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Psicologia social II Familia

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psicologia social II
CAPÍTULO 17[2: Trecho do livro Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. Ana M. Bahia Bock e Outros. RJ: Saraiva, 1997. Exclusivo para fins didáticos.]
Família... o que está acontecendo com ela?
Até um tempo atrás - não faz muito tempo! - o modelo de família consistia em pai-mãe-prole.Esse modelo de estrutura familiar era considerado ideal pelo modo dominante de pensar na sociedadee, por isso, bastante usado para classificar todos os outros modos de organização familiar comodesestruturados, desorganizados e problemáticos. Nesta compreensão de família há, sem dúvida, umjulgamento que não é científico, mas moralista, pois utiliza um padrão como referência e considera osoutros inadequados.
Atualmente, é impossível não enxergar - vários estudos antropológicos e mesmo reportagensem revistas, jornais e TV mostram - que existem muitas e inúmeras formas de estrutura familiar: afamília de pais separados que realizam novas uniões das quais resulta uma convivência entre os filhosdos casamentos anteriores de ambos e os novos filhos do casal; a família chefiada por mulher (emtodas as classes sociais), a nuclear, a extensa, a homossexual, enfim, observa-se uma infinidade de tiposque a cultura e os novos padrões de relações humanas vão produzindo. Isso sem considerarmosculturas bastante diferentes, como os grupos indígenas, por exemplo.
Para entendermos as mudanças na concepção de família, a função social desta instituição, recorrer à história.
A família monogâmica é um ponto de partida histórico-sempre precisamos partir de um ponto,- embora devamos considerá-la como produto de muitas e diversificadas formas anteriores de ohomem organizar-se para dar conta da sua reprodução e da sobrevivência da espécie (desde o estadoselvagem até a barbárie). Pesquisas realizadas pelo antropólogo americano L. H. Morgan (1818-1881)demonstraram que, desde a origem da humanidade, houve, sucessivamente:
* a família consangüínea - intercasamento de irmãos e irmãs carnais e colaterais no interior de umgrupo;
* a família punaluana - o casamento de várias irmãs, carnais e colaterais, com os maridos de cadauma das outras; e, os irmãos também se casavam com as esposas de cada um dos irmãos. Isto é, ogrupo de homens era conjuntamente casado com o grupo de mulheres;
* a família sindiásmica ou de casal - o casamento entre casais, mas sem obrigação de moraremjuntos. O casamento existia enquanto ambos desejassem;
* a família patriarcal - o casamento de um só homem com diversas mulheres;
* e, finalmente, a família monogâmica, que se funda sobre o casamento de duas pessoas, comobrigação de coabitação exclusiva... a fidelidade, o controle do homem sobre a esposa e os filhos, agarantia de descendência por consangüinidade e, portanto, a garantia do direito de herança aos filhoslegítimos, isto é, a garantia da propriedade privada. A idéia de propriedade - criar, possuir e regularatravés de direitos legais sua transmissão hereditária - introduz esta forma de organização familiar: énecessário ter certeza sobre a paternidade dos filhos e de que o patrimônio não irá sair da família, ouseja, o reino, as terras, os castelos, os escravos, a fábrica, o banco, as ações da Bolsa etc.
Vamos percebendo, então, que a família, como a conhecemos hoje, não é uma organizaçãonatural nem uma determinação divina. A organização familiar transforma-se no decorrer da história dohomem. A família está inserida na base material da sociedade ou, dito de outro modo, as condiçõeshistóricas e as mudanças sociais determinam a forma como a família irá se organizar para cumprir suafunção social, ou seja, garantir a manutenção da propriedade e do status quo das classes superiores e a
reprodução da força de trabalho - a procriação e a educação do futuro trabalhador - das classessubalternas.
Por assumir papel fundamental na sociedade - é chamada de célula mater da sociedade – a famíliaé forte transmissora de valores ideológicos. A função social atribuída à família é transmitir os valoresque constituem a cultura, as idéias dominantes em determinado momento histórico, isto é, educar asnovas gerações segundo padrões dominantes e hegemônicos de valores e de condutas. Neste sentido,revela-se o caráter conservador e de manutenção social que lhe é atribuído: sua função social.
