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CICLO HIDROGRÁFICO A hidrologia é a ciência que estuda a água na Terra, ou seja, é uma ciência que buscar representar os processos físicos que ocorrem na bacia hidrográfica, tendo como base os processos envolvidos. A água é um mineral presente em toda a natureza, a qual é essencial para a sobrevivência dos seres vivos, além de ser considerado um recurso peculiar, pois se renova pelos processos físicos do ciclo hidrológico. Todavia, devido as suas diversas possibilidades de uso, ela passou a ser um recurso escasso. A parti do século XX, as demandas de uso para as mais diversas finalidades passaram a ter um aumento significativo em relação à disponibilidade. O clima está diretamente relacionado com a hidrologia em função dos principais fatores que influenciam o clima. São eles: a temperatura, a umidade, a pressão atmosférica, o vento e as chuvas. Ainda existem três tipos de chuvas: as frontais, as orográficas, e as convectivas. As águas existentes em quase todo o planeta desenvolvem um processo denominado ciclo hidrológico. O processo desse ciclo se dá a partir da radiação solar e do metabolismo dos seres vivos (evapotranspiração), os quais fornecem energia para elevar a água da superfície terrestre para a atmosfera (a evaporação). Unindo este processo com a força da gravidade, a água condensada nas nuvens se precipita. Uma vez na superfície terrestre a água perpassa pelo solo e circula através de linhas de água que se reúnem em córregos e rios até atingir os oceanos (escoamento superficial) ou se infiltra nos solos e nas rochas entre os poros, através dos seus poros, fissuras e fraturas (escoamento subterrâneo). UNIDADE BACIA HIDROGRÁFICA Bacia hidrográfica é uma unidade fisiográfica, limitada por divisores topográficos, tal que recolhe a precipitação, age como reservatório de água e sedimentos, ela é drenada por um curso d’água ou um sistema conectado de cursos de água, e toda vazão efluente é descarregada em uma seção fluvial única, denominada seção exutória ou exutório. Os divisores topográficos são condicionados pela topografia e limitam de onde provém o deflúvio superficial (quantidade de água que chega aos leitos fluviais, depois de ter escoado superficialmente) da bacia. Os divisores topográficos necessariamente contornam a bacia hidrográfica e consistem na linha de separação que divide as precipitações que caem em bacias vizinhas e que encaminha o escoamento superficial para outro sistema fluvial. O divisor de águas freático é determinado pela estrutura geológica do terreno, estabelecendo os limites dos reservatórios de água subterrânea de onde se pode determinar o deflúvio básico da bacia. Vale destacar que quanto mais alto estiver o nível do lençol freático, mais próximos entre si estarão os divisores. O divisor topográfico segue uma linha rígida em torno da bacia, atravessando o curso d´água somente no ponto de saída. Esse divisor une os pontos de máxima cota entre bacias, o que não impede que o interior de uma bacia exista picos isolados com cota superior a qualquer ponto do divisor. As bacias de drenagem podem ser classificadas em: • Exorreicas: quando o escoamento da água se faz de modo contínuo até o mar, ou seja, desaguam diretamente no mar. • Endorreicas: quando as drenagens são internas e não possuem escoamento até o mar, desaguando em lagos ou dissipando-se nas areias do deserto ou se perdendo nas depressões cársicas. • Arreicas: quando não há qualquer estruturação em baciais, como nas áreas desérticas. • Criptorreicas: quando as bacias são subterrâneas, como nas áreas cársicas. As características morfológicas (topografia, geologia, solo, cobertura vegetal,...) predizem o comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica. Para entender as inter-relações existentes entre esses fatores de forma e os processos hidrológicos de uma bacia hidrográfica, torna-se necessário expressar as características da bacia em termos quantitativos. Um desses termos é a área de drenagem, que é considerada a característica mais importante