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EXCELENTÍSSIMO SENHORA JUIZA DE DIREITO DA QUINTA VARA CRIMINAL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA/DF 
Processo nº 2016.01.1.118983-2
Wesley Braga, já qualificado nos autos da ação penal em epígrafe, vem à presença de Vossa Excelência, por intermédio dos advogados dos Núcleo de Prática Jurídica do Centro Universitário do Distrito Federal- NPJ, Unidade de Prática Forense de Brasília/DF, com fulcro no art. 403, § 3º, do Código de Processo Penal- CPP, apresentar 
ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS
pelos fatos e fundamentos que passa a expor:
I – BREVE SÍNTESE DA DEMANDA:
Trata-se de ação penal na qual o eminente representante do Ministério Público denuncia o acusado pela prática do previsto no art. 14, caput, da lei n° 10.826/03. 
Segundo o relato fático contido na peça acusatória, no dia 19 de novembro de 2016, por volta das 21h20min, na via pública da cidade da estrutural, Brasília/DF Nacional, Brasília/DF, o denunciado, portava 06 munições calibre 38, de seu próprio uso, sem autorização e em desacordo com as determinações legais regular. 
Relata ainda a denúncia que o denunciado estava de carona, no veículo GM Vectra, sentado no banco de passageiro. Quando policiais que faziam patrulhamento ostensivo, ao fazer a abordagem, encontraram no interior do veículo as munições que o denunciado havia dispensado.
A denúncia foi protocolada em 27/06/ 2017 (fl. 02).
A denúncia foi recebida em 28/06/2017, conforme fl. 45.
O acusado foi citado à fl. 49.
A defesa apresentou resposta a acusação (fl. 59).
Por fim, ocorreu a audiência de instrução e julgamento (fl. 83), 
 O reú foi interrogado, ocasião em que confessou que as munições era de sua propriedade, e que havia dispensado-as quando os policiais o abordaram, informou ainda, que as munições ele havia encontrado numa Cooperativa de reciclagem, onde trabalhava. 
O Ministério Público apresentou alegação finais (fls. 97-100), pugnando pela condenação do acusado nas penas do art. 14, caput da lei n° 10.826/03.
Passada a audiência de instrução, vieram os autos ao NPJ/ UDF para apresentação da peça cabível.
II– DO DIREITO
A) Da absolvição por atipicidade da conduta
Conforme se pode aferir dos autos, a conduta do acusado não demonstra nenhum perigo social, visto que o simples fato do acusado possuir munição, não significa que o bem jurídico tutelado está sendo ofendido pela conduta do agente.
Nesse sentido, cabe ressaltar o recente entendimento Jurisprudencial do Supremo tribunal Federal que decidiu que a tipicidade material pode ser afastada na posse de munição se, no caso concreto, a conduta não se revela perigosa.
Assim em seu voto, o ministro relator Ricardo Lewandowski reconhece que se trata de conduta formalmente típica, mas que, a seu ver, não se mostra típica em sua dimensão material:
“Não é possível vislumbrar, nas circunstâncias, situação que exponha o corpo social a perigo, uma vez que a única munição apreendida, guardada na residência do acusado e desacompanhada de arma de fogo, por si só, é incapaz de provocar qualquer lesão à incolumidade pública” afirmou, acrescentando que, se não há ofensividade da conduta ao bem jurídico tutelado, não há fato típico e, por conseguinte, crime. (RHC 143.449/MS, j. 26/09/2017).
(grifos)
 Desse modo, a conduta do agente de portar munição não pode ser visto como uma ameaça a sociedade ou uma agressão a incolumidade pública, porque não houve um resultado jurídico na mera conduta do agente.não podem gerar a tipicidade do fato previsto no art. 14 da Lei 10.826/03, porque é inviável para lesionar a objetividade jurídica tutelada pelos dispositivos.
Ademais, o disposto no art. 14 da Lei 10.826/03 não podem ser aplicados, quando a arma não estiver à disposição do agente para funcionar. Assim, a simples posse de munição também não pode ser imputada como crime. Pelo mesmo argumento do porte de arma desmuniciada, tem-se que a simples posse de munição não oferece perigo a incolumidade pública e, em um plano secundário, não oferece potencialidade de lesão à integridade física das pessoas.
Assim, temos que a simples posse de munição não é crime, devido à ausência de tipicidade, advinda da ausência de potencialidade lesiva ou perigo concreto à ordem pública.
Portanto, requer a defesa que seja reconhecida a atipicidade da conduta com base no art. 386, III do Código de Processo penal, com a consequente absolvição do denunciado. 