Não podemos nos esquecer de que a família - lugar reconhecido como de procriação – éresponsável pela sobrevivência física e psíquica das crianças, constituindo-se no primeiro grupo demediação do indivíduo - daquele bebê, que está ali no berço - com a sociedade. É na família queocorrem os primeiros aprendizados dos hábitos e costumes da cultura. Exemplo: o aprendizado dalíngua, marca da identidade cultural e ferramenta imprescindível para que a criança se aproprie domundo à sua volta. É na família que se concretiza, em primeira instância, o exercício dos direitos dacriança e do adolescente: o direito aos cuidados essenciais para seu crescimento e desenvolvimentofísico, psíquico e social.
A família, do ponto de vista do indivíduo e da cultura, é um grupo tão importante que, na suaausência, dizemos que a criança ou o adolescente precisam de uma "família substituta" ou devem serabrigados em uma instituição que cumpra as funções materna e paterna, isto é, as funções de cuidado ede transmissão dos valores e normas culturais - condição para a posterior participação na coletividade.
Portanto, inexistindo a família de origem - consangüínea, biológica -, outro grupo deverá dar conta desua função.
Ao mesmo tempo observamos que estas funções são repartidas com outras agênciassocializadoras: as instituições educacionais - creches, pré-escolas, jardins-de-infância, escolas - e osmeios de comunicação de massa. Em todas as classes, as crianças estão indo cada vezmais cedo para as instituições educacionais. Os motivos são os mais diversos, sendo que um deles deveser ressaltado: a entrada da mulher no mercado de trabalho, quer para garantir a renda familiar, quercomo projeto de vida profissional. E aí estamos de novo diante de uma mudança cultural - no caso, opapel da mulher-, um fator econômico produzindo efeitos no interior da família, na relação mãe-filho ena qualidade deste vínculo.
É interessante perceber como a família vive as interferências do mundo social, de novasrealidades históricas que vão produzindo pessoas diferentes e novas subjetividades.
Outro aspecto relevante a ser observado é o importante papel que os meios de comunicação demassa (particularmente a TV) têm cumprido na educação da criança e do adolescente, os quais estãoexpostos, cada vez mais cedo, às influências destas agências socializadoras. Observe a criança de trêsanos vestida como aquela apresentadora famosa da TV, ou a que pede de presente a roupa do super-herói do momento.
Mesmo que a função socializadora, de formação das novas gerações, não seja delegadaexclusivamente a estas instituições - escola, meios de comunicação de massa - constatamos que, cadavez mais, elas influenciam as novas gerações: no seu modo de ser e estar no mundo, agora e mais tarde.
Apontar estas questões é necessário para que possamos estaratentos - o tempo todo - às múltiplas determinações do humano, do mais íntimo de si, desde onascimento. Facilita, também, compreender por que o homem que nasceu em meados do século 20 epassava os primeiros anos de vida no interior da família, grudado à "barra da saia da mãe", sem ouvirconversas de adulto, com muitos assuntos considerados tabus (doenças, tragédias, sexo), é tão diferentedo que hoje vai para o berçário com 120 dias, está exposto a uma grande variedade de estímulos visuaise auditivos desde que nasce e, precocemente, assiste às telenovelas, "participa" de todas as conversasdomésticas, escolhe a roupa que vai vestir. 
Há uma citação do psicanalista francês Jacques Lacan, em Os Complexos Familiares, que permitesintetizar o que foi colocado até aqui e avançar. Lacan define assim a família: "Entre todos os gruposhumanos, a família desempenha um papel primordial na transmissãode cultura. Se as tradiçõesespirituais, a manutenção dos ritos e doscostumes, a conservação das técnicas e do patrimônio são com ela disputados por outros grupossociais, a família prevalece na primeira educação, na repressão dos instintos, na aquisição da línguaacertadamente chamada de materna. Com isso, ela preside os processos fundamentais dodesenvolvimento psíquico.
Por que Lacan afirma que a família preside os processos fundamentais do desenvolvimentopsíquico da criança? Se considerarmos os três pontos levantados pelo autor - a primeira educação, arepressão do desejo e a aquisição da linguagem - teremos a resposta. 
A PRIMEIRA EDUCAÇÃO
Mesmo antes do nascimento do filho, vemos a preocupação dos pais com a cor de sua roupa. Ejá podemos perguntar por que azul e não rosa para o menino? Outra preocupação refere-se à escolhado nome: do santo de devoção, daquele avô tão querido ou do artista de sucesso?
