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A educação intercultural

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A educação intercultural, no contexto das lutas sociais contra os processos crescentes de exclusão social inerentes à globalização econômica, propõe o desenvolvimento de estratégicas que promovam a construção de identidades particulares e o reconhecimento das diferenças ao mesmo tempo que sustentem a inter-relação crítica e solidária entre diferentes grupos.
Pertencer a um grupo significa compartilhar elementos comuns com outros membros e diferenciar-se em relação a outros grupos. Daí resulta o duplo significado da pertença para o indivíduo. Do ponto de vista da semelhança, a pertença é um pressuposto para a identificação do indivíduo. Ou seja, a afinidade que o indivíduo sente em relação a outros o leva a perceber-se como incluído em um contexto grupal, sendo impelido a utilizar o sujeito ‘nós’ no lugar do ‘eu’. Já do ponto de vista da diferença, a pertença torna-se critério de identidade do indivíduo.
“identidade significa a capacidade de estabelecer uma diferença observável entre si e o outro, de se diferenciar em relação ao mundo e de manter no decorrer do tempo a consciência de tal diferença” (Gallino, 1982, p.145). Assim, semelhança e diferença são duas dimensões do conceito de pertença, que inclui, por um lado, o processo de identificação do indivíduo pelas suas afinidades com um grupo e,por outro lado, a afirmação de sua identidade, pela evidenciação das suas diferenças em relação aos outros.
Diferentes culturas jovens/nativos digitais/universitários - idosos/ excluídos digitais/ baixo letramento
Para falar sobre o trabalho desenvolvido pela equipe de pesquisa junto aos idosos, é correto apropriar-se do conceito de interculturalidade defendido por Fleury que define a relação intercultural como uma situação em que pessoas de culturas diferentes interagem. Existe aqui a ênfase na relação intencional entre sujeitos de diferentes culturas. O que pressupõe opções e ações deliberadas, particularmente no campo da educação. 
Interculturalidade é quando consideramos não apenas o processo histórico de coexistência entre diferentes culturas, mas também a proposta de mudança e de projetualidade. Isso ocorre por produzir confrontos entre visões de mundos diferentes, Nanni, 1998, p.30)
A interação com uma cultura diferente contribui para que uma pessoa ou um grupo modifique o seu horizonte de compreensão da realidade, uma vez que lhe possibilita entender ou assumir pontos de vista ou lógicas diferentes de interpretação da realidade ou de relação social. É baseada, portanto, na interação de sujeitos. Isto significa troca e reciprocidade entre pessoas vivas, com rostos e nomes próprios, reconhecendo seus direitos e sua dignidade. É uma relação entre identidades, construída a partir das diferenças e da intencionalidade da relação.
“A educação intercultural se configura como uma pedagogia do encontro até suas últimas consequências, visando promover uma experiência profunda e complexa, em que o encontro/confronto de narrações diferentes configura uma ocasião de crescimento para o sujeito, uma experiência não superficial e incomum de conflito/acolhimento.(...) o que constitui uma particular oportunidade de crescimento da cultura pessoal de cada um, assim como de mudança das relações sociais, na perspectiva de mudar tudo aquilo que impede a construção de uma sociedade mais livre, mais justa e mais solidária.” Fleury, 1999, p.280
	A educação intercultural pode ser definida como um processo multidimensional, de interação entre sujeitos de identidades culturais diferentes. Estes, por meio do encontro intercultural, vivem uma experiência profunda e complexa de conflito/acolhimento. É uma oportunidade de crescimento da cultura pessoal de cada um, favorecendo a consciência de si e reforçando a própria identidade. Estereótipos e preconceitos, legitimadores de relações de sujeição ou exclusão, são desconstruídos à medida que sujeitos diferentes se reonhecem a partir de seus contextos,de suas histórias e suas opções. A perspectiva intercultural de educação implica mudanças profundas na prática educativa para que deem conta da complexidade das relações entre indivíduos e culturas diferentes e, também, pela necessidade de reinventar o papel e o processo de formação dos educadores. 
Fleuri, Reinaldo Matias. Educação intercultural no Brasil: a perspectiva epistemológica da complexidade. Revista Brasileira de Estudos Pedgógicos. Brasilia, v.80,n.195, p.227-289, maio/ago,1999.
