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Vazão de Referência e estudos aplicados a vazões dos cursos d’ água Prof.ª Andrea de Oliveira Cardoso Vazões dos cursos d’água Escoamento superficial – consequência da precipitação efetiva sobre a bacia, sendo o de maior velocidade de transporte; Escoamento sub-superficial – parcela da água infiltrada que escoa através da zona não saturada do solo, no meio poroso constituinte dos horizontes mais superficiais do solo, ou seja, o escoamento faz-se com maior resistência hidráulica do que no caso superficial, levando mais tempo de percurso; Escoamento de base – água de recarga do armazenamento subterrâneo, apresenta as menores velocidades dos três componentes das vazões de um curso d’ água. Em geral, o escoamento através de um aquífero processa-se em regime laminar, demorando semanas ou até meses para contribuir para a vazão de um rio ou afluir a um lago. Há uma combinação dinâmica nas áreas de descarga que formam as vazões de um curso d’água, através dos escoamentos superficial, sub-superficial e de base, cada qual com seu volume e cronologia típicos. Vazões dos cursos d’água Em regiões com sazonalidade muito marcada o escoamento de base é o componente que mantém as vazões de um curso d’ água perene. estiagem Fluviograma típico de estação fluviométrica do sudeste brasileiro (Von Sperling, 2007) Estiagem intensificada: dependendo da extensão do período sem precipitação ou da insuficiente recarga dos aquíferos no período chuvoso. Cursos d’água - Tipos de Rios Perenes: Onde há líquido fluindo na calha do rio durante todo o tempo. Há vazões elevadas no período de chuvas, sendo originadas de escoamento superficial que atingem os fundos de vale, onde estão situados os rios. No período de seca, a vazão escoando é a vazão de base (contribuição das águas subterrâneas por escoamento de base), sendo que o lençol freático nunca desce abaixo do leito do curso d’água. Observa-se uma sazonalidade marcada. Ex: um rio em GO. Intermitentes: Durante o período de seca o curso d’água permanece seco. Nestas condições, o lençol freático se encontra a um nível inferior ao do leito do rio. Períodos de vazão com escoamento estão associados a períodos de chuva na bacia hidrográfica, e que o lençol d’água subterrâneo conserva-se acima do leito fluvial. Situados em regiões áridas e semi-áridas. Efêmeros: Existem apenas durante ou imediatamente após os períodos de precipitação e só transportam escoamento superficial. A superfície freática encontra-se sempre a um nível inferior ao do leito fluvial, não havendo possibilidade de deflúvio subterrâneo. Cursos d’água - Tipos de Rios abastecimento industrial ou agrícola; manutenção de calados (navegação); geração de energia; capacidade de autodepuração dos cursos d’água; manutenção dos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos. É importante estudar vazões de estiagem, visto que estiagem prolongada pode causar impacto em importantes atividades: Vazões de estiagem Conforme Ministério do Meio Ambiente (MMA) Instrução Normativa nº 4 de 21 de junho de 2000, anexo I, artigo 2º: Vazão ecológica é vazão mínima necessária para garantir a preservação do equilíbrio natural e a sustentabilidade dos ecossistemas aquáticos. Vazão de referência As legislações ambientais e de recursos hídricos utilizam determinados limites de vazões como referência, visando a garantia de preservação e sustentabilidade. Inciso XXXVI, do art. 2º, da Resolução CONAMA n.º 357/2005 Vazão de Referência: “Vazão do corpo hídrico utilizada como base para o processo de gestão, tendo em vista o uso múltiplo das águas e a necessária articulação das instâncias do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGREH” Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH Resolução nº 129/2011- estabelece diretrizes gerais para a definição de vazões mínimas remanescentes. Art. 2º, consideram-se: I - vazão mínima remanescente: a menor vazão a ser mantida no curso de água em seção de controle; IV - vazão de referência: aquela que representa a disponibilidade hídrica do curso de água, associada a uma probabilidade de ocorrência. Aplicação de vazão de referência Exemplo 1, Geração de energia (períodos de excesso e déficit de vazão): Para definição de energia assegurada é necessária uma vazão de referência (déficit). Energia assegurada é a energia que pode ser suprida por uma usina com um risco de 5% de não ser atendida (garantia de 95%). Para identificar a vazão de referência é necessário utilizar um longo histórico fluviométrico. eHQP P = Potência (W) ; = peso específico da água (N/m3) Q = vazão (m3/s) H = queda líquida (m) e = eficiência da conversão de energia hidráulica em elétrica e depende da turbina; do gerador e do sistema de adução (0,76 < e < 0,87) Aplicação de vazão de referência Exemplo 2: A determinação das eficiências requeridas para os tratamentos de esgotos nos diversos lançamentos deve ser determinada em condições críticas, que refletem períodos de estiagem no corpo receptor e ocorrem exatamente no período de vazão mínima, em que a capacidade de diluição do rio é menor. A vazão crítica deve ser calculada a partir de dados fluviométricos históricos do curso d’água, com base em vazão de referência. A definição da vazão de referência depende das condições das fontes de contaminações e das metas para um trecho de rio: • fontes de contaminações pontuais (cargas de cidades ou indústrias), as cargas tendem a ser permanente (condição sanitária), nesta condição a vazão mais crítica é de estiagem (Q7,10); • rio com uma meta que precisa ser atendida o maior tempo possível da série (Q95); Não