Antes de nascer, a criança vai ocupando um lugar na família, no cenário social, e o que a esperasão os hábitos da cultura metabolizados pela sua família, já revelados no modo diferente de esperar achegada do menino e da menina. Isto porque às diferenças biológicas são atribuídas representaçõessociais, expectativas de conduta para cada gênero.Tudo parece óbvio. O exemplo mais claro é o da educação em função da diferençaanatômica dos sexos. As crianças encontram nos pais os modelos de como os adultos comportam-se -como atendem ao telefone e às visitas; como se portam à mesa, resolvem conflitos e lidam com a dor;o que pensam sobre os acontecimentos do mundo etc. Os pais são os primeiros modelos de como éser homem e ser mulher: padrões de conduta que, em nossa cultura, são marcadamente diferentes.
Assim, a família reproduz, em seu interior, a cultura que a criança internalizará. É importanteconsiderar aqui o poder que a família e os adultos têm no controle da conduta da criança, pois eladepende deles para sua sobrevivência física e psíquica. Basta lembrar que uma criança de oito mesesdepende de alguém para obter alimentos e que uma criança de três anos depende de alguém para leva-laao médico. A criança necessita, também, das ligações afetivas estabelecidas com seus cuidadores e asquais ela não quer (não pode!) perder. O medo de perder o amor (e os cuidados) desses adultos que lhesão tão importantes é um poderoso controlador de sua conduta e ela, pela "vigésima" vez, recita para ovizinho aquela poesia que tanto a aborrece, mas faz a alegria do pai no exercício de exibição dos dotesdo seu filho.
A importância da primeira educação é tão grande na formação da pessoa que podemoscompará-la ao alicerce da construção de uma casa. Depois, ao longo da sua vida, virão novasexperiências que continuarão a construir a casa/indivíduo, relativizando o poder da família. 
A REPRESSÃO DO DESEJO
Ao nascer, a criança encontra-se numa fase de indiferenciação com o mundo - não existemundo externo (o outro) nem interno (o eu). O mundo, neste momento da vida, significa a mãe. Esta éa díade fundamental que cada pessoa vivencia ao nascer. A marca desta relação é a fusão, isto é, nãoexiste, para quem acabou de nascer, o eu e o outro (o mundo). Esta diferenciação vai se estabelecendopaulatinamente, e uma experiência importante desse desenvolvimento é o tempo (cronológico) que acriança espera para a satisfação de suas necessidades. Ela começa a registrar que há um desconforto- afome, por exemplo - e que este estado não é automaticamente superado; a criança precisa esperar quealgo aconteça: o seio ou a mamadeira deve chegar... e, para isso, depende de alguém - a mãe ou suasubstituta nesta função.
A diferenciação do ego - magistralmente descrita por Freud em A Psicologia de massa e a análise doego - é um processo em que, ao princípio do prazer (que rege o funcionamento psíquico), interpola-se oprincípio da realidade, isto é, surgem os limites impostos pela realidade. Assim, a satisfação, para serobtida, deve ser postergada (esperar) e, às vezes, substituída por outro objeto de satisfação (ao invés dobico do seio, aparece umachupeta... que estranho.!) ou (com freqüência) ocorrem as primeiras vivências de frustração, de nãosatisfação.
A frustração marca a experiência humana desde o nascimento e é algo constitutivo dahumanidade de todos nós. Ao lado desse aspecto intrínseco à constituição psíquica, existe outro quevai construindo a subjetividade da criança e é fundante da vida psíquica: a interdição - lei social que seancora na subjetividade ao marcar a repressão do desejo, seja dos impulsos agressivos, seja dosimpulsos eróticos.Em nossa cultura, o tabu do incesto é um exemplo clássico desta marca da repressão. O filhonão pode ter relações sexuais com a mãe, nem a filha com o pai, embora mãe e pai sejam seusprimeiros objetos de amor erótico (segundo a Psicanálise, é claro!). Este desejo é inconsciente e arepressão coloca sua marca neste inconsciente; "é como se nada houvesse existido". No jogo da vidafamiliar, a criança irá incorporando outras proibições relativas à obtenção do prazer e à expressão deseus sentimentos hostis.
