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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS - CCJ 
DEPARTAMENTO DE DIREITO 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
 
 
 
PEDRO HENRIQUE DA ROCHA MARTINS 
 
 
 
 
 
 
 
A (im)possibilidade de revisão/resolução dos contratos de locação na pandemia da COVID-19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FLORIANÓPOLIS 
2021 
 
PEDRO HENRIQUE DA ROCHA MARTINS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A (im)possibilidade de revisão/resolução dos contratos de locação na pandemia da COVID-19 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho Conclusão do Curso de Graduação em Direito 
do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal 
de Santa Catarina como requisito para a obtenção do 
título de Bacharel em Direito 
Orientador: Prof. Dr. Geyson José Gonçalves da Silva. 
 
 
 
 
 
 
 
FLORIANÓPOLIS 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho é dedicado aos meus pais, que sempre me deram 
todo o apoio necessário para traçar minha trajetória. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço a todos os que de alguma forma contribuíram positivamente, direta ou 
indiretamente, para a minha formação acadêmica. 
Em especial aos meus pais, Davi Martins e Carmen Lucia da Rocha Martins, que desde 
cedo me ensinaram princípios que me tornaram o homem que sou, e que me deram sempre todo 
o apoio e acolhimento desde o primeiro dia em que vim a esse mundo. 
À minha namorada, Jaddy Camila Cúrcio, companheira de graduação e de vida, a qual 
admiro e amo cada dia mais e que sempre me apoiou e me incentivou nos momentos mais 
difíceis. Obrigado por tudo, te amo!!! 
À minha irmã, Luiza Helena da Rocha Martins, que além do laço sanguíneo, fomento 
uma relação de amizade e respeito. 
À minha sobrinha, Lara Martins da Fonseca, que apesar da pouca idade já cativa a 
todos com seu jeito e sua fofura. 
A todos os demais familiares que constituíram a base das minhas relações como ser 
humano. 
Aos amigos de curso, especialmente ao Tarcísio Kamers Filho, com o qual 
compartilhei vários momentos de aprendizado e boas gargalhadas. 
A todos os professores da graduação de Direito, que exercem esse papel tão nobre e 
importante na sociedade brasileira, em especial pelo contexto atual no qual vivemos. 
A todos os companheiros dos estágios em que realizei no Tribunal de Justiça, Justiça 
Federal e escritório, contribuindo para minha experiência prática no mercado profissional e na 
faculdade. 
Ao orientador que me permitiu a realização do presente trabalho, Geyson José 
Gonçalves da Silva. 
Ao demais membros da banca, Poliana Ribeiro dos Santos e Felipe Roeder da Silva, 
pelo interesse e disponibilidade em fazer parte desse momento. 
Obrigado a todos. 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho se propõe a analisar a compreensão da pandemia da COVID-19 como fato 
imprevisível e gerador de onerosidade excessiva no âmbito dos contratos de locação. O 
desenvolvimento do trabalho se deu na análise dos aspectos doutrinários acerca dos contratos 
em geral e seus princípios, destacando-se a necessidade de análise adotando a teoria do diálogo 
das fontes, bem como a limitação do princípio da força obrigatória dos contratos em face aos 
princípios da função social e equilíbrio econômico. No terceiro capítulo, houve a análise das 
teorias da revisão contratual no direito brasileiro com destaque às teorias da onerosidade 
excessiva, teoria da imprevisibilidade e teoria da quebra da base objetiva do contrato. Por fim, 
buscou-se relacionar a pandemia da Covid-19 e seus efeitos como fato imprevisível e gerador 
de onerosidade excessiva possibilitador da revisão contratual dos contratos de locação. Após 
análise de decisões judiciais, concluiu a pesquisa que a atuação do judiciário nas ações 
revisionais de contrato de locação deve ser feita levando em consideração aspectos 
principiológicos e analisando as particularidades do caso concreto, assim como os aspectos 
subjetivos tanto do locatário quanto do locador. Dentre os aspectos subjetivos, destacam-se a 
averiguação da vulnerabilidade das partes, a comprovação da impossibilidade do pagamento do 
aluguel, a proteção ao direito de moradia nos casos de locação residencial e o grau de 
dependência do locador com os valores de aluguel recebidos, apenas dessa forma a decisão 
judicial poderá atender aos direitos e interesses das partes. Na pesquisa, utilizou-se o método 
de abordagem dedutivo, e em relação ao procedimento é uma pesquisa bibliográfica, baseada 
em análise doutrinária e jurisprudencial. 
 
 
Palavras-chave: Contrato de locação. Revisão contratual. Covid-19. 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This research is proposed to analyze the comprehension of the Covid-19 pandemic as an 
unpredictable fact and excessive onerousness generator under the tenancy agreements. The 
development of this work took place in the analysis of the doctrinal aspects about the contracts 
in general and it’s principles, standing out the need of the analysis adopting the source dialogue 
theory, as well as the limitation of the mandatory force of the contracts principle in face of the 
social function and economic balance principles. In the third paragraph, was made the analysis 
of the contractual revision theory on the Brazilian law, highlighting the excessive onerousness 
theory, unpredictability theory and the break objective basis theory. In the end, sought to 
connect the Covid-19 pandemic and its effects as an unpredictable fact and excessive 
onerousness generator, what makes possible the contractual revision of the tenancy agreements. 
After the analysis of the judicial decisions, this research concluded that the operation of the 
judiciary in the actions of tenancy agreement should be made considering the principle aspects 
and analysing the particularities of the concrete case, as well as the subjective aspects of the 
lessee and the locator. Among the subjective aspects, stand out the inquiry of the vulnerability 
of the parts, the comprovation of the impossibility of rent payment, the protection of the housing 
right in the cases of residential contracts and the degree of the dependency of the locator to the 
rent values, only that way the judicial decision can attend the rights and interests of the parts. 
In this research used up the deductive approach method, in relation to the procedure, it is as 
bibliographic research, based in doctrinal and jurisprudencial analysis. 
 
 
Keywords: Tenancy agreement. Contractual revision. Covid-19. 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
AgInt Agravo Interno 
AREsp Agravo em Recurso Especial 
Art Artigo 
CC Código Civil 
CDC Código de Defesa do Consumidor 
CJF Conselho de Justiça Federal 
DL Decreto Legislativo 
Inc Inciso 
PL Projeto de Lei 
REsp Recurso Especial 
RT Revista dos Tribunais 
RTJ Revista Trimestral de Jurisprudência 
STJ Superior Tribunal de Justiça 
TJDFT Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios 
TJMG Tribunal de Justiça de Minas Gerais 
TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina 
TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15 
2 CONTRATOS ...................................................................................................... 17 
2.1 NOÇÃO GERAL ................................................................................................... 17 
2.2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS CONTRATOS ....................................... 18 
2.2.1 Autonomia privada .............................................................................................. 18 
2.2.2 Consensualismo .................................................................................................... 20 
2.2.3 Forçaobrigatória ................................................................................................. 21 
2.2.4 Boa-fé .................................................................................................................... 22 
2.2.5 Função social ........................................................................................................ 23 
2.2.6 Equilíbrio econômico ........................................................................................... 24 
2.3 PRINCÍPIOS CONSUMERISTAS APLICADOS AOS CONTRATOS .............. 25 
2.3.1 Vulnerabilidade ................................................................................................... 25 
2.3.2 Hipossuficiência ................................................................................................... 26 
2.3.3 Diálogo das fontes ................................................................................................ 27 
2.4 CONCEITO DE OBRIGAÇÃO NO CONTRATO .............................................. 30 
2.5 FORMAS DE EXTINÇÃO DOS CONTRATOS ................................................. 30 
2.5.1 Rescisão ................................................................................................................. 32 
2.5.2 Resilição/distrato.................................................................................................. 32 
2.5.3 Resolução .............................................................................................................. 33 
2.5.3.1 Inexecução Voluntária.......................................................................................... 34 
2.5.3.2 Inexecução Involuntária....................................................................................... 35 
2.5.3.3 Resolução e Revisão por Onerosidade Excessiva............................................... 35 
3 REVISÃO/RESOLUÇÃO CONTRATUAL NO DIREITO BRASILEIRO .. 36 
 
