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140 Introduçãoà lingülstica . A pesquisasociolingüística(FemandoTarallo) EditadopelaÁtica,esteé tambémumpequenomanulIldepllrlicularinteressenos estudosintrodutóriosde Sociolingüística.A particularidadedesselextoestáno fatode queo autorevidenciamuitodidaticamenteasrelaçõesentrevariaçãoe mudançalingüísti- cas,chamandoa atençãodo leitorinicianteparaa importânciadoestudodaheterogenei- dadedeumpontodevistasincrônico(a línguavistanumdeterminadorecortetemporal desuahistória)e deumpontodevistadiacrônico(a línguavistaatravésdostempos,em diferentesmomentosdesuahistória). A mudançalingüística Paulo ('11(//.:(/,1' . Fotografiassociolingüísticas(organizadoporFemandoTarallo) Trata-sedeumclássiconaliteraturasobreSociolingüísticanoBrasil.Editadopela PontesEditorese pelaEditoradaUniversidadeEstadualdeCampinas(1989),esseé um volumequenãopodeserchamadodeintrodutório,domesmomodocomoosjá comenta- dos.Essareuniãodetextos,comoo próprionomemetafóricosugere,constituiumretrato do portuguêsdo Brasil a partirdeanálisesteóricae empiricamentebastanteelaboradas. Tendosido introduzidonocampodapesquisasociolingüística,o leitorencontraránessa obraabordagensexemplares. Introdução . Principiesoi LinguisticChange"PrincípiosdeMudançaLingüística"(WilliamLabov) VolumeI - InternalFactors(FatoresInternos,ou lingüísticos) Volume2- SocialFactors(FatoresSociais) AmboseditadospelaBlackwell,oprimeiroem1994eosegundo,em2000,infe- lizmenteaindanãoforamtraduzidosparao português.Evidentemente,sãoleiturasme- noslaboriosasquandojá setemalgumamaturidadenotrabalhosociolingüístico.O inte- resseparao iniciante,contudo,estánofatodequetaisvolumestrazemumariquíssima bibliografia,cujaconsultapodeserbastanteilustrativaparaquemestáiniciandoseuses- tudosemsociolingüística.Dandoespecialatençãoaomodocomodialetosurbanosvie- rammodificando-serapidamentenodecorrerdoséculoxx(osexemplossãobasicamente doinglêsfaladonosEstadosUnidosenaInglaterra),Labovdedica-seaoestudodosprin- cípiosmaisgeraisquegovernamaalteraçãodaestruturalingüística.Apesardefocalizar sobretudoamudançalingüística,essesvolumessãodegrandeimportânciaparaoenten- dimentodascaracterísticasdavariação,bemcomoparao entendimentodalínguavista comoprodutosocial. O fatodeaslínguaspassarempormudançasno tempoéalgoquepodeserIwrcI' bidodemaisdeumaforma.Umadelasé o contatocompessoasdeoutrasfaixasetÍll'llls. Quantomaioradiferençade idade,maioraprobabilidadedeencontrarmosdiferençasnll formadefalardeduaspessoas.Suponhamosqueumfalant~decercadevinteanoscon, versecomoutrofalantede cercade setentaanos.Ambos poderãoperceberdiferenças. porpequenasquesejam,devocabulário,construçõesdiferentes,pronúnciadiferenlede certaspalavrasoudecertossons. Além dessamaneira,acessívela todofalantedeumacomunidadelingüíslica.011 tI'Omododepercebermosarealidadedamudançalingüísticaéentrarmosemcontatocom textosescritosou faladosde outrasépocas.Textosfaladosseriamgravações,filllll's 011 qualqueroutrotipoderegistroquepermitaqueescutemosossonsutilizados.TexlosdI" setiponospermitiriamrecuarapenascercadeumséculonotempo.Sepretcndl'l'lIlOSh'l umanoçãodasmudançasdealgumalínguanumperíodomaisextensoou maisdislllllh' doatual,precisaremosrecorrera textosescritos.Ao fazerisso,devemosestarpn'plllllllo', parainterpretaro queestáregistradonessestextose emquemedidaelessão1111111'1111111 tiel da línguafalada.Emborasejaalgoconhecidoqueas línguasmudam.lallto1'111',1111 formafaladaquantoemsuaformaescrita,a línguaescritaésempremaisconsl'rvlIlllIlI'dll quea línguafalada.Quandoa línguaescritajá seencontraemumestadoIIOl'lllall/llll1l sujeitoaregrassocialmenteestabelecidaseestáveis,elapodedaraimpressãodI'qUl'(1'1 tasmudançasocorrememblocoeemsaltos,o quenãoé verdadeparatodosos Il'(lIllm O problemaéqueo contatocomtextosescritosdecertaformafiltrabastantea nossa1'1'1 cepçãodaocorrênciademudançaslingüísticas.Senoslimitarmosàformacomoal~Sl'l'I'a registraa pronúnciadossonse palavrasdo português,porexemplo,podemosconstataI facilmentequejá háalgumtempováriostiposdepalavrastiveramsuapronúnciaalll'm da,mascontinuama sergrafadasda mesmaforma.Por exemplo,palavrascornoO/IIYI, heijooucadeiranãosãomaispronunciadaspelamaioriadosfalantescomditongo1111sf labatônica,mascontinuamasergrafadasdessaforma.EsseafastamentodaIrngllaescl'l Iae da Irnguafaladaé algonormale quepodeserverificadoemqualquerIrngualJlIl' SI'.III representadagraficamente. 1"1": Inlll.HJut.:(IU lIlIJ1Ulll11u '( I Daslínguasmaisfamiliaresparanósbrasileiros.o inglc!Ié UIIlcasoextremode discrepânciaentregrafiaepronúncia,já queasconsoantesiniciaisemknowepsych%gl' sãomudas,bemcomoaconsoantefinalempalavrasbomb,porexemplo.Algumasseqüências gráficascomo-oughpodemterváriaspronúnciasinteiramentediferentes,comoocorrenas palavrasthough[õoU]'embora',through[Sm:]'através',tough[tAf]'duro'e cough[k::>f] 'tosse'. Sãoconhecidostambémexemploscomoodofrancês,emquepalavrascomohaie 'sebe,cerca-viva'eest'é,está',comgrafiastãodíspares,sãohomófonoscomapronúncia [E],ouseja,sãousadastrêsouquatroletraspararepresentarumúnicosom.É importante assinalarqueessesnãosãocasosisolados. Voltandoparaoportuguês,podemosverificarquesealínguaescritativessecomo objetivoprincipalrepresentardeformadiferenteoquesoadiferenteedeformaigualoque soaigual,nãoteríamospalavrashomófonasmascomgrafiadiferente,comooparcaçare cassar.Masnãoéissooqueocorre.O som[s]éumcasoextremonoportuguês,podendo recebernovetranscriçõesdiferentes.Porincrívelquepareça,é issooquetemosem:som, nosso,centro,preço,exceto,sintaxe,voz,crescerecresça. Alémdesseexemploemqueomesmosomérepresentadodenovemaneirasdiferentes, podemostertambémsituaçõesumtantoestranhas.Umoutroexemplodoportuguêspode nosmostrarcomodevemosinterpretarcomcautelaasinformaçõesquenossãodadaspor textosescritos.Seolharmosagrafiadasformaspresoeprezodoportuguês,perceberemos queagrafiadelasnossugerequeoterceirosomdapalavradeveserpronunciadodamesma maneiranasduaspalavras,aopassoqueoquartosomdeveserpronunciadodiferentemente. Umatranscriçãofonéticadasduaspalavrasnosmostrariao quantoessahipóteseestaria equivocada,já queaprimeirapalavraseriatranscrita[prezu]easegundaseriatranscrita [prEzu].Umfalantedeoutralínguaquevisseagrafiadessasformasdoportuguêspoderia, portanto,imaginarerroneamentea existênciadediferençasondeelasnãoexisteme semelhançasigualmenteondeelasnãoexistem.A liçãoquedevemostirardessas consideraçõeséqueénecessárioantesdetudosaberinterpretaroqueotextoescritonosdiz paranãoficarmoscomumquadrofalsodecomoalínguaé,decomoelajá foie,portanto, tambémdoquemudou. Noitemseguinte,apóstermosvistodoistextosdeépocasdiferentesdanossa,veremos diversosexemplosdemudançasgráficasquedeverãoseranalisadascomdesconfiança, antesdevirmosaatribuir-Ihesocaráterdemudançalingüísticapropriamentedita. Apesardeprecisarmosusardecautela,podemosreconhecerapresençadealterações tambémnostextosescritos.Qualquerfalantedalínguaportuguesaquetomecontatocom textosdeoutrasépocasperceberáquenossalínguasofreumodificaçõesnotempo.Mesmo quenoslimitemosatextosemprosaveremosquealínguadeumtextodoséculoXIII, época dosprimeirosregistrosescritosemportuguês,nãoeraigualàdeumtextodoséculoXVII, e quenenhumdosdoisé igualà formacomoescrevemoshojeemdia.Evidentemente,a distânciadecercadealgunsséculosentreostextosfacilitariaalocalizaçãodeelementosque mudaram.É issooquefaremosinicialmentenestecapítulo.Examinaremosinicialmenteum textodecadaumdessesdoisséculos(oXIII eoXVII), afimdenosfamiliarizarmoscom certasmudançasqueocorreramnoportuguêsnesseperíodo.Há,então,umintervalode cercade400anosentreosdoistextoseentreo doséculoXVII eo doperíodoatual. Evidentemente,oconhecimentodoportuguêsatualficapressupostonestecapítulo.Os ~ ! u....-. r\ IIllhiUII\o" 1I1I"Ulwlh" ,-, J lexlos s:\oeximidos di' 111111110( 11)IJl),ljuc COIllPfl'l'l1lk'Il~xlosdesdI'o s~l'uloXllllltl~o M culoxx. Fazendoent:10,umrecuodecercadeoitocenlosanos,vejamosiniciallllcnll'o lI" 10do séculoXIII,a Lei dosAlmuxarifesdeD. Afonso 11,daladade 1211,e contiduIIIIS PortugaliaeMonumentaHistorica,LegesetConsuetudines,p.164-165. I Comoel-reymandaaosseusalmuxarifesquenomleuemnenhumacou.\'{/d'aqllelesa qu/'/1/'/1/'\,/'1"1 2 goonomar. 3 Stabeleçemosquenenhuumnomleueaaquelesqueacaeçerperigoonomar,assydosdalerrumllH'dllM 4 dasoutras,seacaeçerpor britamentode naueou denauio,algumacousaqueandassena IIIIUI'011 1111 5 nauioqueaportasena rribeyraou en alguumporto,maisos ssenhoresd'essascousasajllm nll~llIIIIIM 6 em pax, assyque os nossosalmuxarifesnom leuemd'elescousa,nemaquellesquede nosIIS II'IIIIM 7 teuerem,nemnenhuumoutro.Ca ssemrrazompareçequeaquelqueheatormentaadodnr-Ihi hllllll'lIl 8 outrotormento.Se peruentuyraalguumcontraestanossaconstetiçomquizerhir, reteentlo110o '~I'II 9 auer,leuandodosdauamdictosalgumacousa,fectaprimeiramenteentregadascousasquc Ihi I"IIhllllllll 10 ouperderom,perçaquantoouver. Avançandocercadequatrocentosanosnotempo,vejamosemseguidao lexllldo séculoXVII,queé umparágrafodo CapítuloXXIIlda JornadadosVassalosdaCoroudc' Portugal,escritapelopadreBartolomeuGomes. 