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5 um estudo da paternidade

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Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2002, 3(1): 74-100 
Um estudo da paternidade: aproximação entre a 
abordagem fenomenológica existencial e a 
abordagem relacional sistêmica 
Marcia Zalcman Setton, Patrícia Pazinato 
 
Resumo: Este trabalho discute uma aproximação entre a Abordagem 
Relacional Sistêmica e a Abordagem Fenomenológica Existencial, 
através de similaridades que possam ser encontradas entre estes 
aportes teóricos. Reflete a respeito de um enriquecimento do trabalho 
do terapeuta. Adotou-se como objeto de estudo a expressão da 
paternidade, no atendimento de uma família formada por pai, mãe, e 
três crianças. Através deste trabalho, pôde-se observar que a 
reflexão a respeito das aproximações entre as duas teorias é 
pertinente, sem a intenção de unificar as duas abordagens, mas no 
sentido de que, respeitando-se as características e limitações de cada 
teoria, elas podem enriquecer a compreensão dos casos clínicos, e 
aprofundar o trabalho do profissional, tanto no seu fazer terapêutico 
quanto no seu ser terapêutico. 
Palavras-chave: paternidade; relação; comunicação; 
fenomenologia; existencialismo; abordagem sistêmica. 
 
A study of paternity: approximations of the phenomenological 
existential approach to the relational systemic approach 
 
Abstract: The present article is an attempt to bring together the 
relational systemic and the phenomenological existential approaches 
and to find out the similarities between this two theories. The aim 
was to enrich the therapist practice. The subject chosen was a family 
in therapy in which the expression of paternity was examined. The 
members of the family were a father, a mother and 3 children. The 
results show that the reflection relating the two theories is 
Um estudo da paternidade 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2002, 3(1): 74-100 
 
75 
convenient. It’s important to state clearly that there was no intention 
of unifying them. Preserving each one’s characteristics and limitations 
both approaches can enrich and enlarge the comprehension of clinic 
cases and may also deepen the therapist practice not even in his 
acting as a therapist but also in his being a therapist. 
Keywords: paternity; relationship; communication;fenomenology; 
existencialism; systems approach. 
 
Introdução 
A noção de Paternidade compreende diversos aspectos, entre 
eles ter autoridade, estabelecer limites, transmitir afeto, ser um 
modelo de masculinidade, ser um modelo de relacionamento de 
casal, mostrar caminhos para a vida, indicar possibilidades de 
crescimento, ser um agente de diferenciação entre mãe e filho, que 
funcionam como um modelo para relações saudáveis pela vida. Esses 
são conceitos que se escuta muito e que parecem pertencer a um 
“ideal” de pai. Como isto se diferencia de “estar em presença” de pai. 
Descobrir infinitas possibilidades de ser pai, todas elas funcionais e 
operativas, parece ser desafio suficiente para um trabalho bastante 
extenso. 
Pode-se compreender o pai dentro do contexto de uma 
determinada família, o que implica em ter uma visão sistêmica. 
Implica em olhar para os relacionamentos que se constroem destro 
deste sistema familiar, não apenas para os seus indivíduos, com suas 
demandas pessoais intrapsíquicas. Se falarmos da paternidade a 
partir deste referencial, estaremos falando de fronteiras, limites, 
relacionamentos, pois um pai só existe em função da existência do 
filho. São papéis mutuamente constitutivos. Da mesma forma, o 
papel do pai não se constitui sem a existência de uma mãe. 
Por outro lado, se pensarmos um pouco no existencialismo de 
Heidegger (apud Abbagnano, 2000), com o seu conceito de “ser-no-
mundo” podemos perceber que tudo aquilo que apreendemos, ou 
Marcia Zalcman Setton, Patrícia Pazinato 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2002, 3(1): 74-100 
 
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como agimos está sempre relacionado com a presença do outro, o 
que faz com que cada relação seja única. 
Para se compreender melhor algumas semelhanças entre as 
duas teorias, procurou-se observar algumas características da 
postura terapêutica em cada abordagem. 
 
Uma abordagem sistêmica 
No início da investigação sobre comunicação humana, Bateson 
(apud Bebchuk, 1994) percebeu que não há contrário nas interações 
(não existe uma não-interação) e que, portanto, não é possível a 
alguém não comunicar. Esta comunicação pode ser de confirmação 
(na qual uma pessoa confirma a existência, as habilidades e 
capacidades de outra), de rejeição (quando a existência do 
interlocutor é percebida e admitida, mas sua proposta relacional é 
rejeitada), ou de desconfirmação ou desqualificação (quando o 
emissor recebe uma resposta que não deixa claro se sua mensagem 
foi recebida ou não, se foi entendida ou não – assim sua existência 
não é confirmada, pois sua realidade e a autoria de sua mensagem 
não é reconhecida). A comunicação pode ser considerada como um 
fator estruturante dentro da organização familiar. Ao continuar os 
estudos sobre comunicação, esta começou a ser vista também como 
uma construção que modela o relacionamento na família. 
Segundo Maturana (apud Bebchuk, 1994), não é o que alguém 
diz, mas a emoção sob a qual a pessoa fala, que define o dizer como 
uma ação. Um escutar que aceita o outro, ou um escutar que o 
rejeita ou desqualifica, levam a significados diferentes, definindo 
ações diferentes ao escutar. Os significados que se formam são 
coerentes com o estado emocional de quem participa da conversação. 
Desta forma, as ações na linguagem estão totalmente entrelaçadas 
com as emoções que as sustentam. Quando muda a emoção, muda 
também a escolha por determinada ação. Portanto, o fundamento de 
nosso agir é emocional, ou seja, não há ação sem um desejo ou 
Um estudo da paternidade 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2002, 3(1): 74-100 
 
