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Monografia Responsabilidade Objetiva das PJS segundo a L 12846 2013

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Universidade São Judas Tadeu
ALEXSANDRO BARBOSA BALANI
A RESPONSABILIDADE OBJETIVA DAS PESSOAS JURÍDICAS DE ACORDO COM A LEI 12.846 DE 2013
São Paulo
2016
Alexsandro Barbosa Balani
A RESPONSABILIDADE OBJETIVA DAS PESSOAS JURÍDICAS DE ACORDO COM A LEI 12.846 DE 2013
Monografia apresentada à banca examinadora da Faculdade de Direito da Universidade São Judas Tadeu, como exigência parcial para obtenção de grau de Bacharel em Direito, sob orientação da Professora Simone de Oliveira Lara Marcondes Pereira.
São Paulo
2016
	Autor: Alexsandro Barbosa Balani
	TÍTULO DA MONOGRAFIA: A Responsabilidade Objetiva das Pessoas Jurídicas de Acordo com a Lei 12.486 de 2013.
	Monografia apresentada à banca examinadora da Faculdade de Direito da Universidade São Judas Tadeu, como exigência parcial para obtenção de grau de Bacharel em Direito, sob orientação da Professora Simone de Oliveira Lara Marcondes Pereira.
	BANCA EXAMINADORA
1º Nome do Professor - Simone de Oliveira Lara Marcondes Pereira
2º Nome do Professor - Rogério Baptistini Mendes 
	AVALIAÇÃO:
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Data da apresentação:
	
 APROVADO 
 
 REPROVADO
	
Assinatura do Orientador
	
Assinatura do Examinador
RESUMO
O presente trabalho monográfico tem por fim analisar a responsabilidade objetiva aplicada segundo a Lei 12.846 de 2013, observando: o contexto histórico desta no âmbito mundial; a sua versão positivada no nosso ordenamento jurídico e o embate doutrinário sobre particularidades da Lei, principalmente quanto à configuração dos sujeitos passivos.
 Ainda nesta pesquisa, será observada, em especial, a modalidade de responsabilidade aplicada, demonstrando as espécies existentes, diferenciando a sua aplicabilidade de acordo com o sujeito passivo e apresentando subsídios para justificar a aplicação desta espécie normativa a pessoas jurídicas de direito privado em sentido amplo.
 Na sequência, serão apresentados os elementos objetivos da Lei, observando a correlação entre espécies normativas diferentes, as condutas tipificadas, e o elo entre esta e o dano, demonstrando como enxergar o nexo causal; além de abordar as sanções tipificadas e os meios de se mitigar as penalidades da presente norma. E por fim, relatar os motivos fins desta legiferada, apontando consequências diretas e indiretas, com o objetivo comum: extinguir a corrupção. 
SUMÁRIO
1.	INTRODUÇÃO	6
2.	A LEI ANTICORRUPÇÃO	8
2.1.	Aspectos Gerais	8
2.2.	Aspectos Históricos	9
2.2.1.	Tratados Internacionais sobre Anticorrupção	9
3.	A Responsabilidade Objetiva das Pessoas Jurídicas	11
3.1.	Aspectos Gerais: conceito, esfera de aplicação e modalidades.	11
3.2.	O Aspecto Subjetivo da Lei	13
3.2.1.	Das Pessoas Jurídicas	13
3.2.2.	Da Administração Pública nacional, ou estrangeira	17
3.3.	Elementos Caracterizadores da Responsabilidade Objetiva das Pessoas Jurídicas	20
3.3.1.	Aspectos Gerais	20
3.3.2.	Análise dos Aspectos Objetivos	21
3.3.2.1.	Conduta Típica	21
3.3.2.2.	Dano	23
3.3.2.3.	Nexo Causal	24
3.3.3.	Sanções e o Compliance	25
4.	Conclusão	27
REFERÊNCIAS	29
INTRODUÇÃO
A corrupção é um tema midiático que sempre foi discutida de formas diversas, ora no segmento histórico-social; ora no segmento político-administrativo; e, inclusive, no segmento jurídico. Apesar de existir diversos dispositivos normativos que coíbem práticas de corrupção em searas jurídicas diferentes, ainda, até meados de 2013, não havia no ordenamento jurídico brasileiro mecanismos legais suficientes para uma efetiva reparação integral dos danos oriundos de ilícitos deste tipo. 
A Lei 12.846 de 2013 (Lei da Empresa Limpa ou Lei Anticorrupção), assim como será apresentado neste trabalho de conclusão de curso, revolucionou introduzindo aspectos legais inéditos, tais como o objeto desta monografia: a responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas se enquadradas pela Lei da Empresa Limpa.
Esta pesquisa tem por cerne entender os motivos da positivação da modalidade de responsabilidade acima citada, buscando os motivos que fomentaram a sua origem legal, demonstrando historicamente os anseios globais para que haja uniformidade ao combate da corrupção; apresentando aspectos específicos da Lei positivada no Brasil, quanto aos sujeitos e ao objeto em si da norma, segundo o tema central desta pesquisa acadêmica.
Ainda, no curso do trabalho, será apresentado argumentos importantes para que seja possível entender os motivos da criação de um instrumento tão incisivo quanto ao da responsabilidade objetiva, tanto nos processos administrativos quanto nos processos judiciais; será apresentado o leque dos sujeitos, demonstrando o embate doutrinário existente sobre como atingir a pessoa coletiva com os efeitos da Lei Anticorrupção, além dos elementos caracterizadores da modalidade de responsabilidade em discussão à luz da Lei em questão.
Após toda a análise subjetiva e objetiva do assunto tratado, será apresentado de forma singela as sanções tipificadas e, subsequentemente, os meios de mitigar a ação penal da norma, ora mediante atos processuais administrativos e judiciais, ora com a aplicação de uma gestão de controle ético dentro das empresas.
