendicular a esta direção (Figura 12). 12 Figura 12. Vetores de velocidades e forças sob um perfil aerodinâmico A velocidade relativa Vr, que é medida levando em conta o fator de interferência (a) de uma turbina de raio R girando à velocidade rotacional w perante uma velocidade de vento V, vale : r r rV V a wr = − −( ) .1 R As forças de sustentação (FL) e arrasto (FD) são proporcionais à densidade do ar, à área das pás e ao quadrado da velocidade relativa do aerofólio. As constantes de proporcionalidade são definidas como coeficientes de sustentação (CL) e arrasto (CD), funções do ângulo de ataque, γ, e constituem características implícitas ao perfil aerodinâmico das pás . A força resultante, no plano de rotação, que contribui para o conjugado desenvolvido pela pá, vale (Gimpel and Stodhart, 1958): F F Fa d= −l.sen .cosθ θ onde θ γ β= + γ = ângulo de ataque em relação ao plano de rotação β = ângulo de passo As pás de cata-ventos modernos são construídas utilizando perfis aerodinâmicos projetados para produzirem elevados coeficientes de sustentação. Um aerofólio apresenta uma borda de ataque e uma borda de fuga, cuja distância entre seus pontos extremos constitui a corda do perfil. Os perfis de turbinas eólicas modernas são em geral do tipo plano-convexo (Gottingen) ou biconvexo (NACA). Ao longo da estrutura da pá, esta pode apresentar uma torção para garantir um ângulo de ataque aproximadamente constante em toda sua extensão. 13 Algumas turbinas eólicas apresentam dispositivo de variação do ângulo de passo, a fim de controlar a velocidade, e, portanto, a potência, reduzindo-se o ângulo de ataque pelo aumento do ângulo de passo. O projetista de turbinas eólicas, portanto tem à sua disposição diversas ferramentas para garantir um bom projeto aerodinâmico, isto é, alta sustentação com baixo arrasto. Para o sistema eólico como um todo, o projeto estrutural é vital a fim de garantir uma operação confiável, por prolongado período (maior que 20 anos), com baixo custo de construção. 3.1. Classificação de Turbinas Eólicas Na literatura técnica é comum distinguir as turbinas eólicas segundo os seguintes critérios: - direção do eixo de rotação em relação ao vento (eixo horizontal e eixo vertical); - qualidade das forças predominantes (arrasto e sustentação); - quantidade de material existente no rotor (baixa e alta solidez). As turbinas de eixo horizontal apresentam seu eixo de rotação em paralelo com a direção do vento. Nestes tipos de turbinas se encontram os modelos multipás americano e as turbinas eólicas rápidas de 3, 2 e 1 pás. Figura 13. Turbinas de Eixo Horizontal As turbinas de eixo vertical são representadas principalmente pelos modelos Savonius e Darrieus e funcionam com qualquer direção de vento. 14 Figura 14. Turbinas de Eixo Vertical A qualidade das forças predominantes na operação de uma turbina eólica dita praticamente suas características básicas. As turbinas que funcionam por arrasto (modelo Savonius, por exemplo) apresentam normalmente baixas velocidades rotacionais, baixos rendimento aerodinâmico e um custo elevado pela grande quantidade de material envolvido. As turbinas rápidas como as tri-pás, bi- pás, monópteros e Darrieus, se caracterizam por operarem por sustentação apresentando elevadas velocidades e altos rendimentos aerodinâmicos sendo, portanto, indicadas para geração de eletricidade. Um importante parâmetro do projeto de turbinas eólicas é a relação entre a área total das pás do rotor e a área varrida por estas, num perímetro correspondente a 70% do raio das pás. Este parâmetro adimensional é conhecido por solidez (σ) e vale (Gimpel e Stodhart, 1958): σ π= n c D . .0 7 onde n = número de pás; c = corda a 0.7 do raio das pás (m); D = diâmetro do rotor (m). A referência ao ponto de 70% do raio é utilizada uma vez que esta região está sujeita aos maiores esforços. Pela análise de alguns projetos eólicos tem-se observado que a solidez pode fornecer informações mais detalhadas sobre a ope- ração da turbina. Um rotor de alta solidez apresenta alto conjugado de partida e bom desempenho em baixas velocidades. Rotores de baixa solidez operam a velocidades elevadas, a rendimentos maiores e com pobre