Buscar

aula de civil 2 contratos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

1 
 
1 
 
___________________________________________UNIDADE I – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS (CONTINUAÇÃO) 
1. Princípios contratuais 
Os princípios representam valores socialmente amadurecidos e reconhecidos pela ordem jurídica e, por isso, 
acabam por simbolizar o momento histórico em que foram criados ou desenvolvidos. E não é diferente com os princípios 
contratuais que, analisados em sua origem, representam claramente os valores do Estado liberal (princípios clássicos) e 
valores do Estado social (princípios contemporâneos), não sendo, no entanto, necessariamente excludentes entre si. 
2. Princípios fundamentais do direito contratual 
 O direito contratual, assim como os demais ramos do Direito, é hoje regido não só por regras jurídicas, mas também, 
por princípios – normas abstratas de conteúdo valorativo – o que permite uma interpretação voltada para a realidade dos fatos 
e em conformidade com os fundamentos constitucionais. Estes inauguram a disciplina contratual. Vale ressaltar que nem 
sempre foi assim. O CC de 1916 não tinha princípios explícitos, mas tão somente alguns provenientes da interpretação dos 
operadores do Direito, além do que eram desprovidos de caráter normativo. 
Princípios clássicos Princípios contemporâneos 
Relatividade dos efeitos do contrato Função Social 
Autonomia Privada Dirigismo contratual 
Pacta Sunt Servanda Justiça contratual 
Intangibilidade Boa-fé Objetiva/Probidade 
Em virtude da constitucionalização do Direito Privado, a liberdade e a autonomia contratual passaram a ser 
pensadas a partir da dignidade da pessoa humana, da solidariedade e da função social. Por isso, foi necessária a revisão dos 
conceitos clássicos contratuais, pensados agora a partir da ótica solidarista e personalista 
I. Princípio da autonomia da vontade 
 Para Kant (1986, p.102), a razão do homem o faz autodeterminar-se e criar as suas próprias leis e a elas se submeter. 
Essa autodeterminação representa a liberdade do homem, fruto da sua razão, o que o faz ser possuidor de uma qualidade 
que nenhum outro animal possui: a dignidade. 
 Assim, é com base no pensamento kantiano, em que se pode afirmar que esse princípio está relacionado diretamente 
com a liberdade de contratar, ou seja, a pessoa é livre para decidir se quer ou não contratar, com quem contratar, o que 
contratar, como fazer e estabelecer o conteúdo do contrato. 
 O princípio da autonomia da vontade encontrou no individualismo e no ideal de liberdade defendido pela Revolução 
Francesa, os pressupostos necessários à sua fundamentação e consolidação. Através desses pressupostos é que se pôde 
afirmar que, o homem é livre para contratar, mas uma vez contratando com outro, surgirão obrigações com a mesma força 
de uma obrigação legal que deverá ser cumprida por ambos. 
 Como se pode perceber, tal princípio se alicerça exatamente na ampla liberdade contratual, no poder dos contratantes 
de disciplinar os seus interesses mediante acordo de vontades, originando efeitos tutelados pela ordem jurídica. Podem as 
partes celebrar contratos nominados (típicos) ou fazer combinações, dando origem a contratos inominados (atípicos). 
 Vale ressaltar que esse princípio, em regra, se aplica aos contratos atípicos. Segundo Gonçalves (2012, p.42), contrato 
atípico é o que resulta de um acordo de vontades não regulamentado no ordenamento jurídico, mas gerado pelas 
necessidades e interesses das partes. Requer uma série de cláusulas especificando os direitos e as obrigações das partes. 
É válido desde que as partes sejam capazes e o objeto lícito, possível e determinado ou determinável e suscetível de 
apreciação econômica. Ao contrário do contrato típico, cujas características e requisitos são definidos em lei. 
 É importante ressaltar que, hodiernamente, a liberdade de contratar encontra-se mitigada sob três aspectos: 
a) faculdade de contratar e de não contratar mostra-se atualmente relativa: a vida em sociedade obriga as pessoas a 
realizarem frequentemente contratos, como o de transporte, de compra de alimentos, de fornecimento de bens e serviços 
públicos (energia elétrica, água, telefone); 
b) da escolha do outro contratante: há hoje restrições impostas principalmente pelos serviços públicos que exercem o 
monopólio sobre muitos serviços; 
c) o conteúdo do contrato sofre também limitações: é cada vez mais predominante os contratos de adesão. 
II. Princípio da autonomia privada 
Autonomia da vontade e autonomia privada não se confundem: A autonomia da vontade decorre da manifestação 
de liberdade individual, por isso, não exige capacidade de fato. Revela-se na liberdade de contratar; A autonomia privada 
decorre do poder de autorregulamentação das partes contratantes, ou seja, no poder que as partes possuem de estabelecer 
os temos contratuais. Exige capacidade de fato e revela-se na liberdade contratual. Foi princípio supervalorizado durante o 
Estado liberal, mas que no Estado social acabou sendo mitigado pelo dirigismo contratual; 
 A autonomia privada é o fundamento da realização de contratos atípicos previsto no art. 425, CC. 
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código. 
III. Princípio do consensualismo 
 Este princípio apregoa que, para o aperfeiçoamento, para a formação do contrato, basta a simples manifestação de 
vontades das partes. Por exemplo: o contrato de compra e venda de bem móvel se aperfeiçoa quando as partes acordam o 
objeto e o preço. O pagamento e a entrega do objeto constituem outra fase, a do cumprimento das obrigações assumidas 
pelos contratantes; a execução do contrato (CC, art.482). 
Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço. 
2 
 