3.1 IMPREVISÃO (REBUS SIC STANTIBUS) ........................................................ 38 
3.2 ONEROSIDADE EXCESSIVA (ART. 478-480, CC) ......................................... 40 
3.2.1 Onerosidade Excessiva no CDC e a Ruína Patrimonial do Devedor .............. 44 
3.3 QUEBRA DA BASE OBJETIVA DO CONTRATO ........................................... 45 
4 REVISÃO CONTRATUAL NO CONTRATO DE LOCAÇÃO NO 
CONTEXTO DA PANDEMIA.............................................................................................. 48 
4.1 O CONTRATO DE LOCAÇÃO (LEI 8.245/1991) .............................................. 49 
4.2 PANDEMIA E A POSSIBILIDADE DE REVISÃO DO CONTRATO DE 
LOCAÇÃO ............................................................................................................................... 50 
4.3 JURISPRUDÊNCIA .............................................................................................. 53 
5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 60 
 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 62 
15 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A pandemia da Covid-19 trouxe amplo impacto não só às relações políticas e 
econômicas, como também ao mundo jurídico, mais precisamente do âmbito das obrigações 
contratuais, sobretudo aos contratos de locação. 
Justifica-se a necessidade da abordagem do tema do presente trabalho pois os impactos 
gerados pela pandemia nos contratos de locação se deram de forma repentina, o que ocasionou 
grande instabilidade e insegurança jurídica. 
Em 2018, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 
constatou-se que 12,9 milhões de domicílios existentes no Brasil eram alugados. Somado a isso, 
temos que o estabelecimento de medidas sanitárias para controle da disseminação do novo 
coronavírus, como fechamento de atividades não essenciais e lockdowns também tiveram amplo 
impacto na atividade dos lojistas, sobretudo aos que são locatários. 
A consequência disso foi uma avalanche de ajuizamento de ações judiciais visando a 
revisão dos contratos de locação, sejam eles comerciais ou residenciais. 
Dado o impacto dos efeitos da pandemia a um número tão elevado de pessoas, 
necessita-se, portanto que a atividade judicial se dê de forma a contemplar os direitos e 
interesses tanto do locatário como do locador para garantir a maior justiça e eficácias das 
decisões judiciais. 
A problemática do presente trabalho se deu na averiguação da possibilidade ou não da 
aplicação da revisão contratual nos contratos de locação ante o contexto pandêmico. 
A análise do nosso ordenamento jurídico, em especial ao Código Civil, permite o 
enquadramento da pandemia e de seus efeitos como fatores imprevisíveis e geradores de 
onerosidade excessiva ensejadores para a aplicação da revisão ou resolução dos contratos de 
locação. Ainda, deve-se atentar aos demais diplomas legais, como o Código de Defesa do 
Consumidor e a Lei de Locação, para a compreensão necessária de uma visão panorâmica de 
nosso ordenamento jurídico. Dessa forma, verifica-se que a interpretação da revisão contratual 
deve levar em consideração aspectos subjetivos da relação contratual, como a vulnerabilidade 
das partes, o risco de inadimplemento e a necessária averiguação de onerosidade excessiva a 
qualquer das partes. 
Busca-se com o presente trabalho a necessidade da compreensão da pandemia como 
fato imprevisível e gerador de efeitos econômicos nefastos, a consequência disso é de que 
inúmeros contratos se tornam impossíveis de serem concluídos. 
16 
 
Ainda, necessária a averiguação pela ótica dos princípios contratuais presentes em 
nosso ordenamento jurídico para compreensão do fenômeno discutido, bem como da utilização 
como base teórica a partir da análise da Teoria Geral dos Contratos e Teorias de Revisão 
contratual como forma de perquirir soluções que não venham a ferir nenhum direito. 
Após a análise inicial dos institutos teóricos, buscou-se averiguar a relação com a 
Covid-19 e seu enquadramento como fato ensejador de revisão contratual. 
Por último, fez-se necessária a pesquisa jurisprudencial acerca das decisões 
relacionadas a ações revisionais de contratos de locação a fim de se verificar uma uniformidade 
dos tribunais, bem como os magistrados vêm entendendo os efeitos da pandemia nos referidos 
contratos. 
A metodologia utilizada no presente trabalho em relação ao objeto tratado foi a de 
pesquisa científica. A área de pesquisa se situa dentro do Direito Civil, mais precisamente no 
âmbito das Obrigações e do Contrato. Utilizou-se a abordagem da pesquisa qualitativa, tendo 
em vista que o desenvolvimento do trabalho não se guiou com base em estatísticas, tampouco 
quantificações. Quanto aos procedimentos, é uma pesquisa bibliográfica, baseada em análise 
doutrinária e jurisprudencial. Em relação ao método, utilizou-se o método dedutivo, ao partir 
de uma premissa maior, do geral, para chegar a uma menor, da análise das particularidades de 
cada caso concreto. 
A escolha da metodologia se revelou como a melhor forma para a obtenção das 
respostas atinentes aos objetivos e problemas expostos no decorrer do trabalho, pois a 
excelência da análise do caso concreto prescinde a análise doutrinária e jurisprudencial prévia. 
17 
 
2 CONTRATOS 
 
2.1 NOÇÃO GERAL 
 
Segundo o dicionário Priberam1, a palavra “contrato” pode ser definida como “acordo 
ou convenção para a execução de algo sob determinadas condições”. 
Contudo, verifica-se que tal definição é rasa, ainda mais no âmbito acadêmico-jurídico. 
Isso pois, toda definição é dinâmica, dependendo de fatores como o contexto social e tempo em 
que está inserido. Por isso, se pegarmos a definição de contrato, por exemplo, do século XV e 
compararmos com o de hoje em dia, teremos conceitos amplamente distintos. 
Em razão disso, devemos fazer uma análise evolutiva do conceitode contrato. 
Não é raro termos veiculadas noções de contrato diretamente ligadas com ideias 
puramente individualistas, emergentes na sociedade europeia em virtude da expansão mercantil 
da época de expansão do capitalismo (séculos XVIII e XIX). 
Em razão disso, surgiram os primeiros princípios contratuais, como o da autonomia da 
vontade das partes, surgindo o contrato com forma de regulação de interesses meramente 
privados. 
Porém, com o tempo houve a intensificação da intervenção estatal, que por meio do 
legislativo passou a estabelecer cláusulas gerais para garantir o equilíbrio contratual entre as 
partes, por muitas vezes limitando o princípio clássico da liberdade de contratação. Certo é que 
tais intervenções repercutem na forma de interpretação dos contratos, que cada vez mais se 
afastou da definição objetiva de “regulação de interesses meramente privados” para uma 
definição mais funcional, daí surge o princípio da função social do contrato, positivado no art. 
421 do Código Civil2. 
Dado esse apanhado histórico do contrato, vimos que o contrato passou a ter contornos 
mais funcionais do que meramente objetivos. 
Ainda, sem maiores preocupações, mas de muita utilidade, Orlando Gomes define 
contrato como “uma espécie de negócio jurídico cuja formação depende da presença de pelo 
menos duas partes. É negócio jurídico bilateral ou plurilateral”.3 
 
1CONTRATO, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Lisboa: Priberam Informática, 2008-2021. 
Disponível em: https://dicionario.priberam.org/CONTRATO. Acesso em: 15 set. 2021. 
2Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. 
3 GOMES, Orlando. Contratos. 26. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 24. 
18 
 
Pode-se dizer, portanto, que quando duas ou mais partes desejam estabelecer algum 
negócio jurídico para estabelecer obrigações entre si, urge a existência de um contrato. 
A partir da ideia de função social, depreende-se que o contrato não pode servir como 
instrumento para práticas abusivas ou que onerem demasiadamente alguma parte, sendo esta 
parte inserida ou não na relação contratual sob pena de ser invalidado. 
 
2.2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS CONTRATOS 
 
Dado esse apanhado geral do conceito de contrato, passa-se à explanação acerca dos 
princípios contratuais. 
Dentre os princípios contratuais existentes, destacam-se os tradicionais, que são: 
autonomia privada, consensualismo, força obrigatória. Além dos princípios contratuais 
tradicionais, destacam-se princípios que tomaram um grau de importância especial no período 
contemporâneo, são eles o princípio da boa-fé, da função social do contrato e equilíbrio 
econômico. 
Como o escopo do presente trabalho não é a explicação minuciosa da teoria geral do 
contrato, cabe uma breve explicação sobre o instituto e seus aspectos principiológicos. 
 
2.2.1 Autonomia privada 
 
O princípio da autonomia privada, um dos princípios basilares não somente do âmbito 
contratual, é derivado da própria ideia de liberdade econômica provenientes dos sistemas 
liberais capitalistas. 
Dado o contexto em que surgiu, derivado da liberdade contratual, poderia ser definido, 
em um primeiro momento como "o poder concedido ao sujeito para criar a norma individual 
nos limites deferidos pelo ordenamento jurídico" 4 
Ainda, em uma análise mais filosófica sobre o tema, Luigi Ferri destaca que os termos 
“autonomia privada” e “autonomia da vontade/ autonomia do querer”, apesar de utilizados 
rotineiramente para fazer referência à liberdade do contratante, não devem ser confundidos5. 
 
4 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: contratos. 7. ed. Salvador: 
Juspodivm, 2017. p. 149. 
5 FERRI, 1969 apud FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 150 
19 
 
A diferença entre as terminologias deriva da construção moderna do conceito de 
autonomia da vontade, baseada nos princípios morais de Kant, segundo seus ensinamentos se 
depreende que a autonomia da vontade é “a condição da possibilidade de agir moralmente, o 
princípio da subjetividade moral, encontra-se na capacidade de determinar-se segundo 
princípios postos por si mesmo." 6 
O conceito embrionário de autonomia da vontade contratual, portanto, era entendido 
como sendo uma união entre manifestações de vontade e era composto por três pilares: 
liberdade contratual, pacta sunt servanda e relatividade contratual, que seria a restrição dos 
efeitos do contrato às partes. 7 
No entanto, com o passar do tempo e as transformações, o direito passou a ser visto de 
uma forma menos sistemática/estrutural e mais funcional. 
A análise funcionalista busca, por si, explicar a incidência do direito no caso concreto, 
considerando os aspectos subjetivos da relação jurídica. A partir dessa mudança de escopo, os 
sistemas jurídicos passaram a ser remodelados no mundo inteiro. 
Assim, do ponto de vista funcional do contrato, temos que a autonomia privada pode 
ser traduzida na vontade do sujeito em contratar, somada ao suporte legal, com a finalidade de 
se ter a realização de interesses dignos de tutela. Consequentemente, o contrato só terá sua 
função cumprida se atender o interesse de ambas as partes contratantes e desde que tais 
interesses estejam respaldados pelo ordenamento jurídico. 
E é daí que derivam conceitos modernos, como o da função social do contrato. 
Numa abordagem contemporânea do conceito de autonomia privada no âmbito 
contratual, portanto, devemos considerar não somente como função o interesse privado das 
partes, mas também, o contrato deverá cumprir com uma função/interesse social. 
Bem verdade que a autonomia privada não deve se contrapor à função social do 
contrato, sendo ambos princípios igualmente assegurados pelo nosso ordenamento jurídico. 
Embora não haja restrição à autonomia privada na Constituição Federal, o princípio 
constante na Carta Magna da função social garante que, ao mesmo tempo em que as partes 
satisfação suas obrigações ocorra a defesa de interesses sociais muitas vezes intangíveis a 
priori. 
 