1 Do quesuccedeonaBahya,sendoCapitcioMor, FranciscoNunezMarinho deEça 2 Ainda quesabiao GouernadorMatthiasdeAlbuquerque,quambemprouidoestauao lugardc Capiu10 3 MoI' naBahya,napessoado Bispo, pelloacordo,valor& vigilancia,comqueo bompastorsedeslll' 4 lauaafazerguerraao inimigo,pediatodaarezãoo aleuiassedetantotrabalho,peracommayorcuidll 5 doo ternogonerno[sicI perasuaIgreja,porquedoutrinashereticas,nãotiuessementradanella.E 1111' 6 desteparticular,senãoesqueceosuaMagestade,queo nãoencomendasseaossenhoresGouernatlores, 7 Bispo, & Gouernadordo Brazil, vigiassemcom grandecuidado,nãoespalhassemos inimigosalglllls 8 liuros de seuserros.Por esterespeito,se resolueoo CapitamMor da Bahya,ao Capitam,Francisco 9 NunezMarinhode Eça,do habitodeChristo,pessoade muytaconfiança,& experienciadaguerra,nll 10 India,& foradella:& queforaCapitamMoI',naParahiba,emcujosrebaldesaposentadoviuia. LCllolI II socorrodemuniçoens,quantoselhepodiadar,emtempotamnecessitadodellas.Levoupoderes,IIno 12 so nasuaCapitania,masnadeSeregipe,IIheos,& PortoSeguro,perasevalerdellasemtodaanecessl 13 dadequetiuessedesocorro,& mantimentos. Qualquerumdessestextosapresentacaracterísticasqueseafastamdasdotexlo destecapítulo,porexemplo,escritonoiníciodoséculoXXI. Sepensarmosumpoucomaisdetidamentesobreamudançalingüística,poderl'- mosformularpelomenostrêstiposdeperguntas,quenosdarãoumaperspectivageralso- breela.Poderíamosperguntar:(I) oquemudanaslínguas?;(2)porqueelasmudam?;(3) comoelasmudam?Essasperguntassãoaessênciadostrêsitensseguintes. 1. O quemudanaslínguas Observandomaisatentamenteos textosdosséculosXIII e XVtIquevimos,pode mosdetectarumasériedediferençasentreessestextoseo portuguêsatual. Tendoemmentearessalvafeitanaintroduçãoquantoàfidedignidadedotextoes. critoe seuusocomorepresentaçãodalínguafalada,devemossercautelosostambémao atribuira todae qualquerdistinçãoortográficao statusdemudançalingüística.Seas Ic- trasdaescritaatualnãocorrespondemumaa umaa sonsdiferentes,é aconselhávelsub- 144 Introdução à Lingüística meterosdadosescritosaumcrivobemrigorosoparan:l0Ikarmosl'omidéiasfalsasa respeitodoquemudou,Tendofeitoisso,deveremosdescartar,pornÜoscrcmexemplos demudançaslingüísticaspropriamenteditas,diversasdistinçõesqucprovavelmentesão apenasmudançasortográficas, Nlesmoqueexaminemoso trechomaisrecente,odaJornadadosVassalos,queé doséculoXVII,aoencontrarmospalavrascomomayoreMagestade,podemospensarnu- mamudançadepronúncia,já queaescritaéutilizadapararepresentarossonsdalíngua, Ouseja,podemosraciocinardaseguintemaneira:seaescritarepresentaossonsdalín- guaesealterou,issoquerdizerqueossonsqueelarepresentatambémsealteraram,Na verdade,podemosestarcompletamenteequivocados,oquepodeteracontecidoemrazão demudançasgráficasocorridaspordoismotivosdistintos.O primeirorelaciona-seatex- tosdeépocascomooséculoXIII,quetêmcomocaracterísticao fatodenãoapresentarem umaortografiaoficializada,nãoestaremsujeitosa regrasdeortografiaestabelecidase aceitasportodos. Assim,autoresdiferentespodiamgrafaramesmapalavradeformadiferente,Na verdade,issoaconteciainclusivecomomesmoautor,quepodiagrafarapalavraUIl1aseu bel-prazercomoum,hum,Üetc.Mesmoemperíodosemqueaortografiaestáfixadapor regrasdefinidas,umamudançadeortografiapoderefletirumamudançadepronúnciaou não.Palavrascomosciellciatinhamatéo iníciodoséculoxx umagrafiaetimológica,ou seja,umagrafiaquetinhaoobjetivoderefletirsuagrafianalínguadeorigem,o latim.Se sepassadeumagrafiacompreocupaçõesfortementeetimológicasparaoutraquetenhao objetivoprimordialderepresentarossonsdaspalavrasemsuapronúnciaatual,oupelo menosemumadelas,certoselementosgráficosquenãocorrespondemaumadiferença atualdepronúnciadeixamdeserutilizados. EssesexemplossãoemmaiornúmeronotextodoséculoXIII(noqualagrafiaos- cilavadeformabemacentuada),mastambémocorremnodoséculoXVII.Algumasdessas falsasdiferençasencontradasnaLeidosAlmuxarifessão:jánaprimeiralinhadotexto,as duasocorrênciasdeç antesdee,emstabeleçemoseemacaeçer;emvezdoc utilizado atualmente;o usodes simplesoudobradodeformaopostaàdoportuguêsatual,como emaportase(linha3)essellhores(linha4);eo fatodeaescritanãodistinguirudev,co- movemosnapalavrauelltllyra(linha7),emqueaprimeiraocorrênciadougráficocor- respondeaonossovatual. Feitasalgumasressalvascomoessas,podemospassaralistaralgumasdasdiver- sasmudançasdefatodotextodoséculoXIIIcomrelaçãoaoportuguêsatual: .tentandoidentificardiferençasdepronúnciaentreo portuguêsdoséculoXIIIe o portuguêsatual,noschamama atençãoalgumasvogaisdobradas.Algumasde- lasocorrememsílabatônicae talvezreflitama duraçãomaiordasvogaistôni- cas(o queocorreaindahoje),comoéo casodeatormentaado(linha7).Outras, entretanto,comoperigoo,nalinhaI, nãoestãoemsílabatônica,epossivelmen- terefletemumapronúnciaexistentenaépocaqueaindamantinhaasduassíla- baspós-tônicasetimológicasderivadasdo latimpericulum;.formasdesusadasdepalavrasaindaemuso,comoassyecome(linha2),bem comoaquelecousa(linha5);.encontramosno textoa preposiçãoper (linha7). Essavariante,emboraemdl" suso,nosmostrao porquêde lermosaindaho.jel'mdia,wlo co.moeonlra~'fio.dl' 1 A mudança língüístíca 145 por +o, ouseja,haviaessaoutravarianteemestágiosanterioresdoportugucs,I' a formaqueprevaleceuprecedendoo artigofoi esta,atualmentedesusadaquall do nãoseguidado artigodefinido(a nãoseremformascomopelaí,queeneo.n tramosdevezemquando);.arcaísmoslexicais,ouseja,certaspalavrasquecaíramemdesuso,comoam/T/" ("acontecer")ebritamento("naufrágio"),nalinha2;filhar ("tomar")nalinha1): . emtermosmorfológicos,temosa manutenção(quenãoficaevidentesomenll'a partirdessetrecho)dadistinçãoentreasformasdeterceirapessoado pluraldo. perfeitoe do mais-que-perfeito.As formasfilharame perderam(linha 10)SIlO doperfeito.Mais tardeelassetornaramhomônimascomasdomais-quePl'rll'i to (filharameperderam);.aindadentrodamorfologia,encontramosaformaperça(linha10)comosllhlllll tivodoverboperder..emtermossintáticos,temosaspalavrasnenhuum(linhal) ealgulllll(linhaI) comopronomesindefinidosusadossubstantivamente,deacordocoma lel'll11110 logia gramaticalcorrente,ou seja,tendousoscorrespondentesaosdosnossos nillguémealguématuais;.hátambémpalavrasquedeixaramdeserusadasemcertasconstruções,como.o verbohaver,como sentidode"ter",queaparecenaformaajam(linha4) e na formaouver(linha 10).É claroquea ausênciadoh inicialé apenasumprohll' madegrafiadistintadaatual,nãotendohavidonenhumamudançaemrel:'~'ãoa isso.Hojeemdiagrafamostodasasformasdesseverbocomh inicial,masnun cao pronunciamos;.o pronomeindefinidohomell1(linha7),comsentidodequantificadorcxistl'newl (alguém)ougenérico(aspessoasemgeral).Essaconstrução,perdidanopo.rlll guêsatualeemoutraslínguasromânicas,é freqüentenaslínguasgermftnkasI' nofrancês,Emfrancês,porexemplo,opronomeon(originariamenteocasosu jeitocorrespondenteàformaregidaome,Oll1l1e,todaselasformasdosllhslallll\'1I como significadooriginalde"homem")é utilizadoemfrasescomo01/1""I, [rançais"sefalafrancês","agentefalafrancês".Damesmaformll,l'mVlllliI'. línguasgermânicas,comoo alemão,encontramosopronome111/11/l'om 1"'~I" mesmossentidos,comoemmansprichtDeutsch,"fala-sealemão"(lih'lIIllIlI'lI te,"homemfalaalemão"); . aconcordâncianegativaemquenenhuum110mleue(linhaI), equivall~IIII'11'/"1 ninguémlevenoportuguêsatual.Emborasejacomumadenominação.tllIl,l" 1// gaçãoparanosreferirmosaessetipodeconstrução,atualmenteessetermol' n' servadoparaCOJ1struçõesemqueumanegativacancelaaoutra.QuandoOl'OITl'l1I doistermosqueisoladamentesãonegativoseo sentidoglobalcontinuaaSl'l"1)(' gativo,o termousadoatualmenteéconcordâncianegativa. Vejamosagoraalgumasdiferençasencontradasno textodoséculoXVIIco.mn'la çãoaoportuguêsatual.Dadaamaiorproximidadenotempo,édeseespcrarquel'SSl'S doismomentosdalínguasejammaissemelhantes,Váriasvezesocorremsujeito.ssl~para dosdescusverhosporvírgula(porexemplo,nalinhaI e no linaldlllinha 'i),masl'ssalh fl'rl'n~'asedrcunscrcVl'à pontLHI~'ão,não.caracterizandode mo.doalgum1111111lIIudllll~'a lin~illslkaqm'Il'nhaOI'IIITldo.F pos~IVl'I,1IIIl'nlanlo,Io.ealllllldlvl'rVl'lIeias 146 Introduçõo à lingüística . algumas palavras apresentamvariantesem desllso hojl' 1'111dm, 1'01110rezÜo (li- nha4),emlugarderazão,epera(linha4),emlugardefUI/'lI,Issopodetantoin- dicarumaalteraçãodepronúnciaquantomaneirasdiferelltesdegrafaravogal átona; .apalavrarebaldes,hojedesusada.Dasnumerosaspalavrasdeorigemárabeque entraramnoportuguêsduranteodomíniomouronaPenínsulaIbérica,muitasse fixaramnaformaprecedidadoartigodefinidoaI,porexemploalfaiate,álgebra. Outrassefixaramsemoartigo.Provavelmentehouvevariaçãocomalgumasde- las.Naspalavrascujaformaemárabeerainiciadaporumaconsoantecoronal, ouseja,umaconsoanteproduzidacomapontadalíngua,haviaassimilaçãodoI doartigodefinidoaessaconsoantecoronal,surgindoumaconsoantegeminada oudobrada,pronunciadamaislongadoqueaconsoantesimples.Essaéaori- gemdepalavrascomoarrozeazeite.A consoantegeminadasósemantevenas palavrascomr.A palavrarebaldes,queocorrenotextocitado,éa mesmaquese mantevenaformaarrabalde,tendosidoutilizada,portanto,queremsuaforma semartigo,quernaformaprecedidadoartigodefinido,queseassimilouaor se- guinte;.a locuçãoconjuntivaaindaque(linhaI) éempregadacomo indicativo(ainda quesabia),emvezdecomo subjuntivo,comohojeemdia(aindaquesoubesse);.a posiçãodistintadoclíticoou pronomeátonocomrelaçãoà negaçãoemE ate desteparticular,senÜoesqueceosuaMagestade(linha6),já queatualmenteo clíticoseapareceentreanegaçãoeoverbo,enãoantesdanegação; . omesmoocorrecomopronomedeterceirapessoaemqueonÜoencomendasse ...