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TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO Introdução O traumatismo cranioencefálico (TCE) é defi ni- do como um evento traumático caracterizado pela aplicação de uma energia mecânica ou cinética no nível do crânio, seguido de uma alteração, mesmo que mínima ou transitória, do estado neurológico. O traumatismo craniano é classifi cado em aber- to, na presença de uma solução de continuidade com a dura-máter. O traumatismo craniano de- termina lesão primária verifi cada imediatamente após o trauma, e lesão secundária, conseqüente à hipoxia ou à hipotensão. As lesões primárias são conseqüentes, exclusivamente, da energia aplica- da no momento do trauma e não são modifi cáveis. As lesões secundárias podem ser em grande parte oriundas do inadequado atendimento inicial. No momento da avaliação primária, no passo D, o paciente vítima de TCE é classifi cado de acordo com a Escala de Coma de Glasgow (ECG): a) Traumatismo cranioencefálico leve: ECG 15-14 b) Traumatismo cranioencefálico moderado: ECG 13-9 c) Traumatismo cranioencefálico grave: ECG < 9 O traumatismo craniano com ECG 15 ou 14, mas com défi cit neurológico focal, e/ou trauma aberto, e/ou crise comicial pós-traumática não é conside- rado TCE leve e é conduzido como TCE moderado. A atribuição da ECG pode ser fonte de incertezas e de erro de classifi cação em caso de sedação e/ ou intoxicação alcoólica ou por outras drogas. A ECG que categoriza a gravidade do traumatismo craniano deve, de fato, ser calculada na ausência de efeitos de fármacos sedativos (janela farmacológica de tempo sufi ciente para a eliminação do fármaco) e uma vez excluído o efeito de álcool ou drogas. De tal maneira, para atribuir a ECG defi nitiva dos pa- cientes sedados no pré-hospitalar é oportuno obter 33 Traumatismo cranioencefálico e facial a informação do valor mensurado antes da seda- ção, na cena do acidente. Nos pacientes intubados se atribui 1 para resposta verbal, acrescentando-se a ECG a letra “t” como indicativo, visto que, nestes casos, a tendência é de superestimar a gravidade do trauma. Sendo assim, a resposta motora tem valor prognóstico mais confi ável.1 A avaliação diagnóstica complementar é feita com a tomografi a (TC) de crânio. Não existe mais indicação para a radiografi a de crânio após o ad- vento da TC, exceto para alguns exames específi cos da estrutura óssea da face. A TC é realizada inicial- mente sem contraste venoso, com janela para osso e para parênquima. Nos casos de tomografi a de corpo inteiro, o crânio é estudado primeiro, antes da administração de contraste venoso. Na suspeita de lesões de face, a TC de crânio é completada com os cortes compreendendo a base do osso nasal e estendendo-se até o limite inferior da mandíbula. A TC de crânio é classifi cada segundo a classifi ca- ção Marshall e modifi cada pelo European Brain Injury Consortium2,3 (Tabela 1). A interconsulta com um neurocirurgião é reali- zada pelo líder da equipe após a avaliação primá- ria, com base nos dados clínicos e complementa- res. Em caso de deterioração neurológica (perda de dois pontos na ECG, ou de um ponto da resposta motora) ou na presença de sinais de lateralização (anisocoria, hemiparesia) já informados pela cen- tral de operações, o líder da equipe pode requerer a ativação de um neurocirurgião no momento da chamada realizada pela central de operações. Na ausência de um serviço de neurocirurgia, no âm- bito do sistema integrado, é oportuno ativar os protocolos de interconsultas com os centros de re- ferência. Há ainda a possibilidade de interconsulta virtual por meio do envio das imagens e de vídeo conferência (tele-consulta).4 34 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 Percurso intra-hospitalar Como indicado nos capítulos precedentes, no traumatizado é sempre necessário assegurar prioritariamente a ventilação, a oxigenação e a perfusão dos órgãos. Tais medidas são impor- tantes no caso de TCE para impedir que ocorra lesão cerebral secundária. Uma lesão cerebral pode manifestar-se com quadro clínico exube- rante necessitando de diagnóstico específi co e requerendo tratamento imediato. Em geral, na presença de instabilidade cardiorrespirató- ria é necessário fazer todos os procedimentos, inclusive cirúrgicos, para tratar a causa de ins- tabilidade. Ao término da estabilização, ou nos pacien- tes hemodinamicamente estáveis, e imedia- tamente após os exames de primeiro nível na sala de emergência, se há evidência de trauma- tismo craniano, o paciente deverá fazer a TC de crânio imediatamente (Algoritmo 1). Nos hospitais sem neurocirurgia, o centro de refe- rência disponibilizará depois da tele-consulta a vaga mediante transferência, assim que a con- dição cardiorrespiratória permitir. Na presença de piora dos sinais de lateralização durante o transporte, justifi ca-se o tratamento clínico, com a administração de