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A longa decadência II

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A Borracha na Amazônia: Expansão e Decadência 1850-1920
A Longa Decadência
Em janeiro de 1910 o mundo industrial se viu às voltas com uma grave crise, a grande demanda por borracha bruta, que ocasionou aumento significativo no preço desse produto, levando grandes companhias internacionais a investirem somas consideráveis no processo de produção da hévea, acreditando elas, que os preços se manteriam estáveis, ou até mesmo sofressem novos aumentos, o que bastante atrativo tal investimento. Do mesmo modo as casas aviadoras brasileiras trataram também de buscar seu quinhão no mercado gomífero, contratando mais e mais trabalhadores e aumentando se capital e seu endividamento.
	Porém em maio desse mesmo ano, depois de ter quase dobrado de preço, o valor da borracha começou a cair no mercado internacional, pegando totalmente despreparados todos os indo setor, que mais uma vez fizeram uma leitura errada do momento acreditando que tudo não passava de um ajuste natural e que o mercado gomífero logo se estabilizaria. Ledo engano, pois o mercado da borracha bruta mergulhou numa crise aguda onde os preços despencaram a menos da metade daqueles praticados em janeiro, que ocasionou a grande corrida à produção de borracha. De janeiro a fevereiro do ano seguinte, parecia que realmente o mercado se recuperaria, mas, no entanto em março os preços voltaram a desabar. Essa queda representou o começo de uma decadência de dez longos anos, que trouxe conseqüências gravíssimas para a economia extrativista da Amazônia.
	Cabe perguntar, o que teria ocasionado tão grave crise? Ocorre que após 20 anos de trabalho de botânicos e de empresários britânicos, os seringais de cultivo do sudeste asiático tinham afinal, começado a produzir em escala comercial e sempre crescente, ou seja, a cada ano a produção era maior, pois mais árvores entravam em processo de produção. E somando-se a isso, os baixos custos da produção asiática, onde a mão-de-obra era abundante e muito barata, os direitos de exportação eram baixos ou inexistentes e o escoamento da produção, infinitamente mais simples e de custo muito menor que o da produção amazônica, possibilitando que a borracha de cultivo tivesse um preço muito mais atraente, tornando verdadeiramente impossível a concorrência no mercado internacional (único consumidor da borracha brasileira) da produção oriunda dos seringais nativos, com a produção asiática (de cultivo).
	Contudo, ainda assim, os produtores brasileiros não perceberam de imediato que a crise não era passageira, comparou-a a outras crises anteriores, sem atentar para a especificidade que a tal crise trazia em seu bojo, responsabilizando as flutuações de mercado a curto prazo, ou a especulações baixistas, sem atentar para a verdadeira causa do colapso do mercado gomífero.
	Assim sendo, a reação preliminar dos produtores brasileiros foi solicitar aos governos estadual e federal a decretação de medidas tomadas durante a “depressão” anterior.
	A “Emenda Chaves” foi a primeira etapa do programa de combate à crise, e consistia, especialmente, a combater a especulação pelas casas exportadoras. Segundo essa emenda, todos os industriais ou exportadores estrangeiros que adquirissem borracha diretamente de um “sindicato” de produtores organizado na Amazônia, teriam assegurado reduções nas alíquotas de imposto de exportação, segundo uma escala progressiva de tal modo que os preços mais altos seriam beneficiados com taxas alfandegárias menores.
	Essa medida, no entanto, tornou-se inócua, pois os preços continuaram a cair e não compensava comprar a borracha brasileira, mesmo com os descontos nas alíquotas de exportação.
	Conscientes da deficiência da “Emenda Chaves”, que segundo os paraenses não combatia a real causa da crise, pois eles passaram a acreditar que tudo se resumia a uma flutuação “real” do mercado, e não a uma simples especulação baixista. Partiram, então, para a segunda fase do programa que consistia em um sistema de sustentação de preços, ou um programa de valorização nos moldes que paulistas e mineiros adotaram (com apoio federal) para a exportação do café, pelo acordo de Taubaté, de 1906.
	A idéia era que o Banco do Brasil comprasse toda a produção de borracha com valores acima dos de mercado, formando um estoque regulador, e que os conservasse até que as cotações tivessem subido.
	Essa idéia era defendida pela Associação Comercial de Belém, que argumentava junto ao Governo Federal, ser a borracha um produto essencialmente indispensável à vida industrial, o que a tornava um bem raro e precioso, e que o Brasil detinha quase o monopólio de sua produção. Portanto, fazia-se necessário e urgente que o governo brasileiro, através do Banco do Brasil, adotasse tal medida como forma de preservar a economia de toda a região, que era baseada exclusivamente na extração do látex.
