Buscar

AULA 01 (1)

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Pós em Direito do Trabalho
Disciplina: 
DIREITO COLETIVO DO TRABALHO
Vídeo aula 1
Aspectos de Direito Coletivo do Trabalho
1. Aspectos históricos
Deve-se considerar que o sindicato e o movimento social que lhe é próprio, o sindicalismo, são produtos da sociedade capitalista. Assim, mesmo que se investigue a existência de associações entre seres humanos ao longo da história sempre existirão diferenças fundamentais perante os atuais sindicatos.  Pois jamais houve na história sistema econômico e social em que a relação de emprego ocupa papel central na produção, como vem ocorrendo nos últimos dois ou três séculos.
Na Idade Média existiam as corporações de ofício que eram associações de pessoas do mesmo ofício. Nelas havia uma divisão hierárquica entre mestres, companheiros e aprendizes.
Os mestres eram quem determinavam tudo e havia um monopólio de fabricação, venda e regulamentação dos produtos.
Há certa semelhança com os sindicatos modernos, pois há um interesse do grupo, mas dirigiam-se contra o consumidor e não contra a outra parte do contrato como ocorre hoje. 
Houve em certo momento revolta dos companheiros descontentes com o que era imposto pelos mestres. Mas eram movimentos esporádicos, protestos de pequenos grupos, não constituíam um movimento de massa de protesto entre capital e trabalho.
Na Revolução Industrial com o agrupamento de homens em massa em torno da máquina é que se começou a despertar a consciência dos operários da comunhão de seus interesses, surgindo assim o movimento operário moderno do sindicalismo.
Diz-se que o início do sindicalismo deu-se na Inglaterra em 1720, quando se formaram as primeiras associações de trabalhadores para reivindicar melhores condições de trabalho. E não poderia ser diferente, pois a Inglaterra é o berço do capitalismo.
Mas não havia ambiente propício a vida associacionista, pois dominava a filosofia do individualismo e do liberalismo econômico.
 A Revolução Francesa, por exemplo, ao mesmo tempo em que suprimia as corporações de ofício não reconhecia o direito de associação (coalizão).
O direito de associação propriamente dito foi conquistado na Inglaterra em 1871 e na França em 1884, assinalando o início da liberdade sindical.
Mas os sindicatos independentes em face do Estado encontram resistência nos governos autoritários e nas chamadas democracias populares.
Algumas décadas após em 1919 com o Tratado de Versalhes, com a criação da Organização Internacional do Trabalho em 1919 e suas Convenções 87 de 1948 e 98 de 1949, a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, os direitos de livre associação e sindicalização tornam-se sedimentados na cultura jurídica ocidental. 
1.1. NO BRASIL
Enquanto na Europa existiam as corporações de ofício, as imensas áreas brasileiras eram descobertas com o aprisionamento dos índios e com a busca de escravos negros na África.
Com a outorga da Constituição Imperial (1824), dois anos após a independência lia-se no seu texto : “Ficam abolidas as corporações de ofício, seus juízes e mestres.” Corporações essas que nunca existiram no Brasil diante do regime de trabalho escravagista.
Com a Lei do Ventre Livre (1871) e com a abolição (1888) é que surgiram condições para a formação do Direito Coletivo no Brasil, enquanto na Europa já se reconhecia a liberdade sindical.
A economia no Brasil, nesta época, era essencialmente agrícola. A nossa Revolução Econômica marcou o seu início com o progresso industrial verificado no primeiro triênio da 1ª Guerra Mundial. Tal como na Europa e em toda a parte a criação das primeiras associações profissionais decorre do industrialismo moderno.
As primeiras Confederações de Trabalhadores surgiram em 1920, a Confederação Geral dos Trabalhadores e posteriormente, se opondo, a Confederação Nacional do Trabalho.
Após a Revolução Liberal de 1930 começa a surgir no Brasil uma filosofia de Estado intervencionista, sujeitando o Sindicato ao Estado, suprimindo-lhe a autonomia.
Seguiu-se então sindicato único, com funções públicas delegadas pelo Estado, representando os interesses da categoria de produção. Estipulava contratos coletivos de trabalho obrigatório para todos os associados. Impunha contribuições por lei e não só aos associados, mas a todos os membros da profissão representada.