III- Dosimetria da pena.
Da Circunstância Atenuante pela confissão espontânea- art. 65, III, do CP-
Em que pesem as prerrogativas conferidas a defesa, é certo dizer que, no presente caso houve a confissão espontânea do acusado, portanto, estamos diante de uma atenuante.
 Nesse sentido, dispõe o art. 65, III do CP, sobre as causas de diminuição da pena:
“Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
Inciso III- ter o agente:
 (...)
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime.”
(....)
Com efeito, para a Jurisprudência do STF, a espontaneidade é o requisito fundamental para a concessão da redução, sendo certo também, que a confissão é considerada atenuante preponderante sobre as agravantes, ante a sua importância para a convicção do Juiz. Nesse sentido é o mesmo entendimento do STJ, por meio da Súmula 545: “Quando a confissão for utilizada para formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal”.
Nesse sentido temos:
APELAÇÃO CRIMINAL. DOIS CRIMES DE FURTO. CONCURSO MATERIAL. INCIDÊNCIA DAS ATENUANTES DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA E DA MENORIDADE. REDUÇÃO DA PENA EM APENAS 01 (UM) MÊS PARA CADA ATENUANTE RECONHECIDA. DESPROPORCIONALIDADE. REFORMA PARA APLICAR UM QUANTUM MAIOR DE REDUÇÃO. POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DO SISTEMA TRIFÁSICO NO CÁLCULO DA PENA DE MULTA. POSSIBILIDADE. DAR PROVIMENTO ao recurso. 1. Muito embora o art. 65 do CP não delimite um patamar máximo e mínimo para o quantum de redução a ser empreendido, a aplicação das atenuantes deve ser revestida de razoabilidade, de modo a prestigiar a obtenção de uma pena que efetivamente satisfaça o caráter de repressão especifica e geral da sanção penal. 2. E vista de tal consideração, forçoso reconhecer que a Magistrada acabou por reduzir as penas base em patamares desproporcionais ao número de atenuantes incidentes na espécie, uma vez que, para cada uma delas, operou-se uma redução de apenas 01 (um) mês. 3. A aplicação do critério trifásico no cálculo da pena de multa prestigia o princípio da individualização da pena, conspirando para a obtenção de uma pena mais justa e proporcional, devendo tal prática ser estimulada. 4. Recurso ao qual se dá provimento.
Relativo ao tema, também, já foi objeto de discursão pelo Tribunal da Cidadania (STJ), vejamos:
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS (MACONHA). PRISÃO EM FLAGRANTE E CONFISSÃO PERANTE A AUTORIDADE POLICIAL. RETRATAÇÃO PARCIAL EM JUÍZO. CONDENAÇÃO COM SUPORTE NA REFERIDA CONFISSÃO. NÃO-APLICAÇÃO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. ORDEM CONCEDIDA. Conforme entendimento pacificado no âmbito deste Tribunal, aplica-se a atenuante prevista no art. 65, inc. III, letra "d", do Código Penal, sempre que a confissão extrajudicial servir para dar suporte à condenação, mesmo que haja retratação em Juízo, sendo irrelevante que diante do flagrante não tenha restado outra alternativa para o agente. Ordem concedida para reconhecer devida a aplicação, na hipótese, da atenuante da confissão espontânea. (HC 39347/MS - 5.ª Turma - Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJ de 01.07.2005, p. 576).
(grifos)
Desse modo, ter o agente confessado espontaneamente o crime, é uma circunstância que sempre atenua a pena, assim, não pode ser restritiva, pois trata-se de direito do acusado. 
Portanto, em casa de condenação, a redução faz-se obrigatória, observando-se, obviamente o mínimo e o máximo da pena prevista, dessa forma pugna a defesa pelo mínimo legal.
III – DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto, requer a defesa:
 
Seja reconhecida a absolvição do acusadopor atipicidade da conduta, com base no ar. 386, III, do CPP, bem com, no recente entendimento do STF;
B) Em caso de condenação, a inclusão da atenuante do artigo 65, II do CP;
C) E ainda resistindo Vossa Excelência em acatar as defesas até aqui apresentadas, que seja aplicada a pena no mínimo legal. Tendo em vista a ausência de agravantes, bem como por ser o acusado réu primário.
Nestes Termos.
Pede Deferimento. 
Brasília- DF, 08 de novembro de 2017.
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 Marcelo Vargas da Silva Jamile Campelo Gabriel Nunes
 Estágiario NPJ/UDF OAB/DF nº 18.748
 Matrícula 132810-7

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