"Tira a mão daí, é feio!" é uma frase que muitas crianças ouvem quando estão se masturbando;ou esta outra: "Não pode bater no amiguinho, tem que conversar".
A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEMque significam as coisas, os objetos, as situações - e nele interfira. Isso é o que realiza a dimensãohumana e social de cada pessoa. A linguagem é uma ferramenta necessária e imprescindível para a trocae comunicação com o mundo e, também, para a relação consigo mesma. Através da linguagem, acriança nomeia seus afetos e desejos, troca-os com o outro e os compreende, dando sentido ao queocorre dentro de si.
Na fase anterior à aquisição da linguagem, os impulsos estão livres e o inconsciente prepondera.É no contato com a realidade - que se dá, principalmente, através da linguagem - e pela compreensãodos mecanismos que a regulam que a criança vai discriminando o seu desejo e o que é ou nãopermitido satisfazer. A linguagem é o instrumento privilegiado que possibilita a compreensão dessarealidade. A família, como primeiro grupo de pertencimento do indivíduo, é, por excelência, em nossasociedade, o espaço em que este aprendizado ocorre, embora possa ocorrer também em qualquergrupo humano do qual participe em seus primeiros anos de vida.
OUTRAS CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES SOBRE A FAMÍLIA
1. Pedro volta e meia briga feio com Francisco. Até já chegou a dar uns tapas nele. Hoje, Pedrobrigou na escola com Tiago porque este tirava um "sarro" de Francisco, numa rodinha de amigos. Quala relação de parentesco entre Pedro e Francisco? Não há dúvida.., são irmãos. Uma relação de amor,rivalidade, cuidado, hostilidade. Uma relação humana rica, cheia de ambivalência, multifacetada; comdesvantagens - dividir o amor dos pais, a atenção deles, o quarto, as roupas - e muitas vantagens – apossibilidade de companheirismo, de solidariedade, de cumplicidade e, principalmente (a vantageminvisível), de vivenciar, no cotidiano, a aprendizagem das relações sociais com iguais, algoextremamente facilitador como treino de participação social nos mais diferentes grupos humanos. Estevínculo significativo é a característica da ambivalência - a existência do amor e do ódio -denunciam oque é próprio de todo o vínculo em que existe proximidade, intimidade: a possibilidade de expressar oamor e, também, a raiva. Em suma, a garantia de que não perderá o amor e de que este prevalecerásobre a raiva permite a expressão da hostilidade. Estas expressões de raiva e amor são reguladas pelospais. Há um limite para as brigas, ofensas e agressões físicas. Neste limite, constatamos como essarelação é um modelo de conduta de cada indivíduo em outras relações entre iguais ao longo da vida.
2. O vínculo, em seus aspectos biológico (o cordão umbilical), social (o grupo familiar e suasresponsabilidades, inclusive legais) e afetivo (o acolhimento) é condição para o crescimento edesenvolvimento global da criança. Não há possibilidade de sobrevivência física e psíquica no desamor.Asdoenças mentais e mesmo as físicas, em crianças pequenas, denunciam a fragilidade de vínculosfamiliares, a dificuldade dos adultos em criar um ambiente estável e seguro - isto é, amoroso -, anegligência, os maus-tratos. Abordar a importância deste elo de ligação, o vínculo, é dizer que sempreexiste ou deve existir um outro significativo que lhe assegura as condições de vida, de crescimento edesenvolvimento (senão a criança adoece, morre). Nesta perspectiva, é necessário dizer que o vínculotem mão dupla para ser significativo, ou seja, a criança também é importante para os pais, muda suasvidas, ocupa-os. Aliás, por serem as crianças e os adolescentes importantes para os pais é que estestornam-se importantes para eles.
Dois exemplos de situações bastante delicadas que demonstram esta ligação dos pais com seusfilhos: no primeiro, os pais exibem o filho ou aspectos dele como se fossem seus; no segundo,projetam no filho a possibilidade de estes realizarem sonhos e projetos pessoais que não conseguiramrealizar em suas próprias vidas.