O presente estudo foi elaborado mediante pesquisas bibliográficas de fontes doutrinárias compostas em grande parte por estudiosos do direito público; parcialmente por obras civilistas, em especial quanto à responsabilidade e suas peculiaridades; e, de forma diminuída por conteúdo criminal, midiático, trabalhos de conclusão entre outros. Vale ressaltar, ainda, que há a presença de dispositivos legais destoantes, porém, estes devem ser considerados para um fiel entendimento de toda a presente obra. A jurisprudência ainda é escassa quanto à aplicabilidade desta espécie normativa, por isso foi evitada.
A LEI ANTICORRUPÇÃO
Aspectos Gerais
A Lei 12.846, de 1º de agosto de 2013, conhecida também como Lei Anticorrupção, ou, Lei da Empresa Limpa, busca responsabilizar as pessoas jurídicas e seus dirigentes quando estes forem praticantes de atos lesivos à Administração Pública nacional ou estrangeira. Cabe ressaltar que a responsabilidade sobre as pessoas jurídicas será apurada de forma objetiva, teor central deste trabalho.
A criação desta espécie normativa foi oriunda de acontecimentos que repercutiram em todo o mundo, tocando diversas searas e de formas variadas, forçando desde mudanças na Administração Pública (que de forma geral será abordada neste trabalho futuramente) e no mundo corporativo como um todo, sendo que no setor empresarial, uma das novidades foi o desenvolvimento de um sistema de compliance (Programa de Integridade Empresarial) que merece ser ressaltado:
A existência de um efetivo programa de compliance, além de ser obviamente benéfico às empresas, coibindo atos lesivos à administração pública e às próprias empresas, será levada em consideração em caso de aplicação de sanções administrativas nos termos do Decreto – Lei 8.420/15, sendo fator de redução de penalidade.
(...) Entre suas características o programa de compliance deve contar com o comprometimento da alta direção da empresa; estabelecer padrões de conduta e código de ética para seus empregados, administradores e mesmo a terceiros e prever treinamentos periódicos.[1: ANIZ, Maria Carolina La Motta Araujo, Aspectos Gerais da lei 12.846/13 – A lei anticorrupção, São Paulo, 21 de outubro de 2015. Disponível em: < http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI228776,- 71043 -Aspectos+gerais+ da+lei+1284613+A+lei+anticorrupcao >]
Cabe ressaltar que, a existência de um programa de integridade dentro das empresas, é fundamental para que estas tenham um controle fiel das condutas praticadas pelos seus dirigentes, administradores e empregados, já que, são as empresas responsáveis pelas práticas destes de forma objetiva,devendo arcar com eventual sanção, apesar do desvio de conduta ser exclusivo dos empregados, podendo, contudo, abranger subjetivamente os dirigentes e administradores de acordo com a culpabilidade destes.
Aspectos Históricos
A Lei 12.846 teve seu início através do projeto de lei nº 39/2013 encaminhado pelo Poder Executivo à Câmara dos Deputados, sendo aprovado em abril de 2013 e aprovado no plenário do Senado em 4 de julho de 2013 e sancionada pela presidente Dilma Rousseff, em 1º de agosto de 2013 e publicada no Diário Oficial da União em 02 de agosto de 2013.
Embora esta lei seja datada de 2013, os esforços para a elaboração de uma lei que penaliza os autores e coautores de práticas corruptas não são recentes, mas sim, fruto de uma longa evolução legislativa no combate a corrupção. Historicamente, os Estados Unidos foi o primeiro país a se preocupar com a ligação entre empresas transnacionais e o fenômeno da corrupção. O contexto político do país na década de 1970 foi decisivo. Após o escândalo de Watergate, através do qual o Presidente Nixon foi acusado de usar seu poder para espionar ilegalmente opositores políticos, uma série de investigações foi realizada pelo Senado dos EUA para encontrar irregularidades no governo.
Apesar da existência de um sólido conjunto de normas que proíbem o suborno de funcionários públicos nacionais nos Estados Unidos, não havia nada na lei dos EUA sobre o suborno de funcionários públicos estrangeiros. Inspirada pela “onda de moralização”, foi sancionada em 1977 pelo presidente Jimmy Carter, a Lei Norte-Americana de Práticas Corruptas no Exterior (FCPA, sigla em inglês), uma lei que proibia o pagamento de subornos a funcionários públicos estrangeiros, a fim de estabelecer relações comerciais lucrativas desonestas.
Tratados Internacionais sobre Anticorrupção
Com a implementação da FCPA, o governo dos EUA começou a pressionar os demais países que não possuíssem meios de coerção a ilícitos relacionados à corrupção, buscando a internacionalização da luta contra a corrupção e a adoção pelos países de lei semelhante. Nas palavras de Carr e Outhwaite (2008, 07.):
“Os EUA reconheceram que o suborno de funcionários públicos estrangeiros não era simplesmente um problema dos EUA, mas universal. Promovendo agressivamente a aprovação de uma legislação semelhante em outros países industrializados, os EUA procuraram assegurar condições de concorrência equitativas para as empresas concorrentes e aumentar a integridade e a estabilidade do mercado”.[2: FERREIRA, Luciano Vaz e MOROSINI, Fabio Costa; A Implementação da Lei Internacional Anticorrupção no Comércio: O Controle Legal da Corrupção Direcionado às Empresas Transnacionais; Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais, Jan-Jun 2013, p.257-277; apud Carr e Outhwaite (2008, 07). Disponível em: < http://www.seer.ufrgs.br/austral/article/viewFile/35615/23981 >.]