6 HOFFE, 2005 apud Ibid, p. 150 
7 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson, op. cit., p. 151 
20 
 
De forma a explicitar todo esse emaranhado de pensamentos, cita-se o Enunciado n. 
23 do Conselho de Justiça Federal8: “A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo 
Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance 
desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à 
dignidade da pessoa humana.” 
Portanto, a autonomia privada não deve ser conceituada partindo apenas do ponto de 
vista baseada apenas na liberdade de contratar do indivíduo particular, devendo-se levar em 
consideração a noção de indivíduo social, isto é, inserido dentro de uma sociedade. 
 
2.2.2 Consensualismo 
 
Sendo um princípio tradicional, o consensualismo em um momento anterior poderia 
ser definido como derivação da autonomia da vontade, somada ao formalismo e simbolismo, 
características predominantes nas civilizações antigas. 
Em Roma, por exemplo, o formalismo era presente de forma tão constante nos 
contratos, que havia dois tipos de rituais para a formalização do contrato. Os contratos reais 
eram literalmente pesados em uma balança, e os contratos literais só entravam no plano de 
existência com a redação escrita, denominada litteris. Apenas os contratos consensuais, muito 
raros, surtiam efeitos jurídicos pelo simples consenso das partes9. 
Nos dias de hoje, o formalismo foi cada vez mais sendo deixado de lado, 
principalmente com o advento e popularização da internet, onde são celebrados inúmeros 
contratos por meio de assinaturas online via aplicativos e softwares de dispositivos móveis e 
computadores. 
Porém, o consentimento não garante, por si só, a validade do contrato. Em alguns 
casos, a validade do contrato se condiciona, além do consenso, no cumprimento de requisitosestabelecidos em lei. 
Portanto, partindo-se das premissas contratuais contemporâneas, podemos 
compreender o consensualismo como sendo o consentimento e vontade de contratar das partes. 
 
 
8 BRASIL. Conselho da Justiça Federal. Enunciado n. 23. Disponível em: 
https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/669>. Acesso em: 22 ago. 2021. 
9 GOMES, op. cit., p. 37. 
21 
 
2.2.3 Força obrigatória 
 
Como o nome sugere, o princípio da força obrigatória significa que o contrato gera 
obrigações entre as partes. Em outras palavras, o contrato deve ser cumprido pelas partes 
contratantes como se suas cláusulas fossem preceitos legais imperativos10. 
Pela ideia clássica, um contrato só poderia ser revisado desde que a revisão seja 
estipulada novamente por consenso entre os contratantes. Aqui, não caberiam escusas ao 
cumprimento do contrato, como por exemplo a onerosidade excessiva ou o desequilíbrio gerado 
entre as partes. 
Por ser um princípio tradicional, destaca-se sua importância para a época da expansão 
mercantil, visto que assegurava segurança jurídica aos negócios firmados no âmbito comercial. 
Desse princípio também decorre a interpretação de que o Poder Judiciário não pode 
intervir no conteúdo do contrato, apenas se permitido por lei. 
Pode-se afirmar então que este é um princípio derivado da autonomia da vontade, visto 
que funciona como uma forma de restrição da atividade do judiciário, que não pode 
simplesmente modificar cláusulas a seu bel prazer. 
Porém, como dito anteriormente, esta conceituação é um tanto ultrapassada para o 
direito contemporâneo. 
Na atualidade, o princípio da força obrigatória ainda existe, mas sua definição está 
limitada a outros princípios, devendo ser flexibilizado quando necessário. Isso não importa, de 
forma alguma, em sua extinção, muito pelo contrário, ele ainda é um princípio muito importante 
para manter a segurança jurídica em relação aos contratos firmados. 
No entanto, o direito hodierno admite, em casos especiais, ou seja, na exceção e não 
na regra, que cláusulas contratuais venham a ser revistas pelo judiciário. Basicamente, se 
existirem acontecimentos externos e extraordinários ao contrato, que desvirtuem sua própria 
natureza, implicando numa injusta aplicação dos princípios em seus termos absolutos, não só 
poderá, como deverá haver a intervenção estatal no contrato. 
Assim, com essa nova interpretação, muitos casos em que o princípio da força 
obrigatória era aplicado de forma errônea, gerando onerosidade excessiva a alguma das partes, 
deu-se lugar ao princípio da revisão contratual. 
 
10 GOMES, 2009. ps. 38-41. 
22 
 
Um dos marcos para a mudança de postura na interpretação da força obrigatória dos 
contratos se deu com o advento da lei francesa publicada no diário oficial em 21 de maio de 
1918, chamada de “Lei Failliot”. A referida lei foi aprovada no contexto da Primeira Guerra 
Mundial (1914 a 1918) e permitiu que os contratos de entrega de mercadorias de prestação 
diferida firmados antes do período da Primeira Guerra fossem resolvidos, desde que 
demonstrado o prejuízo a uma das partes. 
Era uma lei de guerra, de caráter transitório, mas que introduziu no ordenamento 
jurídico um suporte normativo que possibilitou a resolução, por qualquer das partes 
contratantes, de obrigações de fornecimento de mercadorias e alimentos, contraídas 
antes de 1o de agosto de 1914, bem assim que ostentassem a natureza sucessiva e 
continuada, ou apenas diferida.11 
Assim, podemos considerar o advento da Lei Failliot como o surgimento da ideia da 
revisão contratual. 
 
2.2.4 Boa-fé 
 
O princípio da boa-fé carrega um juízo de valor, nas raízes jusnaturalistas, 
considerando como ético ou “de boa-fé” aquela ação que se enquadra na lei, ao contrário do 
ilícito, que deve ser visto com repulsa. 
A boa-fé é dividida em dois planos, o subjetivo e o objetivo. 
Pode-se definir a boa-fé subjetiva como “um estado de espírito que leva o sujeito a 
praticar um negócio em clima de aparente segurança”.12 
Já a boa-fé objetiva corresponde a “uma regra de conduta, um modelo de 
comportamento social, algo, portanto, externo em relação ao sujeito.”13 
Tal princípio deve guiar a atuação dos contratantes, que devem prosseguir sempre com 
lealdade, honestidade e transparência, de forma a cumprir as obrigações contratuais e ao mesmo 
tempo cumprir com as funções econômicas e sociais do contrato. 
 
11 RODRIGUES JR., Otavio Luiz. Revisão judicial dos contratos: Autonomia da vontade e teoria da imprevisão. 
2 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 29. 
12 AZEVEDO, 2019, p. 35. 
13 GOMES, 2009, p. 43. 
23 
 
Importante ressaltar que tal princípio não incide somente durante a prestação das 
obrigações contratuais, como também incide em obrigações pré-contratuais, como por exemplo 
clareza na proposta, vedação de cláusulas leoninas assim como também gera obrigações pós-
contratuais, como por exemplo manter o sigilo de informações e dados dos contratantes. 
O atual Código Civil expressa o princípio da boa-fé no âmbito contratual: “Art. 422. 
Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua 
execução, os princípios de probidade e boa-fé.” Ainda, o mesmo diploma legal dispõe que a 
boa-fé deve ser utilizada como ponto de vista para a interpretação de negócios jurídicos “Art. 
113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua 
celebração.”. 
E não para por aí, a importância da boa-fé no ordenamento jurídico brasileiro tem uma 
influência não só no âmbito material, mas também no processual. 
O Código de Processo Civil de 2015 também positivou a ideia de boa-fé objetiva, 
dispondo em seu artigo 5º que: “Aquele que de qualquer forma participa do processo deve 
comportar-se de acordo com a boa-fé.” 
Portanto, vimos que a preocupação do legislador em positivar o princípio da boa-fé em 
nosso ordenamento jurídico é tamanha que fez com que o princípio passasse a tomar proporções 
de um dever comportamental, constituindo uma cláusula geral dos contratos. 
 
