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Caderno Repertório Temas de redação

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Redação
Masculinidade Tóxica
Explicação e consequências: Segundo centenas de artigos publicados, a “Masculinidade tóxica é uma descrição estreita e repressiva da masculinidade que a designa como definida por violência, sexo, status e agressão, é o ideal cultural da masculinidade, onde a força é tudo, enquanto as emoções são uma fraqueza; sexo e brutalidade são padrões pelos quais os homens são avaliados, enquanto traços supostamente ‘femininos’ – que podem variar de vulnerabilidade emocional a simplesmente não serem hipersexuais – são os meios pelos quais seu status como ‘homem’ pode ser removido. Alguns dos efeitos da masculinidade tóxica estão a supressão de sentimentos, encorajamento da violência, falta de incentivo em procurar ajuda, até coisas ainda mais graves, como perpetuação e encorajamento de estupro, homofobia, misoginia e racismo”.
O desafio deste século deve ser construir um novo modelo social mais democrático, justo e igualitário, e para isso, é fundamental que os homens estejam cada vez mais dispostos a questionar o modelo tradicional de masculinidade, a renunciar aos privilégios que recebem do sistema patriarcal, a se libertar do peso de uma masculinidade mal-entendida e a se comprometer, junto com as mulheres, de maneira ativa, na realização de um mundo melhor para todas as pessoas, que permita melhorar as possibilidades do desenvolvimento humano”. Isso foi escrito, em 2011, por Ritxar Bacete, um antropólogo especialista (na própria pele) em igualdade de gênero. Já naquela época, defendia uma sociedade na qual homens e mulheres compartilhassem responsabilidades e poder, e para isso, inevitavelmente eles deveriam renunciar aos privilégios dos quais gozaram durante séculos de patriarcado.
75% dos homens entre 25 e 44 anos nunca tinham escutado o termo “masculinidade tóxica”, que tem ganhado cada vez mais espaço. Pois é justamente essa compilação de regras sociais do que se entende como “homem de verdade” que resulta na chamada masculinidade tóxica
O estudo do Google BrandLab São Paulo explica que a nova masculinidade tem o propósito de abranger todas as formas de ser homem e garante condições mais igualitárias e saudáveis, onde os homens têm espaço para serem mais humanos e se expressarem sem a ameaça de colocar qualquer coisa em risco, seja sua imagem, seja seu bem-estar psicológico. 
O termo “machismo no Brasil”, pulou da 9ª posição para a 3ª em volume de busca no Google, crescendo 263% nos últimos dois anos (Fonte: Dados Internos Google 2018). 
10 milhões foi o número de visualizações no YouTube de vídeos sobre temas voltados à masculinidade (Fonte: Dados Internos Google 2018).
Consequências 
A pesquisa Google Consumer Surveys 2018 revelou, por exemplo, que mais da metade dos homens entrevistados já foi chamado de “gay” ou “afeminado” por ter expressado algum tipo de sentimento. 
81% dos homens brasileiros consideram o Brasil um país machista (Fonte: ONU Mulheres 2016) 
A masculinidade tóxica faz com que o homem tenha medo de parecer suave, fraco ou de alguma forma menos masculino. Essa insegurança é talvez a característica mais definitiva da masculinidade tóxica. 
A cultura do machismo como um grande causador do feminicídio no Brasil. Segundo a OMS, o Brasil tem a 5ª maior taxa de feminicídio do mundo, crime praticado contra a mulher por esta pertencer ao gênero feminino. Doze mulheres são assassinadas todos os dias, em média, no Brasil, considerando os dados oficiais dos estados relativos a 2017. São 4.473 homicídios dolosos em 2017, um aumento de 6,5% em relação a 2016. Isso significa que uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil. Falta de padronização e de registros atrapalham monitoramento de feminicídios no país.
Nos últimos anos, a consciência sobre o machismo e seus efeitos para a sociedade como um todo tem gerado cada vez mais debates e demandas por direitos iguais entre os gêneros. É inegável que a cultura patriarcal tem consequências nefastas na vida das mulheres e até mesmo nas dos próprios homens. 
A princípio, as grandes prejudicadas com o comportamento tóxico característico do machismo são as mulheres. A ideia de masculinidade centrada na força, na ausência de sentimentos, na hipersexualização promove com frequência o medo em pessoas do sexo feminino, bem como sua respectiva marginalização em diferentes instâncias da vida. É o que se vê, mais gravemente, no alto nível de feminicídio no Brasil. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o país tem a quinta maior taxa do mundo de assassinato de mulheres motivado por questões de gênero. Um outro aspecto que demonstra essa desvalorização é a desigualdade profissional: mulheres brasileiras ganham 75% do salário dos homens de mesmo cargo, de acordo com o PNAD 2017. Ademais, esse contexto misógino perpetua a cultura do estupro e desincentiva a procura de ajuda das vítimas de violência, visto que a polícia e a justiça tendem a privilegiar a versão do homem em detrimento da denúncia da mulher. 
Cabe ressaltar, também, que o modelo tradicional de masculinidade afeta de forma negativa os homens, embora muitas vezes eles não percebam. Em verdade, a cultura patriarcal, associada à força e à dureza, repele os homens que demonstram sensibilidade e outras características entendidas como fraqueza. Isso pode ser visto em comentários homofóbicos dispensados àqueles que não exercem o estereótipo machista. Segundo a pesquisa Google Consumer Surveys 2018, mais da metade dos homens entrevistados já foi chamado de “gay” ou “afeminado” por ter expressado algum tipo de sentimento. Entretanto, a mesma pesquisa revelou que 75% dos homens entre 25 e 44 anos nunca ouviram falar em masculinidade tóxica. Isso sugere que o debate sobre machismo ainda não está devidamente difundido entre os indivíduos do sexo masculino. 
Dessa forma, as consequências do patriarcado são prejudiciais a homens e, sobretudo, a mulheres. Deve-se buscar por meio da educação, tanto formal quanto em casa, a construção de um modelo social mais democrático e justo, em que homens deixem seu lugar de privilégio e de opressão.
O termo masculinidade tóxica se refere a uma série de ideias associadas ao que significa ser homem. 
- Não falar sobre sentimentos (“Isso não é coisa de homem”)
- Desprezar comportamentos que sejam sinal de fragilidade vindo de outros homens (“Se você fosse homem, não fazia isso”)
- Mostrar coragem a qualquer custo (“Vai lá se é homem”)
- Ter a necessidade de status e poder (“Homem é que manda aqui”)
- Fazer uso abusivo de bebidas alcóolicas (“Bebe feito homem”)
- Ter autocontrole das emoções que indicam vulnerabilidade (“Homem não chora”)
- Reagir de maneira impulsiva com violência física diante de uma ameaça ou conflito
Mas o que é a masculinidade tóxica?
São características que a sociedade vem atribuindo de maneira estereotipada ao sexo masculino, sendo extremamente nocivas e restritivas aos próprios homens ou às pessoas ao seu redor.
Essas pressões acabam gerando uma série de comportamentos, como a não demonstração de sentimentos, o medo a vulnerabilidade, ansiedade, competição agressiva são alguns exemplos de comportamentos que os homens acabam sendo sujeitados ao longo da sua educação.
A masculinidade baseada no medo, que busca se provar “macho” a todo momento – estimulando violência, fechamento emocional, homofobia e obsessão com dinheiro, sexo e poder – é tóxica. Atitudes negativas como essas estão gerando uma sociedade extremamente violenta, além de deixar os homens emocionalmente restritos, sufocados, que estão adoecendo e morrendo muito mais cedo.
Entre as frases mais ditas pelos pais podemos citar: “Isso é coisa de menininha”, “esse aí vai dar trabalho, vai ser pegador”, “menina tem que ajudar a mãe a cuidar da casa” e muitas outras que já estão enraizadas na nossa cultura. Uma das principais consequências, muitos meninos acabam crescem achando normal objetificar mulheres e muitas meninas crescem achando normal serem objetificadas.
Segundo pesquisa realizada pela Associação Norte Americana de Psicologia estima que80% dos homens americanos estão com dificuldades para identificar e expressar seus próprios sentimentos. No Brasil os estudos também são alarmantes, pois 75% dos homens brasileiros entre 25 a 44 anos nunca ouviram falar em “masculinidade tóxica”, segundo pesquisa realizada pela Google BrandLab.
Mesmo não havendo ainda muito interesse da população, diferentemente de países como Canadá, Austrália e Reino Unido, vem sendo criados grupos de discussão sobre masculinidade para deixar o machismo para trás. O principal objetivo é realizar uma mudança de mentalidade e mostrar que homem pode sim expressar sentimentos, além de quebrar conceitos tradicionalistas, como “isso é de menino e de menina” e a própria a ideia do “homem machão”.
Esse comportamento também influencia as mulheres
O reforço da cultura machista está também associado as próprias mulheres, que acabam levando esse preconceito adiante. Porém uma grande parcela da sociedade vem combatendo a desigualdade de gênero.
Homens em reconstrução 
Estamos começando a viver uma transição, pois aos poucos os homens estão se distanciando da figura do “bad boy”, mesmo que ainda 57% dos homens ainda se sentem pressionados a se comportar de acordo com noções pré-concebidas do que é ser homem. Prova dessa desconstrução é a publicidade apresentando um novo retrato da vulnerabilidade, o que ajuda a difundir estereótipos pré-estabelecidos e citados anteriormente.
Em outrora as marcas associaram-se a figurado do homem machão, mas esse discurso vem sendo quebrado aos poucos e assim gerado estímulos positivos, como a aceitação do próprio corpo e até mostrando pais mais presentes, sendo protagonistas dos cuidados domésticos e dos filhos.
Como podemos confrontar esses padrões? 