(linha7);.háaindaqueassinalaragrandeocorrênciadeoraçõescomo sujeito pospostoao verbo,mesmocomverbostransitivos,oquesedistinguedoportuguêsbrasileiro atual.Osexemplosdotextosão:"AindaquesabiaoGouernadorMatthiasdeAI- buquerque,quambemprouidoestaua..."(linhasI e2);"pediatodaa rezãoo aleuiassedetantotrabalho"(linha4);"E atedesteparticular,senãoesqueceo suaMagestade"(linha6);"Poresterespeito,seresolueoo CapitamMbr da Bahya"(linha9); . notrechoporquedoutrinashereticas,nãotiuessementradanella(linhas5e6) vemosa conjunçãoporquecomsubjuntivoe sentidocorrespondenteaopara queatual;.o verboesqueceraparececonstruídocomverbonosubjuntivonaformanegativa nasubordinada,emvezdecominfinitivo,emsenãoesqueceosuaMagestade. queo nÜoencomendasseaossenhoresGouernadores.Bispo,& Gouernadordo Brazil, vigiassemcomgrandecuidado. Examinaressestextose confrontara linguagemutilizadanelescomo português atualpodenosdara falsaimpressãodequeo portuguêsaindaestavaemformaçãocomo línguanessesmomentos,mashojeemdiajá temosumalínguaconstituída,quenãoesta- ria, portanto,sujeitaa mudançascomoem períodosanteriores.Não poderíamosestar maislongedaverdade,poiscomojá foidito,alémdostextosescritosdeoutrasépocas, podemosperceberamudançaconversandocompessoasdeoutrasfaixasetárias. lf Jl A mudclllc,.lI linguísllc:o ).1' ParaI'Vitlllll"I' pn'vall',,'aessaimpressão,serÚcOllvenientelistarmos alglllllll~ 11111 dançasemopl'raçnO110porluguêsatual,asquaispoderãosermultiplicadaspelos!l'iton's. Há algumtempovéll1ocorrendo alterações no sistema dos pronomes pessoais, COIl1101 mascomotu,IIÔSevÔsenfrentandoaconcorrênciadeformascomovocê. li Kell/I' I' \'(11'1',1, respectivamente,Dessastrêsformas,vóséa quejá foi praticamenteeliminadadll HIIgIIII falada,tantonoBrasilcomoemPortugal.Jáopronometufoiperdidoem muitas regi()l's doBrasilnocasoreto,maspreservaaindabemvivosa forma tee o possessivo lell, () pm nome nósenfrentaaforteconcorrênciadaexpressãoagente,emboraseconserveSI'II1 SI'I ameaçadoem certoscontextos. O surgimento de particípios passadosformados com acréscimo de -o à raiz Vl'rhal, comoemjá tinhachego,emvezdejá tinhachegado.O casoespecíficode cheKlIr pmvlI velmenteé influenciado pela existência do particípio irregular pego, de pegar, f01l1'1111I mentemuitosemelhanteaele. Por essesexemplospodemosperceberqueasmudançasnãoserestringell1a 11111 nível da gramática, podendoocorreremqualquerumdeles.VimosmudançasfonolÚ!'I cas, sintáticas, morfológicas, semânticas,lexicais etc. É importantetambémpercehcl'llIo:o. que uma mudançaem um dessescomponentesdagramáticapodelevara alteraçiks1'111 outro,como o surgimento de formas como você, que acabou por afetar o sistemadc pm nomes possessivos,produzindo ambigüidade no possessivo seu, interpretável como dl' segundaou de terceirapessoa. 2. Porqueas línguasmudam A segundaperguntaque fizemos na introdução é a que se relaciona COI11 a 1'11,1'10 porqueocorremmudançaslingüísticas.Como vimos no começo do capítulo, a líllgllll 1" critanãorefletetodasasmudançasqueocorremnalínguafalada.A IfnguaeSI'l'1I1I\'1'111 normalmente a reboquedasmudançasocorridasnalínguafalada,havendofrcqlkllll'llIl'lI teumadefasagementreo aparecimentodemudançasna língua falada e o lI1ollu'lIlo 1"111 que elas passama ser aceitasou pelo menos toleradasna língua escrita, O qlll' Ih~l'lIllIl' mos nesteitem diz respeitoà língua falada. A perspectivaaqui adotadaé a da Sociolingüística Variacionista, iniciada 1'01I 11 bov.Para compreendermos a importância de Labov no estudo da mudança linV,U("III" precisamosantesolharbrevementeo tipodelingüísticainiciadoporoutrosdoisVJlllllh lingüistasnoséculoxx:oestruturalismosaussureanoeogerativismochomskyano, Ao fazerqualquerobservaçãoa respeitodeumalíngua,podemosanalisaraS11l'1 tosquesãomomentâneos(relacionadosaumúnicomomento,presenteounão)011aspI'1 tosqueapresentamcertaduraçãonotempo(relacionadosapelomenosdoism0l111'nlosI' aointervaloentreeles).No início doséculoxx, Saussureapontou,noCursodelillKilf,l'lI eageral,anecessidadededistinguirfatossincrônicosediacrônicos,algoinusitadoI' ill1 portantíssimoparaaépoca.Como a lingüísticaanterioraeletinhacunhoquase IInica mentehistórico,utilizandoo chamadométodohistórico-comparativo,a posi,,'ãodI' Saussurerepresentouumagranderupturaaodestacardemodoincisivonãosóapossihili dademasa necessidadedeestudaros fatoslingüísticossel11qllalquercorrelação1'0111SIIII história, 148 Introduçãoà Lingüíslico Na verdade,a intençãodeSaussurefoimaisampla:isolaro estudodalínguade tudoqueéexterioraela,oqueincluiospontosdevistadahistória,daantropologia,da etnografia,dasociologiaedapsicologia,segundoseumododevera lingüística.Emou- traspalavras,Saussurequisestabeleceralingüísticainternacomoumadisciplinacientífi- ca,relegandoparasegundoplanoalingüísticaexterna,queseocupadarelaçãoexistente entrealínguaeahistória,asinstituiçõeseaestruturadasociedade.A lingüísticaexterna é vistaporelecomoalgosecundário.O essencialseria,então,estudaroselementosdalínguaecomoelesserelacionamentresi. Paralelamenteaisso,Saussureestabeleceuumadistinçãobastanterígidaentreos fatossincrônicoseosfatosdiacrônicos.É oque'verificamosnaseguintecitaçãodoCurso delingüb,.ticageral(p.96daediçãobrasileira):"É sincrônicotudoquantoserelacione comoaspectoestáticodanossaciência,diacrônicotudooquedizrespeitoàsevoluções. Do mesmomodo,sincroniaediacroniadesignarãorespectivamenteumestadodelínguae umafasedeevolução". Comoconseqüênciadessaformadeverarelaçãoentreosincrônicoeodiacrôni- co,verificamosnopróprioSaussurequeadistinçãoentreosdoispontosdevistaeratida comoabsoluta,nãoadmitindocompromissos,comovemosnesteoutrotrecho:"Aoposi- çãoentreo diacrônicoe o sincrônicosemanifestaemtodosospontos.Por exemplo- e paracomeçarpelofatomaisevidente-, nãotemimportânciaigual.Nesseponto,estácla- roqueo aspectosincrônicoprevalecesobreo outro,poisparaa massafalante,eleconsti- tuia verdadeirae únicarealidade"(idem:105-106). Portanto,umpontofundamentalarespeitodasposiçõesteóricasdeSaussurequan- toà línguae seusaspectosdiacrônicoe sincrônicoéo fatodequeeleconsideraqueessas sãoduasperspectivastotalmentedistintas.O aspectosincrônicoestariarelacionadoaoque é momentâneoeestáticoeo diacrônico,aoquetemduraçãonotempoeédinâmico. O principalequívocodeSaussurecomrelaçãoaessadicotomia,comoassinalado por Jakobson(1969),foi justamenteequipararessasduasdicotomias:sincrônicoe dia- crônicocorresponderiam,paraSaussure,respectivamente,a estáticoe dinâmico.Contu- do,comoapontouJakobson,asquatrocombinaçõesentreessasdicotomiassãopossíveis. Ou seja,podemosterasseguintescombinações,exemplificandocomoportuguês: .fatossincrônicose estáticos:fatosqueseapresentamemequilíbrio,sempers- pectivade alteraçãonumdeterminadomomento,seja ele presenteou não. Exemplos:atualmenteháaexistênciadedoisgêneros,háconcordânciadegêne- ro;noperíodoarcaicohaviaadistinçãoentrech[tDex m; .fatossincrônicosedinâmicos:fatosquenumdeterminadomomentoapresentam indicaçãode estaremem processode mudança.Por exemplo:atualmente,há mudançanousodopronomepessoaldeprimeirapessoadoplural,coma gentegradativamentesubstituindonós; .fatosdiacrônicose estáticos:semprehouvetrêsconjugaçõesverbaisno portu-guês;e .fatosdiacrônicose dinâmicos:aperdadamesóclisecomofenômenovernáculo noportuguêsdoBrasil.VernáculodeveserentendidoaquinosentidodeLabov, umtipodeconstruçãoqueos falantesusamenquantoestãoconversandoà von- tadeesemfazeresforçoconscienteparafalar"corretamente" .à A mudol1çoIlngül!llco 149 O quadroquesetemdalínguaemummomentodado,deacordocoma Pl'rSpl'l'11 vasaussureanadoCursodelingüísticageral,o deumconjuntofechadoe homogêneod(' regularidades,defatosestáticos,prevaleceudurantemuitotempo.Assim,seriapossíVl'1 descreverumalínguasemquefossenecessárioconsiderarelementosemvariação011('111 mudançanemo papelqueaestruturadasociedadeterianessesdoisfenômenos.Essn concepçãonoslevaa vera línguacomoalgoautônomo,quetemseusfenômenossincro nicoscomoprimordiais.Provavelmentecomoconseqüênciadofatodetertidoa intençi10 derompercomatradiçãoanterior,eminentementehistórica,Saussureacabouporrcle~nl' adiacroniaaumaposiçãodepoucaimportância. Outradasgrandescorrentesteóricasda Lingüística,o gerativismoiniciadopOl Chomskyem meadosdo séculoxx, surgiutambémcomoreaçãoao tipo de IingUrsll('n quesepraticavanaépoca.Dessavez,o alvodareaçãoforamosestruturalistasanWl'Il1I nos, que se filiavama umaconcepçãode línguaextremamentemecanicista,elll LJIIl' aprenderumalínguaeravistocomoumprocessode imitação,generalizaçãoestimnlada por reforçospositivosetc.,bemà maneirado behaviorismoou docomportamentalisllIlI deSkinner,querejeitavaa preocupaçãocomo quesepassanamentedaspessoasl'lII 111 zãodeissoseralgoinacessívelaumobservadorexterno. Em 1959foi publicadaa famosaresenhaqueChomskyfez do livro VerballM'1I vior deSkinner,naqualsãoapresentadosargumentosfortesa favordeumaconeep~'Üo segundoaqualos falantesdeumalínguasãocriativosnousoquefazemdela,nãopodt'lI do serestringira umasimplesimitaçãodo quejá ouviram.A concepçãoqueCholllsky temdesenvolvidodesdeentãosecentralizajustamenteno conhecimentolingü(slil'o111 mazenadonamentedo falante,mudando,dessaforma,porcompletoo focodaspl'sqlll saslingüísticas,passandodasuamanifestaçãoexternaparaalgointernoaofalantl'. Por estarinteressadonoconhecimentoindividualarespeitoda língua,na I'('(m.