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História da enfermagem Introdução. De acordo com Lima (2001), o cuidar das enfermeiras existe desde os primórdios. Esse conhecimento empírico era passado de geração, circulando de casa em casa, passados de mãe para filho, de comunidade para comunidade. Essas mulheres enfermeiras eram reconhecidas como “sábias”, ao tratar de crianças, idosos, deficientes e pobres. Desde a metade do século XIX, a enfermagem adota o cuidado com respeito ao individuo e à sua autonomia, incorporado aos princípios de liberdade de escolha, autodeterminação e privacidade. “A enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, como a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é o tratar da tela morta ou frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo o templo do espírito de Deus. É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes.” Aula 1- Introdução à enfermagem. O conceito do cuidado de enfermagem De acordo com Heidegger (2001), o cuidado é o caráter existencial mais próprio do ser humano. Ao estabelecer o processo de cuidado do outro, compreendemos algo mais do que simplesmente um corpo. Assim, para que possamos estabelecer a diferença entre o cuidado empírico e científico, houve a necessidade de sistematizar esse cuidado, fundamentado nas Teorias da Enfermagem. Para Leopardi (1999), é essencial que os enfermeiros compreendam as Teorias da Enfermagem, para poder estabelecer a utilização dessas em seu cotidiano. Essa sistematização está diretamente relacionada ao desenvolvimento de conhecimentos e ferramentas, comumente expressados em teorias e conceitos, para dar apoio às suas práticas. Suas teorias constituem uma forma sistemática de olhar para o mundo descrevendo, explicando, prevendo ou controlando. Conceito popular x conceito científico. Conceitos são palavras que descrevem objetos, propriedades ou acontecimentos e constituem os componentes básicos da teoria. Podem ser classificados em popular e científico (Bungue, 1980). Veremos esses tipos a seguir: - Conceito popular: a. Superficial: Conforme-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente estando junto das coisas. b. Sensitivo: Referente a vivência, estado de ânimo e emoções da vida diária. c. Subjetivo: É o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos. d. Assistemático: A organização da experiência não visa a uma sistematização das ideias, nem da forma de adquiri-las nem na tentativa de validá-las. e. Acrítico: Verdadeiros ou não, a pretensão de que esse conhecimento não se manifesta sempre de forma crítica. - Conceito científico: a. Real, factual: Lida com ocorrências, fatos, isto é toda forma de existência que se manifesta de algum modo. b. Verificável: As hipóteses que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência. c. Contingente: Suas proposições ou hipóteses têm a sua veracidade ou falsidade conhecida através da experimentação e não pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico. d. Falível: Em virtude de não ser definitivo absoluto ou final. Aula 2 – Origens da Enfermagem Segundo Lima (2001), os saberes relacionados ao cuidar eram passados de mãe para filha, de geração para geração, de comunidade para comunidade. Desde a Idade Média, algumas mulheres destacavam-se nesse cuidado, e eram apontados como mulheres sábias, feiticeiras ou impostoras para algumas pessoas. Para a implantação desse cuidado, faziam uso empírico de ervas e drogas, proporcionando resultados satisfatórios a ponto de chamar a atenção de Paracelso (1493 – 1541), médico estudioso da Farmacologia a partir do conhecimento das ervas. Origens da Enfermagem – Período Pré-Cristão: Neste período, as doenças eram vistas como castigos de Deus ou consequências do poder do demônio. Por causa deste entendimento, os sacerdotes ou feiticeiros eram vistos como médicos e enfermeiros. O cuidado era limitado a afastar os maus espíritos por meio de sacrifícios ou de uso de massagens, banhos de água fria ou quente, purgantes e substâncias que provocam náuseas. Com o tempo os sacerdotes foram adquirindo conhecimentos das ervas medicinais, através das práticas, e passaram a ensinar a outras pessoas. Ao delegar essas ações, surgem