Homem pode chorar. Homem deve expressar seus sentimentos. Somos todos homens vulneráveis e corajosos para assumir nossa verdade e viver nossa verdade. Vamos questionar paradigmas e quebrar correntes repressivas e pré-concebidas. Nada disso vai afetar a nossa masculinidade!
Para assistir em casa
Se você ficou interessado no assunto, minha dica é assistir ao documentário The Mask You Live In (“A Máscara em que Você Vive”), disponível no NETFLIX, que aborda como a ideia do macho dominante afeta psicologicamente crianças, jovens e, no futuro, adultos nos Estados Unidos.
O dicionário Oxford elegeu na primeira quinzena de novembro, como a palavra do ano de 2018, um termo não muito animador: “tóxico” e a segunda “masculinidade”. As duas juntas ficaram em terceiro lugar, sendo assim classificada como a expressão do ano. Anualmente, a editora da instituição britânica escolhe a palavra e/ou a expressão que teria atraído maior interesse das pessoas em suas buscas na internet.
Segundo centenas de artigos publicados, a “Masculinidade tóxica é uma descrição estreita e repressiva da masculinidade que a designa como definida por violência, sexo, status e agressão, é o ideal cultural da masculinidade, onde a força é tudo, enquanto as emoções são uma fraqueza; sexo e brutalidade são padrões pelos quais os homens são avaliados, enquanto traços supostamente ‘femininos’ – que podem variar de vulnerabilidade emocional a simplesmente não serem hipersexuais – são os meios pelos quais seu status como ‘homem’ pode ser removido. Alguns do efeitos da masculinidade tóxica estão a supressão de sentimentos, encorajamento da violência, falta de incentivo em procurar ajuda, até coisas ainda mais graves, como perpetuação encorajamento de estupro, homofobia, misoginia e racismo”.
Ao ler a descrição acima, você pode não entender o ponto em um primeiro momento, mas essa masculinidade tóxica não é extremamente tóxica apenas para as pessoas ao redor, é tóxica para os próprios homens que sofrem com ela. Essa masculinidade tóxica pode te matar por te fazer exercer um comportamento de risco, e também pode te transformar em um cara extremamente infeliz.
Estudo sobre masculinidade tóxica traz dados alarmantes ao homem brasileiro
As discussões sobre equidade de gênero estão postas e, com elas, o homem moderno se viu diante do espelho. “Homem não chora”, “deve ser forte” e outros jargões de senso comum apontam para um perfil que não conseguiu se desvencilhar de ideias mofadas que só o prejudicam. Neste contexto, um termo tem ganhado destaque nas reflexões sobre comportamento e gênero: a masculinidade tóxica.
Pierre Bourdieu: Violência simbólica
Fragilização emocional da sociedade contemporânea
Explicação: de modo geral, lida-se com os transtornos psicológicos como se fossem algo menos importante ou como se a pessoa que sofre com eles não fosse forte ou estivesse de “frescura”; ao mesmo tempo, quando a pessoa é diagnosticada com transtornos de ordem psicológica, ela costuma não verbalizar, já que há um tabu em torno desse tipo de doença. 
Segundo a OMS, 10% da população mundial sofre de depressão. No Brasil, esse número gira em torno de 5,8%. 
O Brasil é o primeiro lugar no mundo em incidência de transtornos de ansiedade. 
Vincent Van Gogh, Abraham Lincoln, Albert Einstein e Charles Darwin penaram com esse transtorno em algum momento da vida. 
 “O estresse afeta a saúde mental na mesma medida que o tabagismo é prejudicial ao coração”, compara o psiquiatra Gerard Sanacora, da Universidade Yale, nos Estados Unidos. 
Causas 
O individualismo e o bombardeio de informações (causa) colaboram para os altos níveis de ansiedade (consequência). 
Explicação: Com o excesso de informação, as pessoas não conseguem acompanhar o volume de notícias e se sentem frustradas e incapazes de dar conta do que é necessário saber no dia a dia.
Busca incessante por uma vida de sucesso – originalidade, empreendedorismo, ineditismo. 
Explicação: Os modelos de vida acabam pressionando as pessoas, que se cobram de forma muitas vezes doentia por resultados que nem sempre conseguem atingir. 
Consequência: Frustração, sensação de fracasso, baixa autoestima. 
O ritmo de vida na contemporaneidade impõe ao indivíduo uma série de cobranças, responsabilidades e angústias. 
Explicação: Isso afeta as pessoas cada vez mais cedo. Essa série de angústias tendem a levar o indivíduo à fadiga emocional. 
Consumismo (causa) agrava situações de depressão/ ansiedade (consequência). 
Explicação: o apelo incessante ao consumo produz ansiedade nos indivíduos, que se veem impelidos a consumir a todo momento (sensação de que não se consegue acompanhar o ritmo das necessidades do mundo atual) e, caso não se possa consumir (questões financeiras, por exemplo), isso pode gerar uma sensação de não pertencimento, de falta de status, de marginalização, frustração, que podem agravar a depressão e a ansiedade. 
Sociedade não tem tempo para o ócio/ silêncio. 
Explicação: O fazer nada torna-se malvisto, afinal é preciso produzir sempre. Por trás disso, há um sistema que está sempre demandando do indivíduo que resolva problemas etc. 
Há um individualismo exacerbado, reiterado pelo uso indiscriminado das tecnologias. 
Explicação: A tecnologia promove o isolamento social, sociabilidade à distância, sem trocas interpessoais fora da internet. 
Não existe investimento no segmento da saúde pública para questões de ordem emocional. 
Explicação: destina-se uma pequena parte do orçamento da saúde para esse tipo de doença. Segundo a OMS, as nações desenvolvidas investem entre 3% e 5%, enquanto as nações menos desenvolvidas destinam algo em torno de 1% da verba de saúde.
Consequências 
Além de liderar a lista das doenças mais incapacitantes, a melancolia sem fim gera gastos na casa dos 800 bilhões de dólares por ano — o equivalente ao Produto Interno Bruto da Turquia. 
Explicação: É uma doença que tem um custo grande às nações, já que atrapalha a produtividade das pessoas. 
A taxa de mortes relacionada a episódios depressivos (incluindo suicídios) aumentou 705% no Brasil, nos últimos 16 anos, segundo pesquisa realizada pelo jornal O Estado de S. Paulo. 
Medo faz parte da rotina: de ficar desempregado, de ter sua integridade física violada, de alterar seus status social etc. 
Explicação: esse medo se relacionacom a condição de instabilidade dos dias de hoje, em que não é mais possível pensar em carreira, em que não se pode confiar na Justiça, em que tudo parece mudar cada vez mais rapidamente, dificultando o processo de adaptação e exigindo um aprendizado constante (sensação de que se está sempre atrasado em relação às novidades).
No mundo globalizado atual, o grande número de indivíduos com transtornos psicológicos tem chamado atenção. Sem dúvida, o estilo de vida cada vez mais competitivo e instável característico do capitalismo contemporâneo tem contribuído negativamente para a saúde mental das pessoas. 
Observa-se hoje em dia que os indivíduos buscam incessantemente modelos de sucesso muitas vezes inatingíveis. De fato, muitas pessoas se sentem socialmente pressionadas a serem empreendedoras, originais, extremamente produtivas e a ostentar bens de grifes famosas e caras como sinais de que são bem-sucedidas. Como consequência, o não atingimento dessas metas pode gerar frustração, sentimento de incapacidade, ansiedade e até depressão. A sensação de fracasso é ainda maior e prejudicial quando as pessoas comparam a própria vida com às que são expostas por meio de fotografias e vídeos nas redes sociais. 
Outro fator que contribui para a fragilidade mental da população é o ritmo de vida na contemporaneidade. Realmente, o trânsito intenso nas grandes cidades, a alta competitividade no mercado de trabalho e os poucos momentos de lazer são fatores de desgaste físico e emocional. De acordo com o psiquiatra Gerard Sanacora, da Universidade Yale, nos Estados Unidos, “o estresse afeta a saúde mental na mesma medida que o tabagismo é prejudicial ao coração.” Segundo pesquisa realizada pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, a taxa de mortes relacionada a episódios depressivos aumentou 705% no Brasil nos últimos 16 anos. Somam-se a isso os recursos da saúde pública destinados a questões de ordem mental, que são ínfimos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). As nações desenvolvidas investem entre três e cinco por cento do orçamento da saúde, enquanto as nações menos desenvolvidas, algo em torno de um por cento. 
Desse modo, o estilo de vida e os valores da sociedade nos dias de hoje têm contribuído para o crescimento de transtornos mentais. Sendo assim, é preciso que as políticas públicas na área da saúde deem mais atenção às questões de ordem emocional e que, dentro do possível, a sociedade reveja o próprio estilo de vida estressante
Fragilidade emocional não tem nada a ver com sensibilidade emocional. Enquanto a última pode ser definida como uma qualidade excepcional do ser humano, a fragilidade responde, acima de tudo, à falta de ferramentas para gerenciar nossos estados internos mais complexos, bem como a uma clara dificuldade em lidar com as dificuldades mais simples da vida cotidiana.
Primeiramente, vamos esclarecer a diferença entre esses dois termos através de um fato importante. Muitas vezes, algumas pessoas conseguem normalizar sua fragilidade emocional explicando que esse é o seu modo de ser, o modo de compreender e viver a vida. “Eu sou uma pessoa sensível e não posso mudar isso” – pode dizer por autodefesa.
A fragilidade emocional nos leva muitas vezes a estados debilitados caracterizados pela ansiedade, o estresse, a depressão…
Devemos entender que a partir do momento em que um comportamento/atitude gera apenas sofrimento, insegurança e falta de controle sobre o próprio ser, desculpas não são válidas, não quando o que alcançamos é infelicidade. Assim, enquanto as pessoas sensíveis têm a seu favor uma visão mais ampla de sua realidade e uma maneira de se conectar melhor com suas necessidades e com as pessoas que a cercam, as pessoas marcadas pela fragilidade emocional têm perspectivas emocionais mais limitadas.
