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PORTUGUÊS APOSTILA 4

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Curso Auxiliar Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
Leitura: efeitos de sentido I 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
2 
Leitura: efeitos de sentido I 
Efeitos de sentido 
Quando escrevemos, nossas escolhas linguísticas (vocabulário, organização das palavras, pontuação, etc.) têm como 
uma das funções principais: provocar efeitos de sentido no leitor. Um leitor mais proficiente é capaz de perceber um 
conjunto extenso de efeitos de sentido nos mais diversos textos e gêneros. Nos filmes e novelas, por exemplo, 
podemos perceber bem os efeitos de sentido quando pensamos nos “efeitos especiais”. Os textos escritos e orais 
também são capazes de provocar “efeitos” no leitor. 
 
 
O texto que você leu é um poema concreto, ou seja, um texto poético que provoca efeitos estéticos não apenas pela 
escolha lexical, mas também pela organização gráfico-visual. Fábio Sexugi, autor do texto acimai, organizou os versos 
em forma de uma xícara de café, em que vemos emergir a própria fumaça quente. Alguns leitores são até capazes de 
imaginar o cheiro de café, ou seja, o poema explora nossos sentidos. Sexugi trabalha esteticamente com as palavras 
e faz uma pergunta em prosa: “– Existe coisa mais gostosa?”. Note que o ponto de interrogação (?) e o travessão (–) 
não são utilizados apenas para marcar a pergunta em um texto em prosa, mas representam imagens visuais (parte 
da xícara, asa da xícara, etc.). Então, podemos dizer que o texto provoca diversos efeitos de sentido. Vejamos outro 
exemplo semelhante: 
 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
3 
Neste segundo textoii, o poeta Sérgio Caparelli faz um trabalho estético com onomatopéias (Ron..ron..ron..zzzz...zzz) 
que só fazem sentido quando lemos o título do poema concreto “canção para ninar gato com insônia”. O leitor ativa 
seus conhecimentos de mundo sobre “canção de ninar” e sobre “insônia” para perceber os efeitos, além de dialogar 
com a construção visual da imagem de um gato pelas palavras. 
Para você compreender melhor a noção de “efeito de sentido”, exploraremos algo em que tais aspectos são essenciais: 
o humor. Para perceber, apreciar ou expressar o que é cômico ou divertido em um texto, o leitor precisa ser 
“provocado” pelo autor. Para percebermos esse trabalho de construção de efeitos de sentido, leia um trecho de uma 
crônica produzida pelo colunista José Simão, durante os jogos Pan-americanos de 2007 (realizados no Rio de Janeiro): 
Pandemônio! Ouro em funk da cachorra!iii 
(...) E adorei a Jade! Parece a Jade da novela ‘ O clone’. Inshalá. Muito ouro! Já 
tamo com mais ouro que o shopping Center de Dubai! Vamo derreter esse ouro! E se 
tem uma coisa que brasileiro faz todo dia é malabarismo, ginástica artística! E ouro 
em remo. Ótimo! Se o Brasil afundar, a gente sai remando! Rarará! (...) 
Na construção de efeitos de sentido, que procuram causar o riso em alguns leitores (mas não necessariamente em 
todos), José Simão utiliza alguns recursos linguísticos: 
1. José Simão aproxima-se do seu público-leitor, utilizando uma linguagem mais informal, ou seja, o português 
popular falado no Brasil. Como podemos interpretar esta escolha lexical? O que ela nos revela? Por que o 
autor escreveu “tamo” e “vamo” e não “estamos” e “vamos”? Certamente, ao usar esta variedade linguística, 
o texto provoca efeitos de sentido no leitor. 
 (...) E adorei a Jade! Parece a Jade da novela ‘ O clone’. Inshalá. Muito ouro! Já tamo 
com mais ouro que o shopping Center de Dubai! Vamo derreter esse ouro! (...) 
2. Percebeu que ele “brinca” com o duplo sentido que o nome “Jade” pode ter para alguns brasileiros, 
especialmente na época da publicação do texto? O autor faz uma relação entre a ginasta brasileira Jade e 
uma personagem de novela que tem o mesmo nome. Assim, ele explora o humor via ambiguidade lexical. 
3. A ironia é o traço mais marcante do José Simão. No trecho selecionado, é possível perceber que o colunista 
faz uma crítica social através de suas ironias. A afirmação “e se tem uma coisa que brasileiro faz todo dia, é 
malabarismo, ginástica artística” aponta para algo que está implícito nas suas escolhas lexicais. O ponto de 
vista a ser expresso pelo humor do texto nem sempre é explícito. Ele não diz que os brasileiros trabalham, 
em um circo ou nos sinais de trânsito, fazendo exercício de jogos malabares. O enunciado “brasileiro faz todo 
dia malabarismo” ironiza com o fato de que nós (enquanto brasileiros) temos a habilidade para lidar com 
situações difíceis, inseguras, instáveis. A ironia continua ao afirmar que fazemos também “ginástica artística” 
e que “sairemos remando, caso o Brasil afunde”. 
Como afirma Possenti, “se um texto faz rir, vale a pena perguntar-se o que ele tem de especial, de característico, 
tentar compreender as características do “gatilho” que dispara o risoiv.” Ao ler o título de outro texto do José Simão, 
publicado em 2001, podemos compreender que o duplo sentido das palavras nos provoca um efeito de sentido: 
 