Reforça-se o papel do professor como pesquisador constante de sua prática,construindo,no seu cotidiano,perspectivas interculturais que resultem em discursos alternativos, que valorizem as identidades, desafiem a construção dos estereótipos e recusem-se a congelar o ‘outro’. 
Canen, Ana. O multiculturalismo e seus dilemas: implicações na educação. Comunicação&política, v.25, nº2, p.091-107. 2007
https://www.researchgate.net/profile/Ana_Canen/publication/237591283_O_multiculturalismo_e_seus_dilemas_implicacoes_na_educacao/links/54e7787e0cf277664ffab005.pdf
acesso em 22/08/2015
Identidade
Woodward, k. Identidade e diferença:uma introdução teórica e conceitual. In: Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais/ Tomaz Tadeu da Silva (org). (. Ed – Petrópolis, RJ: Vozes 2009
Woodward cita Mary Douglas: 
“separar,purificar, demarcar e punir transgressões têm como sua principal função impor algum tipo de sistema a uma experiência inerentemente desordenada.É apenas exagerando a diferença entre o que está dentro e o que está fora, acima e abaixo, homem e mulher, a favor e contra, que se cria a aparência de alguma ordem” (Douglas, apud Woodward, 2009, p.46)
Isso sugere que a ordem socialé mantida por meio de oposições binárias, tais como a divisão entre “locais” e “forasteiros”. A produção de categorias pelas quais os indivíduos que transgridem são relegados ao status de “forasteiros”, de acordo com o sistema social vigente, garante certo controle social.
Os termos “identidade” e subjetividade são,as vezes,utilizados de forma intercambiável. Existe na verdade uma considerável sobreposição sobre os dois. Subjetividade sugere a compreensão que temos sobre o nosso eu. O termo envolve os pensamentos e as emoções conscientes e inconscientes que constituem nossas concepções sobre “quem nós somos”. Entretanto, nós vivemos nossa subjetividade em um contexto social no qual a linguagem e a cultura dão significado à experiência que temos de nós mesmos e no qual nós adotamos uma identidade. As posições que assumem a si próprios e com as quais nos identificamos constituem a identidade.
A problematização sobre as questões de identidade abre espaço para o autoconhecimento e também conseguinte respeito ao outro (o diferente) e a acetação da diferença. Nesse contexto, trabalhar a subjetividade do indivíduo nesse processo de reconstrução promove a percepção da sua subjetividade, e só por meio disso o profissional pode reconhecer e saber abordar a subjetividade do outro
A afirmação da identidade e a marcação da diferença implicam,sempre, as operações de incluir e excluir (p.82) SILVA,Tomaz Tadeu. A produção social da identidade e da diferença, 2009. In: identidade e diferença...
Estuda-se identidade para que haja desconstruções de padrões hegemônicos essencialistas. No binarismo há sempre uma relação de poder que implica em exclusão. Uma atitude atenta do professor para sua prática discursiva não refletir uma política de exclusão e sair do binarismo.
Conceito de identidade defendido por Hall (2009) “as identidades não são nunca unificadas;que elas são, na modernidade tardia, cada vez mais fragmentadas e fraturadas;que elas não são singulares,mas multiplamente construídas ao longo de discursos, práticas e posições que podem se cruzar ou ser antagônicos. As identidades estão sujeitas a uma historização radical, estando constantemente em processo de mudança e transformação”. P.108
HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: A produção social...
IDENTIDADE NA VELHICE
VANESSA ALEXANDRA MARQUES FARINHA IDENTIDADE NA VELHICE:-Um Jogo de Espelhos -Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Lisboa, 2013
http://recil.grupolusofona.pt/bitstream/handle/10437/5014/TESE%20IDENTIDADE%20NA%20VELHICE%20-%20UM%20JOGO%20DE%20ESPELHOS.pdf?sequence=1
Cada indivíduo é o espelho da sociedade que o rodeia. Neste jogo de espelhos o idoso tem uma percepção em relação a si próprio através do seu reflexo, e ao mesmo tempo outra percepção através do seu reflexo no espelho de acordo com o que os outros pensam sobre si. Trata-se portanto de um jogo de espelhos por vezes côncavos ou convexos sobre a mesma imagem, consoante os diferentes pontos de observação.