Além disso, esse traço é, em alguns casos, um indicador de algum problema subjacente: transtornos depressivos, ansiedade, má administração emocional, etc
A American College Health Association publicou há alguns anos um interessante trabalho sobre a fragilidade emocional. Nele foi explicado um fato que, sem dúvida, não deixa de ser preocupante: nossos jovens apresentam uma tendência crescente de depressão, estresse, dependência emocional, e o que é pior: tentativas de suicídio. Por trás dessa evidência, esconde-se uma clara fragilidade emocional e falta de recursos frente às dificuldades mais comuns.
A maioria dessas dimensões psicológicas tem sua origem nos estilos de criação. As famílias das últimas décadas estão cientes de que nossa sociedade exige mais e mais capacidades para se desenvolver nela. Isso fez com que os pais intensificassem seus esforços para completar o treinamento de seus filhos desde crianças.
Eles tentam colocar na ponta dos dedos os melhores recursos para guiá-los ao sucesso, às vezes forçando-os a se sobressair e lembrando-os de quão especiais eles são ou devem ser para ter sucesso. Tudo isso é, sem dúvida, compreensível, mas esta abordagem ignora vários detalhes.
Um dos mais importantes é que eles são protegidos contra falhas, de modo que muitos são incapazes de tolerar a frustração, por menor que seja. Além disso, essas crianças dificilmente aprendem a tomar decisões autonomamente; elas se sentem inseguras e são muito desajeitadas quando se trata de administrar suas próprias emoções. Pouco a pouco, eles percebem que aos olhos dos outros não são “tão especiais” e que lhes faltam habilidades, recursos e estratégias para poder reagir a questões elementares.
Chul Han: Sociedade do desempenho evolui para a sociedade do cansaço
Bauman: modernidade líquida
Gilles Lipovetsky: hipermodernidade, hiperconsumismo
Gilles Deleuze
Freud
O modo de ser contemporâneo
 Envolvido nesta trama consumista da sociedade contemporânea ou hipermoderna, o homem atual se viu forçado a reorganizar a sua vida. Deixou de ser livre, para ser escravo do consumismo, das sensações. Vive preocupado em conquistar espaço social e profissional, cursar boas escolas, cultuar o corpo para se manter em boa e bonita forma física, pois o que importa é a imagem apresentada e não mais o conteúdo. Não vive cada dia como um novo ciclo nem sabe ou lhe interessa obter prazer com os pequenos e simples acontecimentos da vida quotidiana. Tudo tem que ser grandioso, hiper. Estamos na era dos hipermercados, hiperluxo, hiperespetáculos, hiperemoções. Aqui vale dizer que estamos em uma época onde o importante é provocar uma hiperemotividade coletiva. Todos os acontecimentos têm que ser transformados em algo grandioso, em um espetáculo que envolva toda a coletividade, seja que evento for, um crime, um evento esportivo, um escândalo social, uma catástrofe da natureza ou um simples acidente. A emoção foi transformada em objeto de marketing cujo impacto é calculado e trabalhado cuidadosamente pelos meios de comunicação com o objetivo de provocar horror, surpresa, tristeza, indignação, alívio, compaixão, lágrimas ou sorriso, tudo orquestrado de tal maneira que mantenha o homem em constante estado de suspense. Com toda esta carga de informações e “exigências” midiáticas, o homem já não mais vive a sua vida segundo o próprio sentido, mas sim pelo que sente, ou seja, pela sensação que lhe é imposta. Ele não mais critica aquilo que vê ou sente, apenas segue o que lhe é apresentado insistentemente através de imagens. Como exemplo desta intensa carga de informações, podemos citar os telejornais, que repetem insistentemente durante as suas várias edições diárias as mesmas informações, os jornais e revistas periódicas, onde o conteúdo de informações é baseado muito mais em imagens do que em forma de texto. Em todas estas veiculações o que está sempre em evidência é o sensacionalismo que substitui a informação precisa e imparcial.
A realidade é criada pela sociedade através de imagens, através do que é insistentemente mostrado e oferecido, criando um estado de excitação geral e, perante esta “realidade”, os indivíduos respondem freneticamente. A criação de uma identidade só é possível através do reconhecimento do outro, portantoo indivíduo tem necessidade de se apresentar bem, vestido de acordo com a moda, possuindo o que de melhor está à venda, conectado às redes sociais e tecnologicamente atualizado. Ele não precisa mais pensar e ter atitude própria, criar o seu próprio sentido para a vida, o que importa agora é seguir a tendência e curtir a vida. O homem atual é um indivíduo centrado em si mesmo. A sua prioridade é, em primeiro lugar atender às suas necessidades e inclinações pessoais. Primeiro se preocupar com ele mesmo para depois pensar, se possível, no outro. Só se deve gastar tempo e se interessar por determinado objeto ou determinada pessoa, se isto nos for útil, se nos servir para algo. A visão do homem contemporâneo é a de que ele não necessita do outro para ser feliz. A felicidade pode ser obtida através dos artifícios tecnológicos disponíveis. Os computadores e as redes sociais estão aí para nos atender. O que se vê entre as pessoas na contemporaneidade é uma “ligação” ou “conexão” e não uma “relação” entre pessoas. Uma “ligação” ou “conexão” significa apenas um modo de convivência onde predomina a individualidade e a satisfação de desejos ou interesses particulares dos elementos que se conectam. Se estiver bom para mim, permaneço nesta conexão, se não está suficientemente confortável, prazerosa ou produtiva a situação, simplesmente me desconecto dela, não perco tempo, não busco identificar as causas ou motivos do empobrecimento da convivência nem muito menos tomar atitudes que possam fortalecer a convivência, revertendo o quadro. Já no Relacionamento, o modo de convivência é diferente. Trata-se de um modo de convivência onde existe um compartilhamento de vida, uma intenção e desejo mútuo de convivência harmoniosa, prazerosa, de construir uma vida ou seguir um projeto onde valores, desejos e interesses são compartilhados com o fim de desenvolvimento e crescimento em conjunto.
Esta mudança de comportamento ou do “modo de ser” do homem produz grande impacto na vida do indivíduo e o leva, inexoravelmente, a formas próprias de adoecimento, uma vez que os sentimentos e emoções deste homem contemporâneo estão sendo fortemente influenciados e alterados. Observa-se uma busca incessante pelas emoções e sensações fortes e, em contrapartida um empobrecimento dos sentimentos.
Bauman, Gilles Lipovestky, Deleuze, Durkhein
O medo contemporâneo
O medo é um tema que vem atravessando o cotidiano e marcando de forma cada vez mais palpável a vida coletiva e individual, o que leva à modificação de comportamentos sociais e hábitos mentais.
Presença do medo em comportamentos de grupos sociais distintos
Medo na Grécia Antiga: exteriorizado, algo externo se manifestava no sujeito: deuses
Medo na Idade Média: interiorizado, difusão do medo na coletividade
Medo contemporâneo: individualizada, singularizada.
Freud foi um pensador que, nas primeiras décadas do século XX, se referiu aos mal-estares de seu tempo, ressaltando que os sofrimentos psíquicos se acham inseridos em uma coletividade e também são construídos coletivamente. Para ele, as principais causas do sofrimento psíquico em sua época seriam devidas à insatisfação pulsional imposta pela sociedade, dita “patriarcal”, na qual a religião possuía relevante peso, com uma moral sexual que exigia pesadas renúncias dos indivíduos. Assim, havia por um lado a repressão social e, por outro, a renúncia dos indivíduos a seus desejos e fantasias devido às restrições culturais, e estas seriam as razões da infelicidade, espécie de mal-estar, insatisfação. Por que infelicidade? Porque o indivíduo precisava renunciar aos seus impulsos, desejos e fantasias para ter a segurança de pertencer a uma sociedade.
Em contraste com a época de Freud, final do século XIX, surgem na atualidade outras fontes de inquietação. Para Mezan, se a sociedade antiga era, em muitos aspectos, mais rígida, a atual é por vezes desnorteante na sua fragmentação e na aceleração do ritmo das mudanças; se aquela opunha ao avanço do indivíduo obstáculos sedimentados na tradição, a de hoje já não oferece valores nem rumos claramente identificáveis. Existe maior tolerância quanto aos aspectos sexuais em sentido estrito — o corpo é cuidado no esporte e exibido sem tantos pruridos, a homossexualidade já não é perseguida como delito, as oportunidades para relacionamentos sexuais antes ou fora do casamento se multiplicaram, mas a violência urbana, o consumo de drogas e outras pragas sociais se alastraram em um grau que Freud jamais poderia ter previsto
Retornando ao argumento de Costa, esse autor faz uma análise da sociedade ocidental com base no argumento freudiano anteriormente citado: “certos padrões de comportamento social hoje são suficientemente estáveis e recorrentes para que possamos afirmar a existência de uma forma particular de medo e reação ao pânico, que é a cultura narcísica da violência. Essa cultura nutre-se e é nutrida pela decadência social e pelo descrédito da justiça e da lei. (...) Na cultura da violência, o futuro é negado ou representado como ameaça de aniquilamento ou destruição. De tal forma que a saída apresentada é a fruição imediata do presente; a submissão ao ‘satus quo’ e a oposição sistemática e metódica a qualquer projeto de mudança que implique cooperação social e negociação não violenta de interesses particulares” (Costa, 1989:167).
Um traço da cultura da violência se manifesta na esfera dos comportamentos sociais. Retomaremos inicialmente o argumento de Bauman, no ponto em que o autor se refere às sociedades atuais como instituídas com base em um modelo dotado do que ele denomina de “insegurança existencial”, que assume uma forma de insegurança pessoal.
