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Resenha quanto vale ou é por quilo?

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RESENHA DO FILME:
QUANTO VALE OU É POR QUILO? (2005)
Quanto vale ou é por quilo é um longa-metragem brasileiro lançado em 2005 e dirigido por Sérgio Bianchi o qual faz uma análise especialmente do intuito e funcionamento das organizações do terceiro setor na atualidade, para tal faz um paralelo entre alguns casos de abuso e exploração ocorridos no século XIX e situações fictícias similares inspiradas na realidade atual.
As cenas que se passam no período colonial são adaptações de casos extraídos do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro e revelam aspectos de “assistencialismo”, exploração e discriminação. Sobre este último aspecto, logo no primeiro momento nos deparamos com Joana (Zezé Motta) uma mulher negra e alforriada reivindicando o direito pelo seu escravo frente a um homem branco, mas sem sucesso, acaba sendo presa por desacato, paralelamente e no período atual é apresentada também dona Márcia (Cláudia Mello) que é uma doméstica e colaboradora de uma ONG e almeja ser a fundadora de uma instituição beneficente para prosperar socialmente. Em ambos os casos, há a pretensão de ascensão e de seguir o comportamento da alta sociedade, mas que não é concretizada seja pela condição social, ou poder aquisitivo. 
Este exemplo mostra como no decorrer do filme as histórias se equivalem, e apesar de ao longo de sua extensão expor várias situações, o filme retrata centralmente a trajetória de Arminda (Ana Carbatti) que no século XIX é representada como uma escrava grávida fugida cujo dono oferece recompensa pela sua captura, e na atualidade, é uma mulher que faz parte do projeto de informática na periferia financiado pela Stiner.
A Stiner é uma empresa de empreendimentos assistenciais que, comandada por Marco Aurélio (Herson Capri) e Ricardo Pedrosa (Caco Ciocler), financia projetos de assistência social nas favelas do Rio de Janeiro, contudo capta os recursos públicos que deveriam ser destinados a atender as necessidades da população carente, e por meio de esquemas de lavagem de dinheiro e afins desviam boa parte para enriquecimento pessoal. Como resultado, os equipamentos destinados ao projeto são de péssima qualidade e não atendem as necessidades dos usuários.
Neste panorama, outro aspecto abordado é o relaxamento com que muitas pessoas têm no trato com os menos favorecidos, isto é visto no asilo, no projeto de purificação dos viciados quando dona Noêmia (Ana Lúcia Torre) insiste em filmar as pessoas enquanto estão se sentindo mal, também quando a mesma ao comprar os mantimentos para a ONG que dirige, compra carne velha para a sopa dos mendigos que atende, e mesmo o projeto de informatização na periferia. Isto é, o interesse não está em proporcionar realmente auxílio e melhorias para os mais carentes, mas sim em lucrar, ascender socialmente com a realização das ações, satisfazer-se ou gerar uma “dieta na consciência”, como diz Marta Figueiredo (Ariclê Perez), uma abastada que se vangloria por arrecadar doações para as crianças carentes.
Percebe-se ainda a exploração da pobreza, muito corrente em todo o filme, seja no século XIX como nos casos de Adão e Lucrécia, cujos patrões tiraram proveito da situação deles, ou mesmo na atualidade em que as crianças são utilizadas para a campanha de arrecadação de fundos das OSCs, também quando dona Noêmia chega até a expulsar pessoas de outra entidade para que pudesse monopolizar a ajuda aos mendigos e levar o crédito, bem como o esquema envolvendo o sistema carcerário para gerar mais mão de obra barata e crescimento da economia com o consumo proveniente das visitas dos parentes, ou seja, nesses casos apresentados e em outros ainda presentes no filme, sempre há o aproveitamento e dominação dos menos favorecidos no tocante a permanência da pobreza, e tais atitudes ainda são representadas de forma mascarada como sendo benéficas para os destinatários.
Por meio da observação da situação de Arminda e de tantos outros casos relatados no filme, percebemos que ele critica o interesse, principalmente financeiro, que está oculto pelas ações de cunho social de muitas entidades filantrópicas, inclusive quando este interesse envolve a execução de procedimentos ilícitos para obtenção de recursos e desvio destes para benefício próprio. 
Outro aspecto relacionado as ações sociais é uma das palestras em que Marco Aurélio incentiva as empresas a investirem em causas de natureza social como uma forma de alcançar vantagem competitiva, desta forma desvirtuando o real sentido da responsabilidade social empresarial para ser apenas como mais uma forma de se destacar em meio aos seus concorrentes e ser um potencial gerador de lucros. Isso se vê também no fim discurso de Ricardo Pedrosa em uma das premiações em que ele diz: “Invista em causas sociais. É bom para o próximo é bom para sua empresa. ”
Com base no exposto, é notável que o filme realiza críticas categóricas a várias questões envolvendo as organizações da sociedade civil, inclusive as intenções que estão por trás delas e as maneiras que algumas encontram de desviar os recursos provenientes de doações de terceiros ou públicos para o benefício próprio, descaracterizando totalmente a premissa básica das OSCs que é ser sem fins lucrativos. Sem dúvida esta nova legislação trará avanços principalmente no sentido de que situações como estas não aconteçam, devido ao maior controle e transparência que é exigido pelo governo para a realização de parcerias, no entanto, é necessário que os gestores das OSCs conscientizem do intuito das mesmas que é de promover projetos sociais que beneficiem a população.

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