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BOURDIEU

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO E INSTITUIÇÕES DO SISTEMA DE JUSTIÇA-PPGDIR
DISCIPLINA DE METODOLOGIA DA PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS 
*Ana Flávia Américo Barbosa[1: Aluna do mestrado em Direito e Instituições do Sistema de Justiça- PPGDIR/UFMA, matrícula 2017107795. ]
RESENHA CRÍTICA DOS CAPÍTULOS I, II E VIII DO LIVRO “O PODER SIMBÓLICO” DE PIERRE BOURDIEU
No primeiro capítulo do livro, Bourdieu trata propriamente da definição desse fenômeno que é o poder simbólico, aquele que vive e se mantém no silêncio e pela concordância silenciosa (cumplicidade) de seus membros que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem. (p.07-08).
Assim, este poder que o autor define em vários momentos como “quase mágico”, toma forma através de elementos estruturantes de estruturados. São elementos estruturantes porque estão na base do seu funcionamento e são estruturados porque podem ser analisados em suas realidades próprias de existência (p.14). 
Interessante também a relação entre o poder simbólico como instrumento de dominação. A classe dominante impõe seus valores através do simbólico e com isso desmobiliza a classe dominada que deveria estar em busca da sua afirmação. A divisão do trabalho, ou hierarquia na estrutura do poder simbólico é outro ponto muito importante, pois ela permite identificar por meio da comparação, em que nível está cada indivíduo em relação à cultura dominante. 
A produção ideológica legítima é também parte dessa dominação pelo simbólico. Só é legítimo aquilo que passa por uma hierarquia, aquilo que respeita a divisão do trabalho no capital simbólico. Assim é com a religião, assim também é no social com o Direito, como ele elenca no capítulo VIII.
No capítulo II, Bourdieu nos mostra como fazer uma sociologia que se quer eflexiva, ou seja, uma ciência que pensa sobre os métodos a serem utilizados, a forma de proceder, de acordo inclusive com regras de comportamento não enunciadas, como o habitus, que pode ser assim definido:
 “O habitus científico é uma regra feita homem ou, melhor, um modus operandi científico que funciona em estado prático segundo as normas da ciência sem ter estas normas na sua origem: é esta espécie de sentido do jogo científico que faz com que se faça o que é preciso fazer no momento próprio, sem ter havido necessidade de tematizar o que havia de fazer e menos ainda a regra que permite gerar a conduta adequada.” (p.23) 
Assim, o capítulo seguinte traz mais especificado o que é esta noção de habitus e a sua relação com o campo. Ainda no capítulo II, podemos enxergar que o estudo do poder como estabelecido não em um sujeito, mas nas relações de poder, que estruturalmente se caracterizam em classes de dominantes de dominados. (p.28-29)
Então, a sociologia reflexiva teria como instrumentos a observação participante, a análise empírica dos dados (evidence), para tanto utilizando-se da técnica de “ quadro dos caracteres pertinentes de um conjunto de agentes ou de instituições”, que consiste basicamente em elencar características de grupos lado a lado e depois tirar as que são comuns e as que são únicas, estas últimas sendo o que faz daquele um campo próprio de estudo. O autor faz também um alerta sobre o objeto pré-constituído, aquele no qual temos um interesse mas não sabemos ainda qual é e devemos romper com o senso comum (a dúvida radical) e com nossos julgamentos iniciais se quisermos analisa-lo na busca da verdade. Os métodos que ele descreve para esta busca são o indutivo e o comparativo. Buscar a historicidade é outra forma de fugir do senso comum, aproximando-se aqui da tradição marxista. 
No capítulo VIII, quando ele trata de uma proposta de sociologia para o campo do Direito, temos os conceitos do poder simbólico aplicados ao campo jurídico. Aquelas bases do seu método proposto, especialmente aquela que diz respeito à historicidade das relações que formam exogenamente o campo em comento, são explicitadas. Assim, o jogo no campo jurídico processar-se-ia entre o oficial e o profano na busca pelo monopólio de dizer o direito, mas também de forma interna entre os juízes (mais conservadores e advindos da tradição dos seus pares e dos doutrinadores) e os advogados, formados na praxe, ou como ele mesmo diz, na “tarimba” informal mas igualmente existente enquanto habitus. A divisão do trabalho aqui no campo jurídico é feita de tal forma que, embora o embate seja parte do jogo, ele não chega a possuir uma lógica de rompimento, senão de legitimação e continuidade em relação as sujeitos externos (clientes). O Direito é então um campo, pois tem suas características próprias enquanto sistema e para ingresso possui o seu ensino especifico a fim de tornar alguém um intérprete autorizado. Além disso suas interpretações possuem um duplo caráter: o neutralizante e o universalizante. Então além do monopólio da interpretação e operacionalização, ele opera o poder simbólico quando lhe imprime uma forma determinada (a oficial), que vem da sua autoridade mítica enquanto instituição e somente se sustenta até o rompimento com essa autoridade através de pressões sociais. Assim, cabe à Sociologia Jurídica promover a reconciliação entre o Direito enquanto prática e o seu caráter científico e histórico.

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