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A TERCEIRA MARGEM DO RIO

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ANÁLISE DO CONTO A TERCEIRA MARGEM DO RIO
 O conto “A Terceira Margem do Rio”, de João Guimarães Rosa, retrata as memórias do narrador que passa a vida procurando entender as razões, ou falta de razão, na atitude de seu pai abandonar a família e ir viver no meio do rio entre as margens , sem voltar a colocar os pés no chão firme. “Não pojava em nenhuma das duas beiras , nem na ilhas e croas do rio, não pisou em chão nem capim”.
 O termo “A Terceira Margem do Rio” remete ao inalcançável, ao fora do comum, fora do normal, pois os rios só tem duas margens. O narrador mostra uma certa admiração ao descrever o pai no início do conto. “Nosso pai era Homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação”. Quando a canoa fica pronta o narrador pede ao pai para ir junto na canoa com ele, mas sem sucesso. Ao longo do tempo era ele quem pegava a comida escondido para levar ao pai, na beira do rio. “Surpresa que mais tarde tive; que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não demonstrava”. 
 Ao longo da narrativa a família do narrador mesmo sem entender a decisão do pai de viver longe, mas perto, sempre no rio, dá continuidade à vida, mas sempre se mantendo preocupados com o ausente e sempre evitando o assunto da loucura. “Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido, ou então, todos”. Todos vão embora após alguns anos, a irmã do narrador se casa e ao ter a ideia de apresentar o filho recém-nascido ao pai, vai embora da cidade frustrada, o irmão do narrador também muda-se e a mãe vai morar com a filha. Só o narrador que alguns até achavam parecido com o pai fica. “Eu fiquei aqui, de resto, eu nunca podia querer me casar, eu permaneci, com as bagagens da vida, nosso pai carecia de mim, eu sei”.
 De tanto ir se assemelhando ao pai e ficando alheio ao mundo, vivendo para acompanhar a jornada do pai. “Eu sofria já o começo de velhice – esta vida era só demoramento”. O narrador depois de anos resolveu gritar o pai e propor para ficar em lugar, carregar seu fardo e de forma hereditária seguir o mesmo destino. “Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... agora, o senhor vem, não carece mais... o senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor na canoa!... ele me escutou, ficou de pé, manejou o remo na água, proava pra cá, concordando”. O autor surpreende quem esperava que o narrador trocasse de lugar com o pai, ao contrário, o filho cai em si, e sai correndo declinando da proposta que ele mesmo havia feito, depois deste episódio o pai não foi mais visto e o personagem-narrador assume a culpa. “Sou homem, depois desse falecimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado”. 
 Neste conto o autor versa sobre a vida ao narrador e de sua família, marcada pelo comportamento anormal do pai que foge aos padrões da sanidade afetando principalmente a vida do filho que o acompanhava da margem do rio a vida inteira. Quem será o mais louco? De certo o pai, pois o filho despertou em tempo e não substituir o pai em sua empreitada.

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