Conforme explicação do professor Sírio Possenti (2005, p. 35), o título “brinca” com o termo “VIOLA” que pode apontar 
para um instrumento de cordas, uma vez que já há uma menção ao verbo “tocar” e a outro instrumento musical, 
“trombone”. No entanto, ao conhecer o estilo irônico de José Simão, o leitor percebe que há um duplo sentido na 
palavra “viola”. Viola aqui aponta para uma prática de violação. O duplo sentido provoca um efeito de humor e ironia, 
pois dialoga com a versão de que ACM comandou a violação do painel do Senado. 
José Simão estaria afirmando que ACM toca dois instrumentos? Provavelmente, não. Seu título aponta para algo não 
explicitado, mas que é possível compreender pelas escolhas e jogos de sentido. Desta forma, o leitor precisará ativar 
"O ACM troca trombone e VIOLA". (Folha de S. Paulo, 23/04/2001) 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
4 
seus conhecimentos de mundo (saber quem é ACM, Antônio Carlos Magalhães, por exemplo) e fazer as possíveis 
relações. Possenti (2005) chama nossa atenção para o fato de que o objeto direto do verbo “violar” não está dito no 
título, mas deve ser inferido pelo contexto histórico. O leitor precisa saber o que foi violado para perceber o efeito de 
sentido de “ACM (...) viola X”. 
Durante o ato de compreender, momento em que dialogamos com os textos na tentativa de construção dos sentidos, 
a relação forma e conteúdo torna-se essencial para percebermos os efeitos de sentido. No módulo 4, focalizaremos 
três elementos: 
 
 
 
 
 
A 
pressuposição nos textos 
A pressuposição é outro recurso que trabalha com a nossa memória discursiva. A compreensão de um texto passa, 
então, muitas vezes, pela percepção de informações que não estão dadas explicitamente, mas são pressupostas pelo 
autor. As informações implícitas podem aparecer, por exemplo, na forma de pressupostos. 
 
Ao ler a manchete da capa da revista “A remarcação está de volta”, podemos dizer 
que somente alguns leitores são capazes de efetivamente reconhecer os 
pressupostos. As informações não estão completas, forçando-o a completá-las. 
No exemplo, precisamos, primeiramente, reconhecer que há um problema 
inflacionário que causa a “remarcação” dos produtos. No entanto, a expressão “de 
volta” faz com que ativemos o pressuposto: já houve outras remarcações em 
períodos anteriores. Se fosse a primeira vez na história brasileira, certamente a 
manchete não utilizaria a expressão “de volta”. 
Campos e Assumpção (2007, p. 316) afirmam que os pressupostos: (i) “são idéias 
latentes no texto que podem ser deduzidas dele por encadeamento lógico”; (ii)“funcionam como estratégia para arquitetar o convencimento do leitor”; (iii) “estão 
marcados linguisticamente no texto”. 
 