É inquestionável a importância e o contributo das pessoas mais velhas na sociedade portuguesa, na perspectiva mais economicista de consumidores, como, na perspectiva da intergeracionalidade, de apoio e suporte às gerações mais jovens, quer ainda enquanto "património imaterial"[1]. A "combinação perfeita entre o velho e o novo", aplicada à população de faixas etárias diferenciadas de modo a que ambas as partes possam partilhar aprendizagens fruto das diferentes épocas, é uma riqueza que a longevidade veio permitir. 
No que respeita aos idosos, a experiência de vida e a sabedoria suporte da transmissão de conhecimentos, é complementada pela inovação audácia, inconformismo e mesmo irreverência dos mais jovens. Esta condição permite a este grupo a actualização permanente de conhecimentos e o domínio das novas tecnologias de comunicação e informação, das quais os mais velhos estão em regra afastados. É de salientar que esta preocupação é cada vez mais visível através de diversos programas e projectos sociais existentes em instituições de apoio a pessoas idosas, sendo uma referência nos Inválidos do Comércio.  
Pensar na velhice é proceder a uma viagem no tempo, através de um caminho percorrido com experiências e momentos vividos. É o abrir um livro, onde constam histórias, histórias de vida de gentes iguais a muitas outras, mas que não deixam de ser únicas e individuais. Estas vivências reflectem-se naquilo que cada pessoa é, na sua identidade. 
No decorrer do tempo somos confrontados com conquistas e derrotas que nos permitem encontrar estratégias de adaptação e igualmente enfrentar as adversidades do dia-a-dia. Por vezes as racionalidades leigas referem que a pessoa idosa torna-se novamente criança, esquecendo-se do percurso e da história de vida do idoso que transporta a experiência de uma longa vida. O idoso é o acumular da sua infância, adolescência e fase adulta. Mantendo traços identitários originais, a identidade vai-se reconstruindo e reorganizando em função de novos contextos pessoais e sociais. Neste sentido, os idosos de hoje não serão os mesmos de amanhã, nas suas diversas características e interesses pessoais. Como tal, para irmos ao encontro da individualidade da pessoa idosa e das suas necessidades é necessário, antes de mais, de as conhecer e dos próprios se darem a conhecer. 
no decorrer do processo de desenvolvimento o indivíduo procura a (re)construção da sua identidade, sendo que este processo reflexivo é contínuo, acompanhando os acontecimentos da vida de um determinado indivíduo, é mais profundo e penetrante em determinadas ocasiões da vida do ser humano. Giddens (1997) refere que para este processo reflexivo ser mais eficaz torna-se pertinente "escrever um diário e trabalhar numa autobiografia (...) para a manutenção de um sentido integrado de self" (p. 71).
 Existem ainda poucos estudos que se direccionem ao significado que os idosos atribuem ao envelhecimento e ao modo como estes vivenciam esta etapa da vida humana. Contudo, importa termos presente que o “pensamento elaborado pelos idosos sobre como eles se sentem diante da velhice e da doença poderá variar de acordo com o grupo cultural ao qual estão inseridos” (Santos, 2002:5). Neste sentido, o significado do processo de envelhecimento para as pessoas idosas, varia de acordo com o contexto e a cultura onde estes estão inseridos. Uma vez que a pessoa idosa faz parte da sociedade, e estando a vivenciar a última etapa da vida humana, sendo que por esse motivo se encontra mais vulnerável por atravessar um processo que acarreta grandes alterações a nível individual e na própria sociedade (perda do papel social11), é importante que nesta fase da vida o idoso mantenha e reforce a sua identidade, quer pessoal, quer social. A (re)negociação da identidade entre as pessoas mais idosas é mais evidente na medida em que o próprio idoso tem de responder aos desafios que a sociedade actual lhe coloca, de forma a ter um papel mais activo e participativo, contrariando alguns estereótipos, nomeadamente o olhar sobre a pessoa idosa como incapaz, sedentário, inválido, entre outros. É, igualmente, nesta (re)negociação da identidade que a pessoa idosa reformula as suas aspirações e projectos de vida adaptando-se às suas necessidades. Herédia & Casara (2002 cit. in Areosa, 2004) consideram que “a velhice não pode ser associada apenas com as perdas, mas também com ganhos, como a maturidade, experiência, sabedoria, liberdade de escolha, entre outros” (p. 9)

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