Enquanto investigava-se o financiamento de campanhas políticas, foi descoberta a existência de fundos irregulares mantidos pelas empresas transnacionais norte-americanas para corromper governos estrangeiros e garantir um negócio lucrativo nesses países. Em colaboração com a Comissão Norte-Americana de Câmbios e Títulos (SEC, sigla em inglês), órgão responsável pela regulação do mercado de ações nos EUA, mais de 500 empresas norte-americanas admitiram pagar o equivalente a 300 milhões de dólares em subornos a funcionários públicos estrangeiros.[3: FERREIRA, Luciano Vaz e MOROSINI, Fabio Costa; A Implementação da Lei Internacional Anticorrupção no Comércio: O Controle Legal da Corrupção Direcionado às Empresas Transnacionais; Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais, Jan-Jun 2013, p.257-277; apud (Biegelman e Biegelman 2010, 10). ]
	O combate à corrupção da década de 70, nos Estados Unidos da América, com as investigações realizadas pela Security Exchange Comission (SEC) em casos de pagamento de propina por empresas norte americanas para funcionários públicos ou políticos estrangeiros e americanos - sendo os casos mais emblemáticos: caso de Watergate e o caso Lockheed - é o marco inicial que fomentou a nossa atual Lei da Empresa Limpa.
A Responsabilidade Objetiva das Pessoas Jurídicas
Aspectos Gerais: conceito, esfera de aplicação e modalidades.
A responsabilidade é o instituto jurídico de maior importância para a análise da Lei em observância, entretanto, é difícil a sua compreensão se observada isoladamente ou sem diferenciá-la do conceito de obrigação, por isso, Carlos Roberto Gonçalves demonstra claramente como melhor entender o instituto sem que haja equívocos entre os conceitos citados:
Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. (...)
A obrigação nasce de diversas fontes e deve ser cumprida livre e espontaneamente. Quando tal não ocorre e sobrevém o inadimplemento, surge a responsabilidade. Não se confundem, pois, obrigação e responsabilidade. Esta só surge se o devedor não cumpre espontaneamente a primeira.
A responsabilidade é, pois, a consequência jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional. (grifo nosso) [4: GONÇALVES, Carlos Roberto, Curso de Direito Civil V. 5. p. 1-3.]
A não prestação (dar, fazer e não fazer) de uma obrigação faz surgir o inadimplemento, deste surge a responsabilidade de indenizar o não cumprimento obrigacional. 
A responsabilidade da lei em questão ocorre com o enquadramento da pessoa jurídica no rol do art. 5º da 12.846/13 (futuramente demonstrado), ou seja, o descumprimento obrigacional de uma prestação de “não fazer”. 
Diante do exposto, começamos a abordar a relevância do tema. Assim como já visto, a Lei Anticorrupção trouxe a responsabilização objetiva das pessoas jurídicas para situações em que seus empregados concorram para a consumação de práticas corruptas, envolvendo funcionários públicos, atuantes no território nacional ou no estrangeiro; algo inédito até então. Trata-se de uma regra cogente, cuja inobservância desta origina a responsabilização em duas esferas distintas, tal como professa Maria Sylvia Di Pietro:
A responsabilização ocorre na esfera administrativa e na esfera judicial; na primeira hipótese, ficam a cargo da Administração Pública a apuração do ilícito, a aplicação das sanções e a apuração dos danos a serem ressarcidos; se estes não forem satisfeitos, o débito será inscrito em dívida ativa, para fins de execução judicial. Na esfera judicial, são apurados ilícitos definidos na lei (art. 19), para aplicação de sanções de natureza civil (art. 20). (o original não ostenta grifos)[5: DI PIETRO, Maria Sylvia Zenella, Direito Administrativo, p. 929. ]
	Assim, é possível identificar que, apesar da prática do ato ser una, a atribuição de culpa para fins indenizatórios será realizada em duas esferas distintas, gerando sanções específicas de acordo com cada seara.
	Contudo, o ponto que deve ser ressaltado sobre o tema deste trabalho de conclusão de curso é a espécie objetiva de se atribuir a responsabilidade sobre a pessoa jurídica, trata-se do ápice da norma, já que, em regra geral, aplica-se a espécie subjetiva e, apenas em caráter especial, aplica-se a espécie objetiva, segundo o Código Civil de 2002. Portanto, a responsabilização na modalidade objetiva, só poderá ser aplicada nos casos especificados em lei, ou, quando a atividade ordinariamente desenvolvida pelo sujeito que gerou o dano trouxer riscos aos direitos de outrem.[6: Segundo artigo 927 e parágrafo único do atual Código Civil Brasileiro.]
	Melhor demonstra, doutrinariamente, Maria Sylvia Zanella Di Pietro, como ocorre a responsabilidade pela Lei da Empresa Limpa de acordo com cada modalidade, sendo objetiva “para a pessoa jurídica, nas órbitas civil e administrativa” e será subjetiva a responsabilidade “dos dirigentes e administradores bem como de terceiros que participem do ato ilícito, também se aplica nas duas esferas, civile administrativa.” .[7: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, p. 930.]
O Aspecto Subjetivo da Lei
Das Pessoas Jurídicas
Antes da Lei Anticorrupção, o enquadramento da pessoa jurídica em ilícitos, carecia de meios probatórios (ou seja, era subjetiva), dificultando provar a culpa do sujeito infrator frente às normas existentes, sendo que, muitas vezes, a punição recaia apenas ao empregado infrator; até o seu advento. 
Hoje o artigo 1 º da Lei 12.846/13 faz valer a então “(...)responsabilização objetiva administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira.” (grifei). O delineamento do sujeito é de grande importância, já que, os motivos da modalidade de responsabilização aplicada, segundo Marcio Pestana:
“(...) refere-se ao risco que as empresas possuem de, nas relações que estabelecem com o Estado, sobretudo, neste ponto, no portal da Administração Pública, serem potencialmente ofensoras de valores relevantes para a coletividade e, consequentemente, para o Estado brasileiro, quais sejam: a moralidade, a probidade e o patrimônio público.” (grifo nosso)[8: PESTANA, Marcio, Lei Anticorrupção: exame sistematizado da Lei n. 12.846/2013, p. 09.]