-IIII entrelínguae mente,Chomskypressupõeumfalanteidealnumacomunidadl'idl'nl,111111 bémcomo objetivodeabstrairconsideraçõessociais.Fazendoumaoposiçno('11111'Viii mática(tidaporelecomoo conhecimentoquecadafalantetemdo idiomaLJIIl'"1111/aI. I língua(tidacomoalgosocial),Chomskyfazclaramenteumaopçãomclodol()~Hal"IlIl,l vordaprimeira. Vemosassimquenemavisãoestruturalista,descendentedeSaUSSlll'l',11('111UV1"11I gerativista,iniciadaporChomsky,pretendemrelacionara língua,suasvariaçfll'!\('11111'II1 çõescom a heterogeneidadeda sociedade.Diferentementedessasduaspersp('('IIVII!\." abordagemsociolingüísticavariacionista,iniciadapor Labov,nãoprocural'IlIlIlI"lI dll análiseo queé variávele mutante.Pelocontrário,elafaz davariaçãoe da Imldlll1~'1I1111 güísticasosobjetoscentraisdeestudo,relacionando-asjustamenteaalgunsdosasp('('III~ queSaussureeChomskyquiserammanterforadaanálisedalíngua:aestruturadaSlIl"I(, dadeesuahistória. ParaLabov,todalínguaapresentavariação,queé semprepotencialmente11111de' sencadeadorde mudança.Comoa mudançaé gradual,é necessáriopassarprillll'iropOI umperíododetransiçãoemquehávariação,paraemseguidaocorreramudança.('01110n mudançaeavariaçãoestãoestreitamenterelacionadas,é muitodifícilestudllr1111111M'III estudara outra. De e('rlnI'01'111a, I,abovfazo caminhoinversodeSallssure,jnqlll' esll' J('/ 11111('S forço plll'nl'xclllll o LJII('(' ('xll'rno à língllll em si dos l~sllldoslingUlstll'os, (' IUIII('I,'pro"1I 1':>0 Inlroduçao ó Unguíslu;;a rajustamentedemonstrarqueo funcionamentodeumalíngua11110podt,screntendidono vácuo.Ela necessariamentefazpartedeumasociedadequea utiliza,a influenciae é in-fluenciadaporela. Ora, Saussure(1969:13)declaraserumdosobjetivosdaLingüística"estudaras forçasqueestãopermanentementeemjogo naslínguas".Emborapossamosdetectarfor- çasinternasà línguaagindosobreela(fatoresgramaticais),é igualmenteverdadeiroque háforçasexternasà línguaqueatuamnela(fatoressociais,porexemplo).Sedeixamosde lado tudoo queé social,nãoestritamenteinternoà língua,nãopodemosexplicar,por exemplo,porquealgunsfalantesutilizamumr retroflexo,istoé, coma pontada língua voltadaparatrás,o chamador caipira,emcontextosqueoutrosutilizamumr vibranteal- veolareoutrosutilizamapenasumaaspiração,semquehajadistinçãodesignificado.Ab- dicandodequalquerconsideraçãoquantoàestruturadasociedade,àheterogeneidadedas classessociaisedaspopulaçõesderegiõesdiferentesetc.,ficamosapenascomuma"va- riantelivre",quena verdadenãoé inteiramentelivre, seconsideramos,porexemplo,a classesocialouaregiãodeorigemdofalante. Labovconsidera,então,quenãodevemospararnoqueéestritamentelingüístico. Sequeremosexplicarquaisforçasagemnalíngua,podemosedevemosincluiro modo comoa línguaestáinseridanasociedade.Muitosfenômenosquepareciamaleatóriosre- cebemassimumaexplicaçãoporvezesbastanteóbvia. Mas,afinal,porqueaslínguasmudam? ComoapontouCoseriu(1979),a línguanuncaestápronta.Ela é semprealgopor refazer.A cadageração,ou mesmoemcadasituaçãodefala,cadafalanterecriaa língua. Dessaforma,elaestásujeitaaalteraçõesnessarecriação.Poroutrolado,dependedeuma tradição,já quecadafalantediz ascoisasdedeterminadamaneiraemgrandepartepor- queé daquelamaneiraquesecostumadizer.Há entãoumdelicadojogo decontinuidade edeinovações,estassempreemmenornúmero. Como a línguaestásempresendorecriada,elacomportao surgimentode inova- çõesa todomomento.O crucialé quenemtodainovaçãovinga,nemtodainovaçãoé realmenteincorporadaedifundidapelosfalantesdeumadeterminadacomunidade.Seto- mamosasconsoantesvibrantes,ou seja,o r fracoe o r forte,queapresentamgrandeva- riaçãono Brasil,constatamosquehávariantesquenãodãosinaisdequeestariamsedi- fundindo:achamada"línguapresa",emqueo falantepronunciapalavrascomopresa comosefossealgocomopdesa;o r forteemfinaldepalavraseguidaporpalavrainiciada porvogal,comoemjazerisso,pronunciadocomosefossejazerrisso. É importantetermosemmentequeas línguassãoheterogêneas,nãosãosistemas perfeitos,prontos,acabados.Podehavernelasheterogeneidadedeorigemexternaou in- ternaà língua,eaheterogeneidadedeumtipopodegerartambémheterogeneidadedoou- trotipo.Por exemplo,háatualmentenoportuguêsdoBrasil umatendênciadeperdadospronomesátonosouclíticos.Essatendênciaé bemacentuadanosclíticosdeterceirapes- soa,masnãoselimitaaela.Formascomoeuvielesãobemmaiscomunsnovernáculodo queeuo vi. Mas alémdessasituaçãodeperdadeumclítico (o,a, os,as),hátambéma substituiçãodeumclíticoporoutro.Comaprimeirapessoadopluralencontramosformas comonÓsseencontramos,emvezdenósnosencontramos.Podemosexplicaresseuso, porum lado,considerandoqueessese.aparececomnósporqueexistea formadetraia. II1cntoli xente,quetemo pronomesecomoseureflexivo,c talvezhajaumaextenS:lodo ~ A mudançolingülsllco 1'>1 usodoSI'parao dt'UIl1rcflexivodonós.MasoutroFatorqueprovavelmenteinllui uouso dose,emvezdonoscomoreflexivodenóséumfatorprosódico.Os clíticossãoprosodi camentefracose sujeitosa fortesrestriçõesprosódicas,comoquetipodesílabadcs SI'tO, sepesada(comditongoouconsoantenofinaldasílaba)ou leve(semnenhumdosdois), Nessesentido,osúnicosclíticosqueparecemcontinuarsendoamplamenteusados noportuguêsdoBrasilsãoosqueapresentamaformacv (consoanteseguidadevogal),o tipodesílabaconsideradoo maisbásiconaslínguasemgeral.Sãoeles:me,teese. IkSSII forma,surgemconstruçõescomonósseencontramos,evitando-se,assim,o usoIIl' UIII clíticoqueéumasílabapesada.Surgindoessavariante,elaacabousendovistaCOll10IU't(I padrão,produzindoassimumaheterogeneidadequantoà reaçãoqueprovoca.lJns n/l" percebemqueseuusoseriaumdesvio,aopassoqueoutrosareprovam. QualquerdesequilíbriodesencadeadopormotivosunicamentelingUíslkosou 1'''1 motivosexternosà línguapodedarorigemà variação.E todavariaçãopodc l'm »1111111'111 vir aocasionarmudança. Como a línguaestáa todomomentoseequilibrandoentretendênciaspOh'llIlol1 menteconflitantes,e atémesmoopostas,estásujeitaa sofrermudanças,poisl'SSl'('qulll briopodevir aseralteradoporqualquertipodefator,internoouexterno. Examinaremosaseguirarelaçãoentrea línguaeasociedadecomumcxclllplol'~ pecífico,partindodaidéiadequetantoalínguaquantoasociedadepodemaprl~sl'III.1I umagrandeheterogeneidade.Essaheterogeneidadeé no fundoaraizdetodamudanliaI' podemosverificarquea heterogeneidadena sociedadepodegerarheterogencidadt'nll língua,e vice-versa.No casodosreflexivosexpostos,aheterogeneidadelingüísticagt'I"OU umavariaçãoquegerareaçõesdiversas,ou seja,umaheterogeneidadeexternaà IíngulI. Qualqueroutravariaçãoquesurjapormotivosquenãoos internosà línguaconstituiIam bémumaheterogeneidadedentrodapróprialíngua. Tomemoscomoexemploo casodospronomespessoaisnoportuguês,O sistt'nlll pronominalherdadodo latimtinhatucomoúnicopronomedesegundapessoadosingu lar.Já dentrodoperíodoemquepodemosconsiderarqueexistiaumalínguaportuguesat' nãomaisumaformadiferentedo latim,surgemdeterminadasformasdetratamentoqUt' sãoutilizadasparaexpressarumgraumaiordehierarquiaourespeitodofalantepeloSl'U interlocutor.São formascomoVossaMercê,VossaMajestade,VossaReverênciacle () surgimentodessasformasdetratamentoé obviamenteresultadodaexistênciadeUIIIII1'10 ciedadeheterogênea,hierarquizada,naqualpodeserimprescindívelexpressarnossof'l' conhecimentoeaceitaçãodessahierarquiaedessaheterogeneidade.TemosaíumaIll'll' rogeneidadeextralingüísticaqueproduziuumaheterogeneidadelingüística:já míoSI' tinhamaisapenasumaformadesegundapessoa,poisaoladodopronometu,haviaasdi versasformasdetratamento. Essasformassãolingüisticamenteheterogêneaspelosimplesfatodeoprononll'(/I sersemanticamentedesegundapessoaeapresentarcomportamentomorFossintátÍl'ol'OIl dizentecomisso.Já asformasdetratamentosãocompostasnaverdadedeumpossl:ssivo de segundapessoa(do plural,tambémumsinalde hierarquiae heterogencidadt,)l' UIII substantivoFeminino.Sintaticamente,portanto,essasformasdetralamcntot'ram, pI'lo menosnasuaorigell1,sinlagmasnominaiscomoquaisqucroutros.Dcssaforma,SI'tOdI' terceiraPl'SSOIldo singular,comoqualqucroutrosinlagmanominlllsingularAssnll. ". digo \'OS.WI,'/IS/I " "//1;(11/llIn;((/, 1:lIl1h~1I1digo \qIS.WIM/'1't'I7/' "111;(11;1111111/,(/11/(/',(' 11110 152 IntroduçãoàLingüística *VossaMercêésmuitoimportanteou*\I().I'.I'lIMl'I'('('.WJi.