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1 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – CAMPUS NOVA IGUAÇU DISCIPLINA: MERCADO FINANCEIRO Prof. Marcelo P. Leite INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA O “mercado financeiro” é o setor da economia onde se encontram os agentes que são responsáveis pela intermediação dos recursos monetários, através da reunião destes recursos, que estão disponíveis nos diferentes setores da sociedade, de forma a torná-los acessíveis para todos agentes econômicos. Quando depositamos nossos recursos monetários junto a uma Instituição Financeira, seja em uma conta corrente 1 ou em uma aplicação financeira, mesmo que por um breve período de tempo, estamos disponibilizando estes recursos para o sistema econômico como um todo. - Pois, as “aplicações financeiras” representam contratos de cessão da propriedade dos recursos monetários que depositamos junto a uma instituição captadora, que se torna nossa devedora em troca de um valor a ser pago no final de um determinado período de tempo (prazo), na forma de juros (ou de outros rendimentos acertados previamente). - Transferimos para este agente financeiro o dinheiro que possuíamos, recebendo, como prova desta operação, um certificado na forma de “recibo”, que nada mais é do que o comprovante do “contrato” firmando, no qual se estabelece direitos e obrigações entre as partes envolvidas (aplicador/credor e captador/devedor). Os “juros” passam, portanto, a representar os custos ou os rendimentos referentes às transferências dos recursos monetários nas operações financeiras (custos para os devedores e rendimentos para os poupadores). Constituindo-se no preço a ser pago (na moeda de troca) pelo dinheiro que necessitamos, mas não possuímos. Contudo, nem toda operação financeira é remunerada na forma de juros, pois como vimos os juros estão condicionados a um determinado valor a ser pago ou recebido em um dado prazo. Ao estabelecermos este acerto estamos constituindo uma operação de “renda fixa”, onde as partes envolvidas comprometem-se em retornar o valor inicial (principal) adicionado de uma remuneração (juros), que pode ser tanto previamente acertado – que se constitui numa operação pré-fixada – como conhecida apenas depois de transcorrido o prazo da aplicação, ou seja, juros pós-fixados. 1 Os depósitos em conta corrente não representam aplicações financeiras, mas também se realizam através de “contratos” firmados entre os correntistas e os bancos comerciais. Só que, nestes casos, temos apenas a guarda dos valores depositados, pois a propriedade destes recursos é do titular da conta corrente (correntista) e não da instituição financeira que os está guardando na forma de depósitos monetários à vista (saldo). Contudo, estes recursos na forma de depósitos à vista também são utilizados como instrumentos geradores de crédito pelas instituições financeiras. UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – CAMPUS NOVA IGUAÇU DISCIPLINA: MERCADO FINANCEIRO Prof. Marcelo P. Leite 2 No esquema abaixo desenvolvemos uma demonstração genérica de como este processo ocorre: POUPADORES (aplicadores financeiros) recebem pagam (tomadores de crédito) Juros Agentes Deficitários Agentes Superavitários parte dos ( CREDORES ) Juros ( DEVEDORES ) As remunerações (ou os custos) acertadas nas operações de renda fixa podem variar de acordo com o prazo da transação, com o tipo de produto financeiro que foi utilizado (a forma como a transação foi realizada), com os agentes que estão envolvidos (pessoa física, jurídica, órgão público, de pequeno, médio ou grande porte), de acordo com o valor transacionado e de instituição financeira para instituição financeira, variando até de acordo com a época do ano e a situação da economia local ou internacional. Assim, as operações financeiras que são realizadas sem o comprometimento entre as partes em torno de uma taxa de juros, são remuneradas com base nos resultados financeiros obtidos pelos agentes envolvidos nas transações ou pela variação do preço do objeto do contrato. Estas são operações de “renda variável” onde a sua remuneração pode, portanto, ser variável de acordo com os resultados alcançados. Nestes casos, as transações podem ser realizadas com ou sem a fixação de um prazo para o seu vencimento, ficando a critério dos envolvidos. Todavia, é importante salientar que em transações de renda variável não há a fixação de um valor final