Entretanto, apesar de consentir que a teoria do risco é aplicada de forma a fomentar a modalidade objetiva pelos motivos citados acima, o autor discorda da aplicabilidade da modalidade objetiva de forma imediata e, por isso, inova ao ponto de criar uma ordem na busca da responsabilização, ou seja, segundo Marcio Pestana é preciso uma “aferição subjetiva instrumental para permitir a responsabilização objetiva”.[9: PESTANA, Marcio, Lei Anticorrupção: exame sistematizado da Lei n. 12.846/2013, p. 12-13.]
Segundo a linha doutrinária citada acima, há a imprescindibilidade da apuração da responsabilidade subjetiva da pessoa física e, ao mesmo tempo, esta pessoa seja empregado (em sentido amplo) da pessoa jurídica - já que são pessoas naturais vinculadas que atuarão efetivamente para que o ilícito ocorra-; a partir daí a aferição de responsabilidade daquela faz com que esta seja objetivamente responsável e penalizada de acordo com a lei em comento. Entretanto, se esta aferição não for possível, apesar de existir provas contundentes de que o ilícito se deu em decorrência de um ato da pessoa jurídica, não poderíamos então atribuir a responsabilidade na modalidade objetiva à pessoa jurídica, mas sim, apenas, a modalidade subjetiva, dificultando assim a reparação do dano. [10: PESTANA, Marcio, Lei Anticorrupção: exame sistematizado da Lei n. 12.846/2013, p. 12-13.]
Segundo Silvio de Salvo Venosa, a responsabilidade na modalidade subjetiva sofreu alterações hermenêuticas de acordo com a evolução da técnica legal com o passar dos anos justamente para afrontar situações de difícil constatação, já que a demonstração da culpa carece de um “exame de transgressão ao dever de conduta que constitui o ato ilícito”. [11: VENOSA, Silvio Salvo, Direito Civil v.4, p. 24-25.]
Ainda sob a égide deste doutrinador, é indiscutível que a modalidade subjetiva vem sendo suprimida ou alternada para a modalidade objetiva ora por dispositivos legais ora por interpretações axiológicas, pois o “passado demonstrou a dificuldade de provar culpa por parte das vítimas, exigindo-se, em muitos casos, uma verdadeira prova diabólica”. (grifo nosso)[12: VENOSA, Silvio Salvo, Direito Civil v.4, p. 24-25.]
Trata-se de um embate cuja profundidade não cabe ao presente trabalho, porém (apenas para tentar compreender o possível equívoco entre a teoria citada e a hermenêutica da norma) se observarmos a gênesis da Lei encontraremos influências fortes do common law - conforme explicitado acima, quanto à origem dos principais atos contra a corrupção no mundo, sendo os EUA e a Inglaterra os percussores de espécies normativas nesse sentido –, tal ordem jurídica é instrumentalizada mediante princípios jurídicos (em regra) e, portanto, para maior eficiência normativa não devemos restringir a aplicabilidade da norma objeto de estudo deste trabalho, senão estaremos descaracterizando a sua essência jurígena, qual seja: evitar a ocorrência de dano da Administração Pública e, indiretamente, evitar práticas desleais de mercado, prejudicando uma relação comercial salutar.
Ainda, a fim de melhor completar a nuance do raciocínio acima sobre a interpretação restritiva ou não da norma; com o intuito de evitar fugas hermenêuticas, José dos Santos Carvalho Filho esclarece que a “(...)noção de pessoa jurídica para fins desta lei é ampla” Portanto, mediante uma aplicação lógica, podemos entender que a ordem na busca de responsabilidade não deve ser restringida pela doutrina, quiçá, em alguns aspectos, por espécie normativa com finalidade regulamentadora, para se estabelecer critérios para julgamento dos processos administrativos oriundos de atos ilícitos previstos, por exemplo. [13: CARVALHO FILHO, José dos Santos, Manual de Direito Administrativo, p. 1037.]
É conclusivo que a norma deste estudo não é “pró-empresa”, apesar de enquadrar pessoas físicas em casos específicos, o preâmbulo sequer menciona estas últimas: “Dispõe sobre a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira, e dá outras providências” . Portanto, não devemos criar mecanismos hermenêuticos ilusórios a fim de favorecer o sujeito infrator, ora dificultando a finalidade da norma (responsabilizar primariamente a empresa) ora criando meios embaraçosos para a sua aplicação. [14: De acordo com o preâmbulo da Lei 12.846/2013.]
Apesar da definição final, sobre como melhor entender a aplicabilidade da norma, carecer da consolidação da jurisprudência, para tentar esclarecer, de acordo com bons entendimentos doutrinários, Maria Sylvia Zenella Di Pietro, aplicando um entendimento analógico diz que:
“Aparentemente, a Lei quis dar aos entes privados o mesmo tratamento que a Constituição, no artigo 37, §6º, dá ao Estado e seus agentes: o Estado responde objetivamente pelos danos causados a terceiros, porém os agentes causadores do ato lesivo respondem subjetivamente.” [15: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, p. 930.]
Portanto, práticas comissivas (enquadramento direto ao fato típico) ou omissivas (falta do cuidado devido nas tomadas de decisões que gerem o fato típico) das empresas, farão com que estas sejam processadas nos moldes da Lei da Empresa Limpa. 
A aplicabilidade da norma deve incidir sobre as sociedades empresárias e simples, personificadas ou não, independentemente da forma de organização ou modelo societário adotado, bem como quaisquer fundações, associações de entidades ou pessoas, ou sociedades estrangeiras, que tenham sede, filial ou representação no território brasileiro, constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente. Ou seja, de acordo com tudo já visto até aqui, podemos auferir que o legislador tentou abarcar todas as espécies de pessoas jurídicas existentes, conclui-se portanto que o rol apresentado é meramente exemplificativo, podendo ser complementado se necessário, já que o cerne desta lei é o interesse público. [16: Segundo artigo 1º e parágrafo único da Lei 12.846/2013.]