da bacia. Ela consiste na área plana inclusa entre os divisores topográficos que a limitam. É o elemento básico para o cálculo das outras características físicas. Outro termo é o fator de forma que influencia no escoamento superficial. Existem diversos índices utilizados para relacionar a forma das bacias, procurando relacionar a forma das bacias, buscando relacioná-los com formas geométricas conhecidas: • Coeficiente de compacidade (Kc): é a relação entre o perímetro da bacia e a circunferência de um círculo de área igual à da bacia. Quanto mais irregular for à bacia, maior será o coeficiente de compacidade. • Fator forma (Kf): é a relação entre a largura média e o comprimento axial da bacia. Ou seja, fator de forma nos dá a ideia do quanto à bacia tem o formato alongado. Quanto menor for o Kf, menos alongada será a bacia. O sistema de drenagem indica a maior ou menor velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica. Já a densidade de drenagem fornece uma indicação da eficiência da drenagem da bacia. Quanto maior for à relação, mais eficiência de drenagem tem a bacia. Em relação ao relevo da bacia, essas características são dadas a parti da curva hipsométrica, da declividade do álveo e do tempo de concentração TEMPO DE RECORRÊNCIA DAS CHUVAS (T) Tempo de recorrência das chuvas também pode ser chamado de tempo de retorno e é dado em anos. Essa é uma variável da hidrologia que avalia o tempo em que uma chuva intensa é igualada ou superada em média. Ou seja, uma chuva com intensidade equivalente ao tempo de retorno de 10 anos é igualada ou superada somente uma vez a cada dez anos, em média. Esta última ressalva “em média” implica que podem, eventualmente, ocorrer duas chuvas de TR 10 anos em dois anos subsequentes. O tempo de retorno pode, também, ser definido como o inverso da probabilidade de ocorrência de um determinado evento em um ano qualquer. Por exemplo, se a chuva de 130mm em um dia é igualada ou superada apenas 1 vez a cada 10 anos diz que seu Tempo de Retorno é de 10 anos, e que a probabilidade de acontecer um dia com chuva igual ou superior a 130 mm em um ano qualquer é de 10%, ou seja: TR = 1/Probabilidade. A escolha do tempo de recorrência está associada ao nível de proteção contra cheias da região e ao custo das obras necessárias para proporcionar este efeito. DURAÇÃO DA CHUVA (d) A duração da chuva é o período de tempo durante o qual a chuva cai. Normalmente é medida em minutos ou horas. INTENSIDADE DAS PRECIPITAÇÕES (i) A precipitação é o principal elo entre os demais fenômenos hidrológicos, assim como é a causadora do escoamento superficial. A intensidade das precipitações é expressa em função da altura pluviométrica gerada pela precipitação e pela duração dela, ou seja, determinada lâmina d’água sobre uma área é alcançada em função do tempo. As unidades comumente utilizadas ao falar de intensidade de precipitações são mm.h-1 ou mm.min-1. Por meio de aparelhos denominados pluviômetros, é determinada a intensidade das precipitações. VELOCIDADES MÁXIMAS E MÍNIMAS DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL No que toca as velocidades do escoamento superficial, é necessário levar em conta a topografia do terreno, intensidade da chuva e em qual tipo de superfície as águas pluviais escoam. É dada em função do espaço percorrido e do tempo gasto até que a água chegue ao sem destino ou ponto de análise, a partir disto, pode-se obter as velocidades máxima e mínima. A utilização destas, servirão como base para o cálculo das vazões que bueiros e outros aparelhos de esgotamento sanitário pertencentes a rede de drenagem, os quais suportarão estas vazões em meios urbanos e, em função delas, serão definidas as dimensões dos aparelhos. TEMPO DE CONCENTRAÇÃO DE BACIA (Tc) O tempo de concentração é uma variável característica de cada bacia,sendo de grande importância para garantir segurança nos cálculos de obras hidráulicas e aproveitamento de recursos hídricos. É conceituado como o tempo necessário para que toda a área da bacia consiga contribuir com o escoamento superficial