\'lI/lIi/oIlIlflor/III//C'.Surge,então, umaheterogeneidadelingüísticacaracterizadapelofatodcquandoo lowtorsedirigea alguémeleterapossibilidadedeutilizarasegundaouaterceirapessoa.Essaescolhaob- viamentenãoélivre,já queéditadapelaescolha,tambémnãolivre,queo falantefazde sedirigiraalguémcomo pronometuoucomaformadetratamentoVossaMercê,porexemplo. Comadifusãodasformasdetratamento,contudo,aformaVossaMercê,especifi- camente,tornou-semuitocomum,nãosendonecessárioquehouvessenenhumadiferen- çahierárquicadefatoentrequemfalavaeseuinterlocutor.A formaVossaMercêpassaa indicarapenasrespeitopelapessoaaquemnosdirigimos.Comseuusoficandocomum, surgemdiversasformasreduzidasdessaexpressão,entreelas:vosmecê,vossuncêe,com reduçõesaindamaiores,suncêeonossovocê.Passamosdequatroparatrêsedetrêspara duassílabas.Já háalgumtempoexistetambéma variantecê,monossilábica,utilizada, porexemplo,emsituaçõesemquenãohácontraste. Ficandoagoraunicamentecomaformavocê,verificamosqueapartirdomomen- toemquevocêpassaaserumaformacorriqueiradetratamento,semanticamentedese- gundapessoa,já indecomponívelmorfologicamenteecomcomportamentosintáticode terceirapessoa,surgemtendênciasopostasnoseuuso.Suaorigemdeterceirapessoafor- çaousodoverbonaterceirapessoatambém.Massuasemânticaaconfundecomopro- nometu.A heterogeneidadeestáinstaladanalínguaeemcondiçõesdeproduzirmudan- ças.Em diversasregiõesdo Brasil,vocêdesbancouo tucomopronomedesegunda pessoadosingular.Noentanto,mesmonessasregiões,normalmentepermanecemopro- nomeátonoteeopossessivoteu.Naverdade,emambososcasoshávariação,tantoentre tedeumladoeopronomeo/adooutroquantoentreospossessivosteueseucomodese- gundapessoa.A existênciadessavariaçãonosindicaqueébompossívelquevenhama ocorrernovasmudanças. 3. Comoas línguasmudam A últimaperguntaquefizemosnaintroduçãoéaqueserelacionacomamaneira comoamudançalingüísticasedá.Dentrodeumaperspectivavariacionistasetemcomo certoquetodamudançapressupõevariação,ouseja,paraqueamudançaocorraalíngua temnecessariamentedepassarporumperíodoemquehávariação,emquecoexistem duasoumaisvariantes.Tomandocomoexemplo,parasimplificaraexposição,ocasoem queháapenasduasvariantes,umamaisantigaeoutramaisnova,poderemosconstatar quegradativamenteadistribuiçãodasvariantespassadeumpredomíniodavariantemais antigaparaumpredomíniodavariantemaisnova,atéquehajaasubstituiçãocompleta. Retomandooexemplodasformasvocêetu,tínhamosinicialmenteapenasaformatu,dc- roisasduasemconcorrência.EmmuitasregiõesdoBrasil,já secompletouamudança, rcsultandoemumasubstituiçãocompletadopronomesujeitotuporvocê.Emoutras,tc mosaindaavariaçãoentreasduas.É importanteperceberquenãopassamosdeumafase L'I11ques6seusavaaformatuparaoutraemquesóseusaaformavocê,semumafascin tL'rmcdi:triadcvariação.Ouseja,paraaSociolingüfsticaVariacionista,amudançaévisla , I i. .( t 1 r I ~ J{ ! ~ 1 A lI1udunc,;a IInÇJülstlca 153 comogradual.Na próximaseção,veremosqueessaeonccpçãonãoé unânimecntrcos lingüistas. É importantesemprelembrarquepodehaverfatoresdeduasespéciesquefavorcçam oudificultemamudança:fatoresestritamentelingüísticosefatoresextralingüísticos.()s fatoreslingüísticosserelacionamàformacomoalínguaestáorganizada,comofuncionuo seusistema,quaissão seuselementos,suasregras,etc. Os fatoresextralingüístieos relacionam-seà formacomoa línguaestáinseridana sociedade.Inicialmente!{mlltl utilizadosnaSoeiolingüísticaostermoscondicionamentolingüísticoecondicionll/l/C'I/to extralingüístico.Essestermostinhama conotaçãodequeos fatoresquerepresenlavul1l um condicionamentoeramdeterminantestantoda mudançaquantoda não-mudunçu Atualmente,prefere-seutilizaro termocorrelaçãoparafazerreferênciaaosfalorcsqlll' influenciamo resultadodavariação. Tendoissoemmente,examinemosmaisdetalhadamenteo processodamudun\'u lingüística.Distinguiremostrêstiposdequestões:comoamudançaseinicia,comoelu'i" processae comoelasedifunde. Comoseoriginaumamudançalingüística?PodemospensaremduaspossibilidlldL'''. A primeiraéaaçãodeumoumaiselementosexternosàlínguaeàsociedadeemqueduSL' insere.É oqueocorrequandoumalínguaentraemcontatocomoutra.Porexemplo,o IUlim, aoserimplantadonasdiversasregiõesdoImpérioRomano,entrouemcontatocomlínguu!! variadas,queacabarampor modificarcertascaracterísticasdo latimem cadaregillo, dependendodas línguascomas quaisele entrouem contato.Assim, na regiãomuiR ocidentaldo ImpérioRomano,houvea sonorizaçãodasoclusivassurdasintervocálicus não-geminadas(p, te k),aopassoqueemregiõesmaisorientais,comoaItáliacenlralL' meridionalouaDácia(correspondenteà atualRomênia),nãoocorreuessasonorizl1çi1o. Na regiãoemqueseformouo francês,essasoclusivaspassaramporumatransf{mnuçi\o maisradicalainda,tendosidoapagadasapósteremsesonorizado.Podemoscompururo destinodessasoclusivassurdasintervocálicasemalgumaslínguasromânicasobscrvundo atabelaa seguir. Tabela1.OcIusivasintervocálicasemlatimeemalgumaslínguasronúlnlclIN A imagemquenormalmentesefazemlingüísticahistóricaparadescreveresseIiro de interaçlloentrL'línguasé a decamadaslingüísticas(ou estratos).PcnsandoemdUII" línguusA L' 1\qUl'convivcmdurantecertolempo,sí'loutilizadosalgunslermosPUI'llno" rel'crirnm"1\rduvAol'nlrr l'!I!lUSIIngulls,Tomandoa línglluA comoponlodL'rl'lc.'!'l'nl'Íu. tL'mostn'lIpOII"ihilhhuln'\l' ,I Ihl~lIflB l'rulilludnl'llIL'l'rtnn~v.inlll'nt'~H!1rl'I.Uno~l'IIINln t intervocáli:o c intervocáli:o p intcrvoeáli.'o latim digitu- focu- lupu- espanhol dedo fuego lobo português dedo fogo lobo francês doigt[dwa] R:U[f0] loup[lu] italiano dito fuoco lupa romeno deget[ded3et] fOc l1p 154 Introduçãoà lingüística IaumapopulaçãoquefalaalínguaA, queacabaporsesobreporàIfnguaB,dizemosque alínguaB éosubstratodalínguaA. Setemosasituaçãooposta,ouseja,alínguaA era faladanumaregiãoealínguaB étrazidaparaessaregião,havendo,noentanto,aconti- nuidadedousodalínguaA nessamesmaregião,dizemosquealínguaB funcionacomo superestratodalínguaA. Porfim,aterceirapossibilidadeéadeduaslínguasquesãofa- ladasemregiõesvizinhas.Nessecaso,sealínguaB temalgumainfluênciasobrealíngua A, dizemosqueaB éumadstratodeA. SepensarmosnoportuguêsfaladonoBrasil,levandoemcontaessesconceitos,di- remosqueeleteveumsubstratoindígena(tupieoutraslínguasnativas).Principalmente comrelaçãoaoSuleaoSudeste,podemostambémdizerCJueeleteveumsuperestratode origemdiversa:italiano,alemão,japonêsetc.Alémdisso,nasregiõesdefronteira,háo adstratoespanhol. O elementomaisfacilmenteafetadopelocontatocomumalínguaestrangeiraéo léxico,comopodemosveratualmentepelograndenúmerodepalavrasdeorigeminglesa quetementradonoportuguês.O francêsteveomesmotipodeinfluênciasobreoportu- guêsemuitasoutraslínguas,inclusivesobreopróprioinglês,principalmenteatéameta- dedoséculoxx.A influênciadofrancêssobreo inglêstevecomomarcoimportanteo anode1066,quandoaGrã-Bretanhafoi invadidapelosnormandos,queimplantaramo francêsdaépocacomolínguadacorte,fazendocomqueo inglêsdaépocafossesocial- mentemenosprestigiado. Deveficarclaroqueapossibilidadedelínguasgeograficamentepróximassetor- naremmaissemelhantesnãoselimitaalínguasquetenhamumaorigemcomumpróxima (comooportuguêseoespanhol).Aschamadascaracterísticaslingüísticasareais,relacio- nadasaumaárea,podemsero resultadodaconvergênciadelínguasmaisdistantesgene- ticamentedoqueo portuguêseo espanhol,comoocorreunaregiãobalcânica,emque umalínguaromânica(o romeno),umaeslava(obúlgaro),ogregoeo albanês(todasas quatrodeorigemindo-européia)adquiriramalgumascaracterísticasmuitosemelhantes, entreasquaisseencontram:ousodoverboquererparaformarofuturo,afusãododativo e dogenitivo,agrandediminuiçãodousooumesmoo desaparecimentodoinfinitivo. Masmesmolínguascomorigensabsolutamentedistintaspodemtambémadquirircarac- terísticassemelhantes,comoocorrenosubcontinenteindiano,emqueaslínguasdeori- gemindo-européiaeaslínguasdeorigemdravídica(faladasprincipalmentenosuldaÍn- dia)convergem,porexemplo,nofatodeteremváriasconsoantesretroflexas.Sãosons parecidoscomosnossos[t],[d]e [r],comadiferençadequeacoroadalíngua(aponta dela)sevoltaparatrás,aproximadamentecomononossor caipira. Alémdeserdesencadeadaporcontatoentrelínguasdistintas,amudançapodeser provocadatambémporfatoresinternosaumalínguaeàcomunidadeemqueelaéfalada. O latimpossuíaumaordemvocabularbastantelivre,oqueserelacionavaestreitamente como fatodeseussubstantivos,adjetivosepronomesapresentaremmarcaçãodecaso, desinênciasqueindicavamsuafunçãosintáticaindependentementedaposiçãoemque clesapareciamnaoração.A partirdomomentoemquecomeçaahaverperdadediversos sonsfinaisnolatimfalado,háaerosãodasdesinênciasdecaso,queprecisamentãoser substituídasporoutromecanismoquedeixeclaraafunçãosintáticadosdiversossintag- masnominais.Passaaprevalecerentãoumaordembcmmaisrígidadoqueaquchavia l'mlalim.Nl:SSl'l~xl'mplo,cstabclcc,clllosumacorrl'laç:)ol'nln'umfatorcstrilamenlelin , 1 . Amudançalingüislica 155 güístico(perdadedistinçõesnofinaldosvocábulos)e umamudançanosistemadalíngua (aquisiçãodeumaordemvocabularmaisrígida).No casodospronomesdesegundapeso soado