manitol (0,25-1,4 g/ kg), a elevação do tronco, a hiperventilação moderada (PaCO2 32-34 mmHg) objetivando a redução da hipertensão intracraniana duran- te a troca da sede hospitalar para o tratamento defi nitivo. Em alguns casos, na disponibilidade de es- trutura hospitalar com a equipe de trauma e neurocirurgia, particularmente organizada e com logística favorável (TC contígua à sala de reanimação, disponibilidade de suporte avan- çado de vida na sala do tomógrafo); é possível que se faça a TC mesmo no paciente com ins- tabilidade hemodinâmica ou resposta transitó- ria a infusão de volume/aminas, antes de cor- rigir a hemorragia cirurgicamente (Algoritmo 2). Nessa situação, a intervenção cirúrgica para estancar uma hemorragia (p. ex., abdominal), pode ser feita simultaneamente com o neuro- cirurgião. Por exemplo, a colocação de um ca- teter para monitorar a pressão intracraniana (PIC) ou mesmo fazer uma craniotomia, se o diagnóstico da lesão cerebral for conhecido. A seguir, são examinados os problemas ine- rentes ao atendimento de um paciente com TCE moderado ou grave associado a outros traumas. O TCE leve será discutido no Capítulo 13 assim como o seu período de observação. Traumatismo craniano moderado O traumatismo craniano moderado compreen- de os pacientes com ECG calculada ao término da avaliação primária entre 13 e 9, ou mesmo entre 15 e 14, com sinais clínicos neurológicos ou solução de continuidade com a dura-máter. Esta categoria representa um grupo heterogê- neo de pacientes, alguns dos quais, apresen- tam uma evolução clínica similar àquelas dos Tabela 1 Classifi cação tomográfi ca segundo Marshal, modifi cada pelo European Brain Injury Consortium Classe Defi nição I Lesão difusa Nenhuma patologia intracraniana visualizada à TC II Lesão difusa Cisterna visível com desvio < 5 mm e/ou lesão de alta à média densidade < 25 mL (distinguir a. lesão única; b. duas ou mais lesões unilaterais; c. lesão bilateral). Podem incluir fragmentos de osso e corpo estranho III Lesão difusa + edema Edema cerebral com cisternas comprimidas ou colapsadas, desvio < 5 mm, eventual lesão de alta ou média densidade < 25 mL IV Lesão difusa + desvio Desvio da via mediana > 5 mm, eventual lesão de alta a média densidade. Densidade < 25 mL V Lesão com efeito massa evacuada Lesão de alta a média densidade, que requerem evacuação cirúrgica diferenciada em: a. hematoma extradural; b. hematoma subdural; c. hematoma intraparenquimatoso; d. lesões múltiplas VI Com efeito de massa não evacuada* Lesão de alta a média densidade > 25 mL não evacuada diferenciada: a. hematoma extradural; b. hematoma subdural; c. hematoma intraparenquimatoso; d. lesões múltiplas * Alguns adicionam uma classe complementar representada pela presença de hemorragia subaracnóidea. 35 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 Prosseguir observação neurológica,eventuais exames de nível primário e tratamento Algoritimo 1 Percurso do trauma grave com traumatismo craniano *Eventuais tratamentos ponte (manitol, modesta hiperventilação, elevação do tronco) em caso de progressiva deterioração neurológica ou sinais de lateralização, agravantes e necessidade de transferência. nãosim sim não Tratamento das lesões cranioencefálicas Hemodinamicamente estável Avaliação primária, secundária, pedidos de exames do primeiro nível na sala de reanimação Necessidade de craniotomia Transferência se não disponível neurocirurgia* Tratamento das lesões causadoras de instabilidade TC encéfalo traumatismos cranianos leves, ou então, evo- luem como traumatismo craniano grave. Isola- damente, a presença de ECG < 11 é indicativa de um elevado risco de progressão para uma condição grave.5 O percurso prevê (Algoritmo 3) depois da TC, a interconsulta neurocirúrgica e um suces- sivo monitoramento clínico (com janela a cada 8 horas nas primeiras 72 horas se o paciente está sedado). A realização de nova TC é indica- da nas seguintes situações: 1. dentro de 24 horas se a TC inicial for nega- tiva; 2. dentro de 6 horas se a TC inicial for positiva para lesão em evolução (hematoma de alta a média densidade); 3. dentro de 12 horas se o paciente apresentar hipotensão, ou fratura craniana, ou altera- ção de coagulação; 4. sempre nos casos de deterioração (perda de dois pontos na ECG ou um ponto na resposta motora, piora neurológica ou ani- socoria). No caso de TC anormal nos pacientes que devem ser sedados, em especial naqueles com lesões de potencial interesse cirúrgico, muitos neurocirurgiões preferem monitorar a PIC e a taxa de extração de O2 (TEO2) por meio de um cateter para monitorar a PIC e outro no bulbo jugular assim como é feito no traumatismo cra- niano grave.6 Traumatismo craniano grave São classifi cados como traumatismo crania- no grave todos os pacientes que ao término da avaliação primária estão em coma, ou seja, ECG inferior a nove. Nos traumas graves com traumatismo craniano grave é