2.2.5 Função social 
 
O princípio da função social implica que toda e qualquer relação jurídica deve se guiar 
pelo sentimento de fraternidade. No âmbito contratual significa que o contrato, além de atingir 
os objetivos individuais dos contratantes, deve se ater também aos objetivos sociais. 
Dispõe o Código Civil, em seu artigo 421 que “A liberdade contratual será exercida 
nos limites da função social do contrato.” 
Assim, pela leitura do próprio Código Civil, depreende-se que no âmbito dos contratos, 
deixou-se de ter a incidência de ideais radicais liberais, para dar lugar à proteção do 
hipossuficiente da relação, sempre pautado pelo bem comum e fins sociais. 
Fica-se, portanto, o questionamento, quais são os fins sociais e bem comum de uma 
sociedade? 
De forma a tentar objetivar a resposta, para garantir uma aplicação prática do princípio 
da função social no âmbito contratual, partilho do pensamento de Antonio Junqueira de 
24 
 
Azevedo e Francisco Paulo de Crescenzo Marino, que expressa a majoritária doutrina brasileira, 
no sentido de que se verificado que o contrato apresente ofensa aos direitos coletivos (meio-
ambiente e livre concorrência), ofensa à dignidade da pessoa humana e impossibilidade de 
obtenção da finalidade proposta pela pactuação do contrato.14 
 
2.2.6 Equilíbrio econômico 
 
Falar em equilíbrio no âmbito jurídico sempre nos remete à ideia de justiça. No âmbito 
contratual, pode ser traduzido como sendo a proporcionalidade entre a prestação e 
contraprestação. 
Assim, quando um contrato é firmado, ambas as partes buscam realizar seus interesses. 
Não há que se falar em contrato justo, se alguma parte não aferir nenhuma vantagem com a 
contratação. 
Tal conceito é de extrema utilidade ao juiz intérprete da lei, que ao verificar que uma 
das partes está sofrendo onerosidade excessiva, poderá intervir nocontrato. Assim, pode se 
dizer que se trata de um princípio com caráter interpretativo/subjetivo, pois leva em conta o 
instituto da onerosidade excessiva. 
Judith-Martins-Costa, pensando na vantagem econômica pecuniária propriamente dita, 
anota que "não se trata, por óbvio, de um equilíbrio meramente matemático ou estático, como 
o de corpos em repouso, devendo ser visto na dinamicidade da relação, de seu conteúdo, seus 
fins e interesses legítimos".15 
Sobre o desequilíbrio econômico, preceituo o Código Civil, em seu artigo 157: 
 
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da 
prestação oposta. 
 
§ 1 o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo 
em que foi celebrado o negócio jurídico. 
 
§ 2 o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, 
ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. 
 
 
14 GOMES, 2009, p. 50 
15 MARTINS-COSTA, 2004; apud FARIAS; ROSENVALD, 2017 p. 256. 
25 
 
Ou seja, da análise do dispositivo, extrai-se que havendo desequilíbrio no contrato, 
representado pela lesão e alteração de circunstâncias, o contrato poderá ser resolvido ou 
revisado. 
Ainda, sobre incidência do princípio do equilíbrio contratual, ainda no Código Civil, 
previu o legislador no art. 317 “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção 
manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz 
corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.”. 
E desse princípio também derivou a onerosidade excessiva, disposta no art. 478 do 
CC. 
É da interpretação dos referidos artigos que podemos ver o limite da flexibilização do 
princípio da força obrigatória dos contratos. Assim, se verificado o desequilíbrio econômico 
contratual, estará autorizado o juiz, por expressa previsão legal, a resolver, revisar ou condenar 
a reparar os danos provenientes da relação contratual. 
 
2.3 PRINCÍPIOS CONSUMERISTAS APLICADOS AOS CONTRATOS 
 
A Constituição Federal assegura em seu art. 5º, XXXII que “o Estado promoverá, na 
forma da lei, a defesa do consumidor”. 
Pouco tempo após a promulgação da Carta Magna de 88, em 1991 entrou em vigor a 
Lei nº 8.078, que instituiu o Código de Defesa do Consumidor. 
Sua importância não reside no fato do CDC trazer novos princípios, mas sim na ideia 
de que se passe a observar contratos sob o prisma do consumidor, como parte hipossuficiente 
na relação e merecedor de maior proteção estatal. 
Assim, cabe aqui destacar duas noções principiológicas que o CDC traz consigo, a 
ideia da vulnerabilidade e da hipossuficiência. 
Oportuno ressaltar que apesar de serem amplamente confundidos, tais princípios não 
são necessariamente interligados. 
 
2.3.1 Vulnerabilidade 
 
O princípio da vulnerabilidade é destacado no art. 4º, inc. I do CDC, estando disposto 
da seguinte forma: 
26 
 
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento 
das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a 
proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem 
como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes 
princípios: 
 
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; 
 
Ou seja, da leitura do artigo supracitado, depreende-se que segundo o CDC, todo 
consumidor está em posição vulnerável. 
Tal característica é considerada inerente ao consumidor, pois quando este está inserido 
em uma relação consumerista, incidem sobre ele três fatores: o técnico, o econômico e o de 
natureza jurídica.16 
O fator técnico pode ser caracterizado como o fato de que o consumidor, visando 
satisfazer seus anseios, é obrigado a se submeter às condições impostas pelo mercado.17 
Já o fator econômico diz respeito à própria capacidade econômica do fornecedor e do 
consumidor. Via de regra, o consumidor detém menor capacidade financeira que o fornecedor. 
Por óbvio, há casos em que determinado consumidor aufira renda maior que o próprio 
fornecedor, mas numa sociedade capitalista, isso é uma exceção. 
Por fim, dizer que a natureza jurídica faz com que o consumidor esteja em relação de 
vulnerabilidade importa que a maioria dos contratos são elaborados de forma unilateral pelos 
fornecedores, o que reflete no favorecimento deste em relação aos consumidores.18 
 
2.3.2 Hipossuficiência 
 
Acerca da hipossuficiência, dispõe o Código de Defesa do Consumidor: 
 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
 
(...) 
 
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da 
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a 
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de 
experiências; 
 
16MELO, Nehemias Domingos de. A principiologia do CDC: os princípios norteadores das relações de 
consumo: vulnerabilidade, boa-fé e equidade. Os princípios norteadores das relações de consumo: 
vulnerabilidade, boa-fé e equidade. 2021. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/87774/a-principiologia-do-
cdc-os-principios-norteadores-das-relacoes-de-consumo-vulnerabilidade-boa-fe-e-equidade. 
17ALMEIDA, 1993 apud Ibid. 
18MARQUES, 2002 apud Ibid. 
27 
 
 
Pela leitura do dispositivo, depreende-se que nem sempre o consumidor será 
considerado com hipossuficiente. Indo mais além, seguindo a leitura do inciso VIII, chegamos 
à conclusão de que para que o indivíduo seja considerado hipossuficiente, deverá haver um 
juízo de valor subjetivo. 
Assim, a hipossuficiência não está relacionada à capacidade financeira do indivíduo, 
mas sim em relação ao sentimento de “leiguice” e disparidade de conhecimento técnico e de 
meios de defesa de seus direitos em que este se encontra com a outra parte da relação contratual. 
Embora esteja presente no CDC, o princípio da hipossuficiência tem enorme impacto 
e importância em todo o ordenamento jurídico, podendo ser aplicado em diversos âmbitos, 
desde que verificado o preenchimento de seus requisitos. 
Por exemplo, é por meio deste princípio que o julgador pode atribuir uma inversão do 
ônus probatório no âmbito processual. 
 
2.3.3 Diálogo das fontes 
 
Como visto nos dois subtópicos acima, o Direito do Consumidor se coloca perante o 
ordenamento jurídico como um direito que parte de um grande pressuposto nas relações 
consumeristas: a diferença material entre fornecedor e consumidor, elo mais frágil da relação. 
Sabe-se também, que os direitos ao consumidor também são assegurados 
expressamente pela nossa Constituição Federal, pelo art. 5º, XXXII e art. 170, V. Extrai-se da 
Carta Magna: 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à 
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; 
 
(...) 
 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre 
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da 
justiça social, observados os seguintes princípios: 
V - defesa do consumidor; 
 
Portanto, antes de se preocupar em oferecer maior proteção jurídica ao consumidor, 
devemos cuidar do próprio conceito de consumidor. Segundo o CDC: 
28 
 
 
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou 
serviço como destinatário final. 
 
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que 
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. 
 
Já a redação do Código Civil, por sua vez, não se preocupou expressamentecom as 
diferenças materiais entre as partes integrantes da relação jurídica. 
Contudo, mostra-se sempre necessária a leitura sob o prisma de que as leis são 
compositoras de um mesmo sistema jurídico, onde a prioridade é a dignidade da pessoa humana 
e o interesse social, não podendo ser interpretadas isoladamente. Uma evidência clara disso é 
que a própria Lei 8.078/90 inicia, em seu art. 1º, estabelecendo que “Art. 1° O presente código 
estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social...”. 
Desta forma partindo da ideia de que os mais variados ramos do direito (civil, 
empresarial, consumerista) se interligam, e que os princípios basilares do ordenamento jurídico, 
interesse social, dignidade da pessoa humana, e que os princípios da vulnerabilidade e da 
hipossuficiência visam garantir a própria ordem pública, sendo delas subprincípios, chega-se à 
conclusão de que a “relação será civil, empresarial ou de consumo conforme a sua função, 
consoante a característica finalística da relação obrigacional” 19de forma que não só podem, 
como devem ser utilizados em outras áreas jurídicas de forma a funcionar como verdadeiros 
garantidores de direitos, o que denomina-se diálogo das fontes. 
Assim, mesmo se a matéria for puramente cível ou comercial, se verificado que uma 
das partes é destinatária final da outra em uma relação obrigacional, nos termos do art. 2º do 
CDC20, poderá ser aplicada as normas consumeristas ao caso. 
Como destinatário final, concebe-se o adotado pela jurisprudência brasileira com a 
adoção da teoria finalista/subjetivista, ou seja, aquele que utiliza o serviço/produto para fins de 
satisfação pessoal. 
Já a teoria maximalista, além de considerar o destinatário final, também considera 
como consumidor aquele que estabeleceu a relação jurídica com finalidades de continuidade da 
atividade econômica. 
 