português,estabelecemosumacorrelaçãoentreumfatorextralingüísticoe uma mudançanalíngua. Pararesponderà segundapergunta,a decomoseprocessaamudançalingüística, podemosestudarcomoasmudançasafetamalínguacomosistema.Nessetipodepesqui. sa,algunsdosexemplosmaisbemestudadosdemudançalingüísticasãoasmutaçõesfo. nológicas.Em princípio,poderíamosacreditarqueasmudançasnormalmenteafetamum elementoou outroisoladamente.Mas comfreqüArnciaencontramosmudançasqucaft' tamo sistemalingüísticoemsi deformabemmaisabrangenteeintrincada. Vejamoscomoprimeiroexemploasmutaçõesvocálicasqueocorreramdo 11111111 parao português.Devemoslembraremprimeirolugarqueo latimpossuíaumaOpOSI~'I\O entrevogaislongasevogaisbreves,queeradistintiva.Umavogallongatempraticllml'II!!' o dobrodaduraçãodeumavogalbreve.Podemosmarcaressadiferençagraficamcntl'l'lI mo normalmentesefaz coma língualatina,utilizandoa bráquiasobreasvogaisIm'Vl'~, porexemplo,ã,e o mácronsobreasvogaislongas,porexemplo,ã.Tínhamos,assim,pll resmínimoscomomalum"mal",coma breve,emãlum"maçã",coma longo. No latimvulgar,quefoi o quedeuorigemàs línguasromânicas,havianumpri meiromomento,aliadaà diferençadequantidade,a diferençade aberturadacavidadt' oralnapronúnciadasvogais.Assim,porexemplo,o somdo i breve[í] eraalgointennc diárioentreo somdo i longo[i] eo doe longo[e].Na passagemdolatimvulgarparaas línguasromânicas,foi perdidaa oposiçãodequantidadeentreasvogaisbrevese longas. No casodavogala, foi perdidaadistinção,masnocasodasdemaisvogais,o sistemaso. freuumagranderedistribuiçãoemtermosdetimbrevocálico,comopodemosverificarna tabelaaseguir,queilustrao queocorreudolatimparaoportuguês: Tabela2.Vogaislatinaseportuguesas No casodoportuguês,houveperdadedistinçõesexistentesnolatim.Enquantoo Ia timtinhadezvogaisdiferentes,o portuguêsficoucomsete,seexcluirmosasvogaisnasais, comonormalmenteseraz.Temostrêscasosdefusão:doa longoedoa breve,queproduzi rama emporhl~U~S:dot' longoedo i breve,queproduzirame fechado:edo()longol' do" brevc,queprodlllinllll ti fl'chado.Issoestáindicadonatabelapelaalls~ndadedivislloIIIIS t'élulnsl'OIH'''plllld('llll"~111111mllllltndost'mporlllJ.\uêsdnsvo~nisqllr s('fundinllll, Latim Português mãre- mar lãtu- lado rerru- ferro cera- cera nlgru- negro ulnu- vinho rõta- roda tota- toda lUpu- lobo lüce- luz 156 Introduçãoà lingüislica PodemospensarnasmutaçõesvocálicascomodeslocillIll'lIlosdasvogaisnoespa- çoemqueelaspodemsesituarnacavidadeoral.Comodeslocamclltodcumavogal,po- deocorrerqueelaseaproximeperigosamentedeoutra,comduasconseqüênciaspossí- veis.Senãohouvernadaqueimpeçaessaaproximação,asduasvogaispodemterminar sefundindoemumaúnica,comoaconteceucomoportuguês.Dessaforma,alínguaper- deumadistinçãoquepossuía.A outrapossibilidadeéquesejamantidaessadistinçãode algumaforma.Seaprimeiravogalsedeslocaatéocupararegiãoantesocupadaporoutra noespaçovocálico,necessariamenteocorreráumamudançacomessasegundaparaquea distinçãoentreasduassemantenha. Umexemplobastantedramáticodessetipodemudançalingüísticaéachamada GrandeMutaçãoVocálicaocorridaeminglês,queseiniciouporvoltadoséculoxv.Elaéumexemplodemutaçãoemcadeia,naqualumavogalsealteraeprovocaalteraçõesem outra,eassimpordiante.A tabelaaseguir,extraídadeAitchison(1991:153),ilustrao granderearranjoocorridonosistemavocálicodoinglêsmédioparao períodoinicialdo inglêsmoderno: Tabela3,MutaçõesVocálicasdoInglês o casodasmutaçõesvocálicasocorridasnosúltimosséculosno inglêsilustrade maneiracontundenteo fatodequea línguaescritapodedemorar,e muito,a registraras mudançasocorridasnalínguafalada,já que,apesardeessasmutaçõesteremsidoinicia- dashácercadeseisséculos,a formacomoasvogaisouosditongossãografadosno in- glêspermanecea mesma,o quefazcomqueasvogaiseosditongosdo inglêssejamgra- fadosdeformabastantediferentedamaioriadaslínguasqueutilizamo alfabetolatino. Aindaquantoàformacomoa mudançalingüísticasepropaga,duasdelassãobas- tantecomunsemoutrosterrenosquenãoo fonológico:a reanálisee aextensão.Harrise Campbell(1995)discutemambosostiposcomrelaçãoàsintaxe. A reanáliseocorrequandodeterminadotipodeoraçãomantémsuamanifestaçãosu- perficialmaspassaaterumaestruturasubjacentedistinta.Um exemplodereanálisedopor- tuguêséo dosperíodoscomsubordinadascujoverboestánoinfinitivo.Sentençascomoo guardanão queriadeixaro meninoentrarsãocompatíveiscomduasanálisesdiferentes, umaemqueo meninoéo sujeitodeentrareoutraemqueomeninoéo objetodedeixar. Essadiferençanãoseevidencianumasentençacomoessa,nemseocorrerumpro- nome,poiso guardanãoqueriadeixareleentrartambémestásujeitaàs mesmasduas 'T " 11111111111<,0111IlJul\th... , ">1 análises.Ma!!IIl'Ohtll'rVIUIIIO!!o queocorre,por excmplo,como pronomede prll1\l'11II pessoadosingular,passamosdesentençascomoo guardanãoqueria1IIec!ei\'m'('1111'(//' parao guardanão queriadeixar eu entrar,ambasencontradasna IIngua filladn,St' antigamentesóocorriao primeirotipodesentençaemaisrecentementepassou11oeom'r o segundo,issoindicaquesentençascomooguardanãoqueriadeixaro 1IIenino('lIlrm foramreanalisadas,de formaqueo meninopassoua ser sentidointuitivamentceomo sujeito,enãomaiscomoobjeto. Um exemplodeextensãonoportuguêsdo Brasil é o quevemocorrendocomfi construçãocausativadoverbofazer seguidoda locuçãoconjuntivacomque,como,por exemplo,emo temporalfez comqueojogo fosse cancelado.Até poucotempoatrós, somentesevia o próprioverbofazer nessaconstrução.Poucoa pouco,no entanto,dll temcomeçadoaserestendidaaoutrosverboscausativos.Umabuscanainternetenconlroll 30.000exemplosdefazer comquecomo verbono infinitivo,mastambémumpcqucllo númerodeoutrosverboscausativos,tambémno infinitivo:o verboevitar(cercade40), comoemparaevitarcomqueelassesoltem;overboimpedir(1Ocasos),comoemi1ll/JI'c!" comqueas leis doAlcorão ... sejamvioladas;o verbocausar(5 exemplos),comol'm fatorese incertezasquepoderiamcausarcomqueosresultadosatuaissejamdifel'l'lIl('S, eo verboprovocar(umúnicocaso),comoemprovocarcomqueoutraspessoas10"'11'/11 seusgenitais. A últimaperguntaquefizemoscomrelaçãoàmudançanestaseçãofoi 11qlll' tmlll de comoa mudançasepropaga,maisespecificamentecomoelasepropagadl'lItrodll sociedadeemqueelaéfalada.É fatoconhecidoqueébemcomumasinovações1i1l~IIIHlt(III, seremrecebidascomreprovação.Comoexemplo,podemosveravocalizaçãodo1111'11\111111I de sílabano portuguêsdo Brasil, ocorridano séculoXX. Na gramáticadl' Nllpllk.111 MendesdeAlmeidaencontramosumincidentequeelenarraocorridoquandotil-11111., visitasuaàBahia,NapoleãocomentoucomummoradorarespeitodessavoealiZII\'11.,.'I'II seriaalgoerrado,segundoseupontodevistanormativo,e o moradorlherespondl'lIqlll quemfalavadessejeito era'boçau'.Apesardenãotersidovistacombonsolhos,nNII mudançaseimplantoupraticamenteemtodoo territórionacional. A resistênciainicialnormalmenteencontradapelasinovaçõesIingOisticllsl'xpliuI(I padrãodepropagaçãoverificadoemgeralnasmudançaslingüísticas.PoderiamosSUPlllqUI'., velocidadedamudançaseriaconstanteemseucurso.No entanto,elanormalmenteapn"~I'lIhl umpadrãocaracteristicoqueé a chamadacurvaemS, ouseja,elatemumavelocidmlrtil- difusãoumtantolentanoinício,ganhavelocidadenametadeevoltaaficarmaislenta110linal Os fatoresquepodemestarrelacionadosàmudançapodemserdediversostipos a idade,o sexo,aclassesocialeoprestígiosocial,entreoutros.Um dosprimeirosestlldos variacionistasfeitosporLabovfoi oqueanalisouoalçamentodedoisditongos(tcnd~nl'lIl deelevarmaisa línguanaproduçãodessesditongos,comaproduçãodevogaisI11l'llIIlI abertas)napronúnciadeumailhachamadaMartha'sVineyard,localizadaemMassachusl'l\s A ilhatinhaumapopulaçãode6.000habitantes,masnoverãorecebiacercade 40 11111 visitantes.Comoseriadeesperar,areaçãodoshabitantesàpresençadosturistasI1no1'11\ homogênea.Algunsviamosturistascombonsolhos,masoutrososviamcomoinvIHIOII'N quetraziamvaloresestranhosàculturalocal. o!!doi"ditol1gosestudadosporLabovforam[ai]e [aul,comoosqucsilol'm'OIl trudosCI11pnlnvms\'ol\1olliRl1tel1ouse.Nosdoiscasos,haviavarinçí'locntre1\prol1Í1111'1I1 GrandeMutaçãoVocálica InglêsMédio passaa IníciodoInglês passaa InglêsModerno Moderno a: [na:m]"nome" e: [ne:m'] eI IneImlnome e: [me:t]"carne" e: [me:t] I: [mi:t]meat e: [me:t]"encontrar" i: [mi:t] I: [mi:t]meet i: [ri:d]"cavalgar" Ái [rÁid] ai [rmd]ride o: [bo:t]"barco" o: [bo:t] ou [bout]boat o: [bo:t]"bota" u: [bu:t] u: [bu:t]boot 158 Introduçãoà lingül~tica A mudançalingülallo'I 1'," maiscomumnosEstadosUnidoseoutrapronúncia,tipicmncntelocal,emqucaprimeira vogalerapronunciadamaisfechadaoucoma línguaemposiçãomaisalta,produzindo formascomo[n:nt]e [h:ms],emqueosom[;)]correspondeaproximadamenteàpronún- ciaamericanadebut[b;)t]. Comoavariaçãoeraalgoinconsciente,nãopercebidopeloshabitantesdailha,ela nãoestavaassociadaanenhumtraçoestilístico,sejadeformalidade,sejadeinformalida- de.O queLabovconseguiuverificarfoiqueaposturadaspessoasperanteamudançadas condiçõessocioeconômicasdailhaestavarelacionadaà maioroumenorfreqüênciade usodasvariantestípicasdailha.O usodessasvarianteseramaispronunciadoentreos pescadoresquemoravamnaregiãooestedailha,umaregiãomaisdistantedasregiõestu- rísticasdailha.Ao usodessasvariantestípicasdailha,osditongos[;)1]e[;)u],ficaramas- sociadosvaloresqueopunhamoshabitantesdailhaaosforasteiros:a independência,a forçafísica,acoragemeahabilidade. Umaúltimaperguntaquepodemosfazercomrelaçãoàmudançalingüísticaéade comoo sociolingüistapodedetectaraexistênciadeumamudançalingüística.Deforma semelhanteaoquevimosnoiníciodocapítulo,deduasmaneirasdiferentes.A primeira seriaaobservaçãodefalantesdediferentesfaixasetárias,paraestudarcomoelesutilizam determinadasvariáveis,porexemplo,amarcaçãodeplural,aconcordânciadesujeitoe verbo,apronúnciadedeterminadossonsouseqüênciasdesons,o significadoqueatri- buemadeterminadasconstruçõesetc.Sefizermosessaverificaçãonumprazopequeno, quepodeserdesconsiderado,diremosqueverificamosaexistênciadeumamudançaatra- vésdotempoaparente. A outraformadedetectaressetipodemudançaseriaacompanharamudançaem temporeal,sejacomosmesmosfalantes,sejacomduasamostrasdiferentesmasrepre- sentativasdamesmacomunidadecomumintervalomaiorentreelas.Poderíamosdetec- taradifusãodealgumainovaçãolingüísticaatravésdotempoverificandoqualaporcen- tagemdepessoasqueautilizamemcadamomento,etambémafreqüênciacomquecada indivíduoautiliza.Seumadessascifrasouambasapresentaremaumentonoperíodocon- siderado,poderemosconsiderarqueanovaformaestásedifundindo. 