indispensável 36 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 reduzir ao mínimo a possibilidade de dano secundário, garantindo oxigenação e perfusão adequadas (Algoritmo 4). A pressão sistólica deve ser mantida acima de 110 mmHg e a he- moglobina superior a 9 g/dL, com a saturação de oxigênio de pelo menos 95%. Os procedimentos na sala de reanimação, avaliação primária, os exames de nível primá- rio e a avaliação secundária devem ser realiza- dos rapidamente. Em caso de necessidade de intervenção para estabilização cardiorrespira- tória, devem ser priorizados os procedimentos para estancar a hemorragia, e a seguir, tratar a contaminação (damage control). O mais breve possível se deve obter uma TC de crânio e o neurocirurgião deve avaliar a necessidade de uma intervenção imediata ou mesmo decidir pelo monitoramento invasivo. Se a cranioto- mia não é indicada, a TC será repetida segundo os critérios já expostos no traumatismo crania- no moderado. Nos pacientes em coma com lesão hemorrágica intracraniana que requerem reanimação volêmica signifi cativa, a TC deve sempre ser repetida depois da estabilização. De fato, a recuperação dos valores pressóricos associada à diluição dos fatores de coagulação determina a evolução de hematomas inicial- mente sem signifi cado clínico ou inexistentes. Algoritmo 2 Percurso do trauma grave com traumatismo craniano e instabilidade hemodinâmica no âmbito logístico/organizativo favorável PIC, pressão intracraniana. sim não Traumatismo craniano com instabilidade e resposta transitória à amina e infusão de volume Lesão de potencial evolução TC craniana Prosseguir observação Tratamento da causa de instabilidade hemodinâmica 1. Tratamento da causa de instabilidade 2. Posicionamento do cateter para medir PIC Se hipertensão, tratamento neurocirúrgico combinado ou em seqüência 37 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 ECG < 9 traumatismo craniano grave ECG 15-14 traumatismo craniano leve Algoritmo 3 Traumatismo craniano moderado sim não não não não sim sim sim sim não Traumatismo craniano evidente ou presumível ECG 13-9 ECG 15-14 com sinais neurológicos Alta se resolução dos sintomas Seguir observação Protocolo traumatismo craniano grave TC negativa para lesão em evolução, sem hipotensão, sem coagulopatia, sem fratura craniana Estacionário ou melhora Paciente em piora Negativa Observação Repetir TC Repetir TC dentro 24 h Repetir TC em qualquer momento Observação clínica Freqüente reavaliação (janela farmacológica a cada 8 h se paciente intubado) Dentro de 6 h se lesão evolutiva Dentro de 12 h se coagulopatia, fratura craniana, hipotensão Fazer TC Avaliação neurológica Protocolo traumatismo craniano grave Nos casos de impossibilidade de monitora- mento clínico (são sempre pacientes em coma e ventilação mecânica) é indicado, em TC alte- rada ou em caso de lesões em evolução, o mo- nitoramento da PIC e da TEO2 podendo guiar o tratamento médico e cirúrgico para manter a pressão de perfusão cerebral (PPC) e a oxige- nação cerebral.6 38 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 A PPC é dada pela diferença entre a pres- são arterial média e a PIC. Ela deve ser man- tida acima de 60 mmHg e a TEO2 deverá ser mantida entre 55% e 75%. Estes valores são os desejados para reduzir a PIC e prevenir a her- niação que pode ocorrer com valores superio- res a 20 mmHg. O tratamento medicamentoso para reduzir a PIC é a elevação do tronco, a se- dação (pentobarbital), a paralisia muscular, os diuréticos osmóticos, a drenagem de líquor, hi- perventilação modesta (PaCO2 32-34 mmHg); o tratamento cirúrgico para reduzir a PIC con- siste na evacuação do hematoma associada a descompressão craniana7 (Algoritmo 5). TRAUMA MAXILOFACIAL A avaliação primária do paciente com trauma maxilofacial (TMF) é feita segundo o esquema ABCDE. A perviedade da via aérea deve ser avaliada rapidamente e, em caso de obstrução imediata ou de probabilidade, deve-se provi- denciar a intubação orotraqueal. A intubação por via nasotraqueal no paciente com potencial TMF é contra-indicada. A presença de lesão da Algoritmo 4 Traumatismo craniano grave sim não não sim Repetir TC depois de 6 h se a lesão está em evolução, ou então, depois de 12 h TC negativa para lesão em evolução, sem coagulopatia, sem hipotensão Abordagem prioritária ABC Observação clínica em ambiente apropriado ECG e sinais de lateralização a cada hora (janela farmacológica a cada 8 h) TC encéfalo e avaliação neurocirúrgica Observação clínica em ambiente adequado. Controle ECG e sinais de lateralização a cada hora (se o paciente estiver sedado janela farmacológica a cada 8 h) Repetir TC depois 24 h Repetir TC a qualquer momento Considerar a necessidade de intervenção se lesão expansiva com efeito de massa Se paciente sedado e TC positiva para lesão, considerar monitoramento PIC, PPC e TEO2 Paciente piora ECG 8-3 39 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 