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TRF2 Direito Administrativo Aula 07

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Curso prático-teórico de Direito Administrativo 
Profº. Cyonil Borges 
 
 
RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL DO ESTADO 
Olá, amigos, tudo bem? No presente encontro, será trabalhado o item 
responsabilidade civil do Estado (ou da Administração ou Extracontratual, 
como preferem alguns). 
O assunto é um dos mais debatidos nos meios acadêmicos, em razão das 
inúmeras novidades e polêmicas que lhe dizem respeito. Ressalto que, 
apesar de apaixonante, o tema será abordado com a precisão de sempre, ou 
seja, dentro do que é necessário para que não percamos nenhum item em 
prova relacionado ao conteúdo. 
Distintamente das aulas anteriores, teremos referências doutrinárias e, 
sobretudo, jurisprudenciais, pois as posições dos Tribunais Superiores têm 
evoluído a olhos vistos. Por isso, peço licença para as citações de decisões, 
as quais, forçosamente, deverão ser feitas. 
Neste tópico, serão vistos os seguintes assuntos: 
 Evolução Doutrinária das Teorias de Responsabilidade Civil do Estado 
 Responsabilidade Civil da Administração no Direito Brasileiro 
 Responsabilidade Civil na Constituição Federal 
 Responsabilidade Civil por Atos Legislativos 
 Responsabilidade Civil por Atos Judiciais 
 Responsabilidade Subjetiva 
 Responsabilidade Civil por Danos Decorrentes de Obra Pública 
 Ações de Reparação do Dano 
 O Direito de Regresso da Administração 
Sem mais delongas, vamos ao aprendizado. 
 
 
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Evolução Doutrinária das Teorias de Responsabilidade Civil do 
Estado 
De forma geral, a responsabilização civil do Estado encontra origem no 
Direito Civil, ramo do direito que, originalmente, trata da matéria. Pela 
teoria da responsabilização civil do Estado, aquele que causa prejuízo 
a outrem tem a obrigação de indenizar o dano patrimonial causado por 
um fato lesivo. 
Porém, diferentemente do que ocorre na relação entre os particulares, 
a responsabilização do Estado constitui modalidade extracontratual, haja 
vista inexistir um pacto, isto é, um contrato a sustentar o dever de reparar. 
Exatamente por isso o texto constitucional fala em terceiros em geral, nos 
termos do art. 37, §6º. 
Sinteticamente, podem ser apontados com os elementos necessários 
para a definição da responsabilidade civil extracontratual do Estado: 
I) O ato lesivo causado pelo agente, que independe, na espécie, de 
culpa em sentido amplo, a qual abrange o dolo (ato intencional, 
voluntário) e a culpa em sentido estrito, a qual, por sua vez, engloba 
a negligência, a imprudência e a imperícia. Ou, ainda, o fato 
lesivo decorrente da inação/omissão do Estado, neste caso, 
necessariamente decorrente de culpa em sentido amplo; 
II) A ocorrência de um dano patrimonial/econômico ou/e moral; 
III) O nexo de causalidade entre o dano havido e o comportamento 
do agente, o que significa dizer ser necessário que o dano 
efetivamente tenha decorrido, direta ou indiretamente, da ação ou 
omissão de agente público; 
IV) A alteridade, no sentido de o prejuízo ter sido provocado por 
outrem e não por culpa exclusiva do paciente. 
 
Assim, a responsabilização civil da Administração Pública ocorre 
quando da existência de dano causado a alguém em face da conduta de 
agente público, no exercício da função pública. O assunto, mais à frente, 
assunto será melhor detalhado. 
A doutrina ensina que a responsabilidade patrimonial 
extracontratual do Estado como sendo aquela que gera a obrigação de 
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reparar danos causados a terceiros em decorrência de 
comportamentos comissivos (ação) ou omissivos (inação), materiais 
ou jurídicos, lícitos ou ilícitos, imputáveis aos agentes públicos. 
 
1) (2009/FCC – TRT/MG – Analista) A responsabilidade extracontratual 
do Estado 
a) pode decorrer de atos ou comportamentos que, embora lícitos, causem a pessoas 
determinadas ônus maior que o imposto aos demais membros da coletividade. 
b) só incide quando o agente público pratica algum ato ilícito. 
c) pode decorrer de comportamentos comissivos e omissivos, desde que presente o 
elemento doloso na conduta do agente público. 
d) somente se verifica em face de comportamentos comissivos. 
e) somente é admitida excepcionalmente, tendo em vista o princípio da supremacia 
do interesse público sobre o privado.1 
Difere a responsabilidade civil das responsabilidades penal e 
administrativa. As três são independentes entre si, com sanções 
específicas a serem aplicadas em cada uma dessas esferas, quando for o 
caso. 
 
1
 Gabarito: letra A. O erro da letra B é que o Estado responde por atos lícitos e ilícitos. O erro da letra C é 
que o Estado responde independentemente do elemento volitivo. O erro da letra D é que o Estado 
responde também por atos omissivos, sendo, neste caso, a responsabilidade objetiva. O erro da letra E é 
que o Estado responde objetivamente como regra. 
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Não há que se falar, necessariamente, de ação ilícita por parte do 
Estado para que este seja responsabilizado civilmente. Inclusive, a regra 
constitucional registra a correlação: fato lícito X responsabilização civil 
do Estado. 
Por exemplo: Sean faz cirurgia de redução de estomago em hospital 
do Estado que, embora lícita, causa-lhe complicações. Apesar de lícita, 
nem por isso afasta a responsabilidade do Estado. Sapo da Vez faz 
operação para se embelezar, no entanto, o resultado continua o 
mesmo (feio que dói ), ainda assim o Estado permanecerá 
responsável. 
Pois bem. Superada essa rápida introdução para delinearmos o que se 
deve entender quanto à expressão “Responsabilidade Civil da Administração 
Pública”, passemos à questão sobre a evolução histórico-doutrinária. 
O conceito e a fundamentação da responsabilidade civil do Estado são 
extremamente dinâmicos e não podem ser encarados, por exemplo, à luz 
dos fundamentos jurídicos do século XIX. Diversas são as concepções 
doutrinárias a respeito da evolução do instituto ora tratado, a qual se 
apresenta, resumidamente, indo da irresponsabilidade do Estado (fase 
das regalias, do feudalismo) até a Teoria do Risco Integral (o Estado 
como segurador universal). 
1ª Teoria: A irresponsabilidade do Estado 
No princípio, o Estado não era responsabilizado pelos danos 
causados por seus agentes. Valia, então, a máxima: The King can do no 
wrong (o rei não erra), ou, ainda, le roi ne peut mal faire (o rei não pode 
fazer mal – sem o biquinho dos franceses ). 
Adotada na época dos estados absolutistas, despóticos, evidentemente 
tal teoria caiu em desuso, dado o seu evidente caráter injusto, uma vez que 
o Estado, guardião do Direito que é, não poderia deixar de ser 
responsabilizado pelos danos causados a terceiros. 
Há quem diga que mesmo nos países em que se resistiu com 
intensidade ao abandono desta teoria (Inglaterra e EUA, até meados do séc. 
XX), ela não mais se sustenta. 
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Algumas organizadoras usam o nome teoria regalista (isso mesmo, 
de regalias) no lugar de teoria da irresponsabilidade, ou, ainda, teoria 
feudal para designar tal período. 
 
E, no Brasil, vigorou ou vigora a teoria da irresponsabilidade? 
No sentido ora em estudo, por incrível que possa parecer, o Estado 
Brasileiro nunca foi irresponsável! Durante o Império, vigorou a dupla 
personalidade do Estado. Para a prática de atos de império 
(unilaterais, praticados com coercibilidade, com império, Poder 
Extroverso),tínhamos a irresponsabilidade. Porém, tratando-se de atos 
de gestão, na qualidade de quase particulares, o Estado respondia pelos 
atos dos funcionários. 
No entanto, mais à frente, em outro sentido, veremos que para a 
prática de atos jurisdicionais e legislativos a regra é a irresponsabilidade 
do Estado. 
2ª Teoria: A Responsabilidade com Culpa Civil do Estado 
(natureza subjetiva) 
Após a superação da teoria da irresponsabilidade do Estado, surge a 
teoria da responsabilidade com culpa civil do Estado. Por meio dessa 
teoria, o Estado responderia apenas pelos prejuízos decorrentes de seus 
atos de gestão, desprovidos de supremacia estatal, praticados pelos seus 
agentes, não respondendo, contudo, pelos atos de império (protegidos 
pela posição diferenciada do Estado na sociedade), regidos por normas de 
direito especial, exorbitantes do direito comum. 
A responsabilização do Estado durante esse período foi baseada na 
dupla personalidade do Estado, enquanto produtor de atos de império 
(PÚBLICO), irresponsável; já quando da prática de atos de gestão 
(PRIVADO), responsável. 
 
Pela teoria baseada na culpa civil (teoria civilista), o Estado 
responde pelos danos causados por seus agentes, ao praticarem atos 
de gestão, porém, só no caso de culpa ou dolo. Isso mesmo. Ao 
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particular prejudicado, além de individualizar o causador do dano 
(identificar, nominalmente, o funcionário do Estado), incumbiria 
demonstrar a existência dos elementos de culpa em sentido amplo 
do agente. Exatamente por esse motivo a doutrina afirma ser uma teoria 
de natureza subjetiva, ou seja, em que devem ser discutidos os aspectos 
intencionais (dolo) ou não-intencionais (culpa). Com outras palavras, o 
particular prejudicado tinha de discutir o que o agente pensou ou deixou de 
pensar. 
 