em determinado ponto de controle e tem como fatores influenciadores a forma da bacia, topografia, sinuosidade e declividade do curso principal. A fórmula empírica mais utilizadas para o cálculo do Tc para bacias é o método de Kirpich, sendo este definido pela seguinte equação: 𝑇𝑐 = 57 ∗ ( 𝐿3 𝑖 )0,385 Sendo Tc dado em minutos, L em metros e i (declividade do curso d’agua) em m/m. CHUVA EFETIVA A chuva efetiva é a parte da precipitação líquida que efetivamente participa do escoamento superficial, ou seja, da precipitação total, descontam-se as perdas (infiltração, evaporação, evapotranspiração, interceptação vegetal ou retenção em depressões) e chega-se a precipitação, ou chuva efetiva. Para se fazer adequadamente esses descontos, deve-se calcular a infiltração por meio da equação de Horton, ela varia dependendo do tipo de solo e por isso devem ser feitos experimentos para que sejam conseguidos parâmetros que correspondam com a realidade local. Além da infiltração, os demais parâmetros também são variáveis e existem métodos para o viabilizar o cálculo da chuva efetiva, como o método racional e o método racional modificado. COEFICIENTE DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL (C) O coeficiente de escoamento superficial, coeficiente runoff ou coeficiente de deflúvio é uma das grandezas que caracterizam o escoamento superficial. Ele é definido como a razão entre o volume de água escoado superficialmente e o volume de água precipitado. Este coeficiente pode ser relativo a uma chuva isolada ou relativo a um intervalo de tempo em que várias chuvas ocorreram. 𝑐 = 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑒𝑠𝑐𝑜𝑎𝑑𝑜 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑝𝑖𝑡𝑎𝑑𝑜 Conhecendo esse coeficiente para uma determinada chuva intensa de certa duração, pode determinar o escoamento superficial de outras precipitações de intensidades diferentes, desde que a duração seja a mesma. MÉTODO RACIONAL O método racional considera a chuva efetiva como um percentual da chuva total, por meio do Coeficiente de Runoff (C). Sendo a precipitação efetiva igual a precipitação vezes C. Existem tabelas com os valores do coeficiente de runoff variando segundo o tipo de cobertura da área, a partir desses valores pode ser encontrado um C para a área em estudo. Esse método é vantajoso principalmente em virtude da sua praticidade, mas foca apenas na quantificação da chuva efetiva distorcendo o fenômeno da precipitação. O método possui uma restrição de área, não existe consenso na literatura de qual deveria ser o limite de aplicação do método, seguem na tabela abaixo alguns valores encontrados na literatura. Autor Área máxima (km2) Porto, 2003 3,0 Osman Akan, 1993 13,0 PMSP 3,0 Linsley et al 4,9 Paulo Sampaio Wilken 5,0 Linsley e Franzini 5,0 Califórnia Highways 40,5 Otto Pfasfstetter 200 ASCE, 1992 0,8 Debo e Reese, 1995 0,4 Vem Te Chow 0,8 A fórmula utilizada para o cálculo da vazão de pico é a seguinte: 𝑄𝑝 = 𝐶. 𝑖. 𝐴 360 Na qual: 𝑄𝑝 é a vazão de pico (m 3/s) 𝐶 é o coeficiente de runoff 𝑖 é a intensidade média máxima da precipitação (mm/h) 𝐴 é a área da bacia (ha) Para áreas maiores pode ser utilizado o Método Racional Modificado. MÉTODO RACIONAL MODIFICADO Quando o limite superior da área é atingido, deve-se utilizar o método racional modificado, que consiste no método racional com uma correção relativa à distribuição espacial da chuva. Dessa forma, a formulação utilizada para a vazão de pico seria a seguinte: 𝑄𝑝 = 𝐶. 𝑖. 𝐴 360 . 𝐷, 𝑠𝑒𝑛𝑑𝑜 𝐷 = 1 − 0,009𝐿 2 Na qual: 𝑄𝑝 é a vazão de pico (m 3/s) 𝐶 é o coeficiente de runoff 𝑖 é a intensidade média máxima da precipitação (mm/h) 𝐴 é a área da bacia (ha) 𝐿 é o comprimento axial da bacia (km) EQUAÇÕES DE CHUVA ADOTADAS PARA MANAUS As equações IDF das chuvas máximas de uma cidade ou região pode ser expressa pela seguinte formulação matemática: 𝑖 = (𝐾. 𝑇𝑅) 𝑚 (𝑡 + 𝑏)𝑛 Na qual: 𝑖 é a intensidade (mm/h) 𝑇𝑅 é o tempo de retorno (anos) 𝑡 é o intervalo de duração da chuva (min) 𝐾, m, n e b representam as constantes representativas de cada local. EQUAÇÕES: Plano Municipal de Saneamento básico (PMSB/2014) – Dados de 1927-2010 𝑖 = (1280,038. 