2 
 
 Dessa forma, os contratos são em regra consensuais, haja vista se formarem pelo acordo de vontades das partes, não 
necessitando, pois, da entrega da coisa, como assim exige o contrato real – do latim, res: coisa. Este se caracteriza pela 
entrega da coisa, pelo poder direto e imediato da coisa. 
IV. Princípio da supremacia da ordem pública. 
 O princípio da autonomia da vontade não é absoluto; ele é limitado pelo princípio da supremacia da ordem pública. Mas 
afinal o que é ordem pública? 
 Esta consiste em um conjunto de preceitos jurídicos, políticos, econômicos e morais indispensáveis à organização 
estatal, sem os quais não existiria a sociedade. Ex: normas que instituem a organização da família (casamento, filiação, 
alimentos); as que pautam sobre a organização política e administrativa do Estado. 
 Tal princípio decorreu dos movimentos sociais do século passado, que lutavam contra as mazelas decorrentes da forte 
industrialização. Essa sociedade capitalista avassaladora, na medida em que ampliava a liberdade de contratar, provocava 
um desequilíbrio entre as partes contraentes, onde o mais fraco economicamente era explorado para satisfazer os benefícios 
de uma elite dominadora. Em consequência dessas reivindicações foram editadas leis destinadas a garantir a supremacia da 
ordem pública. Ex: Código de Defesa do Consumidor. 
 Dessa forma pode-se afirmar que, o princípio da supremacia da ordem pública, funciona como freio e limite à liberdade 
contratual, coibindo abusos advindos da desigualdade econômica, mediante a defesa da parte economicamente mais fraca. 
III. Princípio da força obrigatória dos contratos (“pacta sunt servanda”) 
O contrato faz lei entre as partes - pacta sunt servanda; não se presta o caráter absoluto; mecanismos jurídicos de 
regulação do equilíbrio contratual 
Reconhecido pelo brocardo: “o contrato faz lei entre as partes”. Por longo período, foi considerado princípio absoluto 
o que impedia até as formas mais simples de revisão contratual. Dava amploreconhecimento à liberdade contratual 
(autonomia privada), tendo por fundamentos: a liberdade e a igualdade formal, a necessidade de segurança jurídica e a 
intangibilidade dos contratos, a fim de dar garantia à sua utilidade econômica. 
É princípio que se justificava no Estado liberal pelo amplo reconhecimento da liberdade contratual. Atualmente, sua 
força foi mitigada pelos princípios contemporâneos, mas, frise-se que essa relativização não retira a força vinculante dos 
contratos, apenas à condiciona a observância de outros valores e princípios. 
Não se pode afirmar a extinção do princípio a partir da adoção da função social dos contratos, mas sim, seu 
redimensionamento a fim de garantir a justiça contratual, preocupando-se na conciliação do útil (interesse econômico das 
partes) e do justo (preocupação com a repercussão social das relações contratuais). 
Teoria da Imprevisão - rebus sic stantibus; teoria da onerosidade excessiva; revisão ou resolução do contrato. 
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação 
de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema 
vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e 
imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos 
da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. 
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar 
equitativamente as condições do contrato. 
 
 
Teoria da Imprevisão 
 
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, 
poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo 
de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva. 
IV. Princípio da intangibilidade dos contratos 
É princípio que decorre do reconhecimento da própria força obrigatória dos contratos. O princípio da intangibilidade 
impedia qualquer forma de intervenção nos contratos, independente de estarem as partes e seu conteúdo equilibrados ou 
não. 
V. Princípio da equivalência material 
É princípio que busca realizar e preservar o equilíbrio real dos direitos e deveres do contrato, durante e após sua 
execução, para harmonização de interesses. 
Preserva a equação e o justo equilíbrio contratual, seja para manter a proporcionalidade inicial dos direitos e 
obrigações, seja para corrigir os desequilíbrios supervenientes, pouco importando que as mudanças de circunstâncias 
puderem ser previstas. 
VI. Princípio da relatividade subjetiva dos efeitos dos contratos (entre partes) 
Os efeitos dos contratos somente ocorrem entre as partes, havendo apenas a oponibilidade relativa (versus erga 
omnes. São exceções a estipulação em favor de terceiros (prestação em benefício de terceiro) e o contrato com pessoa a 
declarar (promessa de prestação por terceiro) - relativização do princípio. 
Geração de efeitos → próprios contratantes → oponibilidade inter partes (relativa) 
VII. Princípio da função social do contrato. 
 A inserção deste princípio no CC/02 está diretamente relacionada com o suprimento da concepção individualista 
presente no código civil anterior e a consequente consagração dos valores coletivos sobre os individuais, determinados pelo 
Estado Social. Encontra-se disposto no art. 421 do CC. 
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. 
a) Subordinação do contrato ao interesse social da coletividade; 
b) Aspecto intrínseco: uma relação jurídica entre as partes, impondo a boa-fé objetiva e lealdade negocial, buscando-se uma 
equivalência material entre os contratantes (tratamento idôneo entre as partes); trato ético e leal; deveres jurídicos gerais de 
cunho patrimonial e dever jurídico colateral ou anexo decorrente deste esforço socializante; 
3 
 