Não há dúvida de que essa teoria é comparativamente melhor do que 
a anterior (a da irresponsabilidade), contudo os preceitos da Teoria da 
Responsabilidade com Culpa Civil são, por vezes, de difícil aplicação, em 
razão da impossibilidade de fazer separação entre atos de império ou 
de gestão do Estado ou, ainda, de o particular identificar o agente público 
causador do dano e mais: de provar culpa ou dolo. 
Responda rápido: qual é o agente causador de um raio? De uma 
inundação? 
Com certeza não é o agente público, daí a fragilidade da teoria civilista 
em atribuir ao Estado a responsabilidade por atos lesivos pela omissão. 
3ª Teoria: A Teoria da Culpa Administrativa ou Culpa Anônima 
(natureza subjetiva) 
Esta teoria representa um estágio evolutivo da responsabilidade do 
Estado, hoje adotada pela maioria dos países do ocidente. Uma fase de 
transição entre a teoria da culpa civilista (baseada na necessidade de 
comprovação da culpa) para o risco administrativo (objetiva, pois que 
aplicada independentemente da necessidade de comprovação de culpa em 
sentido amplo). 
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O principal acréscimo foi quanto à desnecessidade de se fazer 
diferença entre os atos de império e os de gestão. 
Independentemente de qual categoria de ato se tratasse (império ou 
gestão), ocorrendo o prejuízo, o Estado responderia por este, desde que 
possuísse culpa quanto à situação. É dizer, o interessado possuía o dever 
de provar a culpa do Estado, mesmo que não fosse possível 
identificar o agente causador do prejuízo, talvez por isso a doutrina 
majoritariamente aponta-a como de natureza subjetiva (demonstração de 
culpa ou de dolo). 
Dessa maneira, haja vista a desnecessidade de se individualizar 
a conduta do agente, a doutrina reconheceu a teoria como de “culpa 
anônima ou administrativa”, a faute de service, na doutrina francesa, 
inspiradora da nossa. 
 
Chamo atenção para o fato de que a culpa administrativa pode 
consumar-se de três modos diversos: inexistência, mau funcionamento, 
ou retardamento do serviço. Ressalto que os fundamentos dessa teoria 
ainda servem de subsídio para responsabilização do Estado em algumas 
situações, como na omissão administrativa. 
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4ª Teoria: Teoria do Risco Administrativo 
De acordo com essa teoria, o Estado tem o dever de indenizar o 
dano sofrido de forma injusta pelo particular, independente de falta do 
serviço ou de culpa dos agentes públicos. Existindo o dano (o FATO do 
serviço e não a FALTA), o Estado tem a obrigação de indenizar. 
A teoria do risco administrativo (inserida, em termos 
constitucionais, desde a CF/1946) encontra fundamentos, em nossa ordem 
jurídica atual, no §6º do art. 37 da CF/1988. Vejamos: 
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado 
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que 
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o 
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. 
O dispositivo será esmiuçado nas linhas a seguir, mas já é possível 
trazer duas importantes observações: 
I) o risco administrativo não se aplica a todas as hipóteses em 
que órgãos/entidades do Estado causem prejuízos a terceiros, mas tão só 
nos casos em que a AÇÃO (não de omissão genérica) de uma PESSOA 
JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO ESTATAL venha a causar dano a 
particulares; 
II) as prestadoras de serviço público, independente de serem 
entidades administrativas estatais ou não, submetem-se às regras de 
responsabilização civil válidas para o Estado (com algumas ressalvas). 
 
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As entidades assumem o RISCO da atividade estatal, em contrapartida 
aos rendimentos que auferirão em decorrência da prestação dos serviços, 
em síntese: para todo „bônus‟ há um correspondente „ônus‟. Como 
exemplo: a teoria do risco administrativo vale para concessionárias e 
permissionárias de transporte coletivo, enfim, retiram dos usuários seu 
„bônus‟, logo, responderão objetivamente (assumirão o „ônus‟) perante os 
seus próprios usuários. 
No entanto, na nova visão do STF, a responsabilidade objetiva das 
concessionárias deve ser estendida também aos terceiros, afinal o 
texto constitucional não separou, em nenhum instante, entre usuários ou 
terceiros, ao contrário disso, fez destaque ao termo terceiros. 
Ainda que a teoria do risco administrativo não exija que o particular 
comprove a culpa da Administração, é possível que o Poder Público 
demonstre a culpa da vítima para excluir ou atenuar a indenização. 
Essa é a fundamental diferença com relação ao risco integral, como veremos 
a seguir. Assim, permite-se que a Administração possa comprovar a culpa 
do pretenso lesado no evento danoso, de forma a eximir o erário, integral 
ou parcialmente, do dever de indenizar. 
 
 
2) (2009/FCC – TJ/SE – Analista Judiciário) Nos casos de 
responsabilidade objetiva, o Estado só se exime de responder se 
a) o seu agente agiu com dolo, caso em que a responsabilidade é do agente. 
b) faltar o nexo entre o seu comportamento e o dano. 
c) o seu agente não agiu com culpa em sentido estrito. 
d) houver culpa concorrente do lesado. 
e) o dano foi de pequena monta.2 
 
5ª Teoria: A Teoria do Risco Integral 
O risco integral consiste em uma modalidade exacerbada (imoderada, 
não-razoável) da teoria risco administrativo. Na modalidade risco integral, a 
Administração fica obrigada a indenizar os prejuízos suportados por 
terceiros, ainda que resultantes de culpa exclusiva, de eventos da 
natureza, ou de fato exclusivo de terceiros. O Estado funciona na 
qualidade de verdadeiro segurador universal. 
A maiorparte da doutrina brasileira entende não ser aplicável o risco 
integral no Direito Administrativo, em razão do exagero contido em sua 
 
2
 Gabarito: letra B. São elementos da responsabilidade objetiva do Estado: conduta, dano e nexo de 
causalidade. Pouco importa se a conduta do agente público foi lícita ou ilícita (dolosa ou culposa – culpa 
em sentido amplo). 
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construção conceitual. Essa, inclusive, é a posição tida por correta pelo 
Cespe e pela FCC, e que, claro, deverá, em provas de Direito Administrativo 
(repito!), ser acompanhada pelas demais organizadoras. 
Há parte da doutrina que defende ser o acidente nuclear uma 
aplicação da teoria do risco integral. No entanto, a própria Lei de 
Acidente Nuclear afirma que o Estado não responderá em havendo 
culpa exclusiva da vítima, evidência de que os posicionamentos das 
organizadoras Cespe e FCC são mais válidos nos dias atuais. 
Então, posso levar este entendimento como verdade para a 
prova? 
Mais ou menos. Em provas de concursos, não há indicação 
bibliográfica, e, bem por isso, não existem verdades absolutas. Há 
doutrinadores que sustentam, com unhas e dentes, hipóteses de risco 
integral (o acidente nuclear, o atentado terrorista, os danos ambientais). 
Então, aconselho sempre o jogo-de-cintura. 
Apesar das controvérsias doutrinárias, penso que a não adoção da 
referida teoria é a posição que devemos levar para a prova. De fato, não há 
sentido jurídico algum em que o Estado assuma, integralmente, o dever de 
indenizar alguém que seja absolutamente culpado por eventual prejuízo 
causado a si mesmo. 
Por exemplo: imagina um servidor público que tenha, em razão de seu 
cargo, a atribuição de transportar material radiativo. Insatisfeito com a 
vida, o dito servidor resolve por fim a sua própria vida. Daí derrama 
garganta abaixo o produto que transporta e acaba se suicidando. 
Pergunta-se: ainda assim, o Estado estaria obrigado a indenizar a 
família? 
Deixando de lado outras informações, centrando na idéia de culpa 
exclusiva da vítima, entendemos que não há responsabilidade do 
Estado. Além disso, a “vítima” (o servidor suicida), ao fim, é culpada (e não 
vítima), uma vez que responsável, integralmente, pelo prejuízo causado a si. 
Então, ficamos assim para nossa prova: não se adota (e nunca se 
adotou) a teoria do risco integral no Brasil! 
 
3) (2006/FCC – OAB/SP) No campo da Responsabilidade Extracontratual 
do Estado, diz-se que este não se converte em Segurador Universal, visto 
que o direito brasileiro não adota a teoria: 
a) do Risco Administrativo. 
b) da Responsabilidade objetiva nos casos de nexo causal. 
c) do Risco Integral. 
d) da Responsabilidade subjetiva por condutas comissivas.3 
 
4) (2010/FCC – TJ/PI – Assessor) No que diz respeito à 
responsabilidade civil da Administração é INCORRETO afirmar: 
(A) A ação regressiva da Administração contra o agente causador direto do dano 
transmite-se aos herdeiros e sucessores do servidor culpado, podendo ser instaurada 
mesmo após a cessação do exercício no cargo ou na função. 
 