característica de partida. Dentre as turbinas de baixa solidez os rotores de eixo horizontal tem sido amplamente empregados em faixas de potência de 100W a 3,2MW (projeto MOD-5 do programa eólico americano). Os rotores de eixo horizontal, apesar de necessitarem de dispositivo de orientação com a direção do vento, operam a altos rendimentos e podem ser instalados em alturas elevadas onde estão presentes as maiores velocidades de vento. A solidez de turbinas eólicas modernas atinge valores entre 5% e 10%, já que projetadas para altas eficiências e altas velocidades o que implica aplicações 15 direcionadas à geração de energia elétrica. No caso de uma turbina eólica multipás a solidez excede 50%.3.2. Características de Turbinas Eólicas A potência desenvolvida por uma turbina eólica depende da velocidade do vento e da velocidade rotacional. A relação entre a potência, a velocidade do vento e a velocidade rotacional são normalmente apresentadas por coeficientes adimensionais, a fim de tornar esta informação aplicável em diversas circunstâncias. Dois parâmetros adimensionais mais largamente utilizados para descrever estas relações são a relação de velocidades λ e o coeficiente de potência Cp. O primeiro é definido como: λ = w R V . onde R é o raio do rotor eólico, medido na ponta da pá, w é a rotação da turbina. O coeficiente de potência, também chamado de rendimento aerodinâmico de uma turbina eólica, é definido como: C P AV p t= 1 2 3ρ Outro parâmetro adimensional importante é o coeficiente de conjugado, definido como: C T ARV q = 1 2 2ρ onde T é o conjugado desenvolvido pelo rotor eólico. Figura 15. Características de rendimento de diversos projetos de turbinas 16 As características Cp (λ) e Cq (λ) de uma turbina eólica são ilustradas nas Figuras 15 e 16. Nesta pode-se verificar que a potência desenvolvida por um rotor eólico é nula (Cp = 0) em dois valores de relação de velocidades; quando o rotor está estacionário e quando a velocidade na ponta da pá é várias vezes maior que a velocidade do vento. A máxima eficiência (Cpm) é obtida em um valor intermediário de relação de velocidades, λo. De maneira análoga o conjugado desenvolvido pelo rotor é máximo (Cqm) em uma determinada relação de veloci- dades, λt, o que determina a região de operação estável da turbina para λ > λt. A região de baixas relações de velocidades é caracterizada pelo "estolamento" das pás, isto é, a perda de sustentação que ocorre das seções externas da pá (ponta) para as internas (raiz da pá). Figura 16. Características Cp(λ) e Cq(λ) de turbina eólica 3.3. Operação Devido à operação em altas velocidades, os rotores de baixa solidez necessitam de dispositivos de controle e proteção a fim de garantir confiabilidade e segurança aos equipamentos. Uma turbina eólica, operando a relação de velocidades constantes, apresenta uma concordância linear entre a velocidade rotacional e a velocidade de vento, o que conduz a uma característica de potência dependente do cubo da rotação, como ilustra a figura 17 e pode ser deduzida pela expressão abaixo: 17 P A V C A R w Ct p p= =12 3 12 3 3 3ρ ρ λ. . . . . . . Figura 17. Característica de potência de uma turbina eólica Torna-se praticamente difícil prever uma carga que se sujeite a uma variação cúbica em ampla escala de rotação. Em vista destes fatores, é usual limitar a potência desenvolvida por uma turbina, de modo que a partir da velocidade nominal de projeto VR, a rotação e, portanto a potência, permaneçam aproximadamente constantes. Esta limitação de potência pode ser implementada por diversas maneiras, entre elas: o sistema centrífugo de variação do passo (em turbinas de passo variável- controle de passo passivo) e o controle por "stall" (em turbinas de passo fixo). A variação do passo consiste no aumento do ângulo de passo da pá , β, com o aumento da rotação, levando a uma redução no ângulo de ataque, que reduz a sustentação e o rendimento aerodinâmico de turbina. O efeito da variação do ângulo de passo nas características de Cp e de potência de uma turbina típica é ilustrado nas Figuras 18 e 19. 