as primeiras funções de enfermeiros e farmacêuticos. A morte era vontade dos Deuses – inquestionável e inevitável. Civilizações envolvidas: a. Egito: Os egípcios praticavam a hipnose e a interpretação dos sonhos. Acreditavam que algumas pessoas interferiam na saúde de outras. Seus ambulatórios eram gratuitos, e lá se praticava o auxílio aos desamparados. Para eles, as receitas médicas, descritas em pergaminhos, deveriam ser tomadas acompanhadas da recitação de fórmulas religiosas. b. Índia: Já no século VI a.C, os hindus conheciam músculos, nervos, plexos, vasos linfáticos, antídotos para alguns tipos de envenenamento e o processo digestivo. Já realizavam procedimentos de suturas, amputações, trepanações e correção de fraturas. Outra contribuição importante deixada pelos hindus foi a criação de hospitais – eles foram os únicos, na época, a citar os cuidados exercidos pelos enfermeiros e a exigir valores morais e conhecimentos científicos desses trabalhadores. Em seus hospitais, usavam músicos e narradores de histórias para distrair os pacientes. Entretanto, o Bramanismo (exagerado respeito ao corpo) aparece como responsável por atrapalhar o desenvolvimento científico, pois proibia a dissecação de cadáveres e o derramamento de sangue. As doenças eram consideradas castigo. c. Palestina – Povo Hebreu: Moisés foi o grande precursor das noções de higiene, pois estabeleceu para seu povo a realização do exame físico, diagnóstico, desinfecção, afastamento de objetos contaminados e leis sobre o sepultamento de cadáveres para que não contaminassem a terra. Os viajantes enfermos hospedavam-se gratuitamente. d. Assíria e Babilônia: Os povos assírios e babilônios estabeleceram penalidades para médicos incompetentes, tais como amputação das mãos, indenização, etc. Acreditavam que a Medicina era baseada em magia. Doenças como a lepra dependiam do milagre de Deus para a cura, e sete demônios eram considerados os causadores das patologias. Os sacerdotes médicos vendiam talismãs com orações usadas contra os ataques. Como exemplo, temos o episódio bíblico do rio Jordão: “Vai, lava-te sete vezes no Rio Jordão e tua carne ficará limpa” (II Reis: 5, 10-11). e. China: Os sacerdotes cuidavam dos doentes e classificavam as patologias benignas, médias e graves. A divisão dos sacerdotes era estabelecida pela categoria de complexidade da doença da qual se ocupavam. Os chineses já conheciam algumas doenças, como varíola e sífilis. Realizam cirurgias de lábio e tratamento de anemias, indicando ingestão de ferro através do alimento (fígado); as verminoses eram tratadas com determinadas raízes; para sífilis, prescreviam mercúrio e nas doenças da pele aplicavam o arsênico. Nos templos, eram cultivadas plantas medicinais. Usavam ópio como anestésico e construíram alguns hospitais de isolamento e casas de repouso. Também na China, a cirurgia não evoluiu devido à proibição da dissecação de cadáveres. A eutanásia era um ato culturalmente aceito. f. Japão: A medicina no Japão era fetichista. Os japoneses aprovavam e estimulavam a eutanásia. O uso de águas termais era a única terapêutica adotada. g. Grécia: Nesta época, a Medicina era exercida pelos sacerdotes médicos, que interpretavam os sonhos das pessoas.As primeiras teorias eram fundamentadas na Mitologia – Apolo, o deu sol, era o deus da saúde e da Medicina. Construíram casas para o tratamento dos doentes e usavam sedativos, fortificantes e hemostáticos. Tinham como tratamento medicinal banhos, massagens, sangrias, dietas, sol, ar puro e água mineral. A importância dada à beleza física, cultural e a hospitalidade contribuíram para o progresso da Medicina e da Enfermagem. Entretanto, o excesso de respeito ao corpo também atrasou os estudos anatômicos. O nascimento e a morte eram considerados impuros, causando desprezo pela obstetrícia e abandono de doentes graves. Graças a Hipócrates, a Medicina tornou-se científica, deixando de lado a crença de que as doenças eram causadas por maus espíritos. Por esse motivo, ele foi considerado o Pai da Medicina. A partir de então, passou a ser realizado o diagnóstico, prognóstico e a terapêutica adequada ao enfermo. Além disso, foram reconhecidas as patologias: tuberculose, malária, histeria, neurose, luxações e fraturas. O princípio fundamental era “não contrariar a natureza, porém auxiliá-la a reagir”. Eram utilizados como terapêutica: massagens, banhos, ginásticas, dietas, sangrias, ventosas, vomitórios, purgativos, calmantes, ervas medicinais e medicamentos minerais. h. Roma: Devido à tradição do povo romano, essencialmente guerreiro, a medicina não teve êxito em Roma. Foi exercida durante um longo tempo, por escravos ou estrangeiros. O Estado cuidava dos enfermos, baseados na medicina do povo grego, com o intuito de tornarem-se guerreiros, heróis e vigorosos. Entretanto, Roma foi exemplo de limpeza das ruas, ventilação das casas, água pura e abundante e redes de esgoto. Os romanos criaram na via Ápia, fora da cidade, um local específico para sepultar seus mortos. Aula 3 – Período da Unidade Cristã O Édito de Milão foi um documento promulgado por Cristianismo I, tetrarca ocidental, e Licínio, tetrarca Oriental, em 313 d.C. Foi criado para estabelecer a convivência pacífica entre os vários grupos religiosos, dando fim oficialmente às perseguições aos cristãos. A aplicação do Edito fez desenvolver os lugares de cultos e as propriedades confiscadas dos cristãos e vendidas em hasta pública. ...o mesmo será devolvido aos cristãos sem pagamento de qualquer indenização e sem qualquer fraude ou decepção... (Santos, 2006). Com isso, houve a liberação para que a Igreja pudesse exercesse suas obras assistências e atividades religiosas. Influência do Cristianismo na Enfermagem: O cristianismo começou sua expansão em Jerusalém, e em seguida, em todo o Oriente Médio, acabando por se tornar a religião oficial da Armênia em 301, da Etiópia em 325, da Geórgia em 337, e depois a Igreja estatal do Império Romano em 380. Os cristãos foram responsáveis pela maior revolução social de todos os tempos, afetando todas as outras fés, mudando o curso da história humana e influenciando positivamente na mudança de comportamento dos indivíduos e da família. Eles se convertiam ao ver o testemunho dos cristãos, quando comentavam: “Vejam como eles se amam”. Foi o testemunho do amor, conforme o relato dos Atos dos Apóstolos (cap 2 e 4) que provocou a conversão dos pagãos. Nesta época, os pobres e enfermos foram objeto de cuidados especiais por parte da Igreja. Após a promulgação do Edito de Milão, houve a liberação, para que a igreja exercesse suas atividades religiosas e assistenciais. Pedro, o apóstolo, ordenou diáconos para socorrerem os necessitados, e diaconisas para dar igual assistência às mulheres. Com isso, ocorreu uma profunda modificação na assistência aos doentes. Estes passaram a ser acolhidos em casa particulares ou em hospitais organizados para assistência, chamados de diaconias. Esses espaços passaram a ser dirigidos pelas abadessas, que trabalhavam para o progresso dos hospitais e cuidados aos doentes. Ao longo da sua história, a religião tem resistido à antipatia e a disputas teológicas que resultaram em muitas igrejas distintas. Os maiores ramos do cristianismo são as Igrejas Católica Romana, Ortodoxa e Protestante. Reforma Protestante: Após a Idade Média, a Igreja passou a arrecadar altas somas em dinheiro dos seus fiéis, apoiada pelo sistema feudal, distanciando-se de seus princípios e tendo com pano de fundo o cunho religioso. Influenciada pela política, a Igreja se afastava de seus ensinamentos e caía em contradição, vendendo indulgências, e assim, acumulava fortuna. Entretanto, seu discurso era outro, pois pregava que qualquer cristão poderia comprar o perdão por seus pecados, condenando a acumulação de capitanias individuais. Tudo isso foi o motivo da revolta de Martinho Lutero, dando a burguesia ascendente, insatisfeita com essa atitude da Igreja, necessitava de uma religião que a eximisse dos pecados da acumulação de dinheiro. Assim, Martinho Lutero, monge agostiano da região da saxônia, desencadeou a Reforma Protestante ao discordar publicamente da prática de venda de indulgências pelo Papa Leão X. Decadência do cuidado de Enfermagem: Com a Reforma Religiosa e a decadência do Cristianismo, os religiosos na Alemanha e na Inglaterra foram expulsos e substituídos nos hospitais, por pessoas de baixa escala social e de