Os tempos sombrios em que vivemos, de violência e globalização, que apresentam um quadro social em constante mudança, sem garantias, geram um universo de insegurança e de medo. Podemos dizer que nossa cultura ocidental, onde o individualismo e o consumismo são eleitos como valores pósmodernos, intensifica os sentimentos de desamparo do sujeito.
Como resposta a esse desamparo vemos exemplos de contínuos processos de defesa pessoal e de alarmes, o que indica que as pessoas se encontram em um sistema de vigilância contínua: condomínios cada vez mais fechados, vigiados, com uma explosão de aparelhagens de segurança; cada vez mais, o indivíduo tenta se proteger, fechando vidros de carros, travando portas, assumindo comportamentos defensivos. Recursos cada vez mais sofisticados são adotados, como sensor de ruptura, sensor de pressão, infravermelho ativo etc.
Além disso, vemos um outro sentido de busca de segurança, na tentativa de encontrar referentes materiais, no organismo, para o medo. Uma possível busca de segurança hoje em dia consiste nos mecanismos de medicalização, de estudos do cérebro para encontrar fontes materiais para a origem dos males psíquicos, com o desenvolvimento da indústria farmacológica, entre outros.
Bauman, 
A formação de uma sociedade do medo através da influência da mídia
 
A Mídia tem um papel importante no campo político, social e econômico de toda sociedade. Através desse mecanismo essa instituição incute na população uma consciência, uma cultura, uma forma de agir e de pensar.
O crime desperta curiosidade na população por apresentar uma ameaça. A mídia atua explora essa fragilidade humana estimulando a sensação de insegurança. A televisão tornou-se um fenômeno em massa, assim como, a alta taxa de criminalidade e, com isto, também cresce a sensação de medo e insegurança em toda população.
Por nos encontrarmos em uma crise de credibilidade política, os telejornais procuram outras categorias informativas para traduzir o interesse da sociedade — geralmente notícias violentas. Assim, a curiosidade pela narração do crime e suas possíveis consequências acabam por ser uma das causas de uma nova cultura de violência, em que essa aparece como um fato normal, corriqueiro, que faz parte do cotidiano.
Não há com um grau de certeza a confirmação de que os meios de comunicação influenciem na opinião pública, o fato é que existe umainfluência mútua entre o discurso sobre o crime — atos violentos — e o imaginário que a sociedade tem dele e entre as notícias e o medo do delito. Com isso, pode-se sustentar que existe uma relação sólida entre as ondas de informação e a sensação de insegurança.
A origem do Medo
Segundo Bauman (2008, p. 8), medo é o nome que damos a nossa incerteza: nossa ignorância da ameaça e do que deve ser feito. Vivemos numa era onde o medo é sentimento conhecido de toda criatura viva.
A mídia pode ser considerada aqui uma causadora da proliferação do medo na sociedade, pois o medo deixou de relacionar-se a estórias de contos e mitos, da imaginação durante reuniões de família, para ser um aglomerado de imagens e informações que a televisão transmite todos os dias dentro de cada lar e para todas as famílias. A sociedade deixou de imaginar os contos para viver na realidade concreta as situações que são transmitidas através dos telejornais e programas de entretenimento.
O mundo líquido mostrado por Bauman é uma espécie de irrealidade dentro da qual estamos mergulhados, um mundo de aparência absoluta, de ameaças que quase nunca se configuram reais, mas que nos são mostradas cotidianamente, principalmente pela mídia. Diante disso, ele expõe o medo como uma forma inconstante. Podemos ter medo de perder o emprego, medo do terrorismo, da exclusão. O homem vive numa ansiedade constante, num cemitério de esperanças frustradas, numa era de temores.
E, assim, passamos a construir inimigos e fantasmas, nos deixando levar por todo tipo de informação que nos é imposta sem nem ao menos questionar a real veracidade dos fatos. É inegável que vivemos em uma sociedade violenta, com altos índices de barbáries, mas o problema não está na prevenção de possíveis ameaças, mas em considerar que tudo e todos possam ser ameaçadores. Ou seja, viver em alerta constante, excluindo pessoas e julgando indivíduos sem nem ao menos conhecer por medo do perigo que esse indivíduo possa lhe trazer.
O sentimento de insegurança não deriva tanto da carência de proteção, mas, sobretudo, da falta de clareza dos fatos. Nessa situação difunde-se uma ignorância de que a ameaça paira sobre as pessoas comuns e do que deve ser feito diante da incerteza ou do medo. A consequência mais importante é uma crise de confiança na vida, uma vez que, o mal pode estar em qualquer lugar e que todos podem estar, de alguma forma, a seu serviço, gerando uma desconfiança de uns com os outros.
A influência da mídia e sua relação com o medo
A mídia tem por objetivo atender as expectativas imediatas dos indivíduos. Ela pode ser definida como o conjunto de meios ou ferramentas utilizados para a transmissão de informações ao público assumindo um papel muito importante na formação de uma sociedade menos conflituosa. Porém, em uma realidade complexa como a nossa, a mídia desempenha um papel garantidor da manutenção do sistema capitalista, fomentando o consumo, ditando regras e modas e agindo sobre interesses comerciais.
A mídia notoriamente tem papel importante na conjuntura social atual, pois exerce influência em todos os campos, seja na família, na política e na economia, incutindo na população uma forma de agir e pensar importante para a manutenção da ordem.
Assim, os meios de comunicação desvirtuam o senso comum através da dominação e manipulação popular, através de informações que, nem sempre, são totalmente verdadeiras.
Com isso, propagando o medo do criminoso (identificado como pobre), os meios de comunicação aprofundam as desigualdades e exclusão dessa parcela da sociedade, aumentando as intolerâncias e os preconceitos. Utiliza-se do medo como estratégia de controle, criminalização e brutalização dos pobres, de forma que seja legitimo as demandas de pedidos por segurança, tudo em virtude do espetáculo penal criado pela imprensa.
Criam-se normas penais para a solução do problema, porém, o Direito Penal passa a ser apenas um confronto aos medos sociais, ao invés de atuar como instrumento garantidor dos bens juridicamente protegidos.
Hoje, vivemos em constante situação de emergência e deixamos de perguntar pelo simples fato de estar provada a barbaridade dos outros. A partir daí, muros são construídos para separar a sociedade. Há muros que separam nações entre pobres e ricos, mas não há muros que separam os que têm medo dos que não têm (COUTO, 2011).
A manipulação das notícias através dos meios de comunicação aumentam os medos e induzem ao pânico, reforçando uma falsidade à política criminal e promovendo a criminalização e repressão, ofertando ao sistema penal uma legitimação para uma intervenção cada vez mais repressiva, criando um verdadeiro Estado Penal.
A mídia exerce influência sobre a representação do crime e também do delinquente em razão do constante destaque que se dá aos crimes violentos. Assim, a mídia vai colaborando o processo de construção de “imagem do inimigo” – no Brasil quase sempre como dos setores de baixa renda – mas também auxilia na tarefa de eliminá-los, desconsiderando da ética e justificando a opressão punitiva.
Através de uma seleção de conteúdos a mídia tem o poder da construção da realidade, que é um poder simbólico. Esse poder simbólico procura reproduzir uma ordem homogeneizada do tempo e do pensamento, com um único objetivo, a dominação de uns sobre os outros. Com isto, criam sujeitos incapazes de contestar o que se lhes é apresentado de forma a garantir a ordem, a torná-los submissos e dominados.
A mídia incute na sociedade uma política de higienização e rotulação dos desiguais que devem ser banidos da convivência social. Diante da propagação dessa política, cada vez mais os cidadãos são colocados diante de questões criminais que parecem nunca se resolver provocando uma sensação de intranquilidade e medo. Esse último, por sua vez, é agravado pela sensação de vulnerabilidade e de impossibilidade de defesa.
A realidade entre medo e verdade
Na realidade, o principal objetivo da mídia é chamar a atenção do público e obter lucro. Assim, a mídia passa a utilizar expedientes sensacionalistas com fatos negativos como crimes e catástrofes, disseminando um sentimento de insegurança no seio social, ocasionando o surgimento da cultura do medo e formando uma “Sociedade do Medo”. Ou seja, nem tudo que vimos nos telejornais são de extrema veracidade, grande parte desta informação tem uma intenção do porque ser transmitida e, essa intenção, estará sempre relacionada a um fim lucrativo e dominador social.
De acordo com Silveira (2013), para dar sustentação ao ciclo que por diversas formas fomenta o consumo e acarreta o lucro, a mídia, seguindo os ditames da indústria cultural, interage com o público receptador das informações de uma forma muito particular, visto que consegue se adaptar perfeitamente às mais diversas classes, idades e tipos de pessoas, buscando uma relação com o público médio.
Há mais medo do que medo propriamente dito. A televisão tenta retratar os fatos de forma a tornar a informação o mais real possível aproximando os acontecimentos do cotidiano das pessoas e fazendo-as crer que aquela situação de risco poderá acontecer a qualquer momento dentro de suas próprias casas, nos seus grupos sociais. Assim, os telejornais propagam informações sensacionalistas através da exploração da dor alheia, do constrangimento de vítimas desoladas e da violação da privacidade de algumas pessoas. 
Desta forma, mesmo que estejamos mais seguros do que em toda história da humanidade, mesmo assim, as pessoas continuam a se sentir ameaçadas, inseguras e apaixonadas por tudo aquilo que se refira à segurança e à proteção. Isso se dá através do que Silveira (2013) chama de “cultura do medo”, ou seja, o que tem levado as pessoas a intensificarem suas próprias medidas visando uma suposta diminuição de vulnerabilidade, como a construção de muros e barreiras, assim como a se isolarem dentro de suas próprias casas, evitando sair a eventos e espaços públicos por medo da violência, o que configura uma mudança radical de comportamento, algo que beira a paranoia.