3
 Letra C. Não adotamos o risco integral. Esse é o entendimento doutrinário majoritário. 
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(B) A teoria da irresponsabilidade do Estado, adotada na época dos Estados 
absolutos, repousava fundamentalmente na ideia de soberania, tendo os Estados 
Unidos e a Inglaterra abandonado tal teoria respectivamente em 1946 e 1947. 
(C) Às sociedades de economia mista e empresas públicas não se aplicará a regra 
constitucional atinente à responsabilidade do Estado, mas sim a responsabilidade 
disciplinada pelo direito privado, quando não desempenharem serviço público. 
(D) Para que a Administração indenize prejuízos causados a particulares por atos 
predatórios de terceiros ou por fenômenos naturais, faz-se necessária a prova da 
culpa da Administração. 
(E) No Brasil, a Constituição Federal de 1934 acolheu o princípio da responsabilidade 
solidária entre Estado e funcionário. Já a Constituição de 1946 adotou a teoria da 
responsabilidade subjetiva do Estado.4 
 
5) (2008/FCC – TCE-AL – Procurador) A respeito da responsabilidade do 
Estado e sua evolução na legislação pátria, pode-se afirmar que o 
ordenamento jurídico brasileiro 
a) evoluiu da teoria da responsabilidade subjetiva para a objetiva, incluindo, 
atualmente, a possibilidade de responsabilização do Estado pela prática de atos 
lícitos e por danos morais. 
b) adota a teoria da responsabilidade objetiva, mas a Constituição federal de 1988 
continua a exigir a demonstração da culpa do agente para a responsabilização do 
Estado por danos morais. 
c) sempre adotou a teoria da responsabilidade objetiva, que foi sensivelmente 
ampliada com a promulgação da Constituição federal de 1988, quando se passou a 
admitir a responsabilização por danos morais. 
d) passou, com a Constituição federal de 1988, a adotar a teoria da responsabilidade 
objetiva para as hipóteses de erro judiciário, exigindo a demonstração da culpa do 
agente pela prática de atos lícitos. 
e) passou a adotar, com a Constituição federal de 1988, a teoria da responsabilidade 
objetiva do Estado.5 
 
Risco Administrativo 
O art. 37, §6º, do texto constitucional é expresso em afirmar que a 
responsabilidade é aplicada independentemente de culpa ou de dolo. 
Decorre disso o fato de o risco administrativo ser de natureza OBJETIVA. 
Vejamos: 
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado 
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus 
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito 
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. 
Não vigora (e nunca vigorou) entre nós a teoria da 
irresponsabilidade. Mesmo na Constituição de 1824, tivemos a aplicação 
da teoria civilista, com a separação entre atos de império (o Rei não erra, 
 
4
 Letra E. Com a CF, de 1946, inauguramos, em termos constitucionais, a responsabilidade objetiva. 
5
 Gabarito: letra A. O erro da letra B é que a responsabilidade independe da demonstração de dolo ou 
culpa. O erro da letra C é que só com a CF, de 1946, houve a inauguração da responsabilidade objetiva. O 
erro da letra D é que o Estado, de regra, não responde por erro judiciário. O erro da Letra E é que, apesar 
de atual CF, no §6º do art. 37, registrar, expressamente, a teoria do risco administrativo, da 
responsabilidade objetiva, foi com a CF, de 1946 que houve a inserção. 
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logo, o Estado não responde) e atos de gestão (o Estado responde como se 
particular fosse). 
 O dano, em si, é prejuízo, que pode ser material ou moral (o “preço 
da dor”, por assim dizer). Já o fato lesivo diz respeito à ação/omissão por 
parte do causador do dano. Por fim, o nexo de causalidade, que pode ser 
entendido como o liame (o elo) entre a ação/omissão do Estado (ou de 
seus representantes, em algumas situações) com o prejuízo causado, ou 
seja, o vínculo direto entre as duas pontas para a responsabilidade civil: a 
ação e o dano. 
 
Se tivermos algo que rompa com tal causalidade, restará não 
configurada a responsabilidade civil da Administração, em razão do 
rompimento da causalidade necessária para que o Estado passasse a ter 
o papel de promover a indenização. Esse rompimento do nexo de 
causalidade será estudado mais à frente, são as tais excludentes da 
responsabilidade do Estado. Exatamente porisso, das três teorias do nexo 
causal, adotamos, para o risco administrativo, a interrupção do nexo causal 
ou danos diretos e imediatos. 
 
Abro um parêntese para esclarecer o sentido de “agente público” e de 
terceiros, nos termos do §6º do art. 37 da CF, de 1988. 
Para o conceito de agente público, socorro-me do art. 2º da Lei 8.429, 
de 1992 (a Lei de Improbidade Administrativa). Vejamos: 
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele 
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por 
eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma 
de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas 
entidades mencionadas no artigo anterior. 
Perceba que o alcance é bem amplo, de tal sorte a abranger, desde os 
mesários e membros do júri (agentes honoríficos, caráter transitório e sem 
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remuneração), os servidores detentores de cargos e empregos públicos da 
Administração. Obviamente, para a responsabilização do Estado, não é 
suficiente “ter a identidade”, “a carteirinha”, de servidor público, é condição 
sine qua non que os atos danosos tenham sido praticados pela agente 
público, nessa qualidade. Explico. 
Um policial militar, no dia de folga, quando estava na frente da sua 
casa, de bermuda e sem camisa, discute com um transeunte e acaba 
desferindo tiros de uma arma antiga, que seu avô lhe dera. 
Nesse caso, o Estado não será responsabilizado, pois o policial, apesar 
de ser agente público, não atuou nessa qualidade; sua conduta não 
pode, pois, ser imputada ao Ente Público, portanto. 
Uma questão interessante que se impõe é saber se a responsabilidade 
do Estado pode se aplicar se o servidor estiver fora do exercício da função 
pública. 
Que loucura é essa? 
Acima foi mencionado que o Estado só é responsável se o agente 
público estiver no exercício da função pública, ainda que durante o período 
de folga. Acontece, prezado concursando, que não existem verdades 
absolutas. 
No Recurso Especial 782834, o Superior Tribunal de Justiça 
reconheceu a indenização por danos morais do Estado do Maranhão, porque 
o delegado desse Estado, ao furar a fila de Banco, “pra” fazer sei lá o quê, 
prendeu por desacato à autoridade um aposentado que protestara. Isso 
mesmo. Apesar de o delegado não estar, rigorosamente, no exercício da 
função pública, a responsabilidade do Estado se aplicou ao caso concreto. 
 Com idêntico raciocínio, o STF, no RE 213.525, firmou a 
responsabilidade extracontratual do Estado, devido a ato praticado por 
policial contra transeunte, durante o período de folga, utilizando arma da 
corporação. Vejamos: 
1. Ocorrência de relação causal entre a omissão, consubstanciada no 
dever de vigilância do patrimônio público ao se permitir a saída de 
policial em dia de folga, portando o revólver da corporação, e o ato 
ilícito praticado por este servidor. 
2. Responsabilidade extracontratual do Estado caracterizada. 
3. Inexistência de argumento capaz de infirmar o entendimento 
adotado pela decisão agravada. 
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4. Agravo regimental improvido. (STF. RE n.º 213.525/SP. Órgão 
Julgador: Segunda Turma. Ministra Relatora: Ellen Gracie. Data do 
Julgamento: 09/12/2008) 
Por exemplo, perceba o “cuidado” da organizadora FGV ao abordar o 
tema. 
(2011/FGV – OAB) Um policial militar, de nome Norberto, no dia de 
folga, quando estava na frente da sua casa, de bermuda e sem 
camisa, discute com um transeunte e acaba desferindo tiros de uma 
arma antiga, que seu avô lhe dera. 
Com base no relatado acima, é correto afirmar que o Estado 
a) será responsabilizado, pois Norberto é agente público pertencente a 
seus quadros. 
b) será responsabilizado, com base na teoria do risco integral. 
c) somente será responsabilizado de forma subsidiária, ou seja, caso 
Norberto não tenha condições financeiras. 
d) não será responsabilizado, pois Norberto, apesar de ser agente 
público, não atuou nessa qualidade; sua conduta não pode, pois, ser 
imputada ao Ente Público. 
Isso mesmo. No enunciado, a organizadora teve o zelo de registrar 
que arma utilizada foi presente do avô (gente boa!). Não é pertencente à 
corporação, daí restar afastada a responsabilidade civil do Estado 
(alternativa “D”). 
 Passemos ao sentido do vocábulo “terceiros”. A expressão tem 
abrangência ampla, incluindo-se todas as pessoas físicas e jurídicas, sejam 
elas servidores públicos ou não, sejam elas administrativas ou não. Com 
esse entendimento, o STF, no AI 473.381, esclarece que descabe ao 
intérprete fazer distinções quanto ao vocábulo “terceiro” contido no §6º do 
art. 37 da Constituição Federal, devendo o Estado responder pelos danos 
causados por seus agentes qualquer que seja a vítima, servidor público ou 
não. 
 