caráter duvidoso. Por trabalharem pesado, e terem baixos salários, extraíam dinheiro dos indigentes e os deixavam morrer. Não tinham noção de higiene e, por causa da comida escassa, não havia interesse em amenizar o sofrimento físico ou moral dos enfermos. Com o intuito de esclarecer e reduzir os problemas, o Papa convocou o Concílio de Trento, para que fosse discutida a questão dos cuidados aos enfermos. Estipulou ainda, que os bispos passassem a organizar, manter e fiscalizar os serviços hospitalares. Com a promulgação do Concílio de Trento, surgem várias organizações religiosas dedicadas à enfermagem: os irmãos S. João d Deus, São Camilo de Lellis (padroeiro da enfermagem), São Carlos, as Terceiras Franciscanas, entre outras. Porém, todo esse movimento não foi capaz de evoluir a enfermagem técnico-científica. Aula 4 – As imagens folclóricas, religiosa e servil Perspectivas históricas da Enfermagem: - Desenvolvimento de várias culturas com bases no modelo biomédico; - O estereótipo da Enfermagem no Período Cristão. - Legado do passado: - Imagem folclórica da enfermeira, trazidas dos tempos primitivos; - Imagem religiosa da enfermeira, herdada do período medieval; - Imagem servil da enfermeira, criada pela ética protestante, capitalista do século XVI ao XIX. Diante dessas perspectivas históricas, vamos caracterizar o cuidado da Enfermagem, através de sua imagem folclórica, religiosa e servil, para que possamos entender a origem desta profissão. Imagem folclórica: A primeira imagem folclórica da enfermeira é a figura da mãe. As mulheres têm a principal função de serem responsáveis pela educação dessas “enfermeiras” era em grande parte por tentativa e erro. Os avanços dos métodos utilizados, quando tinham sucesso, eram realizados pela troca de informações. Superstição e magia desempenhavam um papel significativo no tratamento. O folclore era abundante e existia relação íntima entre a religião e as artes curativas. As habilidades da Enfermagem evoluíram pela intuição. Ex: alimentos corretor eram usados e observados quanto aos seus efeitos (diarreia e vômitos). As famílias desenvolveram métodos por gerações e os tratamentos desenvolvidos eram adquiridos e compartilhados. Imagem religiosa da enfermagem: A cristandade e religião tiveram papel fundamentalna continuidade histórica da Enfermagem. Foram organizados grupos, como as ordens, cuja preocupação primária era cuidar dos doentes, dos pobres, dos órfãos, das viúvas, dos idosos, dos escravos e dos prisioneiros. As mulheres solteiras tinham oportunidades de trabalho que não eram imaginadas antes (atividades inerentes ao seu lar). Construiu-se uma imagem da Enfermagem amarrada aos rígidos preceitos religiosos, com uma estrutura disciplinar rígida de obediência absoluta. Vamos relembrar a figura das diaconisas: - Mulheres que deveriam ser solteiras ou viúvas, portanto tinham instrução, cultura, saúde e posição (irmãs de oficiais e viúvas bem-sucedidas); - Praticavam trabalho de caridade: alimentar os pobres, visitar prisioneiros e abrigos, cuidar dos doentes e enterrar os mortos; - Quando entravam nas casas, usavam cesta com remédios, entre outros utensílios; - Das viúvas, eram exigidos votos de castidade, para não se casarem novamente; - Por visitarem os doentes nas residências, são reconhecidas como o primeiro grupo organizado de enfermeiras de saúde pública; - Algumas possuíam um poder aquisitivo elevado e fizeram altas contribuições para a caridade e para a Enfermagem na época. Papel das Ordens Monásticas: Homens e mulheres eram capazes de seguir carreiras de sua escolha, de acordo com os preceitos cristãos. Os monastérios desempenhavam um grande papel na preservação da cultura e do aprendizado, dando refúgio para os perseguidos, cuidados aos doentes e ensino para os analfabetos. + Saiba mais: As ordens militares de enfermeiras evoluíram como resultado das Cruzadas. Essas ordens defendiam os hospitais e seus pacientes, e por essa razão, vestiam uma armadura e, por baixo de seus hábitos, usavam símbolo da Cruz de Malta. Imagem servil da Enfermagem: Durante o Renascimento (Era das Descobertas) e a Reforma, com o movimento religioso (Luteranismo, Anglicanismo, Calvinismo) a Enfermagem assumiu