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emoção que o faça possível. Mesmo quando a ação está revestida de 
racionalidade, há um desejo por trás desta, que a sustenta. 
O pensar também se fundamenta no emocional. A emoção da 
aceitação ou rejeição do outro predispõem reflexões e discursos 
diferentes. Nós, seres humanos, existimos na linguagem. Não 
podemos sair dela, nem transcendê-la. Ela atua na coordenação dos 
comportamentos, ações e emoções. É um processo contínuo, 
recursivo e consensual, no qual o falar de uma pessoa afeta o seu 
interlocutor e vice versa, nas suas ações, em sua corporalidade e em 
suas emoções. Devido ao entrelaçamento consensual de emoção e 
linguagem, a conversação determina o fluxo de emoções, sendo 
modulada de forma recíproca. 
Na psicoterapia, a emoção e a linguagem também são 
determinantes. Se a pessoa que busca o atendimento encontra uma 
emoção de aceitação e legitimidade de suas próprias histórias, ela 
tem espaço para ser ela mesma, para se observar e para refletir. Esta 
aceitação tem por base um escutar com curiosidade, interesse e 
respeito pelo relato do outro, mesmo se este relato não parecer o 
mais conveniente para o momento. Não há uma diferença hierárquica 
entre o paciente e o terapeuta. Não há um “doente” a ser “curado”, 
mas situações de sofrimento humano, originadas pelas dificuldades 
de relacionamento com os outros, pela carência de espaço para que a 
própria identidade seja reconhecida e propicie encontros harmônicos 
com os outros. 
As histórias têm sentido como relatos de uma experiência 
subjetiva, dentro de um contexto específico. Todos os pontos de vista 
passam a ser úteis e necessários, pois contém algum significado, que 
está presente na conversação. É um exercício de escutar o outro, 
apenas escutando, semplanejar o próximo passo, sem formular 
hipóteses ou interpretações. É uma forma de estar presente no 
diálogo. É procurar entender o interlocutor a partir de seus próprios 
valores, códigos e padrões. “Escutar então, significa abrir-se ao 
Marcia Zalcman Setton, Patrícia Pazinato 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2002, 3(1): 74-100 
 
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discurso do outro com a intenção de compreendê-lo nos termos de 
sua própria lógica”. (Maturana, apud Bebchuk, 1994, p.161). A 
compreensão passa a ser um processo contínuo de conversação entre 
terapeuta e paciente (ou família), que abra portas para novas 
conversações e suscite emoções de participação na construção de 
significados. Quando participamos de uma “boa conversação”, 
significa que escutamos e fomos escutados. 
 
Uma postura fenomenológica 
Pode-se dizer que a fenomenologia é a descrição dos dados da 
experiência imediata; ela busca mais compreender do que explicar o 
fenômeno. O fenômeno é considerado aquilo que aparece, ao se 
estabelecer um contato, com uma intencionalidade de criar uma 
relação. Por sua vez, a psicologia existencial pode ser definida como 
uma ciência empírica da existência humana que emprega o método 
da análise fenomenológica. 
Um dos principais aspectos da psicologia existencial é o fato de 
não se basear no princípio de causalidade, mas sim na motivação e 
compreensão como princípios operativos numa análise do 
comportamento humano. Também, não aceita a dualidade mente-
corpo. A psicologia existencial propõe a unidade do indivíduo-no-
mundo, tal como concebida por Heidegger (apud Jolivet, 1961). 
Ainda, esta análise não busca a explicação causal do fenômeno, 
subjacente ao mesmo, mas sim sua descrição ou sua compreensão. 
Busca a essência do fenômeno. Esta, só pode ser alcançada por uma 
pessoa aberta para o mundo. Para analisar o comportamento, o 
psicólogo existencial precisa ver o que há para ser visto sem qualquer 
hipótese ou julgamento prévio. 
Podem-se observar algumas contribuições da fenomenologia 
para a postura do ser-terapêutico. Para existir um movimento de 
compreensão, é necessário haver inicialmente um movimento de 
envolvimento existencial. É função do terapeuta a compreensão da 
Um estudo da paternidade 
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consciência do outro através da própria consciência. Para se envolver 
com a existência do outro, é necessária uma abertura no próprio ser-
terapêutico: é necessário “abrir-se mão” daquilo que já se sabe, dos 
próprios pré-conceitos e teorias, para se poder captar o outro, que é 
desconhecido. Há sempre uma relação afetiva presente no 
envolvimento existencial, no encontro de duas consciências, que pode 
permitir uma transformação. Este movimento inicial de envolvimento 
pressupõe buscar, intencionalmente, um espaço na própria 
consciência. Num segundo momento, para deixar refletir a presença 
do outro em sua consciência, surgem novamente os valores e 
pensamentos próprios, que permitem uma reflexão, uma elaboração. 
E, ao trazer a reflexão à tona, abrir-se novamente ao envolvimento 
existencial, criando um vazio na consciência e permitindo a entrada 
do outro. Abertura esta que provoca medo – o medo do 
desconhecido. 
 
O “ser-no-mundo” - DASEIN 
Dasein, ou “ser-no-mundo”, é um conceito fundamental em 
psicologia existencial, e significa o todo da existência humana. “É 
uma abertura para o mundo iluminada, compreensiva – um estado de 
ser-no-mundo em que a existência total do individuo que é e virá-a-
ser, pode aparecer, tornar-se presente e ser presente.” (Jolivat, 
1961, p.87) 
Na análise existencial do Dasein, trata-se de ver o que está na 
experiência e de descrevê-lo tão precisamente quanto a linguagem o 
permita, não se prendendo a uma terminologia científica, mas tendo 
muita proximidade inclusive com a literatura. O ser-no-mundo 
restaura a unidade entre o homem e o mundo. Não há cisão entre 
eles, entre sujeito e objeto – não são duas coisas separadas, mas 
totalmente interligadas. “O homem não tem existência independente 
do mundo e o mundo não tem existência independente do 
homem”.(Jolivat, 1961, p.87) A análise existencial aborda a 
Marcia Zalcman Setton, Patrícia Pazinato 
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existência humana considerando que o homem é no mundo, tem um 
mundo e deseja ultrapassar o mundo. 
Apenas quando o homem atualiza suas potencialidades, ele 
pode viver uma vida autêntica. Quando ele se nega ou se restringe 
em função dos outros ou do ambiente, ele está tendo uma existência 
inautêntica. E o homem é livre para fazer esta escolha. Entretanto, as 
escolhas do homem são limitadas pelo seu campo existencial: o lugar 
no mundo onde o indivíduo foi lançado. Por exemplo, uma mulher 
tem um campo existencial diferente de um homem. Compete a cada 
um explorar ao máximo as possibilidades de seu campo, a fim de 
levar uma vida autêntica. 
 