3 
 
c) Aspecto extrínseco: em face da coletividade, ou seja, visto pelo aspecto de seu impacto na sociedade em que fora 
celebrado. Instrumento de desenvolvimento social e de circulação de riquezas; dever de informação, confidencialidade, 
assistência, lealdade. 
d) Macroprincípio da dignidade da pessoa humana; 
• Critério finalístico ou teleológico: toda atividade negocial, fruto da autonomia da vontade, encontra a sua razão de 
ser na sua função social. O contrato não pode mais ser entendido como mera relação individual; por outro lado não 
se pode aniquilar os princípios da autonomia da vontade ou do pacta sunt servanda; trata-se de temperá-los à luz 
do bem comum; 
• Critério limitativo: a lilberdade de contratar em prol do interesse social e dos valores superiores da dignificação da 
pessoa humana. 
 É importante destacar aqui o seguinte comentário de Martins-Costa sobre o art. 421 do CC que expressa o princípio da 
função social do contrato: 
Seguindo a perspectiva estrutural e funcional, constataremos de imediato que o art. 421 indica três sendas que vale a pena trilhar: a) vem colado 
ao princípio da liberdade de contratar, inaugurando a regulação, em caráter geral, do Direito dos contratos e situando-se como princípio desse 
setor; b) refere a função social como limite da liberdade de contratar; e c) situa a função social como fundamento da mesma liberdade (Martins-
Costa, 2005, p.42). 
 Esse comprometimento social, na seara civil, adveio da própria constitucionalização do direito civil, que passou a 
fundamentar-se – aqui mais precisamente os contratos – em preceitos constitucionais, tais como o princípio da dignidade da 
pessoa humana, a justiça social, a solidariedade social e a redução das desigualdades sociais. Logo a função social do 
contrato, enquanto conceito aberto e impreciso, consiste na concretização destes princípios e valores, permitindo que os 
efeitos dos contratos atendam os fins sociais, econômicos, ambientais e culturais presentes em uma sociedade. Enfim, que o 
contrato atenda o bem comum. 
 Assim sendo, o contrato não deve representar somente a vontade das partes, deve atender a uma função social, função 
esta representada pelos valores de ordem jurídica – tais como os princípios constitucionais – social, econômica e moral, de 
modo a promover a igualdade das partes e o equilíbrio contratual. É, portanto, com base nesse princípio, que os contratos 
não podem trazer onerosidades excessivas, desproporções e injustiça social. Também, não podem violar interesses 
metaindividuais ou interesses individuais relacionados como a dignidade da pessoa humana. Ex: contratos com juros abusivos 
 O princípio da função social do contrato, é hoje, um dos pilares da teoria contratual. Tem por objetivo diminuir as 
desigualdades substanciais entre os contraentes. Serve para limitar a autonomia da vontade quando tal autonomia esteja em 
confronto com o interesse social. Tal princípio desafia a concepção clássica de que os contraentes tudo podem fazer, porque 
estão no exercício da autonomia da vontade. 
 O princípio da função social do contrato é uma cláusula geral. Estas são espécie de texto normativo que não traçam 
pontualmente, especificamente a hipótese e nem tão pouco o consequente normativo; estes, são, pois, abertos e 
indeterminados. Essa abertura da cláusula geral, permite que da sua interpretação, possam se extrair tanto regras como 
princípios jurídicos. 
 Segundo Farias e Rosenvald (2013, p.55), cláusulas gerais são normas intencionalmente editadas de forma aberta pelo 
legislador. Possuem conteúdo vago e impreciso com multiplicidade semântica. A amplitude das cláusulas gerais permite que 
os valores sedimentados na sociedade possam penetrar no Direito Privado, de forma que o ordenamento jurídico mantenha 
a sua eficácia social e possa solucionar problemas inexistentes ao tempo da edição do CC. 
 É importante ressaltar ainda o seguinte conceito de cláusulas gerais: 
Cuida-se de normas que não prescrevem certa conduta, mas, simplesmente, definem valores eparâmetros 
hermenêuticos. Servem assim como ponto de referência interpretativo e oferecem ao intérprete os critérios 
axiológicos e os limites para aplicação das demais disposições normativas (Gustavo Tepedino, apud Farias e 
Rosenvald, 2013, p.55). 
 Dessa forma se o ordenamento jurídico comporta cláusulas gerais, é facultado ao juiz adaptar o direito às mudanças 
sociais, no momento de concretização destes textos legais. Tal conclusão só vem a confirmar a máxima de que o direito 
acompanha os fatos da vida. 
 É importante ressaltar alguns enunciados sobre esse princípio: 
 Enunciado nº 21, da I Jornada de Direito Civil: a função social do contrato, prevista no art. 421 do CC, constitui cláusula 
geral, a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa 
do crédito. 
Enunciado nº 22, da I Jornada de Direito Civil: a função social do contrato, prevista no art. 421 do CC, constitui cláusula geral, que reforça o princípio 
de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas. 
Enunciado nº 23 da I Jornada de Direito Civil: a função social do contrato, prevista no CC, art. 421, não elimina o princípio da autonomia contratual, 
mas atenua o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana. 
 Segue abaixo jurisprudência: 
APELAÇÃO CIVEL. SEGUROS. AÇÃO REVISIONAL DE PLANO DE SAÚDE. FAIXA ETÁRIA. 
1. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor e da Súmula 469 do STJ. 
2. Incidência do art. 15, §3º do Estatuto do Idoso que veda a cobrança de valores diferenciados em função da faixa etária. 
APELO DESPROVIDO. 
 
APELAÇÃO CÍVEL 
 
SEXTA CÂMARA CÍVEL 
4 
 
4 
 
Nº 70050701598 (N° CNJ: 0376751-28.2012.8.21.7000) 
 
COMARCA DE PORTO ALEGRE 
GOLDEN CROSS - AIS LTDA 
 
APELANTE 
SANDRA MARIA DE JESUS RAUSCH 
 
APELADO 
 
A C Ó R D Ã O 
 
Vistos, relatados e discutidos os autos. 
Acordam os Desembargadores integrantes da Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, EM NEGAR 
PROVIMENTO AO RECURSO. 
Custas na forma da lei. 
Participaram do julgamento, além da signatária, os eminentes Senhores DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA (PRESIDENTE E 
REVISOR) E DES. NEY WIEDEMANN NETO. 
Porto Alegre, 26 de junho de 2014. 
 