Retomamos aqui uma questão central no curso sobre leitura: compreender é 
perceber relações entre o que é dito explicitamente com as informações que 
encontram-se implícitas. Os leitores proficientes dominam bem esse jogo, pois são 
capazes de ler “nas entrelinhas”, ou seja, vão além da decodificação. Estudar os 
efeitos de sentido pressupõe relacionar aquilo que é dito com outras informações para compreender, inclusive, o tipo 
de efeito que o texto provoca no leitor. Vejamos a tirinha a seguir: 
1. Pressupostos 
2. Ambiguidade 
3. Implícitos 
 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
5 
 
Para compreender a reprovação do candidato, o leitor precisa ativar os subentendidos, ou seja, informações implícitas. 
Há um pressuposto culturalmente disseminado, na cultura ocidental, de que os “candidatos a namorados” devem ser 
jovens com determinado perfil social (de preferência bem escolarizado e que fale a língua padrão dominante pela 
elite). A fala do personagem Moska, no segundo quadrinho, quebra este pressuposto, provocando um efeito de sentido 
e humor. 
A avaliação da fala do candidato é explicitada no terceiro quadrinho: “reprovado”. Assim como nas piadas, o humor 
da tira em quadrinhos apóia-se na construção de estereótipos negativos (por exemplo, os jovens que falam gíria não 
são bons candidatos a namorados), opondo-se aos estereótipos positivos. Tais informações estão pressupostas nas 
ações e falas dos personagens. Note apenas que o ponto de vista expresso na tirinha nunca é explícito, pois há 
pressupostos que precisam ser compreendidos para que o texto faça sentido. 
No processo de leitura, você deve levar em consideração o fato de que há informações que não são ditas 
explicitamente. Ao se deparar com os textos, procure compreender os significados decorrentes de certas palavras 
ou expressões do texto. Leia agora o título da notícia a seguir, publicada na revista Boa Forma: 
 
No título da notícia, o leitor precisa perceber que o advérbio “só” estabelece uma informação implícita: o uso da 
camisinha é indesejavelmente baixo entre os pesquisados. Ao mesmo tempo, por ser uma revista brasileira, há um 
pressuposto de que o leitor compreenda “pesquisa revela que só 19% dos brasileiros usam camisinha”. Certamente, 
o leitor não perguntaria: 19% dos americanos? Dos japoneses? Dos africanos? É somente levando em conta alguns 
pressupostos que os leitores conseguem produzir determinados sentidos e compreender os textos. Vejamos quatro 
títulos de notícias, coletados de jornais e revistas brasileiros: 
I. O dólar voltou a subir 
II. O dólar reagiu 
III. O BC voltou a anunciar 
IV. O Planalto afia os dentes 
É interessante perceber que, para compreender os títulos, precisamos mobilizar os pressupostos que participam da 
construção do fato noticiado. Perceba que os jornais não escolhem a entidade particular responsável pelas ações, 
mas uma entidade abstrata (o dólar, o Banco Central (BC), o Planalto). Nós sabemos que não é o Banco Central que 
volta a anunciar, mas determinadas pessoas que não mencionadas no título. Atribui-se aos termos o lugar de “agente”, 
mas sabemos que não são eles que agem. 
 
 
Pesquisa revela que só 19% usam camisinha
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Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
6 
 
 
 
 
 