Algoritmo 5 Tratamento de traumatismo craniano grave com aumento de PIC De Reilliy PL7, modifi cado. sim não Lesão tratável cirurgicamente Intubação (PaCO2 35-40 mmHg), sedação, analgesia, eventual paralisia ECG < 9 PIC > 20 mmHg por mais de 10 min PPC < 60 mmHg por mais de 10 min Garantir PPC > 60 mmHg (manter euvolemia, normocarbia, eventuais inotrópicos) Retirar líquor se cateter intraventricular Medir TEO2 Sedação Se taxa de extração> 75%, considerar beta-bloqueador Confi rmar hiperemia com Doppler TC cerebral hiperventilação PaCO2 32-34 mmHg Sem necessidade de outras manobras Manitol 20% (0,5 g/kg) Elevar tronco 30° Prosseguir com monitoramento Intervenção neurocirúrgica Manter PPC > 60 mmHg Coma farmacológico (90% burst suppression) PIC persistentemente elevada TEO2 < 55% TEO2 55%-75% Efi caz Efi caz não não não não não sim sim sim sim sim 40 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 face não deve retardar o reconhecimento e o tratamento das lesões em outros sítios que re- querem correção de emergência. Na avaliação secundária faz-se o exame completo de crânio, olhos, orelhas, nariz, cavi- dade oral, mediante: � palpação do escalpo e do crânio; � avaliação de integridade dos nervos crania- nos; � avaliação otológica (orelhas, pavilhão auditi- vo externo, exame otoscópico); � avaliação oftalmológica (simetria, reativida- de pupilar, acuidade visual, movimentos ocu- lares). Em geral, os sinais de potencial lesão maxi- lofacial são8 (Tabela 2): � terço superior da face e crânio: cefaléia, parestesia em região frontal, perda de consciên- cia, sensação de obstrução nasal; � terço médio da face: alteração visual, diplo- pia, trismo, má oclusão, parestesia paranasal e infra-orbitária, obstrução da via aérea; � terço inferior da face: má oclusão, dor mandibular e pré-auricular, parestesia do lábio inferior, sensação de obstrução auricular ou trismo. Diagnóstico Na suspeita de TMF, o exame complementar de escolha é a TC sem contraste, com reconstru- ção coronal sagital e tridimensional.9 Os cortes tomográfi cos devem ter a espessura de 3 mm. Especialmente nos cortes coronais do terço médio da face, onde há a necessidade de ava- liação acurada da região naso-órbito-etmoidal (NOE), e das paredes e assoalho da órbita. Nos casos de trauma da órbita, a tomografi a per- mite a avaliação das partes moles, alteração do volume do globo ocular, as lesões da muscu- latura extrínseca do olho, a eventual presença de hematoma retrobulbar. Nos casos de fratura da mandíbula, a TC identifi ca eventuais linhas de fratura, permite uma projeção oclusal indis- pensável para a avaliação dos côndilos e para o reconhecimento da posição e da dimensão de eventuais fragmentos ósseos referentes à articulação têmporo-mandibular. Este exame é particularmente importante no paciente pedi- átrico, no qual o processo de ossifi cação é in- completo (Algoritmo 6). A radiografi a standard é reservada, quando possível (paciente acordado e cooperativo), para o diagnóstico das lesões isoladas dento- alveolares. Tratamento de urgência Trauma dento-alveolar Na presença de trau- ma dento-alveolar deve-se efetuar:10 � a contagem da dentição (32 elementos no adulto, 20 no paciente pediátrico) e o reco- nhecimento de eventuais avulsões na sede do trauma; � a avaliação da oclusão. Eventuais discrepân- cias da arcada dentária como laceração mucosa da margem fi xa da gengiva são sugestivas de fratura maxilar ou mandibular; � a avaliação dos elementos dentários danifi - cados ou deslocados. Os parâmetros a serem considerados para o tratamento da fratura dento-alveolar são: idade, tipo da dentição (decídua, permanente), condi- ção pré-trauma, tempo transcorrido do evento. Em geral, lesões isoladas da coroa do dente re- Tabela 2 Sinais patognomônicos de trauma maxilo-facial Geral Edema facial Otorrinoliquorréia Deformidade nasal Laceração tipo escalpe, frontal, ou supra-orbitária Específi co – osso frontal – margem orbitária superior Depressão óssea, crepitação Ptose palpebral superior, sobressalto ósseo Órbita Enoftalmia, proptose, quemose, oftalmoplegia, cegueira, lesão do globo, alteração dos movimentos oculares Naso-órbito-etmoidal Telecanto, deformidade nasal, enoftalmo 41 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 querem avaliação especializada urgente, prin- cipalmente se a polpa está exposta ou se há aumento da sensibilidade do dente. Os dentes subluxados ou deslocados devem ser reduzi- dos ou estabilizados, os elementos deciduais avulsionados não devem ser reimplantados, enquanto os permanentes devem ser recoloca- dos no alvéolo o mais precocemente possível. Algoritmo 6 Trauma maxilofacial (TMF) não sim não não não sim sim Proteção raquimedular (colar) Parar Avaliação neurológica se fratura da órbita Via aérea obstruída ou com risco Consulta maxilofacial Avaliação neurocirúrgica se fratura do seio frontal Mecanismo de trauma sugestivo