Haverá a responsabilidade das pessoas jurídicas, segundo art. 4º da Lei objeto desta monografia, ainda que haja alteração contratual, transformação, incorporação, fusão ou cisão societária. O § 1º do artigo supracitado especifica a forma que será dada a responsabilização da sucessora em situações de fusão e incorporação:
“(..)será restrita à obrigação de pagamento de multa e reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas nesta Lei decorrentes de atos e fatos ocorridos antes da data da fusão ou incorporação, exceto no caso de simulação ou evidente intuito de fraude, devidamente comprovados.”
	Complementando o raciocínio, o parágrafoseguinte ao citado, diz respeito às sociedades controladas, controladoras, coligadas ou as consorciadas vinculadas mediante um pacto, serão solidárias estas pelas práticas tipificadas na Lei base deste trabalho, “(...) restringindo-se tal responsabilidade à obrigação de pagamento de multa e reparação integral do dano causado.”. [17: Segundo o §2º do artigo 4º da Lei 12.846/2013.]
Ainda, sem perder a assertividade quanto aos sujeitos passivos desta Lei, apesar de estarem amparados por uma modalidade de responsabilização diferente, os dirigentes e sócios com poderes específicos de administradores de pessoas jurídicas que atentarem contra a presente lei não estarão isentos de sanções. A lei é clara em seu artigo 3º que a “responsabilização da pessoa jurídica não exclui a responsabilidade individual de seus dirigentes ou administradores ou de qualquer pessoa natural, autora, coautora ou partícipe do ato ilícito.”; portanto, estamos diante de uma situação em que há a exigibilidade de um conjunto probatório para que dirigentes e administradores sejam enquadrados por esta espécie normativa. 
Além do discorrido, vale ressaltar que a responsabilidade da pessoa física está adstrita à medida de sua culpabilidade, tal qual está descrito no seu Art. 3º, §2º: “Os dirigentes ou administradores somente serão responsabilizados por atos ilícitos na medida da sua culpabilidade”. [18: Segundo § 2º do artigo 3º da Lei 12.846/2013. ]
Exaltar a possibilidade de tocar os dirigentes e administradores faz com que seja, ao mesmo tempo, indispensável comentar sobre a possibilidade da desconsideração da personalidade jurídica, de acordo com o previsto no art. 14 da Lei 12.846/13 em situações de abuso de direito para “(...) facilitar, encobrir ou dissimular a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei ou para provocar confusão patrimonial (...)”, situação em que serão estendidos os efeitos das sanções aplicadas às pessoas jurídicas aos seus administradores e sócios com poderes de administração. [19: Segundo artigo 14 da lei 12.846/2013.]
As pessoas jurídicas, em sentido amplo, e seus administradores ou sócios com poderes de administrador são, de acordo com a espécie normativa em questão, sujeitos à sanção disciplinada se preenchidos os requisitos para fins de apuração da responsabilidade, requisitos estes que serão mencionados em ponto específico para tal.
Da Administração Pública nacional, ou estrangeira
No tocante à Administração Pública houve diversas inovações, o art. 8º da Lei da Empresa Limpa descreve algumas, dentre elas a competência para instauração e julgamento do processo administrativo, onde a apuração da responsabilidade da pessoa jurídica ocorrerá de acordo com cada órgão ou entidade dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Diferenciar órgãos de entidades a fim de melhor compreender qual sujeito possui legitimidade de incitar o processo.
Os órgãos estão adstritos à atuação Estatal, não são dotados de personalidade jurídica, carecem da legalidade para atuarem – cabe citar como exemplo os Ministérios que compõem a União, as Secretarias que compõem os Estados e os Municípios, Procuradorias, entre outros, compõem a estrutura de funcionamento do Estado.
Entidades, assim como disposto no enunciado normativo do artigo 8º da Lei 12.846/13 devem ser entendidas como todo o rol de pessoas jurídicas, dotadas de personalidade, não apenas vinculadas pela lei, porém com possibilidade de atuação no âmbito privado - podemos citar as entidades: Estatais (União, Estados, Distrito Federal e Municípios); Autárquicas (INSS, por exemplo); Fundacionais (Fundação Carlos Chagas, por exemplo); e Empresariais (Metrô do Estado de São Paulo, por exemplo).
Assim, as pessoas coletivas contratadas ou relacionadas por cada um dos sujeitos citados acima (Administração Direta e Indireta) tais como: terceirizadas (limpeza e segurança patrimonial, por exemplo), prestadoras de serviços (manutenção ou construção predial ou de mobiliário, por exemplo), partes de um mesmo processo licitatório (compra de material de expediente, por exemplo), entre outras; se enquadradas como infratoras, sob a ótica desta Lei, a formação do processo administrativo para apuração do ocorrido, será iniciada pela autoridade máxima de cada órgão ou entidade, ex officio ou mediante provocação, respeitando os princípios processuais do contraditório e da ampla defesa.
Vale ressaltar que a competência para a instauração e julgamento poderá ser delegada, porém a subdelegação é vedada. A delegação é exclusiva da capacidade de instaurar e julgar o processo administrativo e não de inovar legalmente sobre a Lei, para isto, cabe a cada autoridade máxima de órgão ou entidade regular o procedimento administrativo específico para apuração de responsabilidade e aplicação da respectiva sanção. Podemos citar como exemplo o Decreto 55.107 de 13 de maio de 2014 do Município de São Paulo, um dos primeiros municípios a regulamentar a Lei 12.846/13.
Não há como não citar a importância da Controladoria Geral da União – CGU no estudo deste trabalho, apesar de conturbações políticas que ocorreram nos últimos meses, sendo a CGU no âmbito da União competente para iniciar processos e revisar a regularidade da aplicação da Lei em questão, de acordo com o § 2º do art. 8º da Lei Anticorrupção a seguinte função:
(...) §2º No âmbito do Poder Executivo federal, a Controladoria-Geral da União – CGU terá competência concorrente para instaurar processos administrativos de responsabilização de pessoas jurídicas ou para avocar os processos instaurados como fundamento nesta Lei, para exame de sua regularidade ou para corrigir-lhes o andamento.”