O dólar não é capaz de exercer reação, apesar de o título dizer “o dólar reagiu”. Como leitores, sabemos também que 
não é possível o Planalto afiar os dentes. O leitor deve ser capaz de perceber que há um pressuposto de que os seres 
inanimados (dólar, Planalto, BC) representam seres concretos, os verdadeiros “agentes” que não são mencionados 
nos títulos. Por isto, as autoras nos ensinam que a noção de pressuposição aponta justamente para o fato de o leitor 
levar em consideração dados do contexto e de seus conhecimentos enciclopédicos para completar as informações. 
Pensar no pressuposto significa imaginar que tem algo como “antecedente”. Nos títulos “O dólar voltou a subir” e “O 
BC voltou a anunciar”, há um pressuposto ativado pelo verbo “voltar”. O leitor precisa acreditar em outras informações 
que, apesar de não ditas no enunciado, são essenciais para compreensão do título. Se o dólar voltou a subir, partimos 
do pressuposto que o já dólar subiu antes. Um pressuposto é identificado a partir de uma informação implícita que é 
ativada através de uma palavra ou expressão explícita (como o verbo “voltou” e a expressão “de volta”). Em suma: é 
necessário que exista um termo que nos permita identificar o pressuposto. 
A ambiguidade nos textos 
Certamente, você já ouviu músicas brasileiras e piadas que exploram o duplo sentido, ou seja, a ambiguidade das 
palavras. O autor de um texto utiliza-se da ambiguidade para produzir mais de um sentido em um mesmo enunciado, 
permitindo, assim, várias interpretações. Vejamos duas piadas: 
Piada 1 
O bêbado está no consultório e o médico diz: 
- Eu não atendo bêbado. 
- Quando senhor estiver bom eu volto. - disse o bêbado 
Piada 2 
Em uma festa, o secretário do presidente fila um cigarro. O presidente comenta: 
- Não sabia que você fumava. 
- Eu fumo, mas não trago. 
- Pois devia trazer. 
Nas duas piadas, vemos que a ambiguidade é marcada pelo léxico. Na primeira piada, o enunciado “eu não atendo 
bêbado” pode ser compreendida de duas maneiras: (i) eu não atendo quando estou embriagado; ou, (ii) eu não atendo 
pacientes bêbados. Na primeira acepção, a palavra “bêbado” assume a função de adjetivo, pois apontaria para a 
qualidade física do médico: embriagado, tonto, ébrio. Na segunda versão, a palavra “bêbado” é utilizada como um 
substantivo, ou seja, uma pessoa que bebe muito. O bêbado, atordoado, compreendeu a afirmação do médico na 
primeira acepção, por isso responde “quando estiver bom eu volto”. O humor se apóia justamente na ambiguidade 
lexical, uma vez que o leitor só compreende o texto quando identifica o duplo sentido criado pela palavra “bêbado”. 
O mesmo efeito de sentido pode ser observado na piada 2, uma vez que seu sentido se constrói na relação de 
ambiguidade da palavra “trago”. O enunciado “eu fumo, mas não trago”, pode ser compreendido de duas maneiras: (i) 
eu fumo, mas não inalo a fumaça do tabaco; ou, (ii) eu fumo, mas não trouxe o cigarro. Na primeira versão, a palavra 
“trago” é compreendida como uma flexão do verbo tragar: eu não trago. Na segunda, a flexão seria do verbo trazer, 
no sentido de transportar para o local onde está o falante: eu não trago. A resposta do presidente “pois devia trazer”, 
mostra que ele optou pela segunda versão, causando assim o humor da piada. 
No geral, podemos dizer que vários gêneros trabalham com a ambiguidade com a finalidade de provocar efeitos de 
sentido: letras de música, piadas, histórias em quadrinhos, poemas, crônicas e propagandas, por exemplo. Vejamos 
mais um exemplo: 
“O pressuposto (ou pressuposição) é, portanto, um conhecimento de que 
o falante (ou o autor de um texto escrito) espera que seu interlocutor ou 
leitor disponha e que o capacite a compreender o que é dito (ou escrito) 
em determinado contexto” (Abaurre, Pontara e Fadel, 2000). 
 Curso Preparatório para Concurso de Promoção LC 1080/2008 
Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
7 
 