de resgate, podendo ser este, até, inferior ao valor inicialmente aplicado (principal). RISCO 2 presente nas transações financeiras: toda transação financeira apresenta, basicamente, dois tipos de “risco” – 1º) o risco de não pagamento (risco default ou básico), ou seja, o risco de não receber o seu dinheiro de volta ao final da transação (perda do principal aplicado); e 2º) o risco financeiro que envolve as possibilidades de receber apenas uma parte do valor originalmente aplicado (do Principal – PV) – é o caso de se obter uma taxa de juros negativa, ou receber integralmente este PV, mas, com uma remuneração inferior a esperada para o período, ou, ainda, 2 RISCO: pode ser considerado, de forma simples, como a possibilidade de ocorrência de um evento indesejado. Reunião das poupanças individuais Empréstimos e Crédito $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $$$$$$$$$ $$$$$$$$ $$$$$$ $ $ $ Mercado Financeiro Cobram: Juros, taxas e tarifas TOMADORES UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – CAMPUS NOVA IGUAÇU DISCIPLINA: MERCADO FINANCEIRO Prof. Marcelo P. Leite 3 com uma remuneração abaixo da desvalorização do dinheiro no período, ou seja, abaixo do custo com a inflação ( π ) do período – perda real, configurando uma perda do valor real do dos recursos originalmente aplicados. Nestes casos, temos o “risco de rendimento”. Um dos pontos mais presentes na distinção entre as operações de “renda fixa” e “renda variável” é a afirmação, equivocada, de que as primeiras não possuem risco na medida em que já foi acertado o valor da remuneração a ser paga no final do prazo, juntamente com o retorno do principal. Isto é um grande erro, pois: “TODA APLICAÇÃO FINANCEIRA APRESENTA RISCO!” O que ocorre é que uma operação de renda fixa apresenta um nível de risco menor, na medida em que não ocorrendo à quebra (falência) do agente tomador dos recursos (que assumiu o compromisso de pagar os juros), o valor do principal será sempre retornado com a remuneração contratada no final do prazo. Contudo, adversidades 3 podem ocorrer também nestas operações de forma que o valor aplicado retorne sem remuneração e, até, com um valor inferior ao aplicado originalmente (principal). Já nas operações de renda variável os dois riscos citados acima estão bem presentes, na medida em que não há nenhum acerto prévio de retorno a ser pago futuramente. Contudo, é bom lembrar que risco e remuneração são fatores que estão diretamente relacionados, ou seja, são nos ativos de maior risco que estão presentes as maiores expectativas de retornos financeiros (mas não certezas), pois a remuneração pode ser tão grande quanto os resultados obtidos pelo negócio contratado. Assim, quem busca maiores ganhos tem de estar preparado para assumir maiores riscos, de forma contrária, quem quer ter certeza (e enfrentar um risco menor) devesaber que seus ganhos estarão limitados pelo valor que foi fixado para sua remuneração. Desta forma, os fatores geradores de “risco” podem ser divididos entre aqueles são próprios do negócio ou ativo que se está negociando, chamado de “risco não-sistemático”, ou seja, próprio do negócio, e os que estão relacionados aos fatores que são comuns a todos os agentes econômicos, próprios da economia como um todo, chamado de “risco sistemático”. Como o primeiro está relacionado aos fatores que são específicos do negócio em que se está envolvido, este é dito “diversificável”, uma vez que é possível diminuir seus impactos através de medidas compensatórias ou de prevenção. 3 No Brasil podemos citar como exemplos os efeitos promovidos pela (a) crise financeira ocorrida com o Plano Collor, que em março de 1990 (Medida Provisória nº 168, de 15/03/1990) bloqueou, “congelou”, por 18 meses, para saques os saldos acima de NCZ$ 50 mil (o que representaria hoje, reajustados pelo IPCA, uns R$ 7.000,00) em cadernetas de poupança, demais aplicações financeiras e em conta corrente, (b) os ocorridos após os reajustes dos contratos financeiros, com a conversão pela URV (Unidade Real de Valor - Medida Provisória nº 434), a partir de fevereiro de 1994, início do Plano Real (em junho de 1994, com a Medida Provisória nº 542) e, em seguida, (c) em janeiro de 1999, os promovidos após a “flexibilização” do real (R$) frente ao dólar norte-americano (US$), com os prejuízos ocorridos com o fim “da âncora cambial” e a desvalorização do real (R$) frente o dólar (US$). UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – CAMPUS