Esta formade isolamento dos conflitos ocasiona uma espécie de divisão social, onde as pessoas economicamente privilegiadas passam a ocupar bairros considerados “nobres” e condomínios vigiados continuamente, restando para a camada mais pobre da população, territórios completamente negligenciados pelo Estado, locais em que a “elite” busca o distanciamento, diz Silveira (2013
Por vivermos em uma sociedade complexa, onde o Estado já não mais é capaz de cumprir com seu papel de proporcionar segurança à população, facilita ainda mais a instalação do medo inconsciente das pessoas.
Como expõe Loïc Wacquant: “tranque-os e jogue fora a chave’ torna-se o leitmotiv dos políticos de última moda, dos criminólogos da corte e das mídias prontas a explorar o medo do crime violento (e a maldição do criminoso) a fim de alargar seus mercados
Espaço urbano
Processo de gentrificação
entrificação o processo de revitalização dos espaços urbanos ou a aparente substituição de paisagens de caráter popular por construções típicas de áreas nobres. Trata-se de um processo em que o espaço geográfico urbano transforma-se e ressignifica-se, sobretudo em função da valorização acentuada e do enobrecimento de uma área antes considerada periférica.
Muitas vezes, as áreas periféricas de uma cidade formam-se de maneira não planejada, seja através de invasões, seja através de uma expansão descontrolada de loteamentos imobiliários em áreas afastadas. Esses locais, quase sempre sem infraestrutura básica (como saneamento, asfalto e transporte público de qualidade), sofrem pela sua distância em relação aos principais centros urbanos da cidade.
Com o tempo, prolifera-se aquilo que o geógrafo Roberto Lobato Corrêa denomina por descentralização, em que as áreas centrais – detentoras dos principais serviços e atividades urbanas – multiplicam-se e disseminam-se para outras áreas. Com isso, regiões antes desvalorizadas e sem estruturas ressignificam-se, passando por uma acentuada especulação imobiliária e modernização de seus espaços.
É nesse contexto que a gentrificação ocorre, pois as áreas antes desvalorizadas passam a ter um custo muito alto, ao passo em que a população residente nesse local é gradativamente substituída por um perfil comercial ou de grupos sociais mais abastados. Com isso, a paisagem modifica-se, e as zonas, que antes eram só guetos, barracos e pobreza, transformam-se em condomínios, prédios e casas de médio e alto padrão.
No entanto, é importante considerar que a transformação desses espaços não representa necessariamente uma mudança no padrão de vida da sociedade, haja vista que a população mais pobre, ao emigrar dessas regiões, passa a habitar outras localidades, geralmente ainda mais periferizadas. Essa ocorrência é chamada de segregação urbana.
Um exemplo nítido do processo de gentrificação do rio é a favela do Vidigal, no Rio de Janeiro. Historicamente formada a partir de invasões, constituída por barrados amontoados e sem estrutura, esse local vai aos poucos transformando-se, recebendo novas casas de luxo formadas por pessoas ricas que buscam a área visando à bela visão do alto do morro. Com isso, o Vidigal vai conhecendo uma cada vez maior valorização de seus espaços, com a substituição do perfil de moradores e, consequentemente, das estruturas que os cercam.
Associação entre ações de planejamento urbano e utilização efetiva dos diversos modos de transportes nas grandes cidades.
Direito à cidade
Cidades Inteligentes
Custos do metro: apenas viabilizado para cidades de grande porte e altos recursos financeiros.
Corredores de ônibus: mais viáveis – rapidez na implantação e baixo custo.
"Não há solução fácil e imediata para a mobilidade. Mas, sem dúvida, um dos mais importantes fatores para diminuir as viagens, apesar de muito pouco abordado, é o planejamento urbano, em especial de longo prazo. Cidades compactas, onde as distâncias entre os locais de moradia, trabalho, escolas, comércio e serviços são mais curtas, com adensamento populacional mais intenso e uso do solo mais diversificado, apresentam melhores condições de deslocamento, melhor saúde de seus moradores, que andam mais a pé e de bicicleta, vencendo o sedentarismo, e menos poluição pelo não uso do automóvel."
No Brasil, com a sanção da Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), em 2012, as cidades brasileiras receberam novas diretrizes para planejar e guiar suas ações políticas para estabelecer uma mobilidade mais sustentável. Para isso, a PNMU determina a elaboração de Planos de Mobilidade Urbana para cidades com mais de 20 mil habitantes como requisito para o repasse de recursos orçamentários federais. Essa imposição visa, como consequência final, transformar as cidades e o modo como o brasileiro se desloca diariamente.
Segundo a Lei 12.587/12, os Planos de Mobilidade Urbana devem tratar da circulação de pessoas e bens e não só dos veículos, priorizando o pedestre e o transporte coletivo e não apenas o automóvel. A orientação também destaca que o planejamento deve estar ligado às regulações urbanísticas, metas ambientais e princípios da acessibilidade universal da cidade.
Ainda de acordo com ele, não existe solução de mobilidade em curto prazo. "Soluções para esses problemas precisam ser baseadas no planejamento urbano, com uma visão a longo prazo, pois algumas delas são caras e podem demorar anos para serem concluídas", afirma
Democratização efetiva do transporte público: Exemplo disso ocorre na Região Metropolitana de São Paulo, mais especificamente na periferia metropolitana e áreas de contato entre o colar periurbano e rural. Nestes espaços, os moradores utilizam sobretudo o ônibus para seus deslocamentos cotidianos, e por se tratar de longas distâncias até o local de estudos e trabalho, comprometem um percentual maior de sua renda com transporte, cerca de 16,4%, enquanto no interior são comprometidos 13,8% e no centro da capital, 15,9% (Brasil, 2012). Vale ressaltar que na periferia metropolitana (incluindo áreas de favela) a renda da população é menor se comparada às demais áreas do estudo e, portanto, a renda dos segmentos sociais mais baixos é direcionada para o transporte.
demais, no caso brasileiro, o próprio acesso econômico ao transporte público - de suma importância para a população de cidades que "criam distância" continuamente - é bastante dificultado, em razão do que, no Brasil, em cidades com mais de 60 mil habitantes, 38% dos deslocamentos ainda são efetuados a pé, segundo pesquisa do Ipea (Brasil, 2012). Não porque haja proximidades urbanas planejadas, como ocorre em cidades europeias - pelo contrário, o cenário que se enseja é de uma paulatina expansão urbana dispersa em diferentes cidades -, mas porque seu acesso ao transporte é restrito pela tarifa e pela cobertura insuficiente da rede de transporte. No entanto, vale ressaltar que há outras questões. Por exemplo, o percentual de deslocamentos efetuados por transporte público no Brasil é de cerca de 32%, e apenas 3% deles é efetuado por sistemas sobre trilhos (trens urbanos, metrôs, bondes etc.) (Brasil, 2012), os quais operam sob maior eficácia, pois não sofrem interferência do trânsito. Ademais, as linhas de ônibus, em congestionamento, são ainda mais custosas em razão dos veículos "socorristas", os quais são postos em operação para evitar maiores atrasos.
No Brasil, nos vemos às voltas de um poderoso capital imobiliário - que não raro é sabotador dos planos diretores - que provoca urbanização dispersa e proprietários fundiários especuladores que emperram a provisão de infraestruturas, ou seja, o transporte público não consegue se antecipar ou ser implementado de modo concomitante à urbanização. Há diversos exemplos, inclusive, de situações onde a melhoria em acessibilidade física via infraestrutura de transportes (como o corredor Expresso Tiradentes em São Paulo) valorizou sobejamente o entorno (em cerca de 40%), dificultando a permanência de famílias de menor renda. Esse é um aspecto importante do problema.
O planejamento urbano não acompanhao crescimento urbano.
Quando as cidades crescem de forma não planejada, não há a preocupação em distribuir as facilidades urbanas no território. Nesses casos, a ausência de ação do Poder Público acaba por facilitar a criação de áreas e até bairros informais, sem serviços e quipamentos públicos, situações comuns em áreas afastadas dos centros urbanos, onde o valor da terra é mais baixo, o que acaba por induzir a concentração da população de menor renda. Nesse cenário, a periferia da cidade cresce e a cidade se espraia.
Essa população cria uma alta demanda por infra-estrutura básica e principalmente por transporte público. Enquanto isso, o centro da cidade muitas vezes fica subutilizado, mesmo contando com toda a infra-estrutura disponível.
Todos esses reflexos podem acabar comprometendo a mobilidade das pessoas no espaço urbano, gerando assim uma corrente sem fim.
Melhorando da rede de transportes não motorizados (ciclovias e calçadas)
Parceria Público Privada
Inchaço rodoviário
Integralçao rodoviário – ferroviário 
cada vez mais as cidades estão perdendo a capacidade de permitir que as pessoas se movam com qualidade.
 
Turismo: elevação dos preços x representatividade na economia
Nos incessantes pousos e decolagens do aeroporto de Son San Juan, os aviões sobrevoam grandes manchas escuras, parecidas com terra queimada, que do alto se revelam conglomerados de veículos de aluguel, 90.000, colocados à disposição do turista. E se chega a Palma de Mallorca por mar em uma embarcação que não possua a colossal altura dos cruzeiros, o viajante se depara com o espesso bosque de mastros que bloqueia a vista da cidade. Entre 1º de abril e 1º de novembro, o período da temporada, as ilhas Baleares exibem com exultante frequência a placa de lotado apesar de seus 600.000 locais turísticos, 24.000 atracadouros e 1.500 voos diários. O arquipélago é uma festa contínua que as promissoras expectativas de ocupação não param de nutrir. Recorde sobre recorde, o mundo todo dá como certo que neste mês de agosto se alcançará a equação: 1,1 milhão de população nativa, 1,1 milhão de visitantes. A pergunta é se esse modelo de turismo é sustentável.