A propaganda explora, como um recurso argumentativo para persuadir o consumidor, a ambiguidade provocada pelo 
contexto. As frases “alguém pediu bis” ou “quem conhece pede bis”, pronunciadas em uma padaria, poderia significar 
apenas que uma pessoa gostaria de comer algo novamente pelas qualidades do alimento. Neste caso, não haveria 
nenhuma ambiguidade. Na propaganda, diferentemente,o termo “bis” é explorado com duplo sentido: (i) alguém pediu 
outra vez/ quem conhece pede outra vez; (ii) alguém pediu o chocolate “bis”/quem conhece pede o chocolate “bis”. O 
recurso linguístico da ambiguidade foi utilizado no anúncio para causar determinado efeito de sentido no leitor-
consumidor. 
O leitor precisa compreender que, em cada texto, a ambiguidade funciona com objetivos diferentes: ora pode ser para 
causar humor, ora para chamar atenção de alguma palavra, ora para destacar o produto anunciado, etc. Em 2001, 
encontramos uma propaganda da concessionária Volkswagen que dizia “Faça como a seleção. Leve Gol.” A 
ambiguidade aqui tem um tom irônico, pois sabemos que as seleções de futebol não gostam de levar gol. A palavra 
“gol” aponta tanto para o produto anunciado como para o ponto que se marca quando a bola transpõe o gol do 
adversário. Como no contexto histórico, a seleção brasileira estava com problemas para vencer seus adversários, a 
propaganda passa a seguinte mensagem: os leitores deveriam escolher levar Gol (carro), enquanto que a seleção 
pode levar gol. O jogo das palavras só é possível, pois a agência de publicidade explora a polissemia (vários sentidos) 
do vocábulo “gol”. 
Implícitos no texto 
Ao lermos os textos, podemos nos deparar, como já foi dito, com informações que não são ditas, mas podemos 
identificá-las implicitamente pelo contexto. Diferentemente do pressuposto e da ambiguidade que trabalham com 
algum elemento linguístico, perceber os implícitos é procurar algo que está subentendido. Como dizem Abaurre, 
Pontara e Fadel (2000): “implícito é algo que está envolvido naquele contexto, mas não é revelado, é deixado 
subentendido, é apenas sugerido”. 
Em uma propaganda de um carro europeu que circulou no Brasil, encontramos o seguinte enunciado: 
 
Em uma breve análise do enunciado, podemos perceber que o texto da propaganda trabalha com um pressuposto 
sobre o motorista europeu. O pressuposto é que o motorista europeu não pára em faixa de pedestre, não fura o sinal 
fechado e não fecha o cruzamento. Ou seja, é um bom motorista. Ao enumerar tais atitudes, traz também implícitos 
sobre os motoristas brasileiros. O texto da propaganda deixa implícito o fato de que os brasileiros são maus 
Não pare na faixa de pedestres, não fure o sinal fechado, não feche o cruzamento. 
Você está num carro europeu.
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Leitura e Interpretação de Textos 
 
 
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motoristas. Esse jogo entre pressuposição e implicitude tornou-se essencial para compreensão de diversos 
enunciados nos textos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao ler os textos, lembre-se de refletir sobre os efeitos de sentido 
que são provocados pelos jogos com a língua(gem), uma vez que a compreensão destes efeitos é essencial para se 
garantir um bom nível de leitura. A propaganda, a seguir, é um bom exemplo, pois nos faz ativar implícitos para 
compreender o texto: (i) é preciso relacionar a frase “cuide bem do seu pai”, com o mês em que a campanha foi 
veiculada: mês de agosto (dias dos pais); (ii) é necessário relacionar o termo “cópia” com a informação implícita do 
produto “Xerox”. Desta forma, podemos retomar a idéia de que, para compreender os efeitos de sentido, o leitor precisa 
sempre fazer uma análise dos aspectos linguísticos e extralinguisticos dos textos. 
 
 
 