Evidência de TMF (equimose, irregularidade óssea, má oclusão, rinolicorréia) Intubação orotraqueal Tamponamento e angiografi a TC da face compreendendo a mandíbula Reconstrução coronal Corrigir as causas de instabilidade hemodinâmica em outros sítios Instabilidade hemodinâmica por lesões associadas Epistaxe Hemorragia da cavidade oral ou das partes moles Positiva para fratura sim 42 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 Se naquele momento não for possível fazer o reimplante, o elemento avulsionado deve ser acondicionado depois de ser lavado com solu- ção fi siológica, em uma gaze úmida. A demo- ra de 2 horas ou o ressecamento da raiz pode comprometer a vitalidade do dente. Fratura de mandíbula Constitui cerca de dois terços dos TMF e é conseqüente, geralmente, a trauma contuso. A sede mais freqüentemente acometida é a região condilar (29%), seguidas pelo ângulo (24,5%) e a sínfi se (22%).11 Pode favorecer obstrução de via aérea, por queda pos- terior da língua, sobretudo se a linha de fratura acometer bilateralmente a parassínfi se ou o corpo. Portanto, na presença de excessiva mo- bilidade do corpo mandibular ou linha de fra- tura bilateral se considera a proteção precoce da via aérea. Raramente após trauma fechado coexiste urgência hemorrágica. Em tais casos, a redução e a estabilização imediata representa a melhor manobra para o controle do sangra- mento. A estabilização pode ser obtida com a bandagem (de Barton) ou aplicação de fi o de aço (24-26 G) em torno do colo de dois ele- mentos dentários dispostos ao lado da linha de fratura. Sinais patognomônicos de fratura de man- díbula são: equimose da base da língua; dor pré-auricular; parestesia do mento e do lábio inferior. Se a fratura acomete a linha alveolar é indi- cada a profi laxia antibiótica com cefalosporina de terceira geração ou quinolonas. Fraturas do terço médio da face Interessa ao complexo órbito-zigomático-maxilar e são determinados prevalentemente por trauma fechado após acidente motociclístico. Os ele- mentos sugestivos são: lesão de partes moles; dor e equimose; má oclusão; parestesia no território do nervo infra-orbitá- rio (bochecha, nariz, lábio superior); epistaxe, rinoliquorréia. Em todos os pacientes com trauma do terço mé- dio da face deve ser efetuada a avaliação oftalmo- lógica com exame completo dos olhos inclusive o fundo de olho.12 A presença de hematoma retro- bulbar representa uma emergência cirúrgica. As fraturas complexas dos ossos nasais, além de obstrução das vias aéreas, podem causar hemorragia copiosa, podendo requerer tam- ponamento posterior a efetivar-se mediante cautelosa introdução de cateter com balonete infl ável. Os sangramentos relacionados com a lesão de ramos da artéria carótida externa po- dem requerer intervenção cirúrgica para liga- dura do vaso ou procedimentos via radiologia intervencionista. Na presença de fratura exposta do osso nasal, a avaliação especializada pode ser postergada por 48 horas, visto que deve-se aguardar a re- gressão do edema para a redução dos fragmen-tos ósseos. São indicados o uso de desconges- tionante ou esteróide (dexametasona 4-8 mg a cada 6 horas ou metilpredinisolona 125 mg EV a cada 6 horas por 24-48 horas) com a fi nalida- de de prevenir ou atenuar o edema de partes moles. A correção cirúrgica das fraturas que re- querem fi xação com placa e fi xadores deve ser efetuada dentro de 7-10 dias do trauma. Fratura de LeFort Envolve o complexo maxilo- dentoalveolar e é classifi cada em diversos graus (I, II e III) em função das linhas de fratura.13 � LeFort I: linha de fratura envolvendo as três paredes do seio maxilar e o processo pterigói- de, reconhecida pela mobilidade da arcada dentária superior; � LeFort II: linhas de fraturas oblíquas acome- tendo o nariz e estendendo-se pelas paredes mediais e a margem interna da órbita, reco- nhecível pela mobilidade de posição central da face; � LeFort III: completa desarticulação da pirâ- mide facial do crânio, através dos zigomáticos, reconhecível pelo desabamento da face e mo- bilidade em relação ao crânio. Sobretudo nos casos de fratura LeFort III, nos quais se realiza uma disjunção craniofacial, a prioridade absoluta é a proteção da via aérea. A cavidade oral deve ser liberada do sangue e dos corpos estranhos (dentes avulsiona- dos, fragmentos ósseos), mediante aspiração, efetuada preferivelmente com cânula rígida. A imobilização cervical deve ser mantida du- rante a intubação orotraqueal. O controle do sangramento das lacerações de cavidade oral se dá pela sutura da lesão ou tamponamento da cavidade com gaze, uma vez protegida a via aérea. 