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O�cina literária Aula 7: O dramático e suas forma Apresentação Nesta aula, trataremos das formas do drama: tragédia e comédia. Objetivo Compreender a diferença entre tragédia e comédia. Identi�car a colocação do problema na tragédia e na comédia. Diferenciar a tensão trágica e tensão cômica. CConhecer o objeto de enfoque da tragédia e as partes que a compõe. Identi�car as características do homem trágico. Conhecer o objeto de enfoque da comédia. Identi�car as características do homem cômico. Introdução Para iniciarmos esta aula, assista, a seguir, ao trailer do �lme O Auto da Compadecida. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online O �lme Auto da Compadecida é baseado na obra teatral de mesmo nome escrita por Ariano Suassuna. É a história de um nordestino simples, João Grilo, e seu amigo, Chicó. Através de muitas mentiras, eles causam confusão na vida dos moradores de Taperoá, ganham simpatia do leitor e geram, por suas ações, muitas cenas risíveis. Pois bem, o que isso tem a ver com o dramático? Ora, a obra teatral é a representação do dramático. A palavra drama signi�ca, etimologicamente, ação. Por isso, em obras dramáticas, a história e as emoções não são imitadas através do discurso do narrador, mas são expressas através de personagens em ação. A ação dramática encontra sua realização num espaço restrito e num tempo restrito. 1 O espaço, geralmente, é um palco. 2 O tempo é aquele necessário para representar uma história, estabelecendo uma comunicação entre obra e público. Trata-se de um tempo que passa num ritmo próprio, um ritmo que tem por objetivo o desfecho da história. Esse ritmo é desencadeado a partir do momento em que o espectador tem sua atenção voltada para a tensão. 3 E o que é tensão? A tensão é a essência do dramático. Ela é movida por duas características principais: pathos e problema. Mas o que é o pathos? O que é o problema? Pathos O pathos é o sentimento exacerbado. É a paixão. Para expressá-lo, o autor dramático cria um tipo de linguagem comovente e arrebatada. Esta linguagem traduz a resistência da personagem diante dos embates gerados pelo mundo que a cerca. A fala patética é impetuosa e pressupõe um outro que a ouça e com ela se comova. É uma comoção espontânea. Fonte: WikimediaImages por Pixabay Em Édipo rei, de Sófocles, há esta impetuosidade nas falas: “Ó meus �lhos, gente nova desta velha cidade de Cadmo, por que vos prosternais assim, junto a estes altares, tendo nas mãos os ramos dos suplicantes? Sente-se, por toda a cidade, o incenso dos sacrifícios; ouvem-se gemidos e cânticos fúnebres. Não quis que outros me informassem da causa de vosso desgosto; eu próprio aqui venho, eu, o rei Édipo, a quem todos vós conheceis.” - SÓFOCLES, p. 77. Existem dois tipos de pathos: o pathos da dor e o pathos do prazer. A dor é a expressão do sofrimento e o prazer é a tradução do contentamento, da alegria. Esse sentimento grandioso, seja de dor ou de prazer, está sempre direcionado a algo em que se crê ou a algo em que se deposita esperança. O pathos é uma força que caminha, gradativamente, para um clímax, ou seja, para um ponto de maior tensão. Neste ponto, os objetivos são atingidos. Problema O problema é o ponto �nal que deve ser atingido. É algo previamente proposto e que deve ser solucionado. Quanto mais problemático for o desenrolar da história, maior será a ligação entre as partes, ou seja, maior será a dependência entre início, meio e �m. Nesta sequência, o início é a proposição da história e o �m é o objetivo dramático. A ação não deve ser retardada, pois, caso contrário, seria desviada da proposição inicial. Tanto o pathos quanto o problema movem o herói em busca de uma decisão. Há a expressão de um querer algo ou de um questionar algo. A partir daí, o público se identi�ca ou se simpatiza com o herói. Tragédia Dentro do dramático, nós temos: a tragédia e a comédia. O que é a tragédia? Como surgiu? A palavra tragédia deriva do grego tragos, que signi�ca bode, e oide, que signi�ca canto. A partir de um entendimento mítico, acredita-se que tenha nascido de cultos religiosos praticados em honra ao deus Dionísio nos quais as pessoas apareciam travestidas com pele de bode e, usando máscaras, cantavam hinos à divindade que presidia a colheita da uva. Apresenta um choque