“Em várias ocasiões, aquilo que não é 
dito, mas apenas sugerido, importa 
muito mais do que aquilo que é dito 
abertamente. A incapacidade de 
compreensão de implícitos faz com 
que o leitor fique preso ao sentido 
literal do enunciado, aquele em que 
as palavras valem apenas pelo que 
são, não pelo que sugerem ou podem 
dar a entender” (Abaurre, Pontara e 
Fadel, p.74). 
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9 
Atividades 
Perceba, agora, como tais questões são cobradas em provas que avaliam nossa capacidade-leitora. 
1. (FGV / ICMS-RJ / 2008-2) No Brasil, o debate sobre ética tributária só recentemente ganhou vulto em decorrência 
do aumento da carga tributária, da expansão da “indústria de liminares”, do visível aperfeiçoamento da 
administração fiscal, da estabilidade econômica e da crescente inserção do país na economia globalizada. Na 
maioria dos países desenvolvidos, com cultura tributária mais amadurecida, esse debate é mais limitado, porque 
praticamente restrito a discussões sobre a pressão fiscal nociva (harmful tax competition). Com base na análise 
do trecho acima, não é correto afirmar que: 
a) fica subentendido que o debate sobre ética tributária no Brasil anteriormente era de pouca expressividade. 
b) a noção de "países desenvolvidos" é pressuposto para a leitura do texto. 
c) está implícito que o Brasil cada vez mais se insere na economia globalizada. 
d) se pode inferir que, nos países ainda não desenvolvidos, a cultura tributária ainda não amadureceu. 
e) se pode inferir, também por paralelismo no parágrafo, que o Brasil não está entre os países desenvolvidos. 
 
2. (FCC – 2009- Concurso público). 
Entre ações e acionistas 
Nosso velho Machado de Assis não cansa de nos passar lições sobre a atualidade - ele, que morreu há mais de cem 
anos. Há mesmo quem diga que o velhinho está escrevendo cada vez melhor... Essa força vem, certamente, da 
atualização, sempre possível e vantajosa, dos escritos machadianos. Melancolicamente, isso também significa que a 
história da humanidade não avançou tanto, pelo menos não a ponto de desmentir conclusões a que Machado chegou 
em seu tempo. 
Num de seus contos, lembra-nos o escritor que os homens, sobretudo os de negócios, costumam reunir-se em 
associações empresariais, mas cada um dos acionistas não cuida senão de seus dividendos... A observação é ferina, 
pelo alcance que lhe podemos dar: é o egoísmo humano, afinal de contas, que está na origem de todas as nossas 
iniciativas de agrupamento e colaboração. É o motor do interesse pessoal que nos põe em marcha na direção de um 
objetivo supostamente coletivo. 
Haverá muito exagero, talvez, nessa consideração machadiana - mas ela não deixa de ser instigante, obrigando-nos 
a avaliar os reais motivos pelos quais tantas vezes promovemos agrupamentos e colaborações. É como se Machado 
desconfiasse da pureza ética do nosso suposto desprendimento e preferisse vasculhar em nosso íntimo a razão 
verdadeira de cada ato. 
Com a referência às ações e aos acionistas, o escritor pôs a nu o sentido mesmo do capitalismo, esse sistema 
econômico ao qual todos aderem para garantir sua parte. A crise que se abateu recentemente sobre os Estados 
Unidos, com repercussão mundial, provou que, quando todos só querem 
ganhar, todos podem perder, e o decantado associacionismo acaba revelando seu rosto mais cruel. Talvez seja melhor 
torcermos para que Machado nem sempre tenha razão. 
(Júlio Ribamar de Castilho, inédito) 
Atente para as seguintes afirmações: 
I. O egoísmo humano, segundo nos lembra um dos contos machadianos, exemplifica-se bem nas iniciativas em que 
é a maior rentabilidade individual o motivo mesmo da criação de associações. 
II. O fato de serem excessivamente pessimistas as considerações machadianas sobre os interesses humanos acaba 
resultando em que suas lições despertam interesse diminuído a cada dia. 
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10 
III. Se as convicções de Machado se mostrarem cada vez mais acertadas, servirão de argumento para quem deseje 
sustentar o desprendimento pressuposto ao sistema capitalista. 
 
Em relação ao texto, está correto SOMENTE o que se afirma em: 
a) I e II. 
b) I e III. 
c) II e III. 
d) II. 
e) I. 
 