19 FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 312. 
20 Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário 
final. 
 Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja 
intervindo nas relações de consumo. 
29 
 
Se fosse adotada a pura teoria maximalista, quase todas as relações estariam sujeitas 
ao CDC, o que feriria o próprio princípio da isonomia – tratamento desigual entre os desiguais 
– pois todos estariam em pés de igualdade.21 
Não se pode, portanto, aplicar a teoria subjetiva/finalista sem se atentar ao fato de que 
até mesmo esta pode ser mitigada, se verificado que mesmo não sendo destinatário final, o 
consumidor esteja em relação de vulnerabilidade técnica, jurídica e econômica. 
Concluindo, a aplicação das normas consumeristas deverá ser aplicada levando-se em 
conta diversos fatores, não somente o finalista, como também o da vulnerabilidade e pela 
natureza do próprio contrato. Aliás, a jurisprudência brasileira, acertadamente, vem pacificando 
cada vez mais o entendimento da aplicação da teoria subjetiva mitiga. Extrai-se da ementa do 
AgInt no AREsp nº 1.454.58322: 
 
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE 
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PERDA DE UMA CHANCE. CDC. 
MITIGAÇÃO DA TEORIA FINALISTA. ACÓRDÃO EM CONSONÂNCIA COM 
A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE SUPERIOR. SÚMULA 83 DO STJ. 
MATÉRIA QUE DEMANDA REEXAME DE FATOS E PROVAS. SUMULA 7 DO 
STJ. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 
1. Não se viabiliza o recurso especial pela indicada violação do art. 1.022 do 
CPC/2015. Isso porque, embora rejeitados os embargos de declaração, todas as 
matérias foram devidamente enfrentadas pelo Tribunal de origem, que emitiu 
pronunciamento de forma fundamentada, ainda que em sentido contrário à pretensão 
da parte recorrente. 
2. O acórdão recorrido não destoa da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, 
que tem mitigado a aplicação da teoria finalista nos casos em que a pessoa física ou 
jurídica, embora não se enquadre na categoria de destinatário final do produto, se 
apresenta em estado de vulnerabilidade ou hipossuficiência, autorizando assim a 
aplicação do Código de Defesa do Consumidor.Precedentes. 
3. As conclusões do acórdão recorrido sobre a vulnerabilidade do contratante, 
inversão do ônus da prova, a data do termo a quo do prazo prescricional, e inexistência 
da prescrição, não podem ser revistas por esta Corte Superior, pois demandaria, 
necessariamente, reexame do conjunto fático - probatório dos autos, o que é vedado 
em razão do óbice da Súmula 7 do STJ. 
4. Agravo interno não provido. (Grifei) 
 
Assim, pode-se afirmar que o conceito de proteção do vulnerável é uma cláusula geral 
não apenas do direito do consumidor, mas de todo o ordenamento jurídico. 
 
 
21 FARIAS; ROSENVALD, 2017. ps. 315-317. 
22 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Interno no Agravo em Recurso Especial n. 1.454.583- PE 
(2019/0049442-9). Agravante: Banco Santander (Brasil) S.A. Agravado: Diogo Bezerra Leite Cavalcante. 
Relator: Ministro Luis Felipe Salomão. Brasília, 24 set. 2019. Disponível em: 
https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=98840051&nu
m_registro=201900494429&data=20190902&tipo=91&formato=PDF. Acesso em: 26 ago. 2021. 
30 
 
2.4 CONCEITO DE OBRIGAÇÃO NO CONTRATO 
 
No âmbito jurídico, o conceito de obrigação pode ser definido como sendo uma relação 
jurídica de caráter transitório e econômico, pelo meio do qual o devedor se vincula ao credor, 
sendo, perdoem-me a redundância, obrigado a cumprir tal ato. 23 
À obrigação que não foi satisfeita dá-se o nome de inadimplida. Sendo uma parte 
inadimplente, estará autorizado o seu credor a executar seu patrimônio a fim de ver satisfeito 
seu interesse. 
Importando o conceito para o âmbito contratual, tem-se que sempre haverá a figura do 
credor e devedor, muitas vezes simultaneamente no mesmo contratante. Assim, o contrato 
sempre garante às partes uma obrigação, seja ela de dar, fazer ou não fazer. 
O Código Civil ainda dispõe em seu artigo 476 que “nos contratos bilaterais, nenhum 
dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.” 
Assim, uma parte não poderá exigir cumprimento de obrigação da outra, se não tiver 
adimplido com sua própria obrigação. 
A decorrência das obrigações no âmbito contratual resulta em duas consequências: a) 
o contrato é formado pelo acordo de vontades dos contratantes b) tal acordo de vontades gera 
efeitos obrigacionais que repercutirão na esfera patrimonial das partes. 
 
2.5 FORMAS DE EXTINÇÃO DOS CONTRATOS 
 
Quando se fala em extinção contratual, entende-se qualquer forma apta a fazer o 
contrato de obrigações entre as partes desaparecer. Portanto, um contrato executado em sua 
totalidade estará extinto. Não há uma conotação ligada ao inadimplemento. 
A execução é o caminho mais comum para a extinção dos contratos, visto que em um 
ordenamento jurídico guiado pela boa-fé objetiva, obrigações são pactuadas no sentido de 
serem cumpridas. A extinção do contrato por execução faz com que suas obrigações e seus 
direitos também se extingam. 
No entanto, quando se fala em inadimplemento, há diversas maneiras de se extinguir 
o contrato, e seus efeitos não cessam por aí, visto que se constata que há obrigações a se cumprir. 
 
23AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral das obrigações: curso de direito civil. 9. ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2001. p. 11. 
31 
 
Álvaro Villaça Azevedo 24 pontua as hipóteses de extinção do contrato: 
 
(a) por imperfeição a ele anterior, que causa sua nulidade ou anulabilidade; (b) pela 
execução, com o cumprimento de todas as obrigações contratuais; (c) pela inexecução 
culposa, quando ocorre rescisão unilateral ou bilateral; (d) pela inexecução não 
culposa voluntária, no caso de resilição unilateral e bilateral; ou, finalmente, (e) pela 
inexecução não culposa involuntária, quando setrata de resolução. 
 
Portanto, se a causa da extinção for anterior ou atinente à própria celebração do 
contrato, hipótese “a”, a consequência será a anulação contratual. Aqui, o vício atinge o próprio 
plano existencial do contrato. 
Agora, se a causa for posterior ao pacto contratual, hipóteses “c”, “d” e “e” há que se 
falar em dissolução.25 
Sendo a resolução, resilição e rescisão as suas principais formas, que serão 
minuciosamente abordadas a seguir. 
No âmbito do presente trabalho, cabe destacar as hipóteses em que há a inexecução 
das obrigações contratuais. 
Álvaro Villaça Azevedo pontua que nos casos de inexecução contratual, é necessário 
a aferição de culpa, visto que, se verificado que inexiste culpa “a regra é de que voltem as partes 
contratantes ao estado primitivo, anterior à avença”, enquanto, verificada a existência de culpa 
“é preciso ressarcir as perdas e danos e cumprir as demais consequências desse inadimplemento. 
Tudo porque o princípio vigente, em nosso sistema legislativo das obrigações, é o de que, não 
havendo culpado, o dono deve sofrer as perdas e os prejuízos (res perit domino, a coisa perece 
para o dono).”26 
Importante pontuar que além das hipóteses de extinção contratual relatadas, ainda 
existem a cláusula resolutiva e exceção do contrato não cumprido, porém, a análise de tais 
faculdades não se faz necessária para a concretude deste trabalho, motivo pelo qual me furtarei 
de oferecer maior análise. 
Já os casos em que não há como se imputar culpa às partes do contrato, tratam-se de 
hipóteses de resilição ou resolução, diferente do caso de verificação de culpa na inexecução, 
onde ocorrerá a rescisão. Institutos que serão analisados adiante. 
 
 
24 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Curso de Direito Civil: teoria geral dos contratos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. 
p. 133. 
25 GOMES, 2009, p. 203. 
26 Ibid., p. 134 
32 
 
2.5.1 Rescisão 
 
Verificado que a inexecução da relação contratual se deu de forma culposa, é hipótese 
de requerimento de rescisão contratual, que poderá ocorrer de forma unilateral ou bilateral, 
como prevê o art. 475 do Código Civil: “A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a 
resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos 
casos, indenização por perdas e danos.”27 
Assim, nos casos da rescisão, resumindo, haverá a culpa, que acarretará na obrigação 
de ressarcir em perdas e danos. 
Isso decorre da própria ideia de responsabilidade civil, visto que se presente a culpa 
no inadimplemento configura os três requisitos para a responsabilização: a) ato ilícito – 
decorrente da não observância de determinada obrigação contratual, b) dano – aqui se deve 
compreender toda obrigação contratual como tendo caráter patrimonial e c) nexo causal. 
 