18 Figura 18. Efeito do ângulo de passo no rendimento da turbina Figura 19. Efeito da variação do ângulo de passo na potência da turbina Em velocidades de vento superiores à velocidade de corte VF, as forças que atuam sobre as pás podem danificá-las, podendo também ocorrer falhas em outros componentes do SCEE e portanto este deve ser desativado. Por operarem com reduzidas potências em baixas velocidades e pelas pobres características de partida nas turbinas eólicas de baixa solidez, um dispositivo de proteção geralmente retira o sistema de funcionamento para velocidades inferiores à velocidade inicial de acionamento, VC. A figura 20 mostra a característica de 19 operação de uma turbina eólica real, Windane 34-400 da Vestas, e a seta indica a velocidade nominal. A característica de operação Pe(V) de uma turbina eólica fica definida pela determinação dos parâmetros VC, VR e VF (na Figura 20, VC=3m/s, VR=15m/s e VF=25m/s). Sabe-se que para velocidades inferiores a VC e superiores a VF, a potência de saída é nula, já que nestas condições o sistema não deve estar acionado. Para velocidades de vento compreendidas entre VC e VR, a potência depende das características da carga e fica limitada pela curva de máxima potência convertida pela turbina (operação a λ = λo). No intervalo entre VR e VF a potência absorvida é igual à nominal, e este intervalo é caracterizado pela operação a rotação constante. Figura 20. Característica Pe(V). 4. Engenharia de Sistemas de Conversão de Energia Eólica As vantagens da conversão da energia eólica em energia elétrica são numerosas, dentre elas destacam-se: • o gerador elétrico pode ser projetado para apresentar alta eficiência em ampla escala de velocidades, com alta confiabilidade e baixa manutenção; • a energia gerada pode ser transmitida ao ponto de consumo com eficiência e baixos custos; • a energia elétrica pode ser condicionada, modulada e convertida em outras formas energéticas. Baseando-se na análise sistêmica, os esquemas de conversão eólica-elétrica podem ser classificados em sistemas de velocidade constante e freqüência constante (VCFC), sistemas de velocidade variável e freqüência variável (VVFV) e sistemas de 20 velocidade variável e freqüência constante (VVFC). Esta classificação abrange a grande maioria dos esquemas até então propostos e em estudo, ver Figura 21. Os esquemas VCFC utilizam geralmente geradores síncronos, de imã permanentes ou assíncronos conectados diretamente à rede elétrica. São empregados em localidades onde existe fornecimento convencional de eletricidade, e em "fazendas de cata-vento". A característica principal dos sistemas VVFC é a conexão indireta à rede elétrica, que geralmente é implementada por conversores estáticos. Nesta categoria se distinguem: o esquema clássico de conexão indireta (turbina-alternador-retificador- inversor à comutação natural-rede elétrica) e o esquema com gerador de indução com recuperação de energia rotórica. ~ ~ ~ ~ Rede Elétrica Rede ElétricaRet Inv Ret Bat Carga CargaRet α1 α2 α α Carga Chaveada VCFC VVFC VVFV-FC VVFV-FV Figura 21. Esquemas Típicos de SCEE Os sistemas VVFV utilizam normalmente turbinas a passo variável acionando geradores assíncronos ou síncronos e podem ser subdivididos em sistemas com carga a freqüência constante e carga a freqüência variável. Os esquemas com carga a freqüência constante apresentam um certo nível de controle de freqüência e tensão, e prevêem um estágio de armazenamento intermediário (por exemplo, baterias). Tem suas aplicações em estações repetidoras, estações de sinalização, fornecimento de eletricidade a pequenas comunidades rurais ou isoladas, entre outras. Os sistemas VVFV, que operam com carga a freqüência variável, pressupõem que o nível de armazenamento é procedido em outra forma energética que não a elétrica, e, portanto a carga é sujeita as variações naturais do aproveitamento eólico. Estes esquemas se prestam para transformação de energia elétrica em energia térmica (por exemplo: aquecimento ambiental, granjas, etc.) ou para bombeamento d'água ou em sistemas de refrigeração.Os maiores benefícios que justificam a operação de uma turbina a velocidade variável podem ser resumidos em (Freris, 1990; Manwell e outros, 1991): 21 • maior aproveitamento de energia perante flutuações das fontes primárias de energia; • baixos picos de conjugado na estrutura mecânica; • engrenagens mais baratas; • sistemas mecânicos de amortecimento dispensáveis, já que a interface elétrica pode proporcionar o amortecimento necessário; • alta eficiência energética, pelo aproveitamento ótimo das características dos órgãos primários de energia; • problemas de sincronização com a rede convencional são evitados; • geração de energia elétrica com qualidade e compatível com os sistemas de geração convencionais; • maior flexibilidade operacional nos processos de partida e frenagem; • redução de ruídos. 