43 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 Fratura do complexo maxilozigomático É determinado pelo trauma direto que acomete a estrutura de sustentação do zigoma (sutura fronto-zigomática, parede medial e inferior da órbita, sutura zigomático-malar e zigomático- temporal). Os sinais sugestivos são: depressão da saliência do zigoma, distopia (assimetria na altura pupilar), enoftalmia, hemorragia subconjuntival no canto lateral, ptose do canto lateral, difi culdade de abertura da boca por intrusão de fragmento ósseo no processo coronóide da mandíbula. Fratura do arco zigomático Em geral são devi- das a trauma contuso direto do zigoma. Apre- sentam um característico perfi l de “W”, visível na TC. Os achados clínicos sugestivos são: dor na sede do trauma, dor na abertura da boca por tração do mús- culo masseter. A abertura da boca pode ser limitada devido ao envolvimento do processo coronóide da mandíbula. Fratura da órbita tipo explosão (blow out) São caracterizadas por fratura do assoalho e da parede medial da órbita, em conseqüência a trauma direto.14 A enoftalmia associada a distopia é um sinal sugestivo de aumento do volume da cavidade orbitária e do prolapso da gordura periorbitário na linha de fratura. Em caso de diplopia e redução da movimentação ocular, deve-se suspeitar de acometimento dos músculos extrínsecos do olho. É necessária a avaliação oftalmológica. A indicação cirúrgica é representada pelo dano estético e funcional e com um envolvimento relativo de 25%-50% da superfície orbitária na linha de fratura. Fratura do osso nasal O diagnóstico é preva- lentemente clínico na presença de deformida- de da pirâmide, crepitação e desvio nasal. Pode estar presente epistaxe. A avaliação completa prevê a exploração da cavidade nasal e a pes- quisa de eventuais hematomas de septo que se presente devem ser evacuados para evitar de- formidade nasal. A eventual redução da fratura exposta em geral é realizada após 48-72 horas após redução do edema. O paciente acordado e colaborativo deve ser informado para não assoar o nariz, visto que em casos de fratura etmoidal pode favorecer o pneumoencéfalo. Fratura naso-órbito-etmoidal O diagnósti- co é clinicamente realizado palpando o dorso nasal e os tendões do canto medial. Os sinais patognomônicos são: telecanto (aumento da distância entre os can- tos mediais), epífora (lacrimejamento conseqüente do en- volvimento do ducto lacrimal). A estabilização da fratura com placa ou fi xa- dores deve ser efetuada dentro de 7-10 dias. É necessária a pesquisa de hematoma retro- bulbar, de lesão do globo ocular e de eventual rinoliquorréia. Fratura do seio frontal Os sinais sugestivos são: equimose; dor; edema e lesão das partes moles frontal; parestesia ou anestesia frontal ou do escalpo. O encontro de liquorréia é freqüente em caso de envolvimento da parede posterior. Em tais casos deve ser excluída a contusão cerebral freqüentemente associada. É também indica- da a avaliação oftalmológica para excluir lesão ocular potencialmente favorável pelo envol- vimento da parede superior da órbita na linha de fratura (blow in fracture). As condições que requerem uma correção de emergência são as fraturas abertas do seio frontal, por elevado risco de meningite. É obrigatória a cobertura antibiótica com ampicilina-ácido clavulânico ou cefalosporina. A correção cirúrgica defi niti- va está subordinada à extensão e ao grau da fratura. TRATAMENTO DAS LESÕES DE PARTES MOLES DA FACE Avaliação inicial A avaliação inicial das lesões extensas de partes moles da face deve ser realizada uma vez es- tabilizada a condição do paciente e corrigidas outras eventuais lesões que requerem um tra- tamento de urgência (Algoritmo 7). A possibi- lidade de postergar a avaliação e o tratamento das lesões de partes moles é possível devido à abundante vascularização a qual, durante o tra- tamento de outras lesões, deve ser simplesmen- te protegida com gaze embebida em solução fi siológica. Na presença de laceração de partes moles devem ser excluídas eventuais fraturas 44 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 Algoritmo 7 Tratamento das lesões das partes moles da face não sim Correção das causas de instabilidade Trauma facial com lesão de partes moles Hemodinamicamente instável? Reparação das partes moles Fratura com indicação cirúrgica Avaliação ABCDE Osteossíntese Exame das partes moles Pesquisa de fraturas maxilofacial Pesquisa de défi cit nervoso não sim associadas seguindo o critério exposto no ca- pítulo inerente ao trauma maxilofacial. O san- gramento deve ser controlado por compressão ou mediante hemostasia cirúrgica, reservando a utilização de drenagem nos casos onde a he- mostasia não é sufi ciente. Deve ser efetuada a avaliação de um possível envolvimento de es- truturas nervosas no percurso da ferida (ramo do nervo facial, do hipoglosso, ramo sensitivo do trigêmeo), que requerem intervenção mi- crocirúrgica para a reparação defi nitiva.15 É uma boa regra a documentação clínica do paciente mediante imagens da lesão, seja por motivo médico-legal, seja para avaliar a evo- lução da lesão em um follow-up. Como regra geral, a reparação por primeira intenção da la- ceração das partes