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Pessoa e Direitos da personalidade (cap:3) Resumo. Direitos da personalidade são direitos subjetivos conferidos a todas as pessoas naturais (seres humanos) com o intuito de proteger a sua integridade física, moral e intelectual. Impõem a todas as pessoas o dever legal de não causar dano, isto é, de não violar a integridade dos outros. Mas essa obrigação de respeito não é imposta apenas para terceiros. Também o titular (o “dono”) do direito deve abster-se de praticar qualquer ato possa prejudicar sua própria integridade. • Características dos direitos da personalidade A doutrina nacional aponta a existência de diversas características comuns aos direitos da personalidade. Inatos – Todos os seres humanos, ao nascer, já se encontram dotados de direitos da personalidade. A aquisição é automática (independe de qualquer ato jurídico). Vitalícios – Os direitos da personalidade acompanham o ser humano ao longo da vida. Com a morte, extinguem-se a personalidade jurídica e, conseqüentemente, os direitos da personalidade. Contudo, se uma pessoa já morta for alvo de uma ofensa, seus familiares ainda vivos são lesados de forma indireta, podendo exigir em juízo a reparação pelo dano moral em riochete. Absolutos – Os direitos da personalidade impõem um dever geral de abstenção a todas as pessoas (sujeição passiva universal); todas as pessoas devem abster-se de praticar qualquer ato que possa prejudicar a integridade de um ser humano. O desrespeito a esse dever, ou até mesmo a ameaça de desrespeito, dá ao ofendido a possibilidade de requerer medidas para prevenção desse dano ou para sua repressão. Ilimitados – Não há duvidas de que o rol dos direitos fundamentais listados pelo código civil de 2002 e pela CFBR/88 são meramente exemplificativo. Compete à doutrina e ao trabalho dos tribunais a identificação e o reconhecimento de novos direitos da personalidade diante da evolução da sociedade, com seu progresso econômico, cultural, cientifico etc. Extrapatrimoniais – É impossível atribuir valor econômico aos direitos da personalidade, pois não integram o patrimônio da pessoa (ou seja, dizem respeito ao ser, e não ao ter). Imprescritíveis – Os direitos da personalidade são considerados imprescritíveis, pois o não exercício pelo seu titular não acarreta a extinção do direito nem o afastamento da proteção dada pelo ordenamento jurídico. Desse modo, a qualquer momento pode-se exigir que cesse a violação a um direito da personalidade. Intransmissíveis – Não podem ser transferidos em vida (inter vivos), mediante contrato, nem após a morte (causa mortis), por meio de sucessão. É absolutamente inconcebível que uma pessoa exerça direito da personalidade de outra (ex.: direito à vida). Afirma-se, portanto, que esse direitos surgem e desaparecem ope legis (por força da lei) com o seu titular. Relativamente Disponíveis – Embora não se admita a transmissão dos direitos da personalidade, nada impede que uma pessoa disponha de algum aspecto de sua personalidade de forma relativa e temporária. Podemos citar, por exemplo, a possibilidade de uma pessoa autorizar a exploração de sua imagem para uma propaganda, de forma gratuita ou onerosa (ou seja, mediante pagamento). Irrenunciáveis – Os titulares dos direitos da personalidade não podem ser renunciados, pois surgem com o ser humano e o acompanham ao longo da vida. Inexpropriáveis – Por serem inatos e ligados à pessoa, os direitos da personalidade não podem ser retirados da esfera de seu titular. Não podem dessa forma, ser arrematados, adjudicados ou utilizados como objetivo de garantir uma obrigação. _______________________________________________________________________ Direito ao corpo – O art. 13 do código civil proíbe todo e qualquer ato de disposição do corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física ou contrariar os bons costumes (amputação de membro sem exigência médica, prostituição, venda de órgãos). Existem exceções às hipóteses de exigência medica: como a cirurgia de adequação de sexo do hermafrodita e a mudança de sexo do transexual, ampliando o conceito de “exigência médica” para referente ao bem estar físico e psíquico. Doação do corpo – Além das hipóteses de exigência médica, a disposição do corpo também é admitida para fins de transplante. A doação de partes do corpo humano pode ser feita em viva ou após a morte. A doação em vida (inter vivos) de parte do corpo humano por pessoa viva para fins terapêuticos ou para transplantes deve obedecer às regras presentes na lei: ➢ Capacidade - O doador deve ser pessoa juridicamente capaz, mas admite-se a doação por pessoa incapaz em situações excepcionais mediante autorização judicial. ➢ Gratuidade – A doação só pode ser realizada de forma gratuita. ➢ Favorecido – Se a doação for feita em favor do cônjuge ou parentes consangüíneos até o quarto grau, a autorização deverá ser concedida preferencialmente por escrito e diante de testemunhas, especificando o tecido, o órgão ou a parte do corpo objeto da retirada. Se a doação for feita a pessoa diversas, é necessária a autorização judicial, dispensada esta em relação à medula óssea. ➢ Objeto – Só é permitida a doação de órgãos duplos (ex.: rins), de partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo, cuja a retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco para sua integridade, não represente grave comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental, não cause mutilação ou deformação inaceitável. ➢ Revogabilidade – A doação poderá ser revogada pelo doador ou pelos responsáveis legais a qualquer momento antes de sua concretização. A doação post mortem pode ser feita para fins de transplante ou para fins científicos (ex.: pesquisa de doença, estudo da anatomia etc.), observados os seguintes requisitos: ➢ Gratuidade – Os titulares não podem ser remunerados ➢ Beneficiário - Pode ser indicado para fins científicos (ex.: deixar o corpo para a faculdade de medicina da Santa Casa de São Paulo), mas não pode ser indicada para fins de transplante, devendo ser respeitada a lista de espera para esse fim. ➢ Revogabilidade – A disposição manifestada mediante testamento ou escritura pública pode ser revogada a qualquer momento (sine die) pelo doador. Direito à Recusa ao Tratamento Médico - Todo paciente tem direito de receber informações sobre o tratamento medico a que será submetido e, a partir daí, concordar ou não com o referido tratamento (consentimento informado). Isso porque a pessoa, tendo ciência dos riscos e conseqüências que pode sofrer, poderá escolher entre as opções apresentadas a que julgar ser a melhor para si. Tal consentimento é dispensado nos casos de iminente perigo de vida e de intervenção necessária e inadiável, como, por exemplo, na hipótese em que a pessoa fica desacordada após um acidente de trânsito. Direito ao Nome – O nome da pessoa integra a sua própria personalidade, permitindo que ela seja identificada e individualizada perante a sociedade. A proteção do nome é matéria de ordem publica, tendo em vista o interesse do estado na identificação das pessoas. É por essa razão que impõe diversas restrições à alteração de qualquer um de seus elementos (prenome ou sobrenome). O código dispõe sobre a proteção do nome, impedindo sua divulgação em publicações ou representações que exponham a pessoa ao desprezo publico, ainda quando não haja intenção difamatória, e proibindo utilização em propaganda comercial não autorizada. Pseudônimo – O pseudônimo pode ser definido como o nome fictício utilizado por uma pessoa noexercício de seu trabalho ou profissão. É comumente utilizado por literatos e artistas. O pseudônimo não deve ser confundido com o heterônimo, em que há a criação não só de um nome fictício, mas também de uma personalidade fictícia. Embora exista distinção entre esses dois conceitos, e o art.19 do código civil somente se referir ao pseudônimo, ambos recebem a mesma proteção conferida ao nome. Contudo, o requisito essencial para a proteção tanto de um quanto de outro é que sejam utilizados para atividades licitas. Direito à Imagem – O direito à imagem é o direito da personalidade conferido a todos os seres humanos para que possam controlar o uso e a exploração de sua imagem, como a representação fiel de seus aspectos físicos (fotografia, relatos pintados, gravuras etc.), sua aparência individual e distinguível, concreta ou abstrata. O objetivo do dispositivo é o de proteger o direito à imagem e os outros direitos conexos, conferindo ao titular a disponibilidade sobre a publicação, a exposição ou utilização da imagem. Cabe ao individuo autorizar ou proibir a exploração desses aspectos de sua personalidade. Contudo, essa disposição é relativa e cede diante de interesses maiores como a administração da justiça ou a manutenção da ordem publica. Direito à Privacidade e Direito à Intimidade – De acordo com o art.21 do código civil, a vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou interromper o ato que desrespeite essa norma. ➢ Privacidade – Protege aspectos externos da vida humana, como seus hábitos, emails, telefones e cartas. ➢ Intimidade – Refere-se aos aspectos internos da existência humana, como o segredo, o relacionamento amoroso, as situações de pudor, o sofrimento em razão de enfermidade ou a perde de uma pessoa próxima. Privacidade e intimidade são bens jurídicos tutelados não só pelo Direito civil, mas pela própria constituição federal em vários incisos do art.5° (V, X, XI, XII e LX). Protege, assim, a vida privada de violações à casa, à correspondência, ao estilo de vida e aos demais aspectos próprios de cada pessoa em sua individualidade. Essa tutela também é sentida no Direito penal, que pune o desrespeito a esses direitos, considerando crimes a violação de correspondência, a violação de domicilio e a interceptação telefônica, entre outras praticas. Ao tutelar a privacidade e a intimidade, o art. 20 do código civil também protege a honra das pessoas. ➢ Honra subjetiva – É o sentimento que a pessoa tem de si mesma, sentimentos internos de autoestima e dignidade. ➢ Honra Objetiva – É a forma como a pessoa é vista pelas outras pessoas, o seu conceito perante a sociedade, sua reputação. • Proteção dos direitos da personalidade Em caso de ameaça aos direitos da personalidade, os titulares podem se valer de medidas judiciais preventivas. Medidas preventivas – Tem por objetivo influenciar, de forma eficaz, na vontade daquele que possa vir a violar os direitos da personalidade. Essas medidas podem se apresentar antes mesmo de a parte agressora ser ouvida pelo juiz (inaudita altera pars), visto que a atuação deverá ser efetiva e primar pela proteção do bem jurídico de maior valor no caso concreto. Medidas Reparatórias – Tem por objetivo amenizar as conseqüências da violação ao direito da personalidade. O dano moral é a lesão a qualquer direito da personalidade e não deve ser confundido com as suas conseqüências: dor, angustia, tristeza, depressão etc. Embora não se confundam, o objetivo do dano moral é justamente o de afastar as conseqüências da violação ao direito da personalidade, proporcionando à vitima algo que amenize o sofrimento suportado. Legitimidade para requerer a proteção e a reparação – Quem pode requerer a tutela jurisdicional de proteção ou de reparação a direito da personalidade é o próprio lesado. O lesado direto é a pessoa que está sofrendo a lesão em seus direitos da personalidade. Os lesados indiretos podem pleitar a proteção e a reparação a direitos da personalidade de pessoa morta, ao dispor que também tem legitimidade, para tal fim, o cônjuge sobrevivente e qualquer parente em linha reta e colateral até o quarto grau.
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