O outro 
O homem define-se como ser social e o seu desenvolvimento 
depende da relação com os outros. A fenomenologia existencial 
propõe que a coexistência não se baseia apenas em oposição ou 
complementaridade, mas também naquilo que os outros têm em 
comum com o indivíduo. 
Essa característica da coexistência propicia a compreensão da 
existência alheia. Segundo Heidegger (apud Augras, 1997), essa 
compreensão não é necessariamente intelectual, mas um modo de 
ser existencial, que estabelece fundamento para qualquer outro 
conhecimento. Desta forma, compreender o outro inclui compreender 
a própria alteridade. A coexistência é também co-estranheza. Há um 
emaranhado na dialética entre a alteridade e a identidade, comum a 
todos os homens. “A ambigüidade da compreensão do outro, que se 
origina na compreensão do desconhecido que cada um é para si, 
revela-se em todos os relatos míticos. Todo mito fundamenta-se na 
duplicidade do mundo, definido como real e irreal ao mesmo tempo”. 
(Augras, 1997, p.57). 
Para a fenomenologia, acontecem fenômenos que são 
parcialmente desvendáveis para o indivíduo, enquanto que outras 
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partes permanecem obscuras. A compreensão varia com a abertura 
do indivíduo: ela situa-se no intérprete e não no fenômeno. 
 
A linguagem 
É através da linguagem que o homem procura compreender o 
mundo. “Compreender o mundo é interpretá-lo. Entender o mundo é 
elaborar um conjunto de signos e símbolos que lhe dêem significação 
humana”. (Augras, 1997, p.75). Ao descrever o mundo, o homem 
retrata-se a si próprio: o mundo é criado pelo homem, através de um 
conjunto de significações, que fazem do mundo a imagem do homem. 
No sentido inverso, pode-se dizer que a descrição do mundo nos dá a 
descrição do homem. É através desta construção de significados que 
o homem organiza o mundo que o cerca e o domina. Os símbolos que 
ele cria para descrever o mundo têm a capacidade de transformá-lo. 
A função simbólica configura a dimensão da integração homem-
mundo. A fala, o discurso, revela aquilo de que se fala. O ser-no-
mundo exprime-se pelo discurso. O discurso e a sua manifestação, a 
fala, é um aspecto integrante da revelação do ser no mundo como 
tal. A consciência de realidade implica na compreensão, na 
explicitação e no enunciado. O discurso apresenta-se então como 
meio de revelar a ambigüidade do ser no mundo. A função da 
linguagem não é, portanto, apenas comunicativa. É a revelação da 
situação de um ente que existe em si e para os outros, como singular 
e idêntico. 
Nos diversosrelatos míticos, a palavra é sempre considerada 
como criadora, geradora de mundos diversos. Criar ou revelar o 
mundo tornam-se equivalentes. O que distingue as línguas não são 
apenas os signos e sons, mas também as diferentes visões de 
mundo. Cada cultura se diferencia pelos seus conteúdos, significados 
e estrutura. Da mesma forma, a fala do indivíduo exprime a 
organização do seu mundo, constantemente criado, questionado, 
ameaçado e reconstruído. A investigação da fala pode ser uma via de 
Marcia Zalcman Setton, Patrícia Pazinato 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2002, 3(1): 74-100 
 
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acesso ao mundo próprio do indivíduo, uma via para a investigação 
clínica. O estudo da linguagem pode ser fonte de parâmetros para 
uma avaliação da situação do indivíduo dentro do seu mundo. 
A linguagem também exerce uma função mediadora entre a 
realidade interna e a realidade circundante, fazendo uma integração 
dialética das tensões inerentes à situação de ser no mundo. No plano 
psicológico, o discurso funciona como elemento de comunicação, 
como fonte de encontro do outro e, através deste processo, de si 
próprio.“A fala enuncia o encontro. Na medida em que o indivíduo se 
expressa, a sua intencionalidade é sempre comunicativa, porque a 
expressão implica a compreensão da coexistência. A função da 
mediação entre o eu e o outro, articula a compreensão deste mundo 
revelado na interação”.(Augras, 1997, p. 82). 
O silêncio, a reticência, a mentira são tão expressivos quanto a 
palavra verdadeira. A tensão dos opostos (que aparece na mentira), 
o equilíbrio constantemente ameaçado e restabelecido representam a 
especificidade da situação do ser no mundo. 
A compreensão do ser supõe o reconhecimento prévio da 
ambigüidade e da insegurança de toda interpretação, se 
fundamentando na intersubjetividade. Para a fenomenologia, 
compreender não é modo de conhecer, é modo de ser. A 
compreensão de uma situação é uma hermenêutica, portanto há uma 
impossibilidade de um indivíduo esgotar o reino infinito da realidade. 
O único ponto de partida aceito pela fenomenologia para 
compreender o outro é através da própria subjetividade. Aceitar as 
restrições na compreensão é aceitar os próprios limites. No exercício 
da psicologia, o caminho para o conhecimento do cliente passa pelo 
autoconhecimento do terapeuta. “Reconhecer dentro de si limites e 
contradições, permite então partir para a compreensão, limitada, das 
contradições do outro”. (Augras, 1997, p.84). 
 
Família: o contexto onde ocorre paternidade 
Um estudo da paternidade 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2002, 3(1): 74-100 
 
83 
Ao buscar referências sobre o lugar do pai, a pesquisadora foi 
ao encontro de algumas perspectivas diferentes, para construir um 
fundamento a respeito do conceito de paternidade para o trabalho. 
Para compreender melhor a estruturação e a organização familiar, foi 
proposto o estudo das idéias de Salvador Minuchin e de Murray 
Bowen. 
 
Uma visão estruturalista 
Segundo Salvador Minuchin (1990), há uma estrutura 
subjacente ao funcionamento da família. Esta estrutura não dita a 
maneira como as pessoas se comportam, mas estabelece alguns 
limites e organiza a forma como elas preferem agir. É um sistema 
que opera a partir de padrões transacionais, observáveis através de 
seus comportamentos e comunicações. “Transações repetidas 
estabelecem padrões de como, quando e com quem se relacionar e 
estes padrões reforçam o sistema”.(Minuchin, 1990, p.57). 
Estes padrões regulam o comportamento dos membros da 
família e são mantidos tanto por algumas regras universais (por 
exemplo, deve existir uma hierarquia de poder, em que pais e filhos 
têm diferentes níveis de autoridade; ou deve existir uma 
complementaridade de funções em um casal, onde eles aceitam a 
interdependência e trabalham como equipe), quanto pelas 
expectativas mútuas dos membros da família (que incluem 
negociações explícitas ou implícitas ao longo dos anos de 
acomodação). 
Desta forma, o sistema se mantém a si mesmo, oferecendo 
resistência à mudança e mantendo padrões preferidos, sempre que 
possível. Quando surgem situações de desequilíbrio no sistema, é 
comum os membros da família reivindicarem temas como lealdade 
familiar e tentativas de manipulação que induzem culpa. É necessário 
que a estrutura familiar tenha flexibilidade suficiente para se adaptar 
ao desenvolvimento de seus membros ou às circunstâncias externas, 
Marcia Zalcman Setton, Patrícia Pazinato 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2002, 3(1): 74-100 
 