moles associada ao foco de fratura subjacente deve ser realizado uma vez feita a redução da fratura, seja porque a feri- da em si pode representar uma via de acesso à fratura, seja porque uma sutura da ferida pre- cocemente pode ser danosa no curso da inter- venção para a osteossíntese. A ferida das partes moles se distingue em: limpa: não requerem profi laxia antibiótica; contaminada: é considerada a ferida que apre- senta corpo estranho (fragmento ósseo, frag- mento de dente, terra etc.). Feridas em regiões de mucosa dos lábios e da faringe, sobretudo as transfi xantes. Requerem uma cobertura an- tibiótica como cefalosporina e profi laxia anti- tetânica.16 45 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 Na presença de ferida com contaminação grosseira é aconselhável o uso de anestésico local com vasoconstritor.17Tratamento geral Desbridamento A regra para o desbridamento das feridas da face é de limitar a ação dos tecidos desvitali- zados. A ferida limpa requer somente uma lavagem com soro fi siológico. Detergente ou anti-séptico como álcool, hidroxiperóxido e iodo povidona não devem entrar em contato com a ferida, visto que exercem toxicidade aos tecidos.18 É bom não introduzir na ferida ne- nhuma substância que não pode ser instilada no saco conjuntival. Se a laceração se estende ao couro cabeludo, a zona recoberta pela barba ou bigode, estas devem ser raspadas para me- lhor desbridamento. A sobrancelha deve somente ser aparada com a tesoura já que a linha supraciliar repre- senta um reparo importante para a reconsti- tuição estética da região.19 Eventuais corpos estranhos retidos devem ser removidos com a irrigação da ferida sob pressão. Os resíduos de terra, gordura, fragmentos de vidro podem ser removidos por raspagem, utilizando-se uma lâmina de bisturi. Sutura A sutura das feridas é realizada a seguir. O des- bridamento e a preparação da margem facili- tam o apropinquamento das bordas, através de ponto permitindo, por exemplo, que as mar- gens mucosas do lábio sejam adequadamente reconstituídas, assim como a pálpebra e outras estruturas anatômicas que devem ser correta- mente alinhadas. A sutura deve ser efetuada por camadas, favorecendo o alinhamento ana- tômico e evitando a criação de espaço morto, que pode facilitar o aparecimento de infecção. As estruturas mais profundas devem ser su- turadas com fi o reabsorvível 3-0 ou 4-0, a pele com fi o mais fi no, 5-0 ou 6-0, montado em agulha atraumática. Os materiais de escolha são representados pelo nylon, polipropileno e poli- dioxanone (PDS). Os pontos de sutura na face devem ser removidos depois de 4-6 dias, aque- les que estão em região cuja espessura cutânea é muito sutil (p. ex., pálpebra) depois de 3-5 dias. Para as feridas superfi ciais lineares, sobre- tudo nos pacientes pediátricos, pode se aplicar cola polimérica a base de cianoacrilato.18 Classifi cação e tratamento As lesões das partes moles são classifi cadas como se segue (as indicações reportadas nes- ses parágrafos valem em geral para todas as lesões de partes moles): � Contusão: determinada por trauma fechado com formação de edema e hematoma no sub- cutâneo. Geralmente, a pele acima está ínte- gra, todavia se danifi cadas as margens contu- sas, estas devem ser retiradas antes da sutura. Em caso de envolvimento de estruturas como a pálpebra e o nariz, o desbridamento deve ser efetuado depois da solução do edema. � Abrasão: aparece depois de fricção que de- termina a perda de camada epitelial e papilar da derme, deixando exposto o estrato reticular. Devem ser rigorosamente limpas, retirando-se os detritos, gordura, pigmentos que determi- nam o aparecimento de tatuagens e impedem a cicatrização. Uma vez limpa com solução fi - siológica, deve ser recoberta com solução anti- biótica (bacitracina) ou com gaze e protegido com um curativo. � Laceração: pode se apresentar com margens limpas ou contusas, lineares ou estreladas. De- pois do desbridamento, devem ser suturadas por camadas. 1. Simples: podem ser: (a) limpa (requer um desbridamento mínimo), (b) contaminada (devem ser limpas e fechadas por primeira intenção), (c) contusa (requer a retirada dos tecidos desvitalizados). Ocasionalmente re- querem a aplicação de técnica de cirurgia plástica (zetaplastia) para corrigir a direção das margens. 2. Estreladas: as margens são radiadas, em ge- ral contusas. Para facilitar a sutura, as mar- gens podem ser uniformizadas com uma lâmina de bisturi. A aplicação de steri-strip® perpendicularmente à linha de sutura favo- recendo o apropinquamento da ferida. 