Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INTRODUÇÃO Em todas as estruturas que recebem pacientes traumatizados, ocorre um percentual elevado de supertriagem, de aproximadamente 30%-40% dos casos. Entende-se por supertriagem a quantidade de pacientes que vêm ao hospital, trazidos pelo pessoal do pré-hospitalar, com critérios de trauma grave, e que ao término da avaliação, não é confi r- mada tal hipótese. Este fenômeno está aumentan- do progressivamente devido à difusão dos recursos de proteção individual (cinto de segurança pré- tensionado, airbag, capacete, macacão de prote- ção) que podem prevenir lesões orgânicas, mesmo diante de mecanismo de trauma com alto impacto de energia. Nos centros de trauma devem existir protocolos de tempo de observação, antes que a alta seja dada, para aqueles pacientes trazidos para o hospital com código de alta prioridade e que não demonstram dano relevante. TRAUMA TORÁCICO Os pacientes com trauma torácico fechado ou pene- trante, depois de serem avaliados na sala de emer- gência, segundo os protocolos previamente discuti- dos, podem ser encaminhados para a observação, se apresentarem as seguintes características1: estabilidade dos parâmetros vitais; ausência de lesões evidentes nos exames iniciais ou somente das partes moles; pneumotórax apical < 10% (1 cm); ausência de outras lesões extratorácicas e de pa- tologia respiratória crônica, Sat. O2 > 94% em ar ambiente; idade < 65 anos; expectoração efi caz e mecânica ventilatória cor- reta; menos de três fraturas costais do mesmo lado; fratura clavicular unilateral; 137 Tempo de observação no trauma ausência de alterações da troponina e do ECG, nas suspeitas de contusão cardíaca, mesmo na presença de fraturas do externo, com o afunda- mento inferior, igual ou maior do que a espes- sura do osso. O paciente que apresenta tais requisitos é en- caminhado para a observação por pelo menos 8 horas (Algoritmo 1). Ao término desse período é realizada a reavaliação clínica, a repetição da ra- diografi a do tórax em posição ereta, a dosagem de troponina e o ECG. Se nesta reavaliação não ocor- rer alterações nestes exames ou aparecimento de novas lesões, o paciente pode ser liberado para o domicílio. Nos casos de pneumotórax, fratura de arcos costais, fratura de clavícula ou fratura de ex- terno está indicada a reavaliação em regime ambu- latorial após 48 horas. TRAUMA ABDOMINO-PÉLVICO Ao fi m da avaliação na sala de emergência, se- gundo os protocolos específi cos, são candidatos à observação os pacientes hemodinamicamente es- táveis e clinicamente avaliáveis com as seguintes características2: trauma fechado com ecografi a abdominal diag- nóstica (realizada pelo radiologista) ou tomo- grafi a (TC) com meio de contraste negativo; ausência de lesões que distraiam o paciente do foco principal; ausência de aumento das transaminases e da amilase; trauma penetrante por ferimento por arma bran- ca (FAB) da parede anterior, sem penetração da fáscia superfi cial; trauma penetrante FAB ou ferimento por arma de fogo (FAF), do fl anco ou posterior, com TC com contraste, negativa para violação do peri- tônio ou retroperitônio e na ausência de san- 138 Capítulo 13 - Tempo de observação no trauma 13 Algoritmo 1 Período de observação do paciente com trauma torácico Não Sim Sim Não Trauma torácico Piora ou aparecimento de outras lesões Raio-x de tórax, E-FAST e eventual TC com contraste Internação Internação Observação Depois de oito horas: – reavaliação clínica – repetição do raio-x de tórax ereto – repetição do ECG e troponina Alta e controle ambulatorial em 48 horas Pneumotórax apical (< 1cm) Fratura de arcos costais < 3 e unilateral Expectoração efi caz e mecânica ventilatória adequada Fratura unilateral de clavícula Idade < 65 anos ECG e troponina normais Ausência de lesões associadas Estabilidade hemodinâmica Sat O2 > 94% Ausência de doença pulmonar 139 Capítulo 13 - Tempo de observação no trauma 13 gramento signifi cativo nas partes moles superfi ciais; fratura estável ou periférica do anel pélvico (tipo A de Tile) sem indicação de tratamento ortopédico, na ausência de sangramento evi- dente na TC com contraste ou lesão intra- abdominal associada. Em tais casos (Algoritmo 2) deve-se fazer a observação por pelo menos 8 horas, ao término das quais é realizada uma reavaliação clínica, repetição da ecografi a abdominal diagnóstica e dos exames laboratoriais. Se a ecografi a for negativa e não houver aumento da amilase ou transaminases, o paciente pode ser libera- do, ocorrendo o controle ambulatorial após 48 horas. Nos casos de fratura pélvica devem ser prescritos repouso no leito por 30 dias e con- trole ortopédico com radiografi a atualizada ao término desse período. TRAUMATISMO CRANIANO LEVE O paciente com traumatismo craniano leve, defi nido como portador de ECG 14-15, pode ser encaminhado para a observação sem a rea- lização de exame complementar neurológico, na sala de emergência, na ausência dos seguin- tes fatores de risco3,4: idade > 65 anos; coagulopatia ou terapia com anticoagulan- tes orais; passado mórbido neurológico ou neuroci- rúrgico; episódio de vômito ou crise convulsiva após o trauma; sinais neurológicos; sinais de fratura da