Enquanto uns se empolgam, outros se desesperam. “Antes, havia um turismo amável e convivíamos com ele de bom grado. Agora, o verão não se curte, vive-se com resignação. Estamos sofrendo uma perda brutal de qualidade de vida”
Em contraste com a lembrança nostálgica, idealizada, talvez, de um passado pleno de visitantes ilustres: intelectuais, artistas, famosos e endinheirados, a avalanche atual e o fenômeno crescente dos apartamentos turísticos de aluguel está consolidando o modelo de monocultura do turismo de massa. A complacência original dos cidadãos desaparece, especialmente em cidades e espaços limitados ou submetidos com antecedência à pressão da visitação intensiva.
Neste verão, os alarmes soam com maior força em vários pontos da Espanha à medida que a emergência habitacional tensiona as costuras sociais e políticas. Embora o fenômeno tenha seus maiores expoentes em Ibiza, Barcelona e Palma, o problema é comum ao conjunto do arquipélago balear e outras cidades espanholas. Ibiza oferece, de fato, um escandaloso mostruário de situações-limite produzidas pela recorrente e crônica escassez de moradia de verão. Faltam médicos, radiologistas, anestesistas, enfermeiros, policiais e bombeiros para atender a uma população multiplicada por dois porque, apesar dos esforços para habilitar instalações sanitárias, educacionais e militares, não há alojamentos disponíveis ou há, mas, em condições indignas.
Os 70.000-80.000 trabalhadores sazonais que chegam da Península para trabalhar no verão se amontoam em apartamentos compartilhados com até 12 pessoas, às vezes, ao preço de 500 euros (1.850 reais) por uma cama ou sofá, ou pernoitam em carros e barracas de campanha. Não é impossível que, neste verão, se chegue a superar o limite da desfaçatez fixado por anúncios absurdos que ofereceram uma sacada com colchão por 500 euros ao mês ou uma camionete com cama incorporada por 700. O que sobra para o trabalhador, da hotelaria, por exemplo, se deve pagar 700-800 euros pela moradia? Não sobra quase nada porque a Espanha tem salários baixos em comparação com outros países da Europa, entre 1.100 e 1.200 euros. “Não dá mais. Estou aqui há 18 anos, mas, assim como outras pessoas, estou pensando em ir embora”, 
O problema de Natalia Aguilló, 34 anos, professora de formação profissional, é que quando chega julho ela precisa abandonar Ibiza e voltar para Valência, sua terra natal, porque o apartamento compartilhado onde mora é alugado nos meses de verão por 1.600 euros por semana. “Volto em setembro, mas ter que fazer duas mudanças por ano é um transtorno. Não tem como pensar em se estabilizar, em ter uma família. Aqui, em Ibiza, chegaram a me pedir 10.000 euros mensais de aluguel.” 
Parte da população nativa começa a comparar a atividade turística com as espécies invasoras, predadoras, perigosas para a conservação do habitat
Parte da população nativa começa a comparar a atividade turística com as espécies invasoras, predadoras, perigosas para a conservação do habitat. Embora ninguém ignore que esse é o principal e quase exclusivo recurso econômico do arquipélago balear, o turismo está deixando de ser percebido como o maná incontestável, a fonte inequívoca do benefício geral ante o qual só cabe transigir. A outrora desejada presença dos visitantes começa a transformar-se em aversão porque o modelo está expulsando a população nativa, incapaz de acompanhar o vertiginoso aumento dos preços dos aluguéis, a hotelaria e o comércio, além de uniformizar e deformar a personalidade da cidade, alterar os hábitos de vida e paralisar serviços e infra-estruturas pagos pelo conjunto dos cidadãos. Surgiu a turismofobia.
Quem ganha com todo esse sucesso? Quais benefícios trazem para a população de Palma os 20.000 ou 25.000 turistas de cruzeiros que caem de repente no centro da cidade? Quem ganha com o turismo arruaceiro, marcado por bebedeiras, vômitos e pelo “balconing” [nome dado pela imprensa espanhola à prática de pular em uma piscina de uma balcão]? Onde residem e para onde se encaminham os benefícios disso tudo?, pergunta-se um número cada vez maior de moradores. Algumas iniciativas surgem, como a criação de sindicatos de locatários, que procuram reverter a situação, mas também se registram reações destemperadas de protesto contra os visitantes: “Vocês não são bem-vindos! Go home!”. Trata-se de uma questão delicada, pois, se existe alguma coisa que incomoda o turista, é ele se sentir rejeitado. 
Segundo a Rede de Inclusão Social do Fundo Social Europeu, o fato de bater vários recordes turísticos não evita que 115.000 pessoas vivam, ali, em situação de pobreza extrema. Nas últimas duas décadas, as Ilhas Baleares caíram do primeiro para o sétimo lugar como a comunidade autônoma mais rica da Espanha.
Visitantes em Palma. Dos 550.000 habitantes da cidade, 85% se dedicam aos serviços.
 “A renda e o salário foram diminuindo à medida que o turismo aumentava. Ano após ano, a margem de lucro vem caindo e os custos não registram nenhuma compensação suficiente. Caminhamos para um colapso da infraestrutura dos serviços públicos: saúde, limpeza, tratamento de água, tráfego, poluição...”, 
 “Cada turista consome 278 litros de água por dia ante 105 dos habitantes locais, e é preciso considerar que entre 12 milhões e 14 milhões de turistas passam pelas Baleares a cada ano. A Prefeitura contraiu uma dívida gigantesca que a obriga a pagar aos bancos este ano 35 milhões de euros (128 milhões de reais) de juros, razão pela qual a sua margem de investimento se limita a apenas 170 milhões de euros (625 milhões de reais). Salvam-se apenas as grandes redes hoteleiras que têm economia de escala, os hotéis urbanos de luxo com diárias de 300 a 400 euros (1.100 a 1.500 reais), as grandes empresas de distribuição e as companhias marítimas”, acrescenta Garau, psicólogo social e um dos fundadores da Palma XXI, uma associação que reúne pessoaspreocupadas com a evolução da cidade.
Nas ruas de Palma de Mallorca, o ruído estridente das malas com rodinhas sendo arrastadas nos calçamentos de pedra marca o contraponto que se impõe entre a atualidade e a agitação e a música, os sons confusos que vem dos bares, restaurantes, barracas de souvenir... É a mudança constante dos inquilinos dos apartamentos turísticos, uma rede ilegal gigantesca de milhares de casas ou quartos para aluguel surgida no calor da suposta economia colaborativa sob a cobertura das grandes plataformas digitais de intermediação. A febre dos moradores de alugar seus espaços via Airbnb, que gerencia 54% da oferta, Wimbu e as demais plataformas digitais é explicada por estudos que mostram que a renda gerada por essa modalidade, à qual o fisco não tem acesso, é 2,5 vezes maior do que a obtida por meio de um aluguel convencional.
“A renda e o salário foram diminuindo à medida que o turismo aumentava. Caminhamos para um colapso da infraestrutura dos serviços públicos: saúde, limpeza, tratamento de água, tráfego, poluição...”
“No início da temporada, as diárias de aluguel normal em Palma estavam em 200 euros por apartamento e entre 70 e 80 euros no caso de quartos”, comenta Marisa, funcionária de uma imobiliária. 
A grande procura por hospedagem estimula a ganância geral e muitos moradores das ilhas reivindicam, através desse caminho irregular, a sua parte do bolo turístico, a pesar da multa prevista de 4.000 euros. O problema é que essa oferta habitacional que, segundo associações ambientalistas como Terraferida, acrescenta no arquipélago até 200.000 vagas às já oferecidas pela rede hoteleira e pelo aluguel regular, contribuindo diretamente para o aumento dos preços dos alugueis. Por que alugar por anos para a população local se você pode ganhar muito mais alugando para os turistas por dias ou semanas?
Trata-se de um tema polêmico entre os moradores. As contínuas idas e vindas de locatários em clima de férias costumam se chocar frontalmente com a tranquilidade e a segurança reivindicada pelos moradores permanentes.
um coletivo de Ibiza que denuncia o aumento da desigualdade, a privatização dos litorais e o esgotamento dos mananciais.
Apesar de tudo, o Governo balear admitiu regularizar os apartamentos turísticos, com a condição de que a atividade seja regulamentada, que se paguem os devidos impostos e se obtenha a autorização dos moradores locais. Essa atitude ocorre em acordo com as associações de moradores e outras organizações defensoras da aplicação da legislação nacional e da simples proibição da atividade, mas com o apoio de grupos como Despejados pela Hipoteca (PAH). “Muitas pessoas pagam sua hipoteca graças ao aluguel turístico. Proibi-lo seria um gesto de hipocrisia”, afirma sua representante, Ángela Pons. “Aos que foram despejados por falta de pagamento de hipoteca se somam maciçamente os despejados por falta de pagamento de aluguel. Muitos inquilinos não têm seus contratos renovados ou então são obrigados a aceitar aumentos impossíveis, entre 700 e 1.500 euros, que é uma forma de tirá-los dali. E não são necessariamente alugueis baixos. Muitas pessoas não têm para onde ir, mesmo tendo uma renda regular’, 
oordenadora do Escritório Antidespejos da Prefeitura de Palma. 
Dos 18.000 despejos efetuados entre 2003 e 2014, 77% decorreram da impossibilidade de pagamento do aluguel.
A febre dos moradores de alugar seus espaços via Airbnb é explicada pelo fato que a renda gerada por essa modalidade, à qual o fisco não tem acesso, é 2,5 vezes maior do que a obtida por meio de aluguel
O leque de prejudicados pelas altas brutais dos alugueis é muito amplo e variado, mas incide especialmente sobre famílias monoparentais e pessoas sem trabalho, marginalizadas pelo sistema..