NOVA IGUAÇU DISCIPLINA: MERCADO FINANCEIRO Prof. Marcelo P. Leite 4 As diferenças básicas entre POUPANÇA e INVESTIMENTO POUPAR – ato reter parte da renda que não foi gasta, ou seja, a poupança é um ato de contenção de consumo e/ou de sua postergação. - Poupador: representa o agente econômico que possui uma quantidade de recursos monetários que pode dispor por um dado período de tempo (em que é superavitário) e, pelo qual, busca receber uma remuneração na forma de juros, se tornado credor da instituição em que aplicou seus recursos. Normalmente, os agentes econômicos aplicam suas economias em lugares (instituições/produtos) que lhes transmitam segurança e que permitam fácil acesso ao seu dinheiro, ou seja, a qualquer momento que precisar pode resgatá-lo. Os principais tipos de produtos de poupança (aplicações financeiras) no Brasil são as cadernetas de poupança, os fundos de investimento e os certificados ou recibos de depósito bancário (CDB ou RDB). A opção por poupar é mais atraente em função da segurança que oferece (no Brasil há garantias legais para a Caderneta de Poupança, ou através do fundo garantidor de crédito – FGC para alguns dos demais produtos financeiros 4 ), mas há um inconveniente para essa segurança e disponibilidade imediata (liquidez): os seus recursos monetários (dinheiro) recebem uma remuneração (juros) menor, ou seja, rende menos do que em alternativas com menores garantias de retorno. Alguns poupadores decidem aplicar uma determinada quantia periódica em uma caderneta de poupança, a fim de formar um fundo suficiente para cobrir uma eventual emergência, como, por exemplo, uma demissão inesperada, doença, acidente e etc. Em geral, para esses casos de eventualidades recomenda-se o equivalente a um valor de três a seis meses de salário aplicados em poupança, para garantir qualquer necessidade. Poupança, portanto, representa um ato de precaução. 4 O Fundo Garantidor de Créditos – FGC, autorizado pela Resolução 2.197, de agosto de 1995, do CMN, foi criado como associação civil sem fins lucrativos, com personalidade jurídica de direito privado, através da Resolução 2.211, de 16.11.1995. Tendo por finalidade administrar um mecanismo de proteção aos correntistas, poupadores e investidores, que permite recuperar os depósitos ou créditos mantidos em instituição financeira, até determinado valor, em caso de intervenção, de liquidação ou de falência. São garantidos: os depósitos à vista ou sacáveis mediante aviso prévio; os depósitos de poupança; os depósitos a prazo, com ou sem emissão de certificado (CDB/RDB); os depósitos mantidos em contas não movimentáveis por cheques, destinadas ao registro e controle do fluxo de recursos referentes à prestação de serviços de pagamento de salários, vencimentos, aposentadorias, pensões e similares; as letras de câmbio; as letras imobiliárias; as letras hipotecárias; letras de crédito imobiliário (LCI); as letras de crédito do agronegócio (LCA); as operações compromissadas que têm como objeto títulos emitidos após 08.03.2012 por empresa ligada. UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – CAMPUS NOVA IGUAÇU DISCIPLINA: MERCADO FINANCEIRO Prof. Marcelo P. Leite 5 Outras pessoas preferem colocar apenas parte de seu dinheiro em uma caderneta de poupança, procurando outros investimentos que possibilitem ganhos maiores, durante prazos maiores, digamos, três anos ou mais. Esta ação de guardar o dinheiro em busca de oportunidades de retorno – ganhos – maiores é o que chamamos de especulação. INVESTIR – representa a alocação de recursos monetários de forma a transformá-los em ativos (máquinas/equipamentos/instalações) que proporcionem ampliação do volume produzido pela economia. O “investimento” é, portanto, um ato que promove/amplia/estimula o consumo, fazendo com que a riqueza gerada pelo sistema econômico se expanda. Quando você "investe" se torna parte de uma atividade produtiva e, com isso, o risco envolvido nesta transação se torna maior, principalmente quando comparamos ao ato de poupar. Ao investirmos estamos nos envolvendo no “negócio”, nos tornando sócios das empresas, produtores e distribuidores. Mas, ao mesmo tempo, as oportunidades de ganhar mais se expandem, pois passamos agora a buscar lucros a partir de expectativas futuras de ganho superiores aos dos demais agentes. Os investidores podem tentar se proteger contra o risco de perderem todos os seus recursos, distribuindo-os