 
DES.ª ELISA CARPIM CORRÊA, 
Relatora. 
 
R E L A T Ó R I O 
DES.ª ELISA CARPIM CORRÊA (RELATORA) 
Trata-se de ação revisional aforada por SANDRA MARIA DE JESUS RAUSCH contra GOLDEN CROSS - AIS LTDA, sustentando 
que é associada da empresa requerida, matrícula nº 7869118400, e que, ao completar 59 anos em 13/12/2009 teve sua mensalidade revisada, quando 
passou a pagar R$ 1.342,70 – anteriormente ao aumento pagava R$ 685,71. Postulou a revisão do contrato pactuado entre as partes, com a manutenção 
do valor da prestação em R$ 685,71, invocando a aplicação do CDC e do Estatuto do Idoso. Requereu a antecipação dos efeitos da tutela, o que foi deferido 
às fl. 17/21. Juntou documentos. 
Citada, a ré apresentou resposta (fls. 39/46) defendendo, em síntese, a legalidade do reajuste previsto na cláusula 21ª do contrato, indicando 
que o percentual de aumento está dentro da margem autorizada pela ANS. Juntou documentos 
Houve réplica (fls. 87/91). 
Sobreveio sentença de procedência do pedido inicial, com o seguinte dispositivo: 
Ante o exposto, (a) ratifico a tutela antecipada concedida e JULGO PROCEDENTE a pretensão deduzida na inicial para os fins de (b) determinar 
que a requerida se abstenha de proceder a aumentos em razão da mudança da faixa etária da autora, (b.1) mantendo assim o mesmo valor da 
data em que a requerente completou 60 anos de idade, (b.2) admitida apenas a correção anual autorizada pela ANS (5,48% para o período de 
2008/2009 e 6,76% para o de 2009/2010); (c) e (d) condenar a requerida na devolução, na forma simples, dos valores que foram cobrados 
indevidamente, desde a majoração da mensalidade do plano de saúde em razão da mudança de faixa etária, com atualização monetária a contar 
da data dos pagamentos, além de juros de mora, de 1% ao mês, a contar da citação. 
Suportará a requerida, ainda, a responsabilidade pelos ônus sucumbenciais, sendo os honorários de advogado em R$ 1.000,00, 
considerando o trabalho exigido e o tempo de duração da demanda (artigo 20, § 4º, do Código de Processo Civil). 
 
Irresignada, a parte ré interpôs o recurso de apelação de fls. 153/160, sustentando a inaplicabilidade do Estatuto do Idoso, e no mérito, e 
legalidade do reajuste nos termos do contrato. Argumentou a impossibilidade da devolução dos valores pagos, pugnando pela reforma integral da sentença. 
Após as contrarrazões, vieram-me os autos conclusos. 
É o relatório. 
V O T O S 
DES.ª ELISA CARPIM CORRÊA (RELATORA) 
Preenchidos os pressupostos e requisitos de admissibilidade, conheço do recurso. 
A pretensão da demanda envolve contrato de plano de saúde, devendo ser aplicado para sua análise o Código de Defesa do Consumidor, 
conforme dispõe a Súmula 469 do STJ. 
A autora aderiu ao plano assistencial de saúde com a ré na data de 15.01.2008, por meio da “Proposta de Contrato Individual de fls. 47/47/54. 
Quando a parte autora tinha 58 anos. 
Dispõe o artigo 15, § 3º do Estatuto do Idoso (Lei 10741/03) que é assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema 
Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, 
proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos. De outra parte, é vedada a discriminação 
do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade (§3º). 
Desimporta o fato de o contrato ter sido formalizado antes ou depois da vigência do estatuto, pois devem ser vedados reajustes vinculados 
exclusivamente em razão da mudança da faixa etária, apenas permitidos os reajustes anuais. 
O próprio Código de Defesa do Consumidor prevê a nulidade de cláusula que estabeleça obrigação considerada iníqua, abusiva e que coloque 
o consumidor em desvantagem exagerada, ou seja, incompatível com a boa-fé ou eqüidade, nos termos do art. 51, VII, da legislação consumerista. 
Também observo que o contrato de adesão, na cláusula 21ª, estipula para cada mudança de faixa etária do segurado percentuais gradativamente 
maiores. No caso dos autos, a mensalidade da autora foi reajusta em 84,33% aos 59 anos (tabela de fl. 79). Expresso, assim, a desobediência da ré quanto 
à legislação vigente, devendo ser reconhecida a abusividade do reajuste. 
Nesse sentido: 
Apelação cível. Seguros. Plano de saúde. Reajuste da contraprestação em decorrência de alteração da faixa etária. Prescrição. Parcelas de 
trato sucessivo. Relativamente ao pedido de restituição dos valores pagos a maior o prazo prescricional é trienal. Pretensão de ressarcimento. 
Inteligência do art. 206, § 3º, inc. IV do CC/2002. Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor. Inteligência da Súmula 469 do STJ. 
Disposição contratual em desacordo com as disposições do Estatuto do Idoso e do Código de Defesa do Consumidor. Cláusulas que colocam o 
consumidor em desvantagem exagerada. Apelos não providos. (Apelação Cível Nº 70056205420, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do 
RS, Relator: Ney Wiedemann Neto, Julgado em 07/01/2014). 
Corroborando, cito precedente do Superior Tribunal de Justiça: 
Direito civil e processual civil. Recurso especial. Ação revisional de contrato de plano de saúde. Reajuste em decorrência de mudança de faixa 
etária. Estatuto do idoso. Vedada a discriminação em razão da idade. 
- O Estatuto do Idoso veda a discriminação da pessoa idosa com a cobrança de valores diferenciados em razão da idade (art. 15, § 3º).5 
 