	De fato, o Banco do Brasil, a princípio, atendeu o apelo dos produtores de borracha da Amazônia, comprando uma pequena quantia de borracha, e a alta de preços que se seguiu permitiu-lhe obter um bom lucro. Estimulado por essa experiência bem sucedida, o banco começou a aceitar a produção de borracha como garantia para empréstimos concedidos a juros de 9%. Em conseqüência, no correr dos seis meses seguintes, apenas a agência de Belém acumulou um imenso estoque, que representava a quarta parte da safra anual do Pará. Os preços, no entanto, não mostravam sinais de recuperação com relação ao início da crise, o que levou o banco a suspender as operações em que a produção de borracha era aceita como garantia de empréstimos. A suspensão das operações bancárias lastreadas pela produção da borracha ocasionou uma quebradeira geral das casas aviadoras, e igual reação em todos os seguimentos que compunham a “industria” gomífera brasileira.
	A elite paraense reagiu ferozmente contra essa medida tomada pelo Banco do Brasil, mas a continuidade da decadência fez com que os reais motivos da crise se fizessem conhecidos pelos políticos e produtores brasileiros. O Brasil já não era o maior produtor mundial de borracha. Em 1913, a produção asiática já era maior que toda a produção brasileira, e a um custo muito mais baixo. Em 1919, a produção nacional representava menos de 10% da borracha produzida no sudeste asiático.
	Nem mesmo os britânicos, responsáveis pelo projeto de cultivo da seringueira, esperavam obter tão estrondoso sucesso em um espaço de tempo tão curto.
	Os paraenses foram acordar tarde demais para o fato de que seringais cultivados pelos britânicos trariam a ruína aos seringais nativos se algo de concreto não fosse feito para evitar a derrocada da economia amazônica baseada na extração da borracha.
	Responsabilizaram-se as elites locais pela falta de criatividade e espírito empreendedor, no tocante ao fato de que seringueiras deveriam ser cultivadas também na Amazônia. No entanto, tais críticas foram levantadas sem levar em conta os problemas que tal empreitada significaria, pois apesar de alguns seringalistas terem tentado o cultivo da hévea, antes mesmo dos ingleses, nenhum resultado expressivo foi alcançado em função dos problemas inerentes às especificidades da floresta amazônica, bem como o desconhecimento de técnicas que possibilitasse o sucesso de tão arrojado projeto. E mais, um projeto de tamanha monta exigiria uma participação efetiva do Governo Federal, visto que até mesmo os ingleses que contavam com recursos empresariais consideráveis, tiveram ajuda governamental para a efetivação do projeto. No caso da Amazônia, era pouco provável que tal recurso fosse disponibilizado, pois a região contava com um peso político muito pequeno junto ao Governo Federal dominado pela elite paulista e seus aliados do centro-sul, que não permitiriam que um projeto tão ambicioso que necessitava de recursos altíssimos para sua viabilização se concretizasse, ainda mais vindo de uma região de tão pouca expressão política.
	As elites amazônicas passaram a conhecer a crise a partir de 1911, no entanto foi em 1912 que o colapsose efetivou. Dando-se conta da verdadeira situação do mercado, as elites procuraram apoio do Governo Federal que se mostrou totalmente indiferente à crise na Amazônia. Certamente a posição da União esteja ligada às propostas mirabolantes das elites amazônicas que variavam desde empréstimos milionários adquiridos em bancos estrangeiros, ou aumento adicional sobre a borracha como garantia de pagamento. Também havia outras propostas como descontos nas tarifas sobre gêneros alimentícios destinados para a Amazônia, mas a proposta que mais chamou a atenção sobre sua incompatibilidade foi a de fixar uma sobretaxa sobre produtos importados feitos ou compostos de borracha, no entanto, não se deram conta que esses produtos representavam uma parte irrisória nas importações do Brasil.
	Na verdade a economia da Amazônia mesmo na sua fase áurea não representava para a receita nacional um acúmulo significativo da receita. Logo, fica claro o porque da indiferença da união à crise, pois seu olhar estava mais voltado para as questões referentes ao Sudeste e Sul do país. Portanto, o desequilíbrio do poder político foi o fiel da balança, pois o Brasil naquele momento estava em uma fase de transição econômica do feudalismo para o capitalismo, logo, a nova classe emergente (burguesia), manteve o discurso da descentralização do poder e da autonomia local, no entanto, a união sendo administrada por ela mesma faria a manutenção das áreas mais desenvolvidas (Sul e Sudeste).