4. Outrasabordagens lingüfsticospodl'lIIpassarporumagradaçãoemquetemospalavrasindl'lwlHI"lIh1111 umextremoe morrcmasIlexionaisemoutro. Hopper& Traugotl(1993)consideramqueexisteumagradaçãodl'~nlllllllh,11111, decomosseguintespontosfocais:elementoscomconteúdo>palavrasgrullllllll'lIl~ ,1111 cos>afixosflexionais.Essagradaçãoteriacomoobjetivoexplicartransr()JIIIII~'I)1,'11, mamentecomunsnaslínguasnaturais,nasquaiselementosrelativamcnll'IIldl'I'I'IIII.1111 emtermossintáticosacabariamporsefundiremumaúnicapalavra.Scgundol'~"1111,01, 10,hátambémumatendênciadesseselementosquesegramaticalizamdepIlSSIIII'1I1.I. 11111 significadomaisconcretoparaummaisabstrato.Veremosaseguiralgunsl'XI'IIII'I\I'.,1,"" deelementosdoportuguêsaquesepoderiaatribuirorótulodegramaticali/a".hI O substantivomente,queperdeuseusignificadooriginale passllndoll.I~IIIIIII,11 algocomo"modo",acabousetornandoumafixoformadordeadvérbiosI'xllllllllllll 111' produtivo. Verboscomsignificadoplenoquepassaramaverbosauxiliares,l'0I1I1I1I~" 11"," e vir, ou o verboter. O verbolatinoteneõsignificavaoriginariamentl'"SI'VIIIdi I significadoseconservouatéos nossosdiasnofrancês,emqueiI tielll .1'111/111"/I~'IIIIII' "eleestásegurandoseulivro".UmaprimeiraetapanoprocessodegranHllIllI1I:11,111'I, presentadapelaperdadessesignificadoconcretoe a aquisiçãodeumSIVIIIIII111111'1"'", puramenterelacional,o de"ter",normalmentecaracterizadodeformahaSlllllh11111'1"I , comoexprimindoumarelaçãodeposse.OespanholpassouporessaSI'.',lIlIdl,1"1" ,I, gramaticalizaçãoesedetevenela.Temos,então,éltienedoshermal/o.l',qlll ~1~'lIlIh, ,I. temdoisirmãos".O significadode"segurar"estáperdido,maseleaindlll'11111" 1('"'1"' podeconstituirumpredicadosemquehajaoutroverbo.Em portuglll'~,1'"1,11'1' verboter passoupor umaterceiraetapado processodegramaticalizaçnll1'0.11111111'I usadotambémcomoverboauxiliarnaformaçãodostemposperfeitos,COllh'lHl1I:111111,1" apenasumanoçãoaspectual.É o quetemosemexemploscomotemc!"I\'/(11I1111"" /., " nhasaído. O verbohavertambémsegramaticalizounaformaçãodofuturodo11111111111111li' Româniaocidental,oqueabrangeaItália,aFrançaeaPenínsulaIbérica.I';111VI" 1111li'l malatinaamãbõdo futurodo indicativo("amarei"),gradativamentegallholll'sl'll~"li,' línguasromânicasumalocuçãoformadado verbohabeoe do infinitivodo Vl'11I1I1'11111I paI.Surgeentãoa formaamarehabeo.Inicialmentetínhamosaíduaspalavrus, 11111'" 1111 o passardotempoelassetransformaramemumaúnicapalavra.Issoéo qUl'IIl'lIllI'lI 1'1, namentenofrancês,noespanhole no italiano,emqueosdoiselementosSl'soldllllllll,I, formaindissolúvel,produzindo,respectivamente,amerai,amaréeamerÔ.No 1'"11111'111 podemosverificarduassituaçõesdiferentes.Umadelasé aexistênciadan1l'M1111\11 I' " comoalgovernáculopelomenosemPortugal,dandoorigemaformascomo/I'/I'/,,'"'' /, ei,o queindicaqueláesseprocessode"soldagem"dosdoiselementosainda1111111.1,111I minado,umavezqueelespodemserseparadosporumclítico.Já no Brasil,11"1U11~111I I diferente.Essetipo defuturotemusomuitorestritono vernáculoe praticallll'lIlrII1101 substituídopelaformaperifrásticacomo verboir comoauxiliar,ou seja,rOI'llIll~1'111111 vouviajarsãomuitomaiscomunsdoqueviajarei. A segundaahordagemquediscutiremosbrevemcntcé a parar11l(II'Il'II,qm'SI'di senvolvcdl'lItrodo j:l'rnlivismochomskyano.Emhorahajavlhiosolllros1II0d('10~qlll 'I rigol' pOdl'l'llIlIlIl~ dl'lII 1111111111'~l'rativos, ncste iklllllsml'i os Il'l'IlIOS ~I'/'tItil'/I" }:I'/'tI/II'/I/II" Ao ladodaperspectivavariacionistaqueseguimosmaisdepertoatéaquinesteca- pítulo,existemoutrasperspectivasquesãoadotadasindependentementedavariacionista oucombinadascomela,oquepodeserfeitocommaioroumenorsucessooucoerência. Correndoo riscodesimplificardemaisaexposição,principalmenteporquestãodeespa- ço,recomendoaosleitoresinteressadosqueconsultemostextosoriginaisoutextosque trabalhemdentrodecadaumadessasabordagensparaseaprofundarnessestemas. Veremosaquinesteúltimoitemtrêsoutrostratamentosteóricosdamudançalin- güística:adagramaticalização,aparamétricaeadaotimidade. Vejamosinicialmentea abordagemdagramaticalização.Essaéa menosabran- gentedastrêspropostasquediscutiremosnestaseção,jáquenãopretendeexplicartodoe qualquerfenômenodiacrônico.Osfenômenosfonológicosdemaneirageral,porexem- plo,estãoexcluídosdela.Essequadroteóricofocalizao processopeloqualelementos 160 Introduçao à lingüística A mudança lingüística Iti I paramereferiraosdiversosmodelosdesenvolvidosporChomsky,comoécostumesefa- zer.Nadécadade1980,o desenvolvimentodateoriagerativasofreuumforteredirecio- namentodeumateoriaqueconsideravaumagramáticaumconjuntoderegras,quepode- riamserextremamentearbitrárias,emdireçãoa umateoriaquebuscavaexplicaras característicasuniversaisdaslínguascombaseemduasnoções:adosprincípioseados parâmetros. Deacordocomessaproposta,princípiossãocaracterísticasuniversaisinvariáveis quetodasaslínguasnecessariamentetêm.Essaéentãoumaconcepçãoquesefundamen- tanaexistênciadeuniversaisinvioláveis.Comoexemplodessesuniversaispodemoscitar o fatodequetodosossintagmasdeumalínguatêmo complementonamesmaposição comrelaçãoaonúcleo.Emportuguês,porexemplo,todocomplementosegueseunúcleo, comonosintagmanominala leituradotexto,nosintagmapreposicionalcomcalma,no sintagmaverbalouvirmlÍsicae nosintagmaadjetivalcontentecomo resultado.Osnú- cleosdosexemplosforamsublinhados,facilitandoavisualizaçãodauniformidadedapo- siçãodoscomplementosemportuguês.O fatodetodocomplementoestarnamesma posiçãorelativaaonúcleoéumuniversalabsoluto,portanto,umprincípio.Mashaveriaa possibilidadedeessamesmaposiçãoassumirdoisvalores:antesdonúcleo(emtodosos sintagmasdalíngua)oudepoisdonúcleo(tambémemtodosossintagmasdalíngua).O portuguêsescolheasegundaopção.Umalínguacomoojaponêsescolheaprimeira.Co- moessaposiçãodocomplementoemrelaçãoaonúcleoadmiteduaspossibilidades,ela nãoéumprincípio,massimumparâmetrodevariaçãointerlingüística.Apenasparaen- fatizaradiferençaentreumaregraeumparâmetro,reiteroqueumparâmetrodignodesse nomenãoserefereapenasaumaspectoisoladooumarginaldalínguaemquestão,mas temamplosreflexosemváriaspartesdasuagramática. Setemosentãoprincípiosimutáveiseparâmetrosqueadmitemcertavariação,ob- viamenteaúnicaexplicaçãopossívelparaamudançalingüísticadeveráestarnosparâ- metros,já queosprincípiosnãosealteram.Assim,quandohouverumamudançalingüís- ticaabrangentenalíngua,essaseráo resultadodaalteraçãodeumparâmetro.Como normalmenteseconsideraqueosparâmetrossãobinários,ouseja,admitemapenasduas possibilidades,nãohaveriapossibilidadedemeios-termos,ea mudançaé vista,então, peloslingüistasquetrabalhamdentrodesseparadigma,comoalgocatastrófico,nosenti- doderepentino,nãogradual,opondo-se,dessaforma,àvisãodaSociolingüísticaVaria- cionista. No quadroteóricogerativista,umdosprincipaislingüistasquetrabalhamnaex- plicaçãodamudançalingüísticaéLightfoot.DeacordocomLightfoot,amudançalin- güísticaestálocalizadanoperíododeaquisiçãodalinguagem.Comoacriançanãotem acessodiretoàgramáticadospaisoudeoutrosadultosdosquaiselaadquireodomínio desualínguamaterna,podeocorrerdeagramáticadascriançasapresentarcertasdiferen- çascomrelaçãoàgramáticadospais.Nessepontotambém,ateoriagerativasedistancia domododeveramudançalingüísticadentrodaSociolingüísticaVariacionista,poispara estaamudançapodeocorreremqualquerperíododavidadeumfalante. Umúltimopontocomrelaçãoàgramáticagerativaéo fatodeomodelomaisre- centequeestásendodesenvolvidonessequadroteóricoéochamadoProgramaMinima- lista,quevemsedesenvolvendodesdeoiníciodosanos1990.Apesardeterhavidodiver- sasreformulaçõescomrelaçãoaomodeloiniciadonadécadade1980,aidéiadequeas línguasSl'1IIIIIIIIIIIl'IIIIIIIIl'I\Iprincípiose parâmetroscontinuasendocorrenteentn'os 1111 