5 
 
- Se o implemento da idade, que confere à pessoa a condição jurídica de idosa, realizou-se sob a égide do Estatuto do Idoso, não estará o 
consumidor usuário do plano de saúde sujeito ao reajuste estipulado no contrato, por mudança de faixa etária. 
- A previsão de reajuste contida na cláusula depende de um elemento básico prescrito na lei e o contrato só poderá operar seus efeitos no 
tocante à majoração das mensalidades do plano de saúde, quando satisfeita a condição contratual e legal, qual seja, o implemento da idade de 
60 anos. 
- Enquanto o contratante não atinge o patamar etário preestabelecido, os efeitos da cláusula permanecem condicionados a evento futuro e 
incerto, não se caracterizando o ato jurídico perfeito, tampouco se configurando o direito adquirido da empresa seguradora, qual seja, de receber 
os valores de acordo com o reajuste predefinido. 
- Apenas como reforço argumentativo, porquanto não prequestionada a matéria jurídica, ressalte-se que o art. 15 da Lei n.º 9.656/98 faculta a 
variação das contraprestações pecuniárias estabelecidas nos contratos de planos de saúde em razão da idade do consumidor, desde que 
estejam previstas no contrato inicial as faixas etárias e os percentuais de reajuste incidentes em cada uma delas, conforme normas expedidas 
pela ANS. No entanto, o próprio parágrafo único do aludido dispositivo legal veda tal variação para consumidores com idade superior a 60 anos. 
- E mesmo para os contratos celebrados anteriormente à vigência da Lei n.º 9.656/98, qualquer variação na contraprestação pecuniária para 
consumidores com mais de 60 anos de idade está sujeita à autorização prévia da ANS (art. 35-E da Lei n.º 9.656/98). 
- Sob tal encadeamento lógico, o consumidor que atingiu a idade de 60 anos, quer seja antes da vigência do Estatuto do Idoso, quer seja a partir 
de sua vigência (1º de janeiro de 2004), está sempre amparado contra a abusividade de reajustes das mensalidades com base exclusivamente 
no alçar da idade de 60 anos, pela própria proteção oferecida pela Lei dos Planos de Saúde e, ainda, por efeito reflexo da Constituição Federal 
que estabelece norma de defesa do idoso no art. 230. 
- A abusividade na variação das contraprestações pecuniárias deverá ser aferida em cada caso concreto, diante dos elementos que o Tribunal 
de origem dispuser. 
- Por fim, destaque-se que não se está aqui alçando o idoso a condição que o coloque à margem do sistema privado de planos de assistência à 
saúde, porquanto estará ele sujeito a todo o regramento emanado em lei e decorrente das estipulações em contratos que entabular, ressalvada 
a constatação de abusividade que, como em qualquer contrato de consumo que busca primordialmente o equilíbrio entre as partes, restará 
afastada por norma de ordem pública. 
Recurso especial não conhecido. 
(REsp 809.329/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/03/2008, DJe 11/04/2008) 
 Quanto à devolução dos valores pagos a maior, deve também ser mantida a sentença. Isso porque a restituição é corolário lógico do 
reconhecimento da ilegalidade e abusividade dos reajustes mencionados, na forma simples. 
Nesse sentido: 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. REAJUSTE DA MENSALIDADE. FAIXA ETÁRIA. 
IMPOSSIBILIDADE. RESTITUIÇÃO DOS VALORES INDEVIDAMENTE COBRADOS. 1. Conforme jurisprudência pacífica desta Corte e do e. 
STJ, a previsão de reajuste em razão da faixa etária é abusiva, devendo ser declarada nula. Aplicação do Estatuto do Idoso e do CDC. Descabe 
o reajuste das mensalidades por modificação de faixa etária em qualquer percentual, porque também seria autorizar o aumento diferenciado ao 
idoso. 2. Uma vez reconhecida a abusividade da cláusula que prevê o aumento da mensalidade exclusivamente em razão da faixa etária, impõe-
se a restituição dos valores pagos a maior, na forma simples, e não em dobro, porquanto ausente a situação prevista no artigo 42, parágrafo 
único, do CDC. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70056943624, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel 
Dias Almeida, Julgado em 25/03/2014) 
Diante do exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso. 
DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA (PRESIDENTE E REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). 
DES. NEY WIEDEMANN NETO - De acordo com o(a) Relator(a). 
 