3. (ITA-SP/ 2003) 
As angústias dos brasileiros em relaçãoao português são de duas ordens. Para uma parte da população, a 
que não teve acesso a uma boa escola, e mesmo assim, conseguiu galgar posições, o problema é sobretudo com a 
gramática. 
É esse público que consome avidamente os fascículos e livros do professor Pasquale, em que as regras 
básicas do idioma são apresentadas de forma clara e bem-humorada. Para o segmento que teve oportunidade de 
estudar em bons colégios, a principal dificuldade é com a clareza. 
 É para satisfazer a essa demanda que um novo tipo de profissional surgiu: o professor de português 
especializado em adestrar funcionários de empresas. Antigamente, os cursos dados no escritório eram de gramática 
básica e se destinavam principalmente a secretárias. De uns tempos para cá, eles passaram a atender 
primordialmente gente de nível superior. Em geral, os professores que atuam em firmas são acadêmicos que fazem 
esse tipo de trabalho esporadicamente para ganhar um dinheiro extra. 
 “É fascinante, porque deixamos de viver a teoria para enfrentar a língua do mundo real”, diz Antônio Suarez 
Abreu, livre-docente pela Universidade de São Paulo. 
LIMA, João Gabriel. Falar e escrever, eis a questão. Veja, 2001, n.1725. 
 
Aponte a alternativa que contem uma inferência que não pode ser feita com base nas idéias explicitadas no texto: 
a) Frequentemente, uma boa escola é uma espécie de passaporte para a ascensão. 
b) O conjunto que abrange “gente de nível superior” não contém o subconjunto “secretárias”. 
c) No âmbito da Universidade, os estudos da língua estão prioritariamente voltados para a prática linguística. 
d) A escola de qualidade inferior não favorece o aprendizado da gramática. 
e) O conhecimento gramatical não garante que as pessoas se expressem com clareza. 
 
 
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4. Prova - Brasil (2009). Na tirinha, há traço de humor em: 
 
 
(A) “Que olhar é esse, Dalila?” 
(B) “Olhar de tristeza, mágoa, desilusão...” 
(C) “Olhar de apatia, tédio, solidão...” 
(D) “Sorte! Pensei que fosse conjuntivite!” 
(E) “Sorte!” 
 
5. As Amazônias 
 
Esse tapete de florestas com rios azuis que os astronautas viram é a Amazônia. Ela cobre mais da metade do território 
brasileiro. Quem viaja pela região não cansa de admirar as belezas da maior floresta tropical do 
mundo. No início era assim: água e céu. É mata que não tem mais fim. Mata contínua, com árvores muito altas, cortada 
pelo Amazonas, o maior rio do planeta. São mais de mil rios desaguando no Amazonas. É água que não acaba mais. 
 
SALDANHA, P. As Amazônias. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995 
 
No texto, o uso da expressão “água que não acaba mais” (l. 7) revela 
(A) admiração pelo tamanho do rio. 
(B) ambição pela riqueza da região. 
(C) medo da violência das águas. 
(D) surpresa pela localização do rio. 
(E) comparação com a quantidade de chuva da região. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Referências utilizadas para elaboração do módulo 
ABAURRE, M. PONTARA, M. FADEL, T. Português: língua e Literatura. Volume único. Editora Moderna, 2000. 
CAMPOS, Maria Inês; ASSUMPÇÃO, Nivia. Tantas linguagens. Ensino Médio. Volume 1. Editora Scipione, 2007. 
POSSENTI, Sírio. Um passeio gramatical dirigido. São Paulo: Escolas Associadas, 2005. 
 
i Texto disponível em: http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://pluralinguagem.autonomia.g12.br/wp-
content/uploads/2009/07/x%C3%ADcara-fabio-alexandre-
sexugi.jpg&imgrefurl=http://pluralinguagem.autonomia.g12.br/%3Fp%3D100&usg=__qFZHipS3m9zylaT5HWr8y45
w1EA=&h=402&w=313&sz=25 
ii Texto disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=10460 
iii O texto completo encontra-se disponível em http://opovo.uol.com.br/opovo/colunas/josesimao/713339.html 
iv POSSENTI, Sírio. Os humores da língua: agenda estudantil. Mercado de Letras, 2002. 
 
Confira o gabarito das questões: 
1. C 
2. E 
3. C 
4. D 
5. A

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