	Mesmo com a safra recorde de 1912, a crise já tinha ganhado proporções incontroláveis. Em um primeiro momento as firmas aviadoras deram como garantia aos bancos a borracha produzida, como o colapso aumentava a cada dia pela queda do preço da borracha, os aviadores se desfizeram dos seus estoques por preços irrisórios. Já no início de 1913, muitas casas aviadoras haviam fechado as portas e as de maior tradição amargavam perdas consideráveis de capital, até mesmo as instituições bancárias sofreram com o colapso. A grandeza da crise era tamanha que os jornais diariamente noticiavam leilões de jóias em penhora, além disso, as vendas dos seringais e os navios evidenciavam a crise em todos os setores. Os seringais, que nos tempos de prosperidade serviam como crédito ativo, agora eram vendidos por bagatelas, o mercado imobiliário paraense que antes se fazia poderoso, na crise viu-se mergulhado no abandono. Os navios que caracterizavam status de grandeza, no colapso ficaram à deriva no mercado, além disso, as navegações tornaram-se quase impraticáveis aos proprietários particulares após o aumento do subsídio concedido à Amazon Riverco, empresa estrangeira que representava uma grande fatia no mercado naval. Este fato veio alargar ainda mais as relações do estado amazonense com o Governo Federal.
	Como todos estavam de certa forma ligados ao sistema produtivo da borracha, verificou-se que até os lugares mais longínquos foram abalados pela crise, ou seja, os seringueiros viram-se no abandono total, pois aquele que lhe fornecia produtos de primeira necessidade, mesmo com grande exploração, não tinha mais condição de levar seu produto ao seringueiro. Nesse momento houve um aumento na coleta de castanha, para atenuar a crise. O seringueiro agora teve que se especializar na pequena agricultura, na caça e na pesca.
	Como havia um impasse na relação seringalista-seringueiro, as oligarquias e até mesmo os governos concordaram no aquecimento da produção alimentícia nos próprios seringais. Essa medida ganhou mais força após a notícia da chegada de 4.200 kg de feijão excedente a Belém. No entanto, logo se notou que foi um fato isolado, ou seja, em termos gerais, a produção de alimento não gerou o esperado, com isso, o êxodo rural da região amazônica se intensificou, o que gerou um excedente de seringueiros nas cidades. Mas esta migração afetou os interesses dos seringalistas, que passaram a usar a violência para coibir a migração. Isso veio trazer revolta aos cronistas dos jornais que denunciaram com veemência tal prática que aos poucos foi abandonada por ser ineficaz.
	É inegável que todos sofreram direta ou indiretamente com o colapso, mesmo assim o setor intermediário apresentou significativos resultados de crescimento em meio à crise, destacando-se os bens agrícolas e industriais. Os atacadistas e industriais tiveram uma taxa maior de sobrevivência em relação às casas aviadoras, mostrando que setores como farmacêuticos tiveram o registro de capital de 500 contos, também varejistas e atacadistas dos setores de tecidos, ferragens, cordas, artigos de luxo e de produtos importados mostraram-se com lucros apesar do mercado está em crise. Ainda podemos dar ênfase à firma Martins Jorge que quadruplicou seu capital ao comercializar chapéus de palha e caixa de papelão. Mesmo com alguns destaques na economia paraense, sua importância e grandeza somente representava a décima posição na economia nacional perdendo até para a do Maranhão. Esse aspecto evidência que somente certos setores da economia urbana se tornaram autônomos na resistência contra a adversidade de crise econômica.
	A continuidade da depressão ocasionou alterações notáveis nos níveis hierárquicos comerciais da Amazônia, pois houve uma grande mudança à frente do poder. Como é de praxe as casas importadoras estrangeiras aos poucos foram se retirando, criando assim espaço para criação ou solidificação de casas exportadoras independentes e totalmente financiadas por capital local, que começaram a prosperar depois do início da crise. Na verdade esses procedimentos mostram o quanto foi amarga a depressão e que a elite buscou a todo custo se livrar o mais rápido possível da crise gomífera.
	Entretanto, o sistema de aviamento não foi extinto por completo. Tanto seringueiros como castanheiros contribuíam para a continuidade desse sistema, pois utilizavam produtos industriais como: armas de fogo, tecidos de algodão e remédios. Para ter acesso a esses produtos era preciso ter um excedente comercializável de seringa e castanha-do-pará e vender ao aviador local.
	Junto com o colapso econômico, ou influenciado por este, houve também uma turbulência política entre 1910 e 1912. A nível nacional também era possível notar acontecimentos turbulentos na esfera política, mas na Amazônia, devida à quebra do mercado da borracha os conflitos políticos eram muito mais intensos. No Pará a disputa política era mais acirrada culminando com a vitória de Martins para governador do Estado.