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quando estas se transformam, para permitir a continuidade do 
sistema, proporcionando um esquema de referência para os seus 
membros. 
“O sistema familiar diferencia e leva a cabo suas funções 
através de subsistemas. Os indivíduos são subsistemas dentro de 
uma família. Díades podem ser subsistemas. Os subsistemas podem 
ser formados por geração, sexo, interesse ou função”.(Minuchin, 
1990, p.58). Cada indivíduo pertence a diferentes subsistemas, nos 
quais tem diferentes níveis de poder e onde aprende habilidades 
interpessoais diferenciadas. Um indivíduo pode ser filho, irmão, 
marido, pai, etc. Em cada subsistema ele ingressa em diferentes 
relações complementares. A criança tem que agir como um filho, 
enquanto seu pai age como um pai. A mesma criança terá uma 
relação completamente diferente com seu irmão mais novo – ela 
agirá como um irmão mais velho. 
 As fronteiras de um subsistema são as regras que definem 
quem participa e como. Sua função é de proteger a diferenciação do 
sistema. Cada subsistema familiar tem funções e demandas 
específicas para cada membro. O desenvolvimento das diferentes 
habilidades depende da liberdade que cada subsistema tem em 
relação aos outros. Para o desenvolvimento adequado da família, é 
importante que as fronteiras dos subsistemas sejam nítidas. Para o 
funcionamento da família é mais importante manter, por exemplo, as 
linhas de responsabilidade e autoridade bem delineadas, do que 
determinar quem exerce a função parental. 
Todas as famílias vivem ao longo de um continuum, onde os 
pólos são as fronteiras excessivamente difusas ou rígidas (famílias 
emaranhadas ou desligadas). Para o funcionamento apropriado da 
família as fronteiras dos subsistemas devem ser nítidas e definidas, o 
suficiente para que os membros levem a cabo suas funções, sem 
interferência indevida. 
Um estudo da paternidade 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2002, 3(1): 74-100 
 
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As famílias emaranhadas possuem fronteiras difusas, isto é, 
elas giram em torno de si mesmas, com um conseqüente aumento da 
comunicação e preocupação entre seus membros, a diferenciação do 
sistema familiar fica difusa. Já em famílias com fronteiras rígidas a 
comunicação é difícil e as funções protetoras da família ficam 
prejudicadas. 
Quando nasce o primeiro filho, há necessidade de um novo 
nível de formação familiar. Deve ser delineada uma fronteira, que 
permita o acesso da criança a ambos os pais, porém excluindo-a das 
funções conjugais. 
Atualmente, o modelo patriarcal de autoridade se desvaneceu. 
Espera-se que os pais compreendam as necessidades de 
desenvolvimento dos filhos e expliquem as regras que se impõem. A 
paternidade é um processo extremamente difícil, e ninguém o 
desempenha a seu inteiro contento. 
Não basta compreender a distribuição estrutural da família. Ela 
não é suficiente para dar conta da complexidade que envolve os 
membros de um grupo familiar. O fundamento de seu funcionamento 
se baseia no tipo de comunicação e relacionamento que seestabelece. Certa medida de complementaridade é o princípio 
definidor de todos os relacionamentos. Em qualquer casal, o 
comportamento de uma pessoa está ligado ao comportamento da 
outra. “Os casais precisam nutrir seu casamento para poderem 
funcionar como pais”.(Minuchin, 1990) Por exemplo, quando há um 
superenvolvimento da mãe com os filhos, há um isolamento ou 
subenvolvimento do pai; ou quando um é extremamente desligado, o 
outro tende a ser emaranhado. 
Ao longo de seu trabalho, Minuchin expõe com clareza a 
necessidade de limites e fronteiras bem delineadas, a necessidade do 
estabelecimento de linhas de responsabilidade e autoridade na 
família, mas não faz diferenciação a respeito de quem deve 
estabelecer estes limites. O que importa é a relação de 
Marcia Zalcman Setton, Patrícia Pazinato 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2002, 3(1): 74-100 
 
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complementaridade que se estabelece entre as gerações, permitindo 
o aprendizado e desenvolvimento da família como um todo. Os filhos 
aprendem a ser filhos, enquanto os pais aprendem a ser pais. Ele 
também ressalta a importância da relação do casal como um 
subsistema conjugal adequado, para permitir que o subsistema 
parental seja bem sucedido. 
Quando observamos o desenvolvimento das famílias, podemos 
compreendê-lo como um longo processo de diferenciação, tal como 
postula Murray Bowen (apud Elkaim, 1998), a respeito da 
importância da diferenciação do ego no desenvolvimento do 
indivíduo. 
 
A diferenciação do ego 
Segundo Bowen (apud Elkaim, 1998), a “diferenciação do ego” 
é um conceito fundamental no desenvolvimento do ser humano. É ao 
mesmo tempo um conceito intrapsíquico e interpessoal. Sua idéia 
principal diz respeito ao grau em que as pessoas se fusionam ou se 
fundem emocionalmente com outra, com duas ou mais pessoas para 
criar um eu comum. 
Bowen (apud Elkaim, 1998) observou que existe uma grande 
dificuldade de se tornar objetivo, quando se está diante da família, o 
que chamou de fusão emocional na família, fenômeno este que está 
presente em todas as famílias, em maior ou menor grau. No ponto 
central da diferenciação do ego situa-se a relação primária de uma 
pessoa com seus pais. Quanto maior o grau de indiferenciação com 
relação à família de origem, tanto maior será o grau de 
indiferenciação na família nuclear. Este processo de transmissão 
multigeracional de conteúdos emocionais, pode levar a dificuldades 
no estabelecimento de limites, pois quando a objetividade se perde, 
os limites e fronteiras do sistema familiar ficam difusos. O que 
impede o natural desdobramento desse processo é o nível de 
diferenciação e de ansiedade crônica apresentado pelos pais ou 
Um estudo da paternidade 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2002, 3(1): 74-100 
 