4.1. Acoplamento de Cargas e Estratégias de Controle O ponto de operação de um SCEE para uma dada velocidade de vento é determinado pela interseção das características conjugado versus velocidade dos subsistemas acionante (turbina eólica) e acionado (gerador e carga elétrica), Tt(wt,V) = Tc(wt) . O sistema acionado determinado pela aplicação pretendida da energia, possui características de conjugado, geralmente dependente da rotação. Contudo o acoplamento destas características está intimamente ligado ao esquema/aplicação. O critério básico para o acoplamento de cargas é tornar a característica Tc(wt) da carga o mais próxima possível da característica Tt(wt,V) da turbina para λ=λo; isto significa ter a turbina operando a máxima eficiência, como ilustrado na Figura 22. Nesta figura as características da potência elétrica gerada por um alternador alimentando um barramento de CC em diversos níveis de tensão é comparada à de uma turbina eólica incluindo a região de controle de passo. A operação a relação de velocidades constantes pressupõe uma característica de potência variando com o cubo da velocidade; na prática, torna-se difícil obter conversores de energia que respondam de tal maneira. Em vista disto, o problema de adaptação de características dos dois subsistemas se resume a aproximar a curva de potência da carga da curva de máxima potência da turbina para velocidades de vento que abranjam maior conteúdo energético local. Do ponto de vista do projeto de SCEE, esta adaptação de características pode ser obtida por: • Escolha da relação de transmissão mecânica entre turbina e gerador elétrico; • Dimensionamento adequado da carga; • Utilização adequada das características do gerador (ajuste de excitação, por exemplo). Através destes métodos pode-se proporcionar um funcionamento bastante próximo da curva de máxima potência da turbina, sem atingir a região de instabilidade e, adequado com o regime de vento local. Este procedimento é denominado o acoplamento estático de cargas. 22 Além da preocupação com o ponto de operação do SCEE o acoplamento estático deve possibilitar a partida da turbina eólica. Durante o processo de partida, o conjugado da turbina deve exceder o conjugado do sistema acionado e, neste caso, a escolha da relação de transmissão tem efeito significativo. O aumento da relação de transmissão tende a reduzir a velocidade de partida do sistema, VC. Definida a estratégia de acoplamento de cargas, a análise do desempenho do sistema deve procurar identificar a taxa de variação da energia extraível dos ventos no provável local de instalação. Neste sentido, a distribuição da freqüência de ocorrência de uma velocidade de vento é imprescindível para a determinação da escala de velocidades de maior conteúdo energético. Além de objetivar a maximização da energia extraível, o acoplamento de cargas deve garantir a operação dos diversos componentes do sistema em pontos de máxima eficiência. A extração de uma maior quantidade energética deve implicar numa conversão desta energia em trabalho útil, com máxima eficiência, estabili- dade, confiabilidade e segurança. Portanto, a avaliação do desempenho dos componentes do subsistema acionado é necessária ao funcionamento otimizado do SCEE como um todo. Neste sentido, as características de aplicação pretendida da energia são determinantes no diagnóstico do comportamento do sistema. Figura 22. Acoplamento entre características do gerador e turbina Dentre as estratégias de controle de sistemas eólicos de pequeno porte para fornecimento de eletricidade, aquelas relativas