considera as cargas difusas da agricultura e urbana (crítica período chuvoso) sobre o mesmo rio e os efeitos das alterações da quantidade de água sobre a sobrevivência da fauna e flora de curso d’água. Cálculo de Vazão de Referência – Vazão Crítica Os métodos mais utilizados para a determinação de vazão de referência, são: - Q90 (Q95) – vazão em que 90% (ou 95%) dos dados diários de vazão são iguais ou superior a ela (correspondente ao percentil 10% ou 5%); - Q7,10 – vazão mínima com um período de retorno de 10 anos e período de duração de 7 dias consecutivos. No caso de vazões mínimas, o período de retorno é o tempo médio, em anos, necessário para que ocorram vazões menores ou iguais a certo valor, uma vez em um ano qualquer. Curva de Permanência A vazão de referência (Q90 e Q95) pode ser extraída da chamada curva de permanência das vazões locais: Bacia permeável: recebendo alimentação do lençol freático; Bacia mais impermeável: rápido regime de escoamento, grande variabilidade das vazões diárias, curva de permanência com maior inclinação; Rio intermitente: na maior parte do tempo não há vazão escoando pela calha e as vazões de referência Q90,Q95 e até Q50 são zero. Exemplo de curvas baseadas em vazões médias diárias de três rios distintos. Pela forma da curva pode-se fazer inferências sobre as características da bacia. Cálculo de vazão de referência Q90 e Q95 No cálculo destas vazões deve ser utilizada toda a série histórica dos dados diários de vazão (total de dados = N), seguindo os passos: 1) Ordenar os dados em ordem decrescente: m=1 para o maior, m=2 para o segundo maior, ... e m=N para o menor; 2) Associar a cada par (m, Qm) uma probabilidade de que haja uma vazão superior a ela, calculada por:P = m/N Assim, para a maior vazão da série (m=1), a probabilidade de ocorrência de uma vazão superior é 1/N, para a segunda maior é 2/N, e assim por diante, até se ter a menor vazão, que tem associada a ela a probabilidade de excedência de N/N=1 (100%). Para encontrar as vazões Q90 e Q95, localiza-se o valor mais próximo das probabilidades de 90% e 95%, respectivamente. No excel esses valores são localizados pelos percentil de 0,10 e 0,05, respectivamente. Cálculo de vazão de referência Q7,10 A vazão Q7,10 pode ser entendida como o valor anual da menor média de 7 vazões diárias consecutivas que pode se repetir, em média, uma vez a cada dez anos, sendo obtida através dos seguintes passos: 1) Calcular a média móvel de 7 termos (ex: dias 1 a 7, 2 a 8, 3 a 9, etc.) sobre toda a série; 2) Seleciona-se, em cada ano, o período de 7 dias consecutivos que resulta na menor média de 7 valores de vazão; 3) Com os valores da menor média de 7 dias procede-se a análise estatística, que permite interpolar ou extrapolar os valores para o tempo de retorno de 10 anos. A razão de ter, a cada ano, a menor média de 7 dias consecutivos, e não o menor valor absoluto da vazão, visa não tomar o critério excessivamente restritivo baseando em um único e menor valor da série. Após a determinação da menor média de 7 dias consecutivos de cada ano, parte-se para a análise de freqüência e para a determinação da vazão para o período de retorno desejado (10 anos), calculando: - Probabilidade acumulada de ocorrência de uma vazão igual ou inferior à considerada, em um ano qualquer: p=m/(N+1) , onde m é o número de ordem (crescente) e N é o número de variáveis (total de anos analisados) - Tempo de retorno (anos), ou seja, o número médio de anos, para que ocorra uma vazão igual ou inferior a considerada, uma vez, em um ano qualquer: Tr=1/p Tr= (N+1)/m , sendo tempo de retorno de 10 anos, Tr=10 Cálculo de vazão de referência Q7,10 Cálculo de vazão de referência Q7,10 Para se determinar a vazão associada a um período de retorno qualquer (ex: 10 anos), deve-se plotar a distribuição dos valores em um gráfico de probabilidade. Para tanto, deve-se assumir uma distribuição de probabilidades para os dados de vazão analisados. Distribuições mais utilizadas: Weibull; Gumbel para valores mínimos; Log-normal; Log-Person tipo III. Tempos de retorno curtos, que não excedam grandemente o período de registro, tem sido suficientes para estudos de vazão de estiagem. Usualmente a vazão Q7,10 é mais restritiva (menores valores) do que as vazões Q90 e Q95. EX2) Exercício prático 1) Escolha duas séries históricas longas de vazão diária em pontos distantes, sendo um de preferência em sua bacia de estudo; 2) Através de dados históricos diários de vazão de rios, obtenha: a curva de permanência e as vazões de referência Q90 e Q95 (via curva e via percentil); 3) Comente os resultados comparando cada curso d’água em termos da forma da curva de permanência e valores da vazões de referência. Faça inferências sobre as características da bacia nesse local, comparando com a sazonalidade da precipitação na bacia em locais próximos aos pontos estudados. 4) Montar um relatório contendo a descrição dos métodos realizados, as figuras e as discussões. O relatório (EX2) deve ser enviado pelo TIDIA-ae até as 23h do dia 16/06/2015, em arquivo PDF, na forma: CódigoExercício_NomeAluno.pdf Referências SARMENTO, R. Estado da arte da vazão ecológica no Brasil e no mundo. Produto 2. Unesco/Ana/CBHSF junho de 2007. TOMAZ, P. Critério Unificado para Manejo das Águas Pluviais em Áreas Urbanas. Capitulo 15-Vazão base e vazão mínima ecológica. 25 de fevereiro de 2012. http://www.pliniotomaz.com.br/downloads/capitulo105_vazao_ecologica.pdf VON SPERLING, M. Estudos e modelagem da qualidade da água de rios. 1ª Edição. Ed. UFMG, 2007 588p. ISBN: 85-88556-07-2.
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