O parágrafo em questão, implicitamente, incita os Estados, Distrito Federal e Municípios a estabelecerem uma figura similar à da CGU, haja vista clara observância aos princípios da simetria e da não intervenção.
	A presente espécie normativa, sob a égide de toda historicidade que fomentou a sua origem, abarca, também, as pessoas jurídicas de direito público estrangeiras. Estas compreendem “os órgãos e entidades estatais ou representações diplomáticas de país estrangeiro, de qualquer nível ou esfera de governo, bem como as pessoas jurídicas controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público de país estrangeiro.” . [20: Segundo artigo 5º, § 1ºda Lei 12.846/13.]
Por equiparação, o §2º do artigo 5º da Lei 12.826/13 as organizações públicas internacionais serão tratadas como se pessoas jurídicas de direito público estrangeiro fossem. Ainda, sob equiparação, serão tratados como agentes públicos estrangeiros para os fins desta Lei:
(...) quem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, exerça cargo, emprego ou função pública em órgãos, entidades estatais ou em representações diplomáticas de país estrangeiro, assim como em pessoas jurídicas controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público de país estrangeiro ou em organizações públicas internacionais. [21: Segundo artigo 5º, § 3ºda Lei 12.846/13.]
	É evidente que tais disposições legais mitigam o princípio da soberania Estatal, inclusive, apresentam bases calcadas no princípio da extraterritorialidade, assim como, expressamente, relata o artigo 28, dispondo que a aplicabilidade desta Lei recai sobre “aos atos lesivos praticados por pessoa jurídica brasileira contra a Administração Pública estrangeira, ainda que cometidos no exterior”.
 Elementos Caracterizadores da Responsabilidade Objetiva das Pessoas Jurídicas
Aspectos Gerais
Para a caracterização da responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas é essencial que haja a congruência dos elementos formadores desta para a efetiva aplicação das sanções previstas. É de extrema importância que tenhamos entendimento sobre cada elemento que compõe o instituto analisado neste trabalho.
Esclarece a livre docente, Maria Sylvia Zanella Di Pietro, que os elementos necessários para que haja a responsabilidade objetiva segundo a Lei em estudo neste trabalho, a princípio, deve partir de uma conduta tipificadano artigo 5º da Lei, praticada por uma pessoa jurídica, contra a Administração Pública, nacional ou estrangeira e, em decorrência da conduta praticada, seja possível verificar a existência do nexo de causa e efeito entre a conduta da pessoa coletiva e o dano sofrido pela Administração, tal qual, da forma esquematizada abaixo:
A regra da responsabilidade objetiva exige, no caso da Lei nº 12.846/13, que:
haja nexo de causa e efeito entre a atuação da pessoa jurídica e o dano sofrido pela Administração Pública;
seja praticado ato lesivo, tal como definido no artigo 5º;
o ato lesivo seja praticado por pessoas jurídicas (art. 1º, caput);
o ato lesivo cause dano à Administração Pública, nacional ou estrangeira.”[22: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, p. 930.]
Ainda, sem perder a linha de raciocínio descrita logo acima, quanto aos elementos norteadores da responsabilidade na modalidade subjetiva, é necessário “os mesmos requisitos já apontados com relação à responsabilidade das pessoas jurídicas, ressalvado o mencionado no item 1, já que exige demonstração de sua culpabilidade”.[23: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, p. 930.]
Análise dos Aspectos Objetivos
Com o objetivo de observar o fenômeno estudado neste trabalho, vamos decompor os seus elementos e analisá-los a fim de melhor aferir a importância de cada qual para a existência da responsabilidade. 
Conduta Típica
Para enquadrarmos o sujeito passivo desta norma precisamos verificar se houve a prática de uma conduta tipificada nos moldes do art. 5º da Lei 12.846 de 2013 ou não, assim como disposto:
Art. 5º Constituem atos lesivos à administração pública, nacional ou estrangeira, para os fins desta Lei, todos aqueles praticados pelas pessoas jurídicas mencionadas no parágrafo único do art. 1º, que atentem contra o patrimônio público nacional ou estrangeiro, contra princípios da administração pública ou contra os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, assim definidos:
I - prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada;
II - comprovadamente, financiar, custear, patrocinar ou de qualquer modo subvencionar a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei; 
III - comprovadamente, utilizar-se de interposta pessoa física ou jurídica para ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários dos atos praticados; 
IV - no tocante a licitações e contratos: 
a) frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo de procedimento licitatório público; 
b) impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento licitatório público; 
c) afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo; 
d) fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente; 
e) criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de licitação pública ou celebrar contrato administrativo; 
f) obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de modificações ou prorrogações de contratos celebrados com a administração pública, sem autorização em lei, no ato convocatório da licitação pública ou nos respectivos instrumentos contratuais; ou 
g) manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-¬financeiro dos contratos celebrados com a administração pública; 
V dificultar atividade de investigação ou fiscalização de órgãos, entidades ou agentes públicos, ou intervir em sua atuação, inclusive no âmbito das agências reguladoras e dos órgãos de fiscalização do sistema financeiro nacional.
Havendo conduta tipificada, de acordo com algum dos incisos citados acima, podemos verificar o antecedente fático que justifica o nexo de causalidade se houver dano à Administração Pública Direta ou Indireta em decorrência de um ato da pessoa jurídica de direito privado. Trata-se de uma condição imprescindível: a existência do binômio Pessoa Jurídica Privada x Administração Pública Nacional ou Estrangeira para a aplicabilidade da Lei Anticorrupção, caso contrário, estaríamos discutindo questões cuja aplicação normativa diverge do estudo dissertado.
Podemos citar, como exemplo, a conduta realizada por um funcionário público para fraudar licitação pública com o objetivo de favorecer uma empresa terceira. Caso fosse verificado que a empresa terceira (e seus funcionários), em momento algum corroborou com a fraude, e tinha pleno desconhecimento do ocorrido, diante da culpa (em sentido amplo) exclusiva do funcionário e da Administração, estaríamos diante do regime jurídico da Lei de Improbidade Administrativa - Lei 8.429/92, entretanto, o mero auxílio, ou mesmo interesse sobre o sucesso da licitação fraudada por parte do particular, não só abrangeria o regime de improbidade, mas também, o regime da Lei Anticorrupção sobre a pessoa jurídica. 