DES. LUÍS AUGUSTO COELHO BRAGA - Presidente - Apelação Cível nº 70050701598, Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO AO 
RECURSO, UNANIME." 
Julgador(a) de 1º Grau: SILVIO LUIS ALGARVE 
VII. Princípio da boa-fé e da probidade contratual 
 Um dos fundamentos contratuais do Código Beviláqua era o da boa-fé subjetiva. Esta diz respeito à subjetividade do 
indivíduo, ao conhecimento ou à ignorância deste com relação a certos fatos, o que é levado em consideração pelo direito 
para fins específicos de determinada situação. Serve para proteger aquele que tem a consciência de estar agindo conforme 
o direito, apesar de ser outra a realidade. Ou seja, a pessoa tem um entendimento equivocado do fato (Gonçalves, 2012, 
p.55). Para tal, deve-se levar em consideração a intenção do sujeito da relação jurídica, o seu estado psicológico e a sua 
convicção. 
 Em geral, esse estado subjetivo deriva do reconhecimento da ignorância do agente a respeito de determinada 
circunstância, como ocorre na hipótese do possuidor de boa-fé que desconhece o vício que macula a sua posse. Nesse caso, 
o legislador, ampara o possuidor de boa-fé, não fazendo o mesmo com possuidor de má-fé. Ex: art. 1.214, 1.216. 1.217, 
1.218, 1.219, 1.220 e 1.242 do CC (Gagliano e Pamplona Filho, 2013, p.101). 
 Porém, o CC de 2002, sob forte aparato constitucional, elegeu a boa-fé objetiva para nortear as relações civilistas, como 
se observa do artigo seguinte: 
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-
fé. 
→ Princípio de substrato moral (boa-fé subjetiva): estado de ânimo ou espírito do agente sem ter ciência do vício. 
→ Boa-fé objetiva: natureza de princípio jurídico, regra de comportamento, de fundo ético e exigibilidade jurídica; cláusula 
geral; espera-se que a outra parte aja conforme o contrato, lealdade contratual; comportamento comum ao homem médio; 
liga-se à eticidade 
 A boa-fé objetiva pode ser entendida como uma norma jurídica de natureza principiológica e de fundo ético, que exige 
juridicamente das partes um comportamento correto não só durante as tratativas, como também durante a formação e o 
cumprimento do contrato (Gagliano e Pamplona Filho, 2013, p.101). Impõe-se, assim aos contratantes, um padrão de conduta, 
de agirem com retidão, ou seja, com probidade, honestidade e lealdade, nos moldes do homem comum, atendidas as 
peculiaridades dos usos e costumes do lugar. 
6 
 
6 
 
 Enquanto que, na boa-fé subjetiva deve-se analisar a intenção, a subjetividade do indivíduo, na boa-fé objetiva analisa-
se o seu comportamento externo, se ele agiu em conformidade com os padrões éticos, morais e honestos definidos pela 
sociedade. 
 O bonus pater familiae ao deparar-se com a situação em apreço, quais seriam as suas expectativas e atitudes, 
tendo em vista a valoração jurídica, histórica e cultural do seu tempo e da sua comunidade? 
 A boa-fé objetiva exige dos contratantes uma postura honesta, reta e leal durante a relação contratual. Assim, a boa-fé 
objetiva consubstancia-se em uma série de deveres anexos aos contratos, tais como: 
a) Dever de cuidado e respeito em relação ao outro contratante: depositário deve guardar, mas também acondicionar o bem 
depositado. 
b) Dever de segurança: dever de planejamento adequado arquitetonicamente para a redução dos riscos de acidentes; 
c) Dever de prestação de contas: gestores e mandatários; 
d) Dever de não omitir segredo: guardar sigilo sobre atos e fatos dosquais teve conhecimento em razão do contrato ou 
negociações preliminares, pagamento por parte do devedor etc. 
e) Dever de informação: comunicar a outra parte as características e circunstâncias do negócio, art.147 do CC; 
Art. 147, CC: Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja 
ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. 
... 
Art. 12, CDC: O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de 
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, 
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua 
utilização e riscos. 
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias 
relevantes, entre as quais: 
I - sua apresentação; 
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; 
III - a época em que foi colocado em circulação. 
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. 
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: 
I - que não colocou o produto no mercado; 
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; 
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
Art. 13, CDC: O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: 
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; 
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; 
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. 
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo 
sua participação na causação do evento danoso. 
Art. 14, CDC: O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e 
riscos. 
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias 
relevantes, entre as quais: 
I - o modo de seu fornecimento; 
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; 
III - a época em que foi fornecido. 
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas. 
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: 
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; 
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. 
... 
Art. 18, CDC: Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou 
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles 
decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as 
variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. 
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: 
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; 
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; 
III - o abatimento proporcional do preço. 
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem 
superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação 
expressa do consumidor. 
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição 
das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. 
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver 
substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem 
prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo. 
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado 
claramente seu produtor. 
§ 6° São impróprios ao uso e consumo: 
I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; 
7 
 