2.5.2 Resilição/distrato 
 
A resilição do contrato não está ligada ao próprio inadimplemento das obrigações, mas 
sim da vontade, ou falta de, dos contratantes em prosseguir com o pactuado. Nas palavras de 
Orlando Gomes, pode ser definido como a extinção do contrato por simples declaração vontade 
de uma ou das duas partes contratantes.28 
A resilição se dará quando não for possível aferir culpa aos contratantes e poderá ser 
unilateral ou bilateral, também chamada de distrato dar de forma tanto uni, quanto bilateral. 
O distrato, por ser de mútuo consentimento, não precisará da intervenção judiciária, 
salvo se houver vício de vontade ou gerar desequilíbrio entre as partes. 
Sobre o distrato, dispõe o em seu art. 472 que “ O distrato faz-se pela mesma forma 
exigida para o contrato”. Assim, verifica-se a necessidade de forma idêntica entre o distrato e 
o contrato inicial. Exemplificando, um contrato celebrado por instrumento público deverá ser 
distratado também por instrumento público, sob pena de invalidade. A lei, porém, não pune a 
formalidade excessiva do distrato, por exemplo, um contrato verbal poderá ser distratado por 
meio de documento escrito. 29 
 
27 BRASIL, 2002 
28 GOMES, 2009 apud FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 579. 
29 FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 581. 
33 
 
Cito o Enunciado 584 do CJF: "Desde que não haja forma exigida para a substância 
do contrato, admite-se que o distrato seja pactuado por forma livre". 
Já a resilição unilateral, também conhecida como denúncia, estará autorizada por lei 
ou por cláusula de distrato. Aqui, cumpre destacar o art. 473 do Código Civil. Extrai-se: 
 
Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o 
permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte. 
 
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito 
investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá 
efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos 
investimentos. 
 
O caput do art. 473 deixa a impressão clara de que não só a lei, mas também o contrato 
pode prever uma cláusula de resilição. 
Analisando o parágrafo único do artigo supracitado, depreende-se que a depender da 
natureza do contrato, tendo uma das partes realizado investimento compatíveis com a 
possibilidade de efetuar o cumprimento de sua obrigação, ficará suspensa a denúncia. 
Aqui, verificou-se a preocupação do legislador em manter ao máximo a efetiva 
concretização das obrigações contratuais, sendo a resolução o último passo a ser dado, quando 
não houver restado maneira de executar tais obrigações. Aliás, ressalta-se que apesar de ser 
unilateral, o legislador buscou resguardar os direitos do denunciado pautado pelo princípio da 
boa-fé objetiva e defesa à expectativa de direito. 
No âmbito dos contratos de locação a denúncia se dará após o prazo de duração do 
contrato e assim poderá o locatário promover a ação de despejo, nos termos da Lei 8.245/91. 
 
2.5.3 Resolução 
 
Já a resolução em strictu sensu é hipótese de extinção contratual derivada da 
inexecução contratual derivada de fator superveniente. A resolução, quando feita pela parte 
prejudicada com o inadimplemento é conhecida como rescisão, como anteriormente visto. 
Porém, pode ser dividida ainda verificado se o inadimplemento se deu voluntária, 
involuntariamente (impossibilidade superveniente) ou por onerosidade excessiva. 
Assim, ela pode ocorrer independente da vontade das partes. Podemos observar tal 
fato, principalmente, no contexto da pandemia, em que muitas vezes há a impossibilidade das 
partes em cumprirem com suas obrigações. Por tal razão, a resolução terá um espaço de 
34 
 
abordagem maior no presente trabalho. Uma das hipóteses em que incidirá a resolução 
contratual é quando verificada a existência de onerosidade excessiva gerada à alguma das partes 
contratantes. 
A resolução se dará por meio de ação judicial e tem por fim a extinção contratual. 
O Código Civil prevê as situações de resolução contratual nas obrigações de dar coisa 
certa (art. 234), de fazer (art. 248) e de não fazer (art. 250), extrai-se: 
 
Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, 
antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para 
ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo 
equivalente e mais perdas e danos. 
 
(...) 
 
Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-
se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos. 
 
(...) 
 
Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se 
lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.30 
 
Ainda, é faculdade do credor exigir o cumprimento das obrigações do contrato, o 
pagamento de perdas e danos e a resolução contratual. Chama-se isto de cláusula resolutiva, se 
expressa em contrato, operará de pleno direito, se não tiver expressa, deverá ser levada a juízo 
para discussão. Assim, por disposição doCódigo Civil, temos todo contrato bilateral contém 
uma cláusula resolutiva tácita31. 
Por prever que a cláusula resolutiva tácita deve ser levada ao judiciário, subentende-
se que a resolução do contrato não é um efeito da cláusula tácita, mas sim um efeito da decisão 
judicial que a decretou. Isso pois, a averiguação da inexecução contratual, averiguação em que 
deve ser levada em conta o estabelecimento de contraditório. 
 
2.5.3.1 Inexecução Voluntária 
 
Na resolução por inexecução voluntária, deverá ser verificado se o inadimplemento 
ocorreu com a culpa, ilicitude, dano e nexo causal entre o ato e o prejuízo. 
Os efeitos dessa espécie de resolução também atingirão a terceiros. 
 
30 BRASIL, 2002 
31Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o 
cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. 
35 
 
Caso o contrato seja de execução única, terá efeitos ex tunc, se o contrato for de 
execução diferida, seu efeito será ex nunc, visto que não há como se restituir obrigações certos 
tipos de obrigações já adimplidas. 
Já os terceiros só serão atingidos em relação aos direitos de crédito, os direitos reais 
não serão atingidos. 
Ainda, deverá o inadimplente pagar o relativo às perdas e danos, incluem-se aqui os 
danos emergentes e lucros cessantes, além da própria resolução contratual. 
 
2.5.3.2 Inexecução Involuntária 
 
A resolução por inexecução involuntária opera quando o devedor quer cumprir com 
sua obrigação, mas não pode cumpri-la, por razões alheias a sua vontade. A impossibilidade 
de seu cumprimento aqui reside nos chamados caso fortuito e coisa maior. 
Na inexecução involuntária, a impossibilidade de cumprimento obrigacional possui 
quatro principais características: superveniência, objetiva, total e definitiva.32 
Superveniente, pois a causa tem que ser posterior à firmação do contrato. Objetiva, 
pois independe da vontade do devedor. Total, pois no caso de verificada impossibilidade 
parcial, poderá o credor exigir o parcial cumprimento. Por fim, definitiva, pois se a 
impossibilidade for apenas temporária, o contrato poderá ser suspenso. 
Aqui, diferentemente da inexecução voluntária, a resolução não precisará ser requerida 
ao juiz para operar efeitos. Isto ocorre em virtude de que a impossibilidade neste caso tem 
caráter objetivo. 
Somente será necessária a intervenção do judiciário para eventual pedido de restituição 
ou recusa de contraprestação. 
Assim como na resolução voluntária, tem efeitos ex tunc, porém, aqui não haverá 
perdas e danos. 
 
2.5.3.3 Resolução e Revisão por Onerosidade Excessiva 
 
Por fim, o Código Civil traz a possibilidade de resolução contratual por Onerosidade 
Excessiva. A onerosidade excessiva deverá se dar em decorrência de extraordinário e 
 
32 GOMES, 2009. p. 212. 
36 
 
imprevisível. Cabe ressaltar que a onerosidade excessiva como causa de resolução e revisão 
contratual não importa na inexecução da obrigação, mas sim em extrema dificuldade para seu 
adimplemento.33 
Porém, está se difere da inexecução voluntária, pois aqui a resolução se dará por 
motivo alheio, embora não haja impossibilidade no cumprimento obrigacional. 
Ademais, a diferença para outros tipos de resolução se dá no fato de que deve partir do 
pedido do iminente inadimplente, iminente, pois a inexecução é futura e não involuntária. 
Assim, deverá a resolução ser decretada antes mesmo da ocorrência do inadimplemento. 
Em outras palavras, esta modalidade de resolução contratual se difere das demais 
basicamente por dois motivos: 1) ainda não houve a inexecução do contrato e 2) deverá haver 
um motivo alheio para a configuração da onerosidade excessiva 3) a onerosidade excessiva não 
importará na impossibilidade de cumprimento contratual 4) por não importar em inexecução 
contratual, deverá ser decretada antes do próprio inadimplemento. 
Cabe ressaltar também, que assim como na inexecução involuntária, não haverá o 
ressarcimento por perdas e danos. 
Dada a importância e singularidade dessa espécie, além da diferença para as outras 
formas de resolução/revisão contratual, a abordagem da onerosidade excessiva não se dará 
somente do âmbito de hipótese de revisão contratual, mas sim de sua análise teórica como teoria 
e instituto independente, a qual resguardo o próximo capítulo a fim de ressaltar sua importância 
em nosso ordenamento jurídico. 
 