6) (2010/FCC - ALESP/SP - Técnico Especializado/Direito) A 
regra da responsabilidade objetiva do Estado exige, segundo a 
previsão constitucional correspondente, que o dano seja 
causado por agente público que atue nessa qualidade, sendo 
considerados agentes públicos 
(A) os servidores públicos, os agentes políticos e os particulares que 
atuam em colaboração com o poder público. 
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(B) apenas aqueles que atuam investidos em cargos, funções, 
mandatos ou comissões, por nomeação, eleição, designação ou 
delegação. 
(C) apenas aqueles que possuem vínculo estatutário com a 
Administração pública. 
(D) apenas aqueles detentores de mandato eletivo. 
(E) apenas aqueles com vínculo laboral com a Administração, celetista 
ou estatutário, e os detentores de mandato eletivo.6 
 
7) (2010/FCC – TCE/AP – Procurador de Contas) Nos termos 
do que dispõe o artigo 37, parágrafo 6o da Constituição 
Federal, no que concerne à responsabilidade civil do Estado, 
este responde sob a modalidade: 
(A) objetiva pelos atos comissivos ilícitos e sob a modalidade subjetiva 
pelos atos comissivos lícitos. 
(B) subjetiva, quando envolver a imputação de danos morais. 
(C) subjetiva, quando envolver imputação de responsabilidade 
subsidiária. 
(D) subjetiva, quando envolver a prática de atos omissivos lícitos 
praticados por delegação. 
(E) objetiva, quando se tratar de atos comissivos lícitos ou ilícitos.7 
 
8) (2008/FCC – DPE-SP – Oficial de Defensoria) Durante 
tentativa de resgate de refém, o atirador de elite da Polícia 
Militar do Estado terminou por causar a morte da mesma, não 
obstante tenha possibilitado a prisão do sequestrador. A família 
da refém falecida 
a) poderá pleitear indenização do Estado, desde que comprove a culpa 
do atirador, servidor do Estado. 
b) poderá pleitear indenização do Estado argumentando 
responsabilidade objetiva. 
c) poderá pleitear indenização diretamente do sequestrador, visto que 
o Estado não pode ser responsabilizado por conduta criminosa. 
d) não poderá pleitear indenização do Estado, tendo em vista que o 
atirador, servidor do Estado, agiu no estrito cumprimento de dever 
legal. 
e) não poderá pleitear indenização do Estado nem do sequestrador, 
visto que o falecimento decorreu de caso fortuito.8 
 
Responsabilidade Civil das Empresas Estatais 
De pronto, vejamos o que estabelece o art. 37, §6º, da CF/1988: 
 
6
 Perceba que a Letra A é a única que não restringe o conceito de agentes públicos. O agente público tem 
um conceito super amplo nos termos do art. 2º da Lei de Improbidade Administrativa. 
7
 Sabemos que a responsabilidade é objetiva, assim, ficamos entre as alternativas “A” e “E”. Porém, no 
itemE, faz-se alusão à responsabilidade subjetiva, o que não ocorre, daí a correção da letra E. 
8
 Gabarito: letra B. A responsabilidade do Estado é objetiva para atos comissivos, lícitos ou ilícitos. 
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As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado 
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que 
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o 
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. 
Perceba que, além das pessoas jurídicas de direito público (autarquias 
e algumas fundações governamentais, por exemplo), as entidades de direito 
privado (de dentro – empresas públicas, p.ex., – ou de fora – 
concessionárias, p.ex., do Estado) também se submetem à responsabilidade 
de natureza objetiva. 
Porém, não é qualquer pessoa jurídica de direito privado. A CF, 
de 1988, é expressa ao exigir que sejam prestadoras de serviços públicos, 
afinal, nesta qualidade, são Estado ou fazem as vezes deste. 
Abro um parêntese para esclarecer que as empresas 
governamentais (as pessoas de direito privado do Estado) nem sempre 
responderão objetivamente, nos termos da CF. Tais entidades empresariais 
(empresas públicas e sociedades de economia mista) têm dois campos de 
atuação. O primeiro é encontrado no art. 173 (intervenção do domínio 
econômico, como é o caso do Banco do Brasil (BB) e da Caixa Econômica 
Federal (CEF). O segundo diz respeito à prestação de serviços públicos, 
com base no art. 175 da CF/1988, exemplo a Infraero e da ECT, típicas 
prestadoras de serviços públicos. 
Assim, só as empresas estatais, PRESTADORAS DE SERVIÇOS 
PÚBLICOS, respondem de forma OBJETIVA pelos danos causados por seus 
agentes a terceiros. Isso ocorre porque o prestador de serviços públicos, 
como dito, assume o RISCO ADMINISTRATIVO da atividade 
desempenhada, a qual é, em sua natureza, essencialmente pública. 
 
As empresas interventoras do domínio econômico, por sua vez, 
são regidas, de regra, pela Legislação Civil. Logo, quando da prática de atos 
danosos, sua responsabilidade será regida pelo Código Civil de 2002 (teoria 
civilista – de natureza SUBJETIVA). A quem defenda (e acertadamente!) 
que quando fornecedoras de serviços, poderá ser aplicado o Código do 
Consumidor, abrindo-se a possibilidade, nesse caso, de responsabilidade 
objetiva. Mas lembre-se: não é com base na Constituição! 
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Responsabilidade Subjetiva 
A responsabilidade civil do Estado é objetiva na ação de seus 
agentes. Na omissão, não há que se falar de responsabilidade civil 
objetiva do Estado, mas sim subjetiva, baseada na necessidade de o 
potencial prejudicado comprovar a culpa, em sentido amplo, da 
Administração Pública. 
 
Assim, de regra, não vale para os casos de omissão Estatal a regra 
da responsabilidade objetiva da Administração Pública. Este é o 
entendimento tanto doutrinário como jurisprudencial dominante. 
Por exemplo. No Superior Tribunal de Justiça (STJ), o tema já foi 
discutido em diversas oportunidades. Aquela Corte entende que, no caso da 
omissão Estatal, a responsabilidade do Estado é subjetiva. Apenas para 
ilustrar, no Recurso Especial 602.102, de 2005, o STJ deixou registrado: 
...Em se tratando de ato omissivo, embora esteja a doutrina dividida 
entre as correntes dos adeptos da responsabilidade objetiva e aqueles 
que adotam a responsabilidade subjetiva, prevalece na 
jurisprudência a teoria subjetiva do ato omissivo, de modo a só 
ser possível indenização quando houver culpa do preposto. 
Nota que o STJ assinala que há (como quase tudo em direito...) 
divergências doutrinárias significativas. Contudo, na jurisprudência, a 
questão é mais ou menos pacífica: na omissão, a responsabilidade civil 
do Estado é do tipo SUBJETIVA, tendo a vítima o dever provar a culpa 
do agente da Administração (o preposto do Estado, no julgado do STJ) 
para que possa ter o direito de se indenizado. 
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) é idêntica àquela 
do STJ. A seguir, trecho do Recurso Extraordinário 369.820, de 2004: 
Tratando-se de ato omissivo do poder público, a 
responsabilidade civil por tal ato é subjetiva, pelo que exige 
dolo ou culpa, esta numa de suas três vertentes, a negligência, a 
imperícia ou a imprudência, não sendo, entretanto, necessário 
individualizá-la, dado que pode ser atribuída ao serviço público, de 
forma genérica, a falta do serviço. A falta do serviço — faute du 
service dos franceses — não dispensa o requisito da causalidade, vale 
dizer, do nexo de causalidade entre a ação omissiva atribuída ao poder 
público e o dano causado a terceiro. (os grifos não estão no original). 
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Transcrevo, ainda, trecho do RE 130764 do STF, em que se 
fundamentou, originariamente, a responsabilidade por atos omissivos 
(natureza SUBJETIVA): 
Responsabilidade civil do Estado. Dano decorrente de assalto por 
quadrilha de que fazia parte preso foragido vários meses antes. - A 
responsabilidade do Estado, embora objetiva por força do disposto no 
artigo 107 da Emenda Constitucional n. 1/69 (e, atualmente, no 
parágrafo 6. do artigo 37 da Carta Magna), não dispensa, 
obviamente, o requisito, também objetivo, do nexo de causalidade 
entre a ação ou a omissão atribuída a seus agentes e o dano 
causado a terceiros. - Em nosso sistema jurídico, como resulta do 
disposto no artigo 1.060 do Código Civil, a teoria adotada quanto ao 
nexo de causalidade e a teoria do dano direto e imediato, também 
denominada teoria da interrupção do nexo causal. Não obstante 
aquele dispositivo da codificação civil diga respeito à impropriamente 
denominada responsabilidade contratual, aplica-se ele também a 
responsabilidade extracontratual, inclusive a objetiva, até por 
ser aquela que, sem quaisquer considerações de ordem subjetiva, 
afasta os inconvenientes das outras duas teorias existentes: a da 
equivalência das condições e a da causalidade adequada. - No 
caso, em face dos fatos tidos como certos pelo acórdão recorrido, e 
com base nos quais reconheceu ele o nexo de causalidade 
indispensável para o reconhecimento da responsabilidade 
objetiva constitucional, e inequívoco que o nexo de causalidade 
inexiste, e, portanto, não pode haver a incidência da 
responsabilidade prevista no artigo 107 da Emenda Constitucional n. 
1/69, a que corresponde o parágrafo 6. do artigo 37 da atual 
Constituição. Com efeito, o dano decorrente do assalto por uma 
quadrilha de que participava um dos evadidos da prisão não foi o 
efeito necessário da omissão da autoridade pública que o 
acórdão recorrido teve como causa da fuga dele, mas resultou de 
concausas, como a formação da quadrilha, e o assalto ocorrido cerca 
de vinte e um meses após a evasão. Recurso extraordinário conhecido 
e provido. 
Esse é um caso em que não há nexo DIRETO de causalidade (como 
pensa o STF), e, como já aprofundamos, não há responsabilidade civil do 
Estado por nexo indireto de causalidade. 
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Assim, no campo da jurisprudência, não resta dúvida: 
na omissão, a responsabilidade do Estado é do tipo SUBJETIVA, 
baseando-se na necessidade de comprovação de culpa do agente que 
atua em nome da Administração Pública. 
 No entanto, há situações em que os atos omissivos acarretarão a 
responsabilidade objetiva do Estado, nos termos do §6º do art. 37 da CF, de 
1988. Por ser uma exceção ao sistema de responsabilidade por atos 
omissivos, peço maior atenção para fins de concursos. 
Conformeentendimentos jurisprudenciais, o Estado tem 
responsabilidade pelas pessoas sob sua custódia e guarda (exemplo dos 
presidiários, dos estudantes, e dos internados em hospitais públicos). Nestas 
situações haverá a responsabilidade objetiva do Estado, mesmo que o 
prejuízo não decorra de ação direta de um agente do Poder Público, este 
que, quando tiver o papel de garantidor da integridade de pessoas, 
responderá com base no § 6.º art. 37 da CF/1988. 
Nesse instante, a cabeça do amigo concursando dá um nó! Como 
pode, no item anterior não foi falado que a responsabilidade seria 
SUBJETIVA? 
É verdade, para chegarmos a conclusão que chegou o STJ e, 
recentemente, o STF, temos de conhecer o significado de omissão 
genérica e omissão específica. Um exemplo do autor Sérgio Cavalieri 
Filho elucida a distinção. Vejamos: 
Se um motorista embriagado atropela e mata pedestre que estava na 
beira da estrada, a Administração (entidade de trânsito) não 
poderá ser responsabilizada pelo fato de estar esse motorista ao 
volante sem condições. Isso seria responsabilizar a Administração por 
omissão genérica. Mas se esse motorista, momentos antes, passou 
por uma patrulha rodoviária, teve o veículo parado, mas os policiais, 
por alguma razão, deixaram-no prosseguir viagem, aí haverá 
omissão específica que se erige em causa adequada do não-
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impedimento do resultado. Nesse segundo caso haverá 
responsabilidade objetiva do Estado. 
Assim, se a questão não contar nenhum tipo de historinha, o amigo 
concursando pode marcar, de cara, que a omissão é de NATUREZA 
SUBJETIVA, pois, nesse caso, como não é possível verificar se há ou 
não dever de agir do Estado, está-se a falar da omissão genérica. 
Agora, se houver um contexto, o amigo deve perceber se com a 
atuação do Estado o dano poderia ou não ser impedido, em caso 
positivo, haverá OMISSÃO ESPECÍFICA, sendo, assim, o caso de 
responsabilidade OBJETIVA. 
Portanto, salvo na ocorrência de algum fato inevitável e 
imprevisível, o Estado deverá responder de forma objetiva, uma vez 
que era seu dever zelar pela integridade do preso. 
Para ilustrar o ensinamento, vejamos, abaixo, precedente do STF: 
RE 272.839 
Morte de detento por colegas de carceragem. Indenização por danos 
morais e materiais. Detento sob a custódia do Estado. 
Responsabilidade objetiva. Teoria do Risco Administrativo. 
Configuração do nexo de causalidade em função do dever 
constitucional de guarda (art. 5º, XLIX). Responsabilidade de 
reparar o dano que prevalece ainda que demonstrada a ausência 
de culpa dos agentes públicos." (os grifos não estão no original). 
Fica a lição: 
quanto às pessoas sob custódia do Estado (presidiários e pessoas 
internadas em hospitais, estudantes de escolas municipais, por 
exemplo), a responsabilidade civil é do tipo objetiva. 
 