7 
 
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, 
ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; 
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. 
... 
Art. 20, CDC: O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, 
assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor 
exigir, alternativamente e à sua escolha: 
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; 
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; 
III - o abatimento proporcional do preço. 
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor. 
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não 
atendam as normas regulamentares de prestabilidade. 
... 
Art. 30, CDC: Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a 
produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser 
celebrado. 
Art. 31, CDC: A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua 
portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, 
bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. 
Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma 
indelével. 
 Aconselhamento do cliente sobre as possibilidades de cada escolha para a satisfação do seu objetivo (advogado, 
médico, consultor jurídico, fase pré-contratual). 
f) dever de lealdade, probidade e de agir dentro da confiança recíprocas: fidelidade aos compromissos assumidos, com 
respeito aos princípios e regras que norteia a honra e a probidade. 
Relações calcadas na transparência e enunciação da verdade. 
Explicitação mais clara possível dos direitos e deveres de cada um. 
g) dever de colaboração ou assistência: facilitar o cumprimento da obrigação, com o correto adimplemento da prestação 
principal em toda a sua extensão, a qual se liga pela negativa de não dificultar o cumprimento pelo devedor; 
h) dever de ser razoável e agir com bom sensoe equidade. 
 Esse caráter objetivo da boa-fé, nada mais é do que a própria probidade, uma vez que esta se refere ao dever de agir 
com honestidade e ao cumprimento de todos os deveres assumidos pelos contraentes (Gonçalves, 2012, p.55). 
 É válido ressaltar que a doutrina aponta uma função tríplice para a boa-fé objetiva. 
a) Função interpretativa: as relações jurídicas decorrentes do contrato devem ser interpretadas à luz da boa-fé. Tal 
mandamento se direciona tanto as partes envolvidas no contrato quanto ao magistério. A função interpretativa está contida 
nos art. 5º, LINDB, e art. 113, CC; 
Art. 5º, LINDB: Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. 
Art. 113, CC: Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. 
b) Função criadora de deveres jurídicos anexos ou de proteção: cria deveres decorrentes da boa-fé objetiva, tais como, a 
lealdade, a confiança, a assistência, a informação, a confidencialidade ou sigilo, etc.; 
c) Função de controle: controla a liberdade contratual das partes, impondo-lhes um comportamento ético e correto. Delimita, 
pois, o exercício dos direitos subjetivos. Evita cláusulas abusivas, tais como aquelas que preveem a impossibilidade das 
normas da teoria da imprevisão – da onerosidade excessiva e o art. 541, CDC. 
 É válido ressaltar que, o princípio da boa-fé, também está contido em uma cláusula geral, o que por si só, permite, 
direcionar as decisões judiciais em atendimento aos fundamentos constitucionais e aos valores sociais vigentes. 
 Evita o exercício abusivo dos direitos subjetivos (“tirania dos direitos”), as cláusulas abusivas ou leoninas, e.g., 
impossibilidade de aplicação da teoria da imprevisão em benefício da parte prejudicada, e o art. 51, CDC. 
 Se faz mister destacar alguns enunciados sobre o princípio da boa-fé, são eles: 
Enunciado nº 24, I Jornada de Direito Civil: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no CC art. 422, a violação dos deveres anexos constitui 
espécie de inadimplemento, independentemente de culpa; 
Enunciado nº 25, I Jornada de Direito Civil: o CC art. 422 não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e pós-
contratual; 
Enunciado nº 26, I Jornada de Direito Civil: a cláusula geral contida no CC art.422, impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir 
o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento legal dos contratantes. 
1.5.1. Desdobramentos da boa-fé objetiva. 
 A aplicação do princípio da boa-fé objetiva nas relações contratuais repercute em práticas que podem ser sistematizadas 
em locuções jurídicas, constituindo-se, pois, em verdadeiros sub-princípios da boa-fé objetiva. Segundo Gagliano e Pamplona 
Filho (2013, p.118-125) estas compreendem: venire contra factum proprium, supressio, surrectio, tu quoque, exceptio doli, 
inalegabilidade das nulidades formais, desequilíbrio no exercício jurídico e cláusula de Stoppel. 
1.5.1.1. Venire contra factum proprium. 
 Na tradução literal, venire contra factum proprium, significa vir contra um fato próprio. Ou seja, não se aceita que uma 
pessoa pratique determinado (s) ato(s) e, em seguida realize conduta completamente oposta. Reside, assim, na vedação do 
comportamento contraditório. Ex: art. 330 do CC, em que o credor que aceitou, durante a execução de trato sucessivo, o 
pagamento em lugar diverso do convencionado, não pode surpreender o devedor com a exigência literal do contrato, para 
alegar descumprimento. 
8 
 
8 
 
 “Venire contra factum próprium” trata-se da circunstância de um sujeito de direito buscar favorecer em processo judicial, 
assumindo conduta que contradiz outra que a precede no tempo e assim constitui um proceder injusto e portanto, inadmissível. 
1.5.1.2. Supressio. 
 Consiste na perda – supressão – de um direito pela falta de seu exercício por prazo razoável de tempo. Assim, o 
comportamento omissivo durante determinado tempo sobre um direito, enseja a perda da eficácia do seu exercício. Ex: o uso 
da área comum por condômino em regime de exclusividade por período considerável, que implica a supressão da pretensão 
de cobrança de aluguel pelo período de uso. 
Para a sua configuração, necessário se faz que decorra lapso temporal sem o exercício do respectivo direito, bem 
como que haja desequilíbrio na relação contratual, justificando manter o status quo contratual. 
1.5.1.3. Surrectio. 
 É o outro lado da moeda da supressio. Neste vislumbra-se a perda de um direito pela sua não atuação evidente. Já o 
surrectio, configura no surgimento de um direito exigível, como decorrência lógica do comportamento de uma das partes. 
Enquanto a supressio reduz, a surrectio amplia o conteúdo obrigacional. Para a configuração do surrectio deve ter 
decorrido certo lapso de tempo que, durante seu percurso, tenha fomentado situação jurídica que seja igual ao direito subjetivo 
que irá formar, bem como não poderá haver previsão legal que proíba a surrectio. 
1.5.1.4. Tu quoque. 
 Aplica-se a determinada situação em que se verifica um comportamento que, rompendo com o valor de confiança, 
surpreende uma das partes da relação negocial, colocando-a em posição de injusta desvantagem. Ex: art.180 do CC. 
Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou 
quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior. 
“Tu quoque” significa “tu também”. A esse cabe afirmar que a parte não pode cobrar aquilo que ela própria 
descumpriu. Evidencia os deveres anexos que devem ser considerados entre os contratantes, não cabendo aos mesmos se 
beneficiarem de sua própria torpeza, situação não aceitável na esfera jurídica. 
1.5.1.5. Exceptio doli 
 A exceção dolosa – exceptio doli – visa sancionar condutas que prejudicam a parte contrária, não preservando os seus 
legítimos interesses. Ex: art.940 do CC. 
Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, 
ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se 
houver prescrição. 
1.5.1.6. Inalegabilidade das nulidades formais 
 Consiste na aplicação da regra de que ninguém se deve valer da sua própria torpeza. Ex: art.276 do CC. 
Art. 276. Quando a lei prescrever determinada forma sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu 
causa. 
1.5.1.7. Desequilíbrio no exercício jurídico 
 Revela-se pela função delimitadora do exercício de direitos subjetivos, pois, o exercício desproporcional deste, enseja 
um desequilíbrio contratual, não tolerado pelo ordenamento jurídico. 
1.5.1.8. Cláusula de Stoppel. 
 Consiste na aplicação pragmática da boa-fé objetiva em relações internacionais, desde que a situação de prejuízo por 
quebra da confiança seja de possível constatação. Ex: a relação contratual de exploração de petróleo entre Brasil e Bolívia. 
Esta criou legítima expectativa no Governo Brasileiro, para que através da Petrobrás investisse em petróleo nas terras 
bolivianas. Mesmo após altos investimentos, a Bolívia baixou ato contrário ao esperado, rompendo com a cláusula de Stoppel. 
Ou seja, empresas estrangeiras ficaram obrigadas a entregar as propriedades para a empresa estatal Yacimientos Petrolíferos 
Fiscales Bolivianos (YPFB), que assumiu a comercialização da produção, definindo condições, volumes e preços tanto para 
o mercado interno quanto para exportação. 
1.6. Princípio da obrigatoriedade dos contratos – princípio da intangibilidade dos contratos ou princípio daforça vinculante 
dos contratos. 
 O princípio da obrigatoriedade dos contratos se traduz na força vinculante das convenções, do acordo entre as partes. 
Pela autonomia da vontade, a pessoa é livre para escolher com quem contratar (liberdade de contratar), bem como estipular 
os termos e o objeto da avença (liberdade contratual). Aqueles que constituem um contrato válido e eficaz devem cumpri-lo 
(Gonçalves, 2012, p.49). 
 Segundo Gonçalves (2012, p.49) o aludido princípio tem por fundamentos: 
a) a necessidade de segurança nos negócios jurídicos: tal princípio impõe as partes a obrigatoriedade de cumprirem com o 
que acordaram, transmitindo assim, segurança nas relações contratuais; 
b) intangibilidade ou imutabilidade do contrato: decorre da convicção de que o acordo faz a lei entre as partes, personificando-
se no brocardo romano, pacta sunt servanda (os pactos devem ser cumpridos), não podendo ser alterados nem pelos juízes. 
Qualquer alteração ou revogação terá de ser, também, bilateral. O seu inadimplemento confere a parte lesada o direito de 
fazer uso dos instrumentos judiciários para obrigar a outra a cumpri-lo, ou a indenizar pelas perdas e danos, sob pena de 
execução patrimonial (art.389, CC). 
 No entanto, após a 1ª Grande Guerra Mundial, de 1914 à 1918, ocorreram mudanças econômicas e sociais que 
repercutiram diretamente nas relações contratuais, principalmente no tocante a onerosidade excessiva para um dos 
9 
 
9 
 
contratantes, ou seja, para o economicamente mais fraco, o hipossuficiente. Compreendeu-se, então, que não se podia mais 
falar em absoluta obrigatoriedade dos contratos, uma vez não mais existir uma relação igualitária entre as partes. 
 Tal fato favoreceu a aceitar em caráter excepcional, a possibilidade de intervenção judicial no conteúdo de certos 
contratos, para corrigir os seus rigores ante o desequilíbrio de prestações. Passou-se a ter a convicção de que o Estado tem 
o direito de intervir na vida do contrato, seja mediante a aplicação de leis de ordem pública em benefício do interesse coletivo, 
seja com a adoção de uma intervenção judicial na economia do contrato, buscando-se assim aplicar a justiça ao caso concreto. 
 Esta suavização do princípio da obrigatoriedade, não significa o seu desaparecimento, haja vista ser imprescindível para 
se manter a segurança nas relações contratuais. O que não se tolera mais, é a obrigatoriedade dos contratos quando as 
partes se encontram em patamares diferentes e dessa disparidade ocorra proveito injustificado. 
 Dessa forma, o princípio da obrigatoriedade dos contratos, deve ser interpretado sob a luz da equidade contratual, da 
boa-fé objetiva e da função social do contrato. 
REFERÊNCIAS 
FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD Nelson. Curso de direito civil: parte geral e LINDB, v.1. 11ªed. Salvador: Juspodium, 2013. 
GAGLIANO, Pablo Stolze. Manual de Direito Civil, volume único / Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2017. 
GONÇALVES, Carlos Roberto Direito civil esquematizado®, v. 2 / Carlos Roberto Gonçalves ; coordenador Pedro Lenza. – 4. ed. – São Paulo: Saraiva, 
2016. – (Coleção esquematizado®) Bibliografi a. 1. Direito civil 2. Direito civil - Brasil I. Lenza, Pedro. II. Título. CDU-347(81) 
KANT, Imamanuel. Fundamentos da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1986. 
MARTINS-COSTA, Judith. Reflexões sobre o princípio da função social dos contratos. Revista Direito GV, v.1, n.1, maio, p.41-66, 2005. 
OBS (1) As notas de aula servem apenas como orientação e não substituem o estudo por livros especializados, códigos e 
anotações realizadas em sala de aula.

Continue navegando