uma imagem servil, que resultou em uma revolta contra a supremacia da Igreja Católica. Nesse período monastérios foram fechados, ordens religiosas dissolvidas e o trabalho das mulheres extinto. O papel da mulher era definido nos limites do seu lar e sua obrigação era cuidar das crianças, doentes, idosos e da casa. As mulheres com um alto grau instrução não trabalhavam em hospitais. Esse trabalho era desempenhado por mulheres consideradas “incomuns”: - Prisioneiras; - Prostitutas; - Mulheres de baixa renda. Essas mulheres se sustentavam com ordenados, sendo forçadas a trabalhar como domésticas. A Enfermagem não era considerada uma atividade desejável para mulheres de alto escalão, pois o pagamento era baixo, as horas de trabalho eram longas e o trabalho estressante. Foram considerados os “anos negros” da Enfermagem. Ocorreu um retrocesso na evolução dos cuidados aos enfermos e o conhecimento de higiene era insuficiente. Características do período da enfermagem: - Período da imagem folclórica: - Figura da mãe; - Práticas de saúde por instinto; - Mesticismo. - Período da imagem religiosa: - Obediência absoluta; - Voto de Castidade; - Enfermeiras de classes elevadas. - Período da imagem servil: - Reforma religiosa; - Retrocesso na evolução da enfermagem; - Enfermeiros de classes inferiores. Aula 5 – Teoria ambientalista de Nightingale Florence Nightingale (1820-1910) Bela, poderosa, nascida em uma família rica da Inglaterra, Nightingale estudou Filosofia, grego, Matemática, música, pintura e Arquitetura. Vivia um conflito interno, por considerar mesquinhas as atitudes de sua família, em não deixar que aplicasse seu saber e inteligência em algo útil. Após completar 17 anos, depois de ouvir a voz de Deus, passou a estudar relatórios hospitalares secretamente e a escrever sugestões para melhorá-los. Por ter um caráter contrário às convenções de sua época, recusou vários casamentos, por acreditar ser predestinada a cumprir uma missão importante. É considerada em todo o mundo a fundadora da Enfermagem Moderna, depois de sua atuação como voluntária na Guerra da Criméia, em 1854. O impacto causado por sua atuação na guerra ajudou a quebrar o preconceito existente sobre a participação da mulher no Exército, proporcionando mudança de comportamento da sociedade em relação à visão da Enfermagem e estabelecendo uma nova ocupação útil para a mulher. Significado da lâmpada: Após o recolhimento de todos, Florence fazia sua ronda solitária nos alojamentos dos soldados. Para isso, usava uma pequena lâmpada para iluminar o caminho e observar as condições dos enfermos. Desde então, a lâmpada tornou-se o símbolo da Enfermagem no mundo. Teoria ambientalista de Florence: A teoria tem como significado o cuidado do ser humano e sua interação com o meio ambiente. Segundo Florence, esse cuidado científico está pautado em: a. Ventilação: Ar fresco, sem correntes de ar. Conservar o ar que o paciente respira tão puro quanto o ar exterior, sem deixa- lo sentir frio. É o primeiro e último princípio sobre o qual a atenção da enfermeira deve fixar-se sem o que, todo o restante que possa fazer por ele, não terá nenhum valor. b. Iluminação: Os doentes têm, depois do ar puro, a necessidade de iluminação. Não é apenas a claridade que desejam, mas a luz solar direta. c. Calor: A enfermeira deve observar atentamente o paciente, a fim de evitar que ele se resfrie, prevenindo a perda de calor vital, essencial à recuperação. d. Limpeza: Refere-se ao ambiente, pois um quarto sujo é fonte certa de infecções, ao paciente, de quem a higiene cuidadosa remove matérias nocivas do sistema. e. Ruídos: Elemento ambiental ao qual a enfermeira deve estar atenta. Qualquer sacrifício é válido para assegurar o silêncio, pois nem um bom arejamento nem uma boa assistência serão benéficos para o doente sem o necessário silêncio. f. Odores: O odor resultante da doença deve ser removido do corpo. Ao ventilar-se o quarto do doente, deve-se evitar o ar proveniente de esgoto; os utensílios de quarto devem ser mantidos limpos, livres de odores e guardados em local apropriado. g. Alimentação: Essencial ao processo de cura deve ser minuciosamente observada pela enfermeira. Teoria ambientalista de Florence: Além do já exposto, três componentes fazem parte da Teoria de Florence: a. Ambiente físico: A higiene constitui uma noção inclusiva, relacionada com todos os aspectos do ambiente físico em que se encontra o paciente; b. Ambiente psicológico: Um ambiente negativo poderia causar estresse físico, daí afetado o emocional do paciente. Recomenda-se que se ofereça ao paciente uma variedade de atividades para manter sua mente estimulada, enfatizando a necessidade de comunicação. c. Ambiente social: É visto como essencial na prevenção de doenças e refere-se especialmente à coleta de dados, na qual a enfermeira deve empregar todo o seu poder de observação. Teoria ambientalista de Florence: A partir da Teoria Ambientalista, passamos a ter um novo entendimento do cuidado. a. Cuidado empírico (saber popular): Requer algum ensino prático e tem por objetivo a prevenção de doenças e pode ser praticada por todos. b. Cuidado científico: Ciência que requer uma educação formal, organizada e científica para cuidar dos que sofrem com a doença. Entendimento de doença e saúde para a Teoria ambientalista: Para a teoria Ambientalista, a doença é vista como um processo restaurador que traduz um esforço da natureza para corrigir um processo de desgaste.Assim, o papel da enfermeira é ajudar o doente a manter suas forças vitais a fim de prevenir a doença. Nesse contexto, a saúde é entendida por Florence como resultado da interação de fatores ambientais, e não apenas como o contrário da doença. + Atenção: Segundo Florence, o ser humano tem habilidades e responsabilidade de alterar sua situação existencial. E a enfermagem tem a função existencial. E a enfermagem tem a função de colocar o indivíduo nas melhores condições para a natureza agir, o que seria obtido basicamente pela ação sobre o ambiente. Florence entende a sociedade e o ambiente como condições externas que o afetam a vida e o desenvolvimento do indivíduo. Ainda, caracteriza o ambiente como um elemento externo à pessoa que afeta tanto a saúde do doente quanto a pessoa saudável. Enfermagem moderna e seus aspectos: A enfermagem moderna apresenta alguns aspectos críticos. São eles: a. Desigualdade social: Traço inevitável de qualquer sociedade e responsável pelas transformações da História, a partir de conflitos entre dominantes e dominados. b. Poder: Fenômeno que atinge todas as dimensões do convívio humano e nas organizações sociais. Possui características como: soberania, liderança e obediência, hierarquia e subordinação, influência, prestígio e autoridade. É encontrada em todas as relações sociais. c. Discurso formal da Enfermagem: Baseado na transformação da pobreza e em princípios de saneamento e compromisso institucional, propondo a mudança do comportamento dos pobres em casa ou nos hospitais. d. Ambiguidade da prática: Florence propôs a divisão social do fazer em Enfermagem. O fazer intelectual para as moças de origem social destacada (lady-nurses) e o fazer manual para as moças de origem simples (nurses). e. Sobre a escola fundada por Florence: Deveria primar pela disciplina e moral das alunas, pois era preciso moralizar o perfil da enfermeira da época, já estereotipado por serem mulheres de reputação questionável e que bebiam durante o trabalho. f. Registro oficial: Florence liderou um movimento de enfermeiras inglesas que objetivava a obtenção do registro oficial e o reconhecimento do curso de Enfermagem. Ela argumentava que o registro não era necessário, uma vez que o real significado da profissão era o seu espírito vocacional e de submissão. Postura que, de certa forma, mostrava seu compromisso com as elites. Sua destacada posição social servia como meta para a ascensão da mulher na sociedade ocidental no início do século. Como consequência, a profissão saiu da fase de desmoralização social e passou para a fase autoritária e preconceituosa. O ingresso das moças no hospital Saint Thomas exigia o máximo de elevação moral contra o mínimo de condições educacionais. As disciplinas eram rígidas e, por qualquer deslize, a candidata era afastada do curso. Perfil este que também existiu no Brasil na implantação da profissão, que perdurou por muitos anos.
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