Responsabilidade das prestadoras de serviços públicos 
Revimos que a regra da responsabilidade civil OBJETIVA se estende 
ao prestador de serviços públicos, independente da natureza de sua 
personalidade ou se o prestador integra ou não a Administração Pública. Isso 
se dá em razão de a entidade prestadora de serviços públicos assumir o 
risco administrativo da atividade prestada, a qual é, sublinhe-se, 
incumbência do Estado. 
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É fato que o serviço público é incumbência do Poder Público (art. 175 
da CF/1988), o qual não necessariamente será seu prestador. De fato, a 
Constituição Federal dá a possibilidade de delegação de serviços públicos a 
particulares (concessionárias, permissionárias e autorizatárias). 
No caso de delegação, junto com o “bônus” do serviço a ser prestado 
(a tarifa a ser cobrada dos usuários), a entidade que presta o serviço público 
assume o “ônus”, ou seja, o dever de responder por eventuais danos 
causados aos USUÁRIOS. Vale para o delegatário do serviço as regras que 
valem para o Estado: RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA NO CASO DE 
AÇÃO. 
A responsabilidade civil é OBJETIVA do concessionário do serviço com 
relação aos USUÁRIOS do serviço. E o amigo se questiona: e com relação 
aos terceiros, é também objetiva? A resposta é um sonoro SIM! 
Os precedentes judiciais do STF que indicavam ser a responsabilidade 
adstrita aos usuários estão ultrapassados. Nos dias atuais, a 
responsabilidade objetiva aplica-se aos usuários e aos terceiros. 
PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO PRESTADORAS DE 
SERVIÇO PÚBLICO. CONCESSIONÁRIO OU PERMISSIONÁRIO DO 
SERVIÇO DE TRANSPORTE COLETIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA 
EM RELAÇÃO A TERCEIROS NÃO-USUÁRIOS DO SERVIÇO. RECURSO 
DESPROVIDO. I - A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de 
direito privado prestadoras de serviço público é objetiva relativamente 
a terceiros usuários e não-usuários do serviço, segundo decorre do art. 
37, § 6º, da Constituição Federal. II - A inequívoca presença do nexo 
de causalidade entre o ato administrativo e o dano causado ao terceiro 
não-usuário do serviço público, é condição suficiente para estabelecer 
a responsabilidade objetiva da pessoa jurídica de direito privado. III - 
Recurso extraordinário desprovido. (RE 591.874, rel. min. Ricardo 
Lewandowski, DJ 18.12.2009) 
 
9) (2010/FCC – PGE/AM – Procurador) O regime de responsabilidade 
previsto no art. 37, § 6o, da Constituição Federal brasileira 
(A) alcança os atos praticados por particulares prestadores de serviços públicos, em 
relação a usuários e também a não-usuários, desde que existente nexo causal entre 
o evento causador do dano e a atividade objeto de delegação estatal. 
(B) alcança os atos praticados por pessoa de direito público ou de direito privado 
prestadora de serviços públicos e atividades econômicas de relevante interesse 
coletivo. 
(C) não se aplica aos particulares, mesmo aos que prestam serviços públicos, visto 
que esses têm sua responsabilidade regulada pelo Código Civil. 
(D) exclui os atos praticados no exercício da função legislativa e jurisdicional. 
(E) adota a teoria do risco integral, em que não se admitem causas excludentes ou 
mitigadoras da responsabilidade estatal.9 
 
Responsabilidade Civil por Atos Legislativos e Judiciais 
 
9
 Gabarito: Letra A. 
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Falemos, um pouco, sobre a responsabilidade do Estado diante do 
desempenho de outras atividades estatais (legislativas e 
jurisdicionais, por exemplo). 
A tese doutrinária dominante é que o Estado é chamado a responder 
na órbita civil pelos prejuízos causados a terceiros em razão de atos 
administrativos. Assim, na prática de atos do Estado-juiz e do Estado-
legislador, não cabe, a priori, a responsabilização do Estado. 
Todavia, no que diz respeito aos atos legislativos típicos do 
Estado, a doutrina e a jurisprudência brasileiras têm admitido (por 
exceção) a responsabilização do Estado em duas hipóteses: 
- Leis de efeitos concretos; e, 
- Leis inconstitucionais, desde que declaradas pelo STF. 
 