No final dos anos 70 os sindicatos começaram a desafiar as leis existentes, realizando-se greve em São Bernardo do Campo por reajustes salariais. O regime militar ainda vigente na época responde ao movimento com dureza.
Em 1988 após 20 anos de ditadura militar veio a declaração da liberdade de associação profissional, não podendo a lei exigir autorização do Estado para seu funcionamento, ressalvando o registro no órgão competente. Estabelece a regra da unicidade sindical entre outras disposições que serão estudadas posteriormente.
2. CONCEITO
São empregadas diversas denominações a esta parte do Direito do Trabalho que estudaremos : Direito Coletivo do Trabalho, Direito Sindical e Direito Corporativo.
O direito coletivo do trabalho não tem autonomia é um segmento do direito do trabalho. O direito do trabalho está dividido em dois segmentos : O direito individual do trabalho, que trata das relações entre trabalhadores e empregadores individualmente considerados e o direito coletivo do trabalho que trata das organizações coletivas de trabalhadores e empregadores.
Gustavo Garcia assim o conceitua: “Segmento do direito do trabalho que regula a organização sindical, a negociação coletiva, os instrumentos normativos decorrentes, a representação dos trabalhadores na empresa e a greve.” 
Amauri Mascaro Nascimento entende o Direito Coletivo do Trabalho como: “Ramo do direito do trabalho que tem por objetivo o estudo das normas e das relações jurídicas que dão forma ao modelo sindical.”
Por fim, Maurício Godinho Delgado tem como conceito: “Complexo de institutos, princípios e regras jurídicas que regulam as relações laborais de empregados e empregadores e outros grupos jurídicos normativamente especificados, considerada sua atuação coletiva realizada autonomamente ou através das respectivas entidades sindicais.”
3. PRINCÍPIOS 
Muito embora não seja disciplina autônoma o direito coletivo do trabalho tem princípios próprios.
3.1. LIBERDADE SINDICAL
Deriva de um princípio mais amplo que é o da liberdade de associação. Art. 5º XVII e XX e 8º V, ambos da Constituição Federal. 
Tem várias dimensões: em relação ao indivíduo, em relação ao grupo e de ambos perante o Estado. Tendo em vista a importância do tema para o Direito Coletivo do Trabalho, o aprofundaremos posteriormente no capítulo 4.
3.2. AUTONOMIA COLETIVA DOS PARTICULARES
Entre a autonomia individual e a autonomia pública há a autonomia coletiva, que é a autonomia entre os grupos intermediários entre o indivíduo e o Estado.
Reconhecendo os grupos intermediários e o direito de associação, o Estado reconhece também o direito dos grupos de regular os próprios interesses. 
A autonomia não é o mesmo que soberania, que pertence somente ao Estado.
Corresponde:
Autonomia organizativa - resulta da autonomia do sindicato de elaborar seus próprios estatutos.
A autonomia administrativa - direito do sindicato de eleger a sua diretoria e exercer a própria administração.
A autonomia negocial - poder que se confere aos entes sindicais de criarem normas a serem aplicadas as relações trabalhistas – acordos e convenções coletivas. (fontes formais de direito do trabalho)
Autotutela - o reconhecimento de que os sindicatos devem ter meios de luta para a solução dos conflitos, previstos nos termos da lei, como a greve. 
3.3. ADEQUAÇÃO SETORIAL NEGOCIADA
É o limite jurídico da norma coletiva. Somente podendo se estabelecer normas coletivas com direitos mais benéficos ao trabalhador. (princípio de direito individual do trabalho da proteção/aplicação da norma mais favorável).
Somente quando
a Constituição Federal autorizar é que se poderão estabelecer normas desfavoráveis.
4. LIBERDADE SINDICAL
Diversos autores conceituam liberdade sindical, não só por ser princípio de Direito Coletivo do Trabalho, como por ser considerado direito fundamental.
Luiz Alberto Matos dos Santos, em sua obra A liberdade sindical como direito fundamental, cita que Octavio Magano enfatiza a tradição de nosso direito que é conceber a liberdade sindical em três dimensões : sindicalização livre, autonomia e pluralidade sindical e a define como sendo “o direito dos trabalhadores e empregadores de não sofrerem interferência nem dos poderes públicos, nem de uns em relação aos outros, no processo de se organizarem, bem  como de promoverem interesses próprios ou de grupos que pertençam.”