entre vários investimentos distintos (diversificando seus negócios), de modo que se perder dinheiro em um deles, os outros, provavelmente, poderão compensá-lo pelas perdas sofridas. Essa estratégia, denominada "diversificação", pode ser facilmente resumida como: "não coloque todos os ovos em uma só cesta". O ato de investir está relacionado, portanto, a criação de valor, pois busca elevar o nível de riqueza de toda economia. TIPOS BÁSICOS DE PRODUTOS: → Poupança: • caderneta de poupança; • certificados de depósitos (RDB/CDB); • fundos de renda fixa. → Investimento: • ações 5 e debêntures; • fundos de investimentos e imobiliários; • certificados de investimentos e de mercadorias. 5 Em termos macroeconômicos só representam investimentos as operações primárias com ações, pois as suas negociações secundárias representam apenas troca de patrimônio do antigo acionista para o novo. UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – CAMPUS NOVA IGUAÇU DISCIPLINA: MERCADO FINANCEIRO Prof. Marcelo P. Leite 6 Desta forma, podemos reunir as operações do Sistema Financeiro em quatro mercados, diferenciando- os de acordo com as finalidades para as quais se destinam a aplicação dos recursos e as instituições que as operam/praticam: MERCADO MONETÁRIO: que está estruturado para o controle de liquidez monetária da economia e onde são realizadas as operações financeiras de curtíssimo prazo com a finalidade de suprir as necessidades de caixa dos diversos agentes econômicos,entre os quais se incluem as instituições financeiras, servindo de parâmetro para fixação das taxas de juros. São nas operações de Mercado Aberto (Open Market), que se administra a oferta de liquidez bancária e o financiamento do orçamento público. Sendo exemplos de negócios realizados neste mercado as transações com títulos públicos do Tesouro Nacional, dos Estados e Municípios, além de títulos privados em fundos de investimento de curto prazo, debêntures, CDI e CDB/RDB. MERCADO DE CRÉDITO: onde são atendidas principalmente as necessidades de recursos de curto e de médio prazos, podendo, em alguns casos, atender financiamentos de longo prazo, oriundos das demandas de crédito para aquisição de bens de consumo duráveis, capital de giro (financiamentos de curto e médio prazos) e ativos permanentes. Sendo os financiamentos de longo prazo, referentes aos ativos permanentes (investimentos), ofertados basicamente por instituições financeiras públicas (BNDES e CEF) ou de capital misto (Banco do Nordeste, Banco da Amazônia e Banco do Brasil). A oferta de crédito é determinada pela atuação de instituições financeiras como bancos comerciais e sociedades de crédito, financiamento e investimento (financeiras) para as operações de menor valor e menores prazos e pelos bancos de investimento para operações de investimento (capital fixo) e capital de giro em maior escala e com prazos de médio a longo. MERCADO DE CAPITAIS: tem por finalidade fornecer recursos de médio e de longo prazos, principalmente com vistas à realização de investimentos de capital via incorporação de novos recursos junto ao capital social da empresa. Tendo tanto títulos de endividamento de curto (commercial papers) como de longo prazos (debêntures), como títulos representativos do capital da empresa (ações), que possuem prazo indeterminado, e representativos de ativos e valores (financeiros, agrícolas ou minerais). Os chamados derivativos constituem-se, também, em títulos negociados neste mercado, sendo que estes são emitidos a partir da expectativa de variações no preço/valor de outros ativos financeiros e de mercadorias agrícolas e minerais. As negociações neste mercado podem ocorrer tanto em bolsa de valores, como de mercadorias e futuros, como fora destas, no mercado de balcão. Neste mercado atuam as instituições financeiras não bancárias, sobretudo os bancos de investimento, as distribuidoras de valores (DTVM) e as corretoras de valores (CCVM). MERCADO CAMBIAL: onde são realizadas as operações de compra e venda de moeda estrangeira para atender as diversas necessidades dos agentes envolvidos com exportações e importações, viagens ao exterior e investimento e endividamento externo. Neste mercado atuam as instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central do Brasil (bancos e corretoras de câmbio) uma vez que as operações de compra e venda de moedas estrangeiras é um monopólio do governo.
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