Como sobredito, a regra é que os atos legislativos não levam à 
responsabilização do Estado. O Poder Legislativo, ao atuar em sua 
função precípua de produzir o direito (função legislativa), é soberano, 
tendo por limites apenas as restrições impostas pela Constituição. E mais: as 
leis costumam ser gerais, de tal sorte a atingir, indistintamente, toda uma 
coletividade enquadrada em determinado comando jurídico. Assim, sabendo 
que, na teoria do risco administrativo, o fundamento é a distribuição 
equânime dos ônus por toda a sociedade, não haveria lógica de 
indenizar o particularpela lei geral inconstitucional. 
Por exemplo: a Lei ―X‖, abstrata e geral, prejudicou os particulares A, 
B, C e D, enfim, toda a coletividade. ―D‖ ingressa com uma ação de 
responsabilidade contra o Estado. O Judiciário considera procedente a 
ação e condena o Estado. O Estado indenizará ―D‖, repartindo o ônus 
entre A, B, C e toda a coletividade. ―C‖ ingressa com idêntica ação. É 
procedente. O Estado indeniza, repartindo o ônus entre A, B, ―D‖ e 
toda a coletividade. Sabe o que acontece no final? Isso mesmo. Jogo 
de soma zero! O R$ não é do Estado, o dinheiro é de toda a 
coletividade administrado pelo Estado. Daí não ser lógica a 
responsabilização do Estado por erros do Legislativo. 
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Mas passemos a ver as hipóteses que podem levar à 
responsabilização civil do Estado por atos legislativos. 
Leis de efeitos concretos são aquelas que não possuem caráter 
normativo, não detêm generalidade, impessoalidade, e abstração. São leis 
ditas exclusivamente formais, provindas do Legislativo, mas que possuem 
destinatários certos, determinados. 
No caso de lei que lhe atinja, fica assegurado ao administrado, então, 
o direito à reparação do prejuízo, configurando-se a responsabilidade da 
pessoa jurídica federativa da qual haja emanado a norma. 
A razão para que tais Leis determinem o dever de o Estado arcar 
com os prejuízos causados ao particular é que tais instrumentos (leis de 
efeitos concretos) são apenas FORMALMENTE Leis, mas, MATERIALMENTE, 
aproximam-se, bastante, de atos administrativos, proporcionando, portanto, 
os mesmos efeitos de atos desta natureza (administrativos). 
Com relação às leis inconstitucionais, destaco que, em Estados de 
Direito, a premissa é de que as leis sejam editadas em conformidade com a 
constituição (presunção de constitucionalidade das leis, paralela à presunção 
de legitimidade dos atos administrativos). 
O poder de criar o direito por parte do Estado, então, deve respeitar 
tal premissa exposta, cujo desrespeito poderá levar à responsabilização do 
Estado, a qual dependerá da declaração de inconstitucionalidade da 
norma por parte do STF, tanto no controle concentrado, como no difuso 
(não adentraremos esse assunto – controle de constitucionalidade - aqui, . O 
tema controle de constitucionalidade não é para o Direito Administrativo, 
recomendo a leitura do assunto em um bom livro de Direito Constitucional, 
como, por exemplo, o do Marcelo Novelino, Pedro Lenza, ou Alexandre de 
Moraes). 
 Vamos abordar agora um pouco de responsabilidade civil do 
Estado por outro ato típico do exercício de função: o jurisdicional. 
De início, registro que os atos que ora se tratam são os jurisdicionais 
típicos, praticados pelos magistrados no exercício de sua função, tais como 
despachos, sentenças, e decisões interlocutórias, isso porque os atos 
administrativos praticados no âmbito da atividade judiciária sujeitam-se 
às regras de responsabilização normais do Estado (do tipo objetivo, com 
base no risco administrativo). 
Os atos jurisdicionais típicos sujeitam-se a regra assemelhada à 
aplicada aos atos legislativos: inexistência de responsabilidade por 
parte do Estado. Esse é o entendimento do STF, que, por exemplo, no RE 
111.609, afirmou que não incide a responsabilidade civil do Estado em 
relação a atos do Poder Judiciário, salvo nos casos expressos em lei. 
Podem ser distinguidas, contudo, duas situações específicas que 
podem levar à responsabilização do Estado por conta dos atos 
jurisdicionais: aqueles praticados pelo magistrado com intenção de 
causar prejuízo à parte ou a terceiro (conduta dolosa ou fraudulenta) 
e os praticados com erro (conduta culposa). 
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O Juiz poderá praticar atos jurisdicionais com o intuito deliberado de 
causar prejuízo à parte. Por força do que dispõe o art. 133 do Código de 
Processo Civil, o magistrado responderá por perdas e danos quando, no 
exercício de suas atribuições, proceder dolosamente, inclusive com 
fraude, assim como quando recusar, omitir ou retardar, sem motivo 
justo, providência que deva ordenar de ofício, ou a requerimento da parte. 
Nessas situações, a responsabilidade é individual do juiz, a quem caberá o 
dever de indenizar os prejuízos causados. 
Com relação ao erro, a atual Constituição estabelece que o Estado 
indenizará o condenado por erros judiciários, assim como o que ficar preso 
além do tempo fixado na sentença. (CF, art. 5º, LXXV). Tal regra, observe-
se, abrange a área criminal (penal), e não a esfera cível. 
Nesses casos, o Estado poderá ser condenado a indenizar na esfera 
cível a vítima do erro ocorrido na esfera penal. Resguarda-se, como não 
poderia deixar de ser, o direito de o Estado acionar em ação regressiva o 
juiz causador do dano, o qual deverá, caso a caso, ressarcir o Poder Público 
pelos prejuízos arcados. Abaixo, trecho do RE 505393, em que o STF 
reconheceu a responsabilidade do Estado por erro do judiciário (revisão 
criminal): 
Entendeu-se que se trataria de responsabilidade civil objetiva do 
Estado. Aduziu-se que a constitucionalização do direito à indenização 
da vítima de erro judiciário e daquela presa além do tempo devido 
(art. 5º, LXXV), reforçaria o que já disciplinado pelo art. 630 do CPP 
("O tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer o direito 
a uma justa indenização pelos prejuízos sofridos."), elevado à garantia 
individual. 
No ponto, embora se salientando a orientação consolidada de que a 
regra é a irresponsabilidade civil do Estado por atos de jurisdição, 
considerou-se que, naqueles casos, a indenização constituiria garantia 
individual, sem nenhuma menção à exigência de dolo ou de culpa do 
magistrado, bem como sem o estabelecimento de pressupostos 
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subjetivos à responsabilidade fundada no risco administrativo do art. 
37, § 6º, da CF. 
Salientou-se, ainda, que muito se discute hoje sobre o problema da 
prisão preventiva indevida e de outras hipóteses de indenização por 
decisões errôneas ou por faute de service da administração da Justiça, 
as quais não se encontram expressamente previstas na legislação 
penal. Vencido o Min. Ricardo Lewandowski que fazia ressalvas à plena 
adoção da tese da responsabilidade objetiva do Estado no tocante a 
revisões criminais, em especial, nas ajuizadas com base no inciso III 
do art. 621 do CPP ("Art. 621. A revisão dos processos findos será 
admitida:... III - quando, após a sentença, se descobrirem novas 
provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine 
ou autorize diminuição especial da pena."). 
De qualquer forma, destaque-se que a de regra continua a ser a da 
inexistência de responsabilidade civil do Estado por atos 
jurisdicionais, a qual, contudo, ocorre quando das condenações indevidas. 
Tal orientação está contida em diversos julgados do STF. Vejamos, abaixo, 
trecho do RE 429.518/SC, de 2004: 
I. – A responsabilidade objetiva do Estado não se aplica aos atos dos 
juízes, a não ser nos casos expressamente declarados em lei. 
Precedentes do S.T.F. 
II. – Decreto judicial de prisão preventiva não se confunde com o 
erro judiciário — C.F., art. 5º, LXXV — mesmo que o réu, ao final da 
ação penal, venha a ser absolvido. 
Assim, ainda que o acusado seja posteriormente absolvido, não há 
erro judiciário na prisão preventiva, desde que esta seja 
adequadamente fundamentada, obedecendo aos pressupostos que a 
autorizam. 
Interpretação diversa, de acordo com o STF, implicaria total quebra do 
princípio do livre convencimento do juiz, afetando de modoirremediável sua 
segurança para apreciar e valorar provas. 
Em síntese: a mera prisão preventiva não é suficiente para gerar 
a responsabilidade do Estado. 
Entretanto, como sobredito, o STF imputou responsabilidade 
objetiva ao Estado, em face de revisão criminal, afinal, nesse último 
caso, o acusado foi efetivamente condenado e, consoante o texto 
constitucional, o Estado indenizará o condenado (na prisão preventiva 
não há condenação!). 
A despeito do pré-falado, sabemos que a jurisprudência parece a 
biruta dos ventos. Em recente julgado (RE 385.943), o STF, depois de 
afirmar que a prisão preventiva não gera direito a indenização, fez a 
seguinte ressalva. Vejamos: 
―Responsabilidade civil objetiva do Estado (CF, art. 37, 6º). 
Decretação de prisão cautelar, que se reconheceu indevida, contra 
pessoa que foi submetida a investigação penal pelo poder público. 
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Adoção dessa medida de privação da liberdade contra quem não teve 
qualquer participação ou envolvimento com o fato criminoso. 
Inadmissibilidade desse comportamento imputável ao aparelho de 
Estado. Perda do emprego como direta consequência da indevida 
prisão preventiva. Inexistência de causa excludente da 
responsabilidade civil do poder público‖. 
 
10) (2010/FCC - TRF/4ª - Área Judiciária) Em matéria de 
responsabilidade civil da Administração Pública, é correto afirmar: 
(A) A reparação do dano causado pela Administração ao particular deve ser sempre 
por meio judicial, vedada a forma amigável. 
(B) A responsabilidade civil prevista constitucionalmente, seja por ação ou por 
omissão, está fundada na Teoria do Risco Integral. 
(C) Os atos jurisdicionais são absolutamente isentos de responsabilidade civil. 
(D) A responsabilidade civil da Administração é do tipo subjetiva se o dano causado 
decorre só pelo fato ou por má execução da obra. 
(E) Os atos legislativos, em regra, não acarretam responsabilidade extracontratual 
do Estado.10 
 
Responsabilidade dos agentes e o Direito de Regresso da 
Administração 
O que sabemos, até o instante, sobre a responsabilidade civil 
do Estado? 
Que a obrigação de o Estado indenizar o particular independe de 
culpa ou de dolo da Administração, isso porque a responsabilidade é 
OBJETIVA. 
Evidentemente, o pagamento da indenização do Estado não fica de 
graça, de tal sorte que o agente público causador do dano deverá 
ressarcir a Administração, desde que, nesse caso, tenha praticado o ato 
com dolo ou com culpa. Ou seja, a responsabilidade do servidor será 
SEMPRE SUBJETIVA, não se confundindo com a responsabilidade do 
Estado, que, para atos comissivos, responde de forma objetiva por 
eventuais prejuízos causados à sociedade, nos termos do §6º do art. 37 da 
CF/1988. 
 