3. A família, como lugar de proteção e cuidados, é, em muitos casos, um mito. Muitas crianças eadolescentes sofrem ali suas primeiras experiências de violência: a negligência, os maus-tratos, aviolência psicológica, a agressão física, o abuso sexual. As pesquisas demonstram que, no interior dafamília, a principal vítima da violência física é o menino e, do abuso sexual, a menina. O pai biológico constitui-se no principal agressor.O fenômeno da violência doméstica é, infelizmente, universal - atinge países ricos e pobres – epode ser observado em todas as classes sociais - não ocorre exclusivamente nas famílias pobres. Aviolência doméstica não é um fenômeno atual, embora sua intensificação e divulgação pelos meios decomunicação a transformem em algo dramático e que tem chamado a atenção de muitas instituições ede autoridades da área da família, da infância e adolescência.
No Brasil, um exemplo do aspecto histórico do fenômeno é o relato colhido por pesquisadoresem documentos dos séculos 18 e 19 sobre a vitimação de crianças escravas.Outro dado muito importante, comprovado por pesquisas nacionais e internacionais, é que90% dos agressores foram vítimas de algum tipo de violência na infância ou adolescência. Istodemonstra a necessidade do tratamento psicológico das crianças e dos adolescentes vítimas deviolência, fazendo-se necessário também interromper este ciclo de violência que, em muitos casos, éencoberto pelo segredo familiar ao longo de várias gerações.
4. O direito a ter uma família e a importância dela para a criança estão colocados no artigo 6 daDeclaração dos Direitos da Criança (20/11/1959), da qual o Brasil é signatário.
Princípio 6º
Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, a criança precisa deamor e compreensão. Criar-se-á, sempre que possível, aos cuidados e sob a responsabilidade dos pais e,em qualquer hipótese, num ambiente de afeto e de segurança moral e material; salvo circunstânciasexcepcionais, a criança de tenra idade não será apartada da mãe. À sociedade e às autoridades públicascaberá a obrigação de propiciar cuidados especiais às crianças sem família e àquelas que carecem demeios adequados de subsistência. É desejável a prestação de ajuda oficial e de outra natureza em prolda manutenção dos filhos de famílias numerosas.
No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - Lei 8.069, de 13/7/1990, que regula osdireitos da criança e do adolescente - coloca, no CAPÍTULO 3- "Do Direito à Convivência Familiar eComunitária" -, artigo 19: "Toda criança, ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio desua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária,em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes".
Esta lei de proteção dos direitos da criança e do adolescente é considerada uma das maisavançadas do mundo. Sua importância reside em vários aspectos. A lei garante, por exemplo, a igualdade de direitos aos filhos próprios da relaçãodo casamento e aos filhos adotivos (isto é, proíbe qualquer discriminação). Além disso, afirma que o"pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe...". A novidade aí é ainclusão da mãe.
Neste sentido, esta lei acaba incorporando, na ordem jurídica, as mudanças culturais e históricasque vão se processando na sociedade e repercutem na família. Portanto, a família monogâmicaapresenta-se diferente hoje. E, mais, coexiste com outros modos de organização familiar em que, comofoi sinalizado no parágrafo anterior, a mãe pode ser considerada chefe da família. Assim, o modelo defamília pai-mãe-prole torna-se um entre vários modelos possíveis de estrutura e organização deste
grupo humano.
UMA ÚLTIMA OBSERVAÇÃO
Além dos aspectos abordados aqui, poder-se-ia levantar vários outros considerando aimportância desta instituição, a complexidade e riqueza dos processos sociais e psicológicos que nela seprocessam e, principalmente, o fato de as famílias apresentarem muitas semelhanças e também muitas,muitas diferenças em sua dinâmica interna.
Questões:
1. Atualmente, como se caracteriza o modelo tradicional de família e as diferentes formas de estruturafamiliar?
2. Do ponto de vista histórico, quais são as diferentes formas de estrutura e organização familiar?
3. Caracterize o família monogâmica.
4. Como o contexto socioeconômico e cultural produz efeitos sobre a família?
5. Quais as funções da família?
6. Quais instituições cumprem ou compartilham a função da família? Como isso ocorre?
7. Explique a conceituação de família de Jacques Lacan.
8. Como se caracteriza a relação entre irmãos e qual a sua importância?
9. Caracterize vínculo e explique sua importância na família.
10. A família é sempre um lugar de proteção e cuidado? Quais avanços o estatuto da Criança e doadolescente garante nesta área?

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