	Seu mandato iniciou no período mais crítico da crise econômica. Recebeu um orçamento reduzido e teve que cumprir com todos os contratos firmados anteriormente (período de expansão). No período de 1912 a 1914 a receita do Pará caiu pela metade. Martins teve que tomar medidas duras para controlar as finanças do Estado: cortou orçamento de obras públicas, cancelou subsídios à navegação... Entretanto a cada corte havia uma parcela de empréstimo estrangeiro a ser paga, e mesmo com os cortes as despesas anuais ultrapassaram em 50% as receitas do estado.
	Essas medidas trouxeram graves conseqüências para o funcionalismo público local que dependia exclusivamente do salário para viver. No entanto, para alguns burocratas do governo as medidas não assustaram tanto, pois o cargo no governo era apenas um suplemento de sua renda (a maioria possuía imóveis que receberam como herança de família). O funcionário público médio, por sua vez, fora reduzido a um estado de penúria.
	A única solução encontrada para superar essas dificuldades era fazendo empréstimos do exterior, pois o Governo Federal se recusava a oferecer ajuda. Martins fez empréstimos da Inglaterra e conseguiu com isso saldar as dívidas do Estado a pagar os funcionários. Todavia, o empréstimo feito em 1915 elevou a dívida externa e comprometeu as administrações posteriores. Porém essa era a medida que mais se aplicava às necessidades do momento.
	O empréstimo feito por Martins não foi a salvação da economia do estado, mas permitiu que fizesse muitas realizações. Em relação àeconomia extrativista sua atuação foi modesta. Concentrou sua atuação no setor agrícola do Pará procurando aumentar a produção de gêneros alimentícios e estimulando o cultivo de produtos como o algodão e fuma para que pudessem ser vendidos no exterior e no mercado interno. A produção concentrou-se principalmente nas cidades do interior e em 1918 o Pará estava entre os dez maiores do Brasil de milho, feijão e arroz, e ocupava a quarta colocação como produtor de farinha de mandioca.
	O que contribuiu para esse crescimento foi o abandono das atividades de coleta por parte da população rural migrando para atividades de cultivo. Entretanto a “intervenção do estado” foi fundamental para que esse crescimento foi mais acelerado.
	No setor da pecuária o governo de Martins não conseguiu o mesmo êxito. Em 1920 o Pará ocupava a décima posição nacional em criação de gado. O investimento nessa área não foi proporcional aos problemas enfrentados no setor.
	Os lucros obtidos com a pecuária eram menores que os da borracha, entretanto parecia ser um negócio mais confiável. Com a decadência da economia gomífera muitas casas aviadoras tomaram empréstimos com pecuaristas amigos. Enquanto centenas de casas comerciais de Belém e Manaus quebravam a maioria dos pecuaristas continuavam a prosperar.
	A decadência da economia da borracha não resultou na extinção completa de outras formas de economia. A pecuária resistiu bem a esse momento de crise.
	A agricultura que curto prazo teve resultados animadores, não se mostrou capaz de superar os principais problemas do setor. O governo de Martins percebeu que o solo amazônico não era tão fértil e nem uniformemente arável, entretanto utilizava os mesmos modelos agrícolas de governos anteriores e acreditava que a vocação dos municípios do interior era a atividade extrativista.
	Apesar do governo de Martins ter sido bem sucedido na esfera econômica, no âmbito político se viu bastante frustrado. Como havia sido eleito graças a interferência do governo federal procurou cultivar o apoio deste, o que causou reação adversa dos seus antigos aliados (lauristas). Martins, então rompeu com seus antigos aliados em 1915, mas em foi em 1916 quando Martins anunciou que concorreria a um segundo mandato que a tensão aumentou.
	A partir de então Martins passou a ser alvo de duras críticas pelos meios do jornal A Folha do Norte. Martins desistiu de concorrer e indicou um outro candidato ao governo do Pará, o que provocou a revolta dos lauristas que junto com a polícia militar depuseram Martins à força e colocaram Lauro Sodré como governador.
	O governo de Sodré mostrou-se politicamente como uma vitória, entretanto economicamente os seus resultados não foram tão bons. Percebeu que não poderia, sozinho, tomar medidas econômicas que surtissem grandes efeitos. Procurou ajuda do governo federal, no entanto, ela não veio.
	Os números mostram um pouco da dimensão da crise na Amazônia: entre 1910 e 1920, o preço da borracha “Pará fina” caiu para mais de 80%. Em 1921 a castanha-do-pará supera a borracha como produto de exportação mais valioso do Pará.