 
10
 Gabarito: letra E (regra). A letra A está errada porque a Administração pode compor amigavelmente 
com o particular para efeito de indenização. A letra B está errada porque o risco integral não é adotado 
entre nós. O erro da letra C é que há exceção para a responsabilidade do Estado por erro Judiciário. O erro 
da letra D é porque a responsabilidade do Estado, para atos comissivos, é objetiva. 
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11) (FCC/2010 – DPE/ SP - Contador) Determinado servidor público 
estadual, quando conduzia veículo oficial, provocou acidente com outro 
veículo ao desrespeitar a sinalização do semáforo (farol vermelho). O 
Estado, responsabilizado civilmente, demandou o servidor para 
ressarcimento do prejuízo consubstanciado nos danos que indenizou. Essa 
medida, de acordo com o que dispõe a Constituição Federal, é 
(A) inconstitucional, pois somente o Estado responde objetivamente pelos danos 
causados. 
(B) constitucional, pois ao Estado é assegurado direito de regresso em face do 
responsável nos casos de dolo ou culpa. 
(C) inconstitucional, pois somente seria cabível o ressarcimento no caso de dolo do 
servidor. 
(D) constitucional, desde que tenha ficado comprovado dolo do servidor. 
(E) inconstitucional, pois o servidor teria que ter sido demandado pessoalmente pela 
vítima, já que provocou o acidente.11 
 
Em termos de responsabilidade, já houve muita discussão a respeito 
de contra quem poderia ser proposta a ação judicial cabível para que fosse 
promovida a indenização do prejudicado pela atuação estatal. Para fins de 
concurso público, a questão já foi pacificada pelo STF. A seguir, trecho do 
Recurso Extraordinário 327.904: 
A ação de indenização há de ser promovida contra a pessoa 
jurídica causadora do dano e não contra o agente público, em si, 
que só responderá perante a pessoa jurídica que fez a reparação, 
mas mediante ação regressiva. 
Alguns esclarecimentos. 
Em primeiro lugar, ao lançar tal entendimento, o STF acabou criando 
uma “garantia de mão dupla”: 
I) com a ação judicial de indenização promovida contra a 
Administração, o prejudicado fica relativamente protegido, já que, ao 
menos em tese, terá mais chance de ser indenizado, pois o Estado tem 
mais “força financeira” que o servidor. Em síntese, há, na visão da 
Corte Constitucional, uma chance maior de indenização por parte do 
administrado; e, 
II) protege-se, também, o servidor, o qual responderá somente 
perante a própria Administração, mediante ação regressiva, depois de 
eventual indenização do prejudicado, segundo a doutrina majoritária. Por 
curioso, a Lei dispõe que, para a ação de regresso, é suficiente o trânsito em 
julgado da sentença judicial condenatória contra a Administração. 
 
12) (2010/FCC – ALESP – Procurador) Considerando-se a 
responsabilidade civil do Estado é INCORRETO afirmar que 
 
11
 A medida, certamente, é constitucional. É a tal ação regressiva. Assim, ficamos entre as alternativas B e 
D. Acontece que a letra D se restringe ao dolo, quando sabemos que a ação regressiva dá-se por atos 
dolosos ou culposos praticados, daí a correção da letra B. 
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(A) o Estado responde pelo ato lesivo praticado por seu agente, ainda que este não 
tenha agido com dolo ou culpa. 
(B) o direito de ação regressiva contra o agente causador do dano é imprescritível. 
(C) a ação de regresso contra o agente causador do dano, verificados os demais 
requisitos, pode ser proposta mesmo que o Estado ainda não tenha efetivado o 
pagamento da indenização a que foi condenado ou que resulte de acordo 
administrativo. 
(D) o direito de obter indenização dos danos causados por agentes de pessoas 
jurídicas de direito público prescreve em cinco anos. 
(E) o Estado somente responde se agiu com culpa nos danos causados por 
fenômenos da natureza.12 
 
13) (2010/FCC – TRE/AC – Analista Judiciário) Com relação à 
responsabilidade civil do Estado, a ação regressiva é uma 
(A) medida de natureza administrativa de que dispõe a Administração para obrigar o 
agente, manu militari, a ressarcir o valor da indenização que pagou a terceiros em 
decorrência de conduta daquele. 
(B) medida administrativa que o lesado tem contra o agente público causador do 
dano. 
(C) ação judicial que o agente público tem contra a vítima de dano se não agiu com 
culpa. 
(D) ação judicial que o lesado tem contra o agente público causador do dano para 
buscar indenização. 
(E) ação judicial de natureza civil que a Administração tem contra o agente público 
ou o particular prestador de serviços públicos causador do dano a terceiros. 
Essa decisão do STF é excelente para os servidores. Imagina você, umAuditor, Analista, Técnico, enfim, servidor do Estado. Daí propõe 
determinado ato administrativo que prejudica certa empresa. O chefe 
imediato, então, não acata a proposta formulada. Ato contínuo, a empresa 
entra com um pedido judicial de indenização contra o servidor, alegando 
“danos morais”, em razão do processo instruído anteriormente. Imaginou? 
Então, lá vai você, servidor, responder judicialmente por tal situação... 
Muito provavelmente teria problemas de conseguir sobreviver, em razão do 
sem-número de processos judiciais que acabaria de ter de responder. Assim, 
muito bom o julgado do STF, traz aos servidores, de modo geral, certa 
tranquilidade: se tivermos que responder será somente mediante em 
decorrência da regressiva intentada pelo Estado. 
 
Duas informações adicionais: 
I) a necessidade de a ação judicial ser movida contra a 
Administração Pública é decorrência do princípio da impessoalidade. De 
fato, quem responde é a pessoa jurídica à qual se liga o agente, 
 
12
 Letra C. Perceba que a FCC seguiu o entendimento doutrinário dominante. Isso mesmo. Não é com o 
trânsito em julgado, mas sim quando do efetivo pagamento. 
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independente deste estar agindo dentro ou fora dos limites de sua 
competência. 
Falta vontade ao Estado, é verdade, uma vez que, apesar da 
existência real (em termos jurídicos), é entidade abstrata (não possui 
existência física). Mas, ainda que abstrato, o Estado é pessoa (ou o 
prestador de serviços públicos), que tem seus deveres e responsabilidades. 
Pouco importa quem é o agente, uma vez que, ausentes outras informações, 
o Estado agiria daquela forma; 
II) o julgado já destacado muda uma orientação que até então 
vigorava no STF: a de que seria possível o litisconsórcio passivo nas ações 
de indenização promovidas contra a Administração. Hoje, a ação de 
indenização deve ser movida contra a pessoa jurídica causadora do 
dano e não mais contra o servidor, sequer com este sendo acionado em 
litisconsórcio. 
Vale a pena rápida transcrição de parte do voto do Ministro relator do 
processo no STF. Vejamos: 
À luz do dispositivo transcrito [o §6º do art. 37 da CF/88) , a 
conclusão a que chego é única: somente as pessoas jurídicas de 
direito público, ou as pessoas jurídicas de direito privado que 
prestem serviços públicos, é que poderão responder, 
objetivamente, pela reparação de danos a terceiros (o 
comentário e o grifo são constam no original). 
Por mais que criticável, essa é a posição que levaremos para a prova: 
a ação judicial para fins de indenização em razão de prejuízos 
causados por aqueles citados no § 6º do art. 37 da CF/88 deverá ser 
intentada (SOMENTE) contra a pessoa jurídica causadora do dano, 
não mais se admitindo sequer o litisconsórcio passivo em tal 
situação. 
 
14) (2010/FCC – TRE/AM – Analista Judiciário) Sobre a reparação do 
dano decorrente da responsabilidade civil do Estado, é correto afirmar que 
(A) não pode ser feita no âmbito administrativo em razão do direito de regresso que 
o Estado tem contra o seu agente. 
(B) o prazo de prescrição do direito de obter indenização dos danos causados por 
agentes de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos é de 
dez anos. 
(C) prescreve em cinco anos o direito de obter indenização dos danos causados por 
agentes de pessoas jurídicas de direito público. 
(D) a Constituição Federal determina que seja formado litisconsórcio necessário 
entre o Estado e o seu agente causador do dano. 
(E) a ação deve, necessariamente, ser proposta contra o Estado e o agente causador 
do dano, a fim de ser apurada a responsabilidade deste.13 
 
 
13
 Letra C. Havia precedentes do STJ que fixava em três anos o prazo de prescrição. Porém, mais 
recentemente, o STJ vem consolidando o entendimento de que o prazo é quinquenal. 
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15) (2010/FCC – TCE/RO – Auditor) Um servidor público, condutor de 
uma viatura oficial, deu causa a acidente de trânsito com veículo de 
particular. 
Foram apurados danos materiais de grande vulto, equivalentes aos reparos 
promovidos no veículo particular e às despesas médicas geradas pelo atendimento 
ao motorista particular. O condutor da viatura particular tem pretensão indenizatória 
para ressarcimento dos danos materiais. Nesse caso, o Estado: 
(A) e o servidor público respondem sob a modalidade de responsabilidade objetiva, 
caso o autor pretenda ajuizar a ação respeitando o litisconsórcio. 
(B) responde sob a modalidade de responsabilidade objetiva e só o servidor público 
sob a modalidade de responsabilidade subjetiva, caso o autor pretenda incluir o 
servidor público na lide, sendo necessária dilação probatória para prova da culpa do 
mesmo. 
(C) responde exclusivamente, sob a modalidade objetiva ou subjetiva, não sendo 
possível mover ação em face do servidor público, que estava a serviço do Poder 
Púbico. 
(D) responde sob a modalidade objetiva, presumindo-se a culpa do servidor, que 
poderá ser penalizado também disciplinarmente na esfera administrativa. 
(E) responde sob a modalidade subjetiva, uma vez necessário demonstrar a culpa do 
servidor, não incidindo a regra constitucional da responsabilidade objetiva.14 
Como sobredito, não cabe o litisconsórcio passivo. A questão que se 
impõe, agora, é saber se cabe ou não a tal denunciação à lide!? 
Lide é litígio, uma questão judicial a ser resolvida, normalmente, em 
processo dessa natureza judicial. Assim, “Denunciar à lide” significa, de 
maneira simples, trazer para um processo judicial alguém que pode (ou 
deve, em algumas situações) ser trazido. 
E, como já sabemos, nos processos judiciais que se refiram à 
responsabilidade civil objetiva tratada no §6º do art. 37 da CF/1988 
figurarão no polo passivo do processo (respondendo, sendo processado) a 
pessoa jurídica de direito público ou prestador de serviço público, 
independente da natureza de sua personalidade. 
E mais: não é possível a ação de reparação diretamente contra o 
servidor/agente responsável direto pelo dano (é o que se extrai do já 
citado RE 327.904, julgado pelo STF). 
 