𝑇𝑅) 0,18177 (𝑡 + 11)0,7703 Monteiro e Braga (2018) – Dados de 1996-2016 𝑖 = (1102,276. 𝑇𝑅) 0,115066 (𝑡 + 9,786324)0,724259 Software PLUVIO 2.0 (DEA-UFV/2019) 𝑖 = (1387,98. 𝑇𝑅) 0,1 (𝑡 + 12)0,78 Essas equações IDF são dinâmicas e os parâmetros se alteram com o passar dos anos, por isso necessitam de frequente calibração. É possível calculá-las possuindo a série histórica do posto pluviométrico que corresponde a área de influência, aplicando-se a distribuição normal para estabelecer os parâmetros da chuva a partir do teste de Kolmogorov-Sminorv. Utilizando essa metodologia e os dados referentes a estação 00359005 – CPRM – SUREG/AM no período de 1997 – 2020 a equipe encontrou a seguinte equação: Cálculo próprio, com auxílio do software Excel 𝑖 = (1100,67. 𝑇𝑅) 0,110 (𝑡 + 9,496)0,717 COEFICIENTE DE RUGOSIDADE DE MANNING (n) O coeficiente de rugosidade de Manning (n) é um parâmetro fundamental para a descrição da vazão sobre uma superfície (Li & Zhang, 2001). O ajuste da rugosidade de cursos d’água a um modelo hidrodinâmico fornece informações relativas ao nível de água, vazão e a velocidade do escoamento em qualquer trecho (Martoni & Lessa, 1999a, Ab. Ghani et al., 2007). Esse coeficiente é influenciado por diversos aspectos, como pela rugosidade do fundo do canal, pela vegetação (densidade e altura), pela irregularidade do canal (depressões, elevações), pelo alinhamento do canal (sinuosidade) e pelas obstruções (pontes, pilares, troncos, etc.). Para escoamento livre permanente e uniforme, pode-se obtê-lo a partir das equações a seguir: 𝑣 = 1 𝑛 𝑅ℎ 2 3⁄ 𝐼 1 2⁄ ou 𝑄 = 1 𝑛 𝐴 𝑅ℎ 2 3⁄ 𝐼 1 2⁄ Onde: 𝑣 é a velocidade média na seção transversal, Q é a vazão no conduto livre, 𝑅ℎ é o raio hidráulico, I é a declividade do fundo do canal, n é coeficiente de rugosidade de Manning. REFERÊNCIAS ANTUNES, S. C. R. Estudo da relação intensidade-duração-frequência das precipitações pelo método Kimbal para o município de Manaus-AM. Monografia (Graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária) – Juiz de Fora: UFJF. ARAÚJO, B. A. M, et al. ANÁLISE DO TEMPO DE CONCENTRAÇÃO EM FUNÇÃO DAS CARACTERISTICAS FISIOGRÁFICAS EM BACIAS URBANAS. XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos. Disponível em: < https://abrh.s3.sa-east- 1.amazonaws.com/Sumarios/81/51b628c0f984da85b0201d42c0cdd10f_2ff3473dd68d0 7c62117d3505fadc85a.pdf>. Acesso em: 05 de out de 2021. CARVALHO, D. F, SILVA, L. D. B. Hidrologia, CAPÍTULO 7. ESCOAMENTO SUPERFICIAL. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: < http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo/downloads/APOSTILA/HIDRO-Cap7- ES.pdf>. Acesso em: 04 de out de 2021. DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. Manual de Drenagem de Rodovias. 2. ed. Rio de Janeiro: DNIT, 2006. 304 p. LI, Z.; Zhang, J. Calculation of field manning’s roughness coefficient. Agricutural Water Management, v.49, n.2, p.153-161, 2001. MARTONI, A. M.; Lessa, R. C. Modelagem hidrodinâmica do canal do rio Paraná, trecho Porto São José – Porto 18. Parte I: Caracterização física do canal. Acta Scientiarum, v.21, n.4, p.949-959, 1999a. MONTEIRO, M.; BRAGA, E. Análise da Equação IDF de Manaus. Anais do Seminário Internacional em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, v. 5. Manaus: EDUA. 2018. Notas de aula da disciplina.Disponível em:< https://classroom.google.com/c/Mzc2OTEzMjY4NDgy/m/Mzc2OTEzMzI0NDU2/detai ls>. Acesso em: 04 out. de 2021. PMSB. Plano Municipal de Saneamento Básico – Manaus – AM, 2014. Disponível em: <https://docplayer.com.br/15053510-Cidade-de-manaus-prefeitura-municipal-pmsb- plano-municipal-de-saneamento-basico-sistema-de-abastecimento-de-agua-potavel-e- esgotamento-sanitario.html> . Acesso em: 04 out. de 2021. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALOGOAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATANARINA. Curso de aperfeiçoamento em gestão de Recursos Hídricos: Princípios de Hidrologia Ambiental.
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