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Teoria do Processo 01

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Teoria do Processo: Aula 01 (Introdução ao Direito Processual e noções básicas)
Prof. Antonio Rodrigues do Nascimento
1. Introdução à Teoria do Processo
Sociedade e Direito: Nos primórdios da civilização, vigorava a lei do mais forte, aquele que superasse em força os demais tinha as melhores oportunidades, fêmeas, bens etc.
Ubi societas ubi jus (não há sociedade sem o direito): Relação entre sociedade e Direito. Estado e Direito: Estado Absoluto, Estado Liberal e Estado Democrático e Social de Direito. O Direito como forma de controle social (monopólio da administração da Justiça).
Solução de conflitos: Insatisfações causam conflitos. Quando alguém, querendo um bem para si, seja material ou qualquer imaterial, não consegue porque a) aquele que poderia satisfazer sua pretensão, não satisfaz (ex: quando uma pessoa não entrega um bem que o outro quer) ou b) o próprio direito proíbe essa satisfação (ex: quando se pretende algo proibido pelo Direito).
Formas de Resolução de conflitos (“conflito de interesses qualificados por uma pretensão resistida”, Francesco Carnelutti): Para a eliminação dos conflitos existem meios de resolução tais como: 
a) AUTOTUTELA (ou AUTODEFESA): quando uma dessas partes impõe seu direito sobre a outra parte estamos diante da forma de resolução de conflitos chamada; 
 
b) AUTOCOMPOSICÃO: i) unilateral: quando a resolução do problema é realizada de forma amigável por ato de uma ou ambas as partes (renúncia, submissão ou transação; ii) bilateral: CONCILIAÇÃO e MEDIAÇÃO 
c) HETEROCOMPOSIÇÃO: quando a resolução se dá por ato de terceiro estranho a relação: i) ARBITRAGEM (Lei 9.307/1996); ii) PROCESSO (Jurisdição Estatal). 
2. Teoria do Processo 
⟹ Teoria do Processo Concebida como Teoria Geral do Processo foi erigida pela doutrina italiana na primeira metade do Século XX (Francesco Carnelutti e Giuseppe Chiovenda) e popularizada no Brasil na segunda metade do século (Ada Pellegrini Grinover, Antônio Carlos de Araújo Cintra e Cândido Rangel Dinamarco). Propunha uma teoria universal sem nenhuma distinção de espaço e tempo (cientificismo do jusnaturalismo racionalista do Século XVIII). O problema é que os ordenamentos jurídicos têm conceitos e institutos distintos (v.g., nos EUA jurisdiction = competência e adjudication = jurisdição; embargos de declaração é recurso no Brasil, na Alemanha é simples requerimento). De fato, não há conceitos jurídicos independentes de determinada ordem jurídica. 
⟹ A Teoria do Processo concebida como Teoria Transordenamental do Processo, isto é, uma teoria que pretenda construir conceitos suscetíveis de utilização em determinados ordenamentos jurídicos que contam com características semelhantes (concepção do positivismo jurídico kelseniano do Século XX) degenera em simples comparatismo dogmático.
⟹ A Teoria do Processo concebida como Teoria Transsetorial do Processo, isto é, uma teoria que tencione organizar fundamentos e conceitos comuns aos diversos campos do ordenamento jurídico não supera as diferenças funcionais entre o processo civil e o processo penal, bem como nas diferenças entre processo jurisdicionais e não jurisdicionais (processo legislativo ou processo administrativo).
⟹ A Teoria do Processo e constitucionalização da matéria processual. Objeto da disciplina e recorte metodológico: Teoria do Processo Civil, a partir da qual examinaremos conceitos básicos do processo, a saber, jurisdição, ação, defesa e processo, na perspectiva do processo civil. 
3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA JURISDIÇÃO, PROCESSO, AÇÃO E DEFESA 
Princípo da Legalidade: CR, art. 5º, II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; 
Princípio da universabilidade da jurisdição (ou inafastabilidade): CR, art. 5º, XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Direito fundamental ao processo justo e à jurisdição: CR, art. 5º: LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
Acesso à Justiça: CR, art. 5º:  LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. 
4. Justiça Multiportas 
Desde a década de 1970 existe uma enorme tendência de uso cada vez mais recorrente das anteriormente chamadas ADRs (Alternative Dispute Resolution – técnicas alternativas de resolução de conflitos) como opção ao sistema jurisdicional tradicional. Essa inclinação se iniciou como uma tendência de permitir que conflitos de menor complexidade, que não necessitassem de conhecimento jurídico, pudessem ser dimensionados fora do sistema tradicional (multi-door Courthouse – Tribunal multiportas)
O conceito de Justiça Multiportas encontra respaldo no novo CPC, que traz em uma seção pertinente aos Conciliadores e Mediadores Judiciais instituídos do artigo 165 ao 175, prestigiando os mecanismos alternativos, oferecendo espaço para a mediação e a conciliação como formas eficazes de solucionar os conflitos existentes que formam grande número de processos dentro do Judiciário, que não conseguem suprir as tutelas por falta de mecanismos acessíveis para o acesso à justiça. O art. 165 do CPC/2015 dispõe que “os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição”.
O texto do Novo CPC dá  destaque especial à Conciliação e à Mediação ao prever e disciplinar sua aplicação em várias oportunidades.
“Art. 3º. Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. 
§ 1º. É permitida a arbitragem, na forma da lei. 
§ 2º. O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. 
§ 3º. A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.”
Bibliografia básica: Luiz Guilherme Marinoni; Sérgio Cruz ARENHART; Daniel MITIDIERO. Curso de Processo Civil, v. 1 – Teoria do Processo Civil, 3ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.

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