base do crânio; mecanismo de alta energia ou fratura cra- niana; amnésia retrógrada superior a 30 minutos; Hospital: Sobrenome e nome: Filiação: Os exames clínicos instrumentais realizados não revelaram traumatismo craniano na pessoa acima qualifi cada. Todavia, complicações tardias ou sintomas novos podem se manifestar após algumas horas ou dias do evento traumático. As primeiras 48 horas são as de maior risco, nas quais é oportuno que a pessoa acima qualifi cada permaneça em companhia de parentes ou amigos, com capacidade de trazê-la de volta ao hospital, na presença dos seguintes sinais e/ou sintomas: Sonolência ou difi culdade para acordar (é necessário que seja acordado a cada 2 horas, durante o período de sono) Vômito (se o paciente for adulto) Convulsões ou tremores Perda de líquido aquoso ou hemático pela orelha ou pelo nariz Perda da sensibilidade ou da força em um ou mais membros Confusão ou comportamento anormal Cefaléia difusa ou crescente (não limitada ao ponto onde ocorreu o impacto traumático) Modifi cação dos batimentos cardíacos (aumento ou diminuição da freqüência) não relativo à atividade física Distúrbios da visão (visão dupla, luzes ou sombras no campo visual) Aumento do diâmetro de uma pupila (a parte negra dos olhos) Persistência de cefaléia por alguns dias, desde que não crescente, distúrbio da memória e capacidade de concentração são considerados normais após o traumatismo craniano. A dieta deve ser leve sem o consumo de bebidas alcoólicas nos próximos dias. Não deve ser feito o uso de medicamentos sedativos ou analgésicos nas primeiras 24 horas. Se ocorrer dor intensa no local do impacto, pode ser aplicado um saco de gelo interposto com um pano para não queimar a pele ou mesmo tomar paracetamol 500 mg no máximo três vezes ao dia. Tabela 1 Prospecto informativo para a alta do paciente com traumatismo craniano leve 140 Capítulo 13 - Tempo de observação no trauma 13 Algoritmo 2 Tempo de observação do paciente com trauma abdomino-pélvico Não Sim Sim Não FAB, ferimento por arma branca; FAF, ferimento por arma de fogo. Trauma abdominal fechado ou penetrante e fratura de pelve Negativo Avaliação primária e secundária Internação Internação Observação Após oito horas: – reavaliação clínica – repetir a ecografi a abdominal – repetir os exames laboratoriais Alta e segmento ambulatorial em 48 horas Parafratura da pelve, repouso por 30 dias e reavaliação ortopédica com raio-x de controle Ecografi a abdominal e TC negativa nos traumas fechados Ausência de lesões que distraiam Estabilidade hemodinâmica Amilase e transaminases normais FAB anterior, sem penetração da face anterior FAB ou FAF, fl anco e posterior, sem violação do peritônio ou retroperitônio ou sangramento de partes moles Fratura da pelve estável ou periférica 141 Capítulo 13 - Tempo de observação no trauma 13 baixo nível social ou intoxicação por álcool ou droga ilícita. A observação do candidato que não apre- senta as características acima citadas pode ser de menor duração (3-6 horas), durante as quais o paciente deve permanecer em jejum e deve ser reavaliado, do ponto de vista neurológico, através do cálculo da ECG, na metade do pe- ríodo de observação e antes da alta (Algoritmo 3). Para os pacientes que não tiveram perda sú- bita de consciência, mesmo que transitória (em condições de descrever o evento traumático e os momentos subseqüentes), e não se queixam de cefaléia difusa, podem ser encaminhados para a observação domiciliar, sem o período de observação no hospital. Em cada caso, no momento da alta, os pa- cientes com traumatismo craniano leve re- cebem um prospecto informativo tornando consciente o próprio paciente e os familiares, da possibilidade de complicações domiciliares e das medidas a serem adotadas para reduzir o risco (Tabela 1). Sim Não Algoritmo 3 Tempo de observação do paciente com traumatismo craniano leve Não Paciente com traumatismo craniano ECG para admissão 15-14; Ausência de fatores de risco; Ausência de mecanismo de alta energia; Ausência de amnésia > 30 minutos TC de encéfalo e observação prolongada Alta Observação domiciliar, com folheto explicativo Observação breve (de três a seis horas) com reavaliação ECG na primeira metade do período de observação e antes da alta Prosseguir observação, TC de encéfalo Perda transitória da consciência e/ou cefaléia difusa ECG 14 ECG 15, resolução da cefaléia Não Sim Sim 142 Capítulo 13 - Tempo de observação no trauma 13 Bibliografi a 1. American College of Surgeons-Committee on Trauma. Resource for Optimal Care of the In- jured Patient. Chicago, Illinois: Publication of American College of Surgeons; 1999. 2. Welch RD. Management of the traumatically injured patient in the emergency department observation unit. Emergency Medicine Clinics of North America 2001;19:137-154. 3. Servadei F, Teasdale G, Merry G, on behalf of the Neurotraumatology Committee of the World Federation of Neurosurgical Societies. Defi ning acute mild head injury in adults: a proposal based on prognostic factors, diagnosis and ma- nagement. J Neurotrauma 2001;18:657-664. 4. Gabbe BJ, Cameron PA, Finch CF. The status of the Glasgow Coma Scale: a review article. Emergency Med 2003;15:353-356.
Compartilhar