87 
responsáveis pela criança. Quanto mais os pais precisam da criança 
para completar seus próprios egos parciais, mais a criança 
desenvolverá a necessidade de outra pessoa para completar o seu. 
Nestes momentos surgem os processos de triangulação 
familiares, o que faz com que a ansiedade do sistema se reduza, mas 
congela os conflitos, onde eles se encontram. Enquanto esta 
triangulação (perversa) continuar, o relacionamento aberto entre 
pares não pode ocorrer, o que prejudica o desenvolvimento e a 
diferenciação do indivíduo. 
Outro fator que interfere no desenvolvimento da diferenciação 
do ego é a maneira como os pais administram essa ligação em sua 
própria união. O grau de fusão é determinado pelas ligações 
emocionais não-resolvidas. A necessidade que uma pessoa tem de 
outra para se completar é algo trazido desde a família de origem a 
todos os relacionamentos futuros, portanto um produto do 
relacionamento do indivíduo com seus pais. 
A diferenciação intrapsíquica é considerada também a 
capacidade de separar o sentimento do pensamento. A pessoa 
diferenciada é capaz de equilibrar pensamento e sentimento, podendo 
estar em contato intenso com os outros, tomar decisões por seu 
próprio pensamento e agir de acordo com suas crenças. A ausência 
de diferenciação entre o pensamento e o sentimento ocorre 
juntamente com a ausência de diferenciação entre o si próprio e os 
outros. Bowen sinaliza então a importância da diferenciação do ego 
da dupla parental, para o desenvolvimento adequado da família. 
 
PROPOSTA DE ANÁLISE 
Considerando esses posicionamentos teóricos, onde se focou 
alguns aspectos da abordagem fenomenológica existencial e alguns 
aspectos da abordagem sistêmica, a pesquisadora procurou analisar o 
atendimento de uma família, onde a paternidade se mostrou como 
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uma característica marcante, e enriquecer o trabalho terapêutico, a 
partir de uma compreensão mais abrangente do caso atendido. 
 
Metodologia 
Sujeito: O sujeito da pesquisa é uma família atendida em uma 
instituição universitária, cujo objetivo é a formação de Especialistas 
em Terapia Familiar, entre setembro de 2001 e julho de 2002. A 
família é formada por um pai, de 46 anos, uma mãe, de 29 anos, e 
três crianças, do sexo feminino, de 11, 8 e 3 anos. O pai é um policial 
militar e a mãe, atualmente é do lar. Gozam de boa saúde e são de 
classe social média. 
 
Material pesquisado: Transcrição de trechos de sessões 
terapêuticas, gravadas em fitas de vídeo. 
 
Análise de Dados: Após uma leitura cuidadosa, foram 
destacadas as comunicações que se referiam à paternidade. 
Organizou-se um quadro para a análise dessas comunicações, sob os 
aspectos estruturais (fronteiras e papéis), relacionais (tipo de 
comunicação), antropológicos (herança transgeracional) e sob uma 
abordagem fenomenológica. A partir deste quadro, foi possível 
analisar as correlações entre vários aspectos das diferentes teorias, 
buscando especialmente suas similaridades. 
 
Descrição do caso 
Pedro ficou sozinho com sua filha, Vera, desde que ela era um 
bebê, de cerca de um mês de idade, pois a mãe dela, uma cigana, 
era droga-dependente. Ela tem um comportamento considerado por 
Pedro, como inadequado, promíscuo (tem seis filhos de pais 
diferentes; não cria nenhum deles e atualmente mantém 
relacionamento com indivíduos marginalizados da sociedade). Ele 
possui a guarda da filha há muitos anos. Sempre cuidou sozinho dela. 
Um estudo da paternidade 
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Seu trabalho era de artesanato em couro, o que permitia um horário 
mais flexível. Há seis anos começou a trabalhar na Policia Militar, e 
sempre teve alguém morando junto com ele que ajudava a ficar com 
Vera. Teve algumas namoradas, mas nada firme, desde que Vera 
nasceu. 
Quando Vera nasceu, Pedro se preocupou muito com a saúde 
dela, pois a mãe não havia interrompido o consumo de drogas 
durante a gestação, e ele temia algum mau desenvolvimento do feto. 
Com poucos meses de vida, a menina teve meningite, mas também 
não houve seqüelas. Entretanto, estas dificuldades de saúde, 
somadas às dificuldades financeiras, de relacionamento com a mãe e 
as dificuldades de criar a filha sozinho, contra a opinião de toda a sua 
família de origem, e contra a opinião da avó materna, que queria 
doar a menina (os filhos anteriores já haviam sido doados), acabaram 
gerando uma ligação muito profunda entre pai e filha. Poderia se vê-
los como dois sobreviventes de uma catástrofe. Atualmente a mãe de 
Vera raramente vê a filha - apenas quando coincide de encontrá-la na 
casa da avó. Pedro evita estes encontros. 
Vera sempre opinou a respeitodas namoradas de Pedro. Ele 
começou a namorar Valéria com o seu incentivo, pois ela não gostava 
da namorada anterior. Nesta ocasião Vera tinha oito anos. 
Valéria por sua vez era separada há alguns anos, e tinha uma 
filha, Daniela, de quatro anos. Em pouco tempo (cerca de três 
meses), Pedro e Valéria resolveram morar junto e Valéria engravidou 
de Carol, o que parece ter sedimentado mais a relação dos dois. 
Quando se pergunta desde quando estão juntos, o casal em 
uníssono responde “há quatro anos”, e o pai continua: “Mas a minha 
(vida) com minha filha é à parte – porque fiquei oito anos sozinho 
com ela”.(SIC) 
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O casal fala que quer manter a relação, a família, Pedro 
inclusive frisa que é a primeira vez que Vera conhece uma família 
estruturada, inclusive uma casa estruturada, mas o relacionamento 
atual entre Vera e Valéria é muito difícil, pois Pedro sempre critica 
sua forma de atuar como “mãe”. Com certeza Valéria não atende ao 
ideal de mãe que Pedro passou para Vera. 
O que se observa é que há uma intimidade maior entre pai e 
filha do que entre o casal. (por exemplo, os assuntos financeiros são 
discutidos antes com a filha do que com a esposa). Ao mesmo tempo 
se observa uma intimidade entre Valéria e sua mãe, o que gera 
ciúme e desconforto para Pedro. Para Pedro é muito importante a 
harmonia do lar, o que lhe custa um esforço muito grande, causando 
muito cansaço. 
Ao pesquisar um pouco sobre sua família de origem, Pedro 
conta que era muito ligado à sua mãe, ajudando-a nas tarefas 
domésticas, especialmente na costura, o que lhe possibilitou a 
atividade profissional com o couro. Sua mãe faleceu cedo, quando 
Pedro tinha 18 anos. Até então seu relacionamento com o pai era 
péssimo, chegava a odiá-lo. Após a morte da mãe, o pai começou a 
se aproximar de Pedro, quando se tornaram grandes amigos, num 
relacionamento mais próximo do que com os outros irmãos. Seu pai 
também já faleceu. Pedro conta que quando pequeno, quem 
estabelecia as regras da casa era a mãe, sendo o pai mais passivo. 
Conta também que a relação entre os pais não era boa: havia muitas 
brigas e distanciamento. Por este discurso, pode-se observar que 
Pedro estava sempre envolvido em um triângulo perverso, onde a 
relação dual excluía um terceiro. Com relação a sua vida afetiva, 
Pedro conta que sempre se relacionou com mulheres que já tinham 
filhos e que era mais fácil para ele se imaginar como pai do que como 
marido. 
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Na história familiar de Valéria, repete-se a dificuldade de 
aprender a conviver com um modelo de casal que seja funcional, pois 
seu pai era alcoólatra, sempre se desentendeu com sua mãe, que 
trabalhava e criava sozinha os seus filhos, até que o casal se 
separou. Valéria é a mais velha dos irmãos, tendo ficado bastante 
próxima de sua mãe e a auxiliando no cuidado com os irmãos. Ela 
admira a mãe e a enxerga como uma batalhadora, tendo muito 
respeito por suas opiniões. Casou-se muito jovem, na primeira vez, 
porque havia engravidado; este casamento durou cerca de um ano. O 
pai de Daniela mantém contato bastante esporádico com a menina, 
tendo constituído nova família. Valéria sempre trabalhou fora de casa, 
porém neste último ano está cuidando mais da casa e das crianças, e 
diz que “está aprendendo a ser mãe” (SIC). Segundo Pedro, ela não é 
muito carinhosa com as crianças maiores, apenas com a caçula. De 
acordo com Valéria, as crianças maiores não precisam de tanto 
contato físico. 
Os problemas de relacionamento entre Vera e Valéria iniciaram 
quando Carol, a filha do casal, nasceu. Parece que apenas neste 
momento Vera viu o seu lugar ameaçado: a respeito de uma 
namorada ela poderia influenciar o pai, mas ela havia perdido para 
sempre o lugar de filha única deste pai tão especial. 
 