à ação sobre o gerador elétrico são as mais eficientes. Entre elas destacam-se o controle no campo e o controle na 23 armadura. Além do controle no campo, a própria autoexcitação do gerador tem se apresentado como solução ao problema de um melhor acoplamento de cargas. O controle de campo ou de armadura tem sido implementado, principalmente, através de duas estratégias: realimentação de velocidade ou realimentação de potência. A realimentação de velocidade consiste na operação do sistema a relação de velocidades constante, pelo monitoramento da rotação da turbi- na em sintonia com a velocidade de vento. A realimentação de potência atinge o mesmo objetivo pelo controle de potência gerada em função da característica cúbica do rotor eólico, como ilustrado na Figura 23. A eficiência de ambos os esquemas é dependente do projeto do controlador e da eficácia deste em garantir o acoplamento ótimo dinamicamente, aproveitando ao máximo a energia contida nas flutuações de velocidade de vento. O esquema de realimentação de potência, contudo, apresenta problemas de partida do SCEE. A realimentação de velocidade além de constituir um esquema mais simples, apresenta maior eficiência, apesar deste ganho ser pouco substancial, principalmente se o projeto do controlador não for otimizado. 5. Arquitetura de Sistemas Eólicos a Velocidade Variável Embora muitos esquemas tenham sido sugeridos para sistemas eólicos a velocidade variável, estes podem ser agrupados em duas categorias: sistemas de variação discreta de velocidade e sistemas de variação contínua de velocidade. Os sistemas de variação contínua ainda podem ser divididos em quatro principais categorias: (i) mecânicos, (ii) eletromecânicos; (iii) elétricos; (iv) eletrônicos. Um esquema apresentando os tipos destas várias opções é apresentado na Tabela II. 24 Figura 23. Estratégias de Controle em um SCEE: a.) Realimentação de potência. b.) Realimentação de velocidade. Tabela II ARQUITETURA DE SISTEMAS A VELOCIDADE VARIÁVEL Sistemas Discretos Sistemas Contínuos Gerador de Pólo Conseqüente Mecânico Eletromecâ nico Elétrico Eletrônica de Potência Gerador de Duplo Enrolamento Transmiss ão Hidráulica Estator Girante Gerador de Alto Escorregamento Múltiplos Geradores Transmiss ão Variável Gerador de Dupla Excitação Modulação de Pólos Os sistemas de variação discreta de velocidade incluem sistemas elétricos onde múltiplos geradores são utilizados, com diferentes números de pólos ou com diferentes caixas de multiplicação de velocidades. Nesta categoria situam-se os geradores com diferentes números de pólos (pólos conseqüentes ou duplos enrolamentos) e aqueles que operam com modulação de amplitude de pólos. A segunda categoria de sistemas é aqueles que permitem que a velocidade varie continuamente. Isto pode ser obtido por diversas maneiras: mecanicamente, eletricamente, mecanico-eletricamente e com uso da eletrônica de potência. Os métodos mecânicos são representados por sistemas de transmissão hidráulica ou de transmissão de relação variável. um exemplo de sistemas eletromecânicos é aquele no qual o estator 25 do gerador também gira. Exemplos de sistemas de categoria elétrica incluem os geradoresde indução de alto escorregamento e aqueles de duplo estator. A categoria da eletrônica de potência contém um grande número de opções possíveis, sendo que as mais comuns usam geradores síncronos e geradores de indução de rotor bobinado, apesar de que todos os estudos indicam a máquina de indução de rotor em barras como a mais adequada para estas aplicações. A eletrônica de potência possibilita a retificação de parte ou toda a potência ativa do gerador, o controle da velocidade rotacional e o fornecimento e controle da potência reativa. Entre suas inúmeras alternativas se destacam os conversores PWM e os conversores ressonantes como dispositivos de controle e modulação da energia elétrica gerada. 