Vale ressaltar que, apesar de aplicar penalidades administrativas e civis, a Lei da Empresa Limpa não exonera a apuração de sanção segundo o regime jurídico criminal, não configurando bis in idem; trata-se do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), cujo Título XI (Crimes Contra a Administração Pública), em seu Capítulo II – A (Dos Crimes Praticados Por Particular Contra a Administração Pública Estrangeira), demonstra que, somando as sanções administrativas e civis, há claro interesse em coibir, em todas as searas o máximo possível, práticas corruptas ofensivas ao interesse público.
Dano
O dano na órbita civil pode ser material ou moral, analogicamente podemos entender que, para a Administração Pública, o dano moral está para a ofensa aos princípios desta (tais como legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade etc.) ou ofensa aos compromissos internacionais. Podemos entender portanto que:
 “(...) dano em sentido amplo, vem a ser a lesão de qualquer bem jurídico, e aí se inclui o dano moral. Mas, em sentido estrito, dano é, para nós, a lesão do patrimônio; patrimônio é o conjunto das relações jurídicas de uma pessoa, apreciáveis em dinheiro. Aprecia-se o dano tendo em vista a diminuição sofrida no patrimônio. Logo a matéria do dano prende-se à da indenização, de modo que só interessa o estudo do dano indenizável.” [24: GONÇALVES, Carlos Roberto, apud ALVIM, Agostinho, Curso de Direito Civil V. 5. p. 217.]
O dano material, segundo a Lei objeto desta monografia, é a degradação do patrimônio público que pode ocorrer direta (mediante favorecimento indevido em uma contratação cujo contrato está superfaturado, por exemplo) ou indiretamente (desrespeito à forma estabelecida de não conturbar licitação, tornando um processo de contratação moroso, por exemplo). No primeiro caso de degradação do patrimônio ocorre de forma evidente, o dano é o prejuízo financeiro imediato por não contratar com outra empresa, cujos valores estão de acordo com os preços de mercado; já no segundo caso, o dano decorre da inobservância de quesitos legais que viriam a otimizar o processo de contratação, atrasando o procedimento licitatório e eventualmente uma obra ou projeto.
A ofensa aos princípios da Administração Pública ou aos compromissos internacionais é situação evidente de ilicitude. A prática de ato ilícito gera responsabilização, situação fixada no nosso atual Código Civil: “Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará­lo.”. Assim como já comentado, a fixação de responsabilidade em situações de inobservância aos princípios típicos da Administração Pública e dos compromissos internacionais deriva da gênesis desta espécie normativa, além de existir uma tentativa de enquadrar a Lei com maior semelhança às normas internacionais. A reparação do dano é absoluta e, para tanto, a Lei 12.846/13 conduz esforços em todos os sentidos a fim de alcançar tal feito. Pode ser realizado um processo administrativo específico para apuração do dano sofrido pela Administração, não afastandoa responsabilização na esfera judicial e nem exonerando a aplicação de outras sanções previstas, onde, o crédito originado pelo não pagamento das sanções e dos prejuízos gerados será inscrito na dívida ativa da fazenda pública do respectivo ente lesado.
A responsabilização judicial tem por partes legitimadas aquelas apontadas segundo o art. 19 da Lei da Empresa Limpa, onde diz que:
(...) a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por meio das respectivas Advocacias Públicas ou Órgãos de representação judicial, ou equivalentes, e o Ministério Público, poderão ajuizar ação com vistas à aplicação das seguintes sanções às pessoas jurídicas infratoras:
perdimento dos bens, direitos ou valores que representem vantagem ou proveito direta ou indiretamente obtidos da infração, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé;
suspensão ou interdição parcial de suas atividades;
dissolução compulsória da pessoa jurídica;
proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções doações ou empréstimos de órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder público, pelo prazo mínimo de 1 (um) e máximo de 5 (cinco) anos. 
Nexo Causal 
O nexo causal é um dos pressupostos para a configuração da responsabilidade. A necessidade de se vincular a causa e o efeito entre a prática ilícita da pessoa coletiva e o prejuízo sofrido pela Administração pública é a base do início deste item. 
A teoria do nexo causal adotada pelo atual Código Civil, segundo Pablo Stolze, é a teoria desenvolvida pelo Professor Agostinho Alvim, em sua clássica obra “Da Inexecução das Obrigações e suas Consequências”, nas palavras de Pablo Stolze: ”Causa, para esta teoria, seria apenas o antecedente fático que, ligado por um vínculo de necessariedade ao resultado danoso, determinasse este último como uma consequência sua, direta e imediata” (grifei).[25: STOLZE, Pablo, Responsabilidade Civil, vol. 3, p.154.]
Sanções e o Compliance
As sanções por práticas de corrupção são aplicadas em searas diferentes, assim como visto em passagens anteriores, sendo possível o emprego de penalidades concorrentes oriundas de esferas distintas (administrativa, civil e penal), podendo inclusive, no âmbito administrativo, gerar penalidades distintas por órgãos ou autarquias diferentes.
Na esfera administrativa, a aplicação da sanção pela Administração Pública deve ser fundamentada, observando critérios de acordo com particularidades do caso, podendo ser de multa, variando entre 0,1% (um décimo por cento) a 20% (vinte por cento) do faturamento bruto do último exercício anterior ao da instauração do processo administrativo (se possível sua estimação), excetuando-se neste caso os tributos – se não for possível estimar o valor do prejuízo, aplica-se multa entre R$ 6.000,00 (seis mil reais) a R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de reais) -. [26: De acordo com artigo 6º da Lei 12.846/13 e §§1º e 4º.]