Discussão dos resultados 
Esta família procurou o atendimento com uma queixa de mau 
aproveitamento escolar de sua filha mais velha, Vera. No entanto, 
logo no início, a família se apresenta com uma aparente disfunção na 
sua estrutura: um distanciamento do casal com a entrada das filhas 
entre ambos. Segundo Bateson e Watzlavick (apud Bebchuk, 1994), 
todo comportamento é uma comunicação. Assim, tanto o 
distanciamento físico entre o casal durante a sessão pode ser visto 
como uma metáfora da organização de sua estrutura, quanto o 
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sintoma pode ser considerado como uma forma de comunicação. Este 
sintoma, logo na primeira sessão é redefinido pela própria família, 
como um problema de relacionamento entre a enteada e a madrasta. 
Estes comportamentos podem estar conectados a uma desordem 
hierárquica dentro da família (Minuchin, 1990) ou podem surgir como 
soluções para a sobrevivência de um grupo. 
É uma família que se constituiu pela transformação abrupta de 
dois núcleos uniparentais (o pai com sua filha e a mãe com sua filha) 
em um grupo mais complexo, não apenas pela união destes dois 
núcleos, mas pelo nascimento de uma terceira filha, comum ao casal. 
Esta estruturação é que vai moldar os padrões de comportamento 
dos membros da família (Minuchin, 1990). 
Na primeira sessão, o pai apresenta a família demonstrando 
uma certa rigidez. A sua frase: “Essa é filha da mãe (aponta Daniela), 
essa filha do pai (aponta Vera) e essa filha de mãe e pai” (SIC), 
mostra a falta de integração na família. Se considerarmos que, 
segundo Maturana (apud Bebchuk, 1994), cada vez que uma pessoa 
descreve uma ação, ela se torna um observador que seleciona a 
informação de acordo com seus próprios parâmetros, podemos 
deduzir que a dificuldade de integrar a família é também uma 
dificuldade do pai. 
Do ponto de vista da fenomenologia, o que podemos observar é 
que para este pai, cada menina é diferente, a relação com cada uma 
delas nasceu de outra maneira. 
A relação que está se enfocando aqui é especialmente a relação 
de Pedro com sua filha mais velha. Sua ligação com ela é anterior à 
da esposa e, portanto, este vínculo é mais forte, aparentando ser 
superior. Segundo Minuchin (1990), quando um dos membros do 
casal parental está em uma situação inferior à de um filho, as 
fronteiras entre os subsistemas da família estão difusas. Segundo ele, 
há algumas regras universais que facilitam o desenvolvimento 
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familiar como, por exemplo, que deve existir uma hierarquia de poder 
em que pais e filhos têm diferentes níveis de autoridade, assim como 
deve existir uma complementaridade de funções em um casal, onde 
eles aceitam a interdependência e trabalham como equipe. 
Em uma visão fenomenológica, pode-se observar que a solidão 
do pai em sua vida com a menina é marcante. É importante 
compreender essa solidão como um princípio operativo do 
comportamento de Pedro. Pode-se vê-la como formadora da unidade 
ser-no-mundo, de Heidegger (apud Abbagnano, 2000). Para ele, o 
Ser nunca é um ser isolado, independente do mundo. O ser está 
sempre em relação com o outro, com o mundo. 
O pai fala com freqüência da falta de referencias físicas (de 
casa) e emocionais (de família) para a filha. Ele está comunicando 
suas próprias carências e o no que ele se identifica com a filha. Está 
fazendo um pedido de ajuda para a terapia. Parece que o pai percebe 
a falta de uma estruturação melhor como família,mas ao mesmo 
tempo se ressente por incluir algo diferente em sua própria vida. Esta 
díade pai-filha tem sobrevivido de forma isolada por muito tempo; 
parece estar difícil se abrir para algo novo – o que é novo e diferente 
pode representar uma ameaça à sua relação, fazendo com que as 
fronteiras fiquem mais rígidas. Minuchin (1990) fala que é necessário 
que a estrutura familiar tenha flexibilidade suficiente para se adaptar 
ao desenvolvimento de seus membros ou às circunstâncias externas 
quando estas se transformam, para permitir a continuidade do 
sistema, proporcionando um esquema de referência para os seus 
membros. 
De certa forma, pode-se relacionar esta preocupação de Pedro 
com sua filha, como uma expressão da estrutura fundamental dos 
relacionamentos, que segundo Heidegger (apud Abbagnano, 2000), é 
um tomar conta do outro. O que se nota é que Pedro procura resolver 
os problemas de sua filha por ela, preocupado com o que deve 
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proporcionar a ela, o que caracteriza esta forma de coexistência de 
inautêntica. Vai se verificar, ao longo das sessões, que esta forma de 
coexistir acaba gerando um cansaço muito grande, um peso e um 
receio da responsabilidade para Pedro, pois ele tem medo de não 
conseguir proporcionar para a filha e agora, para toda a família, 
aquilo que ele considera necessário. Desta forma, a expressão de seu 
próprio ser fica comprometida e não há espaço para sua auto-
realização, seja como pai, como esposo ou até mesmo como homem. 
Ele não pode confrontar seu ser autêntico. A angústia da morte, do 
nada, do vazio, fica escondida pelo cotidiano, pela preocupação em 
proporcionar à família tudo aquilo que esta necessitar, como uma 
fuga anônima. Na abordagem fenomenológica existencial, estar em 
contato com esta angústia é uma via de acesso para uma 
transformação da relação consigo mesmo, com o outro e com o 
mundo. Segundo Augras (1997), é através da linguagem e da 
compreensão de que todo significado dado a um fenômeno supõe a 
possibilidade de ser re-interpretado, que torna possível a 
transformação do ser. 
Num paralelo, podemos dizer que, numa abordagem relacional 
sistêmica, a narrativa construída em uma família modela o mundo 
compartilhado por ela. Segundo Maturana (apud Bebchuk, 1994), é 
através da linguagem que damos diferentes significados, conteúdos e 
emoções a esse mundo compartilhado. Somente através de um 
espaço de aceitação existencial do indivíduo, é que pode se iniciar 
uma mudança na sua narrativa, o que gera uma transformação na 
sua relação com o outro, e com sua visão de mundo. 
Para Pedro viver uma existência autêntica, ele precisaria 
atualizar suas potencialidades, o que somente seria possível se ele 
estivesse consciente de suas possibilidades existenciais. Seria 
necessário ter presente sua criatividade para vislumbrar essas novas 
possibilidades. Para alterar sua compreensão da relação com os 
outros, com a filha e com a família, é necessário compreender a 
Um estudo da paternidade 
Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2002, 3(1): 74-100 
 
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própria alteridade. Pedro precisaria estar consciente da sensação de 
ser si mesmo, e não apenas ser em função de cuidar dos outros. O 
outro poderia ser considerado como um referencial para si, mas como 
um espelho de suas relações e não um espelho ao contrário, onde ele 
tem se escondido de si mesmo. 
Pode-se observar uma fusão emocional entre pai e filha. Há 
uma indiferenciação entre os dois. O conceito de “diferenciação do 
ego” é para Bowen (apud Papero, 1998) fundamental no 
desenvolvimento do ser humano. Nota-se em diversos momentos 
esta fusão: o pai responde pela filha, quando esta é questionada na 
sessão; ele a superprotege, justificando todas as suas ações; não 
consegue colocar limites para a filha – ele mesmo se considera mole; 
sua história comum de luta pela vida, pela sobrevivência, levou a um 
vínculo baseado em lealdade, intimidade e cumplicidade, reforçado 
pela condição de solidão e isolamento em relação à própria família de 
origem e ao ambiente social. No ponto central da diferenciação do 
ego situa-se a relação primária da pessoa com seus pais. No caso 
desta família, Pedro tem uma história de fusão emocional com sua 
mãe, que não pôde ser elaborada. Posteriormente seus 
relacionamentos sempre se caracterizaram por ser diádicos – com o 
pai, com os irmãos, com a mãe de Vera, e com a filha. Há uma 
dificuldade de Pedro de se relacionar em uma tríade, compondo um 
triângulo no qual a autoridade possa ser exercida adequadamente. O 
relacionamento aberto entre ele e seu par conjugal não pode ocorrer, 
o que faz com que sua filha fique triangulada, “no meio” do casal, 
intermediando o comportamento de ambos. Por conta deste esforço, 
fica mais difícil seu desenvolvimento e diferenciação – a aquisição de 
conhecimento é uma forma de diferenciação – o que faz com que 
surja sua dificuldade de aprendizagem na escola. Pode-se dizer que 
esta dificuldade de formar o par conjugal é do casal, pois além deles 
não terem conseguido constituir nenhuma relação estável em suas 
vidas anteriormente, também a filha menor, de ambos, está 
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mostrando resistência em ir para a escola, pois precisa “cuidar da 
casa” (SIC). As meninas e a família ficam como depositárias das 
dificuldades dos pais. A intimidade assusta Pedro, pois ameaça a 
sobrevivência de sua narrativa do mundo. 
Do ponto de vista da abordagem fenomenológica existencial, 
pode-se observar uma ansiedade em formar o casal, por prováveis 
fantasias antecipatórias de ameaça aos próprios valores. Faz sentido 
falar do casal nesta abordagem porque esta relação dá forma, 
contorno e aparência e, portanto, também sustenta o fenômeno da 
paternidade, apesar de não se constituir em sua essência. 
Pode-se observar que, para Pedro, o vínculo com sua filha é 
muito forte, porque parece que através dela ele conseguiu uma 
identidade na família. Ele conseguiu aplicar suas habilidades 
“femininas”, aprendidas com a mãe, e demonstrar para a família que 
ele era capaz de criar a filha. Para ele esta era uma questão de 
sobrevivência de seu ser: ele precisava encontrar um lugar, uma 
aceitação e um respeito nesta família, na qual ele sempre se sentiu 
só e inadequado. No seu discurso, ele atribui à filha o fato de voltar a 
ter família, de estar vivo: “... foi a continuidade da minha vida. Acho 
que se não tivesse esse ocorrido, eu podia não estar mais aqui hoje” 
(SIC). Desta forma, também, ele não assume responsabilidade por 
suas escolhas, o que faz com que sua vida seja vivida de forma 
inautêntica. 
No momento do atendimento, a ansiedade de Pedro está 
elevada também pela aproximação de sua filha da adolescência. 
Possivelmente, suas fantasias sobre a sexualidade, e sobre o 
fantasma da mãe cigana, estão presentes na relação e ele se sente 
incompetente para lidar com esta demanda, solicitando que sua 
parceira seja a mãe que ele idealizou para sua filha, o que está fora 
do alcance dela. Desta forma o conflito se acentua. Como o conflito 
não pode aparecer no casal, pois eles não têm uma história de 
aprendizado de negociações em suas famílias de origem, a filha 
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assume a responsabilidade do conflito com a madrasta. Neste 
momento volta o temor do pai de ser incompetente, de mostrar sua 
fragilidade, deser abandonado. Este temor o remete ao passado, à 
sua condição de sobrevivência e à sua angústia perante a morte. 
Experiência esta que ele vivenciou concretamente com a filha nos 
seus primeiros meses de vida, e que molda sua relação com ela como 
dois sobreviventes de uma catástrofe: o abandono da mãe viciada em 
drogas, as doenças que ela teve, a rejeição das famílias, as tentativas 
de seus irmãos de tirarem a menina dele, suas dificuldades 
financeiras, seu modo de vida nômade. É um temor que não permite 
que ele perceba os recursos que tem, quanto conseguiu realizar. Ele 
não pode se perceber a si mesmo. As meninas e a família funcionam 
como um espelho às avessas, onde ele se esconde, se camufla: ele se 
pulveriza no outro. Ao não poder olhar para suas deficiências, ele 
também não pode olhar para suas vitórias, seus sucessos, seus 
recursos, o que o deixa paralisado e impotente, à mercê das 
circunstâncias de sua vida. Ele se angustia e se conforma com uma 
existência inautêntica. 
Parece, então, que do ponto de vista da abordagem 
fenomenológica existencial, a essência do Ser pai, para este indivíduo 
ainda não está totalmente definida, mas pode-se dizer que há indícios 
para supor que ele se perde no labirinto de sua ansiedade, na 
confusão de seu casamento, na sua angústia de como prover a 
família, ou seja, ele se perde em uma paternidade inautêntica. 
Do ponto de vista da abordagem relacional sistêmica, este pai 
está emaranhado com sua filha, não conseguindo se diferenciar dela, 
nem de sua família de origem, dificultando seu relacionamento 
conjugal e o desenvolvimento tanto desta sua filha como o da caçula. 
A família fica então paralisada, com dificuldade de crescimento para 
todos os seus membros. 
 
 
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Considerações Finais 
Através do estudo deste caso, foi possível observar alguns 
aspectos que se aproximam, entre as abordagens Relacional 
Sistêmica e Fenomenológica Existencial. 
Ambas abordam questões voltadas para a formação dos 
vínculos entre os indivíduos; a influência mútua entre as pessoas, e a 
importância de se considerar o indivíduo dentro de uma relação e não 
como isolado no mundo. O sentido e a importância de se olhar para o 
indivíduo dentro de seu contexto, como ser particular e único, e 
respeitá-lo desta forma. 
Outro aspecto bastante presente nas duas abordagens é a 
questão da linguagem. A linguagem não é vista como mera 
representação de um mundo externo ao indivíduo, mas como um 
elemento constitutivo deste mundo. A linguagem cria, gera, estrutura 
o mundo. É através da compreensão da linguagem de cada indivíduo, 
que se pode ter acesso ao seu ser, e ajudá-lo a construir uma 
narrativa que seja mais funcional para sua vida. 
A postura tanto do terapeuta fenomenológico quanto do 
sistêmico é de ter uma abertura para aceitar o ponto de vista do 
paciente como válido e verdadeiro, procurando compreendê-lo sem 
julgamentos prévios e a partir da sua lógica. A idéia não é propor 
uma “verdade” para o paciente, mas construir com ele uma nova 
possibilidade que seja funcional para sua própria vida. 
Existem também inúmeras diferenças em cada abordagem, que 
não foram objeto deste estudo. Entretanto, o que se pode observar é 
que, respeitando-se as características e limitações de cada teoria, 
pode-se concluir que as aproximações que foram possíveis entre as 
duas fizeram com que a compreensão do caso fosse enriquecida. 
Portanto não se faz uma proposta de unificar as duas teorias, mas de 
se usufruir daquilo que cada uma oferece para o aprofundamento do 
trabalho do terapeuta. 
Um estudo da paternidade 
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Pode-se sugerir uma continuidade deste estudo, de forma a 
englobar as diferenças existentes em cada teoria, visando aprofundar 
o conhecimento e as habilidades do terapeuta ao estabelecer o 
vínculo com o paciente. Também pode-se sugerir um estudo mais 
aprofundado sobre a interação da subjetividade do pesquisador, ou 
do terapeuta, na construção de temas que envolvem a paternidade. 
O que se pode apreender de fundamental no exercer do 
trabalho terapêutico, nestas duas abordagens, é uma postura de 
reflexão e autoconhecimento do terapeuta, que permita a ele se abrir 
para o outro, de forma autêntica, encarando e aceitando os próprios 
limites e contradições. É abrir espaço para o domínio da presença, 
que fundamenta o mundo da relação. Ou, segundo Humberto 
Maturana (apud Bebchuk, 1994), é um exercício de escutar o outro, 
apenas escutando, sem planejar o próximo passo, sem formular 
hipóteses ou interpretações; é estar presente no diálogo. 
 
Referências Bibliográficas 
 
ABBAGNANO, N. (2000): Heidegger, in História da Filosofia, vol. XIV, 
cap. 843 e 844 (p. 136 a 144). Portugal: Presença. 
AUGRAS, M. (1997): O ser da compreensão: Fenomenologia da 
situação de psicodiagnóstico. 7ª ed. Petrópolis. Vozes. 
BEBCHUK, J. (1994): La Conversación Terapéutica: Emociones y 
significados. Fronteras del pensamiento sistémico. Buenos Aires, 
Argentina. Planeta Nueva Conciencia. 
FORGHIERI, Y.C. (1993): A fenomenologia e suas relações com a 
psicologia, cap.2. São Paulo: Pioneira. 
JOLIVET, R. (1961): As doutrinas existencialistas. Cap. 4. Porto: 
Tavares Martins. 
MINUCHIN, S. (1990) Famílias: funcionamento e tratamento. Porto 
Alegre. Artes Médicas. 
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100 
PAPERO, D. V. (1998): A Teoria sobre os Sistemas Familiares de 
Bowen, in Elkaim, M. (org.) Panorama das Terapias Familiares, 
vol. 1 (p. 71 –100). São Paulo. Summus. 
 
 
Contatos: 
Marcia Zalcman Setton 
Patrícia Pazinato 
E-mail: pazinato@ifxbrasil.com.br 
 
Trâmite: 
Recebido: dezembro/2002 
Aceito: abril/2003

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