6. Tecnologias de Turbinas Eólicas Conectadas na Rede Elétrica A conversão de energia mecânica em energia elétrica em turbinas eólicas para conexão com redes elétricas é promovida pelo uso de geradores trifásicos de corrente alternada síncronos ou assíncronos, em diversas arquiteturas como ilustrado na figura 24. O uso de cada tipo de gerador é função de uma série de fatores que consideram normalmente: - as características de amortecimento; - a capacidade de consumo ou fornecimento de potência reativa; - a manutenção de corrente de curto-circuito; - a robustez de sua construção; - a possibilidade de projeto de estruturas com alto número de pólos; - os custos de aquisição e de operação; - as dificuldades de sincronismo com a rede elétrica. A conexão direta na rede em sistemas que operam a velocidade constante pressupõe normalmente o uso de múltiplos geradores com diversos números de pólos para permitir excursionar em uma faixa mais ampla de velocidade. Neste tipo de conexão, o amplo uso de gerador de indução em gaiola se justifica pela facilidade de sincronismo com a rede elétrica e pela baixa contribuição a curtos-circuitos. Em contra-partida, estes sistemas por estarem mais rigidamente conectados a redes elétricas são mais susceptíveis a variações de tensão (perda de excitação em geradores de indução) e a problemas de estabilidade (pouco amortecimento de geradores síncronos). Em sistemas de conversão de energia eólica a velocidade variável, a conexão na rede é feita normalmente pela utilização de conversores estáticos e prioritariamente com uso de barramentos intermediários em corrente contínua, que é tecnologia dominante nos sistemas de conversão de freqüência. A conexão estática permite o controle de potência reativa, o amortecimento ativo das flutuações de potência ativa, a minimização da injeção de harmônicos (dependente da tecnologia a ser utilizada) e a operação com máxima eficiência energética, facilitando a integração em redes fracas. O uso de geradores síncronos, apesar de custos iniciais e de operação mais elevados, se justifica pela possibilidade da aplicação de retificadores a comutação natural (mais baratos) e pela possibilidade de projetos com alto número de pólos que permitem a redução das relações de transmissão mecânica e mesmo produzindo estruturas sem caixas de transmissão (como os modelos de turbinas eólicas comercializadas pela Enercon). A aplicação de geradores de indução com rotor em gaiola são competitivas pela robustez, mas agregam a necessidade de retificadores a comutação forçada. Estes 26 conversores são projetados para uma potência aparente mais elevada, em face do consumo de potência reativa. A aplicação de geradores de indução com rotor bobinado, em sua estrutura mais eficiente com dupla alimentação, apesar de custos iniciais e de operação mais elevados, permitem a especificação de conversores estáticos com potência aparente bastante inferior (cerca de 30 a 40% da potência nominal da máquina), o que justifica o elevado número de modelos disponíveis no mercado. Os geradores de indução duplamente excitados permitem uma excursão de velocidade de ±20% em torno do valor nominal, quando operando em regiões sub e supersíncrona, o que limitaria sua capacidade de otimização energética. Além disto, ao utilizar um conversor de menor potência, possui menor capacidade de integração às estratégias de controle de tensão das redes elétricas onde encontra-se conectado. Máquinas Síncronas Máquinas Assíncronas Conexão direta na rede de gerador síncrono Conexão direta na rede de gerador de indução de gaiola Conexão na rede via barramento CC de gerador síncrono Conexão na rede via barramento CC de gerador de indução de gaiola Conexão na rede via barramento CC de gerador síncrono sem caixa de transmissão Conexão na rede via barramento CC de gerador de indução duplamente excitado 27 Figura 24. Arquiteturas de Sistemas Eólicos Conectados na Rede Elétrica 7. Qualidade da Energia em Sistemas de Conversão de Energia Eólica Estudo referente à qualidade da energia elétrica tem sido desenvolvido no Brasil há algumas décadas, contudo o impacto da instalação de turbinas eólicas na rede elétrica é tema relativamente recente e vários trabalhos foram conseqüência da implantação das primeiras usinas eólicas no país, principalmente a Usina do Morro do Camelinho (CEMIG) e a Usina de Taiba (COELCE). Estes trabalhos enfocaram, em caráter experimental, a avaliação da qualidade da energia gerada (DEWI, 1997) e