entre o herói e seu destino. A tragédia baseia-se nas catástrofes causadas pelo desequilíbrio humano. O mundo apresenta-se dividido ou tensionado entre duas ordens opostas e inconciliáveis. Existe a presença da mímesis. (Fonte: David Mark por Pixabay ). Tudo isto surge diante de um espectador através de personagens em ação. Tais ações despertam piedade e terror. E qual é o efeito dessas ações? Ora, aliviar ou expurgar as tensões daqueles que as presenciam. É o efeito catártico. Isto �ca claro em uma fala do coro em Édipo Rei, de Sófocles: “Ó geração de mortais, como vossa existência nada vale a meus olhos! Qual a criatura humana que já conheceu a felicidade que não seja a de parecer feliz e que não tenha recaído após, no infortúnio, �nda aquela doce ilusão? Em face do teu destino tão cruel, ó desditoso Édipo, posso a�rmar que não há felicidade para os mortais!” - SÓFOCLES, p.132 Homem trágico Outra pergunta importante é: quem é o homem trágico? É aquele que crê em suas ideias e vive de acordo com elas, mas se vê, inesperadamente, diante do destino inevitável. Trata-se de um destino que contraria as suas verdades. De repente, tudo não é bem como ele acreditava ser. Por exemplo, Édipo, inesperadamente, vê-se como �lho de Jocasta: “Eu não teria sido o matador de meu pai nem o esposo daquela que me deu a vida! Mas... os deuses me abandonaram: fui um �lho maldito, e fecundei no seio que me concebeu! Se há um mal pior que a desgraça, coube esse mal ao infeliz Édipo!”. - SOFÓCLES, p. 137 (Fonte: voyancecam por Pixabay ). O destino impõe ao herói trágico as suas normas, as suas vontades, as quais são compatíveis com a sua visão de mundo, com aquilo que ele idealiza. O destino mostra que é tudo ao contrário daquilo que se pensa ou espera. Há um choque entre o caráter do herói e o seu destino. Há uma oscilação entre dois polos. Há uma impossibilidade de opção. O herói trágico não tem escolha. Ele está condenado a seguir o seu destino. A personagem está numa situação errada ou em atos errados, mas não tem consciência disto. Inconscientemente, é movida por uma força que a leva a viver no erro. De onde surge esta força? Ora, os deuses determinam. O destino já está traçado, não existe a menor possibilidade de mudá-lo. Ação trágica A ação trágica segue uma sequência: 1 Nó O nó vai do início até a mudança da sorte. 2 Reconhecimento O reconhecimento é o conhecimento do erro cometido peto herói. 3 Peripécia A peripécia é a mudança da ação. 4 Clímax O clímax é o ponto máximo do con�ito. A partir daí, abre-se o caminho para o acontecimento catastró�co. Como se vê, há uma unidade de ação, isto é, há princípio, meio e �m. Comédia Para Aristóteles, comédia é a imitação de pessoas de qualidade moral ou psíquica inferior. É a exposição de vícios que caem no domínio do risível. Submetido ao riso, o homem percebe seus limites. O ridículo dispersa a tensão dramática. Supõe-se que a comédia tenha nascido dos festejos fálicos no culto à procriação. Fonte: mohamedufmg por Pixabay Qual é a diferença entre tensão trágica e tensão cômica? A tensão trágica caminha para o clímax. A interdependência das partes, na tragédia, é responsável pela tensão. Já a tensão cômica é permanentemente desfeita pelo riso. Surgem várias tensões que são dispersadas ou abolidas pelo ridículo ou pelo riso. Em o Auto da compadecida, tudo está condicionado ao riso. Os representantes da igreja, ou seja, o padre, o bispo e o sacristão são desprovidos de seriedade. Ao cometerem atos ilícitos do ponto de vista cristão, como benzer cachorro e enterrá-lo em latim, traz a seriedade religiosa para o plano do riso. Umaoutra situação risível é a criação de um tribunal às avessas onde entre santos e pecadores existe um diálogo recheado de liberdade, de intimidade. É dessa forma que a Compadecida é invocada para ajudar aqueles que estão na condição de réus. (Fonte: rawpixel por Pixabay). Aula Teletransmitida em LIBRAS Assista a versão na Linguagem Brasileira de Sinais da Aulateletransmitida. Notas Referências Próxima aula lírico: origens e características; autor lírico: sujeito e objeto de seu próprio discurso; as formas líricas: pluralidade de manifestações; a relação conteúdo e forma; a relação leitor-poema; eu-lírico versus eu-biográ�co; lírica e sociedade. Explore mais
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