3 REVISÃO/RESOLUÇÃO CONTRATUAL NO DIREITO BRASILEIRO 
 
A resolução do contrato, além de extinguir as obrigações contratuais, resultará em 
alguns casos no dever de restituição, nos casos em que um dos contratantes tenha recebido uma 
prestação sem ter ele próprio prestado a devida contrapartida, nos termos do Código Civil: “Art. 
885. A restituição é devida, não só quando não tenha havido causa que justifique o 
enriquecimento, mas também se esta deixou de existir” 
Como visto, tal medida drástica, restituição de valores, pode ser evitada, pelo menos 
parcialmente, se no lugar da resolução contratual conseguir encaixar uma revisão.34 
 
33 GOMES, 2009. p. 214. 
34 TEPEDINO, Gustavo; SCHREIBER, Anderson. Fundamentos do direito civil. Volume 2: Obrigações. Rio de 
Janeiro: Forense, 2020, p. 225. 
37 
 
Porém, o que se quer chamar a atenção é que, sempre que possível, a revisão deve ser 
privilegiada à resolução contratual. A revisão será nada mais que a busca pelo reequilíbrio 
contratual anteriormente pactuado. 
Como veremos a seguir, no direito pátrio, a revisão é pautada pela aplicação de três 
principais teorias, que são a baseada flexibilização do princípio da força obrigatória dos 
contratos: a Onerosidade Excessiva, a Imprevisão e a Quebra da Base Objetiva do Contrato. 
De acordo com tais teorias, não deverá ocorrer a impossibilidade do inadimplemento 
da obrigação, mas sim a dificuldade de manutenção da relação pactuada. Caso verificado que o 
cumprimento da obrigação se tornou impossível, não há que se falar em revisão, mas sim em 
resolução contratual. 
Por ser medida excepcional, a revisão deverá proceder de uma análise ampla levando-
se em consideração: a) análise subjetiva: quanto aos sujeitos da relação contratual, se civis, 
empresários, se hipossuficientes ou não, b) análise econômica: há risco presumido na 
contratação? c) existência de fato superveniente35 
Ressalta-se, porém que apesar de ser privilegiada, a revisão contratual deverá se dar 
de forma a atender interesses e direitos de ambas as partes. 
O próprio Código Civil36, de forma clara, faculta ao réu escolher se deseja a revisão. 
No mesmo sentido, o Enunciado n. 367 do CJF 37estabelece: “Em observância ao 
princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a resolução do pacto por 
excessiva onerosidade, pode o juiz modificá-lo eqüitativamente, desde que ouvida a parte 
autora, respeitada sua vontade e observado o contraditório.” 
Assim, se as partes não concordarem com a revisão, deverá o juiz decretar a resolução 
do contrato. 
Feita a abordagem inicial acerca da revisão e resolução contratual no direito pátrio, os 
próximos tópicos para estabelecer as diferenças entre as teorias da Imprevisão, Onerosidade 
Excessiva e da Quebra da Base Objetiva. 
 
 
35 FARIAS et al., 2017, p. 613. 
36 Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do 
contrato. 
37ENUNCIADO nº 367 do CJF, da IV Jornada de Direito Civil. Disponível em: 
https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/488. Acesso em 06 set. 2021. 
 
38 
 
3.1 IMPREVISÃO (REBUS SIC STANTIBUS) 
 
A teoria de imprevisão está presente em nosso ordenamento jurídico como hipótese 
ensejadora de revisão contratual, dela decorre a cláusula rebus sic stantibus. 
A cláusula rebus sic stantibus, como também é conhecida, surge na Idade Média, da 
frase contractus qui habent tractum sucessivum et dependentiam de futuro, rebus sicstantibus 
intelliguntur, traduzindo, tem-se a seguinte redação “Os contratos que têm trato sucessivo e 
dependência futura devem ser entendidos estando as coisas assim”.38 
Assim, entende-se que deve haver um equilíbrio tanto no momento de contratação 
como no da execução. Caso verificado um desequilíbrio gerado pela alteração da situação 
inicial entre as partes contratantes, e uma das partes tiver em desvantagem, a cláusula poderá 
ser aplicada para resolver ou revisar o contrato. 
A teoria da imprevisão está prevista no Código Civil de 2002: 
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das 
partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em 
virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a 
resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da 
citação. 
Além disso, a cláusula é considerada tácita a todos os contratos, ou seja, independe de 
previsão contratual expressa. 
Pelo fato de ser uma cláusula que está intrinsecamente ligada ao princípio da pacta 
sunt servanda os tribunais brasileiros sempre tem sido rigorosos quanto á sua efetiva aplicação, 
restringindo-a a casos em que verificados cumulativamente os requisitos do (1) fato 
extraordinário/imprevisível, (2) enriquecimento ou prejuízo inesperado para uma das partes e 
(3) onerosidade excessiva. Cita-se a Apelação Cível n. 1.0687.15.000680-1/001, do TJMG39: 
 
38 AZEVEDO, 2019, p. 43. 
39MINAS GERAIS, Tribunal de Justiça. Apelação Cível n. 1.0687.15.000680-1/001. Apelante: COMAE 
COMERCIO DE MADEIRAS ESPECIAIS LTDA-EPP E OUTROS. Apelado: BANCO DO BRASIL S/A. 
Relator: DESA. EVANGELINA CASTILHO DUARTE. Belo Horizonte, 04 ago. 2016. Disponível em: 
https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do;jsessionid=B817DDB6872A
968EC62755EE99B1A3A5.juri_node1?numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnic
o=1.0687.15.000680-1%2F001&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar. Acesso em 06 set. 2021. 
39 
 
EMENTA: COBRANÇA - ABERTURA DE CRÉDITO - INOVAÇÃO RECURSAL 
- TEORIA DA IMPREVISÃO - ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA. A lide é delimitada 
pelos argumentos e pedidos formulados na inicial e na contestação, não cabendo às 
partes inovar em outra oportunidade, sob pena de se ferir os princípios constitucionais 
do contraditório e da ampla defesa. Ausente a prova da onerosidade excessiva e da 
impossibilidade de cumprimento da obrigação contratual, não se aplica a teoria da 
imprevisão. A condenação ao pagamento das despesas do processo tem fundamento 
no princípio da sucumbência, segundo o qual o vencido deve ressarcir ao vencedor 
todas as despesas que efetuou para o reconhecimento de seu direito. 
Ainda, a grande esmagadora da doutrina e jurisprudência nacional defende a 
inaplicabilidade da teoria em caso de inflação. Orlando Gomes40, por exemplo, sustenta que a 
inflação em um país como o Brasil já é quase que intrínseca ao contrato, sendo previsível em 
nossa economia. Somando-se a isso, cito a Apelação Cível n. 1.0559.10.000273-7/001, também 
do TJMG41: 
Cobrança - administrativo - licitação - obra de ponte - fatos imprevisíveis e 
improváveis - aumento do custo em razão de chuvas - ofício encaminhado ao 
Município - art. 65, da Lei 8.666, de 1993 - equilíbrio financeiro-financeiro - 
aplicabilidade - dissídio coletivo - inflação - não aplicação da teoria da imprevisão - 
risco contratual - precedentes do STJ - apelação á qual se dá parcial provimento. 
1 - O art. 65, da Lei de Licitações, admite a alteração do contrato administrativo para 
restabelecimento do equilíbrio econômico-financeiro em razão do aumento do custo 
de obra por fato imprevisível ou improvável. 
2 - A jurisprudência dos tribunais já consolidou o entendimento de que o aumento do 
custo em razão de dissídio coletivo de trabalho, ou de inflação, não enseja a aplicação 
da teoria da imprevisão para transferir o risco contratual para a Administração Pública. 
Porém, assim como Álvaro Villaça de Azevedo42, defendo que basta a onerosidade 
excessiva para a configuração da revisão contratual, não havendo que se falar em 
 
40Transformações gerais do direito das obrigações. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1980. p. 148 apud. 
AZEVEDO, 2019, p.46. 
41MINAS GERAIS, Tribunal de Justiça. Apelação Cível n. 1.0559.10.000273-7/001. Apelante: CT & G 
PROJETOS E CONSTRUÇÕES LTDA. Apelado: MUNICÍPIO RIO PRETO. Relator: DES. MARCELO 
RODRIGUES. Belo Horizonte, 09 set. 2014. Disponível em: 
https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?numeroRegistro=1&totalLin
has=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0559.10.000273-7%2F001&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar. 
Acesso em 06 set. 2021. 
42 AZEVEDO, Álvaro Villaça. A codificação civil: o processo brasileiro. In: WALD, Arnoldo (Coord.). 
Revista de Direito Bancário do Mercado de Capitais e da Arbitragem, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 21, p. 
70 a 97, especialmente p. 92, jul.-set. 2003. 
https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0559.10.000273-7%2F001&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar
https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/pesquisaNumeroCNJEspelhoAcordao.do?numeroRegistro=1&totalLinhas=1&linhasPorPagina=10&numeroUnico=1.0559.10.000273-7%2F001&pesquisaNumeroCNJ=Pesquisar
40 
 
imprevisibilidade. Isso porque o direito não deve nunca proteger o desequilíbrio contratual, 
tampouco o enriquecimento ilícito, não importando que tal fato seja imprevisível ou não. 
 