Assim como tipificado, e demonstrado no parágrafo acima, cabe ressaltar o alto poderio ofensivo da Administração Pública frente aos particulares, ainda que pautados por princípios maiores. 
Conforme demonstrado acima, analogicamente, esta Lei foi desenvolvida com os parâmetros que fomentaram a responsabilidade objetiva do Estado, ou seja, para este aplica-se a teoria do risco administrativo. Já para as pessoas jurídicas de direito privado a teoria do risco do negócio, já que em decorrência deste, possuem maior facilidade em transacionar com a Administração, assim como citado alhures.
A Lei da Empresa Limpa viabiliza mecanismos específicos para mitigar as penalidades que nela são previstas e, dependendo de uma análise fática, até mesmo demonstrar causas excludentes da responsabilidade.
O acordo de leniência é um dos procedimentos mais conhecidos em decorrência dos conhecidos casos apresentados pela mídia, apesar de ser aplicado na esfera administrativa e não na criminal (surgiu primeiro na esfera criminal), a função deste procedimento visa:
(...)
a identificação dos demais envolvidos na infração, quando couber;
a obtenção de informações e documentos que comprovem a infração noticiada ou sob investigação;
a cooperação da pessoa jurídica com as investigações, em face de sua responsabilidade objetiva; e
 o comprometimento da pessoa jurídica na implementação ou melhoria de mecanismos internos de integridade.[27: Segundo artigo 16, incisos I a IV da Lei 12.846/13.]
Além do acordo de leniência, outro procedimento importante para mitigar as penalidades, inclusive citado no início deste trabalho (Capítulo 2, item 2.1.), é o programa de Compliance , este é amparado pelo Art. 7º, inciso VIII, da Lei objeto deste estudo, onde diz que será analisado para a aplicação de sanção, dentre outros “a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivos à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica; (...)”. [28: Segundo PESTANA, Marcio, Lei Anticorrupção: Exame Sistematizado da Lei n. 12.846/2013: “(...) compliance, consiste na prática, preponderantemente atribuída ao segmento privado, da fiscalização e do respeito e efetivo cumprimento à ética, as valores morais e sociais contemporâneos, às restrições e aos limites fixados em lei, consubstanciando um conjunto de boas práticas exigidas e esperadas das pessoas jurídicas nas inter-relações que, diuturnamente, estabelecem em segmentos econômicos e sociais.”. ]
As boas práticas são mecanismos instrutivos, repreensivos e de controle que, se devidamente empenhados e provados, ora com cursos específicos, ou canais que viabilizem a comunicação de ilícitos, ou, até mesmo, procedimentos que controlem e fiscalizem as condutas dos próprios empregados, servem como um meio de se mitigar as sanções advindas da Lei 12.846 de 2013, e, ainda, alguns defendem a possibilidade de se excluir a responsabilidade. [29: FIGUEIREDO, Rudá Santos, Direito de Intervenção e Lei 12.846/2013: A Adoção do Compliance Como Excludente de Responsabilidade, 2015.]
Conclusão
O presente trabalho teve por cerne demonstrar particularidades da Lei 12.846 de 2013, aflorando novidades normativas de grande relevância para o setor do meio empresarial, público e social, apresentando de forma breve a historicidade da lei, relatando particularidades quanto aos sujeitos, demonstrando os elementos necessários para que haja a responsabilização na modalidade objetiva (ponto central) e apresentando mecanismos mitigadores das penalidades decorrentes dessa responsabilização.
Foi constatado, por meio do teor histórico pesquisado, que a presente Lei, objeto desta monografia, foi elaborada em períodos de crises econômicas e conturbações políticas, em que ambos os segmentos confundiam-se entre si, ora prejudicando a concorrência saudável dentro de uma economia, ora desvirtuando princípios basilares da Administração Pública. 
Em decorrência disso, foram observados os motivos que fomentaram a modalidade de responsabilização aplicada e a importância da definição do sujeito passivo da presente norma, assim como argumentado no item 3.2., a fim de que não haja dubiedade quanto aos sujeitos e prevaleça o real objetivo desta norma, respeitando sua origem e a sua efetiva finalidade jurídica.
Diante o apresentado, foi observado, ainda, que na existência de um antecedente fático que ocorreu por uma conduta de pessoa jurídica de direito privado e por consequência gerou um dano à Administração, trará repercussões diretas e imediatas, passíveis, inclusive, de sanções aplicáveis em searas diferentes com pesos, também, distintos. 
Ainda, é demonstrado neste trabalho de conclusão, de forma superficial, meios de abrandar os efeitos coercitivos da norma, assim como descrito no item 3.3.3., com a efetiva colaboração do sujeito passivo nas demandas e, mediante o desenvolvimento de programas específicos dentro das empresas, a fim de conscientizar, instruir e controlar atos possivelmente típicos deacordo com a Lei Anticorrupção.
Pode-se concluir que a responsabilidade objetiva aplicada na Lei 12.846/13 apresentou ao nosso ordenamento jurídico meios diretos e indiretos de coerção a práticas corruptas, não deixando impune pessoas coletivas, já que, mediante previsão legal, afastou a subjetividade da responsabilização destas em relação ao Estado, justamente para consolidar relações econômicas, políticas e sociais em caráter territorial (minimizando o favorecimento indevido através de atos ilícitos, zelando, inclusive o patrimônio público) e extraterritorial (cumprimento de exigências internacionais), além de influenciar fortemente nas decisões de sócios, diretores e administradores, pois, dependendo da situação, conforme explanado alhures, a desconsideração da personalidade jurídica pode ser aplicada, inclusive. 
REFERÊNCIAS
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______. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm> . Acesso em 05 de agosto de 2016.
______. Lei nº 8.429 de 02 de junho de 1992.Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração publica direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8429.htm>. Acesso em 20 de agosto de 2016.
______. Decreto Lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 20 de agosto de 2016.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 28ª Ed. São Paulo. Atlas. 2015.
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