já indicavam as conseqüências do contínuo avanço tecnológico dos artefatos eólicos e de sua ampla utilização (Bronzeado et al., 1998; Silva et al., 1999; Junior et al., 1999). Em termos nacionais, pouco se tem contribuído na direção da definição de critérios de conexão de turbinas eólicas ou fazendas eólicas, frente aos diversos trabalhos já desenvolvidos e em desenvolvimento que buscam a caracterização de sítios promissores e do levantamento de potencial eólico nos estados brasileiros. Em termos internacionais diversos trabalhos foram desenvolvidos recentemente (EUREC, 1996) e outros se encontram em fase de conclusão (EPRI: "Laboratory Trials of Proposed IEEE P1547: Standard for Distributed Resources Interconnected with Electric Power Systems"). Os focos principais dos trabalhos recentemente divulgados estão na compreensão dos distúrbios causados, no impacto das novas tecnologias ou em estudo de casos. Os principais distúrbios causados à rede pela conexão das fontes eólicas, que podem afetar significativamente a qualidade da energia fornecida, são: • Consumo excessivo de energia reativa: as unidades geradoras são principalmente máquinas de indução, que além de consumir transitoriamente uma alta corrente de magnetização, demandam contínuo suprimento de reativos (Jenkins, 1993); • Variações no perfil de tensão fornecida aos consumidores próximos: os fluxos de potências ativa e reativa variáveis, conseqüência de um regime de ventos aleatório e de condições particulares de operação (entradas e desligamento de unidades geradoras), provocam variações significativas de tensão (Boulaxis et al., 2002; Silva et. al., 1999; Thiringer, 1996; Gerdes e Santjer, 1996); • Sobretensões e sobrefrequências: desconexão de parte do sistema elétrico da rede que se conecta com a usina eólica, caracteriza uma situação denominada "ilhamento". Nestas condições, importantes transitórios podem ocorrer, com conseqüências danosas aos consumidores, ao sistema elétrico da concessionária e aos equipamentos da usina eólica (Jenkins, 1993; Demoulias e Dokopoulos, 1996); • Injeção de harmônicos: muitas turbinas eólicas utilizam conversores estáticos para ou regular a corrente inicial de magnetização de seus geradores de indução ("soft- starting") ou para operação a velocidade variável (maximização do aproveitamento energético). Estes conversores fornecem correntes harmônicas que, dependendo da impedância do sistema elétrico, podem amplificar distorções harmônicas (Thiringer, 1996; Gerdes e Santjer, 1996; Chen e Spooner,2001); • Flutuações de tensão: as variações de potências ativa e reativa e as condições de chaveamento aleatório de unidades geradoras em grande parque eólico podem provocar flutuações de tensão que geram cintilação luminosa ("flicker"), (Saad- Saoud e Jenkins, 1999; Feijóo e Cidrás, 1999; Thiringer, 1996; Gerdes e Santjer, 1996). 28 A solução para esses problemas pode vir da combinação de várias ações, tais como, forma de operação dos geradores, alterações nos componentes da rede elétrica, seleção do tipo de conexão dos geradores à rede elétrica, adição de novos equipamentos, avaliação do regime de ventos local, seleção da tecnologia de sistemas eólicos a ser utilizada, entre outras. Contudo são extremamente dependentes das características dos equipamentos, do sistema e do sítio de instalação do parque eólico (Jangamshetti e Rau, 1999 e 2001). A topologia do sistema é um dos aspectos importantes em relação aos problemas que as fontes eólicas podem causar. Portanto, em áreas passíveis de instalação de parques eólicos, é importante que as normas e diretrizes para expansão do sistema já considere essa possibilidade (Wang e Billinton, 2001). Vários estudos de casos disponíveis na literatura técnica podem auxiliar no desenvolvimento metodológico deste projeto. Dentre os estudos analisados, citamos os seguintes: • Power Quality and Integration of Wind Farms in Weak Grids in India – P. Sorensen, P.H. Madsen, K.K.Jensen, K.A Fatima, A.K.Unnikrishnan and Z.V. Lakaparampil. • Influence of Weak Grids on Turbines and Economics of Wind Power Plants in India – B.Rajsekhar, F. VanHulle and D. Gupta. • Measurements of Power Quality of Wind