3.2 ONEROSIDADE EXCESSIVA (ART. 478-480, CC) 
 
A teoria da Onerosidade Excessiva surgiu na Europa, mais precisamente na Itália, 
dentro do contexto da Primeira Guerra Mundial, onde os contratos passaram a se tornar 
excessivamente onerosos para algumas partes em decorrência dos efeitos da guerra.43 
A onerosidade excessiva, segundo a lei italiana, configurava-se com o desequilíbrio 
contratual decorrente de fato extraordinário e imprevisível, ainda, o contrato deveria ser de 
execução prolongada e a prestação ainda não poderia ter sido inadimplida. 
Guiado pelos princípios contratuais da autonomia privada, boa-fé objetiva, função 
social do contrato e principalmente o equilíbrio contratual, o Código Civil brasileiro, 
influenciado pelas matrizes da Onerosidade Excessiva italiana, assim dispõe: 
 
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das 
partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em 
virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a 
resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da 
citação. 
 
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar 
eqüitativamente as condições do contrato. 
 
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela 
pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de 
evitar a onerosidade excessiva. 
 
Como visto no tópico anterior, o caput do art. 478 ao citar “acontecimento 
extraordinários e imprevisíveis” consagra a teoria da imprevisão. 
Somado a isso, numa visão sistemática, o diploma também caracteriza a onerosidade 
excessiva como lesão: 
 
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da 
prestação oposta. 
 
 
43 CARDOSO, Luiz Phelipe Tavares de Azevedo. A onerosidade excessiva no direito civil brasileiro. 
Dissertação de mestrado. Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Universidade de São Paulo. São Paulo, 
2010. 
41 
 
§ 1 o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo 
em que foi celebrado o negócio jurídico. 
 
§ 2 o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente,ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. 
 
Da leitura dos artigos, denota-se que o CC adotou a mesma base para acepção da 
onerosidade excessiva, ou seja, que a resolução por onerosidade excessiva ocorre em contratos 
de execução diferida ou continuada. Isso pois somente nestes tipos contratuais há a diferença 
de momento entre a firmação do contrato e sua execução. É essa diferença de momentos que 
permite a alteração das circunstâncias para a configuração da onerosidade excessiva. 
Como visto anteriormente, uma das hipóteses em que incidirá a resolução contratual é 
quando verificada a existência de onerosidade excessiva gerada à alguma das partes 
contratantes. Assim, cabe uma explanação detalhada acerca do instituto da onerosidade 
excessiva e de seus fundamentos. 
Bem, nas hipóteses em que o esforço de uma parte do contrato for muito superior ou 
gravoso ao originalmente estipulado, há a configuração da onerosidade excessiva. 
Conforme disposto no Código Civil, para averiguação da onerosidade excessiva, é 
necessária a constatação da desproporcionalidade entre prestação no momento da celebração 
do contrato e o de sua execução. 
Ainda, conforme exposto no art. 478 do CC, denota-se que diferentemente do direito 
italiano, o código brasileiro acrescentou entre os requisitos para a configuração da onerosidade 
excessiva que “a outra parte deverá incorrer em extrema vantagem para a outra parte”. Porém, 
tal requisito, ao meu ver, com a utilização do termo “extrema vantagem” deve ser levado como 
apenas em consideração para eventual averiguação do desequilíbrio contratual, visto que a 
própria terminologia utilizada pelo legislador – extrema vantagem - importa em análise 
subjetiva do aplicador da lei. 
Isso pois na prática a demonstração da “extrema vantagem” é algo por muitas vezes 
desnecessário para que o desequilíbrio contratual se configure, ora, não faz sentido, perante 
nosso ordenamento um contrato desequilibrado não ser resguardado pelo direito. Ainda, por 
muitas vezes uma parte sofre com a onerosidade excessiva, enquanto a outra não disfruta de 
qualquer vantagem, até, em alguns casos, também é prejudicada. Por exemplo, imagine um 
serviço de transporte pago previamente, onde a estrada sofre com o deslizamento durante o 
percurso, o motorista então pega um atalho para evitar a estrada, o que gera mais gastos com 
42 
 
combustível. Aqui, ambas as partes tiveram prejuízo, o motorista, que gastou mais do que o 
planejado e o passageiro, que perdeu seu tempo para chegar no compromisso. 
Por isso, considero importantíssimo o Enunciado n. 365 do CJF44, que assim dispõe: 
“A extrema vantagem do art. 478 deve ser interpretada como elemento acidental da alteração 
das circunstâncias, que comporta a incidência da resolução ou revisão do negócio por 
onerosidade excessiva, independentemente de sua demonstração plena.” 
Tal Enunciado afasta a necessidade da demonstração da vantagem percebida pela outra 
parte a fins de revisão/resolução contratual. 
Importante salientar aqui o pensamento de Álvaro Villaça de Azevedo, no sentido de 
que o art. 478, ao prever expressamente que a aferição da onerosidade excessiva depende da 
ocorrência de fatos “extraordinários ou imprevisíveis” fere a própria ideia radical do instituto, 
visto que é derivado do equilíbrio contratual, ou seja, deve haver fato imprevisível para que 
ocorra um desequilíbrio contratual? Claro que não, o desequilíbrio contratual está 
intrinsecamente ligado à onerosidade excessiva e prescinde da Teoria da Imprevisibilidade.45 
Além disso, traz a lei ainda o pressuposto da imprevisibilidade, porém, cabe aqui 
destacar a brilhante elucidação que faz Orlando Gomes 46acerca de tal instituto: 
 
Importante notar que fatos genericamente previsíveis podem ser imprevisíveis, 
quando tomados em sua especificidade e concretude. Em outras palavras, fatos 
genericamente previsíveis (como guerras ou mesmo a inflação) podem provocar 
efeitos concretos imprevisíveis. É o que basta para preencher o requisito da 
imprevisibilidade. 
 
Corroborando com tal ideia, pacificada em nosso ordenamento jurídico, tem-se o 
Enunciado n. 175 do CJF, da III Jornada de Direito Civil: “A menção à imprevisibilidade e à 
extraordinariedade, insertas no art. 478 do Código Civil, deve ser interpretada não somente em 
relação ao fato que gere o desequilíbrio, mas também em relação às consequências que ele 
produz.”47 
Como dito anteriormente, a lei não somente a resolução, bem como a revisão 
contratual, vide art. 479 do CC. Importante ressaltar aqui mais uma vez que o Código Civil 
deve ser interpretado sempre na busca pela conservação dos negócios jurídicos pactuados. 
 
44 ENUNCIADO nº 365 do CJF, da IV Jornada de Direito Civil. Disponível em: 
https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/483. Acesso em 06 set. 2021. 
45AZEVEDO, 2019, p. 141. 
46 Ibid., p. 215 
47ENUNCIADO nº 175 do CJF, da III Jornada de Direito Civil. Disponível em: 
https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/316. Acesso em 02 jul. 2021. 
43 
 
Outro exemplo desse princípio reside no art. 31748 do referido diploma, que prevê a 
correção pelo juiz, desde que requerido, do pagamento de prestações. 
Guiado pelo entendimento de que o ordenamento jurídico deve preservar a medida do 
possível as relações contratuais, o Enunciado n. 176 da III Jornada de Direito Civil49 dispôs o 
seguinte entendimento: “Em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 
478 do Código Civil de 2002 deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos 
contratos e não à resolução contratual.” 
Ainda, em relação à possibilidade de revisão contratual em casos de Onerosidade 
Excessiva, o STJ decidiu no julgamento do REsp 977007/GO50: 
Civil. Recurso especial. Ação revisional de contratos de compra e 
venda de safra futura de soja. Ocorrência de praga na lavoura, 
conhecida como 'ferrugem asiática'. Onerosidade excessiva. Pedido 
formulado no sentido de se obter complementação do preço da saca de 
soja, de acordo com a cotação do produto em bolsa que se verificou 
no dia do vencimento dos contratos. Impossibilidade. 
- A soja é uma 'commodity', ou seja, um bem básico com qualidades 
uniformes. É natural que tal produto seja comercializado a prazo 
diferido, pois no ato da contratação, o agricultor é motivado pela 
expectativa de alta produtividade do setor, o que, em tese, conduz à 
queda dos preços; e, em contrapartida, ele sabe da possibilidade de 
alta na cotação do dólar, circunstância que é absolutamente 
previsível neste ramo e leva à alta do valor da saca. Em suma, 
trata-se de um contrato cuja finalidade econômica é minimizar o 
risco de prejuízo das partes, tendo como contrapeso um estreitamento 
das margens de lucro. 
- Apesar de tais expectativas de natureza subjetiva, em essência tal 
contrato é comutativo, nos termos dos precedentes do STJ. A 
negociação é influenciada pelas leituras que as partes fazem acerca 
dos riscos futuros, mas as prestações são certas. Assim, o 
fundamento para a constatação, ainda que em tese, da ocorrência de 
onerosidade excessiva deve estar fundado na alteração inaceitável da 
comutatividade e não na quebra das expectativas pré-contratuais 
meramente subjetivas. As prestações são sempre definidas pelo 
exercício da autonomia de vontade das partes, de modo que a álea a 
considerar é aquela baseada nos limites aceitáveis do equilíbrio 
contratual e não nas valorações de interesses precedentes à 
contratação. 
- Não obstante a literalidade do art. 478 do CC/02 - que indica 
 
48 Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida 
e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto 
possível, o valor real da prestação. 
49ENUNCIADO nº 176 do CJF, da III Jornada de Direito Civil. Disponível em: 
https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/318

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