Alguns autores entendem que a denunciação à lide do responsável 
direto pelo dano (agente causador) seria obrigatória, em razão de normas 
constantes do Código de Processo Civil. Todavia, essa não é a tese 
majoritária que devemos incorporar para fins de concurso público. 
 
14
 Gabarito: letra D. Questão de fixação. A ação deve ser movida contra o Estado. O servidor pode, 
eventualmente, ser responsabilidade administrativa ou civilmente. 
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O entendimento que prevalece, tanto doutrinário, quanto 
jurisprudencial dominante (não é unânime, isso porque o STJ, por exemplo, 
entende ser facultativa), é de que a denunciação da lide do servidor é 
impertinente, já que amplia indevidamente os limites objetivos do processo 
judicial. 
De fato, com o ingresso do causador do dano no processo, novos 
elementos teriam de ser analisados, em especial, a culpa ou dolo do agente. 
Isso, certamente, causaria prejuízos processuais ao autor da ação, que teria 
de esperar para ver solucionada a causa movida contra o Estado. 
Acrescento que a indenização a ser promovida pelo Estado cobrirá 
não só os prejuízos materiais causados ao lesado, mas também a 
afronta moral que lhe foi causada. Assim, pôs-se fim a uma longa 
discussão se as indenizações a serem pagaspor eventuais causadores de 
danos a terceiros “cobririam” o dano moral. 
Pela sua natureza, a regressiva transmite-se aos 
herdeiros/sucessores do agente causador do dano, os quais poderão 
ter de promover a reparação mesmo após a morte do agente. O limite dado 
é o valor do patrimônio transferido a estes herdeiros/sucessores. Ainda em 
decorrência da natureza civil da ação, esta poderá ser intentada após o 
término do vínculo entre o servidor e a Administração. 
Por fim, é de se destacar que são imprescritíveis as ações de 
ressarcimento movidas pelo Estado contra agentes, servidores ou não, 
os quais tenham incidido em práticas causadoras de prejuízos à fazenda 
pública. Os ilícitos prescreverão, mas não a ação de ressarcimento, 
por força do §5º do art. 37 da CF/1988. 
Sobre o tema, no MS 26.210, o STF denegou o pleito de ex-bolsista do 
CNPq sobre a prescrição da ação de ressarcimento, ao salientar que o §5º 
do art. 37 da Constituição Federal de 1988 prevê a imprescritibilidade das 
ações de ressarcimento ao erário. 
 
O amigo se questiona: isso não é uma penalidade de caráter 
perpétuo? Não, vejamos. Responda rápido: os sucessores respondem 
pelas dívidas? Sim, ATÉ o valor do patrimônio transferido. A 
Constituição autoriza que as penas passem da pessoa do apenado? 
Não, de acordo com o princípio da intranscedência penal. 
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Ora, as dívidas de valor são repassadas para os sucessores, logo 
não são penalidades, daí decorre serem imprescritíveis, afinal não 
são penas! 
Perfeito! E o prazo de prescrição em desfavor do Estado, como 
fica? Será também imprescritível? 
Opa! Com certeza não é imprescritível, afinal o interesse público é bem 
superior a ser protegido, preservado. Sobre o tema há bons manuais de 
Direito Administrativo, do ano de 2011, inclusive dirigidos para concursos 
públicos, que defendem a prescrição em três anos, nos termos do art. 206, 
§3º, do Código Civil de 2002, amparando-se, para tanto, na jurisprudência 
do Superior Tribunal de Justiça (STJ), como, por exemplo, no Recurso 
Especial 1217933, de 25/04/2011: 
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. 
PRESCRIÇÃO. DECRETO 20.910/1932. ADVENTO DO CÓDIGO CIVIL 
DE 2002. REDUÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL PARA TRÊS ANOS. 
1. O legislador estatuiu a prescrição quinquenal em benefício do Fisco 
e, com manifesto objetivo de favorecer ainda mais os entes públicos, 
estipulou que, no caso de eventual existência de prazo prescricional 
menor a incidir em situações específicas, o de cinco anos seria 
afastado nesse particular. Inteligência do art. 10 do Decreto 
20.910/1932. 
2. O prazo prescricional de três anos relativo à pretensão de reparação 
civil - art. 206, § 3º, V, do Código Civil de 2002 - prevalece sobre o 
quinquênio previsto no art. 1º do Decreto 20.910/32. 
 Porém, a “biruta” jurídica começa a soprar em outro sentido. Mais 
recentemente, o STJ vem consolidando o entendimento para afastar a 
aplicação da prescrição trienal do art. 206 do Código Civil, por se tratar de 
norma que rege apenas as relações entre os particulares. Vejamos: 
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO 
ADMINISTRATIVO. 
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. 
PRESCRIÇÃO. PRAZO QUINQUENAL. 
1. É de cinco anos o prazo para a pretensão de reparação civil 
do Estado. 
2. Precedente da Primeira Seção (AgRgREsp nº 1.149.621/PR, Relator 
Ministro Benedito Gonçalves, in DJe 18/5/2010). 
3. Embargos de divergência rejeitados. 
(EREsp 1081885/RR, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRIMEIRA 
SEÇÃO, julgado em 13/12/2010, DJe 01/02/2011) 
 
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. PRESCRIÇÃO. REPARAÇÃO 
CIVIL CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. ART. 1º DO DECRETO N. 
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20.910/32. NORMA ESPECIAL QUE PREVALECE SOBRE LEI GERAL. 
INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO CIVIL. 
PRAZO QUINQUENAL. ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM 
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. ÓBICE DA SÚMULA 83 DO STJ. 
Verifica-se que o Tribunal a quo decidiu de acordo com 
jurisprudência desta Corte no sentido de que o prazo 
prescricional referente à pretensão de reparação civil contra a 
Fazenda Pública é quinquenal, conforme previsto no art. 1º do 
Decreto-Lei n. 20.910/1932, e não trienal, nos termos do art. 
206, § 3º, inciso V, do Código Civil de 2002, que prevê a 
prescrição em pretensão de reparação civil. Incidência da 
Súmula 83 do STJ. 
Agravo regimental improvido. 
(AgRg no REsp 1256676/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, 
SEGUNDA TURMA, julgado em 20/10/2011, DJe 27/10/2011) 
 
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE 
DIREITO INEXISTENTE. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL CONTRA A 
FAZENDA PÚBLICA. SÚMULA 85/STJ. INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO 
CIVIL. 
1. Nas discussões de recebimento de vantagens pecuniárias em que 
não houve negativa inequívoca do próprio direito reclamado, tem-se 
relação de trato sucessivo, aplicando-se a Súmula 85/STJ, que prevê a 
prescrição apenas em relação ao período anterior a cinco anos da 
propositura da ação. 
2. A Primeira Seção desta Corte, na assentada de 13.12.2010, 
no julgamento dos EREsp 1.081.885/RR, de relatoria do Min. 
Hamilton Carvalhido, consolidou o entendimento de que o art. 
1º do Decreto n. 20.910/32 deve ser aplicado a todo e qualquer 
direito ou ação contra a Fazenda Pública, seja ela federal, 
estadual ou municipal, independentemente da natureza da 
relação jurídica. 
3. Inaplicável ao caso o art. 206, § 3º, do Código Civil. 
Agravo regimental improvido. 
(AgRg no AREsp 30.466/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, 
SEGUNDA TURMA, julgado em 15/09/2011, DJe 21/09/2011) 
Assim, aconselho, numa prova de múltipla escolha, que o(a) amigo(a) 
trilhe a literalidade do Decreto 20.910, de 1932 (prescrição quinquenal), 
sem adentrar, portanto, na discussão jurisprudencial. No entanto, numa 
prova aberta, do tipo discursiva, é imperioso que o candidato apresente as 
divergências doutrinárias e jurisprudenciais. 
Responsabilidade Civil por Danos Decorrentes de Obra Pública 
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Ainda que longe de pacificado o entendimento acerca do assunto, 
pode-se apontar pelo menos duas situações distintas quanto à 
responsabilização do Estado, no que diz respeito a potenciais prejuízos 
decorrentes de obras públicas. 
Em um primeiro caso, estariam os danos provocados pela obra em si 
(só fato da OBra). O dano resultante, nessa situação, pela obra em si, leva 
o Estado a responder de modo OBjetivo, independente de estar, ou não, 
na execução do empreendimento, dado que estão presentes os elementos 
necessários à caracterização de tal tipo de responsabilidade: a ação 
estatal (direta ou indireta, por intermédio de uma empreiteira contratada, 
por exemplo); o dano decorrente; e o nexo de causalidade entre ambos. 
 
Assim, pelo fato da OBra (obra em si), a responsabilidade é da 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA quanto aos eventuais prejuízos causados a 
terceiros, independente de quem seja o executor da obra. 
De outro lado, há situação em que o dano decorre da culpa exclusiva 
por parte do executor da obra, quando este for um terceiro alheio à 
estrutura estatal e que tenha recebido a incumbência de levar a efeito uma 
obra, em decorrência de contrato administrativo. 
Nesses casos, caso haja problemas quanto à QUALIDADE DA OBRA, 
caberá ao empreiteiro (executor da obra) a responsabilidade subjetiva 
comum (do direito privado) pelos prejuízos causados. O Estado responde 
apenas de forma subsidiária, é dizer, sua responsabilidade só estará 
configurada se o executor não promover a reparação

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