3. Retalho: mostra um descolamento dos tecidos profundos, em relação ao plano subcutâneo e supragaleal. Nesses casos são importantes uma efi caz hemostasia e a aplicação de um curativo compressivo ao término da sutura para limitar a formação de hematoma ou seroma. Nos casos de perda de substância, nos quais não é possível fazer sutura das margens da ferida, esta deverá ser fechada com enxerto 46 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 cutâneo, retalho local ou aposição de pele nas margens mucosas. Peculiaridades Lábios Depois de ter efetuado o desbridamento, é bom posicionar um único ponto de aproxi- mação com nylon 5-0 em correspondência às margens mucocutâneas do lábio, para otimi- zar a orientação da ferida. Esta última deve ser atentamente avaliada para eventuais destrui- ções das fi bras do músculo orbicular, que se danifi cado deve ser meticulosamente recons- tituído, com sutura reabsorvível 3-0 ou 4-0. O subcutâneo é suturado com fi o 4-0 ou 5-0, en- quanto a pele com nylon 6-0. As margens aver- melhadas devem ser aproximadas com ponto reabsorvível 4-0. Orelha A avaliação da ferida da orelha compreende o exame completo do pavilhão auricular, da membrana timpânica e do ouvido. As lacera- ções cutâneas devem ser reparadas com sutu- ra de nylon 6-0 ou 7-0. Em geral a cartilagem não requer sutura. Quando necessário deve ser realizada com material reabsorvível e fi o de pequeno calibre, aplicando o menor número possível de pontos. No caso de avulsão parcial do tecido, que fi ca preso à estrutura por um pequeno pedículo, deve ser reposicionado e suturado à pele. Eventuais hematomas devem ser drenados mediante aspiração com agulha ou pequena incisão na posição de maior de- clive. Os curativos devem ser modelados de acordo com a forma da orelha, facilitando uma modesta compressão e facilitando a ação de sustentação da orelha. Nariz A avaliação do nariz deve compreender as duas cavidades, com a ajuda de um espéculo, que facilita a identifi cação de laceração do sep- to ou a presença de hematoma que deve ser prontamente evacuado para evitar necrose do septo ou deformidade. Uma vez evacuado o hematoma com aspiração com agulha, se deve fazer uma sutura contínua com material reab- sorvível para prevenir a recidiva. A laceração da pele do nariz deve ser suturada com nylon 6-0. Em caso de feridas acometendo toda a espes- sura se recorre a pontos de apoio, sobretudo na linha do nariz, para favorecer o correto posicio- namento das margens da ferida. Depois de haver suturado a mucosa com material reabsorvível de pequeno calibre tendo cuidado de posicionar os pontos em direção à cavidade nasal, a cartilagem é reparada com fi o 5-0 e pele com material não reabsorvível 6-0. Os pontos são removidos depois de 4 dias re- forçando a ferida com steri-strip®. Na presença de perda de substância são necessários reta- lhos, em geral de espessura total, retirados da região retroauricular. Sobrancelha Não deve ser raspada porque fornecem um reparo importante para um resultado estético ótimo. A ferida deve ser inspecionada a pro- cura de eventuais fraturas do seio frontal ou da margem superior da órbita, que se presentes devem ser prioritariamente corrigidas. A sutura das fi bras musculares é efetuada com material reabsorvível de pequeno calibre. A pele com monofi lamento 6-0. Eventuais retrações cica- triciais poderão ser corrigidas após 6-12 meses do trauma. Pálpebra Na presença de lacerações palpebrais devem ser excluídas lesões oculares, mediante visita especializada do oftalmologista. As lacerações das pálpebras podem ser simples, sem acome- timento da rima. No primeiro caso pode ser fechada sem o excessivo desbridamento, por camadas garantindo a correta orientação dos tecidos. No segundo caso é bom reconhecer as três estruturas que compõem a rima: a linha do cílio, os orifícios das glândulas de Meibom e a linha de refl exão entre a conjuntiva e a pele. Devem ser dados pontos de apoio reabsorví- veis 6-0em correspondência de tais reparos, e sucessivamente efetuar a sutura havendo uma mínima eversão das margens palpebrais que se retraíram na fase de cicatrização. Mucosa oral e língua As feridas da mucosa oral devem ser irriga- das com solução fi siológica e suturadas com fi o reabsorvível 3-0 ou 4-0. As lacerações pro- fundas devem ser suturadas por camada para evitar a formação de hematoma. Feridas da língua são corrigidas com Vicryl 4-0 com su- tura superfi cial. 47 Capítulo 4 - Traumatismo cranioencefálico e facial 4 Escalpo Devem ser identifi cadas eventuais fraturas de crânio e excluídas lesões endocranianas. As lacerações simples são suturadas depois de desbridamento e irrigação com solução fi sio- lógica. Em caso de perda de substância, com pericrânio íntegro, é necessário recorrer a en- xertos cutâneos em toda a espessura, devendo, portanto, recorrer a reparação por primeira in- tenção mediante confecção de retalhos. Bibliografi a 1. Gabbe JG, Cameron PA, Finch CF. The status of Glasgow coma scale. Emergency Medicine 2003;15:353-360. 2. Marshall LF, Marshall SB, Klauber MR, van Berkum CM. A new classifi cation of head injury based on computed tomography. J Neurosurg 1991;75:S14. 3. Servadei F, Murray GD, Penny K, et al. 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