Mesmo sem a dramaticidade de casos como esses, os profissionais qualificados também sofrem os efeitos da febre dos alugueis turísticos, que expulsa os moradores locais para a periferia. Ana Belén Esteva, 43 anos, professora de língua espanhola, teve de encarar essa realidade no dia em que seu contrato chegou ao fim. “De um dia para o outro, passei a fazer parte de um mar de pessoas desesperadas, muitas delas funcionários da saúde e da educação, que procurava, procuravam e não encontravam nada em lugar nenhum”. 
 “O direito à moradia não pode ficar nas mãos do mercado. Ele requer uma liderança pública comprometida com a proteção desse direito e com o acesso à moradia por parte da população expulsa devido aos processos de especulação imobiliária”, afirma Josep Maria Montaner, secretário municipal de Moradia da Prefeitura de Barcelona.
Urbanista e arquiteto experiente, ele está convencido de que o Plano Especial Urbanístico sobre Alojamentos Turísticos aprovado em janeiro pela sua Prefeitura é o instrumento adequado para lidar com essa questão. “Além de impedir a transferência de uma casa para um hotel ou um apartamento turístico, o plano regula a construção de novos alojamentos turísticos nos bairros onde as condições de vida e os direitos dos moradores estão ameaçadas. Nossos problemas de exclusão habitacional ainda existem, mas agora podemos colocar uma ordem na indústria turística. Barcelona dispõe de um modelo”.
A monocultura turística maciça entrou em uma fase paradoxal, em que, além de ameaçar o meio ambiente privilegiado, pode fracassar se não for reorientada e restringir os seus excessos. Alguns municípios começam a reagir seguindo a linha da Prefeitura de Barcelona, que adotou uma atitude clara de punir os alugueis irregulares e limitou a instalação de praças hoteleiras nas áreas urbanas já saturadas. Em Palma de Mallorca, a rica diversidade local foi a tal ponto agredida que 85% de seus 550.000 habitantes se dedicam atualmente a esse setor. Um perigo bastante evidente é de que a massificação leve à degradação. 
Vail identifica uma dinâmica que se repete em vários lugares do mundo, e que faz parte, segundo ela, do fenômeno da “globalização do turismo”. Primeiro, um lugar remoto é “descoberto” por algum aventureiro estrangeiro. A notícia se espalha, guias de turismo passam a escrever sobre o local e uma onda de viajantes – especialmente jovens mochileiros – começam a ir para lá.
Mas qual é o problema disso? Segundo a diretora, apesar dos benefícios econômicos que o turismo pode trazer para comunidades, quando esse processo ocorre sem infraestrutura e planejamento, ele pode se transformar em um desastre para o meio ambiente e para os moradores do lugar: o lixo se acumula em locais abertos, grandes operadoras estrangeiras se apropriam do dinheiro que os turistas trazem, os preços de produtos básicos vão às alturas, animais mudam seu comportamento, e por aí vai.
No documentário, mostramos que o Butão fez a escolha de limitar o número de turistas com base nos efeitos negativos que eles observam nos vizinhos Nepal e Tailândia. Eles fazem isso estipulando uma taxa diária de US$ 250 que basicamente corta os viajantes econômicos e mesmo os de orçamento médio. Alguns discordam dessa política, mas foi a solução encontrada pelo governo para prevenir um potencial impacto negativo ambiental e cultural.
Há também várias iniciativas que tentam beneficiar as comunidades dos destinos, como um hotel ecológico administrado por indígenas na Bolívia e um projeto na Tailândia que promove tours em vilas de pescadores e áreas tribais beneficiando realmente a comunidade e preservando o meio ambiente.
Em relação ao lixo que os turistas deixam, países como Ruanda baniram o uso de sacolas de plástico. A diferença em sua paisagem é incrível. E não estamos falando de um país rico
O aumento do turismo em escala global acende sinais de alerta para os impactos negativos da atividade, inclusive sobre o meio ambiente.
As redes sociais têm papel fundamental no fenômeno da hiperconcentração do turismo. “São plataformas que garantem uma visibilidade nunca antes imaginada para os destinos”, avalia.
A viralização de uma foto nas redes sociais pode acarretar um aumento no fluxo de turistas sem que haja um planejamento prévio do destino paraacomodar essa demanda, explica Gagliardi. Sem infraestrutura, os efeitos negativos do turismo predatório aparecem com ainda mais força.
Em Amsterdã, na Holanda, a administração pública está usando os dados do “Amsterdam City Card” – bilhete que inclui entrada para os principais museus e atrações turísticas da cidade – para combater o turismo predatório. Analisando o padrão de comportamento dos visitantes, a secretaria de turismo criou um aplicativo que envia alertas para o celular dos turistas quando uma atração está mais movimentada que o normal e sugere alternativas menos concorridas.
Já faz bastante tempo que férias não é mais sinônimo de isolamento. Com a melhoria das tecnologias de telecomunicação – e a popularização do bom e velho wifi de hotel – ficou mais fácil se manter conectado durante uma viagem. Cerca de 74% dos turistas norte-americanos disseram utilizar as redes sociais durante as férias enquanto 60% admitiram postar fotos enquanto viajam, segundo uma pesquisa da consultoria MDG.
Não faltam exemplos de lugares que passaram a sofrer mais com o turismo predatório depois de bombarem nas redes sociais. A ilha de Fernando de Noronha, por exemplo, ganhou destaque com fotos no Instagram de celebridades. Mas a experiência do viajante comum pode não render os cliques cinematográficas dos famosos – e a capacidade de receber visitantes da ilha já está além do limite recomendado no plano de manejo do ICMBio.
A concentração do turismo em determinadas atrações turísticas acaba padronizando o conteúdo compartilhado nas redes. O perfil @Insta_Repeat tira sarro dessa situação e mostra fotos quase idênticas tiradas por diferentes viajantes no mesmo destino. Criada pela fotógrafa americana Emma Sheffer, a página reúne cliques similares de um mesmo local em colagens com ao menos 12 fotos praticamente iguais.
“Ainda há muitos destinos que são pouco visitados e que têm espaço para crescer”, aponta Luigi Cabrini, presidente do Conselho Global para o Turismo Sustentável (GSTC, na sigla em inglês), o bom uso das redes sociais poderia combater o efeito manada.. “Nós podemos usar o Instagram e o Facebook para tentar resolver o problema.”
Cabrini cita como exemplo a Costa Rica, país da América Central que conseguiu, por meio das redes sociais, melhorar sua imagem no exterior. “Trata-se de um país muito menor que o Brasil, mas que foi capaz de criar uma reputação positiva nas redes, de destino sustentável, verde e responsável”, diz.
Economia compartilhada
Quando surgiram, serviços como Airbnb e Uber eram vistos como uma alternativa aos hotéis e táxis. O benefício desse tipo de serviço seria desconcentrar a receita gerada pelo turismo, beneficiando mais os moradores e a comunidade como um todo. Usando essas plataformas, moradores podem oferecer serviços usando seus próprios bens. Assim, o turista passaria a gastar seu dinheiro não apenas em comércios e serviços de grandes redes, mas também em negócios que geram renda diretamente para os locais.
No entanto, a expansão do aluguel por temporada, modelo proposto pelo Airbnb, pode acarretar um aumento generalizado do valor dos aluguéis e a consequente expulsão de moradores. Isso pode ocorrer tanto em grandes cidades quanto em destinos de ecoturismo pequenos, onde a oferta de leitos é menor.
No geral, os proprietários de imóveis, ao perceberem que podem cobrar mais com as plataformas de economia compartilhada do que com inquilinos fixos, aumentam os preços dos alugueis de longa duração. Em muitos lugares os aluguéis por temporada ainda escapam dos impostos cobrados sobre os contratos de longo prazo, o que aumenta a margem de lucro dos proprietários em plataformas como o Airbnb.
No mercado imobiliário, o abismo entre turistas e moradores fica ainda mais perceptível: enquanto os primeiros podem escolher não só entre albergues e hotéis, mas também entre apartamentos alugados, aos locais restam cada vez menos opções a preços acessíveis.
Foi o que aconteceu em Lisboa. Entre 2010 e 2018 a quantidade de apartamentos alugados em regime de temporada na capital portuguesa aumentou 3.000%, segundo levantamento feito pela Universidade de Coimbra. Por conta disso, os preços dos aluguéis dispararam e muitos residentes foram obrigados a se mudar para outros bairros ou para fora da cidade.
Em diversas cidades do mundo foram criadas legislações que impõem limitações ao Airbnb. Em Los Angeles, os apartamentos podem ser alugados por até 120 dias por ano, mesmo limite estabelecido pela prefeitura de Paris. Em São Francisco, além da limitação de aluguel por apenas 90 dias por ano, há ainda uma taxa da prefeitura de 14% sobre as reservas em residências particulares.
Em Amsterdã, o limite é ainda menor: são apenas 30 dias por ano, com apenas quatro hóspedes em cada acomodação. A tolerância é praticamente zero em Nova York, onde a legislação local determina que alugar um apartamento inteiro por um período de menos de 30 dias é ilegal. Hóspedes e anfitriões que desrespeitam essa regra estão sujeitos a multas.
Luigi Cabrini, do GSTC, alerta para que os turistas verifiquem se as propriedades que estão alugando condizem com as regras locais. “Há muitas coisas que os turistas precisam fazer para deixar um impacto positivo, e não negativo, na cidade que visitam, e uma delas é ter certeza de que não estão participando de nenhum tipo de transação ilegal”, afirma.
O Airbnb, no entanto, defende que sua política estimula a descentralização do turismo porque suas acomodações estão em bairros mais diversos que os hotéis, que costumam se concentrar em regiões mais populares. Segundo a empresa, 2/3 das reservas de hospedagem pela plataforma são feitas em áreas que não são as mais turísticas das cidades. Em relatório sobre turismo saudável, o site calcula que 44% dos gastos dos usuários nas viagens acontece nas áreas em que eles se hospedam.