Russomano afirma que a liberdade sindical é uma figura triangular, cujas partes distintas, sindicalização, autonomia sindical e pluralidade sindical, ao se tocarem nas extremidades, formam um triângulo jurídico.  
Normalmente os autores entendem a liberdade sobre três enfoques, Orlando Gomes e Elson Gottschalk a entendem sobre três aspectos : em relação ao indivíduo, em relação ao grupo e de ambos perante o Estado.
- Liberdade de filiar-se a um sindicato;
É considerada o aspecto positivo da liberdade de associação. A liberdade de filiar-se sem nenhuma condição, senão de cumprir os estatutos. Não pode haver despedida ou recusa de admissão em razão do indivíduo ser filiado a um sindicato. Também não pode haver cláusula no contrato de trabalho em que o empregado se obrigue a não se filiar (este último nos Estados Unidos chamado de Yellow dog contract). 
- Liberdade de não se filiar a um sindicato;
É chamada de aspecto negativo da liberdade sindical. Não pode haver a exigência de filiação a um sindicato para contratação ou manutenção do contrato.  Práticas freqüentes nos Estados Unidos e na Inglaterra, assim denominadas :
Closed shop exigência de filiação como condição de emprego.
Union shop filiação ao sindicato como condição à continuidade no emprego.
- Liberdade de retirar-se de um sindicato;
É o complemento lógico das duas primeiras em regime de sindicalismo livre.
 Liberdade sindical em relação ao grupo :
- Liberdade de fundar um sindicato;
Deve-se entender sob esse aspecto que se devem minimizar as formalidades para a constituição de um sindicato. Não pode haver formalidades que impliquem, de fato, a negação da liberdade.
A publicidade é o máximo exigido. Não pode haver “autorização” para funcionamento.
- Liberdade de determinar o quadro sindical na ordem profissional e territorial;
O quadro territorial e profissional em que o sindicato é constituído é determinado pelos próprios interessados.
Pode se constituído dentro de uma só profissão ou profissões similares. É permitida a constituição de vários sindicatos dentro de uma profissão ou categoria.
- Liberdade de estabelecer relações entre sindicatos para formar agrupações mais amplas;
Liberdade de constituir federações e confederações, assim como a elas filiar-se. E de as organizações filiarem-se a organizações internacionais;
- Liberdade de fixar regras internas para regular a vida sindical;
A liberdade de criarem seus estatutos e para elegerem seus administradores.
- Liberdade na relação entre o sindicalizado e o grupo profissional;
O sindicato é obrigado a aceitar o pedido de filiação de um membro da profissão?
A matéria é controvertida. 
O sindicato poderá recusar se a decisão for tomada de acordo com os estatutos. Não poderá se a decisão for por discriminação quanto à raça, religião, ideologia, filiação político-partidária. 
- Liberdade nas relações entre os sindicatos de empregados e de empregadores;
Deve haver o reconhecimento e a independência dos sindicatos de empregados em relação aos sindicatos de empregadores.
LIBERDADE SINDICAL EM RELAÇÃO AO ESTADO :
- A independência do sindicato em relação ao Estado, o conflito entre a autoridade do Estado e a ação sindical e a integração do Sindicato no Estado são problemas que se relacionam com o mono ou plurisindicalismo, com o sindicato obrigatório, sua representação em face da categoria ou profissão que estudaremos adiante.
 
4.1. Liberdade sindical no Brasil 
A autonomia dos Sindicatos perante o Estado, conforme já dito, sempre sofreu restrições no Brasil.
A Constituição de 1988 eliminou o controle político administrativo do Estado sobre os sindicatos quer quanto à sua criação, quer quanto a sua gestão e alargou as prerrogativas de atuação dos sindicatos.
Porém manteve: unicidade sindical; representação por categoria profissional/econômica; financiamento genérico e compulsório de toda a sua estrutura; poder normativo dos tribunais trabalhistas; representação classista na justiça do trabalho. 
4.1.1. Unicidade sindical
Pluralidade sindical – quando é permitido e efetivamente existe mais de um sindicato de determinada profissão. Na França  funciona a pluralidade.