güistasqueIItuallllleSSl'quadroteórico. O últimoquadroteóricodequefalaremosnestecapítuloéo daTeoriada011111Il111 de, iniciadapor Princee Smolensky(1993),dentroda Fonologia.Essequadroh'011l" compartilhaváriospressupostoscomo gerativismo,distinguindo-seprincipalmellll'111'111 formacomovêosuniversaislingüísticos.A TeoriadaOtimidadeconsideraquel'lIIlIlIllI línguaestãopresentesrestriçõesuniversais,normalmentebaseadasemquestõesI'lIlIlll' naiscomoafacilidadedearticulação,facilidadedepercepçãoetc.Anttila (1995)l' AIIIII Ia e Cho (1998)sãoautoresimportantesquetratamdavariaçãoedamudançaIillgllj~lh11 nessequadroteórico. Paratermosumaidéiadecomofuncionaessemodelo,podemosobservara111111111 ção do pluralem português,um aspectoda nossagramáticaqueatualmenteapl'l'Sl'llIll grandevariaçãoe possivelmenteestáemprocessodemudança.Ocorrequemesmoo ~I'. temademarcaçãodepluralaceitopelagramáticanormativaapresentacertasheterogl'lu'l dades.A formaçãodopluraldesubstantivose adjetivossedábasicamentedamesma1111 ma,acrescentando-seum Isl ao final da palavra,sendonecessárioaindaacrescellllll11vogallei emcasosemqueo substantivoterminaemconsoantescomor es. Temos,assim,o contrasteentrevidae vidas,deumlado,emaremares,dooullO No primeirocaso,o númerodesílabaséo mesmo.No segundo,o pluraltemumasílahll11 maisdoqueo singular.O fatodeasílabatônicanosingulare nopluraldosnomes(suh~ tantivose adjetivos)sera mesmaé algointuídofacilmentepelosfalantesdoportugu('~ Casosexcepcionaisem quea gramáticanormativaprescreveparesdesingulare plulIIl queseafastamdessepadrãosãosentidoscomoestranhospelamaioriadosfalantes.1'111 exemplo,apalavracarátertemo pluralcaracteres.Provavelmente,paraamaiorpar11' dosfalantesessetipode informaçãosoaestranho.É comumutilizarmoso pluralpara111 larde letrasou númerosdigitados,porexemplo,a senhaterádeconteroitocaracteres.I' tãoforteo estranhamentodosfalantesquantoa essetipodeparsingular-pluralqueaca bousendocriadoo singularcaractereparase falarde letrase númerosdigitados.Dizl' mosentãoquepelomenosumcaracteredeveseralgumnúmero. Voltandoà formaçãodopluralemportuguês,então,veremoso queocorrecomas palavrasproparoxítonas.Seelasterminarememvogalnãoháproblema,poiso acréscimo do morfemadepluralnãoacarretao aumentodonúmerodesílabas.Porexemplo:ótimo, ótimos;lâmpada,lâmpadas;e árvore,árvores.Se passarmosparaos nomesterminados emconsoantes.nosingular,noentanto,verificamosqueo acréscimodo morfemadeplu ralacarretariaaviolaçãodeumaououtradeduastendênciasmuitofortesdentrodopor tuguês:ouviolaríamosarestriçãoquefazcomqueasílabatônicasejaamesmanosingll lar e no plural,ou violaríamosa restriçãoquefaz comquea sílabatônicatenhadeestar localizadanachamadajaneladetrêssílabas(numadastrêssílabasfinaisdapalavra).NII primeirocaso,palavrascomoônibusficariamcomumpluralinexistente*onibuses(COIII bu comoa sílabatônica)ouo tambéminexistente*ônibuses(coma sílabatônicasendo ô).A gramáticadoportuguêsatualoptapordeixaro pluralsemmarcação.Vemosassim quefatoresinternosà gramáticado portuguêsforçamaquesejafeitaumaescolhaentre restriçõesconflitantes,levandoàviolaçãodeumaoumaisdelas. J~hOIlVl',liahislóriadoportuguês,alteraçãonaformaçãodopluraldecerlasplllu vras.No pmlll~',lIl'~IIlIli).to,palavrasparoxftonaslermilladasemsihilallll\ como.I'ilIII,It'.\, 162 Introdução à Llngülstlco A rnudal1çolingülsllcu 163 ourives,alferesapresentavampluralregular COlHOVCIHOSl'lHAli (1964)eCoutinho (1976)-, ficandocomasformassímpleses,ourívesescalféreses,comoaindahojeocorre noespanhol.Seotipodepluralnãomarcadosedifundirparaoutrasformasdeplurais,te- remosumcasodeextensãodeummecanismolingüístico. Umoutroexemplodessatensãoentreforçasconflitantesdentrodalínguaéafa- mosaleidomínimoesforço,segundoaqualseexplicariatodamudançalingüísticacomo umatendênciadossereshumanosaoptaremporaçõesmaissimplesemdetrimentode outrasopçõesmaiscomplexas,Sea tendênciadosfalantesaexercero mínimoesforço possívelagisselivrementeficaríamosapenascomestruturasextremamentesimplesein- suficientesparaacomunicaçãoemsociedade,Limitandoa ilustraçãoaumexemplofo- nológico,ficaríamossócompalavrascomumasílaba(porseremmaissimples)esomen- tecomo tipomaiscomumdesílaba,tidocomoo idealemtermosdefacilidadede articulaçãoepercepção,asílabacv (consoantemaisvogal).Umalínguaquetivessevinte consoantesecincovogais,algopróximodoportuguês,teriaàsuadisposiçãoapenascem palavrasdiferentes.Evidentementeessaseriaumalínguainsuficientequeremtermosde possibilitaro pensamentohumano,queremtermosdecomunicação.Vemosquecontra- balançandoosefeitosdeumpossívelmínimoesforçodofalantehápelomenosanecessi- dadedesercompreendidopelosseusinterlocutoresecontinuaraexpressarasdistinções existentesnalíngua. HARRIS, Altl',' (' ,'c ~MI'III'11 I.yk lIi"toricul sYl/tux il/ Cm,\'J,UI/XI/Ütit. l'/'r,~llI'c.ti",'.C'umbridgc:('1111111111111<' UnivcrsilyPIl'SS,I'I')~. HOPPER,Paul J, c TIIAUOUlTElizabethCloss. Grammuticalizutitm.Call1bridge:CambridgeUnivel'sllyPI'~',', 1993. JAKOBSON,Roman.A linguagemcomumdos lingüistase dosantropólogos.In: Lil/gÜísticue (,Olllllllil'll('c]o,SOu Paulo:Cultrix, 1969. LABOV,William. Principiesof LinguisticChange.Oxford:Blackwell, 1994. LIGHTFOar,DavidW. Principiesof DiachronicSyntax.Cambridge:CambridgeUniversityPress,1979, - . How to SetPurameter,I':Argumentsfrom LanguageChange.Cambridge,MA:MITPress,1991. MATTOSESILVA,RosaVirgínia.OrientaçõesAtuaisdaLingüísticaHistóricaBrasileira',in DELTA15(I), 1(1)1),pp 147-166. PRINCE,Alan e SMOLENSKYPaul.OptimalityTheory:Constrain/In/eractionin GenerativeGrammllr.Ms" I{III gersUniversity,New BrunswieklUniversityofColorado, Boulder,1993. ROBERTS,lan e KATOMary Aizawa (orgs.)Portuguêsbrasileiro: Uma viagemdiacrônica:Homc'//(IX1'1IIli 1'", nUl/doTural/o.Campinas:Editorada Unicamp,1993. SAUSSURE,Ferdinandde.Cursodelil/gÜí.vticugeral.SãoPaulo:Cultrix, 1969. TARALLO,Femando(org.)Corpusdiacrôl/icodoportuguês.Campinas.7 vols. 1991.(EdiçãoxerogI'Íllku), Sugestõesdeleitura 5. Conclusão FARACO,CarlosAlberto.Lingüísticahistórica.2".ed.SãoPaulo:Ática., 1998. Esselivro discuteascaracterísticasdamudançalingüísticae desuapercepção,aprl~sl'n tandoa seguirumpanoramadasprincipaiscorrentesda lingüísticahistóricanosÜlll mosduzentosanos. MATIOSE SILVA,RosaVirgínia.OrientaçõesAtuaisdaLingüísticaHistóricaBrasileira,in DELTA15(1),1999,pp. 147-166. ArtigoqueapresentaosprincipaisgruposqueseocupamdeestudosdelingüísticahislO ricaatualmentenoBrasile apontaquaisasperspectivasqueseapresentamparao 1'11 turo. Estecapítulodiscutiuamudançalingüísticaesevaleuprincipalmentedaperspec- tivavariacionistaparaexplicarseufuncionamento.A apresentaçãodotemafoievidente- menteparcial,maso leitorcomtodaprobabilidadeteráficadocomalgumasquestõescu- ja discussãoqueiraaprofundar,oucompontosdevistaaquiexpostosquelhepareçam interessantes,querconcordecomeles,querdiscordedeles.Talvezfiquesimplesmente maisatentoparamudançasqueestãoocorrendoaoseuredor.Sealgumadessascoisasti- verocorrido,ficaoconviteparaqueo leitorexpandaseucontatocomotemapormeiode novasleituras(comoassugeridasaseguir)esefamiliarizemaiscomasteoriaspropostas comoexplicaçãodamudançalingüística,já queassimcomoaslínguas,asteoriastam- bémmudamcomopassardotempo. Bibliografia ROBERTS,Iane KATOMaryAizawa(orgs.)Portuguêsbrasileiro:Umaviagemdiacrô"im,' Homenagema FernandoTarallo.Campinas:EditoradaUnicamp,1993. Coletâneadedozetextosdeváriosautoresqueanalisamdiversosaspectosdasintaxetio portuguêsdoBrasilutilizando,emsuamaioria,o modelodePrincípioseParâmetros, Sualeiturarequerumcertoníveldeconhecimentopréviodesintaxegerativa. TARALLO,Fernando.Temposlingüísticos.SãoPaulo:Ática, 1990. Esselivrodiscuteasprincipaishipótesessurgidasparaexplicaramudançalingüístical' mostracomopodemosusaro presenteparaentendero passadoe vice-versa.Conll'm capítulosquetratamespecificamentedasmudançasfonológicas,morfológicase sin táticassofridaspeloportuguêsemsuahistória. AITCHtSON,Jean.LanguageChange:Progressar Decay?2'. ed.Cambridge:CambridgeUniversityPress,1991. ALI,ManuelSaid.Gramáticahistórica.3'. ed.Rio deJaneiro:Melhoramentos,1964. ALMEIDA,NapoleãoMendesde.Gramáticametódicuda línguaportuguesa.25'.ed.SãoPaulo:Saraiva,1975. ANTTILA,Arto. DerivingVariationfromGrammar:A Studyof FinnishGenitives.Ms. StanfordUniversity,1995. [Disponívelnoendereçohttp://roa.rutgers.edu,ondeaparececomo número63.] ANTTILA,Arto eCHOYoung-MeeYu. VariationandChangein OptimalityTheory,Lingua 104,1998.pp.31-56. COSERJU,Eugenio. Sincronia,diacronia e história: O problemada mudançalingÜística.Rio de Janeiro/São Paulo:PresençalEdusp,1979. COUTINIIO,Ismaelde Lima.Gramáticahistórica.78.ed.Rio deJaneiro:Ao Livro Técnico, 1976. FAIIACO,<:'arlosAlhertn.Ul/giiÚticlI hi.~tóri(,lI.2'. cd.SãoPaulo:Ática. 1998. TARALLO,Fernando.A pesquisasociolingüística.5".ed.SãoPaulo:Ática, 1997, Livro introdutórioà perspectivavariacionista.A maiorpartedo livro tratada varia~'j)o, maso penúltimocapítuloseocupadarelaçãoexistenteentrevariaçãoc mudança,
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