No entanto, ainda que as propriedades não estejam geograficamente centralizadas, o benefício econômico trazido pelo aluguel de temporada ainda assim pode acabar concentrado.
Caminhando nesse mesmo sentido, o turismo predatório não se preocupa com a preservação do meio ambiente. Em muitos locais do Brasil, por exemplo, onde não há estrutura para se praticar um turismo sustentável (com opções desde esportes radicais até mostras de estudos sobre ecossistemas e biodiversidade), na tentativa de atrair turistas, são construídos pousadas, hotéis, espaços turísticos em locais inadequados, sem estrutura, com graves consequências ao meio ambiente como: despejo de esgoto em rios próximos, destruição de ecossistema local, dentre outros fatores que trazem prejuízos.
A diferença é que o turismo sustentável, aliado ao ecoturismo, preserva o meio ambiente e estimula as pessoas a preservarem a natureza; já o predatório estimula a destruição. Porém, no momento em que a atenção do mundo volta-se para a delicada situação da degradação ambiental do planeta, surgem novas formas de pensar e praticar a atividade turística, que deve ser economicamente viável e benéfica para as comunidades locais.
Os benefícios e os desafios que o aumento da longevidade traz aos indivíduos e à sociedade
egundo o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003), são consideradas idosas as pessoas com 60 anos ou mais. A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem essa definição para países em desenvolvimento e, para países desenvolvidos, são consideradas idosas aquelas pessoas com 65 anos ou mais.
a longevidade é fator de grande preocupação para o mundo, pois envolve questões cruciais, como aposentadoria, impostos, saúde pública, habitação, dentre outras. O que antes era visto com descaso, hoje se torna uma questão social, sempre presente nas agendas políticas. 
quando compara a expectativa de vida por gênero, percebe uma maior longevidade feminina. Um dos fatores que pode explicar esta diferença é a maior adaptação das mulheres às mudanças na velhice, em função de estarem acostumadas com modificações drásticas no corpo, como a gravidez e a menstruação, somando-se à prevenção médica. As profissões perigosas e os assassinatosseriam alguns dos fatores que também abreviam a longevidade masculina.
segundo a Organização Mundial da Saúde, a expectativa de vida média no Brasil é de 76 anos (um pouco menos que isso pelo IBGE). Ainda segundo a OMS, a expectativa de vida média mundial é de 71 anos. O país com a maior expectativa de vida média de seus cidadãos é Mônaco (previsível…) com 88,2 anos. Em grande parte das economias desenvolvidas a expectativa de vida já é superior a 80 anos.
Longevidade saudável – Permitir que se viva mais e bem, com pelo menos uma doença crônica, é o grande desafio da ciência que se debruça sobre o envelhecimento. “A longevidade foi um produto do avanço tecnológico e científico. No entanto, ela não é sinônimo de qualidade de vida. Há técnicas para nos manter vivos, mas que nos deixam incapacitados, vivendo mal”, explica Yeda Duarte, professora da Universidade de São Paulo e vice-coordenadora do Estudo SABE – Saúde, Bem Estar e Envelhecimento, estudo sobre as condições de vida e saúde dos idosos de São Paulo, desenvolvido pela Faculdade de Saúde Pública da USP desde 2000. “Vivemos com doenças crônicas, mas não morremos em decorrência delas. É preciso compreender que o envelhecimento saudável não é o envelhecimento sem doenças. Podemos viver mais e com as melhores condições possíveis desde que as enfermidades estejam monitoradas e controladas.”
Um dos caminhos encontrados pelos médicos e cientistas para melhorar o bem-estar de quem convive com problemas crônicos é o dos cuidados paliativos. Esse sistema, desenvolvido no Brasil nos últimos 15 anos, trata os sintomas e busca eliminar o sofrimento causado por eles. “O conhecimento aumentou muito e, atualmente, temos diversos recursos para fazer com que doenças crônicas não sejam sinônimo de uma vida ruim”, afirma a médica Maria Goretti Maciel, presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). “Temos a ideia de que envelhecer é um processo de degradação da vida, um erro fundamental. Estar próximo aos anos finais da vida nos leva a viver melhor, com consciência, e precisamos aprender a aproveitar todas as oportunidades que essa etapa nos oferece.”
Entre os desafios elencados por Hoepfner que levam o Brasil a não estar preparado para a longevidade está a ausência de uma política pública efetiva que contribua para o processo de envelhecimento dos brasileiros. O geriatra também ressalta ser fundamental prover mecanismos que mantenham a autonomia dos indivíduos à medida que envelhecem, mesmo nos casos de doenças crônicas que levam à perda da funcionalidade da pessoa
infraestruturas que aproveitem os verdadeiros talentos e possíveis contribuições que os idosos saudáveis podem trazer às sociedades".
Uma ideia que Fried considerou e que está sendo desenvolvida atualmente no Centro de Stanford é um programa que objetiva orientar as pessoas que estão prestes a se aposentar a participar de atividades voluntárias que possam exercer durante a aposentadoria.
Justiça eleitoral e o fortalecimento da democracia
A democracia vai além do voto. Nesse diapasão, a Justiça eleitoral garante a democracia.
Hobbes: Estado como controlador 
Marshall: Cidadania – justiça eleitoral é aplicação efetiva
Justiça eleitoral – intermedeia povo x representado
A democracia, ensina Giovanni Sartori, não se resume aos atos votar e ser votado: para o estabelecimento do governo popular, as eleições constituem uma condição necessária, porém não suficiente.2 O verdadeiro alcance do experimento democrático transcende a conquista do direito de sufrágio, uma vez que supera o esquema de garantia de participação na formação do poder para atingir um estágio em que a atuação governamental lhe oferece um retorno, identificado pelo oferecimento de uma sociedade em que se compartam os demais direitos considerados fundamentais. O regime democrático é assim um sistema de expectativas3, caracterizado não apenas pelo aspecto representativo, mas também pela busca do amplo desenvolvimento social.
Não se desprestigia, com isso, o método eleitoral. Pelo contrário, como destaca Arratíbel Salas, no campo de aplicação das ideias e das instituições democráticas, fala-se também em democracia econômica e democracia social, mas o certo é que a democracia política é condição indispensável para a conquista das outras duas.4 Dessa premissa, destaca-se a relevância do Direito Eleitoral: como categoria da ciência jurídica destinada à disciplina das mecânicas eletivas, constitui elemento fundamental para a sobrevivência do Estado democrático de direito, organização política em que a legítima assunção ao mandato representativo admite como uma única via a identificação com o substrato majoritário da vontade cidadã.
Vem-se de consignar que a realização de eleições, por si só, não conduz ao reconhecimento instantâneo de um regime verdadeiramente democrático. Considerada a democracia em seu aspecto amplo e substancial – a demandar, além da participação na formação do poder, o acesso a um mínimo de liberdade e justiça social –, a adoção da mecânica eletiva tende a proporcionar um governo democrático sob o ângulo da origem, sendo, de consequência, de caráter procedimental. Porém, importa notar que, se a simples execução de pleitos não garante, isoladamente, uma democracia em sua feição integral, vezes há em que o desenvolvimento de eleições sequer assegura a construção do pilar que lhe toca na edificação de um sistema de governo popular. Com efeito, tratando-se de um procedimento, o processo eletivo é, por essência, neutro. Logo, é possível falar-se em eleição sem se falar em democracia.5 Nesse sentido, a história política latino-americana demonstra, por uma gama de exemplos lamentavelmente extensa, que muitos regimes autoritários também exploraram o método eleitoral. Obviamente, nesses casos não há se falar em democracia, visto que está ausente o pressuposto de que a sucessão no poder seja resolvida em um marco pacífico, eivado de segurança, certeza e respeito às liberdades civis.6
Os periódicos ataques aos governos democráticos impuseram ao processo de maturação do Direito Eleitoral objetivo um desenvolvimento lento, inconstante e dificultoso. Ao longo dos dois últimos séculos, a curva evolutiva demandou a superação de diversos desafios: suplantar uma mentalidade retrógrada e elitista; quebrar esquemas amparados pelos interesses de poderosas oligarquias; e superar a temível ingerência de setores militares.
Por certo, o processo de desenvolvimento científico continua. Afinal, como salienta Mirón Lince, o regime jurídico que confere certeza a uma democracia não pode pretender ser um conjunto de normas fixas e acabadas: “Si la democracia ofrece la cualidad de ser flexible para adaptarse a los cambios y crecientes demandas que le requiere la incesante evolución social, el marco legal que la regula necesita ser, también, congruente con esta característica”.7
O estágio atual de avanço normativo permite o reconhecimento de que o Estado brasileiro costuma produzir eleições que gozam de elevados prestígio e legitimidade. Sob o ângulo jurídico, não há dificuldade em perceber que aí se cumpre o papel a que se destina o Direito Eleitoral. Mas sua importância vai além. Como assevera Dieter Nohlen, um governo surgido de eleições livres e universais é reconhecido como legítimo e democrático; no entanto, o poder das eleições é ainda mais extenso: as eleições competitivas constituem a força legitimadora de todo o sistema.8 Desse modo, a natureza específica do ordenamento eletivo o eleva ao plano político, no qual igualmente oferece um produto tão positivo quanto inclusivos e depurados sejam todos os seus mecanismos e instituições.
Mirón Lince sustenta que os regimes democráticos são considerados legítimos porque seu projeto, sua concepção e seu exercício respondem a um substancioso critério de racionalidade. Em sua visão, a democracia logrou consolidar-se como modelo baseado na tomada de decisões mediante votação livre; na deliberação como forma primordial de disputa política; e na convivência com o oponente como condição prévia

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