Unidade sindical – quando a lei permite a criação de mais de um sindicato por base por profissão, mas efetivamente só existe um. 
Na unidade não há contrariedade ao princípio da liberdade sindical, já que são os interessados que voluntariamente decidem pela sua adoção. Alemanha e Suécia são exemplos onde o sistema é o da unidade.
A Organização Internacional do Trabalho não tomou partido, seja da unidade, seja da pluralidade sindical.  
No Brasil vigora a unicidade sindical.
UNICIDADE SINDICAL – quando a lei obriga a existência de somente um sindicato de determinada profissão. 
Predomina o intervencionismo estatal, onde os sindicatos são constituídos conforme regras estabelecidas pelo poder público, negando o princípio da liberdade de organizarem-se.
Ou seja, Sindicato obrigatoriamente único por categoria profissional ou diferenciada em se tratando de trabalhadores e por categoria econômica, em se tratando de empregadores. A base territorial mínima dos sindicatos é o município. Base territorial é a abrangência de representatividade dos trabalhadores ou empregadores.
A personalidade sindical depende de registro junto ao Ministério do Trabalho. Esse registro visa conferir se não existe outro Sindicato representativo da mesma categoria em certo espaço territorial (base territorial).
Entende-se que a exigência do registro por si só não fere a liberdade sindical.
4.1.2. REPRESENTAÇÃO POR CATEGORIA PROFISSIONAL/ECONÔMICA
Representação e filiação são distintas. 
Pertencer a determinada categoria profissional ou econômica independe da vontade. A representação legal da categoria pelo Sindicato é automática e incondicional. A filiação é opcional e espontânea.
Empregador faz parte da categoria econômica de sua atividade preponderante, em determinada área territorial.
Empregado faz parte da categoria profissional correspondente à categoria econômica de seu empregador.
Empregado pode exercer profissão diferenciada (§3º 511). Nesta hipótese, independente da atividade desenvolvida pelo empregador, pertencerá o empregado, sempre, à sua própria categoria. Quanto a aplicação das normas coletivas, dependerá de o empregador ter participado da negociação coletiva.
4.1.3. Contribuição sindical obrigatória
Anteriormente conhecida como imposto sindical está prevista no art. 579 da CLT que ainda está em vigor. É compulsória, devida independentemente de filiação, manifestação de vontade ou concordância do trabalhador ou empregador. É devida pelo simples fato de fazer parte de uma determinada categoria profissional ou econômica.
4.1.4. Competência normativa da Justiça do Trabalho
Possibilidade dos Tribunais Trabalhistas criarem normas para determinada categoria, através do julgamento dos dissídios coletivos (sentenças normativas).
Existente somente no Brasil é criticada pela doutrina internacional e atualmente pela nacional.
Solução do regime fascista que inibe greve e não condiz com a moderna doutrina neoliberal de autocomposição das disputas coletivas.
Desestimula o desenvolvimento de um sindicato autêntico, porque atribui ao Estado a solução dos conflitos que poderia ser realizado somente pelas partes ou com a intervenção de mediadores e árbitros.
4.1.5. Representação classista na justiça do trabalho 
Foi eliminada com a Emenda Constitucional nº 24/99.
Também era vista como resquício do velho sistema corporativista, pois mantinha a representação corporativa no seio do Estado.
4.2. Convenção 87 da OIT
Versando sobre liberdade sindical, a Convenção 87 da OIT faz diversas previsões, como segue.
Direito de constituir, sem autorização prévia do Estado organizações de sua escolha, bem como o direito de se filiar a essas organizações, sob a única condição de observar seus estatutos.
Empregadores e trabalhadores poderão escolher entre a unidade ou a pluralidade sindical.
O direito de filiar-se e o de retirar-se do sindicato.
Liberdade das organizações de elaborar seus estatutos e regulamentos administrativos, de eleger livremente seus representantes, sem qualquer interferência do Estado
As autoridades públicas devem abster-se de qualquer intervenção que possa limitar esse direito ou entravar seu exercício legal
As organizações não estão sujeitas à dissolução ou suspensão por via administrativa
As organizações terão o direito de constituir federações e confederações, bem como filiar-se a essas e às organizações internacionais.
As organizações para aquisição da personalidade jurídica não poderão estar sujeitas a condições que possam restringir o direito de associação.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando