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Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 1 AULA 2 – PODERES DA ADMINISTRAÇÃO A disciplina – Direito Administrativo – contém vários pontos de divergência, de dificuldades, no entanto, para a tranquilidade de todos e felicidade da massa concursística, realço que o tópico Poderes Administrativos não é um dos mais problemáticos. Costumo dizer ser o tópico, em análise, continuação de Atos Administrativos. Os assuntos a serem abordados são: 1 – Definição: poderes e deveres administrativos. 2 – Classificação dos poderes administrativos: I) Vinculado e discricionariedade; II) Regulamentar; III) Hierárquico; IV) Disciplinar; e V) De Polícia. 3 – Uso e Abuso de Poder. Sem mais, no momento, passemos aos exercícios. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 2 PODERES DA ADMINSTRAÇÃO Definição: Poderes e Deveres Administrativos O Estado, como agrupamento politicamente organizado, é uma ficção jurídica, criação humana, de representação coletiva. Por ser uma abstração, o Estado não age por si mesmo, precisa, bem por isso, dos braços e pernas motoras, quando surge a figura dos agentes públicos, para os quais a ordem jurídica confere prerrogativas diferenciadas, a serem utilizadas para a consecução dos interesses da sociedade. Esse conjunto de prerrogativas de direito público que a ordem jurídica confere aos agentes públicos, no desempenho de tarefas de Administração Pública, para o fim de permitir que o Estado alcance seus fins, denomina-se Poderes da Administração. De regra, os Poderes Administrativos são concedidos por lei e destinam-se a instrumentalizar o Administrador Público para o atingimento do fim último a que se presta o Estado: a satisfação dos interesses públicos. Em contrapartida, por tutelarem interesses coletivos, impõe-se aos agentes públicos, de modo geral, uma série de deveres. Em determinadas hipóteses, pode-se mesmo afirmar que os Poderes Administrativos convertem-se em verdadeiros deveres administrativos. Sinteticamente: Enquanto o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado remete-nos à ideia de poderes, o princípio da indisponibilidade, ao contexto dos deveres, formando o binômio poder-dever. Curiosamente, em determinadas hipóteses, pode-se mesmo afirmar que os Poderes Administrativos convertem-se em verdadeiros deveres administrativos. Por exemplo: se determinado servidor comete corrupção passiva ou abandona o cargo (acima de 30 dias consecutivos no ano), tem a Administração a prerrogativa de apurar a infração e de aplicar a punição (poder disciplinar). Será mesmo uma prerrogativa? Pode o Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 3 administrador escolher entre punir ou não punir? Claro que não! Ou seja, o poder disciplinar é nitidamente um dever-poder de agir. De fato, enquanto na esfera privada o poder é faculdade daquele que o detém, no setor público representa um dever do administrador para com a comunidade que representa. A doutrina fala, então, em Poder- dever de agir: Enquanto para o particular, o poder de agir é uma faculdade, para o administrador público é uma obrigação de atuar, desde que se apresente a oportunidade de exercitá-lo em benefício da comunidade. Pode-se concluir, preliminarmente, que há pouca margem de decisão ao agente quando surge a oportunidade (dever) de agir. Disso resulta que a omissão da autoridade, enfim, o silêncio administrativo gerará a responsabilização do agente omisso, autorizando a obtenção do ato não realizado, se for o caso, por via judicial, como por exemplo, por intermédio de mandado de segurança, quando ferir direito líquido e certo do interessado. Por oportuno, há de se fazer diferença, ainda, entre Poderes Administrativos e Políticos. Aqueles são poderes instrumentais da Administração, instrumentos de trabalho para cumprimento de tarefas de natureza administrativa. Já os Poderes Políticos são aqueles listados no art. 2º da CF/1988, Executivo, Legislativo e Judiciário. São estruturais e inerentes à organização do Estado, integrando a organização constitucional, sendo que a inter-relação entre estes é objeto de estudo de ramo próprio do Direito, o Direito Constitucional. Prontos? Vamos às questões. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 4 01. (2006/FCC/TRE-SP/Téc.Jud.) No que tange aos poderes e deveres do administrador público, é INCORRETO afirmar que a) o agente público, quando no exercício do cargo ou função, deverá utilizar-se dos poderes administrativos que lhe são atribuídos tão somente nos limites da lei. b) a prestação de contas não se restringe exclusivamente a dinheiro público, mas diz respeito a todas as ações da Administração Pública, a exemplo da expedição de certidão aos cidadãos. c) os poderes conferidos ao administrador público não constituem privilégios pessoais, e sim prerrogativas funcionais. d) o poder-dever de agir é renunciável e concede ao agente público a faculdade de escolher o modo de atuar diante de determinadas circunstâncias concretas, tendo em vista o interesse privado. e) o dever de probidade se encontra constitucionalmente integrado na conduta do administrador público como elemento necessário à legitimidade de seus atos. Comentários: Vamos ao exame dos quesitos. Item A – CORRETO. De acordo com o princípio da legalidade administrativa, previsto no art. 37, caput, da Constituição, o agente público só pode fazer ou deixar de fazer o que a lei expressa ou implicitamente autorizou ou permitiu. Item B – CORRETO. O agente público, como defensor da coisa pública, tem atribuições, responsabilidades, enfim, deveres a cumprir para com os cidadãos (nem tudo são poderes!). Um dos deveres aplicáveis aos agentes é o de prestar contas. Isso mesmo, o dever de tornar públicas suas ações, seus gastos, toda sua conduta funcional, porque ser administrador público não é curar, zelar, tutelar, coisa própria, mas sim alheia, do público para o público. Logo, nada mais justo que os cidadãos tenham acesso a informações a partir da expedição de certidões. Item C – CORRETO. Os poderes administrativos são entregues não nas mãos dos agentes, como a primeira vista possa parecer. Os poderes são atributos do cargo, são prerrogativas funcionais e não benesses, privilégios pessoais. Item D – INCORRETO. Há mais de um erro. O primeiro é que o poder- dever de agir não pode ser renunciado, pois, como tivemos a oportunidade de aprender, os poderes não são privilégios, são sim prerrogativas funcionais. Não pode o interesse público ficar ao sabor dos devaneios, dos disparates (loucuras) dos agentes públicos. E mais: não se tutela, de forma alguma, Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 5 interesses privados no seio da Administração. Pode parecer estranho, mas acreditem, mesmo quando o Estado assina contratos privados (como é o exemplo do contrato de locação), o fim visado é o PÚBLICO; mesmo quando o Estado constituiuma Sociedade de Economia Mista (como o Banco do Brasil), o interesse é PÚBLICO (art. 173 da CF/1988 – pressupostos de segurança nacional ou relevante interesse público). Item E – CORRETO. O dever de probidade, traduzido no princípio da probidade, tem seu assoalho, sua base, no texto constitucional, art. 37, §4º, ao estabelecer que a prática de atos de improbidade pode acarretar: a) suspensão dos direitos políticos, b) perda da função pública, c) indisponibilidade dos bens, e d) ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. Ao lado dos deveres de prestar contas e da probidade, destaco: - eficiência – agir com rendimento funcional, perfeição, rapidez, e - obediência – o subordinado deve observância às ordens do Chefe, do superior hierárquico. Porém, não de forma irrestrita, pois as ordens manifestamente ilegais não devem ser cumpridas, sob pena de responsabilidade conjunta (solidária). Gabarito: alternativa D. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 6 02. (2010/FCC – TRT/8R – Técnico) O servidor público que deixa de acatar as ordens legais de seus superiores e a sua fiel execução, infringe o dever de: (A) conduta ética. (B) eficiência. (C) obediência. (D) lealdade. (E) fidelidade. Comentários: O Estado, como agrupamento politicamente organizado, não passa de uma ficção jurídica, criação humana de representação coletiva. Por essa razão, o Estado não age sozinho, ao revés, precisa da figuração dos agentes públicos. A ordem jurídica a estes confere prerrogativas diferenciadas, a serem utilizadas para o alcance dos interesses coletivos. Esse conjunto de prerrogativas de direito público é reconhecido como Poderes Administrativos. No entanto, enquanto o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado remete à ideia de poderes, o princípio da indisponibilidade do interesse público cria verdadeira imposição de deveres e restrições, formando-se, portanto, o binômio poder-dever de agir. Assim, se para os particulares o exercício do poder é uma faculdade, o uso da competência para os gestores públicos é uma obrigação. Dessa forma, em âmbito público, quem detém poder deve exercitá-lo, sob pena de a omissão acarretar responsabilidade para o Estado. Portanto, evidente que o exercício da função pública é verdadeiro encargo público. Afinal, por protegerem interesses de todos, os agentes públicos, de modo geral, encarregam-se de variados deveres, por exemplo: o de agir, o de obediência, o de prestar contas, o de lealdade, o de eficiência, o de fidelidade, e o de probidade (conduta ética). Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 7 O dever de obediência, para Hely Lopes, impõe ao servidor o acatamento às ordens legais de seus superiores e sua fiel execução. Tal dever resulta da subordinação hierárquica e assenta no princípio disciplinar que informa toda organização administrativa. Por ordens legais entendem-se aquelas emanadas de autoridade competente, em forma adequada e com objetivos lícitos. O cumprimento de ordem ilegal como o descumprimento de ordem legal acarretam para o servidor responsabilidade disciplinar e criminal, conforme seja a lesão causada à Administração ou a terceiros. O dever de prestar contas, por sua vez, é um encargo, um múnus público, imposto a todos aqueles que administram as coisas de terceiros. Na Administração Pública, referido dever ganha ainda mais destaque, afinal os agentes públicos são curadores dos escassos recursos públicos, pertencentes a toda a coletividade. A prestação de contas remete-nos à necessidade de transparência dos atos estatais (administrativos ou de governo), de visibilidade na aplicação dos dinheiros públicos. É cogente para todos os agentes, tanto para os que atuam nas mais comezinhas atribuições públicas, como para os agentes que ocupam a alta cúpula da Administração. Sobre o tema, no parágrafo único do art. 70 da CF, de 1988, encontramos a seguinte redação: Para Hely Lopes, o dever de lealdade com as instituições, também denominado dever de fidelidade, exige de todo servidor a maior dedicação ao serviço e o integral respeito às leis e às instituições constitucionais, identificando-o com os superiores interesses do Estado. Tal dever impede que o servidor atue contra os fins e os objetivos legítimos da Administração, pois que, se assim agisse, incorreria em infidelidade funcional, ensejadora da mais grave penalidade, que é a demissão, vale dizer, o desligamento compulsório do serviço público. Entre esses, o dever de eficiência traduz a ideia da boa administração, de que o agente, além de agir com rapidez, deve ser perfeito e deter bom rendimento funcional. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 8 Tal dever foi, inclusive, elevado a princípio constitucional (art. 37, “caput”, da CF/1988), sendo detectado, entre outros momentos, na: avaliação periódica de desempenho dos servidores, avaliação positiva de desempenho como condição para a aquisição de estabilidade, instituição de Escolas de Governo, e faculdade de celebração de contratos de gestão, neste caso, para incremento da autonomia financeira, orçamentária e patrimonial dos órgãos e entidades do Estado. Por fim, o dever de probidade, traduzido no princípio da probidade, tem previsão expressa no texto constitucional (art. 37, § 4.º, da CF), em Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 9 que a prática de atos de improbidade pode acarretar, por exemplo, a perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos. O dever de probidade exige que os atos dos agentes públicos sejam legítimos, éticos, não sendo suficiente o atendimento da lei formal, mas, sobretudo, a observância da moralidade administrativa e da finalidade pública. Por sua importância, o dever de probidade mereceu, ainda, Lei própria, a Lei 8.429/1992, a qual trata dos atos que geram enriquecimento ilícito, dos que causam prejuízo ao erário, ou ainda daqueles que ferem princípios da Administração. Tais atos ímprobos podem ser invalidados pela própria Administração, o princípio da autotutela, como também, pelo Poder Judiciário, se provocado. Não há dúvida de que os gestores públicos têm sua conduta funcional traçada em leis e em regras de moralidade, portanto, os poderes administrativos são prerrogativas e não privilégios pessoais concedidos aos agentes públicos com objetivo de instrumentalizá-los para o alcance do fim último a que se presta o Estado: a satisfação do interesse público. Gabarito: alternativa C. 03. (2010/FCC – TRE/AC – Técnico) O dever do Administrador Público de prestar contas: (A) aplica-se a todos os órgãos e entidades públicas, exceto aos Tribunais de Contas por serem os órgãos encarregados da tomada de contas dos administradores. (B) aplica-se apenas aos agentes responsáveis por dinheiro público. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br10 (C) não alcança os particulares, mesmo que estes recebam subvenções estatais. (D) não se aplica aos convênios celebrados entre a União e os Municípios, por se tratar de acordo entre entidades estatais. (E) é imposto a qualquer agente que seja responsável pela gestão e conservação de bens públicos. Comentários: O dever de prestar contas é princípio constitucional, encontrado, implicitamente, no parágrafo único do art. 70 da CF, de 1988. Vejamos: Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária. Para Hely Lopes, o dever de prestar contas é decorrência natural da administração como encargo de gestão de bens e interesses alheios. Se o administrar corresponde ao desempenho de um mandato de zelo e conservação de bens e interesses de outrem, manifesto é que quem o exerce deverá contas ao proprietário. No caso do administrador público, esse dever ainda mais se alteia, porque a gestão se refere aos bens e interesses da coletividade e assume o caráter de um múnus público, isto é, de um encargo para com a comunidade. Dai o dever indeclinável de todo administrador público - agente político ou simples funcionário - de prestar contas de sua gestão administrativa, e nesse sentido é a orientação de nossos Tribunais. A prestação de contas não se refere apenas aos dinheiros públicos, à gestão financeira, mas a todos os atos de governo e de administração. Gabarito: alternativa E. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 11 04. (2010/FCC – TRE/AC – Analista Judiciário) Acerca dos poderes e deveres do administrador público, é correto afirmar que: (A) o dever de prestar contas aplica-se apenas aos ocupantes de cargos eletivos e aos agentes da administração direta que tenham sob sua guarda bens ou valores públicos. (B) o agente público, mesmo quando despido da função ou fora do exercício do cargo, pode usar da autoridade pública para sobrepor-se aos demais cidadãos. (C) o poder tem, para o agente público, o significado de dever para com a comunidade e para com os indivíduos, no sentido de que, quem o detém está sempre na obrigação de exercitá-lo. (D) o dever de eficiência exige que o administrador público, no desempenho de suas atividades, atue com ética, honestidade e boa-fé. (E) o dever de probidade traduz-se na exigência de elevado padrão de qualidade na atividade administrativa. Comentários: Segundo os ensinamentos do autor Hely Lopes, o poder administrativo é atribuído à autoridade para remover os interesses particulares que se opõem ao interesse público. Nessas condições, o poder de agir se converte no dever de agir. Assim, se no Direito Privado o poder de agir é uma faculdade, no Direito Público é uma imposição, um dever para o agente que o detém, pois não se admite a omissão da autoridade diante de situações que exigem sua atuação. Eis por que a Administração responde civilmente pelas omissões lesivas de seus agentes. O poder-dever de agir da autoridade pública é hoje reconhecido pacificamente pela jurisprudência e pela doutrina. O poder tem para o agente público o significado de dever para com a comunidade e para com os indivíduos, no sentido de que quem o detém está sempre na obrigação de exercitá-lo, como previsto na alternativa C. A seguir, vejamos os erros nos demais quesitos. O erro da letra “A” é que o dever de prestar contas incide sobre todas as pessoas, físicas ou jurídicas, integrantes da Administração Direta ou Indireta, ou particulares, desde que estes, no caso, tenham sob sua guarda bens ou valores públicos. O erro da letra “B” é que o agente público só detêm prerrogativas públicas para resguardar o interesse da coletividade. O erro da letra “D” é que a atuação com ética, lealdade e honestidade é decorrência do princípio da moralidade ou dever de probidade. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 12 Para a doutrina o dever de eficiência traduz-se na exigência de elevado padrão de qualidade na atividade administrativa, na imposição de que o administrador e os agentes públicos em geral, tenham sua atuação pautada por celeridade, perfeição técnica, economicidade, coordenação e controle. Gabarito: alternativa C. 05. (2004/CESPE/PGE-CE) Os poderes administrativos são instrumentais, sendo utilizados pela administração pública para cumprir suas finalidades. (Certo/Errado) Comentários: Questão rápida e veloz cinco! Os poderes administrativos são instrumentais, diferentemente dos da República (PL, PJ, e PE – estruturais, imanentes da estrutura do Estado). Sem tais poderes, o alcance da finalidade pública ficaria prejudicado, por exemplo: o supermercado „o que não mata engorda‟, vulgo „aqui nada se estraga, tudo se aproveita‟, vem comercializando produtos com um ano (no mínimo) fora da validade. Nesse caso, tem a Administração o poder de interferir nesse tipo de atividade, em proteção da sociedade? Claro que sim, como alcançar o interesse público se não tiver em mãos poder-dever de agir. Portanto, correto o quesito. Gabarito: CERTO 06. (2009/Esaf – MF – ATA) Não se pode enumerar como poder da Administração: a) poder independente. b) poder de polícia. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 13 c) poder hierárquico. d) poder normativo. e) poder disciplinar. Comentários: Veja o esqueminha Sapo-da-Vez! Então, localizou a resposta? Claro que sim! Poderes independentes são os Poderes da República, estruturais e não instrumentais, como o são os poderes da Administração. Ver figura na questão anterior. Gabarito: alternativa A. PODER VINCULADO E DISCRICIONÁRIO Não é difícil percebermos que é impossível a Lei prever todas as condutas a serem adotadas pelo Administrador em face das situações concretas que se apresentam e que exigem pronta solução. Dessa maneira, por vezes, a Lei faculta ao administrador a possibilidade de adotar uma dentre várias (ou pelo menos mais de uma) condutas possíveis, a qual deve estar alinhada ao melhor atendimento do interesse público, o que resulta num juízo discricionário por parte do responsável pelo ato. Mas, atenção: o juízo discricionário de forma alguma pode ser confundido com um “livre arbítrio”. De fato, a Administração Pública, ao contrário dos particulares de modo geral, só pode fazer aquilo que a Lei lhe determina ou autoriza (princípio da legalidade administrativa – art. 37, caput, da CF/1988). Neste último caso (autorização) é que há discricionariedade. Todavia, Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 14 em ambas as situações, a conduta do agente deve estar pautada na Lei, não se admitindo ações que desbordem os limites da Lei. Falta ao administrador público, portanto, a possibilidade de escolher livremente, da forma que melhor entender (livre arbítrio), uma vez que limitado, sempre, pela Lei. Portanto, pode-se afirmar que arbitrariedade é, para a Administração Pública,sinônimo de ilegalidade. A discricionariedade, na visão da maior parte dos estudiosos, é resumida em um binômio: CONVENIÊNCIA E OPORTUNIDADE. A primeira indica em que condições vai se conduzir o agente (o modo de agir deste), a segunda diz respeito ao momento em que a atividade deve ser produzida. Por exemplo: o Poder Legislativo do Município de Divinópolis de Minas autorizou despesas orçamentárias na ordem de 200 milhões de reais, verba distribuída pelas mais diversas rubricas, como, por exemplo, saúde, educação, saneamento. O Prefeito da edilidade, portanto, durante o exercício financeiro, pode executar o orçamento, ressalvadas as vinculações constitucionais. Em que momento o Prefeito determinará a construção da creche? Será que o Prefeito precisa construir escolas ou é preferível a pavimentação das vias públicas? Perceba que, no caso da creche, o Prefeito tem o mês de janeiro, fevereiro, março, (...). Isso mesmo. Ele é quem escolhe o momento, a oportunidade. Já, no caso das escolas e pavimentação, há dois objetos possíveis, cabendo ao Prefeito escolher se é mais Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 15 conveniente a execução das escolas, da pavimentação, ou dos dois programas de trabalho, enfim, o que lhe é mais conveniente. Muito bem, a discricionariedade, portanto, diz respeito à possibilidade de avaliação por parte do agente público quanto à conveniência e à oportunidade de agir. A discricionariedade refere-se, ainda, ao conteúdo dos atos administrativos, ou seja, dois de seus elementos, o objeto e o motivo. Os elementos ou requisitos do ato administrativo são cinco: competência, finalidade, forma, motivo e objeto. Os três primeiros são sempre vinculados, ou seja, sobre estes o agente não possui liberdade quanto à decisão e à forma de agir. Assim, a discricionariedade, quando existente, diz respeito aos dois últimos, Motivo e Objeto, que constituem, em essência, o mérito administrativo, existente nos atos discricionários (apenas para registro: não são os elementos, em si, que constituem o mérito, e sim a condução de tais elementos, o seu manejo). Passemos a um exemplo, tendo em conta a premissa de que é impossível a norma prever todas as condutas a serem adotadas pelo administrador público. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 16 Nos termos da Lei 8.112, de 1990, a licença capacitação poderá ser concedida, a critério da Administração, para que um servidor faça um curso ligado às atribuições de seu cargo. A expressão, a critério da Administração, faz com que esta possa, por razões evidentes, decidir se numa circunstância fática qualquer dará ou não a licença pleiteada pelo servidor, ou seja, decidir o conteúdo ou objeto do ato: defere ou não o pedido de licença? Fica a critério da Administração. Contudo, apesar da liberdade dada ao administrador nos atos administrativos discricionários, não há uma liberdade sem limites. Podemos citar alguns limites quanto à concessão da licença capacitação: I) Apontados pela Lei, nos termos do art. 87: curso ligado às atribuições do cargo, com duração de até três meses, e II) No caso de indeferimento do pedido, a necessidade de se motivar o ato denegatório, em razão do princípio da motivação dos atos da Administração Pública. Em suma, a discricionariedade não é liberdade ampla e irrestrita. Ao contrário disso, a Administração sempre contará com limites no seu agir, de modo explícito ou implícito. Basicamente, seguindo a doutrina de Maria Sylvia, podemos apontar que há discricionariedade para a Administração Pública nas seguintes situações: I) A própria lei concede a possibilidade à Administração de agir de forma discricionária, como no caso de remoção de ofício do servidor, para atender necessidade de serviço; II) A lei é omissa, dado que não há viabilidade de se prever por meio de normas de cunho geral e abstrato todas as hipóteses que surgirão para a decisão administrativa; III) A lei prevê certa competência, mas não a conduta a ser adotada, diante de determinada situação. Melhor exemplo a ser dado no que se a este caso é em matéria de poder de polícia, para o exercício do qual é impossível traçar todas as condutas possíveis diante de lesão ou ameaça de lesão à vida, à segurança pública. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 17 Muitos doutrinadores afirmam haver discricionariedade por parte da Administração quando esta faz interpretação de conceitos jurídicos indeterminados. Legal, mas o que são conceitos jurídicos indeterminados? Os livros de Direito Administrativo costumam indicar a existência de três modalidades de conceitos jurídicos indeterminados: técnicos, empíricos ou de experiência e de valor. Tais conceitos são estabelecidos pelo legislador, porém, de forma imprecisa, incerta, fluida, conceitos dotados de largueza e ambiguidade, garantindo-se, nesse sentido, ao lado de uma zona de certeza, uma zona cinzenta ou zona gris – de penumbra, com a existência de conceitos plurissignificativos, elásticos (leia-se: não exatos e não matemáticos), como, por exemplo, os requisitos de relevância e urgência presentes para a edição de medidas provisórias. Os técnicos, apesar de aparentemente fluidos, não garantem margem de manobra para os administradores. Por exemplo: o que é um prédio em ruínas? Caberia a contratação direta ou sem licitação para sua reforma, sob pena da ocorrência de uma calamidade pública? Perceba a existência de certa imprecisão, contudo, depois da emissão do laudo técnico pelo setor de engenharia responsável, restará uma única solução por parte do agente público. Da mesma forma, os conceitos empíricos ou de experiência, por exemplo: bons antecedentes e força maior, não oferecem flexibilidade aos gestores públicos. Diante do caso concreto, haverá uma única solução cabível. Por fim, os conceitos de valor, por exemplo: interesse público, moralidade administrativa, relevância e urgência. Esses conceitos possibilitam certa margem de discricionariedade, distintamente dos técnicos e dos empíricos. Por exemplo: a Lei 10.520/2002 determina que a modalidade de licitação pregão se destine à aquisição de bens e serviços “comuns”. Mas o que seria o “comum”, para a Lei? Assim, em casos como Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 18 este, de conceitos imprecisos - indeterminados, caberia uma interpretação por parte da Administração com certa margem de liberdade, daí dizer, discricionária, para parte da doutrina. Por fim, registro que, contraposto ao Poder Discricionário, existe um Poder denominado, por parte da doutrina, de vinculado ou regrado, que seria aquele conferido por Lei à Administração para a prática de atos nos quais a liberdade de atuação é mínima, ou mesmo inexiste. Por exemplo: A servidora pública Regiane, Fiscal Tributário, teve um segundo filho. Qual é a margem de discricionariedade da Administração em indeferir a licença gestante, e indeferir a licença paternidade do pai “Esponja”, igualmente servidor público? ZERO! Inexiste. Agora, o servidor da Receita,Sapo-da-Vez, depois de doze meses de efetivo exercício (primeiro ano na Receita), requer férias. Então, tem direito a férias? Claro que sim! Pode o chefe indeferir? Claro que não! Porém, o chefe pode denegar o pleito para o mês de julho, se houver um número insuficiente de servidores na repartição! Enfim, o ato é vinculado, mas há mínima margem de discricionariedade, de oportunidade. Nos atos vinculados, todos os elementos que o compõem encontram expressa previsão legal, sendo que o órgão/entidade responsável pela prática do ato não goza de liberdade para implementação dos atos vinculados, para os quais haveria uma única saída prevista na Lei, por esta determinada. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 19 Em razão disso, alguns outros autores consideram que não existe “Poder Vinculado”, uma vez que este não encerra prerrogativa do Poder Público, mas mera restrição à atuação administrativa. Finalizo com a informação de que, para determinados autores, da mesma forma que a vinculação, a discricionariedade não seria um Poder, em si, mas também uma característica da atuação da Administração Pública no exercício dos seus reais Poderes Administrativos, o Disciplinar, o Normativo, o Hierárquico e o de Polícia. Passemos, agora, à resolução de algumas questões. 07. (2005/CESPE/ANCINE/ADVOGADO) Poder discricionário é o que o direito concede à administração, de modo explícito ou implícito, para a prática de atos administrativos com liberdade na escolha de sua conveniência, oportunidade e conteúdo. (Certo/Errado) Comentários: Como sobredito, a Administração Pública de quaisquer das entidades públicas políticas e administrativas é dotada de poderes administrativos, verdadeiras ferramentas de trabalho para a efetivação do interesse da coletividade. Entre tais prerrogativas, destacam-se os poderes: vinculado, regulamentar, hierárquico, disciplinar e discricionário. Relativamente à função discricionária, a doutrina conceitua-a como a prerrogativa concedida por lei aos administradores, de forma expressa ou implícita, para a prática de atos com maior liberdade de escolha de sua conveniência, oportunidade e justiça. Exatamente como apresentado no quesito ora em análise, daí sua correção. Gabarito: CERTO 08. (2004/Esaf – Analista Administrativo – MPU) Os poderes vinculado e discricionário, simultaneamente, podem ser exercidos pela autoridade administrativa, na prática de um determinado ato, ressalvado que esse último se restringe à conveniência e oportunidade, bem como quanto: Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 20 a) ao conteúdo. b) à forma. c) à finalidade. d) à competência. e) ao modo. Comentários: Para a resolução dos casos concretos, a lei deixa margem de valoração subjetiva quanto aos elementos de formação motivo e objeto/conteúdo, afinal ao legislador não é dado prever todas as hipóteses a exigir a atuação da Administração. O exercício da função administrativa, no entanto, é sempre relativo e parcial, isso porque atos discricionários praticados por agentes incompetentes e informados por finalidades estranhas ao interesse público, por arbitrários, são nulos e ilegítimos. Assim, a discricionariedade administrativa não é ilimitada, havendo restrições advindas dos princípios gerais do Direito e das regras de boa administração, as quais deságuam nos preceitos da moralidade administrativa. Nesse contexto, resta patente a relação entre a discricionariedade e a moralidade administrativa. De acordo com o princípio da moralidade, aos administradores não é dado só se certificarem dos critérios de conveniência e de oportunidade, mas também distinguir o honesto do desonesto, o justo do injusto. As soluções escolhidas pelos administradores devem ser realistas e razoáveis, concorrendo efetivamente para o alcance de resultados legítimos. Gabarito: alternativa A. 09. (2010/FCC - MPA - Agente Administrativo) Sem determinadas prerrogativas aos agentes administrativos não poderia o Estado alcançar os fins a que se destina. Essas prerrogativas são exatamente os poderes administrativos. A lei não é capaz de traçar rigidamente todas as condutas de um agente administrativo. Ainda que procure definir alguns elementos que lhe restringem a atuação, o certo é que em várias situações a própria lei lhes oferece a possibilidade de valoração da conduta. Pode o agente avaliar a conveniência e a oportunidade dos atos que vai praticar na qualidade de administrador dos interesses coletivos. Nessa prerrogativa de valoração é que se situa o: A) Poder de polícia. B) Poder discricionário. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 21 C) Poder arbitrário. D) Poder regulamentar. E) Poder de formalização. Comentários: Questão de fixação. A questão é resolvida a partir da leitura atenta do enunciado, especialmente do seguinte trecho: “(...) o certo é que em várias situações a própria lei lhes oferece a possibilidade de valoração da conduta. Pode o agente avaliar a conveniência e a oportunidade dos atos que vai praticar na qualidade de administrador dos interesses coletivos.” Possibilidade de valoração. Conveniência e oportunidade. Tais expressões formam o núcleo do poder discricionário. Gabarito: alternativa B. 10. (2004/Esaf – Controladoria Geral da União – CGU) O mérito administrativo, na atuação do administrador público, cujo controle jurisdicional sofre restrições, condiz em particular com o exercício regular do seu poder: a) disciplinar b) hierárquico c) de polícia d) discricionário e) vinculado Comentários: O mérito administrativo é a margem de conveniência e oportunidade garantida por lei aos administradores, presente nos atos discricionários (alternativa D). E, a fim de não ficar comprometido o princípio da Separação dos Poderes, fica vedado ao Poder Judiciário imiscuir-se no mérito. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 22 Agora, se os administradores se desviarem desse roteiro, executando atos que, apesar de discricionários, visem a objetivos diversos do interesse público, incidirão em imoralidade por desvio de finalidade/poder, vício que tanto pode ser reconhecido pela própria Administração, como pelo Poder Judiciário. Gabarito: alternativa D. 11. (2010/FCC – TRT/8R – Analista/Judiciária) A liberdade de escolha quanto à oportunidade e conveniência do ato administrativo praticado nos limites da lei insere-se no âmbito da: Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 23 (A) arbitrariedade. (B) discricionariedade. (C) vinculação. (D) imperatividade. (E) regulamentação. Comentários: Questão de reforço. A margem de conveniência e oportunidade é característica do poder discricionário. Abaixo, um quadro-resumo distintivo entre poder discricionário e poder regrado. Gabarito: alternativa B. 12. (2004/Esaf – Analista Processual – MPU) Com referênciaà discricionariedade, assinale a afirmativa verdadeira. a) A discricionariedade manifesta-se, exclusivamente, quando a lei expressamente confere à administração competência para decidir em face de uma situação concreta. b) O poder discricionário pode ocorrer em qualquer elemento do ato administrativo. c) É possível o controle judicial da discricionariedade administrativa, respeitados os limites que são assegurados pela lei à atuação da administração. d) O princípio da razoabilidade é o único meio para se verificar a extensão da discricionariedade no caso concreto. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 24 e) Pela moderna doutrina de direito administrativo, afirma-se que, no âmbito dos denominados conceitos jurídicos indeterminados, sempre ocorre a discricionariedade administrativa. Comentários: Vamos direto às análises. A resposta é letra C. O controle judicial incide sobre os atos vinculados e discricionários da Administração Pública. Quanto à incidência sobre os atos discricionários, o controle deve ser limitado, afinal há uma região que é intocável, o tal mérito administrativo, uma reserva da Administração. Vejamos, abaixo, os erros nos demais quesitos. a) A discricionariedade manifesta-se, exclusivamente, quando a lei expressamente OU IMPLICITAMENTE confere à administração competência para decidir em face de uma situação concreta. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 25 b) O poder discricionário NÃO pode ocorrer em qualquer elemento do ato administrativo. d) O princípio da razoabilidade é o único meio para se verificar a extensão da discricionariedade no caso concreto, MAS NÃO É O ÚNICO MEIO, HÁ OUTROS PRINCÍPIOS, COMO LEGALIDADE, PROPORCIONALIDADE, POR EXEMPLO. e) Pela moderna doutrina de direito administrativo, afirma-se que, no âmbito dos denominados conceitos jurídicos indeterminados, sempre NEM ocorre a discricionariedade administrativa, ISSO PORQUE, NOS CONCEITOS TÉCNICOS E EMPÍRICOS, NÃO HÁ DISCRICIONARIEDADE. ESTA RESIDE APENAS NOS CONCEITOS DE VALOR. Gabarito: alternativa C. PODER REGULAMENTAR Como sobredito, não há como o legislador prever todas as soluções a serem adotadas em face das situações reais enfrentadas pela Administração Pública. Ao legislador não cabe tornar exequível todas as normas que edite. A tarefa tornar-se-ia onerosa, e assim com desvirtuamento do sentido de abstração e de generalidade inerente das Leis. Logo, incumbe à Administração complementar as leis, criando os mecanismos para seu efetivo alcance. Essa é a principal característica do Poder Regulamentar, o qual pode ser entendido como a prerrogativa dada à Administração Pública (mais precisamente Chefe do Executivo) de editar atos gerais para complementar as leis e permitir sua efetiva concretização. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 26 Alguns autores preferem falar em Poder Normativo em vez de Poder Regulamentar, uma vez que este representa, para estes autores, apenas uma das formas pelas quais se expressa aquele (normativo), coexistindo com outras. O Poder Regulamentar, no essencial, seria exercido pelos Chefes do Executivo. Com efeito, a CF/1988 dispõe no inc. IV do art. 84 que compete ao Presidente da República privativamente, dentre outras atribuições: sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução. Todavia, a produção de atos administrativos normativos também pode ser feita por outras autoridades, órgãos ou entidades. Os Ministros de Estado, por exemplo, podem editar atos normativos (inc. II do art. 87 da CF/1988). Quanto às entidades, não há mais dúvida que as Agências Reguladoras, por exemplo, podem editar normativos em suas áreas de atuação (o tal Poder Normativo Técnico). Daí por que alguns professores preferem a expressão Poder Normativo, no lugar de Regulamentar, este privativo dos Chefes do Executivo. No que consistiria, então, a diferença dos normativos administrativos, para as Leis? De início, que tal lembrarmos a semelhança entre ambos? São normas, não é verdade? Todavia, as Leis são normas originárias, criando, de regra, o direito novo. Isso se dá com as Leis, sobretudo no que diz respeito à criação de novas obrigações, em razão de disposição constitucional expressa, o inc. II do art. 5º da CF/88, que dispõe: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de LEI. De sua parte, os atos normativos administrativos possuem natureza derivada, são atos secundários, uma vez que deverão estar adstritos aos limites que lhes impõem as Leis. Como exemplo do que se afirma, releiam o inc. IV do art. 84 da CF/1988: os decretos editados pelo Presidente da República serão expedidos para fiel cumprimento das Leis, as quais lhe constituem limite, portanto. Assim, resta patente que os decretos constituem uma das formas de expressão do Poder Normativo da Administração Pública, assim como o são as Resoluções, as Instruções, Portarias e Deliberações, Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 27 desde que dotadas de caráter normativo, ou seja, genéricas e abstratas. Opa, quase passa (batido!): a figura dos Decretos Autônomos. Então, a Administração Pública pode adotar atos administrativos autônomos com relação às Leis? O certo é que os decretos/regulamentos de execução são regras jurídicas gerais, abstratas e impessoais, concebidas em função de uma lei, para lhe dar fiel execução e referentes à atuação da Administração. No âmbito federal, a competência para expedição desses decretos é do Presidente da República (art. 84, inc. IV), sendo tal competência indelegável (parágrafo único do art. 84). Fundamento básico para a edição de decretos de execução é que estes devem ser editados em função de uma Lei que futuramente exigirá a participação da Administração na sua efetivação. Assim, não seria razoável, ou mesmo legal, a Administração, sob a argumentação de estar no exercício do Poder Regulamentar, expedir decretos de execução em razão de normas que nada tem a ver com o exercício de suas atribuições, tais como alguns dispositivos de Direito Comercial, por exemplo. Já os Decretos Autônomos foram reintroduzidos em nossa ordem jurídica por intermédio da Emenda Constitucional 32/2001. A partir da promulgação desta, compete ao Presidente da República dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 28 b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos. Ressalto que, a despeito do que estabelece a alínea “a”, a criação e extinção de Ministérios e órgãos da Administração Pública continua a depender de Lei (art. 88 da CF – reserva legal). São duas situações distintas, então: tratando-se de organização/funcionamento da administraçãofederal (alínea “a”), competência do Presidente da República, por meio de decreto autônomo, competência que é delegável, nos termos do art. 84, parágrafo único da CF/1988; já a criação/extinção de Ministérios é matéria a ser tratada em LEI. Hoje, para fins de concurso público, deve ser aceita a existência de Decretos Autônomos tão só nas hipóteses listadas acima. Mas, em que residiria a autonomia desses atos administrativos? A “autonomia” vem do Decreto dessa natureza não se ater aos limites postos por uma Lei, como no caso dos regulamentares, mas de se arvorar diretamente no texto constitucional, ou seja, de irem além da lei (praeter legem) e não só até os limites desta (secundum legem). Agora é “pra” valer! Vamos às questões. 13. (2010/FCC – TCE/RO – Procurador) O poder normativo conferido à Administração Pública compreende a (A) edição de decretos autônomos para criação e extinção de órgãos públicos, na medida em que são tradução de seu poder de auto- organização. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 29 (B) edição de atos normativos de competência exclusiva do Chefe do Executivo, tais como, decretos regulamentares, resoluções, portarias, deliberações e instruções. (C) promulgação de atos normativos originários e derivados, sendo os primeiros os regulamentos executivos e os segundos, os regulamentos autônomos. (D) promulgação de atos legislativos de efeitos concretos, desde que se refiram a objeto passível de ser disposto por meio de decreto regulamentar. (E) edição de decretos autônomos, restringindo-se estes às hipóteses decorrentes de exercício de competência própria, outorgada diretamente pela Constituição. Comentários: Questão bem interessante! Como sobredito, os Decretos editados pelo Presidente da República constituem apenas um dos meios mediante o qual se expressa o Poder Normativo da Administração Pública, o qual também se manifesta mediante Resoluções, as Instruções, Portarias e Deliberações, desde que dotadas de caráter normativo. Veja o exemplo do Conselho Nacional de Justiça. A respeito, segue o entendimento do STF, na ADC 12: São exemplos de atos normativos primários, estruturados a partir da linguagem do Texto Constitucional: resoluções do Senado Federal (art. 52, VII, VIII e IX e art. 155, § 2º, V, alíneas a e b, todos da Constituição Federal); medidas provisórias (art. 62 da Constituição Federal); decreto - regulamento autônomo – (art. 84, VI, a da Constituição Federal); resolução do Conselho Nacional de Justiça (art. 103-B, II da Constituição Federal); regimento internos dos tribunais (art. 96, I, alínea a da Constituição Federal). Para o ministro Carlos Ayres Britto os regimentos internos dos Tribunais possuem natureza dúbia, porquanto podem ter natureza de atos primários, quando dispõem sobre competência e funcionamento dos órgãos jurisdicionais e administrativos de cada qual deles (tribunais); e de atos secundários, quando dispuserem sobre o dever de observância das normas de processo e das garantias processuais das partes. Em sendo assim, os órgãos constitucionais que foram aquinhoados com a possibilidade de editar estes instrumentos jurídicos são detentores da chamada competência para expedir atos normativos primários, atos que podem inovar no ordenamento jurídico independentemente da existência de interposto texto legal, uma vez que o Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 30 fundamento de validade para edição de tais atos primários advém da própria Carta Republicana. Além dos decretos regulamentares ou executivos, expedidos nos termos do inc. IV do art. 84 da CF, de 1988, revimos que o chefe do Executivo é, hoje, competente para a edição de Decretos Autônomos ou independentes. Tais decretos não são simplesmente regulamentares, ao revés, inovam no ordenamento jurídico. Obviamente, o campo de atuação do Executivo foi delimitado pela CF, de 1988 (art. 84, VI, da CF, de 1988), só podendo ser expedido em duas situações bem nítidas. A primeira delas é para a extinção de cargos ou funções, desde que vagos. A segunda é para a organização e funcionamento da Administração, desde que não implique aumento de gastos ou criação/extinção de órgãos e entidades. A partir destas considerações preambulares, chegamos, facilmente, à alternativa E. A seguir, vejamos os erros nos demais quesitos. (A) edição de decretos autônomos para criação e extinção de órgãos públicos PARA A ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, na medida em que são tradução de seu poder de auto-organização. (B) edição de atos normativos de competência exclusiva do Chefe do Executivo, tais como, decretos regulamentares, resoluções, portarias, deliberações e instruções, AFINAL RESOLUÇÕES, PORTARIAS E INSTRUÇÕES SÃO ATOS PRIVATIVOS DE AUTORIDADES AUXILIARES DO EXECUTIVO OU DE AUTORIDADES DOS DEMAIS PODERES DA REPÚBLICA, COMO, POR EXEMPLO, AS RESOLUÇÕES DO SENADO FEDERAL PARA A ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS INTERNOS E O REGIMENTO INTERNO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 31 (C) promulgação de atos normativos originários e derivados, sendo os primeiros os regulamentos executivos AUTÔNOMOS e os segundos, os regulamentos autônomos EXECUTIVOS. (D) promulgação de atos legislativos de efeitos concretos, desde AINDA que NÃO SE refiram a objeto passível de ser disposto por meio de decreto regulamentar. Gabarito: alternativa E. 14. (2005/CESPE/MA-MT/PROMOTOR) Para alguns estudiosos, a Emenda Constitucional n.º 32/2001 deu ao presidente da República o poder de baixar os chamados decretos autônomos, dentro de certos limites. Independentemente dessa discussão, é certo que o chefe do Poder Executivo, ao baixar decretos para dispor acerca da organização e do funcionamento da administração federal, continua submetido ao princípio da legalidade e não pode, por exemplo, criar nem extinguir órgãos públicos. (Certo/Errado) Comentários: Então, entendeu bem a história dos decretos autônomos? Espero, sinceramente, que sim, pois costuma ser item certo de prova. Em todo caso, trouxe “pra” vocês uma questão estilo “tiro-rápido” (Certo/Errado). Em capítulo reservado à Administração Pública, a Constituição Federal de 1988 (CF/1988) registra expressamente alguns princípios, entre os quais: a moralidade, a publicidade, a eficiência e a legalidade. Entre esses fundamentos, a legalidade administrativa determina que a atuação dos administradores seja pautada em lei formal, isto é, só podem agir ou deixar de agir se houver autorização ou permissão em lei. No entanto, essa não é uma regra sem exceções. Entre as atenuações ao princípio da legalidade formal, a Emenda Constitucional 32/2001 reintroduziu a figura do Decreto Autônomo ou Independente, reservando ao Chefe do Executivo Federal o tratamento de determinadas matérias via decreto. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 32 A chamada Reserva da Administração exercida pelo Chefe do Executivo Federal, nos termos do art. 84, VI, da CF/1988, por excepcional, deverá se adstringir à organização e funcionamento da AdministraçãoPública e à extinção de cargos e de funções. Todavia, a expedição do decreto, nesses casos, sofre restrições. Em nome do princípio da reserva legal, não é cabível sua edição para o aumento de despesas e para a criação/extinção de órgãos/entidades, bem como para a extinção de funções ou de cargos ocupados. Daí a correção do quesito. Gabarito: CERTO 15. (2007/CESPE/PGE/TÉC. EM ADM) Os atos normativos editados com base no poder regulamentar ou de regulação da administração são primários. (Certo/Errado) Comentários: É uma questão muito interessante! Por isso, decidi “recorrer” ao Cespe. Perceba, de pronto, que a ilustre organizadora diferenciou os atos decorrentes do poder regulamentar e os da regulação. É que alguns autores têm entendido que a regulação, por seu relevo, deve ser tratada como uma atividade à parte das tradicionais atividades de Administração Pública (serviços públicos, fomento, polícia administrativa e intervenção). Para outros, porém, o exercício do Poder Regulamentar seria exclusivo dos Chefes do Executivo, enquanto o Poder Normativo seria difundido por toda a Administração Pública. Para não deixar margem para recursos, o examinador optou pela distinção. Bom, superada essa ligeira “preliminar”, passemos ao conteúdo do item em si. Como já falado, não é qualquer ato administrativo normativo que inova na ordem jurídica. A originariedade costuma ser atributo próprio das Leis. A Administração não pode a pretexto de regulamentar norma, criar direito novo, introduzindo novidade no mundo jurídico, dado que este papel cabe ao Legislativo, este sim, possuidor da prerrogativa de produzir novidades jurídicas, em razão do que dispõe o inc. II do art. 5º da CF/1988. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 33 Inclusive, nos termos do art. 49, V, da CF/1988, em caso de o Decreto exorbitar o conteúdo da Lei, caberá exclusivamente ao Congresso Nacional sua sustação. Dessa forma, os atos normativos administrativos são atos derivados, que deverão estar adstritos aos limites que lhe estabelecem as Leis. Por isso, o erro da questão. Quanto aos atos de regulação, há muita discussão na doutrina sobre a natureza primária ou derivada. Porém, para o STF, o poder normativo técnico das agências reguladoras, por exemplo, apesar de maior discricionariedade comparativamente aos decretos regulamentares, o entendimento é de que não inovam! Gabarito: ERRADO 16. (2010/FCC - ALESP/SP - Técnico Especializado/Direito) O poder regulamentar atribuído pela Constituição Federal ao Chefe do Executivo o autoriza a editar normas (A) complementares à lei, para sua fiel execução, não se admitindo a figura do regulamento autônomo, exceto para matéria de organização administrativa, incluindo a criação de órgãos e de cargos públicos. (B) autônomas em relação a toda e qualquer matéria de organização administrativa e complementares à lei em relação às demais matérias. (C) complementares à lei, para sua fiel execução, não sendo admitida a figura do regulamento autônomo, exceto no que diz respeito à matéria de organização administrativa, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgão público, bem como para extinção de cargos ou funções, quando vagos. (D) complementares à lei, para sua fiel execução, não se admitindo a figura do regulamento autônomo, exceto para matérias relativas a organização administrativa e procedimento disciplinar de seus servidores. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 34 (E) complementares à lei, para sua fiel execução, não se admitindo, em nenhuma hipótese, o poder normativo autônomo, ainda que em matéria afeta à organização administrativa. Comentários: Primeiro, vejamos, pelos esquemas do amigo Sapo-da-Vez, as espécies de Decretos. Isso mesmo. Nem sempre os Decretos dos chefes dos Executivos são atos normativos, portanto, dotados de generalidade e abstração. Segundo Hely Lopes, os decretos individuais ou especiais são todos aqueles que se dirigem a destinatários certos, criando-lhes situação jurídica particular. O mesmo ato pode abranger um ou vários sujeitos, desde que sejam individualizados, sendo classificados, nessa ordem, em individual singular e individual plúrimo. São atos individuais os decretos de desapropriação, de nomeação, de exoneração, assim como as outorgas de licença, permissão e autorização, e outros mais que conferem um direito ou impõem um encargo a determinado administrado ou servidor. Outra espécie de decretos são os regulamentares ou gerais. Para Hely Lopes, os atos gerais são aqueles expedidos sem destinatários Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 35 determinados, com finalidade normativa, alcançando todos os sujeitos que se encontrem na mesma situação de fato abrangida por seus preceitos. São atos de comando abstrato e impessoal, semelhantes aos da lei, e, por isso mesmo, revogáveis a qualquer tempo pela Administração, mas inatacáveis por via judicial, a não ser pela representação de inconstitucionalidade. Para o autor, os atos gerais, quando de efeitos externos, dependem de publicação no órgão oficial para entrar em vigor e produzir seus resultados jurídicos, pois os destinatários só ficam sujeitos às suas imposições após essa divulgação. Nos Municípios que não tenham órgão para suas publicações oficiais os atos gerais devem ser afixados na Prefeitura, em local acessível ao público, para que possam produzir seus regulares efeitos. Para Diógenes Gasparini, os regulamentos autônomos ou independentes são aqueles editados pelo chefe do Executivo para dispor sobre matérias constitucionalmente reservadas ao Executivo. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 36 Os regulamentos autorizados, também chamados de delegados ou habilitados, são editados pelas autoridades competentes para o provimento de matéria reservada à lei. Segundo Gasparini, não se podem delegar atribuições delegadas. O Legislativo, que recebeu sua atribuição por delegação do povo, não a pode delegar. A Constituição, quando permite a delegação, o faz expressamente, como acontece no art. 68 (delegação para elaborar leis). Prontos? Vamos aos quesitos. (A) complementares à lei, para sua fiel execução, não se admitindo a figura do regulamento autônomo, exceto INCLUSIVE para matéria de organização administrativa, incluindo EXCETO a criação de órgãos e de cargos públicos. (B) autônomas em relação a toda e qualquer À matéria de organização administrativa, COM RESTRIÇÕES CONSTITUCIONAIS, e complementares à lei em relação às demais matérias. (C) complementares à lei, para sua fiel execução, não sendo admitida a figura do regulamento autônomo, exceto no que diz respeito à matéria de organização administrativa, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgão público, bem como para extinção de cargos ou funções, quando vagos. (D) complementares à lei, para sua fiel execução, não se admitindo a figura do regulamento autônomo, exceto para matérias relativas a organização administrativa e procedimento disciplinar de seusservidores EXTINÇÃO DE CARGOS OU FUNÇÕES, QUANDO VAGOS. (E) complementares à lei, para sua fiel execução, não se admitindo, em nenhuma hipótese, o poder normativo autônomo, ainda que EXCETO em matéria afeta à organização administrativa E EXTINÇÃO DE CARGOS OU FUNÇÕES, QUANDO VAGOS. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 37 Gabarito: alternativa C. 17. (2010/FCC – TRT/8R – Analista/Administrativa) O Poder Legislativo aprova lei que proíbe fumar em lugares fechados, cujo texto prevê o seu detalhamento por ato do Poder Executivo. Sancionando a Lei, o Chefe do Poder Executivo edita, imediatamente, decreto detalhando a aplicação da norma, conforme previsto. Ao fazê-lo o Chefe do Poder Executivo exerce o poder (A) disciplinar. (B) regulamentar. (C) discricionário. (D) de polícia. (E) hierárquico. Comentários: Isso aí. Mais uma questão versando sobre o poder regulamentar. O poder regulamentar possui, ao lado de seu fundamento jurídico, um fundamento político, consistente na conveniência e oportunidade que se reconhece ao Poder Executivo para orientar a administração pública em relação a pormenores inerentes à execução da lei. De fato, é uma opção política do Legislador “abrir mão” de parte de sua competência de elaborar Leis gerais e abstratas, deixando a cargo do administrador que desça aos detalhes necessários à aplicação destas. Aliás, é assim em razão da própria separação de funções, consagrada no texto da CF/1988 (art. 2º: Poderes Independentes e harmônicos entre si, o Executivo, Legislativo e o Judiciário). O administrador público e não o Legislador é quem conhece melhor os problemas práticos do dia a dia da Administração, e, por isso, em alguns casos, melhor deixar ao seu encargo o detalhamento quanto a melhor aplicação das Leis. Ilustro a situação, com um exemplo que se encaixa em nosso curso: a tal modalidade de licitação Pregão. O Pregão é uma modalidade de licitação que se destina à AQUISIÇÃO (alienação NUNCA) de bens e serviços comuns (Lei 10.520/2002). Mas, o que seriam bens e serviços COMUNS? A Lei não os define com precisão cirúrgica, restando ao administrador público fazê-lo. Em âmbito federal, o maior desses administradores, o Presidente da República, editou o Decreto 3.555/2000, o qual traz uma lista exemplificativa (não taxativa, não fechada) de bens e serviços comuns, facilitando o entendimento dos conceitos indeterminados contidos na Lei (a execução dos pormenores). Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 38 Mas por que a Lei não poderia descer a esses pormenores? Em síntese, por duas razões: I) o administrador é quem tem conhecimento dos detalhes do funcionamento administrativo de rotina. Ele, portanto, quem conhece o que merece ser esclarecido de forma mais pormenorizada; II) se a Lei for por demais detalhada, rapidamente cairá em desuso. Se a Lei fixa o que é comum, por exemplo, o que ficasse de fora seria “incomum”. Só que o que não é comum hoje, pode ser amanhã. Exemplo disso: alguns bens de informática, como teclado, monitor, CPU, etc. há vinte anos, absolutamente não comuns. Não caberia, por conseguinte, pregão para estes (até mesmo por que esta modalidade foi criada bastante depois...). Hoje, bastante comuns, cabendo, portanto, o pregão. Se a Lei tivesse definido o que deveria ser entendido por comum e tivesse deixado de fora bens de informática, não poderíamos ter pregão para os ditos bens. Todas as vezes que fosse alterado o entendimento quanto ao que é comum, teríamos de ter uma alteração na Lei que trata da matéria, com todo o rito formal previsto na CF. Imagina a confusão... É por uma questão prática que se deixam alguns detalhes para regulamentação pela Administração Pública, a “Lei em seus pormenores necessários à execução”. Ressalto, todavia, que o Legislador não pode, sob pena de ofensa ao princípio de separação dos poderes, atribuir in totum (integralmente) competência legiferante ao Executivo, ou seja, não pode dizer a este: LEGISLA! Nessa situação, ocorreria uma delegação legislativa “em branco” (seriam “decretos autorizados”), tida por inconstitucional pelo STF, e, assim, inaceitável em nosso sistema jurídico, em matéria administrativa. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 39 Mesmo naquelas matérias de alta dose de tecnicidade, a delegação concedida para a Administração regulamentá-las deverá ser limitada. Assim, o Legislativo poderia, por exemplo, determinar regras básicas, enquanto à Administração caberia a regulamentação técnica, de maior detalhamento, o procedimental em si, de acordo com parâmetros estabelecidos na norma. A Administração não pode, portanto, a pretexto de regulamentar norma, criar direito, introduzindo novidade no mundo jurídico, dado que este papel cabe ao Legislativo, este sim, possuidor da prerrogativa de produzir novidades jurídicas. Gabarito: CERTO 18. (2007/NCE/TFAZ/MG) Um dos poderes administrativos reconhecidos pela doutrina é o regulamentar. Sobre o tema, analise as seguintes afirmativas: poderes: I. O regulamento tem como limite a lei, competindo ao Poder Legislativo anular ou revogar os atos do Poder Executivo que exorbitam do poder de regulamentação. II. O regulamento é ato típico do Chefe do Poder Executivo nas diversas esferas de governo. III. O direito público no Brasil não admite a expedição de decreto autônomo para disciplinar matérias sujeitas à reserva legal. São verdadeiras somente as afirmativas: (A) I e II; (B) I e III; (C) II e III; (D) I, II e III; (E) nenhuma. Comentários: De regra, quanto maior o conteúdo, maior são as chances de galgarmos uma vaga em concurso público. As leis em sentido material, ou seja, com atributos de generalidade, de novidade, e de abstração, muitas das vezes pecam pela grande generalidade e abstração, tornando sua letra, sua redação, de difícil entendimento (até cumprimento). Assim, incumbe à Administração, então, complementar as leis, criando os mecanismos para sua efetiva implementação. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 40 Essa característica de esmiuçar, de explicitar, de pormenorizar, o conteúdo das leis, é a principal característica do Poder Regulamentar, o qual pode ser entendido como a prerrogativa dada à Administração Pública de editar atos gerais para complementar as leis e permitir sua efetiva implementação. Alguns autores preferem falar em Poder Normativo em vez de Poder Regulamentar, uma vez que este representa apenas uma das formas pelas quais se expressa aquele, coexistindo com outras. Trocando em miúdos. Quem administra no Brasil? Apenas o Executivo? Obviamente não. Todos os Poderes administram, embora de forma atípica, logo, seria inconcebível pensar em uma estrutura administrativa dentro, por exemplo, do Supremo Tribunal Federal, sem a edição de atos normativos que regessem as atividades internas. Por essa razão, o Poder Normativo aparece como gênero do qual o Poder Regulamentar não passa de espécie. Agora que repetida a “historinha” do Poder Regulamentar, vamos aosquesitos. Item I – INCORRETO. Esse é o único item incorreto. Os decretos de execução não podem inovar no ordenamento jurídico, cumprem o papel de tão-somente regulamentar as leis, não podendo exorbitar o seu comando, competindo exclusivamente ao Congresso Nacional sustar sua execução, nos termos do art. 49, inc. V, da CF/1988. O ato de sustação não se confunde com revogação ou com anulação, refere-se ao ato de levantar os efeitos, a eficácia da norma. Item II – CORRETO. Como decorre do art. 84, inc. IV, da CF/1988. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 41 Item III – CORRETO. É verdade, os decretos autônomos não funcionam como carta branca ao Executivo, em outros termos, encontra restrições, assuntos que só lei pode tangenciar (princípio da reserva legal), como é o exemplo da criação e da extinção de órgãos públicos, de aumento remuneratório aos servidores públicos. Gabarito: alternativa C 19. (2006/CESPE/ANA/ANALISTA ADM.) Regulamentos ou resoluções do Poder Executivo Federal não poderão ser invalidados pelo Poder Judiciário por via da ação direta de inconstitucionalidade quando contrariarem a Constituição Federal, uma vez que esse instrumento só é aplicável quando uma lei violar a Constituição. (Certo/Errado) Comentários: A regra é que os atos normativos (e também os não normativos) devem ser praticados sem vícios. Nesse sentido, levando em conta a regra geral, verifica-se a existência de uma série de instrumentos ou mecanismos que visam coibir a prática nociva de se editar atos ilegais. Inicialmente, diga-se que, conforme o inc. V, art. 49 da CF, compete exclusivamente ao Congresso Nacional sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativo. Tal controle visa nitidamente impedir a usurpação da competência legiferante (de legislar) do poder que, constitucionalmente, detém-na, ou seja, visa restringir a invasão de competência do Legislativo pelo Executivo. Já o inafastável controle judicial dos atos administrativos normativos (inc. XXXV do art. 5º da CF/1988) variará conforme a natureza destes e em razão à norma infringida. No caso de conflito com a lei, o ato normativo estará sujeito ao controle de legalidade. De outra parte, o ato normativo (apenas o PRIMÁRIO) poderá ser submetido ao controle de constitucionalidade, desde que ofenda diretamente a Lei Maior, podendo, portanto, constituir objeto de controle de constitucionalidade, mesmo na via direta. Nessa situação, não haverá lei subordinadora do ato regulamentar editado, o qual será qualificado como autônomo, podendo ser impugnado por intermédio da Ação Direta de Inconstitucionalidade, permissiva da invalidação dos atos que ofendem diretamente a constituição. Assim, conclui-se que SÓ SÃO PASSÍVEIS DE CONTROLE DIRETO DE CONSTITUCIONALIDADE OS ATOS ADMINISTRATIVOS AUTÔNOMOS. Nessa linha, já decidiu o STF: Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 42 Ação Direta de Inconstitucionalidade – Objeto – Decreto. Uma vez ganhando contornos de verdadeiro ato autônomo, cabível é a ação direta de inconstitucionalidade. (Adin 1396-3. Informativo STF, nº. 98). Lembro que a própria Administração emitente do ato normativo poderá controlá-lo, em razão do princípio da autotutela (Súmula/STF 473). Enfim, todos os Poderes tem possibilidade de controlar atos administrativos, pelas razões que são sintetizadas abaixo: I) a própria Administração emitente do ato, em razão do princípio da autotutela; II) o Legislativo, uma vez que pode sustar os atos normativos do Executivo que exorbitem do poder regulamentar; III) o Judiciário, em razão do princípio da inafastabilidade de jurisdição de índole constitucional (inc. XXXV do art. 5º da CF/88). Reiteramos que o controle abstrato de constitucionalidade só será possível quanto a atos administrativos revestidos de autonomia, na linha da jurisprudência do STF. Gabarito: ERRADO 20. (2010/Esaf – SEFAZ/RJ – Agente de Trabalhos de Engenharia) Para fins de formalização do Poder Regulamentar que o Ordenamento Jurídico lhe outorga, o Chefe do Poder Executivo utiliza qual instrumento? a) Resolução b) Instrução Normativa c) Lei d) Decreto e) Circular Comentários: O instrumento privativo do chefe do Executivo é o Decreto. Questão de fixação. Gabarito: alternativa D. 21. (2005/Esaf – AFRFB) Em relação ao poder administrativo normativo, assinale a afirmativa verdadeira. a) Admite-se, no sistema jurídico brasileiro, o regulamento autônomo. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 43 b) O poder normativo das agências reguladoras pode ter caráter inovador em relação à lei. c) Denomina-se regulamento o ato normativo interno de funcionamento dos órgãos colegiados. d) O regulamento executivo manifesta-se por meio de decreto. e) O poder normativo tem caráter vinculado. Comentários: A resposta preliminar foi letra “D”. Depois da fase recursal, a banca decidiu pela anulação, haja vista a correção da alternativa A. A questão nos serve para rápida e efetiva distinção entre Regulamentos e Decretos Presidenciais. Como sobredito, os Decretos podem ser executivos (inc. IV do art. 84 da CF/1988, de natureza infralegal e não delegáveis) e autônomos (inc. VI do art. 84 da CF/1988, de natureza infraconstitucional, com conteúdo passível de delegação). Isso mesmo. O sistema jurídico, atualmente, admite a expedição de decretos autônomos, daí a correção da letra “A”. A regra é que o Decreto tenha um efeito normativo. Enfim, será dotado de generalidade (alcançar um conjunto indeterminado de pessoas) e de abstração (o conteúdo não será esgotado com uma única aplicação), constituindo-se, por esse motivo, atos administrativos em sentido amplo. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02 Profº. Cyonil Borges www.estrategiaconcursos.com.br 44 Um terceiro tipo de Decreto é o individual, como, por exemplo, a aplicação de demissão de servidor e a desapropriação de imóvel. No entanto, diferentemente normativos, conseguimos identificar no conteúdo do Decreto o(s) nome(s) dos destinatários, sendo classificado, por essa razão, quanto ao número de destinatários em singular ou plúrimo. Por exemplo: o Decreto Presidencial de escolha de dois Ministros do TCU é ato individual, porém, pelo fato de conter dois destinatários individualizados, estamos diante de Decreto Individual Plúrimo. Tudo bem, mas onde entra o tal Regulamento Executivo, citado na alternativa “D”? Explico. O Chefe do Executivo, além de Decreto, também pode editar Regulamentos, porém tais atos serão sempre normativos, daí concluímos que nem todo Regulamento é Decreto, já que existem Decretos Individuais. Mas todo Regulamento será exteriorizado, formalizado por meio de Decreto. Ao abrirmos o Diário Oficial ou o visitarmos o sítio do planalto, não enxergamos o Regulamento 3.555/2000, mas sim Decreto 3.555/2000, enfim, a formalização de um Regulamento Executivo dar-se-á por Decreto, nos exatos termos da alternativa “D”. Curso de Direito Administrativo para o TRF/2R Profº. Cyonil Borges – aula 02
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