	Um outro aspecto que a ser considerado são as transformações ocorridas na Amazônia com a expansão da borracha, mudanças essas que não assumem um status de grandeza, mas que são igualmente importantes.
	Uma primeira mudança se observa na composição da elite amazônica, a classe alta em sua maioria voltou-se para a atividade mercantil (até os pecuaristas). No período da decadência essa elite se voltaria para outras atividades extrativas, como castanha-do-pará e madeiras. As famílias de menores recursos tiveram a opção de tomar de conta de um pequeno lote de terra ou tendo a terra por arrendamento.
	Durante o período do declínio da borracha a categoria dos seringalistas, classe mais baixa da elite durante a expansão, simbolizou a completa decadência. No entanto esse grupo continuava a participar da atividade extrativa como comerciantes locais. Foram reduzidos a uma situação de miséria e por isso se apoiaram em suas ligações políticas para não sucumbirem de todo.
	Outra mudança significativa que contribuiu para evitar a petrificação da classe alta e que se ampliassem certos setores da economia foi a entrada de outros grupos étnicos na região. Esses grupos vindos do Oriente Médio e da Europa buscaram inovar em seus empreendimentos e dando alguma vida aos centros urbanos arruinados. Essa chegada desses indivíduos deixa entrever o quanto a elite amazônica se mostrou permeável assimilando esses indivíduos em seu meio.
	As populações indígenas também sofreram alterações consideráveis à medida que eram obrigados a ingressar na vida comercial da economia gomífera e deixavam de lado seu caráter de auto-suficiência e autonomia.
	Também os caboclos ribeirinhos foram envolvidos no mercado extrativista, muitas vezes para saldar dívidas com o patrão. Tal envolvimento contribuía para fixar o caboclo na terra e reduzir a mobilidade social. Mas esse deslocamento para a atividade de extração se deve também ao fato de que essas populações do interior da Amazônia precisavam produzir um excedente comercializável, uma vez que já não se praticavam mais as atividades tradicionais de agricultura, caça e pesca. Após a decadência da borracha não restava outra opção ao caboclo senão coletar castanha-do-pará para vende-la nos mercados da cidade.
Considerações Finais
	A decadência iniciada em 1910 acarretou mudanças profundas na economia da região amazônica, bem como nas relações sociais da época.
	Num primeiro momento percebemos uma elite amazônica perdida em meio aos acontecimentos, incapaz de perceber a gravidade da crise e em apontar soluções para supera-la. Com expressão política ínfima no contexto nacional essa elite não consegue sensibilizar o Governo Federal a socorrer a economia gomífera, além das soluções encontradas para superar a crise serem as mais mirabolantes possíveis.
	Aliado com a crise econômica da borracha há também uma instabilidade política, emergida a partir da primeira. No Pará essa instabilidade foi mais sentida. Entretanto, essa segunda crise serviu para que o governo local procurasse soluções diferentes para superar a crise econômica. Soluções essas que promoveram esperanças a curto prazo, mas que não se mostraram tão consistentes ao longo do tempo.
	É interessante perceber que nem todos os setores da economia foram a bancarrota com a crise extrativista, atividade como a pecuária continuaram estáveis e garantindo lucros aos pecuaristas, além de se mostrarem mais consistentes.
	Importante ainda perceber como as pessoas se reinventam dentro desse universo amazônico. Diante da crise as populações do interior vão buscar sua sobrevivência em outras atividades coletoras, como a coleta da castanha-do-pará. O caboclo vai procurar produzir um excedente e vender nos comércios da cidade. Mesmo os seringalistas que se deparam diante de uma situação de miséria vão procurar apoiar-se em antigas relações a fim de manterem um padrão de vida confortável.
	A crise da borracha além de provocar miséria até nos lugares mais distantes da região amazônica, principalmente para os que estavam posicionados economicamente na escala mais baixa da sociedade, incitou também mudanças significativas no contexto político e nas relações sociais existentes até então nas populações amazônicas.
Bibliografia
WEINSTEIN, Bárbara. A Borracha na Amazônia: Expansão e Decadência 1850-1920 (p. 241-293). Tradução: Lólio Lourenço de Oliveira. Editora HUCITEC – Editora da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1993.
Universidade Federal do Acre
Departamento de História
Curso: História Noturno
		
A Borracha na Amazônia: Expansão e Decadência 1850-1920
A Longa Decadência
Alunos: 
Otto da Fonseca
Rubens Lira
Ulysses Castro
Período: 4o 
Rio Branco – Acre
Janeiro –2004
Trabalho apresentado como exigência da disciplina de História da Amazônia III, ministrada pelo professor Valmir Freitas de Araújo.

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