Farms in Tamil Nadu and Gujarat - P. Sorensen, A.K.Unnikrishnan and Z.V. Lakaparampil. • Power Control for Wind Turbines in Weak Grids – Bindner, H. • Power Control for Wind Turbines in Weak Grids – Madeira Case - Bindner, H., A.I.Estanqueiro, D. de Freitas. • Madeira Island Case – Estanqueiro, A.I., J.M Ferreira de Jesus. • Power Control Concept Development and Its Application to Madeira Island Case Study - Estanqueiro, A.I., J.M Ferreira de Jesus. Referências Bibliográficas 1. Boulaxis, N.G., Papathanassiou, S.A. and Papadopoulos, M.P., "Wind turbine effect on the voltage profile of distribution networks", Renewable Energy, 25, 2002, p.401-415. 2. Bronzeado, H.S.; Rosas, P.A.C.; Feitosa, E.A.N. & Miranda, M.S. "Behavior of Wind Turbines under Brazilian Wind Conditions and Their Interaction with the Grid", Proceedings of 8th Conference on Harmonics and Quality of Power, Athens, Oct/1998, p. 906-910. 3. Chen, Z. and Spooner, E., "Grid power quality with variable speed wind turbines", IEEE Trans. on Energy Conversion Vol.16, No. 2, June/2001. 4. Demoulias, C.S. and Dokopoulos, P., "Electrical transients of windturbines in a small power grid", IEEE Trans. on Energy Conversion Vol.11, No. 3, Sept/1996. 5. DEWI, "Power quality measurement and wind turbine operational improvement at the CEMIG Morro do Camelinho wind farm", NR97 0808, Dec/1997. 6. EUREC- Agency, "Electrical power quality measurement procedure", European Wind Turbine Standards, Vol. 7, Feb/1996. 29 7. Feijóo, A. and Cidrás, J. "Analysis of mechanical power fluctuations in asynchronous WEC's", IEEE Trans. on Energy Conversion Vol.14, No. 3, Sept/1999, p.284-291. 8. Gerdes, G. and Santjer, F. "Power quality of wind turbines and their interaction with the grid", DEWI, 1996. 9. IEC 61400-21, "Wind turbine generators systems - Part 21: Measurements and assessment of power quality characteristics of grid connected wind turbines", IEC, Dec/2001. 10. IEEE Std. 1021-1988, "Recommended Practice for Utility Interconnection of Small Wind Energy Conversion Systems", IEEE, Nov/1987. 11. IEEE Std. 1094-1991, "Recommended Practice for Electrical Design and Operations of Windfarm Generating Stations", IEEE, April/1991. 12. Jangamshetti, S. H. And Rau, V. G., "Optimum siting of wind turbine generators", IEEE Trans. on Energy Conversion Vol.16, No. 1, March/2001, p.8-13. 13. Jangamshetti, S. H. And Rau, V. G., "Site matching of wind turbine generators: a case study", IEEE Trans. on Energy Conversion Vol.14, No. 4, Dec/1999, p.1537-1543. 14. Jenkins, N., "Engineering wind farms", Power Engineering Journal, April/1993, p.53-60, 15. Junior, K.R.A., Medeiros, M.O. & Montezuma, F., "Monitoramento da qualidade da energia no ponto de acoplamento da fazenda eólica de Taiba", Anais do III Seminário Brasileiro sobre Qualidade da Energia Elétrica, Brasília, Agosto/99, p. 195-200. 16. Papathanassiou, S. A. and Papadopoulos, M. P., "Mechanical stresses in fixed-speed wind turbines due to network disturbances", IEEE Trans. on Energy Conversion Vol.16, No. 4, Dec/2001. 17. Saad-Saoud, Z. and Jenkins, N., "Models for predicting flicker induced by large wind turbines", IEEE Trans. on Energy Conversion Vol.14, No. 3, Sept/1999. 18. Silva, S.R.; Medeiros, N.A., Cardoso Filho, B.J., Barbosa, A.L.B. & Costa, H.F., "Qualidade da energia elétrica gerada em usinas eólicas: uma avaliação", Anais do III Seminário Brasileiro sobre Qualidade da Energia Elétrica, Brasília, Agosto/99, p. 422-427. 19. Thiringer, T., "Power quality measurements performed on a low-voltage grid equipped with wind turbines", IEEE Trans. on Energy Conversion Vol.11, No. 3, Sept/1996. 20. Wang, P. and Billinton, R., "Reliability benefit analysis of adding WTG to a distribution system", IEEE Trans. On Energy Conversion Vol.16, No. 2, June/2001. 21. Mapeamento do Potencial Eólico do Estado da Bahia em Resolução de 1 km x 1 km, Relatório Final, outubro/2001. Projeto de P&D da Coelba ciclo 1999/2000. 22. Resoluções da ANEEL sobre aprovação de geração eólica no Nordeste. 30 ENERGIA EÓLICA TABELA I Tabela II ARQUITETURA DE SISTEMAS A VELOCIDADE VARIÁVEL Sistemas Contínuos
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